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Reflexões para uma web melhor, inclusiva e cidadã

Lorene Souza (17007)


25 novembro 2019

Com pouco mais de três décadas, a web já promoveu profundas transformações no mundo,
renovando a forma de se comunicar, trabalhar, relacionar e empreender, mudanças que
acontecem a cada vez em maior velocidade e em menor período de tempo.

Nesse cenário, há graves problemas a serem debatidos e combatidos, tanto os que existem em
decorrência da má ou inadequada utilização pelas pessoas como aqueles decorrentes da não
utilização, pelos chamados excluídos digitais. É possível verificar a importância do assunto, e
os desafios que ele impõe, analisando-se algumas iniciativas empreendidas, sejam elas
globais, nacionais ou locais, que têm em comum o objetivo de tornar a web, de fato, um
ambiente onde impere a positividade, a inclusão e a cidadania.

Mas qual seria um ponto de partida?

Um deles, que é global e conta com a adesão do Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br)
é a proposta de ação denominada Um Contrato para a Web (A Contract for the Web),
lançada por Sir Tim Berners-Lee (1955), por meio da Fundação Web (World Wide Web
Foundation), que criou há cerca de dez anos. Físico britânico, cientista da computação e
professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Berners-Lee é considerado o
“pai” da World Wide Web - “w” triplos que muitos digitam e talvez nem todos saibam a sua
história.

Um Contrato para a Web, que traz o slogan “tornar o mundo online seguro e acessível a
qualquer um”, estimula a reflexão sobre como a web tem modificado o mundo e exige dos
governos, das empresas e dos indivíduos o compromisso de agir para fazer da web um
ambiente melhor, que beneficie toda a humanidade. No Contrato, Berners-Lee cita três
principais fontes de disfunção na web atual:
- Intenções maliciosas e deliberadas, como invasões e ataques patrocinados pelo Estado,
comportamento criminoso e assédio on-line;
- Design de sistemas que criam incentivos perversos em que o valor do usuário é
sacrificado, como modelos de receita baseados em anúncios que recompensam
comercialmente o “caça-clique” e a disseminação viral da desinformação.
- Consequências negativas não intencionais do design benevolente, como o tom ultrajado e
polarizado e a qualidade do discurso on-line.

Disseminada por meio da hashtag #ForTheWeb, em 2018, a proposta vem obtendo a adesão
de governos, empresas e cidadãos para uma atuação conjunta e já conta com o apoio de cerca
de 160 organizações parceiras, em 70 países. Para 2022, a Fundação Web e seus atuais 30
membros planejam promover a igualdade digital em todo o mundo.

A proposta é significativa e merece reconhecimento e, ainda que não agregue todos os países
em seu “contrato”, mobiliza parte deles em direção a estratégias que permitem tanto o melhor
uso da web como delinear preventivamente os impactos da inevitável continuidade evolutiva
do ambiente digital.

Uma ação global como essa será suficiente?

Infelizmente, a iniciativa pode não alcançar toda a abrangência mais urgente que a situação
requer.

Uma outra frente relevante e necessária, a ser emergencialmente aberta, é a de formação das
crianças e dos jovens, no sentido de promover e aprimorar o seu conhecimento, a sua
capacidade de crítica, o uso de valores éticos e de bons comportamentos sociais nas suas
vivências e interações junto à web e, de forma sinérgica, junto àqueles que nela já se
encontram mais submersos.

Pode-se exemplificar essa preocupação brasileira com a terceira edição do "Ciclo Cultura,
Educação e Tecnologias em Debate”, ocorrida em setembro deste ano, na qual o CGI.br
debateu a alfabetização para a cidadania digital e lançou as importantes pesquisas TIC
Educação 2018 e TIC Kids Online Brasil 2018, realizadas pelo Centro Regional de Estudos
para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
De acordo com informações do Cetic.br, a relevância das pesquisas sobre o acesso e uso das
TIC reside no subsídio que oferecem para iniciativas voltadas ao uso crítico e responsável da
internet. Elas são vitais para que, além do amplo acesso à informação, seja formada uma
postura crítica com as informações acessadas online, ou seja, alfabetizar digitalmente a
sociedade.

Para a instituição, segundo o propósito de promoção do uso aberto, inclusivo e seguro da


internet, a alfabetização digital e a educação para a cidadania digital permitiriam o uso seguro
e responsável pelas crianças, desenvolvendo nelas competências técnicas e habilidades para a
compreensão crítica do conteúdo e das oportunidades e riscos no ambiente online.

E mesmo assim, restam outros desafios!

Em várias partes do país, a efetiva alfabetização e educação para a cidadania digital ainda se
encontra em alto grau de precariedade ou, até mesmo, de ausência do acesso à internet.

A disparidade é gritante entre as regiões brasileiras. Em algumas, nos grandes centros, os


cidadãos acompanham a competição pelo mercado 5G brasileiro, entre Estados Unidos e
China. Em outras, no interior do país, um imenso esforço tem que ser despendido por uma
comunidade, e com apoio de instituições não governamentais inclusive, para se conquistar
uma primeira (e modesta) instalação de um sistema 3G. Esta situação corresponde a uma das
histórias retratadas no documentário FreeNet? (Pedro Ekman, 2016), uma produção que
questiona a liberdade na internet e poderia ser também um ótimo ponto de partida para se
debater políticas públicas para o ambiente digital.

Ainda no sentido da inclusão digital, pode-se destacar o capítulo brasileiro da Internet Society
(ISOC) - associação internacional sem fins lucrativos criada em 1992 -, cuja proposta
"Desenvolvendo rede de comunidades na região norte do Brasil" foi um dos 15 selecionados
entre 49 concorrentes, em 2018, pelo projeto Beyond the NET Grants, cuja missão é
fortalecer comunidades locais em todo o mundo. As propostas escolhidas devem comungar a
finalidade do projeto, propiciando a interação com governos, empresas e entidades para
adoção de políticas em relação à internet coincidentes com os princípios de rede aberta e
universalmente acessível, ao lado do apoio à inovação, à criatividade e às oportunidades
comerciais.
Acima de tudo, e o quanto antes, é preciso ampliar os debates e definir políticas públicas
claras e crescentes, para tanto reduzir as distâncias geográficas que ainda cerceiam o acesso à
internet como implementar uma efetiva cidadania digital sem qualquer distinção de perfis
demográficos, e priorizar, a curto prazo, a implementação de uma sólida política de formação
digital de nossas crianças e jovens.

E você, conhece outras ideias para promover a inclusão, alfabetização e cidadania digital?

Referências
Beyond the Net Grants. Disponível em: https://www.internetsociety.org/beyond-the-
net/grants/. Acesso em: 22 nov. 2019.
Desenvolvendo rede de comunidades na região norte do Brasil. Disponível em:
https://isoc.org.br/. Acesso em: 22 nov. 2019.
Digital Equality #ForEveryone | Web Foundation. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Y6F8__Qa0mU. Acesso em: 22 nov. 2019.
Documentário FreeNet?. Disponível em: https://libreflix.org/i/freenet. Acesso em: 22 nov.
2019.
Internet Society. Disponível em: https://isoc.org.br/. Acesso em: 22 nov. 2019.
Publicações do Cetic.br são lançadas em encontro do Ciclo Cultura, Educação e Tecnologias
em Debate. Disponível em:
https://www.cgi.br/noticia/notas/publicacoes-do-cetic-br-sao-lancadas-em-encontro-do-ciclo-
cultura-educacao-e-tecnologias-em-debate/. Acesso em: 22 nov. 2019.
World Wide Web Foundation. Disponível em: https://webfoundation.org/. Acesso em 22 nov.
2019.

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