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1 Advento da Pandemia da Covid-19 e os seus reflexos sobre as populações mais


vulneráveis

Como explicado anteriormente, a pandemia de Covid-19 no Brasil atingiu de forma


especial as comunidades mais vulneráveis, seja em termos de grupos já mais naturalmente
suscetíveis à doença, como foi o caso dos idosos e dos imunossuprimidos, seja por questões
sociológicas anteriores ao advento de tal mácula, como é o caso da desigualdade social.

Para impedir ou ao menos retardar a disseminação do vírus, uma das medidas adotadas
e veiculadas mundialmente foi a do isolamento social, com recomendações para que todos
evitassem ao máximo deixar suas residências, tal medida foi aplicada com tal afinco que
metade da população mundial chegou a ficar em confinamento.

Por suposto que, apesar de necessária, tal medida resultou em impactos severos à vida
de todos, especialmente pela diminuição drástica na atividade econômica global, levando ao
aumento do desemprego a atingindo de forma mais severa as pessoas que já se encontravam
em situação de pobreza.

Anteriormente à pandemia, como uma alternativa de sustento, muitas famílias viviam


do mercado informal e autônomo de produtos, mantendo pequenas vendas pelas ruas dos
grandes centros urbanos brasileiros, o isolamento social impossibilitou que tal mercado
permanecesse, e não somente isso, mas colocou todas as pessoas sem remuneração
permanente em situação de fome iminente, tanto no caso das pessoas mais pobres quanto de
grupos étnicos tidos como socialmente minoritários, como é o caso dos indígenas e
quilombolas.

Em razão de sua vulnerabilidade social, acentuada pela pandemia, milhões de


brasileiros se encontravam em dependência do recebimento do auxílio emergencial oferecido
pelo Governo Federal, passando horas ou até mesmo dias em filas de bancos, aglomerados e
incapazes, por força da necessidade, de manter o isolamento social nos termos recomendados
pelo próprio governo, de sorte que, em razão de sua situação econômica, se tornavam mais
suscetíveis a contrair o vírus.

Em uma visão quase que predatória do trabalhador, autoridades do país emitiam


declarações contrária às medidas de isolamento social e reforçavam a ideia de que a classe
trabalhadora tinha de voltar ao trabalho, mesmo que para fazê-lo tivessem de colocar a si
mesmos e a seus entes queridos em risco, tal ideia causava uma dicotomia em relação ao
fornecimento de auxílio financeiro a essas pessoas, especialmente quando ideia negacionistas
ganhavam cada vez mais espaço1.

Nesse sentido, se formou um ciclo de doença e fome entre aqueles mais desprovidos
de capital. Para ilustrar tal ideia, tem-se que em São Paulo, no ano de 2020, 65,9% dos óbitos
decorrentes de Covid-19 se deu entre aqueles com renda de até R$ 3.000,00 por mês; 21,1%
entre aqueles cuja renda era de R$ 3.001,00 a R$ 6.500,00; 8% entre os que tinham renda de
R$ 6.501,00 a R$ 11.500,00 e somente 3,9% entre aqueles que tinham renda mensal de até R$
19.000,00.

Não obstantes essas informações, ao colocar o fator idade e renda juntos para
determinar se havia discrepância acentuada entre os óbitos a depender da classe social a quem
pertencia o de cujus, do recorte realizado pelos pesquisadores, entre aqueles que tinham renda
mensal de até R$ 3.000,00, na faixa etária de 71 a 80 anos, houveram 623 óbitos decorrentes
de Covid-19, já entre aqueles nessa mesma faixa etária, mas com renda mensal de R$
11.5001,00 a R$ 19.000,00 foram encontradas somente 35 mortes.

Tais dados deixam claro que a situação econômica foi fator preponderante para a
sobrevivência do indivíduo, mas no Brasil outro fator importante a ser considerado é o racial,
em um país historicamente fundado sobre um período escravocrata, a população negra ainda
enfrenta diversos desafios para verem direitos básicos respeitados, com a pandemia, a
desigualdade racial também se evidenciou, senão vejamos.

Em análise à variação da massa salarial, que corresponde à consideração do número de


empregados, da jornada média de trabalho e a remuneração média por hora trabalhada, esses
três fatores são decompostos nos elementos: efeito emprego, efeito jornada e efeito salários.

No ano de 2020 a massa salarial variou consideravelmente, tanto entre negros quanto
entre brancos, contudo se deu de forma mais acentuada entre os negros, com queda de 19%
entre brancos e 23% entre a população negra, a diferença se deu especialmente devido ao
desemprego, índice que foi duas vezes maior entre negros do que brancos.

1
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/tessituras/article/view/18903/11448
Parece natural esperar tais resultados quando se leva em consideração que , muito
embora as pessoas negras representavam cerca de 54% da população brasileira,
correspondiam a 75% da população considerada mais pobre em 2018, segundo o IBGE.

Deste modo, apesar de todos se encontrarem expostos à mesma doença, a vivência


desse período divergiu enormemente a depender do recorte considerado, especialmente
quando esse recorte aborda questões de raça e classe.

Em relação à população carcerária, como

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