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Introdução
1
influenciam a inclusão/exclusão digitais, mas não é o único, nem o mais
relevante1.
Por isso, neste Capítulo, partimos do princípio de que a infraestrutura de rede,
o acesso à internet, à alfabetização digital, à produção de conteúdos e serviços
digitais, à segurança e ao cuidado digital e a análise crítica das mídias e redes
sociais digitais fazem parte de um pacote que constituem um direito básico, um
direito humano.
Contemporaneamente as organizações sociais, formais e informais, têm sido
cada vez mais impactadas e, ao mesmo tempo, dinamizadas pelo mundo
digital, em especial pelas redes sociais digitais. Isso ocorre apesar da baixa
incidência de acesso à internet e taxa de transferência das classes D e E, que
apontam os diferentes níveis de desigualdade e representam desafios para o
crescimento equilibrado desta tendência à digitalização.
O que se apreende é que há uma demanda reprimida dos movimentos sociais
que poderia ser atendida com programas integrados entre políticas públicas
criadas pelo Estado e que estimularia a infraestrutura, o uso dos serviços, a
manutenção dos aparelhos e programas de segurança e cuidado digital, aliado
a uma política de capacitação e formação dos grupos sociais, assim como de
estímulo à produção de conteúdos e serviços digitais
Neste contexto, as tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), podem
representar importantes mediações da ação comunicativa entre os agentes em
todas as suas modulações e dinâmicas relacionais e organizativas. Seja no que
diz respeito aos aspectos relacionais com as bases, como também para os
militantes e ativistas. Seja entre as próprias lideranças que enfrentam desafios
no mundo digital tanto no que corresponde ao grau de transformação digital
que estão passando, como as próprias dificuldades cotidianas no mundo
virtual.
O ambiente digital tem uma grande importância na vida de quem é incluído
digitalmente. Em tempos de pandemia por Covid-19 é o meio pelo qual esse
grupo social – os incluídos - estuda, trabalha, compra, produz e consome
conteúdos audiovisuais e serviços digitais. Além disso, se diverte, joga, paga
contas, faze networking, amizades e outras relações afetivas.
1
BONILLA, Maria Helena (2001). O Brasil e a alfabetização digital. Jornal da Ciência. Rio de Janeiro, abr.
p. 7, 13. Disponível em http://www.faced.ufba..br/~bonilha/artigopjc.het.com.br Acesso em: 21
dezembro 2021.
2
Como mostramos ao longo da pesquisa, Democracia e Representatividade.
Novas Formas de Representação Diante da Transformação Digital” 2
infelizmente esta não é a realidade de toda população, pois existem grupos
incluídos precariamente, principalmente aqueles que acessam internet apenas
pelo celular, como ocorre com 58% da população (CGIBr, 2021). Ou com
aqueles que acessam internet com aparelhos 2G, 3G, sem capacidade de
baixar vídeos, assistir lives, participar de reuniões ou que possuem
computadores antigos, sem memória. Há também aqueles que utilizam
celulares pré-pagos e são compradores de tempo.
Para que a inclusão digital ocorra são necessários pelo menos seis elementos
básicos:
a) infraestrutura de rede;
c) acesso à internet;
e) alfabetização digital;
2
A pesquisa completa está disponível no link https://docs.google.com/document/d/15y1-
Pd9dTqgnqMkF4lQwRYGAcmDS_EJo/edit?
usp=sharing&ouid=116000504106464652242&rtpof=true&sd=true
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total de 9h29 min por dia conectados3 –, não são todas as pessoas que têm
condições de adquirir esses aparelhos
O terceiro elemento está relacionado à universalização do acesso a banda
larga de qualidade, já que nem todas as pessoas podem arcar com os custos
do acesso à internet. Isso, por si só, já se torna um impedimento para que
a inclusão digital plena realmente aconteça no Brasil.
Estima-se que aproximadamente 152 milhões de brasileiros eram usuários da
rede em 2020, o que representa 81% da população com dez anos ou mais.
Trata-se de um aumento de sete pontos percentuais em relação a 2019 (74%),
ou o equivalente a 19 milhões de usuários de Internet a mais no período.
Esse movimento foi impulsionado por residentes tanto de áreas, No Resumo
Executivo TIC Domicílios 2020 Edição COVID-19 – Metodologia adaptada
vemos alguns dados fundamentais. Em 2020, a proporção de domicílios com a
acesso à Internet representa aproximadamente 61,8 milhões com algum tipo de
conexão á rede. Ela aponta para os dados verificados entre as populações
rurais (de 53% para 70%) quanto urbanas (de 77% para 83%), o que resultou
no menor patamar de desigualdade entre as áreas da série histórica da
pesquisa (Gráfico 1). Entre as classes socioeconômicas, o aumento mais
significativo no uso da Internet ocorreu entre as classes C (de 78% para 85%) e
D (de 57% para 67%), fazendo com que a diferença entre as classes com a
maior e a menor proporção de usuários apresentasse um decréscimo de 66
para 30 pontos percentuais nos últimos cinco anos. O telefone celular
continuou sendo o principal dispositivo utilizado para acessar a rede, atingindo
quase o total da população usuária de Internet com dez anos ou mais (99%).
Para mais da metade desses usuários (58%), o acesso se deu exclusivamente
pelo celular, proporção que chega a 90% entre aqueles que estudaram até a
Educação Infantil ou que pertencem às classes DE 4
De acordo com o estudo, DEMOCRACIA REPRESENTATIVIDADE. Novas
formas de representação diante da Transformação Digital, o principal obstáculo
ao acesso (41,6%) é não saber usar a internet. Em muitos casos, as pessoas
3
CGi.br publicado em 25.11.2021 https://cgi.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-
informacao-e-comunicacao-nos-domicilios-brasileiros-tic-domicilios-2020/com.br acesso em
20.12.2021
4
CGi.br publicado em outubro 2020
https://cgi.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201505/resumo_executivo_tic_domicilios_2020.pdf
acesso em 12.01.2022
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não usam a internet, porque não tem conhecimento sobre como utilizá-la. E
isso acontece porque não há um incentivo para essas pessoas, como
treinamentos, cursos de capacitação, oficinas de aprendizado etc. E quando
existe de forma gratuita, a divulgação não chega até as pessoas ou estão
disponíveis em horários não acessíveis para quem trabalha todo o dia. Quando
são cursos pagos, estão fora do orçamento das famílias.
Além disso, uma a cada três pessoas (34,6%) diz não ter interesse. em
aprender. As condições de vida para estes segmentos são muito duras. Por
vezes, trabalham por mais 12 horas e chegam em casa esgotados. E inclua-se
aí as dificuldades de compreensão da linguagem HTML. Para 11,8% dos
entrevistados, o serviço de acesso à internet é caro e para 5,7%, o
equipamento necessário para acessar a internet, como celular, laptop e tablet,
é caro. E para 4,5% das pessoas que não têm acessam a internet, a razão é
que o serviço não está disponível nos locais onde vivem. 5
5
IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação
Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada pelo IBGE. Acesso em 20.12.2021
6
Correio Brasiliense: Estudo divulga perfil dos idosos brasileiros publicado em 12.02.2021 em
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/02/4906292-estudo-divulga-perfil-dos-
idosos-brasileiros.html
7
DIEESE – Estudos Intersindicais/perfil 60anos publicado em
https://www.dieese.org.br/outraspublicacoes/2021/graficoPerfil60AnosMais.html acesso em
12.012022
5
Por outro lado, as organizações sociais têm dificuldades para assumir a
inclusão digital de seus associados, militantes e ativistas. As lideranças
afirmaram que 47,7% da base tinha dificuldade de acessar internet. E que
59,1% das organizações não oferecem acesso gratuito aos associados.
Como já foi comentado anteriormente, a alfabetização digital é um ponto
essencial para qualquer projeto de Estado que se proponha a incluir
plenamente toda a população.
6
digital. Significa preparar essas pessoas para receber as novas informações,
conteúdos e serviços digitais, cujos softwares e plataformas vão sendo
modificadas e atualizadas anualmente pelas empresas. E cujos aparelhos vão
ficando sucateados por falta de manutenção e atualização.
O último elemento a ser pontuado é a atualização e manutenção de aparelhos,
seja dentro do funcionalismo público, seja em projetos que financiem a preços
populares também a manutenção e atualização dos equipamentos.
Diversas ações podem ser realizadas pelos governos e por empresas e ONGs,
para mudar essa realidade. Gostaríamos de oferecer as ideias do grupo de ,
numa síntese que descrevemos abaixo:
7
Criar um programa que viabilize a entrega de centenas de milhares de
pacotes de conexãol9
No Brasil, alguns projetos estão em curso, para fazer frente a enorme exclusão
digital verificada e de modo a permitir a emancipação destes enormes
segmentos populacionais sem acesso a Internet. Especialmente, nas periferias
das grandes cidades brasileiras, em áreas rurais e em territórios indígenas e
quilombolas.
9
Esse programa de inclusão digital seria disponibilizado pelo Governo Federal e distribuído pelos
governos estaduais e municipais. Os equipamentos serão atualizados de 03 em 03 anos e terá
manutenção garantida. A distribuição deverá merecer exame dos órgãos federais competentes,
buscando cobrir o maior número possível de brasileiros e brasileiras, com regras aprovadas pelas Anatel
e MiniCom e em conjunto com as operadoras de serviços moveis
10
TJDDF – Marco Civil da Internet publicado em out.2020 em
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/
marco-civil-da-internet acesso em 12.012022
8
A CUFA, Central Única das Favelas, criou o projeto Mães de Favela. A CUFA
distanciamento social para sua prevenção. Na maioria das casas das favelas
Horizonte e Salvador11
Lembremos que o fluxo de atualização das tecnologias tem sido muito rápido.
Para não corrermos o risco de ver a maioria da população completamente
excluída destes avanços, serão necessárias dotações orçamentárias de
11
Site UNESCO publicado em setembro 2021 https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/projects/maes-
da-favela acesso em 12.01.2022
9
volume, onde projetos de sustentabilidade dos programas de alfabetização
digital, de oferta de terminais e do KIT do Cesta Básica Digital, além
disponibilização de antenas para a massificação.
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Tem como objetivo, oferecer e permitir que programas públicos para
inclusão digital tenham êxito, através de medidas eficazes que
enfrentem questões como:
Outras Considerações
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Um projeto desta envergadura precisa ter presença nas principais cidades de
cada estado brasileiro, levar em conta as características de cada região do
país, em um trabalho conjunto com universidades e pesquisas que incluam os
jovens da periferia e da área rural em parceria com micro, pequenas e médias
empresas. Esses polos/parques incluem ainda projetos de alfabetização,
formação digital e geração de empregos em múltiplas plataformas e
equipamentos digitais interativos.
Quadro 01
Pesquisa
universi- Parcerias
Infraestrutura dades
de Micro,
recepção Médias e
pequenas
(aparelhos) empresas
Infraestrutura Estímulo
de indústria de
transmissão hardware
Parques
Estímulo tecnológicos
Estímulo
Indústria de comunicacionais indústria de
conteúdos
middleware
digitais
Alfabetização Estímulo
Digital indústria
Formação para de
mídias digitais software
Pesquisa
Estímulo segurança
indústria de
serviços e cuidados
digitais
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Elaborado por Cosette Castro, baseado em projeto apresentado por Castro em
2010/211 para o Plano Nacional de Banda Larga.
13
a guerreira mais corajosa da Tribo do Sol. A trama mostra a protagonista
mulher em uma jornada de autodescobrimento e maestria de luta para salvar o
seu povo de um antigo poder mitológico.
Outro exemplo é o videogame Dandara, voltado para população negra, criado
em 2018 pela empresa mineira Long Hat House que chegou a constar entre os
melhores do ano pela revista Times, embora a maioria dos brasileiros
desconheçam o material.
A partir das propostas ofertadas pelos participantes da pesquisa e dos
pesquisadores especialistas sugerimos na pesquisa 12 com estratégias de curto,
médio e longo prazo, para pensar o país nos próximos 30 anos. A proposta é
instalar e apoiar projetos (novos ou existentes) voltados para promover a
indústria brasileira de eletroeletrônica e a indústria informática e de conteúdos
audiovisuais digitais.
Também consideramos fundamental retomar e atualizar os marcos regulatórios
no que diz respeito às leis de concessão de meios de comunicação, leis
voltadas para a democratização da comunicação, seja ela analógica ou digital,
assim como ter leis claras regulando a internet e as mídias digitais. Paralelo e
não menos importante, é garantir a segurança, a privacidade e o cuidado digital
com buscadores, plataformas e redes nacionais.
O Brasil não pode se considerar um país soberano enquanto sua população
sofre diferentes tipos de desigualdades, entre elas a digital, informacional e
comunicacional. Enquanto a maioria da população possui inclusão precária, em
geral acessando a internet em um celular pré-pago com poucos créditos e
tendo como fonte de informação o Whats App ou o Facebook, pertencentes à
mesma empresa internacional. Ou mais grave ainda, enquanto parte da
população vive em situação de vulnerabilidade com exclusão digital, como é o
caso de muitas aldeias indígenas, do campo e das periferias das cidades.
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BARBOSA FILHO, André e CASTRO, Cosette Estratégias para uma Inclusão Digital Participativa Relatório
Final da pesquisa DEMOCRACIA E REPRESENTATIVIDADE, Novas formas de representação diante da
Transformação Digital Capitulo 5 (inédito) acesso em 12.012022
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