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Processo: 5555052-87.2019.8.09.

0051

Usuário: Debora Andrade Camargo da Silva - Data: 13/04/2022 10:59:44


GOIÂNIA - 9º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimento do Juizado Especial Cível
Valor: R$ 39.569,27 | Classificador:
ESTADO DE GOIÁS

PODER JUDICIARIO

COMARCA DE GOIÂNIA

9º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

Autos nº: 5555052.87.2019.8.09.0051


Autor (a) (s): Pedro Paulo De Paiva Jorge
Réu (s): Azul Linhas Aereas Brasileiras Sa

SENTENÇA

Pedro Paulo de Paiva Jorge e Amanda Baiocchi de Souza Parreira ajuizaram


ação de indenização por dano material e moral em face de Azul Linhas Aéreas S/A,
ambos qualificados.
Afirmam os autores que adquiriram passagens aéreas junto à ré, com saída
de Goiânia no dia 05/06/2019, prevista para as 6h00min, com destino a Orlando-EUA,
e com conexão no aeroporto de Vira Copos, localizado em Campinas-SP. Mencionam
que a decolagem do primeiro voo atrasou cerca de seis horas, em razão da
necessidade de reparo na aeronave.
Alegam que tal atraso fez com que perdessem o voo de conexão, sendo
realocados, após seis horas de espera em São Paulo, em um voo com destino a
Washigton-EUA, local do qual partiram posteriormente para o destino final,
ocasionando um atraso total de dezoito horas, o que fez com que perdessem uma
diária no hotel que haviam feito reserva (R$ 475,81) e um dia de utilização do veículo
que tinham alugado (R$ 93,46). Ressaltam que a viagem foi planejada para ser o mais
rápido possível, já que a segunda autora estava grávida na época, e que ela se sentiu
mal e ficou inchada. Requerem, então, a condenação da ré ao pagamento de
indenização por dano material, no valor de R$ 569,27 (quinhentos e sessenta e nove
reais e vinte e sete centavos); e ao pagamento de indenização por dano moral, na
quantia de R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais) para cada um.
Na contestação, a ré esclarece que o voo atrasou devido a uma manutenção
não programa; e que reacomodou os autores no voo mais próximo, já que eles
perderam o voo de conexão. Afirma que prestou a devida assistência material aos
passageiros, conforme determina a Resolução n. 400/2016 da ANAC. Conclui que,
desse modo, inexiste fato apto a gerar o dever de indenizá-los a qualquer título,
requerendo, assim, a improcedência dos pedidos feitos na inicial.
Delimitada a controvérsia, passo a decidir.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 23/04/2020 19:00:33
Assinado por ANTONIO CEZAR PEREIRA MENESES
Validação pelo código: 10493567021037106, no endereço: https://projudi.tjgo.jus.br/PendenciaPublica
Processo: 5555052-87.2019.8.09.0051

Usuário: Debora Andrade Camargo da Silva - Data: 13/04/2022 10:59:44


GOIÂNIA - 9º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimento do Juizado Especial Cível
Valor: R$ 39.569,27 | Classificador:
Diante da inexistência de questões de ordem processual a serem resolvidas,
passo diretamente à análise da questão de fundo.
O art. 389 do Código Civil prevê que, não cumprida a obrigação, responde o
devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
A respeito de atraso de voo, o entendimento mais recente do STJ é no
sentido de que não se vislumbra que o dano moral possa ser presumido em
decorrência da mera demora e eventual desconforto, aflição e transtornos suportados
pelo passageiro, devendo ser levados em consideração outros fatores a fim de se
investigar acerca da real ocorrência do dano moral1.
Segundo a Ministra Relatora do caso, as particularidades do caso devem ser
observadas, entre as quais cita: i) a averiguação acerca do tempo que se levou para a
solução do problema, isto é, a real duração do atraso; ii) se a companhia aérea ofertou
alternativas para melhor atender aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e
modo informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de amenizar
os desconfortos inerentes à ocasião; iv) se foi oferecido suporte material (alimentação,
hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável; v) se o passageiro, devido ao
atraso da aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino, dentre
outros. Assim, exige-se do passageiro a prova da lesão extrapatrimonial sofrida.
No caso em questão, verifico que a companhia aérea admitiu o atraso no voo
dos autores, justificando-o em razão de “manutenção não programada”; todavia, este
fato não pode ser entendido como extraordinário, cujos efeitos não era possível evitar
ou impedir (art. 393, parágrafo único, do Código Civil), já que diz respeito à própria
atividade desenvolvida pela empresa.
Sublinhe-se que a ré também não trouxe ao processo nenhum elemento de
prova apto a demonstrar que a manutenção foi inesperada e, assim, não se
desincumbiu do ônus que lhe é imposto pelo art. 373, inciso II, do CPC. Impositivo,
portanto, o reconhecimento da falha na prestação do serviço de transporte aéreo,
consistente no cancelamento injustificado do voo.
Além deste cancelamento injustificado, a ré reacomodou os autores em um
voo que saiu de Goiânia por volta das 12h00min, fazendo com que eles perdessem o
voo de conexão, previsto para as 10h10min (arq. 7 de evento n. 1), e com que os
passageiros fossem realocados em outro voo, que saiu por volta das 18h00min do
aeroporto de Vira Copos. Ademais, segundo os autores, eles ainda foram realocados
para um voo com destino a Washington, local do qual partiram para o seu destino final
(Orlando), chegando somente ao meio dia do dia seguinte (06/06/2019).
Sublinhe-se que, além de a companhia aérea não ter apontado horários
diversos dos mencionados pelos autores, também não os impugnou, o que os torna
incontroversos, ao teor do que preveem os arts. 341 e 374, inciso III, do CPC.
Aqui, é importante observar que a segunda autora estava grávida à época da
viagem (cerca de 25 semanas - arq. 6 de evento n. 1) e, no caso, uma viagem que foi
planejada para durar doze horas só terminou após trinta horas. Ressalte-se que a ré
poderia ter reacomodado os passageiros em voo de outra companhia aérea, a fim de
que eles saíssem de Goiânia a tempo de pegar a conexão em São Paulo, o que,
consequentemente, faria com que os autores não perdessem todo este tempo, sendo

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 23/04/2020 19:00:33
Assinado por ANTONIO CEZAR PEREIRA MENESES
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Processo: 5555052-87.2019.8.09.0051

Usuário: Debora Andrade Camargo da Silva - Data: 13/04/2022 10:59:44


GOIÂNIA - 9º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimento do Juizado Especial Cível
Valor: R$ 39.569,27 | Classificador:
esta providência usualmente tomada pelas empresas do ramo2, contudo, a ré não agiu
nesse sentido.
Essa situação, a meu ver, é suficiente para a configuração do dano moral,
segundo os critérios apontados pelo Tribunal da Cidadania, já que a ré não agiu
diligentemente a fim de minimizar o transtorno causado aos autores. Impositiva,
portanto, a condenação da companhia aérea à respectiva reparação.
Com relação à quantificação do montante devido, considerando-se, por um
lado, os fatos acima indicados; e, de outro, o caráter pedagógico da imposição ao
pagamento da indenização, que visa a dissuadir a prática de condutas danosas, bem
como o papel reparatório que possui frente ao lesado, deve ser fixado no valor de R$
3.000,00 (três mil reais) para o primeiro autor e de R$ 5.000 (cinco mil reais) para a
segunda autora.
Igualmente, o pedido de indenização por dano material merece respaldo. É
que, em razão do atraso acima mencionado, os autores perderam uma diária no hotel
que haviam reservado, bem como um diária do veículo que haviam alugado, nos
respectivos valores de R$ 475,81 (arq. 9 de evento n. 1) e R$ 93,46 (arq. 8 de evento
n. 1). Portanto, a companhia aérea deve ressarcir estes prejuízos.
Ao teor do exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos feitos na inicial
para condenar a ré ao pagamento de indenização por dano material, no valor de R$
569,27 (quinhentos e sessenta e nove reais e vinte e sete centavos), corrigido
monetariamente pelo INPC a partir do desembolso (enunciado n. 43 da súmula do
STJ), e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação (art. 240 do
CPC); e ao pagamento de indenização por dano moral, nas quantias de R$ 3.000,00
(três mil reais) para o primeiro autor e R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para a segunda
autora, corrigidas monetariamente pelo INPC a partir do arbitramento (enunciado n.
362 da súmula do STJ), e acrescidas de juros de mora de 1% ao mês a partir da
citação.
Sem custas e honorários advocatícios, nos termos do art. 55 da Lei n.
9.099/95.
P. R. I.

Antônio Cézar P. Meneses


Juiz de Direito

1 REsp 1584465/MG, 3ª Turma, Rel Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018, DJe de 21/11/2018.

2 CPC, art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação
do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a
estas, o exame pericial.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 23/04/2020 19:00:33
Assinado por ANTONIO CEZAR PEREIRA MENESES
Validação pelo código: 10493567021037106, no endereço: https://projudi.tjgo.jus.br/PendenciaPublica

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