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O Direito à educação e os efeitos da pandemia:


limites e possibilidades do ensino remoto
Prof. Dr. Carlos Augusto de Medeiros

Com a pandemia gerada pela Covid-19, o Brasil, depois de muitas resistências,


passou a cumprir quarentena. Com isso, crianças, jovens, adolescentes e adultos, isto é,
estudantes de ambos os níveis e todas as modalidades tiveram seus direitos suspensos.
Mesmo depois de muito tempo e com a curva de contágio da doença controlada, os
países que arriscaram a retomada das aulas – leia-se: aglomeração – pagaram alto preço
de contágio. A questão que se coloca é a seguinte: e nesse retorno às atividades por
meio do ensino remoto, o direito à educação está garantido?
Para responder a essa questão é preciso compreender o que é o direito à
educação e como a pandemia o afetou. Países com desigualdade social tão intensa,
como o Brasil, tendem a assumir vieses de genocídio ao se localizarem a maioria dos
mortos. A crise sanitária vem acompanhada da falta de saneamento básico,
precariedade de moradia e de alimentação, desmonte das políticas sociais,
notadamente, do Sistema Único de Saúde (SUS). A lista é longa.
A Emenda Constitucional nº. 95, de dezembro de 2016, criou um cenário
propício à propagação da crise. Saúde, assistência social e educação tiveram seus
investimentos congelados por 20 anos. Essa “lei de teto dos gastos” rompe com o pacto
social assegurado pela Constituição Federal de 1988, pois, “enfraquece e limita os
investimentos em política sociais, fragilizando toda a rede de proteção social”
(REINHOLZ, 2018).
Com isso, as metas do Plano Nacional de Educação (2014-2024) ficam
comprometidas, sobretudo a meta de investimento de 10% do Produto Interno Bruto
Brasileiro na educação pública, gratuita, laica, democrática e de qualidade socialmente
referenciada.
A Educação a Distância (EAD) tem sido chamada como primeira e (quase) única
possibilidade de assegurar a educação formal. Há que se considerar o acesso dos
domicílios brasileiros à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) que, conforme o
IBGE (2020), a falta de interesse; a internet cara e nenhum morador da casa saber usar
a internet foram as principais causas da não utilização da internet em,
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aproximadamente, 15 mil domicílios. Parece pouco, se comparados aos mais de 79% de


domicílios que fazem uso da internet em domicílios, contudo, a larga maioria, quase
totalidade desses lares – 99,2% – fazem acesso por celular, ao passo que, apenas, 48%
desses domicílios o fazem por meio de microcomputadores. Com isso, precisamos
indagar: Imaginem acesso e realização de atividades em plataformas digitais por meio
do celular, a qualidade estaria comprometida?
Outro fator importante para o espectro da análise é o de que o desemprego
avança no país. No segundo trimestre do corrente ano, 11 estados tiveram taxa de
desocupação aumentada e 14, mantiveram-se estáveis. Doze (12) unidades da
federação tiveram desemprego maior do que a média nacional (13%), que já é
excessivamente elevada1. Como reunir condições para o acesso remoto (ou na melhor
das hipóteses, EAD) sem condições financeiras?
Quanto à educação, sabemos da negação histórica de uma educação pública
de qualidade para a classe trabalhadora. A consolidação dos direitos à educação no
Brasil foi lenta e com bastante limitações. O primeiro avanço significativo foi com a CF
de 1934, a qual pela primeira vez na história fez previsão de recursos para a educação.
De lá até agora, a CF de 1988 e normatizações infraconstitucionais asseguram o direito.
Mas ocorre que os ataques aos seus recursos são contínuos e os resultados podem ser
medidos:

[...] apenas 54,3% das escolas têm biblioteca, 46,8% possuem sala de
informática, 65% conexão de internet e existem laboratórios de ciências
somente em 11% das escolas. A falta de saneamento nas instituições de
ensino fundamental ainda é um problema alarmante: 59% não contam com
rede de esgoto (CENSO 2018).

Para analisar o direito à educação em tempos de enfrentamento da COVID-19,


São objetivos específicos, portanto:

• Refletir sobre o direito à educação e os limites e possibilidades impostos


pela crise gerada pela Covid-19.
Aqui, é preciso considerar: o que é o direito à educação? Qual legislação o
assegura? A modalidade determina a qualidade?

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Para esse mesmo ano, na Dinamarca a taxa de desemprego é de 5,2%; na Finlândia, 7,7%; na China,
5,7% (TRANDING ECONOMICS, 2020).
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• Analisar a crise do trabalho na população brasileira, sobretudo em tempos


de pandemia;
O que os dados da economia revelam? Qual a tendência da taxa de
desocupação?
• Analisar a EAD como modalidade de ensino em confronto com o ensino
remoto;
Ensino remoto é a mesma coisa que EAD? Ensino a distância é regulado?
Que condições asseguram o ensino remoto de qualidade?
• Dentre outros.
Parece evidente supor que existem muitas que, aparentemente, não se
mostram ao tratar da questão. O presente tema do Seminário buscará refletir sobre
alguns deles.

Referências

Desemprego avança em 11 estados no 2º trimestre; Amapá e Pará têm queda. Agência


IBGE Notícias, 28 ago. 2020, disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/28700-desemprego-avanca-em-11-estados-no-2-trimestre-amapa-e-
para-tem-queda. Acesso em: 31 ago. 2020.

PNAD Contínua TIC 2018: Internet chega a 79,1% dos domicílios do país. Agência IBGE
Notícias, 29 abr. 2020, disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27515-pnad-continua-tic-2018-
internet-chega-a-79-1-dos-domicilios-do-pais. Acesso em: 31 ago. 2020.

REINHOLZ, Fabiana. Emenda 95, o enfraquecimento do pacto social. Brasil de Fato, 03


out. 2018. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/10/03/emenda-95-o-
enfraquecimento-do-pacto-social. Acesso em: 27 ago. 2020.

TRANDING ECONOMICS. Disponível em: https://pt.tradingeconomics.com/. Acesso em:


31 ago. 2020.

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