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PRO N U N C IA D A PELO
PROF. JAYM E N EV ES
DURANTE A S
HOM ENAGENS
P Ó ST U M A S AO PROF.
O S C A R V E R SIA N I
CA LD EIR A EM 25.6.1973
Seria estultice m inh a analisar criticam ente toda a profusa obra científica
de Oscar Versiani. Sobre o risco de falecer m eu engenho, tal a profundidade
de sua m ultifária cultura m édica, corro o risco de enfadar os ouvintes, m or
m en te àqueles que o conheceram sob ângulos d iferen tes. Todavia, não fujo ao
dever de aconselhar aos tangidos pelas carícias da investigação científica que
se deleitem com o estudo de sua obra. Localizado seu labor num a época em que
uns poucos num País de tantos dedicavam -se seriam ente ao m étodo científico
— com capacidade criadora, em busca de contribuições válidas ao conheci
m ento — Oscar Versiani foi, sem favor, u m dos pioneiros em nossa F aculdade.
Em seus trabalhos, desde os saídos a lum e em sua juventude, observa-se a a ti
tude que a m eia ciência faz questão de desprezar: o respeito ao fato .
Na observação de um fenôm eno qualquer, não lhe faltavam atributos de
observador astuto. Para tanto, aliava o lastro de sua bagagem m édica à con
dição de “rato de enferm aria”, como diria o grande m ineiro seu amigo Pedro
N ava. Por isto, suas observações prim avam pelo fausto de detalhes semióticos,
por equilibrada exploração subsidiária e, o que é m ais im portante, pela emoção
com edida ao interp retá-la s. Quando a observação se restringia ao paciente, era
inexcedível na arte de conciliar os interesses da ciência com o de tratar com o
doente e o de tratar do doente, que são coisas bem distintas.
A vocação científica de Oscar Versiani encontra-se m anifesta desde “O bis-
m uto no tra ta m en to da neurolues”, em 1929, até “Arríboflavinose”, esta a sua
obra m ais alentada. De u’a m aneira geral, sua contribuição científica pode ser
dividida em três fases bem delineadas, que envolvia a cardiologia, a hem ato
logia clínica e a tropicologia m édica. No dom ínio da cardiologia, inicialm ente
retom ou ele os trabalhos originais de Alfredo Balena, que versavam sobre “B ra-
dicardias gripais” (1918) e “Síndrom e de A dam s-Stokes post-gripal” (1942), en-
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sam não exprim ir, com fidelidade, os resultados desta autêntica revolução de
atitude. Todavia, traduzem a som a apreciável de labor de um a equipe relativa
m en te pequena, m as que já começa a crescer. À guisa de exem plo, bastaria citar
que, num período que não vai a 10 anos, a Clínica das Doenças Infectuosas e Tro
picais, hoje Doenças Infectuosas e Parasitárias, possui linhas definidas de pes
quisa. A lim entam elas m ais de um a centena de publicações sobre patologia tro
pical, entre m onografias, livros de texto e trabalhos originais, m uitos dos quais
têm alcançado repercussões no Exterior. Em concursos científicos de âm bito
nacional, a equipe detém quatro láureas. No m esm o período foram apresenta
dos em congressos nacionais e internacionais cerca de 250 trabalhos, entre te
m as oficiais, conferências, painéis, sem inários, m esas redondas e tem as livres.
Ultrapassando os lim ites de nossa Universidade, tem a Clínica sido convidada
para 'apresentar seus m odelos de ensino e pesquisa em congressos da Sociedade
Brasileira de M edicina Tropical e em diversas Faculdades de M edicina do País.
M uitas dessas incum bências ficaram a cargo do Prof. Oscar Versiani Caldeira.
Se o objetivo da Universidade é o ensino e a pesquisa, ela não se basta com
a pesquisa, como não se basta com nen h um dos objetivos isoladam ente. Oscar
Versiani sabia disto. Oriundo de um a época em que m uitas vezes avaliava-se
a grandeza de um professor pela distância e pela altura em que se colocava em
relação ao estudante; em que se m edia o seu valor pelos rom pantes e rom pantes
de um a erudição m uitas vezes questionável; em que a com unicação era o m o
nólogo e o estudante um acidente desvalido em sua ansiosa busca de habilida
des e de aptidões, Versiani teve a coragem de prim eiro adaptar-se para propor
m udanças. No seu entender, todos os professores das escolas de m edicina de
veriam possuir determ inada form ação pedagógica, com o objetivo de increm en
tar sua com petência para a solução dos problem as docentes. O pessoal form ado
pedagogicam ente aum entaria, por certo, a eficiência da Faculdade de M edicina;
m elhorar-se-iam os meios de planificação e avaliação dos planos de estudo; ele-
var-se-ia a qualidade do ensino e estaria o pessoal docente em m elhores condi
ções para fazer frente ao aum ento do núm ero de alunos.
Decorridos quase 10 anos da ten ta tiva de im plantação desta m etodologia de
ensino na Faculdade, nada m ais lisongeiro, para objetivar a qualidade do Pro
fessor e do Diretor que foi Versiani, do que constatar a identidade de suas idéias
com as conclusões a que chegaram os peritos da O ficina Regional da O rganiza
ção M undial da Saúde, em sim pósio realizado em San R em o (Itália), em abril áe
1972. Temos testem unho do ardor com que defendia ele a necessidade de incre
m entar-se a utilização dos meios audio-visuais; a utilização da psicologia do
aprendizado e do ensino; das características do professor e do aluno e de suas
conseqüências para o ensino; do planejam ento de plano de estudos; da relação
entre aluno e professor.
Não iremos analisar aqui as com plexas razões que tornaram inviável a im
plantação dessa m udança em nossa Faculdade. Todavia, na Clínica das D oen
ças Infectuosas e Tropicais há provas inequívocas das vantagens da nova m e
todologia de ensino. Um exemplo, nunca os alunos se interessaram tan to por
um a patologia que antes tem iam , como se brasileira não fosse; nunca os profes
sores produziram tanto; poucas vezes se viu um hospital de “isolam ento” tão
acolhedor.
Em virtude da diferenciação do grupo estudioso da tropicologia m édica, pla
nejou-se e im plantou-se, em regim e interdepartam ental, o Curso de P ós-G radua
ção em M edicina Tropical (M estrado e D outorado), cujas atividades foram in i
ciadas em agosto de 1972. É com justo júbilo que registram os a gratificação ín
tim a de que se viu possuidor o Prof. Oscar Versiani, com a instalação de um curso
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