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AO DESEMBARGADOR PRESIDENTE OU VICE-PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

Apelação Cível nº. 5001241-78.2020.4.04.7208/SC

NEOMED SERVICOS DE NEONATOLOGIA LTDA., pessoa jurídica


de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob n. 09.113.246/0001-44, com sede na Avenida
Coronel Marcos Konder, 1313, 9 Andar, Sala 907, Centro Itajaí-SC, CEP 88.301-904, na
cidade de Itajaí, devidamente representada por um de seus procuradores regularmente
constituídos, com fundamento nos artigos 105, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988 e 1.029 e seguintes do Código de Processo Civil,
interpor RECURSO ESPECIAL em face do r. acórdão proferido nos autos em epígrafe,
requerendo então seja recebido e processado na forma da lei, tendo em vista estarem presentes
todos os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade, para posterior conhecimento
e provimento pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Para tanto, segue anexa a guia relativa ao preparo do recurso, bem como o
seu comprovante de pagamento.

Pede deferimento.

Itajaí/SC, 12 de dezembro de 2023.

ERN & GARCIA ADVOGADOS


OAB/SC 1659
Juliano Gomes Garcia – OAB/SC 17.252-SC
Assinado digitalmente.
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL

Processo nº 5001241-78.2020.4.04.7208/SC, da Primeira Turma do Tribunal Regional


Federal da 4ª Região.
Recorrente: NEOMED SERVIÇOS DE NEONATALOGIA LTDA
Recorridos: UNIÃO – FAZENDA NACIONAL

Excelentíssimos Ministros,
Ínclitos Julgadores,

Em que pese o ilibado saber jurídico da Primeira Turma Recursal do TRF4,


impõe-se a reforma do venerando acórdão proferido nestes autos, pelas razões a seguir
expostas:

I. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

1. Primeiramente, cumpre enfatizar que o presente Recurso Especial é


apresentado em estrita observância ao prazo legal, nos termos do artigo 1.003, §5º do CPC.
Dessa forma, considerando que o acórdão do fora publicado no Diário Oficial de Justiça na
data de 09/11/2023, conforme Certidão do Tribunal de Origem, iniciando a contagem do
prazo em 21/11/2023, e término em 12/12/2023.

2. De igual forma, ressalta-se que foram devidamente quitadas as guias


relativas ao preparo do recurso.

II. DO PREQUESTIONAMENTO
3. É sabido que para a interposição de Recurso Especial faz-se necessário o
prequestionamento da matéria, devendo as normas federais violadas que dão azo à
impugnação ser objeto de discussão e decisão pelo Tribunal Estadual, in casu, o Tribunal
Regional Federal da 4ª Região.

4. Nesse sentido, destaca-se que a matéria arguida vem sendo enfrentada


desde a origem, especialmente nas contrarrazões ao Recurso de Apelação interposto pela
Recorrida e nas razões dos Embargos de Declaração opostos face ao Acórdão ora guerreado,
configurando amplo debate no processo.

5. Contudo, os Nobres Julgadores a quo deixaram de analisar a questão de


acordo com a legislação vigente ao reformar a sentença de origem, indeferindo o pleito da
Recorrente, sob a premissa de que os serviços prestados pela Recorrente não se enquadram no
conceito de serviços de natureza hospitalar, afastando o direito desta às benesses fiscais
implementadas pela Lei 9.249/95, modificada pela Lei 11.727/08.

6. Nesse ínterim, o que não se pode deixar de considerar é que houve o


devido enfrentamento da matéria pelo Tribunal a quo, e que a Recorrente vem buscando
demonstrar a negativa de vigência aos mencionados artigos e ao entendimento consolidado do
STJ, e do próprio TRF4.

7. Logo, a matéria encontra-se devidamente prequestionada, pois as


fases/decisões supracitadas concretizam amplo debate/enfrentamento da matéria no
processo.

1
8. Desta forma, superado o enunciado da Súmula 211 do STJ e
considerando que a decisão do Tribunal a quo, afronta diretamente os artigos 10, 1.022,
incisos I e II, do CPC, e artigos 15, §1º, III, “a” e artigo 20, ambos da Lei 9.249/95, tem-se
por vencido o requisito do prequestionamento.

1
Súmula 211, STJ: Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos
declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.
9. Logo, o presente Recurso Especial se mostra cabível com fulcro no artigo
105, inciso III, alínea ‘a’ e “c”, da Constituição Federal2, a fim de que sejam analisados os
pontos adiante esposados.

10. Além do mais, oportuno salientar que a discussão ventilada é tão


somente jurídica, dispensando o revolvimento do contexto fático-probatório, porquanto
as questões fáticas restaram detalhadamente expostas no acórdão impugnado, sendo
desnecessário trazer, em sede de Recurso Especial, qualquer outro tipo de substrato probatório
acostado aos autos.

11. O que se pretende – na verdade - com o presente recurso é tão


somente a revaloração das premissas fáticas expostas no acórdão objurgado, e não
reanalise de provas, em total observância ao disposto na Súmula 7, do STJ e entendimento
jurisprudencial consolidado:

[...]
3. Não se aplica o óbice da Súmula 7 do STJ quando a análise recursal
reclama a revaloração jurídica dos fatos já delimitados no acórdão.
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1628125/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/12/2018, DJe 05/02/2019). Grifou-se.

12. Assim, objetiva-se mostrar com este Recurso Especial, com base nas
questões aduzidas no aresto, que resta indubitável a negativa de vigência às normas
prevista nos artigos 10, 1.022, I e II do CPC e aos artigos 15, §1º, III, “a” e 20 da Lei
9.249/95 e a ocorrência de julgamento contrário ao entendimento consolidado do STJ.

13. Portanto, restam preenchidos todos os pressupostos de admissibilidade


recursal exigidos pela legislação vigente, sendo medida adequada o conhecimento do presente
recurso pela flagrante negativa de vigência de Lei Federal e afronta ao entendimento
consolidado desta Corte Cidadã.

2
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em
única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal
e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; c) der a lei
federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
III. DO DESLINDE PROCESSUAL

14. Com a finalidade de tornar o presente recurso sucinto e objetivo, abaixo


se transcreve o relatório adotado no acórdão guerreado:

NEOMED SERVICOS DE NEONATOLOGIA LTDA ajuizou ação pelo


procedimento comum, com pedido de liminar, objetivando "o direito da
Requerente em tributar a receita oriunda de todas as prestações de serviços
médicos, nestes incluídos procedimentos, cirurgias, transplantes, exames e
tratamentos realizados pela Requerente na área de medicina, em específico
em sua especialidade, a neonatologia, com exceção das meras consultas e
serviços administrativos, as quais possuem notas fiscais próprias e
recolhimento tributário específico, aplicando o percentual de 8% (oito por
cento) para o IRPJ e 12% (doze por cento) para a CSLL, coeficientes para
apuração da base de cálculo no Lucro Presumido, conforme previsto pelos
artigos 15, §1º, III, “a” e 20 da Lei 9.249/95, com as alterações da Lei
11.727/08 e STJ nos RESP 951.251/PR e 1116399/BA, considerando seus
serviços como hospitalares; 4.2 a declaração do direito à restituição dos
tributos pagos a maior pela Requerente, com o coeficiente de 32% (trinta e
dois por cento) para o IRPJ e CSLL , no curso deste processo , a partir de
sua constituição, respeitando o limite de 05 (cinco anos)." (evento 1,
INIC1)

Atribuído à causa o valor de R$ 103.099,83.

A sentença tem o seguinte dispositivo (evento 18, SENT1):

Pelo exposto, confirmo a antecipação de tutela e julgo procedente o


pedido, extinguindo o feito, com resolução do mérito, com base no artigo
487, inciso I, do CPC, para:

a) declarar o direito de a Autora apurar e recolher o IRPJ e a CSLL pelas


alíquotas de 8% e 12%, respectivamente, para todas as prestações de
serviços médicos, nestes incluídos procedimentos, exames, cirurgias e
tratamentos realizados pela demandante na área de medicina, incluindo
anestesiologia, com exceção das meras consultas (as quais devem ter notas
fiscais próprias e recolhimento tributário específico); e

b) condenar a União à restituição, por compensação ou pagamento via


RPV/Precatório, a critério do contribuinte, dos tributos recolhidos a maior
desde a data de sua constituição, respeitada a prescrição
quinquenal, acrescidos da taxa SELIC, desde a data do pagamento até sua
efetiva restituição/compensação.

Custas reembolsáveis.

Honorários 10% do valor do proveito econômico.


Sentença não sujeita à remessa necessária (CPC, artigo 496, § 3º, I).

Apela a União (evento 27, APELAÇÃO1). Alega, em síntese, que a


atividade prestada pela autora "é a de assistência médica na especialidade
dos médicos que compõem o quadro societário da requerente. Isso não é
atividade hospitalar, apesar de ser prestada dentro do hospital, da mesma
forma que também não constituem atividade hospitalar o serviço dos
enfermeiros ou vigilantes terceirizados pelo hospital.(...) Os serviços
médicos prestados pela requerente, que não se confundem com a atividade
hospitalar em si, são contratados pelo hospital pois esse precisa oferecer tal
atividade dentro do conjunto de serviços que compõem a atividade
hospitalar como um todo."

Com as contrarrazões, vieram os autos para julgamento.

É o relatório.

15. O recurso manejado pela Recorrida foi julgado pela Primeira Turma,
que reformou a sentença de primeiro grau, indeferindo os pedidos da Recorrente.

16. Considerando a existência de omissão no acórdão, a Recorrente opôs


Embargos de Declaração, que não foram acolhidos.

17. Isto posto, conforme se constatará adiante, o acórdão recorrido negou


vigência à legislação federal e contrariou entendimento consolidado do STJ, merecendo a
devida reforma.

18. Feitas tais considerações pertinentes, no que tange à síntese processual


da celeuma, parte-se à demonstração dos preceitos federais flagrantemente violados.

IV. DO ACÓRDÃO RECORRIDO

19. Trata-se de Recurso Especial interposto contra r. acórdão da Segunda


Turma Recursal do Tribunal Regional da 4ª Região. O acórdão restou assim ementado:

TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO COMUM. SERVIÇOS


HOSPITALARES. IRPJ E CSLL. NATUREZA DO SERVIÇO
PRESTADO. CRITÉRIO OBJETIVO. LEI Nº 11.727/2008.

1. A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO FISCAL SE DÁ DE FORMA


OBJETIVA, COM FOCO NOS SERVIÇOS PRESTADOS, E NÃO NA
PESSOA DO CONTRIBUINTE QUE EXECUTA A PRESTAÇÃO DOS
CHAMADOS SERVIÇOS HOSPITALARES, SOB PENA DE SE
DESFIGURAR A PRÓPRIA NATUREZA DA NORMA LEGAL.

2. DEVE DISTINGUIR AS SITUAÇÕES DE NATUREZA MENOS


COMPLEXAS, RESULTANDO EM CUSTOS MENORES; E OS MAIS
ELABORADOS, EM QUE O CONTRIBUINTE NECESSITA ARCAR
COM UMA DIFERENCIADA ONEROSIDADE PARA A
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS.

3. A TRIBUTAÇÃO FAVORECIDA SOBRE RECEITAS DE


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES SE JUSTIFICA PELO
CUSTO DIFERENCIADO DE TAIS ATIVIDADES, A NECESSIDADE
DE ALTO INVESTIMENTO TECNOLÓGICO E DE PESSOAL, NÃO
SE EXIGINDO, NECESSARIAMENTE, A INTERNAÇÃO DOS
PACIENTE.

20. Referido acórdão – como já enfatizado - negou vigência à legislação


federal, motivo pelo qual o caso merece ser analisado, dando-se provimento total ao presente
recurso.

V. DOS FUNDAMENTOS RECURSAIS

ARTIGO 105, III, “a”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS


15, §1º, III, “a” e 20 da LEI 15.249/95, ARTIGOS 10 E 1.022, I e II DO CPC.

21. Verifica-se que o Acórdão combatido expressa a necessidade de


comprovação pelo Contribuinte de que presta serviços médico-hospitalares de natureza
complexa, que demandam de investimento para sua operacionalização, e pelo fato de a
Recorrente prestar seus serviços em estabelecimento de terceiros, não se encaixando no rol de
beneficiários da lei que institui a redução da base de cálculo do IRPJ e CSLL.

22. Ocorre que a legislação instituidora do benefício fiscal pleiteado pela


Recorrente não traz qualquer condicionante desta natureza, definindo apenas dois requisitos a
serem cumpridos pelo Contribuinte: (i) que o preste serviços hospitalares através de sociedade
empresária e (ii) atendimento as normas da ANVISA. A legislação é taxativa neste sentido:

Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada


mediante a aplicação do percentual de 8% (oito por cento) sobre a receita
bruta auferida mensalmente, observado o disposto no art. 12 do Decreto-Lei
no 1.598, de 26 de dezembro de 1977, deduzida das devoluções, vendas
canceladas e dos descontos incondicionais concedidos, sem prejuízo do
disposto nos arts. 30, 32, 34 e 35 da Lei no 8.981, de 20 de janeiro de 1995

§ 1º Nas seguintes atividades, o percentual de que trata este artigo será de:

III - trinta e dois por cento, para as atividades de:

a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares e de


auxílio diagnóstico e terapia, patologia clínica, imagenologia, anatomia
patológica e citopatologia, medicina nuclear e análises e patologias clínicas,
desde que a prestadora destes serviços seja organizada sob a forma de
sociedade empresária e atenda às normas da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária – Anvisa;
-----
Art. 20. A base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
devida pelas pessoas jurídicas que efetuarem o pagamento mensal ou
trimestral a que se referem os arts. 2º, 25 e 27 da Lei no 9.430, de 27 de
dezembro de 1996, corresponderá a 12% (doze por cento) sobre a receita
bruta definida pelo art. 12 do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de
1977, auferida no período, deduzida das devoluções, vendas canceladas e
dos descontos incondicionais concedidos, exceto para as pessoas jurídicas
que exerçam as atividades a que se refere o inciso III do § 1o do art. 15, cujo
percentual corresponderá a 32% (trinta e dois por cento).

23. Nobres Ministros, primeiramente, insta reforçar que a legislação não traz
em sua redação, qualquer imposição de comprovação pelo Contribuinte da realização de
investimentos ou gastos operacionais com mão de obra, estruturas, etc. A legislação é
extremamente direta em determinar que TODO aquele que prestar serviços hospitalares,
organizadamente na forma de sociedade empresária e com atendimento às normas da
ANVISA, possui o direito à redução das alíquotas de IRPJ e CSLL.

24. E neste ponto, ao determinar que a Recorrente não comprovou gastos


com investimentos/pessoal/infraestrutura, e por este motivo esta não teria direito ao benefício,
incorre à decisão em flagrante afronta ao artigo 10 do CPC, uma vez que jamais fora
oportunizado à Recorrente proceder com tais comprovações [= comprovações estas
inexistentes na legislação]:

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.
25. Também é evidente que a decisão guerreada, ao determinar uma
condicionante para a concessão do benefício, restou por omissa em relação às disposições dos
artigos 15, §1º, III, “a” e artigo 20 da Lei 9.249/95. Abaixo, destaca-se trecho do Acórdão,
que evidencia a omissão:

Revendo posicionamento anterior sobre a matéria em debate, compartilho do


entendimento de que se deve distinguir as situações de natureza menos
complexas, resultando em custos menores; e as mais elaboradas, em
que o contribuinte necessita arcar com uma diferenciada onerosidade
para a prestação dos serviços.

26. Ao não considerar a letra da lei quando do julgamento do caso e eleger


uma condicionante inexistente, a Primeira Turma do TRF, incorreu em flagrante violação ao
artigo 1.022, II do CPC.

27. Além da omissão e violações à leis federais acima apontadas, impende


demostrar ainda a existência de contradição na decisão, destacando o seguinte trecho do
Acórdão, que deixa clara a sua ocorrência:

O conflito gira em torno de se determinar a abrangência da expressão


"serviços hospitalares".

O Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do REsp nº 1.116.399/BA,


sedimentou o entendimento quanto ao conceito de "serviços hospitalares" e
a extensão do benefício, firmando a seguinte tese:

Tema 217: Para fins do pagamento dos tributos com as alíquotas reduzidas,
a expressão serviços hospitalares, constante do artigo 15, § 1º,inciso III, da
Lei 9.249/95, deve ser interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a
perspectiva da atividade realizada pelo contribuinte), devendo ser
considerados serviços hospitalares aqueles que se vinculam às atividades
desenvolvidas pelos hospitais, voltados diretamente à promoção da saúde,
de sorte que, em regra, mas não necessariamente, são prestados no interior
do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples consultas médicas,
atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito hospitalar, mas
nos consultórios médicos. Destaquei

Assim, a concessão do benefício fiscal se dá de forma objetiva, com foco


nos serviços prestados, e não na pessoa do contribuinte que executa a
prestação dos chamados serviços hospitalares, sob pena de se desfigurar
a própria natureza da norma legal.

28. A contradição da decisão se revela ainda em dois pontos.


29. O primeiro ponto de contradição é bastante claro, considerando que o
julgador inicia sua fundamentação expressando que a concessão do benefício fiscal se dá de
forma objetiva, explicando ainda que o foco do Fisco deve se dar sobre os serviços prestados,
e não pela pessoa jurídica do contribuinte, entendendo-se com esta afirmativa, que o
contribuinte deve comprovar a prestação do serviço médico, conforme a legislação determina,
sob pena de desfiguração da norma legal. Neste aspecto, a Recorrente ratifica o entendimento
da Primeira Turma do Tribunal Regional da 4ª Região, pois a premissa exarada pelo julgador
a quo apenas ratifica aquilo que a Lei 9.249/95 define.

30. Na sequência, o julgador traz a existência de uma condicionante à


concessão do benefício regulado pela Lei 9.249/95, dizendo que este deve comprovar o custo
das atividades desenvolvidas, sob o pressuposto de diferenciação entre naturezas simples e
complexas de atividades desenvolvidas pelos contribuintes.

31. É justamente neste ponto que reside a contradição e a violação ao


artigo 1.022, II do CPC, já que a legislação não traz QUALQUER menção à necessidade de
tais comprovações, estas que sequer foram requeridas pelo juízo!!! Vejam Nobres Ministros,
que a decisão proferida é totalmente contrária à jurisprudência do próprio TRF4:

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4a REGIÃO APELAÇÃO CÍVEL


No 5014816-27.2018.4.04.7208/SC. RELATOR: DESEMBARGADOR
FEDERAL RÔMULO PIZZOLATTI APELANTE: UNIÃO - FAZENDA
NACIONAL (RÉU). APELADO: MEDIC SERVICE SERVICOS
MEDICOS LTDA (AUTOR) ADVOGADO: LEONARDO MARIOT (OAB
SC032205)

Nesse ponto, cabe destacar que a orientação do Superior Tribunal de


Justiça sobre a matéria é de que o que deve ser analisado é a natureza
da atividade desempenhada, e não a estrutura ou comprovação de
custos diferenciados na prestação dos s serviços, que justificassem a
obtenção do benefício fiscal.

Ademais, ao contrário do que sustenta a União, a realização das atividades


dentro do estabelecimento de terceiros contratantes dos seus serviços, a
exemplo do Hospital Infantil Pequeno Anjo, não retira a natureza
hospitalar dos serviços realizados, valendo observar que a redução da
alíquota pelo legislador buscou desonerar as sociedades empresárias que
realizem serviços de caráter hospitalar, em razão da essencialidade e
relevância para toda a sociedade. Também o Superior Tribunal de Justiça,
ao decidir a questão em sede de recurso repetitivo, não fez nenhuma
distinção, reconhecendo o direito em relação a todo e qualquer serviço de
natureza hospitalar, sem vinculá-lo com a aquisição/manutenção de
equipamentos pela própria prestadora dos serviços. O Superior Tribunal de
Justiça e esta Corte Regional têm entendido que as sociedades empresárias
que prestam serviços médicos ambulatoriais ou de pronto-socorro, urgências
e emergências médicas (como a empresa demandante) desempenham
atividade diretamente ligada à promoção da saúde, se inserindo no conceito
de "serviços hospitalares", como se vê do julgados assim sintetizados.

32. O julgado acima é determinante em definir que para gozar do benefício,


o Contribuinte não necessita realizar os serviços em estabelecimento próprio, podendo
realizar em estabelecimento de terceiros, e que tanto a lei, quanto o STJ entendem que a
concessão do benefício não está atrelada a qualquer condicionante com a aquisição ou
manutenção de equipamentos pela prestadora do serviços, até porque, o benefício fora criado
com o intuito de desonerar as empresas que prestam serviço essencial à sociedade. Fica
NÍTIDA a necessidade de reforma da decisão combatida.

33. O segundo ponto de contradição se mostra quando o TRF4


fundamenta que a Recorrente não faz jus ao benefício em razão de prestar seus serviços e
estabelecimento de terceiros, o que não deve prosperar. Explica-se.

34. O Tema 217 do STJ, utilizado pela Primeira Câmara do TR4 para
fundamentar a decisão, é claro e objetivo em definir a desnecessidade de prestação dos
serviços em estabelecimento próprio, inclusive, dispensando a obrigatoriedade de que o
serviço seja prestado dentro de uma unidade hospitalar, bastando o serviço enquadrar-se na
categoria de “serviços hospitalares”, ou seja, serviços que promovam a saúde, com a exceção
de consultas médicas:

Tema 217

Tese Firmada: Para fins do pagamento dos tributos com as alíquotas


reduzidas, a expressão 'serviços hospitalares', constante do artigo 15, § 1º,
inciso III, da Lei 9.249/95, deve ser interpretada de forma objetiva (ou seja,
sob a perspectiva da atividade realizada pelo contribuinte), devendo ser
considerados serviços hospitalares 'aqueles que se vinculam às atividades
desenvolvidas pelos hospitais, voltados diretamente à promoção da saúde',
de sorte que, 'em regra, mas não necessariamente, são prestados no interior
do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples consultas médicas,
atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito hospitalar, mas
nos consultórios médicos'.
35. Neste sentido, ratificando a adoção do critério objetivo para a concessão
da benesse, sedimentado na Súmula 217 e pelo advento da edição da Lei 11.727/2008,
modificadora da Lei 9.249/95, que pacificou a matéria consolidando os artigos 15 e 20 da
LIRPJ, destaca-se o entendimento exarado por esta Corte Cidadã, quando do julgamento do
REsp 1.116.399/BA:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO


ESPECIAL. VIOLAÇAO AOS ARTIGOS 535 e 468 DO CPC. VÍCIOS
NAO CONFIGURADOS. LEI 9.249/95. IRPJ E CSLL COM BASE DE
CÁLCULO REDUZIDA. DEFINIÇAO DA EXPRESSAO "SERVIÇOS
HOSPITALARES". INTERPRETAÇAO OBJETIVA.
DESNECESSIDADE DE ESTRUTURA DISPONIBILIZADA PARA
INTERNAÇAO. ENTENDIMENTO RECENTE DA PRIMEIRA SEÇAO.
RECURSO SUBMETIDO AO REGIME PREVISTO NO ARTIGO 543-C
DO CPC.

1 . Controvérsia envolvendo a forma de interpretação da expressão "serviços


hospitalares" prevista na Lei 9.429/95, para fins de obtenção da redução de
alíquota do IRPJ e da CSLL. Discute-se a possibilidade de, a despeito da
generalidade da expressão contida na lei, poder-se restringir o benefício
fiscal, incluindo no conceito de "serviços hospitalares" apenas aqueles
estabelecimentos destinados ao atendimento global ao paciente, mediante
internação e assistência médica integral.

2. (...) para fins do pagamento dos tributos com as alíquotas reduzidas, a


expressão "serviços hospitalares", constante do artigo 15, 1º, inciso III, da
Lei 9.249/95, deve ser interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a
perspectiva da atividade realizada pelo contribuinte), porquanto a lei, ao
conceder o benefício fiscal, não considerou a característica ou a estrutura do
contribuinte em si (critério subjetivo), mas a natureza do próprio serviço
prestado (assistência à saúde).
(...)
3. Assim, devem ser considerados serviços hospitalares "aqueles que se
vinculam às atividades desenvolvidas pelos hospitais, voltados diretamente à
promoção da saúde", de sorte que, "em regra, mas não necessariamente, são
prestados no interior do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples
consultas médicas, atividade que não se identifica com as prestadas no
âmbito hospitalar, mas nos consultórios médicos".
(...)
para fins do pagamento dos tributos com as alíquotas reduzidas, a
expressão "serviços hospitalares", constante do artigo 15, 1º, inciso III,
da Lei 9.249/95, deve ser interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a
perspectiva da atividade realizada pelo contribuinte), porquanto a lei, ao
conceder o benefício fiscal, não considerou a característica ou a estrutura do
contribuinte em si (critério subjetivo), mas a natureza do próprio serviço
prestado (assistência à saúde).
Assim, devem ser considerados serviços hospitalares "aqueles que se
vinculam às atividades desenvolvidas pelos hospitais, voltados diretamente à
promoção da saúde", de sorte que,"em regra, mas não necessariamente, são
prestados no interior do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples
consultas médicas, atividade que não se identifica com as prestadas no
âmbito hospitalar, mas nos consultórios médicos".

36. Diferentemente do entendimento recorrido, esta Corte consolidou o


entendimento da aplicação do critério objetivo, que considera a natureza do serviço prestado,
e não a pessoa do prestador, como amplamente demonstrado até o momento.

37. Enfariza-se, que a decisão combatida vai na contramão do que a própria


Primeira Câmara [= órgão julgador da decisão recorrida] já decidiu quando do julgamento de
caso idêntico. Ao julgar o Recurso de Apelação 5008320-79.2018.4.04.7208/SC, o Juiz
Federal Relator, Alexandre Gonçalves defendeu que a realização dos serviços em
estabelecimento de terceiros não retira o direito do Contribuinte ao benefício:

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4a REGIÃO APELAÇÃO CÍVEL


No 5008320-79.2018.4.04.7208/SC PROCESSO ORIGINÁRIO: No
5008320-79.2018.4.04.7208/SC RELATOR: JUIZ FEDERAL
ALEXANDRE GONÇALVES LIPPEL APELANTE: UNIÃO - FAZENDA
NACIONAL (RÉU) APELADO: AMP SERVICOS DE SAUDE LTDA
(AUTOR) ADVOGADO: LEONARDO MARIOT (OAB SC032205)
(...)
Acresço que, ao contrário do que sustentou a União, a realização das
atividades dentro do estabelecimento de terceiros não retira a natureza
hospitalar dos serviços realizados, valendo observar que a redução da
alíquota pelo legislador buscou desonerar as sociedades empresárias que
realizem serviços de caráter hospitalar, em razão da essencialidade e
relevância para toda a sociedade.

O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.116.399 (citado


acima), ao decidir a questão em sede de recurso repetitivo, não fez nenhuma
distinção, reconhecendo o direito em relação a todo e qualquer serviço de
natureza hospitalar, sem vinculá-lo com a aquisição/manutenção de
equipamentos pela própria prestadora dos serviços. Portanto, não havendo
razões para alterar o entendimento do juiz de primeiro grau, deve ser
mantida a sentença que declarou o direito de a impetrante, apurar e recolher
o IRPJ e a CSLL sobre o lucro presumido de 8% e 12%, respectivamente,
sobre as receitas decorrentes de atividades hospitalares. Anote-se que tais
receitas não abrangem aquelas oriundas de consultas médicas e de atividades
de cunho administrativo. Vistos e relatados estes autos em que são partes as
acima indicadas, a Egrégia 1a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a
Região decidiu, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos
do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado. Porto Alegre, 19 de agosto de 2020.

38. Do voto, destaca-se o seguinte trecho, corroborando com a


desnecessidade de realização dos serviços em estabelecimento próprio:
Conforme se depreende da legislação em vigor, somente as sociedades
organizadas sob a forma de sociedade empresária é que estão abrangidas
pela base minorada. Acrescente-se, ainda, que, nos termos dos artigos 982 e
967, é obrigatória a inscrição da sociedade empresária no Registro Público
de Empresas Mercantis da respectiva sede, para que se possa considerar a
sociedade como empresária.

Quanto ao segundo requisito, este Tribunal tem entendido que basta que a
empresa comprove estar em pleno funcionamento, a menos que haja nos
autos qualquer indicação de que não atende às normas da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária.

Nessa toada, cabe atentar, a lei revela-se bastante genérica e não estabelece,
especificamente, as quais normas da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária o contribuinte deve obedecer.

Cumpre ressaltar que a Resolução - RDC n° 50, de 21/02/2002, que dispõe


sobre o Regulamento Técnico para Planejamento, Programação, Elaboração
e Avaliação de Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde,
não tem aplicação no caso em tela, vez que tais normas gerais de
funcionamento de estabelecimentos de saúde não podem restringir a norma
legal.

39. É nítido que é desproporcional e injusto que a Recorrente seja impedida


de usufruir da norma criada pelo artigo 15, §1º, III, “a” e 20 da Lei 9.249/95 [= redução das
alíquotas de IRPJ e CSLL], sob a premissa de existência de condicionante e necessidade de
prestação dos serviços em estabelecimento próprio, quando a própria legislação não traz
qualquer das duas condições “impostas” pelo julgador, indo contra a jurisprudência exarada
pela própria Primeira Turma Recursal, pelo TRF4 e a jurisprudência e entendimento
consolidado do STJ, e são por estas razões, acima minuciosamente delineadas, que se pleiteia
o provimento do presente recurso, para reformar a decisão combatida, para negar provimento
ao recurso da Recorrida, mantendo-se a decisão proferida no primeiro grau.

ARTIGO 105, III, “c”. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL,

40. Aduz a norma que se extrai do art. 105, III, alínea ‘c’, da Constituição
Federal, ser cabível a interposição de Recurso Especial quando das causas decidida em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal for dada interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
Tribunal.
41. In casu, além de contrariar a lei federal, o acórdão rebatido deu à
legislação interpretação completamente contrária daquela que vem sendo acatada pela
jurisprudência nacional majoritária, no tocante à temática relativa aos critérios para a
concessão do benefício fiscal previsto nos artigos 15, §1º, III, “a”, e 20 da Lei 9.249/95.

42. Conforme se passará a demonstrar, trata-se de dissídio jurisprudencial


que merece ser apreciado por esse Tribunal. Afinal, a decisão a quo deixou de considerar a
letra da legislação instituidora do benefício [= Lei 9.249/95] e o entendimento consolidado
desta Corte, uma vez que o STJ, ao julgar o Recurso Especial 1.116.399/BA, decidiu pela
adoção do critério objetivo para a concessão do benefício de redução das alíquotas do IRPJ e
CSLL aos prestadores de serviços hospitalares, definindo que a natureza do serviço prestado
deve ser considerada para a concessão da benesse, desde que o contribuinte preste os serviços
médico-hospitalares através de sociedade organizada e cumpra com as normas da ANVISA.

43. Pois bem, ao confronto analítico.

44. Inicialmente, cumpre destacar a clara similitude fática entre o julgado


recorrido e o seu paradigma, basta a leitura dos seguintes trechos das decisões em cotejo:

ACÓRDÃO RECORRIDO ACÓRDÃO PARADIGMA


APELAÇÃO CÍVEL N. 5001241- RECURSO ESPECIAL Nº 1.116.399/BA
78.2020.4.04.7208/SC. TEMA REPETITIVO
RELATORA: DESEMBARGADORA RELATOR: MINISTRO BENEDITO
FEDERAL LUCIANE AMARAL CORRÊA GONÇALVES
MÜNCH
EMENTA MÉRITOS ANÁLOGOS EMENTA MÉRITOS ANÁLOGOS
TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO COMUM. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E
SERVIÇOS HOSPITALARES. IRPJ E CSLL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
NATUREZA DO SERVIÇO PRESTADO. VIOLAÇAO AOS ARTIGOS 535 e 468 DO
CRITÉRIO OBJETIVO. LEI Nº 11.727/2008.
CPC. VÍCIOS NAO CONFIGURADOS. LEI
9.249/95. IRPJ E CSLL COM BASE DE
1. A concessão do benefício fiscal se dá de forma
objetiva, com foco nos serviços prestados, e não CÁLCULO REDUZIDA. DEFINIÇAO DA
na pessoa do contribuinte que executa a prestação EXPRESSAO "SERVIÇOS
dos chamados serviços hospitalares, sob pena de HOSPITALARES". INTERPRETAÇAO
se desfigurar a própria natureza da norma legal.
OBJETIVA. DESNECESSIDADE DE
ESTRUTURA DISPONIBILIZADA PARA
2. Deve distinguir as situações de natureza
INTERNAÇAO. ENTENDIMENTO
menos complexas, resultando em custos menores;
RECENTE DA PRIMEIRA SEÇAO.
e os mais elaborados, em que o contribuinte
necessita arcar com uma diferenciada
RECURSO SUBMETIDO AO REGIME

onerosidade para a prestação dos serviços. PREVISTO NO ARTIGO 543-C DO CPC.

3. A tributação favorecida sobre receitas de 1 . Controvérsia envolvendo a forma de


prestação de serviços hospitalares se justifica interpretação da expressão "serviços
pelo custo diferenciado de tais atividades, a hospitalares" prevista na Lei 9.429/95, para
necessidade de alto investimento tecnológico e de fins de obtenção da redução de alíquota do
pessoal, não se exigindo, necessariamente, a
IRPJ e da CSLL. Discute-se a possibilidade
internação dos paciente.
de, a despeito da generalidade da expressão
contida na lei, poder-se restringir o benefício
fiscal, incluindo no conceito de "serviços
hospitalares" apenas aqueles
estabelecimentos destinados ao atendimento
global ao paciente, mediante internação e
assistência médica integral.

2. (...) para fins do pagamento dos tributos


com as alíquotas reduzidas, a expressão
"serviços hospitalares", constante do artigo
15, 1º, inciso III, da Lei 9.249/95, deve ser
interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a
perspectiva da atividade realizada pelo
contribuinte), porquanto a lei, ao conceder o
benefício fiscal, não considerou a
característica ou a estrutura do contribuinte
em si (critério subjetivo), mas a natureza do
próprio serviço prestado (assistência à
saúde).

(...) 3. Assim, devem ser considerados


serviços hospitalares "aqueles que se
vinculam às atividades desenvolvidas pelos
hospitais, voltados diretamente à promoção
da saúde", de sorte que, "em regra, mas não
necessariamente, são prestados no interior do
estabelecimento hospitalar, excluindo-se as
simples consultas médicas, atividade que não
se identifica com as prestadas no âmbito hos

45. A divergência jurisprudencial pode ser percebida nas diametralmente


opostas interpretações ao mesmo contexto fático:

ACÓRDÃO RECORRIDO ACÓRDÃO PARADIGMA


NEOMED SERVICOS DE NEONATOLOGIA Argumenta (A União) que, nesse sentido, são
LTDA ajuizou ação pelo procedimento comum, serviços de natureza hospitalar apenas
com pedido de liminar, objetivando "o direito da aqueles prestados por entidades que tenham
Requerente em tributar a receita oriunda de todas
estrutura para internação e tratamento de
as prestações de serviços médicos, nestes
doentes, ou seja, as atividades desenvolvidas
incluídos procedimentos, cirurgias, transplantes,
por hospitais.
exames e tratamentos realizados pela Requerente
na área de medicina, em específico em sua
especialidade, a neonatologia, com exceção das
Para tanto, acrescenta que os custos dessas

meras consultas e serviços administrativos, as atividades são diferentes e bem mais


quais possuem notas fiscais próprias e elevados que aqueles decorrentes da
recolhimento tributário específico, aplicando o prestação de serviços em clínicas e
percentual de 8% (oito por cento) para o IRPJ e laboratórios em geral, mormente porque
12% (doze por cento) para a CSLL, coeficientes nesses estabelecimentos não há "mantença de
para apuração da base de cálculo no Lucro
Presumido, conforme previsto pelos artigos 15, internação perene de pacientes", de sorte que
§1º, III, “a” e 20 da Lei 9.249/95, com as a interpretação extensiva da exceção prevista
alterações da Lei 11.727/08 e STJ nos RESP na norma vai de encontro à teleologia da
951.251/PR e 1116399/BA, considerando seus
norma, que é incentivar e fomentar as
serviços como hospitalares; 4.2 a declaração do
atividades desenvolvidas pelos hospitais.
direito à restituição dos tributos pagos a maior
pela Requerente, com o coeficiente de 32%
(trinta e dois por cento) para o IRPJ e CSLL , no
curso deste processo , a partir de sua constituição,
respeitando o limite de 05 (cinco anos)." (evento
1, INIC1)

Atribuído à causa o valor de R$ 103.099,83.

A sentença tem o seguinte dispositivo (evento


18, SENT1):

Pelo exposto, confirmo a antecipação de tutela e


julgo procedente o pedido, extinguindo o feito,
com resolução do mérito, com base no artigo
487, inciso I, do CPC, para:

a) declarar o direito de a Autora apurar e


recolher o IRPJ e a CSLL pelas alíquotas de 8% e
12%, respectivamente, para todas as prestações
de serviços médicos, nestes incluídos
procedimentos, exames, cirurgias e tratamentos
realizados pela demandante na área de medicina,
incluindo anestesiologia, com exceção das meras
consultas (as quais devem ter notas fiscais
próprias e recolhimento tributário específico); e

b) condenar a União à restituição, por


compensação ou pagamento via RPV/Precatório,
a critério do contribuinte, dos tributos recolhidos
a maior desde a data de sua constituição,
respeitada a prescrição quinquenal, acrescidos da
taxa SELIC, desde a data do pagamento até sua
efetiva restituição/compensação.

Custas reembolsáveis.

Honorários 10% do valor do proveito econômico.

Sentença não sujeita à remessa necessária (CPC,


artigo 496, § 3º, I).

Apela a União (evento 27, APELAÇÃO1).


Alega, em síntese, que a atividade prestada pela
autora "é a de assistência médica na
especialidade dos médicos que compõem o
quadro societário da requerente. Isso não é
atividade hospitalar, apesar de ser prestada dentro
do hospital, da mesma forma que também não
constituem atividade hospitalar o serviço dos
enfermeiros ou vigilantes terceirizados pelo
hospital.(...) Os serviços médicos prestados pela
requerente, que não se confundem com a
atividade hospitalar em si, são contratados pelo
hospital pois esse precisa oferecer tal atividade
dentro do conjunto de serviços que compõem a
atividade hospitalar como um todo."

46. Ambos os casos tratam da interpretação da Lei 9.249/95,


complementada pela Lei 11.727/08, ocorre que o STJ, em seu julgamento, ao contrário do
entendido pela Primeira Turma Recursal ao julgar o caso em tela, entendeu que para a
concessão do benefício de redução das alíquotas do IRPJ e da CSLL, deve-se observar o
critério objetivo, ou seja, o Fisco deve, obrigatoriamente, ater-se quando do pedido de uso do
benefício, ao serviço prestado, e não à pessoa do prestador, sendo desnecessária a
comprovação de prestação do serviço em estabelecimento próprio, ou qualquer outro requisito
diverso daquele constante na legislação: prestação de serviço médico, por sociedade
empresária, que atenda às normas da ANVISA – requisitos cumpridos pela Recorrente.

47. A legislação, assim como o STJ, é certeira e clara em pacificar a


inexistência de outros critérios extralegais, como a exemplo uma “estrutura” “custos
elevados”, “investimento em maquinário”, “pessoal”, “tecnológico”, “internação”, bem como
a exclusão indevida de empresas que “prestem serviços em locais de terceiros”.

48. Abaixo, é possível notar a divergência dos julgados, que demonstra a


necessidade de reforma da decisão por esta Corte:

ACÓRDÃO RECORRIDO ACÓRDÃO PARADIGMA


O Superior Tribunal de Justiça, em (...) para fins do pagamento dos tributos com
julgamento do REsp nº 1.116.399/BA, as alíquotas reduzidas, a expressão "serviços
sedimentou o entendimento quanto ao hospitalares", constante do artigo 15, 1º,
conceito de "serviços hospitalares" e a inciso III, da Lei 9.249/95, deve ser
extensão do benefício, firmando a seguinte interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a
tese: perspectiva da atividade realizada pelo
contribuinte), porquanto a lei, ao conceder o
Tema 217: Para fins do pagamento dos benefício fiscal, não considerou a
tributos com as alíquotas reduzidas, a característica ou a estrutura do contribuinte
expressão serviços hospitalares, constante em si (critério subjetivo), mas a natureza do
do artigo 15, § 1º,inciso III, da Lei 9.249/95, próprio serviço prestado (assistência à
deve ser interpretada de forma objetiva (ou saúde).
seja, sob a perspectiva da atividade
realizada pelo contribuinte), devendo ser Assim, devem ser considerados serviços
considerados serviços hospitalares aqueles hospitalares "aqueles que se vinculam às
que se vinculam às atividades desenvolvidas atividades desenvolvidas pelos hospitais,
pelos hospitais, voltados diretamente à voltados diretamente à promoção da saúde",
promoção da saúde, de sorte que, em regra, de sorte que,"em regra, mas não
mas não necessariamente, são prestados no necessariamente, são prestados no interior do
interior do estabelecimento hospitalar, estabelecimento hospitalar, excluindo-se as
excluindo-se as simples consultas médicas, simples consultas médicas, atividade que não
atividade que não se identifica com as se identifica com as prestadas no âmbito
prestadas no âmbito hospitalar, mas nos hospitalar, mas nos consultórios médicos".
consultórios médicos. Destaquei
(...)
Assim, a concessão do benefício fiscal se dá
de forma objetiva, com foco nos serviços Assim sendo, como as atividades da
prestados, e não na pessoa do contribuinte impetrante estão vinculadas à prestação de
que executa a prestação dos chamados serviços médicos laboratoriais, enquadrando-
serviços hospitalares, sob pena de se se no conceito de serviços hospitalares, uma
desfigurar a própria natureza da norma legal. vez que suas atividades estão vinculadas à
atenção e assistência à saúde humana, deve
Revendo posicionamento anterior sobre a ser reconhecida a redução das alíquotas de
matéria em debate, compartilho do CSLL e IRPJ, nos termos da Lei n. 9.249/95
entendimento de que se deve distinguir as (fl. 398). A respeito do tema, esta Corte
situações de natureza menos complexas, havia firmado entendimento no sentido de
resultando em custos menores; e as mais que apenas poderiam ser considerados como
elaboradas, em que o contribuinte necessita prestadores de serviços de natureza
arcar com uma diferenciada onerosidade para hospitalar, para fins de recolhimento do IRPJ
a prestação dos serviços. e da CSLL com alíquota reduzida, aqueles
estabelecimentos que exercessem suas
A tributação favorecida sobre receitas de atividades junto a Hospitais, ou que
prestação de serviços hospitalares se justifica possuíssem recursos e estrutura para
pelo custo diferenciado de tais atividades, a internação de pacientes. Ambas as turmas da
necessidade de alto investimento tecnológico Seção de Direito Público vinham decidindo
e de pessoal, não se exigindo, nesse sentido.
necessariamente, a internação dos pacientes.
Entretanto, em razão da ocorrência de
A partir da Lei nº 11.727/2008, passou-se a algumas decisões dissonantes e das novas
exigir, para a aplicação do percentual reflexões e argumentações que foram
reduzido, que "a prestadora destes serviços trazidas a esta Corte, a matéria foi novamente
seja organizada sob a forma de sociedade afetada à Primeira Seção que, por ocasião do
empresária e atenda às normas da Agência julgamento do RESP 951.251- PR , da
Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa". relatoria do eminente Ministro Castro Meira,
ocorrido no dia 22.4.2009, modificou a
Caso dos autos orientação até então adotada.

De acordo com o contrato, a parte autora tem Com efeito, naquela assentada, após os
como objeto social a "Atividade Médica de judiciosos votos proferidos pelo Ministro
Atendimento hospitalar, exceto pronto Relator e pelos Ministros Teori Zavascki e
socorro e unidades para atendimento a Eliana Calmon, decidiu-se, em síntese, que,
urgências, e prestação de serviços de para fins do pagamento dos tributos com as
atendimento em pronto socorro (evento 1, alíquotas reduzidas, a expressão "serviços
CONTRSOCIAL3). hospitalares", constante do artigo 15, 1º,
inciso III, da Lei 9.249/95, deve ser
As notas fiscais (evento 1, NFISCAL7) interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a
demonstram que a demandante prestou perspectiva da atividade realizada pela
serviços de neonatologia (meses de abril, contribuinte), porquanto a lei, ao conceder o
maio, junho e julho de 2019) em unidade de benefício fiscal, não considerou o
atendimento à saúde pertencente a terceiros - contribuinte em si (critério subjetivo), mas a
Instituto das Pequenas Missionárias de natureza do próprio serviço prestado
Pequena Imaculada. (assistência à saúde), que é, inclusive, alçado
à condição de direito fundamental.
Também juntou aos autos contrato de
prestação de serviços de
pediatria/neonatologia nas dependências do
IPMMI - Hospital e Maternidade Marieta
Konder Bornhausen (evento 1, CONTR8).

Sendo assim, a autora apenas presta serviços


médicos utilizando a estrutura dos
estabelecimentos hospitalares. Os custos
maiores, a toda evidência, são suportados
pelos tomadores dos serviços, e não pela
autor que apenas promove atendimento
médico.

Deste modo, não restou demonstrado que os


serviços prestados pela parte autora se
enquadram no conceito de serviços de
natureza hospitalar, afastando o direito ao
tratamento tributário diferenciado.

Resta, pois, reformada a sentença para julgar


improcedente a demanda.

49. Da análise de ambos os julgados, constata-se que o Acórdão Paradigma


coloca como excludente ao benefício somente as atividades médicas de consultas, o que
jamais fora pleiteada a inclusão pela Recorrente.

50. Mesmo com o advento da Lei 11.727/08 e com os entendimentos


pacificados por esta Corte, a Primeira Turma do TRF4 optou por realizar julgamento
totalmente contrário à lei e ao entendimento desta Corte. A 1ª Turma do TFR-4, no acordão
aqui recorrido, utilizou como fundamento para reverter a decisão a quo, o compartilhamento
de um entendimento de que seria necessário a comprovação de custos, maquinários,
investimentos tecnológicos indo de encontro com a jurisprudência do STJ, ferindo não apenas
a alínea “a”, inciso III, do artigo 105 da Constituição Federal, como, também, a sua alínea
“c”.

51. Toda a tentativa de descaracterização se baseia no fato de que a


Recorrente realiza seus serviços em locais de hospitais terceiros, sendo a estrutura desses a
utilizada e, os custos e investimentos maiores, por eles suportados.

52. Inobstante, em caráter suplementar, para que não pairem dúvidas acerca
do tema, consumando o cabimento do presente Recurso Especial, o Egrégio Superior Tribunal
de Justiça, ao julgar o Acórdão Paradigma [= REsp 1.116.399/BA], como assim esse TRF-4
fez questão de evidenciar e fundamentar em todas as decisões aqui trazidas não faz nenhuma
exclusão de atividades realizadas dentro de estabelecimentos de terceiros. Esgotando
eventuais dúvidas, impende destacar o julgamento, também proferido por esta Corte, acerca
do REsp 1.597.351 SP:

5. As atividades de exames e procedimentos cirúrgicos, conforme novel


entendimento do E. STJ, devem ser consideradas serviços hospitalares,
independentemente do local de sua prestação. A contrario sensu, as simples
consultas médicas estão excluídas do benefício fiscal. (STJ - REsp: 1597351
SP 2016/0111351-7, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES, DJ
11/06/2018).

53. Assim sendo, preenchendo todos os requisitos legais e jurisprudenciais


ao benefício concedido pela Lei 9.249/1995 (alterado pela Lei 11.727/2008), conclui-se que o
Acórdão recorrido violou os preceitos legais apontados, justificando o conhecimento e
procedência total do presente Recurso Especial reformando a decisão de segundo grau.

55. Por fim, é necessário trazer à baila tais entendimentos, para que se possa
verificar a flagrante divergência entre os julgados aqui expostos, cumprindo o acórdão
paradigma com seu importante papel na demonstração do dissídio jurisprudencial aventado,
preenchendo-se desta maneira o requisito indispensável para o conhecimento do
presente recurso, pelo qual, desde já, pugna-se pelo seu provimento.

VI. DOS REQUERIMENTOS

ISTO POSTO, em razão dos dispositivos legais violados, de acordo com o


disposto no artigo 105, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Constituição Federal, requer-se:

(a) seja o presente recurso recebido e conhecido;

(b) seja o presente recurso provido integralmente, frente à violação aos


artigos 10 e 1.022, I e II do CPC e 15, §1º, III, “a” e 20 da Lei 9.249/95 e à existência de
divergência jurisprudencial, a fim de que seja reformada a decisão proferida pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, para que seja negado provimento ao Recurso de Apelação
interposto pela União, mantendo-se a sentença de primeiro grau.
(c) outro sejam intimados os Recorridos, para que, no prazo legal, querendo,
apresentem contrarrazões;

(d) pleiteia-se pela condenação da parte Recorrida nas custas recursais.

Pede deferimento.

Itajaí/SC, 12 de dezembro de 2023.

ERN & GARCIA ADVOGADOS


OAB/SC 1.659
Juliano Gomes Garcia– OAB/SC 12.252-SC
Assinado digitalmente.

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