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A Emancipação Digital das Populações Vulnerabilizadas – apontamentos

para uma estratégia digital

André Barbosa Filho


Cosette Castro

Introdução

Na perspectiva do processo de inclusão digital, as políticas sociais têm


fundamento no princípio da igualdade de direito entre as pessoas. Mas para
que ocorram, são necessárias estratégias que passam pela educação
permanente da população preparando-as para o mundo virtual. Leva-se em
conta que o país ainda se encontra no estágio da ponte (Castro, 2008),
transitando entre um mundo analógico e digital permeado por diferentes
realidades que vão da inclusão digital (classes A e B), convivendo com a
inclusão precária (C e D) e com a exclusão digital (D e E). Tudo isso ocorre em
um contexto de digitalização acelerada pela pandemia que mostra seu lado
perverso ao ampliar também os processos de inclusão precária e exclusão.
Historicamente, em 1994 foi realizado um movimento que pretendia modificar o
cenário da educação mundial desde o ponto de vista das tecnologias. Este
movimento teve avanços por conta da elaboração da Declaração de
Salamanca, na cidade de Salamanca (Espanha) e o primeiro esforço para
reduzir a desigualdade em termos de tecnologias da informação e da
comunicação (TIC). Embora tenha sido pensado para educação especial, no
que diz respeito às TICs, suas regras se tornaram referência em políticas
públicas de diferentes governos. De acordo com a Declaração, as escolas e
seus projetos pedagógicos deveriam se adequar às necessidades dos
indivíduos nelas matriculados, tendo como base o artigo 11 da Declaração de
Salamanca.
A inclusão digital não é uma simples questão que se resolve adquirindo
computadores ou celulares para a população de baixa renda e ensinando as
pessoas a utilizar esse ou aquele software. Como lembra Bonilla (2001), ter ou
não acesso à infraestrutura tecnológica é apenas um dos fatores que

1
influenciam a inclusão/exclusão digitais, mas não é o único, nem o mais
relevante1.
Por isso, neste Capítulo, partimos do princípio de que a infraestrutura de rede,
o acesso à internet, à alfabetização digital, à produção de conteúdos e serviços
digitais, à segurança e ao cuidado digital e a análise crítica das mídias e redes
sociais digitais fazem parte de um pacote que constituem um direito básico, um
direito humano.
Contemporaneamente as organizações sociais, formais e informais, têm sido
cada vez mais impactadas e, ao mesmo tempo, dinamizadas pelo mundo
digital, em especial pelas redes sociais digitais. Isso ocorre apesar da baixa
incidência de acesso à internet e taxa de transferência das classes D e E, que
apontam os diferentes níveis de desigualdade e representam desafios para o
crescimento equilibrado desta tendência à digitalização.
O que se apreende é que há uma demanda reprimida dos movimentos sociais
que poderia ser atendida com programas integrados entre políticas públicas
criadas pelo Estado e que estimularia a infraestrutura, o uso dos serviços, a
manutenção dos aparelhos e programas de segurança e cuidado digital, aliado
a uma política de capacitação e formação dos grupos sociais, assim como de
estímulo à produção de conteúdos e serviços digitais
Neste contexto, as tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), podem
representar importantes mediações da ação comunicativa entre os agentes em
todas as suas modulações e dinâmicas relacionais e organizativas. Seja no que
diz respeito aos aspectos relacionais com as bases, como também para os
militantes e ativistas. Seja entre as próprias lideranças que enfrentam desafios
no mundo digital tanto no que corresponde ao grau de transformação digital
que estão passando, como as próprias dificuldades cotidianas no mundo
virtual.
O ambiente digital tem uma grande importância na vida de quem é incluído
digitalmente. Em tempos de pandemia por Covid-19 é o meio pelo qual esse
grupo social – os incluídos - estuda, trabalha, compra, produz e consome
conteúdos audiovisuais e serviços digitais. Além disso, se diverte, joga, paga
contas, faze networking, amizades e outras relações afetivas.
1
BONILLA, Maria Helena (2001). O Brasil e a alfabetização digital. Jornal da Ciência. Rio de Janeiro, abr.
p. 7, 13. Disponível em http://www.faced.ufba..br/~bonilha/artigopjc.het.com.br Acesso em: 21
dezembro 2021.

2
Como mostramos ao longo da pesquisa, Democracia e Representatividade.
Novas Formas de Representação Diante da Transformação Digital” 2
infelizmente esta não é a realidade de toda população, pois existem grupos
incluídos precariamente, principalmente aqueles que acessam internet apenas
pelo celular, como ocorre com 58% da população (CGIBr, 2021). Ou com
aqueles que acessam internet com aparelhos 2G, 3G, sem capacidade de
baixar vídeos, assistir lives, participar de reuniões ou que possuem
computadores antigos, sem memória. Há também aqueles que utilizam
celulares pré-pagos e são compradores de tempo.

Para que a inclusão digital ocorra são necessários pelo menos seis elementos
básicos: 

a) infraestrutura de rede;

b) dispositivo para conexão;

c) acesso à internet;

d) acesso ao ambiente digital; 

e) alfabetização digital;

f) manutenção e atualização dos aparelhos

O primeiro elemento diz respeito à existência de torres de transmissão, para


evitar a exclusão digital que ocorre nas periferias, em regiões longínquas e nas
aldeias indígenas.
O segundo ponto diz respeito à disponibilidade de dispositivos de última ou
penúltima geração para financiamento a preços populares, seja ele o celular,
computador ou tablet.
Apesar de sermos um dos povos mais engajados do mundo no ambiente online
– cerca de 85% dos brasileiros navegam na web diariamente, gastando um

2
A pesquisa completa está disponível no link https://docs.google.com/document/d/15y1-
Pd9dTqgnqMkF4lQwRYGAcmDS_EJo/edit?
usp=sharing&ouid=116000504106464652242&rtpof=true&sd=true

3
total de 9h29 min por dia conectados3 –, não são todas as pessoas que têm
condições de adquirir esses aparelhos
O terceiro elemento está relacionado à universalização do acesso a banda
larga de qualidade, já que nem todas as pessoas podem arcar com os custos
do acesso à internet. Isso, por si só, já se torna um impedimento para que
a inclusão digital plena realmente aconteça no Brasil.
Estima-se que aproximadamente 152 milhões de brasileiros eram usuários da
rede em 2020, o que representa 81% da população com dez anos ou mais.
Trata-se de um aumento de sete pontos percentuais em relação a 2019 (74%),
ou o equivalente a 19 milhões de usuários de Internet a mais no período.
Esse movimento foi impulsionado por residentes tanto de áreas, No Resumo
Executivo TIC Domicílios 2020 Edição COVID-19 – Metodologia adaptada
vemos alguns dados fundamentais. Em 2020, a proporção de domicílios com a
acesso à Internet representa aproximadamente 61,8 milhões com algum tipo de
conexão á rede. Ela aponta para os dados verificados entre as populações
rurais (de 53% para 70%) quanto urbanas (de 77% para 83%), o que resultou
no menor patamar de desigualdade entre as áreas da série histórica da
pesquisa (Gráfico 1). Entre as classes socioeconômicas, o aumento mais
significativo no uso da Internet ocorreu entre as classes C (de 78% para 85%) e
D (de 57% para 67%), fazendo com que a diferença entre as classes com a
maior e a menor proporção de usuários apresentasse um decréscimo de 66
para 30 pontos percentuais nos últimos cinco anos. O telefone celular
continuou sendo o principal dispositivo utilizado para acessar a rede, atingindo
quase o total da população usuária de Internet com dez anos ou mais (99%).
Para mais da metade desses usuários (58%), o acesso se deu exclusivamente
pelo celular, proporção que chega a 90% entre aqueles que estudaram até a
Educação Infantil ou que pertencem às classes DE 4
De acordo com o estudo, DEMOCRACIA REPRESENTATIVIDADE. Novas
formas de representação diante da Transformação Digital, o principal obstáculo
ao acesso (41,6%) é não saber usar a internet. Em muitos casos, as pessoas
3
CGi.br publicado em 25.11.2021 https://cgi.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-
informacao-e-comunicacao-nos-domicilios-brasileiros-tic-domicilios-2020/com.br acesso em
20.12.2021
4
CGi.br publicado em outubro 2020
https://cgi.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201505/resumo_executivo_tic_domicilios_2020.pdf
acesso em 12.01.2022

4
não usam a internet, porque não tem conhecimento sobre como utilizá-la. E
isso acontece porque não há um incentivo para essas pessoas, como
treinamentos, cursos de capacitação, oficinas de aprendizado etc. E quando
existe de forma gratuita, a divulgação não chega até as pessoas ou estão
disponíveis em horários não acessíveis para quem trabalha todo o dia. Quando
são cursos pagos, estão fora do orçamento das famílias.

Além disso, uma a cada três pessoas (34,6%) diz não ter interesse. em
aprender. As condições de vida para estes segmentos são muito duras. Por
vezes, trabalham por mais 12 horas e chegam em casa esgotados. E inclua-se
aí as dificuldades de compreensão da linguagem HTML. Para 11,8% dos
entrevistados, o serviço de acesso à internet é caro e para 5,7%, o
equipamento necessário para acessar a internet, como celular, laptop e tablet,
é caro. E para 4,5% das pessoas que não têm acessam a internet, a razão é
que o serviço não está disponível nos locais onde vivem. 5

Elemento central é a falta de acesso ao ambiente digital. Nesse caso, temos


um longo caminho a percorrer. Estamos falando de milhões de pessoas que
são deixadas de fora da web. Mais precisamente 37,7 6 milhões de pessoas,
como idosos, pessoas com limitações de navegação, pessoas com deficiência,
analfabetos, analfabetos funcionais, entre outros, segundo estudo do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese).7
Isso porque, hoje no Brasil, apenas menos 1% dos sites são acessíveis. Sendo
assim, as páginas disponíveis na internet não oferecem recursos de
acessibilidade digital que garantam uma navegação autônoma e completa para
pessoas que não sabem navegar nem compreendem plenamente o mundo
digital.

5
IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação
Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada pelo IBGE. Acesso em 20.12.2021
6
Correio Brasiliense: Estudo divulga perfil dos idosos brasileiros publicado em 12.02.2021 em
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/02/4906292-estudo-divulga-perfil-dos-
idosos-brasileiros.html
7
DIEESE – Estudos Intersindicais/perfil 60anos publicado em
https://www.dieese.org.br/outraspublicacoes/2021/graficoPerfil60AnosMais.html acesso em
12.012022

5
Por outro lado, as organizações sociais têm dificuldades para assumir a
inclusão digital de seus associados, militantes e ativistas. As lideranças
afirmaram que 47,7% da base tinha dificuldade de acessar internet. E que
59,1% das organizações não oferecem acesso gratuito aos associados.
Como já foi comentado anteriormente, a alfabetização digital é um ponto
essencial para qualquer projeto de Estado que se proponha a incluir
plenamente toda a população.

A alfabetização digital deve gerar aprendizagem ao longo da vida. Assim, a


pessoa pode desenvolver habilidades como encontrar, avaliar e usar
informações, seja para resolver problemas ou tomar decisões. Uma pessoa
alfabetizada digitalmente se torna capaz de identificar a necessidade de obter
dados, de organizá-los e aplicar na prática, integrando-os a outros
conhecimentos já existentes, podendo empregá-los na solução de problemas.
Desde o ponto de vista cidadão, a pessoa alfabetizada digitalmente precisa ter
amplo acesso à internet, equipamentos atualizados e saber utilizá-los,
conhecer as plataformas, suas linguagens e saber produzir conteúdos digitais.
Precisa saber também analisar as informações e notícias que circulam nas
diferentes mídias e redes socais digitais. (Castro, 2008).
Quando pensamos a alfabetização digital é preciso levar em conta os
diferentes níveis de desigualdades existentes no país e o grau de
complexidade que envolve desenvolver qualquer projeto que se pretenda
nacional e universalizante. Há desafios pela frente que antecedem a questão
digital. Este é o caso do analfabetismo funcional. Segundo o Indicador de
Analfabetismo Funcional (INAF, 2018), 30% da população entre 15 e 64 anos é
analfabeta funcional8. Isto é, três entre cada 10 brasileiros têm limitação para
ler, interpretar textos, identificar ironia e fazer operações matemáticas em
situações da vida cotidiana.
Incluir digitalmente, desde o ponto de vista do Estado, significa oferecer
políticas públicas voltadas para às TICs, democratizar o acesso às tecnologias
e torná-las acessíveis para o maior número de pessoas, universalizando o
acesso à infraestrutura, à redes, a equipamentos tecnológicos e a alfabetização
8
Existem dois tipos de analfabetos funcionais: o analfabeto funcional absoluto (8%) e o analfabeto
funcional rudimentar (22%).

6
digital. Significa preparar essas pessoas para receber as novas informações,
conteúdos e serviços digitais, cujos softwares e plataformas vão sendo
modificadas e atualizadas anualmente pelas empresas. E cujos aparelhos vão
ficando sucateados por falta de manutenção e atualização.
O último elemento a ser pontuado é a atualização e manutenção de aparelhos,
seja dentro do funcionalismo público, seja em projetos que financiem a preços
populares também a manutenção e atualização dos equipamentos.

Planejar e Integrar Ações

Diversas ações podem ser realizadas pelos governos e por empresas e ONGs,
para mudar essa realidade. Gostaríamos de oferecer as ideias do grupo de ,
numa síntese que descrevemos abaixo:

 Oferecer infraestrutura para a conexão que permita o enlace a


plataformas 4G e 5, distribuídas em áreas de grande densidade
populacional como a operação de transporte de sinal para recepção no
pacote da Cesta Básica Digital
 Realizar campanhas para arrecadação de celulares e campanhas para
doação, somadas a compra destes terminais, para distribuição nos
pacotes do programa Cesta Básica Digital, a ser detalhada
posteriormente. Este eral

 Facilitar o acesso aos dispositivos e às conexões com a internet com


treinamentos e cursos de alfabetização digital. Entre as sugestões
recebidas tanto de dirigentes como dos beneficiários apresentamos
algumas delas: a) colocação de infraestrutura (antenas) nas
comunidades, aldeias indígenas e quilombolas; b) apoio para obtenção
do conhecimento de linguagens de Internet; c) Entregas de dispositivos
moveis para uso das populações; d) Oferta de um conjunto de
equipamentos para recepção e transmissão de dados (pacote/Casta
Básica Digital)

7
 Criar um programa que viabilize a entrega de centenas de milhares de
pacotes de conexãol9

 inserir a população em estado de vulnerabilidade, num programa de


sustentabilidade familiar, com a garantia de seus elementos básicos,
incluindo entre estes, uma cultura mais tecnológica;

 tornar o ambiente online acessível para pessoas com deficiência ou


alguma limitação, somando esforços dos níveis de governo, em respeito
do Marco Civil da Internet10

 oferecer oficinas e cursos para que jovens trabalhadores e


especialmente, para as pessoas com deficiência e idosos, visando a
inclusão destes segmentos ao mundo digital;

 levar banda larga às áreas rurais, barateando custos através de


mudanças nos pacotes de dados;

 levar uma estrutura adequada de internet a locais que tem problemas


para o recebimento de sinal de banda larga.

 buscar iniciativas em parceria público/privadas

No Brasil, alguns projetos estão em curso, para fazer frente a enorme exclusão
digital verificada e de modo a permitir a emancipação destes enormes
segmentos populacionais sem acesso a Internet. Especialmente, nas periferias
das grandes cidades brasileiras, em áreas rurais e em territórios indígenas e
quilombolas.

9
Esse programa de inclusão digital seria disponibilizado pelo Governo Federal e distribuído pelos
governos estaduais e municipais. Os equipamentos serão atualizados de 03 em 03 anos e terá
manutenção garantida. A distribuição deverá merecer exame dos órgãos federais competentes,
buscando cobrir o maior número possível de brasileiros e brasileiras, com regras aprovadas pelas Anatel
e MiniCom e em conjunto com as operadoras de serviços moveis
10
TJDDF – Marco Civil da Internet publicado em out.2020 em
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/
marco-civil-da-internet acesso em 12.012022

8
A CUFA, Central Única das Favelas, criou o projeto Mães de Favela. A CUFA

destaca que a desigualdade social, o desemprego e a informalidade

constituem os problemas sociais que tornam as favelas de todo o Brasil

mais expostas a riscos.

Por isso, as favelas necessitam de mais atenção na higiene pessoal e

distanciamento social para sua prevenção. Na maioria das casas das favelas

moram pelo menos cinco membros de uma família em um único cômodo,

sem saneamento básico nem acesso à água potável.

Além disto, necessitam,, do acesso a Internet nestas localidades, totalmente

excluídas da informação on line. O Projeto Mães de Favela recebeu apoio da

UNICEF e recebeu o prêmio UNESCO por distribuir mais de 500 Kits de

acesso a à Inter a diversas favelas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo

Horizonte e Salvador11

Criar um programa de inclusão digital é um desafio que as administrações


públicas, as ONGs e empresas privadas tem enfrentado e os resultados,
apesar de decantados como verdadeiras panaceias para a solução das
questões da alfabetização, apropriação e produção de conteúdos digitais, nas
dimensões da carta de Salamanca, parece não terem obtido, em nosso País,
muitos avanços.

As ações não são integradas, apresentando uma grande fragmentação que


permitem um fluxo constante de investimento, em equipamentos para o
acesso, apropriação e produção de conteúdos digitais e na capacitação de
professores e técnicos.

Lembremos que o fluxo de atualização das tecnologias tem sido muito rápido.
Para não corrermos o risco de ver a maioria da população completamente
excluída destes avanços, serão necessárias dotações orçamentárias de

11
Site UNESCO publicado em setembro 2021 https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/projects/maes-
da-favela acesso em 12.01.2022

9
volume, onde projetos de sustentabilidade dos programas de alfabetização
digital, de oferta de terminais e do KIT do Cesta Básica Digital, além
disponibilização de antenas para a massificação.

Outro fator essencial. Os investimentos devem ser perenes. Nada adianta um


aporte de dinheiro, público ou privado para compra de equipamentos, de
conexão a Internet e de programas para elaboração de projetos digitais, senão
houver um acompanhamento da obsolescência destes, sua permanente
atualização e expansão.
Este fato, aliado a constante capacitação e formação de técnicos e
professores.
E isto não acontece. Libera-se uma verba para estes programas, mas não se
prevê o aporte de recursos para sua manutenção com qualidade.

E de outro lado, a atenção para que os beneficiários destes programas tenham


liberdade no uso da Internet, seja na construção de seus trabalhos, seja na
escolha de metas e rotas para suas criações.

Este é um processo educacional fundamental para o enfrentamento da inclusão


precária e da exclusão digital, cujos cuidados estão na busca do cabedal de
saberes, cujo objetivo seja a formação do cidadão pleno consciente de seus
direitos e obrigações sociais.

A escolha do ferramental adequado para estes programas deve ser


apresentada diante da oferta de tecnologia oferecida no estado da arte e sua
efetiva atualização.

A importância dos dados sobre acesso digital em relação aos grupos de


representação de pessoas em estado de vulnerabilidade é uns eixos
fundamentais na implantação de programas de inclusão digital.

10
Tem como objetivo, oferecer e permitir que programas públicos para
inclusão digital tenham êxito, através de medidas eficazes que
enfrentem questões como:

1. Resultados recorrentes de falta de estrutura,


2. Inexistência de programas de aquisição de equipamentos com
subsídios das administrações públicas e privadas
3. Falta de um programa de alfabetização digital, respeitando os
estágios indicados por esta pesquisa, diferenciando abordagens e
exercícios na aplicação destas classes.

Outras Considerações

Caso não sejam desenvolvidas plataformas próprias no Brasil, seguiremos nas


mãos de buscadores internacionais como Google e de salas de reuniões
virtuais como Google Meet, Zoom ou Team. Ou redes sociais digitais, como
WhatsApp, Facebook ou Instagram, pertencentes ao empresário
estadunidense Mark Zuckerberg. 

Para além das propostas de inclusão explicitadas no decorrer do capítulo é


preciso pensar estrategicamente, lado a lado, as questões comunicacionais, de
forma inter-relacionada e intersetorial. 

Isso significa levar em conta a construção de parques tecnológicos-


comunicacionais para criar uma indústria nacional de informática e produção de
conteúdos audiovisuais multiplataformas e serviços digitais que leve em conta
a segurança e o cuidado digital para, pelo menos, os próximos 30 anos. Ao
lado de uma indústria nacional eletroeletrônica.  

O projeto de construção de parques tecnológicos-comunicacionais tem  


característica interdisciplinar, com estímulo ao diálogo e projetos conjuntos
entre diferentes áreas do saber. 

11
Um projeto desta envergadura precisa ter presença nas principais cidades de
cada estado brasileiro, levar em conta as características de cada região do
país, em um trabalho conjunto com universidades e pesquisas que incluam os
jovens da periferia e da área rural em parceria com micro, pequenas e médias
empresas. Esses polos/parques incluem ainda projetos de alfabetização,
formação digital e   geração de empregos em múltiplas plataformas e
equipamentos digitais interativos.

A proposta aqui presente difere dos parques tecnológicos tradicionais que não


trabalham conjuntamente pesquisas e projetos dialógicos entre comunicação-
tecnologia, embora sejam pensados para diferentes plataformas tecnológicas.
Propomos a instalações de parques interativos, intersetoriais e intrasetoriais
onde pesquisa e práticas dialoguem, em uma estrutura horizontal de
participação, debate, geração de conhecimentos e produtos, que estimulem a
economia local.

Quadro 01

Pesquisa
universi- Parcerias
Infraestrutura dades
de Micro,
recepção Médias e
pequenas
(aparelhos) empresas

Infraestrutura Estímulo
de indústria de
transmissão hardware

Parques
Estímulo tecnológicos
Estímulo
Indústria de comunicacionais indústria de
conteúdos
middleware
digitais

Alfabetização Estímulo
Digital indústria
Formação para de
mídias digitais software

Pesquisa
Estímulo segurança
indústria de
serviços e cuidados
digitais

12
Elaborado por Cosette Castro, baseado em projeto apresentado por Castro em
2010/211 para o Plano Nacional de Banda Larga.

Damos ênfase na segurança e cuidado digital, incluindo a dimensão do afeto


nas relações e ações políticas, ultrapassando a racionalidade positivista da
ciência. Ou seja, propomos pensar desde as epistemologias do Sul, como
propõe Boaventura Santos, dando espaço para a pluralidade de pensamentos
e culturas existentes no país.
Consideramos importante ocupar os espaços nas redes sociais digitais, algo
que vem sendo feito, ainda de forma incipiente por jovens indígenas, como, por
exemplo os youtubers e tiktokers indígenas. Eles contam seu cotidiano na
aldeia ou na cidade, seus anseios, lamúrias, alegrias e particularidades Trata-
se de uma cultura rica com 305 etnias e 274 línguas indígenas (IBGE), apesar
dos não índios, por desconhecimento, julgarem homogênea.
Consideramos essencial também o incentivo à multiplicação de veículos de
comunicação pensado, produzido e apresentado por indígenas como a pioneira
rádio Yandê. Também consideramos importante mapear e apoiar os projetos
de comunicação desenvolvidos por movimentos sociais negros, particularmente
aqueles produzidos por mulheres, trazendo à visibilidade todos os Brasis e
formas de expressão. 
Sugerimos incorporar outras plataformas e possibilidades comunicacionais,
como o uso de videojogos visando entrar em um universo adolescente e
jovem.  Apostar em videojogos online e no uso de projetos multiplataformas é
uma proposta voltada para a juventude e para o público feminino, levando em
conta que esta que é a terceira indústria do mundo e que têm, no Brasil, as
mulheres entre as maiores jogadoras. 

Vale lembrar que as mulheres jogadoras sofrem preconceito e, em geral,


utilizam pseudônimos neutros para evitar a violência on line. Tais projetos
poderiam se contrapor, ao mesmo tempo, a questões como preconceito de
gênero, raça, tipos de corpos, idade etc., entre outros temas, sem perder o
aspecto lúdico que o compõem.   
No Brasil existe, por exemplo, o jogo Araní, é uma produção brasileira do
estúdio independente Diorama Digital, que gira em torno da protagonista Araní,

13
a guerreira mais corajosa da Tribo do Sol. A trama mostra a protagonista
mulher em uma jornada de autodescobrimento e maestria de luta para salvar o
seu povo de um antigo poder mitológico. 
Outro exemplo é o videogame Dandara, voltado para população negra, criado
em 2018 pela empresa mineira Long Hat House que chegou a constar entre os
melhores do ano pela revista Times, embora a maioria dos brasileiros
desconheçam o material.
A partir das propostas ofertadas pelos participantes da pesquisa e dos
pesquisadores especialistas sugerimos na pesquisa 12 com estratégias de curto,
médio e longo prazo, para pensar o país nos próximos 30 anos. A proposta é
instalar e apoiar projetos (novos ou existentes) voltados para promover a
indústria brasileira de eletroeletrônica e a indústria informática e de conteúdos
audiovisuais digitais.
Também consideramos fundamental retomar e atualizar os marcos regulatórios
no que diz respeito às leis de concessão de meios de comunicação, leis
voltadas para a democratização da comunicação, seja ela analógica ou digital,
assim como ter leis claras regulando a internet e as mídias digitais. Paralelo e
não menos importante, é garantir a segurança, a privacidade e o cuidado digital
com buscadores, plataformas e redes nacionais.    
O Brasil não pode se considerar um país soberano enquanto sua população
sofre diferentes tipos de desigualdades, entre elas a digital, informacional e
comunicacional. Enquanto a maioria da população possui inclusão precária, em
geral acessando a internet em um celular pré-pago com poucos créditos e
tendo como fonte de informação o Whats App ou o Facebook, pertencentes à
mesma empresa internacional. Ou mais grave ainda, enquanto parte da
população vive em situação de vulnerabilidade com exclusão digital, como é o
caso de muitas aldeias indígenas, do campo e das periferias das cidades.
.

12
BARBOSA FILHO, André e CASTRO, Cosette Estratégias para uma Inclusão Digital Participativa Relatório
Final da pesquisa DEMOCRACIA E REPRESENTATIVIDADE, Novas formas de representação diante da
Transformação Digital Capitulo 5 (inédito) acesso em 12.012022

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