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AO EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 9ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE

FORTALEZA – CE

EXECUÇÃO PROC. Nº: 0208522-65.2015.8.06.0001


EXEQUENTE: FUNDO DE INVEST. EM DIREITOS CREDITÓRIOS MULTISETORIAL SM LP
EXECUTADO: CMC SERVIÇOS TERCEIRIZADOS LTDA. ME e OUTROS

[...], apresentar a presente EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE em face de FUNDO DE


INVEST. EM DIREITOS CREDITÓRIOS MULTISETORIAL SM LP, já devidamente
qualificado, pelas razões de fato e direito a seguir dispostas.
1. BREVE SÍNTESE DA DEMANDA

Trata-se de ação de execução onde afirma o Exequente haver firmado com as partes
Contrato de Cessão e Aquisição de direitos creditórios representados por títulos de
crédito. Em razão do referido instrumento, “a Requerida CMC cedeu diversos títulos
oriundos de vendas mercantis, que foram regularmente transferidas por meio de
endosso, com a tradição dos títulos originais” em favor do FIDC SM LP.

Alega que, “em meio às operações realizadas entre as partes, trouxe a CMC o pleito de
operar títulos de órgãos públicos e de economia mista, ocasião em que
convencionaram as partes que, na ausência de pagamento pelos órgãos, deveriam
comparecer cedente e avalistas e liquidar o débito, o que deixaram expresso no título
de crédito que se executa. ”

Prosseguem a informar que nesta operação restou inadimplido um título da CAGECE,


“este lastreado no contrato de nº 053/2014, e consolidado pelas Notas Fiscais de nºs
4658, 4660, 4665 e 4666, perfazendo um total (face) de R$ 602.418,81, dos quais
foram cedidos ao Exequente pelo valor face de R$ 474.222,16. ”

Diante do suposto inadimplemento, resolveu a Exequente executar uma pretensa Nota


Promissória, no valor de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), emitida pela CMC –
como garantia ao contrato -, avalizada por Samuel Araújo Diniz Filho, Marcelo Pereira
D ́Alencar e Viviane Ferrer Almada Rodrigues.

Atualizou o débito para o ajuizamento da demanda, de maneira inexplicável, para a


monta de R$ 1.115.048,56 (um milhão, cento e quinze mil, quarenta e oito reais e
cinquenta e seis centavos) na seguinte forma:

i. Juros Compostos de 1% ao dia;


ii. Correção pelo IGPM – pro rata dia;
iii. Multa de 10%
iv. Honorários de 20%

É o que importa relatar.

2. DOS VÍCIOS DA EXECUÇÃO PASSÍVEIS DE SEREM RECONHECIDOS DE OFÍCIO.


2.1 DA INEXISTENCIA DE TÍTULO EXECUTÍVO HÁBIL A FOMENTAR A PRESENTE
EXECUÇÃO

A Excepta/Exequente pretende receber o valor de R$ 1.115.048,56 (um milhão, cento


e quinze mil, quarenta e oito reais e cinquenta e seis centavos) - derivado de uma
estapafúrdia “atualização” - através da execução de Nota Promissória dada em
“garantia” a um Contrato de Cessão firmado entre ela e a empresa CMC.

Entretanto, é relevante apontar que o pleito executório ora combatido está fadado ao
insucesso, pois inexiste qualquer título executivo extrajudicial apto a embasar a
presente demanda e, quão menos, que autorize a execução do almejado valor.

É cediço que a execução de título executivo extrajudicial, para ser validamente


processada, precisa estar lastreada em títulos executivos que possuam certeza,
liquidez e exigibilidade. Ocorre que, a nota promissória juntada na fl. 64, teoricamente
emitida em abril de 2015, foi firmada como garantia para liberação de crédito do
Contrato de Cessão e Aquisição de direitos creditórios representados por títulos de
crédito, fato este reconhecido pelo próprio Excepto/Exequente nos fatos exordiais.

Esclarecido tal fato, a súmula 258 do STJ é categórica ao afirmar:

"Súmula 258: A nota promissória vinculada a contrato de


abertura de crédito não goza de autonomia em razão da
iliquidez do título que a originou".

Seguindo o regimento sumular, não é outro o entendimento sedimentado dos


sodalícios pátrios:

RECURSO – Apelação – Nota Promissória – "Embargos à


execução" – Insurgência contra a r. sentença que julgou
procedentes os embargos e extinguiu a execução –
Inadmissibilidade – Incontroversa emissão de nota
promissória em garantia de contrato de fomento
comercial (factoring) – Título executado emitido para
garantir contrato ilíquido e sem circulação que perde a
autonomia – Aplicação da Súmula 258 do STJ –
Impossibilidade da cessionária exigir do cedente o
pagamento dos valores alegadamente inadimplidos pelos
devedores originários – Ausência de título executivo apto
– Sentença mantida – Honorários advocatícios bem
fixados e majorados – Recurso improvido. (TJ-SP - AC:
10129268920198260564 SP 1012926-89.2019.8.26.0564,
Relator: Roque Antonio Mesquita de Oliveira, Data de
Julgamento: 15/04/2020, 18ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 15/04/2020)

Apelação cível. Ação de execução. Oposição de exceção


de pré-executividade. Acolhimento. Extinção da
demanda, com fundamento nos artigos 267, IV, e 618, I,
do CPC/1973 (vigente à época). Insurgência da
exequente. Exequente/apelante que não é, de fato,
empresa de factoring, mas sim fundo de investimento
em direitos creditórios (FIDC), regulamentado, em sua
essência, pela Instrução Normativa n. 356/2001 da
Comissão de Valores Mobiliários. Debate a respeito da
distinção da natureza e do tipo de atividade comercial
desenvolvida por essas duas figuras jurídicas, contudo,
improdutivo/desnecessário. Motivo não determinante
para o decreto extintivo. Cobrança assentada em nota
promissória emitida para garantir cláusula de recompra
de "títulos" eventualmente não adimplidos pactuada em
"Contrato que Regula Cessões de Crédito" celebrado
entre os litigantes. Vinculação inegável. Circunstância
que retira a autonomia da nota promissória,
submetendo a sua eficácia executiva,
consequentemente, a do aludido ajuste. Instrumento de
cessão que, além de não contemplar a assinatura de duas
testemunhas, não expressa uma obrigação líquida.
Ausência de pressuposto de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo. Vicío
passível de ser deduzido e analisado por meio de exceção
de pré-executividade. Matéria de ordem pública, que
dispensa a produção de provas (vide, como ilustração, o
artigo 803 do CPC/2015). Sentença de extinção mantida.
Reclamo desprovido. (TJ-SC - AC:
00120457020098240036 Jaraguá do Sul 0012045-
70.2009.8.24.0036, Relator: Ronaldo Moritz Martins da
Silva, Data de Julgamento: 06/09/2018, Terceira Câmara
de Direito Comercial)

RECURSO ESPECIAL Nº 1.337.052 - RS (2012/0162128-5)


RELATOR : MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO)
RECORRENTE : REDFACTOR FACTORING E FOMENTO
COMERCIAL S/A ADVOGADO : CYLMAR PITELLI TEIXEIRA
FORTES E OUTRO (S) - SP107950 RECORRIDO : TEC
IMPORTS IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA
ADVOGADO : LIVIA SANT ANNA FARIA LIMA E OUTRO (S) -
MG084872 DECISÃO Trata-se de recurso especial
interposto por REDFACTOR FACTORING E FOMENTO
COMERCIAL S/A com fundamento nas alíneas a e c do
permissivo constitucional, contra acórdão do Eg. Tribunal
de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim
ementado (e-STJ fl. 402): "EMBARGOS DE TERCEIRO.
NOTA PROMISSÓRIA EMITIDA EM GARANTIA A
CONTRATO DE FOMENTO MERCANTIL FIRMADO ENTRE
AS PARTES. A Nota promissória sacada como garantia de
contrato de fomento mercantil, tem sua natureza
cambial desnaturada, quando vinculada ao contrato,
subtraida assim sua autonomia. Sentença mantida.
APELO DESPROVIDO. UNÂNIME." Os embargos de
declaração opostos foram rejeitados (e-STJ fls. 418/422).
Em suas razões recursais, a recorrente aponta, além de
divergência jurisprudencial, ofensa ao art. 17 do Decreto
n. 57.663/1966.
[...]
(AgRg no REsp 1482089/PA, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
05/11/2015, DJe 16/11/2015)"AGRAVO REGIMENTAL.
INEXISTÊNCIA DE RAZÕES QUE JUSTIFIQUEM A REFORMA
DA DECISÃO. INEXIGIBILIDADE DE NOTA
PROMISSÓRIA.VINCULAÇÃO A NEGÓCIO JURÍDICO
ANTERIOR. PRINCÍPIO DA INOPONIBILIDADE DAS
EXCEÇÕES PESSOAIS AOS TERCEIROS DE BOA-FÉ QUE NÃO
SE APLICA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 83 DESTA CORTE.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A nota promissória vinculada
ao negócio jurídico que a originou deixa de ser
autônoma e abstrata. Precedentes. 2. Em se tratando de
cessão de título de crédito mediante factoring, as
exceções pessoais originalmente oponíveis pelo devedor
ao faturizado passam a ser oponíveis à faturizadora, nova
credora. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido
[...]
Assim, ante da ausência de qualquer subsídio capaz de
alterar os fundamentos do acórdão recorrido, subsiste
incólume o entendimento nele firmado, não merecendo
prosperar, portanto, o presente apelo nobre. Ante o
exposto, com base no art. 255, § 4º, I, do RISTJ, não
conheço do recurso especial. Publique-se. Brasília (DF), 28
de maio de 2018. MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO)
Relator (STJ - REsp: 1337052 RS 2012/0162128-5, Relator:
Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), Data de Publicação: DJ
01/06/2018)

Portanto, ao deixar de juntar ao processo executivo o Contrato de Cessão e os Termos


de Cessão a que se atrelam a “garantia” insculpida na Nota Promissória, temos que a
reles Nota trazida, por ser vinculada ao ajuste contratual, perde sua autonomia,
submetendo a sua eficácia executiva ao ajuste firmado.

Desta forma, por qualquer ângulo que se examine a questão, a conclusão inequívoca
conduz para a extinção da execução por inexistência de título executivo extrajudicial
apto a viabiliza-la.

2.2. DA DESNATURAÇÃO DO CONTRATO DE FOMENTO – IMPOSSIBILIDADE DE


CONSTITUIÇÃO DE GARANTIA EM FAVOR DO CESSIONÁRIO

Pois bem, de pronto, curial observar que o recorrente é fundo de investimentos em


direitos creditórios (FIDC), regulado pela Instrução Normativa n. 356 da CVM.
Inobstante, malgrado o FIDC não se confundir com uma empresa de fomento
mercantil, seguro afirmar que os Contratos de Cessão e Aquisição de direitos
creditórios representados por títulos de crédito por eles firmados tratam-se,
verdadeiramente, de operação de factoring.

Em verdade, para o mercado, a empresa faturizadora e o fundo de investimento em


diretos creditórios praticam a mesma atividade, porquanto ambos são procurados por
empresas que precisam antecipar seus recebíveis. As distinções existentes entre FIDCs
e Factorings se restringem às suas estruturas jurídicas internas onde a empresa de
factoring é constituída sob a forma de Empresa de Responsabilidade Limitada
enquanto o fundo de investimento é um patrimônio em condomínio, constituído por
investidores e regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM/B3).

Com isto em mente, pela própria narrativa vestibular, observa-se que, em que pese o
Exequente se identifique como fundo de investimentos e o contrato firmado entre as
partes se denomine “Contrato de Cessão”, verifica-se a presença de características do
fomento mercantil uma vez que os títulos operacionalizados eram duplicatas
mercantis, devidamente endossada. Vejamos o que narra a inicial uma vez que o
contrato em si sequer foi juntado:

“...a negociação de créditos citada, a Requerida CMC


cedeu diversos títulos oriundos de vendas mercantis, que
foram regularmente transferidas por meio de endosso,
com a tradição dos títulos originais, o que legitima o FIDC
SM LP como único proprietário e detentor do direito de
receber o valor representado nas cártulas citadas. Em
meio as operações realizadas entre as partes, trouxe a
CMC o pleito de operar títulos de órgãos públicos e de
economia mista. Ocasião em que convencionaram as
partes que na ausência de pagamento pelos órgãos,
deveriam comparecer cedente e avalistas e liquidar o
débito, o que deixaram expresso no título de crédito que
hoje se executa. Dentre as empresas clientes da CMC e,
dos diversos títulos cedidos, temos inadimplidos um título
da CAGECE, este lastreado no contrato de nº 053/2014, e
consolidado pelas Notas Fiscais de nºs 4658, 4660, 4665 e
4666, perfazendo um total (face) de R$ 602.418,81...”

É consabido, Nobre Magistrado, que o Superior Tribunal de Justiça firmou o


posicionamento de que é incabível o direito de regresso em relação ao cedente ou aos
avalistas/garantidores sob pena de desnaturação da essência do contrato de fomento.
De mesmo modo, se manifestam os tribunais pátrios:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA


CONTRATUAL E INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO DE CRÉDITO,
FUNDADA EM CONTRATO DE CESSÃO DE TÍTULOS DE
CRÉDITO E DE NOTA PROMISSÓRIA EMITIDA COMO
GARANTIA. EMBORA A APELANTE SE IDENTIFIQUE
COMO FUNDO DE INVESTIMENTOS E O CONTRATO
FIRMADO ENTRE AS PARTES SE DENOMINE "CONTRATO
DE CESSÃO", VERIFICA-SE A PRESENÇA DE
CARACTERÍSTICAS DO FOMENTO MERCANTIL,
MODALIDADE CONTRATUAL ATÍPICA, UMA VEZ QUE
APRESENTA COMO OBJETO A AQUISIÇÃO DE
DUPLICATAS POR MEIO DE CESSÃO, MEDIANTE O
PAGAMENTO DE DESÁGIO. MANUTENÇÃO DA R.
SENTENÇA QUE DECLAROU A NULIDADE DA CLÁUSULA
QUE ESTABELECE A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO
CEDENTE DOS TÍTULOS DE CRÉDITO EM CASO DE
INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR, POIS ESSE RISCO
CONFIGURA ESSÊNCIA DO CONTRATO DE FOMENTO
MERCANTIL, PORTANTO, OS TÍTULOS SÃO ADQUIRIDOS
EM CARÁTER "PRO SOLUTO". A CESSÃO DOS TÍTULOS
MEDIANTE A OBRIGAÇÃO DE RECOMPRA EM CASO DE
INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR DO CRÉDITO CEDIDO TRATA
DE CARACTERÍSTICA DO MÚTUO, OPERAÇÃO QUE
SOMENTE PODE SER DESEMPENHADA POR INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. PRECEDENTES DESTE E. TRIBUNAL DE
JUSTIÇA E DO C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
RECURSO IMPROVIDO. (TJ-SP - APL:
10381706220168260002 SP 1038170-62.2016.8.26.0002,
Relator: Alberto Gosson, Data de Julgamento:
11/05/2017, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 20/06/2017)

Apelação. Contrato de cessão de crédito firmado com


Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios.
Natureza jurídica de fomento mercantil. Títulos
adquiridos com deságio. O inadimplemento dos
devedores dos títulos de crédito é risco inerente à
própria natureza da atividade da factoring. A
responsabilidade do faturizado se restringe ao caso de
inexistência do crédito cedido. Nulidade das cláusulas de
garantia dispondo sobre o direito de regresso do
faturizador contra o faturizado. O contrato firmado entre
as partes é diverso do contrato de desconto, que
somente é permitido a instituições financeiras. Nulidade
das notas promissórias emitidas como garantia dupla de
pagamento dos títulos transferidos à faturizadora por
meio de contrato de cessão de direitos creditórios.
Recurso não provido. (TJ-SP - Apelação nº 1014180-
68.2018.8.26.0100, Relator: Matheus Fontes, Data de
Julgamento 07/02/2019, 22ª Câmara de Direito Privado)

Desta feita, Emérito Julgador, restando estabelecido – pois confesso pela


Excepta/Exequente – que a obrigação vinculante principal é o “contrato de nº
053/2014, e consolidado pelas Notas Fiscais de nºs 4658, 4660, 4665 e 4666,
perfazendo um total (face) de R$ 602.418,81, dos quais foram cedidos ao Exequente o
valor face de R$ 474.222,16”. E que a nota promissória “emitida” possui o indissociável
condão de garantia das obrigações contratadas, temos que esta, se não pela falta de
exequibilidade explanada no item anterior desta Exceção, é absolutamente inexigível
uma vez que não se admitem garantias em contratos e/ou operações de fomento.

Sendo inexigível a obrigação executada, necessária se faz a extinção da ação.


2.3. DA INEXISTÊNCIA DE CERTEZA, LIQUIDEZ OU EXIGIBILIDADE DOS TÍTULOS EM
ESPECTRO AMPLO – DESRESPEITO AO PRINCÍPIOS DA LITERALIDADE e
CARTULARIDADE - INÉPSIA.

Os títulos de crédito têm a sua essência insculpida em três princípios indissociáveis.


São eles a Cartularidade, a Literalidade e a Autonomia. Pela Cartularidade o credor tem
de provar que se encontra na posse do documento não se podendo falar em
exigibilidade sem a apresentação do documento originário da obrigação para o
exercício do direito nele mencionado.

O princípio da Literalidade, de forma complementar, dispõe que só poderá ser exigido


aquilo que estiver expresso no título de crédito, ou seja, aquilo que não estiver nele
expresso torna-se inexigível. E, por fim, o instituto da Autonomia estabelece a
desvinculação da causa do título em relação a todos os coobrigados.

No caso em testilha, temos que todos os princípios narrados foram violados, fato que
vem a fulminar a presente pretensão executória. Explica-se.

Conforme já discorrido no item 2.1. da presente Exceção, os documentos originários


da obrigação, qual sejam o Contrato de Cessão e os Termos de Cessão, não foram
trazido aos autos de modo que a Nota Promissória a ele vinculada como garantia – que
é o documento que se pretende Executar – resta carente de exequibilidade. Sem o
documento originário da obrigação, não há como se reconhecer a Cartularidade da
Nota promissória atrelada e que ora se processa.

Concernente à violação do princípio da Literalidade, Excelência, temos na presente


execução um verdadeiro show de horrores. Observe, nobre Magistrado, que sem
trazer à baila o contrato originário, o Exequente busca o adimplemento de uma nota
promissória vinculada em garantia. Superando esta teratologia – pois já
exaustivamente discutida – ao pleitear o crédito inscrito na Nota de fls. 64, o FIDC, em
o que só pode ser considerado como um surto de esquizofrenia aguda, “atualiza” o
valor de face do título por Juros COMPOSTOS DE 1% AO DIA; correção pelo IGPM –
pro rata dia; Multa de 10%; e Honorários de 20%.

Excelência, note que por esses índices absurdos, em meros 57 dias (período entre o
teórico inadimplemento do sacado e o ajuizamento da demanda), o valor nominal de
R$ 474.222,16 (quatrocentos e setenta e quatro mil, duzentos e vinte e dois reais e
dezesseis centavos) saltou para impressionantes R$ 1.115.048,56 (um milhão, cento
e quinze mil, quarenta e oito reais e cinquenta e seis centavos) com uma
capitalização de juros na ordem de 76,33% (setenta e seis, trinta e três por cento).

De certo, Ilustríssimo Julgador, a cobrança abusiva de juros, normalmente, não pode


ser alvo de Exceção de Pré executividade, mas o caso em contenda é diferente uma
vez que – mesmo que ignoremos a patente abusividade dos encargos cobrados – as
aludidas incumbências sequer estão previstas na Nota Promissória.

Onde na NP está prevista a capitalização de juros COMPOSTOS de 1% AO DIA? Onde


está prevista a multa de 10%? Honorários de 20%? Simplesmente não há.

Não estando inscritas expressamente na cártula tornam-se inexigíveis todas e


quaisquer pretendidas “obrigações assessórias”. Via de consequência, temos que o
memorial de cálculo juntado às fls. 59 dos autos mostra-se imprestável a instruir a
presente execução uma vez que atualiza a dívida por encargos inexistentes e
inaplicáveis ao caso.

Diante de tal fato, torna-se necessária a análise conjunta de dois dispositivos do


Código de Processo Civil.

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


I - for inepta;
II - a parte for manifestamente ilegítima;
III - o autor carecer de interesse processual;
IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 .
§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses
legais em que se permite o pedido genérico;
III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a
conclusão;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:


I - instruir a petição inicial com:
a) o título executivo extrajudicial;
b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de
propositura da ação, quando se tratar de execução por
quantia certa;
[...]

Tem-se então que, caso superadas as matérias extintivas suscitadas nos tópicos
anteriores – o que não se acredita -, a Execução aqui rechaçada deverá ser extinta por
sua ululante inépcia. Ao que se pode ser verificado na inicial, o Exequente/Excepto,
apesar de mencionar a existência de um Contrato de Fomento, decide por não juntá-lo
e passa a executar somente a Nota Promissória a ele vinculada – que é destituída de
caráter executório - e mais, junta demonstrativo de débito totalmente dissociado do
que se encontra insculpido no pretenso título, de forma que da narração dos fatos não
decorre logicamente a conclusão.

3. DA INVALIDADE DO NEGÓCIO - DO DESRESPEITO À LEI DA USURA

O artigo 104 do Código Civil prevê:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I -agente capaz;
II -objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III -forma prescrita ou não defesa em lei.

Vemos que a prática da usura é defesa nos termos da Lei 1521/51. Logo, é de rigor a
aplicação do Princípio da Inoponibilidade das Exceções Pessoais, pois o exequente não
é credor de boa-fé, tornando invalido o título de crédito.

Nesse sentido, a discussão da relação jurídica subjacente ao título de crédito é


permitida se houver sérios indícios de que a obrigação foi constituída em flagrante
desrespeito à ordem jurídica ou se configurada a má-fé do portador do título.

Neste sentido se manifestam os tribunais:

Embargos à execução. Cheques. Agiotagem. Procedência.


Apelo do credor. Sentença mantida, adotando-se os seus
fundamentos nos moldes do art. 252 do Regimento
Interno desta Corte. Títulos que não se revestiram do
atributo da abstração, porquanto não circularam. Acervo
documental comprovando sucessiva troca de mais de
quarenta cheques mediante cobrança de taxa de 10% do
valor do débito. Juntada de cópia de todas as cártulas que
antecederam os títulos exequendos, além de extratos
bancários demonstrando a entrada da quantia tomada
emprestada. Silêncio do credor quanto à lisura da causa
debendi, notadamente em relação à cobrança de
encargos em desacordo com os limites previstos no
Decreto n. 22.626/33, em conjunto com os arts. 591 e
406 do Código Civil. Nulidade dos encargos usurários.
Preservação, porém, do mútuo, que deverá ser ajustado à
taxa de juros legais. Princípios da conservação do negócio
jurídico (art. 184 do CC) e da boa fé (art. 422 do CC), além
da vedação do enriquecimento sem causa.
Impossibilidade, contudo, de se prosseguir com a
execução. Ausência de elementos que permitam aferir a
certeza e a liquidez da obrigação em aberto. Inteligência
do art. 783 do CPC/2015. Comprometimento da
exequibilidade dos títulos executivos. Possibilidade de
perseguição do crédito por meio de ação de
conhecimento. Decisão mantida. Recurso desprovido.
(TJ-SP - APL: 10007570420178260447 SP 1000757-
04.2017.8.26.0447, Relator: Jonize Sacchi de Oliveira,
Data de Julgamento: 04/02/2019, 24ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 04/02/2019)

Desta forma, Excelência, restando clara a cobrança de encargos em desacordo com os


limites previstos no Decreto n. 22.626/33, em conjunto com os arts. 591 e 406 do
Código Civil, resta caracterizada, sem qualquer necessidade de dilação probatória, a
pratica onzenária o que impossibilita o prosseguimento da execução diante da
ausência de elementos que permitam aferir a certeza e a liquidez da obrigação em
aberto conforme inteligência do art. 783 do CPC/2015.

4. DOS PEDIDOS

Por qualquer cenário que se analise, mostra-se cristalina a inexigibilidade do título e


imperiosa extinção da execução. Nos termos do disposto, não carecendo a matéria
aqui aventada de maior dilação probatória, podendo ser reconhecida de ofício por este
juízo, resta demonstrado que a execução ora imposta não possui embasamentos
fáticos ou jurídicos aptos a permitir o seu prosseguimento. Posto isto, diante do
quadro fático e de todas as provas que instruem a demanda, requer-se que V. Exa, se
digne em:

a) EXTINGUIR A PRESENTE EXECUÇÃO POR AUSENCIA DE


TÍTULO EXECUTIVO VÁLIDO, uma vez que ao deixar de
juntar ao processo o Contrato de Cessão e os Termos de
Cessão a que se atrelam a “garantia” insculpida na Nota
Promissória, temos que a reles Nota trazida, por ser
vinculada ao ajuste contratual, perde sua autonomia,
submetendo a sua eficácia executiva ao ajuste firmado.

b) EXTINGUIR A PRESENTE EXECUÇÃO uma vez que


estabelecido – pois confesso pela Excepta/Exequente –
que a obrigação vinculante principal é o “contrato de nº
053/2014, e consolidado pelas Notas Fiscais de nºs 4658,
4660, 4665 e 4666, perfazendo um total (face) de R$
602.418,81, dos quais foram cedidos ao Exequente o
valor face de R$ 474.222,16” e que a nota promissória
“emitida” possui o indissociável condão de garantia das
obrigações contratadas, que é ABSOLUTAMENTE
INEXIGÍVEL UMA VEZ QUE NÃO SE ADMITEM
GARANTIAS EM CONTRATOS E/OU OPERAÇÕES DE
FOMENTO.

c) EXTINGUIR A PRESENTE EXECUÇÃO DIANTE DA


INEXISTÊNCIA DE CERTEZA, LIQUIDEZ OU EXIGIBILIDADE
DOS TÍTULOS EM ESPECTRO AMPLO, DO VILIPENDIO
AOS PRINCÍPIOS DA LITERALIDADE E CARTULARIDADE E
DA INÉPSIA DA EXECUÇÃO, ao passo que, apesar de
mencionar a existência de um Contrato de Fomento,
decide por não juntá-lo e passa a executar somente a
Nota Promissória a ele vinculada – que é destituída de
caráter executório - e mais, junta demonstrativo de
débito totalmente dissociado do que se encontra
insculpido no pretenso título, de forma que da narração
dos fatos não decorre logicamente a conclusão.

d) Extinguir a presente execução ante a cobrança de


encargos em desacordo com os limites previstos no
Decreto n. 22.626/33, em conjunto com os arts. 591 e
406 do Código Civil, uma vez que resta caracterizada, sem
qualquer necessidade de dilação probatória, a pratica
onzenária o que impossibilita o prosseguimento da
execução diante da ausência de elementos que permitam
aferir a certeza e a liquidez da obrigação em aberto
conforme inteligência do art. 783 do CPC/2015.

e) Como consequência, que seja indeferido todo e


qualquer pedido de penhora de bens ou ativos ou, caso
já exista constrição, que estas sejam imediatamente
levantadas;

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos. Por
derradeiro, deve o exequente ser condenado ao pagamento de todas as custas e
despesas processuais que envolvam a presente lide, inclusive ao pagamento de
honorários advocatícios no patamar de 20% sobre o valor atualizado da causa.

Termos em que pede


E espera deferimento

Fortaleza 08 de fevereiro de 2021

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