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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE MARÍLIA
FORO DE MARÍLIA
VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
RUA LOURIVAL FREIRE ,120, Marilia-SP - CEP 17519-902
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000492-44.2022.8.26.0344 e código 8E25FD2.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1000492-44.2022.8.26.0344


Classe – Assunto: Procedimento do Juizado Especial Cível - Transporte Aéreo
Requerente: Amanda Pereira Lima
Requerido: Azul Linhas Aéreas Brasileiras S.A.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GILBERTO FERREIRA DA ROCHA, liberado nos autos em 25/10/2022 às 16:21 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Gilberto Ferreira da Rocha

Vistos.

De início, impende ressaltar que a presente sentença se refere ao


julgamento conjunto deste feito de nº 1000492-44.2022.8.26.0344 (autora Amanda), bem como
dos processos em apenso de nºs. 1000571-23.2022.8.26.0344 (autora Daniela) e
1001228-62.2022.8.26.0344 (autor João Paulo).

Relatório dispensado a teor do art. 38 da Lei nº 9.099/95.

Fundamento e DECIDO.

Pelo que se extrai das iniciais, aduzem os requerentes terem


adquirido pacotes turísticos junto à empresa requerida, para viagem de ida e volta, partindo de
Marília/SP com destino à Maceió/AL, para período de 01/09/2021 a 09/09/2021. Relatam que, por
ocasião da ida, tiveram atraso no voo de Campinas a Recife e, sendo preteridos no embarque,
perderam a conexão com destino a Maceió, sendo então transportados via terrestre, o que lhes
gerou desconforto e atraso de 05 horas quanto à chegada ao destino final. Além disso, no voo de
volta, foram informados do cancelamento do voo relativo ao trecho de Campinas a Marília, sendo
novamente realocados para o desgastante transporte terrestre. Ressaltam que, ao todo,
percorreram 632 km via terrestre. Sustentam, ainda, não terem recebido qualquer assistência por
parte da requerida. Diante disso, requerem a condenação da requerida ao pagamento de
indenização por danos materiais, consubstanciados na preterição de embarque (no valor de 250
Direitos Especiais de Saque - R$1.834,25), na modalidade de transporte diversa da contratada
(R$600,00) e, no que tange à autora Amanda, à quantia despendida com refrigerante no Aeroporto
de Recife (R$14,20), bem como ao pagamento indenização por danos morais.

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De outra parte, a empresa requerida, em sede defensiva, confirma
a aquisição pelos requerentes das passagens aéreas indicadas na petição inicial, admitindo,
também, que, por problemas técnicos, houve atraso de 30 minutos no voo AD40-79 (etapa VCP-
REC), o que ensejou prejuízo no tempo de conexão. Em razão disso, os passageiros perderam a
conexão (etapa REC-MCZ), sendo reacomodados via terrestre e prestada assistência com
alimentação (págs. 95/96).

No que tange ao voo de volta (pág. 97), houve “cancelamento

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devido à necessidade de manutenção emergencial não programada”. Argumenta, pois, que o
serviço não foi prestado por motivos alheios à sua vontade, sendo os passageiros conduzidos até o
seu destino final pela via terrestre (Campinas a Marília). Defende a não ocorrência de danos
morais ou danos materiais, e, consequentemente, a improcedência da ação.

Pois bem.

Os feitos reclamam julgamento antecipado, nos termos do artigo


355, inciso I do Código de Processo Civil, prescindindo da produção de outras provas para a
convicção do juízo, bem como diante do desinteresse manifestado pelas partes.

Os pedidos veiculados nas iniciais comportam parcial


procedência.

De início, vale destacar que, na hipótese versada, por se tratar de


relação de consumo, enseja a aplicação do disposto no artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa
do Consumidor, que, por seu turno, estabelece a inversão do ônus da prova. Em outras palavras,
há de se ressaltar que o ônus quanto à comprovação dos fatos que extingam o direito dos
requerentes incumbe à empresa requerida.

Pontua-se que restaram incontroversos dos autos os fatos relativos


às aquisições dos pacotes turísticos passagens aéreas e hospedagem pelos requerentes, a perda
de conexão por ocasião do voo de ida e o cancelamento de voo no retorno por “necessidade de
manutenção da aeronave”, relativamente ao trecho de Campinas a Marília. Em ambas as
ocorrências, houve a alteração do transporte aéreo pelo terrestre.

Ora, a responsabilidade da empresa requerida, responsável pelo


transporte aéreo, é objetiva nos moldes do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor. A
empresa de transporte aéreo deve realizar o transporte dos passageiros e de seus pertences na
forma como pactuado, o que não ocorreu no caso presente.

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Neste sentido, é cediço que fatos relativos à necessidade de reparo
na aeronave ou mesmo a ocorrência de atraso por “problemas técnicos”, questões de malha aérea
ou, ainda, relacionadas com a escalação da tripulação não se enquadram como situações
suficientes a afastar a responsabilidade da companhia aérea pelos danos havidos aos passageiros.
São fatos intimamente ligados ao desenvolvimento da atividade desenvolvida, ou seja, constituem
fortuito interno.

Assim, problemas técnicos e/ou operacionais enfrentados pela

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requerida não configuram caso fortuito e/ou força maior, sendo, pois, forçosa a conclusão de que
eventuais problemas a gerar atrasos ou aqueles apresentados nas aeronaves estão relacionados à
negligência da companhia aérea quanto à regular manutenção. Além disso, não há de se olvidar
que, no caso em apreço, deve ser aplicada a teoria do risco da atividade.

Neste contexto, os elementos encartados aos autos não


evidenciam a ausência de responsabilidade da requerida quanto aos fatos narrados na inicial, seja
por caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da parte autora.

A propósito, já se decidiu:

“...Outrossim, verifica-se que a alegação de problemas na


manutenção da aeronave não configura, no presente caso, a ocorrência de caso fortuito, vez que
referida manutenção inesperada é um risco da atividade da requerida, de modo que deveria ter
praticado ações com o intuito de minimizar os prejuízos suportados pelo autor em decorrência de
eventualidades relacionadas a sua atividade. ...” (TJSP; Apelação Cível
0027778-77.2011.8.26.0577; Relator (a): Luis Carlos de Barros; Órgão Julgador: 20ª Câmara de
Direito Privado; Foro de São José dos Campos - 7ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 17/03/2014;
Data de Registro: 19/03/2014)

“Apelação. Ação de reparação de danos morais. Prestação de


serviços. Transporte aéreo. Atraso de voo nacional. Atraso decorrente de manutenção não
programada da aeronave. Circunstância inserida na álea inerente ao negócio jurídico e que
integra o risco da atividade empresarial desenvolvida pela companhia aérea. Danos morais
configurados. [...]” (TJSP; Apelação Cível 1043808-68.2019.8.26.0100; Relator (a): Hamid
Bdine; Órgão Julgador: 19ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 9ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 15/10/2019; Data de Registro: 15/10/2019)

“Apelação. Ação de indenização. Preliminar em contrarrazões de


suspensão do processo com fundamento no art. 313, VI do CPC em razão da pandemia da
COVID-19. Afastada. Transporte aéreo internacional. Insurgência. Danos morais. Má prestação

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de serviço. Cancelamento do voo. Remarcação para o dia seguinte. Atraso de chegada ao destino
de 9 (nove) horas. Responsabilidade objetiva da companhia-ré. Problema técnico/operacional.
Fortuito interno que não exclui a responsabilidade da ré. Ausência de prestação da assistência
material necessária. Falha na prestação dos serviços. Dano moral configurado. Peculiaridades
do caso. Inexistência de prova de dano extraordinário. Indenização fixada em R$ 10.000,00.
Valor adequado e proporcional. Sentença reformada. Procedência da demanda. Recurso provido,
rejeitada preliminar em contrarrazões, com fixação de verba honorária de sucumbência.” (TJSP;
Apelação Cível 1051966-78.2020.8.26.0100; Relator (a): Cauduro Padin; Órgão Julgador: 13ª

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Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 29ª Vara Cível; Data do Julgamento: 19/01/2021;
Data de Registro: 19/01/2021)

Anote-se que, em virtude da falha na prestação dos serviços da


requerida, a parte autora fora realocada em ambas as ocasiões ao transporte terrestre, sendo o
primeiro trecho entre as cidades de Recife a Maceió, e o outro de Campinas a Marília, quando do
voo de retorno.

Tais ocorrências, por certo, ensejaram viagem desconfortável e


desgastante aos autores. Aliás, o documento de pág. 51 dos autos principais, igualmente encartado
nos autos em apenso, demonstra que o atraso dos requerentes quanto à chegada no destino
turístico (Maceió) foi superior a quatro horas, circunstância esta que autoriza a ocorrência de
danos morais, conforme entendimento majoritário da jurisprudência. Tem-se que os autores
lograram realizar o checkin no hotel “Pajuçara Praia Hotel” às 19:27 do dia 01/09, quando o
previsto era chegar em Maceió às 13:30 horas do mesmo dia.

Impende ressaltar que a parte requerida não impugnou


expressamente a alegação dos autores quanto ao atraso havido na chegada ao destino final,
tornando tais fatos incontroversos a teor do artigo 341 do CPC.

Acresça-se, ademais, que embora a companhia aérea tenha


alegado a ocorrência de problemas técnicos a necessitar de manutenção emergencial em sua
aeronave para justificar o cancelamento do voo de retorno da parte autora, não apresentou
nenhum elemento probatório a fim de dar arrimo a esta sua alegação, enfraquecendo ainda mais a
sua tese defensiva.

Note-se que o cancelamento somente fora comunicado aos


autores no aeroporto de Campinas/SP, quando já iniciada a viagem de volta dos autores à cidade
de seu domicílio. Além disso, com a realocação realizada, foi imposta aos requerentes desgastante
viagem terrestre, haja vista a distância de quase 400 Km que separam as cidades de Campinas a
Marília, fato este que por certo culminou no atraso no retorno dos passageiros.

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Extrai-se dos autos, portanto, que a prestação de serviço
deficitário pela parte requerida foi causa direta de transtornos experimentados pela parte
requerente, de forma que o nexo causal está configurado, ensejando a responsabilização da parte
ré nos termos da legislação consumerista.

É seguro afirmar que, por conta da situação retratada na inicial, a


qual se originou da falha da prestação dos serviços por parte da requerida, os requerentes, de fato,

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sofreram transtornos suficientes a causar-lhes abalos psíquicos, sendo, pois, aptos a ensejarem a
condenação da requerida ao pagamento da indenização por danos morais.

Embora a lei não estabeleça os parâmetros para fixação dos danos


morais, impõe-se ao Magistrado observar os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, de
modo a arbitrar os danos morais de forma moderada, que não seja irrisório a ponto de não
desestimular o ofensor, e que não seja excessivo a ponto de configurar instrumento de
enriquecimento sem causa.

Dessa forma, levando-se em consideração as peculiaridades do


caso concreto, atento ao grau de culpa do ofensor, à gravidade do dano, à capacidade econômica
das partes e a reprovabilidade da conduta ilícita, e considerando ainda a ocorrência de defeito no
serviço por ocasião dos voos de ida e de volta, reputo o valor de R$10.000,00 (dez mil reais), para
cada requerente, suficiente a compensar a parte autora e apto a desestimular novas condutas
ilícitas por parte da requerida.

Por outro lado, improcedente a pretensão relativa aos danos


materiais.

Ora, a prestação do serviço em modalidade diversa da contratada


é circunstância utilizada para a configuração do dano moral. Ademais, não houve qualquer
produção de prova a demonstrar a diferença pretendida entre o transporte aéreo e o rodoviário.

Neste sentido:

“DANO MATERIAL - Pretensão de reparação correspondente à


suposta diferença de valores entre passagens aéreas e terrestres Dano decorrente do fato de os
autores terem contratado transporte aéreo, mas terem concluído a viagem por via terrestre que é
reparado pela indenização por dano moral Ausência de demonstração de valores: - A
suposição de que as passagens aéreas são mais caras que as terrestres não ensejam o
reconhecimento de dano material Valores não especificados Autores que adquiriram pacote

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de viagens em grupo Disponibilização de transporte terrestre pela própria companhia. DANO
MORAL Cancelamento de voo Realocação dos passageiros em ônibus - Chegada ao destino
com atraso de 5 horas Aflição e desconfortos causados aos passageiros Dano moral Dever
de indenizar Caracterização: O dano moral decorrente de cancelamento de voo prescinde de
prova - Dano "in re ipsa" que decorre do cancelamento do voo, realocação dos passageiros em
viagem terrestre e atraso na chegada ao destino - Desconforto, aflição e transtornos suportados
pelos passageiros Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.[...]” (TJSP; Apelação Cível
1000783-25.2020.8.26.0664; Relator (a): Nelson Jorge Júnior; Órgão Julgador: 13ª Câmara de

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Direito Privado; Foro de Votuporanga - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 23/11/2021; Data de
Registro: 23/11/2021)

Igualmente indevido o pedido de condenação ao pagamento de


250 DES, nos termos do art. 24, inciso I, da Resolução nº 400/16, da ANAC.

Dispõe a referida norma que, "No caso de preterição, o


transportador deverá, sem prejuízo do previsto no art. 21 desta Resolução, efetuar,
imediatamente, o pagamento de compensação financeira ao passageiro, podendo ser
transferência bancária, voucher ou em espécie, no valor de: I - 250 (duzentos e cinquenta) DES,
no caso de voo doméstico; e II - 500 (quinhentos) DES, no caso de voo internacional" (grifei).

Ora, os fatos narrados não evidenciam que houve preterição de


embarque, o que geralmente ocorre quando há overbooking (venda de passagens superior ao
número de assentos). No caso em apreço, os autores sofreram atraso de voo, consoante pág. 95,
porquanto ao invés de desembarcarem em Recife no horário previsto às 11:35, somente chegaram
às 12:05 horas, o que ensejou a perda do voo de conexão. Assim, houve atraso, perda da conexão
e prestação do serviço em modalidade diversa, ocorrências nitidamente distintas.

Neste sentido, no que tange a casos de preterição, confira-se


posicionamento do E. Tribunal de Justiça de São Paulo:

“APELAÇÃO e RECURSO ADESIVO. Ação de indenização por


danos materiais e morais em razão de atraso em voo internacional. Sentença que julgou os
pedidos parcialmente procedentes para o fim de condenar a empresa ré no pagamento de
indenização por danos materiais no valor de R$ 340,00, em razão da necessidade de tradução
juramentada, bem como no pagamento de R$ 4.000,00, a título de indenização por danos morais.
Sucumbência recíproca decretada. Apelo da empresa ré pugnando pela reforma da r. decisão.
Apelo do autor requerendo a majoração do quantum indenizatório pelo prejuízo moral para R$
10.000,00, a condenação da requerida ao pagamento da indenização material prevista pela
preterição de passageiro e o afastamento da sucumbência recíproca. Com razão em parte

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somente o autor. Ação de indenização por danos materiais e morais em razão de atraso que
culminou com perda de voo de conexão, acarretando um atraso total de dezesseis horas e
quarenta minutos até o destino final. Manutenção de aeronave. Falha mecânica. Fortuito interno.
Os valores reparatórios dos danos materiais - que não extraio de bagagem - e morais não estão
limitados pelo julgamento dos RE 636.331-RJ e ARE 766.618-SP, com repercussão geral,
remanescendo os entendimentos jurisprudenciais a respeito da aplicação das normas contidas no
Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor. Danos materiais. Com relação ao gasto de
R$ 340,00, com tradutor juramentado, era mesmo de rigor a condenação da demandada, tendo

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em vista o artigo 192 do Código de Processo Civil e o fato de a requerida ter dado causa ao
ajuizamento da demanda. Por outro lado, o autor pleiteia a condenação da companhia aérea ré
ao pagamento de 500 DES com fulcro no artigo 24, inciso II da Resolução nº 400/2016 da ANAC,
tendo em vista a alegada preterição. Com efeito, conforme o léxico, apesar da redação dada ao
artigo 22 da Resolução nº 400/2016 da ANAC, preterir significa desprezar a preferência de
alguém em proveito de outrem. Daí não se pode confundir cancelamento ou atraso de voo com
preterição de passageiro, a justificar a incidência da compensação financeira prevista no artigo
24 da resolução já referida. Dano moral. Apesar da assistência prestada pela companhia aérea
ré, o atraso foi de dezesseis horas e quarenta minutos em um país estrangeiro. Ninguém a isto
fica indiferente. Tais circunstâncias extrapolam o limite do razoável de um "simples atraso" de
voo e são capazes de causar aflição e angústia no passageiro. Majoração do quantum
indenizatório para R$ 10.000,00. Sucumbência recíproca afastada. Autor que decaiu de parte
mínima do pedido. Empresa ré condenada a arcar integralmente com os ônus decorrentes da
sucumbência. Apelo da ré desprovido e recurso adesivo do autor parcialmente provido, apenas
para majorar o quantum indenizatório a título de dano moral e afastar a sucumbência
recíproca.” (TJSP; Apelação Cível 1017530-93.2020.8.26.0100; Relator (a): Roberto Maia;
Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 21ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 17/12/2020; Data de Registro: 17/12/2020) (Destaquei)

Acresça-se, por fim, que a despesa da coautora Amanda com


refrigerante (gastos com alimentação), no importe de R$14,20, por não guardar relação direta com
o ocorrido, mas sim, invariavelmente, haveria de ser por ela suportada independentemente das
ocorrências retratadas nos autos, também não deve compor o montante da condenação.

Destarte, não resta alternativa senão a procedência dos pedidos


contidos nas iniciais, observando-se, contudo, que, diante da natureza da demanda, o valor da
indenização por danos morais se mostra estimativo.

DISPOSITIVO

Ante o exposto e considerando o mais que dos autos consta,

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JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos alojados nas iniciais (feito nº
1000492-44.2022.8.26.0344 e apensos nº 1000571-23.2022.8.26.0344 e
1001228-62.2022.8.26.0344), o que faço para condenar a requerida a pagar a importância de
R$10.000,00 (dez mil reais), para cada requerente, a título de danos morais, devidamente
corrigidos e atualizados de acordo com a Tabela do Tribunal de Justiça e acrescidos de juros de
mora de 1% ao mês, tudo a contar da presente sentença. Sem custas e honorários advocatícios a
teor do disposto no artigo 55 da Lei 9.099/95. Valor das custas do preparo
1000492-44.2022.8.26.0344: R$592,46, sendo R$192,46, correspondente a 1% do valor da causa,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GILBERTO FERREIRA DA ROCHA, liberado nos autos em 25/10/2022 às 16:21 .
acrescido de R$400,00, relativo a 4% sobre o valor da causa ou condenação;
1000571-23.2022.8.26.0344 e 1001228-62.2022.8.26.0344: R$592,31, sendo R$192,31,
correspondente a 1% do valor da causa, acrescido de R$400,00, relativo a 4% sobre o valor da
causa ou condenação.

Publique-se e intime-se.

Marilia, 25 de outubro de 2022.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

1000492-44.2022.8.26.0344 - lauda 8

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