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Mark Greenberg, Bennet Chair of Prevention Research na Penn State University, nos
Estados Unidos da América (EUA), e especialista em aprendizagem socioemocional
(SEL, na sigla em inglês) destaca, em entrevista ao PÚBLICO, a importância que este
tipo de competências desempenha na capacitação de crianças e jovens. O psicólogo
defende que dos programas de estudos das escolas deveria constar, como obrigatória, a
aprendizagem socioemocional. O objectivo? Promover ambientes escolares mais
amigáveis entre a comunidade escolar, beneficiando não só alunos, mas também
docentes, não docentes e pais.
Começou a apresentação por pedir à audiência que falasse com o vizinho da cadeira ao
lado sobre que relação pensava existir entre a educação socioemocional e a saúde e bem-
estar físico. Porquê?
Sim, quis fazê-lo porque é comum pensarmos na criança separadamente como um ser
físico, como um ser emocional, cognitivo ou um ser académico, mas a verdade é que
existe apenas uma criança: um corpo, um cérebro, um coração.
Por exemplo, hoje vimos e ouvimos o ministro da Educação falar [João Costa fez uma
declaração em vídeo durante o evento na Gulbenkian, em Lisboa] e o que espero é que
dentro de dez anos possamos ver o ministro da Educação e o ministro da Saúde a falarem
juntos. Por que razão estamos a separar as coisas? Temos de acreditar que ao ensinarmos
competências socioemocionais às crianças estamos a ajudá-las a serem melhores na
tomada de decisões, melhores pessoas, com auto-regulação. E isso também é saúde, não
só física mas também mental.
Sabemos que as pessoas com piores estilos de vida são mais propensas a ficar doentes. É
por isso que queremos reduzir o consumo de tabaco e de álcool em excesso, porque
sabemos que isso são tudo coisas que provocam doenças crónicas.
E isto é tudo uma bola de neve: as pessoas morrem mais cedo e têm custos de saúde
incríveis antes de morrer. Portanto, a aprendizagem socioemocional não é apenas para
que as crianças se tornem mais gentis ou se preocupem mais com os outros — isso é uma
coisa muito importante — ou sobre criar escolas que sejam locais mais acolhedores para
as crianças aprenderem ou sentirem que são desafiadas, mas também são cuidadas. Mas
importa também pensar em como essas mesmas competências e atitudes que podemos
ensinar às crianças podem levar a uma saúde melhor.
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Mark Greenberg trabalha há quase 50 anos com programas de educação socioemocional
Rui Gaudêncio
Até porque a maioria dos professores não teve programas de SEL enquanto eram
estudantes?
E os docentes também nada têm nos currículos de preparação sobre como cuidar de si
mesmos, sobre autocuidado. E ensinar é um trabalho muito difícil e é muito solitário
também, porque os professores ficam sozinhos o dia todo com as crianças. Os professores
portugueses, por exemplo, estão muito cansados e são uma classe envelhecida.
Imaginemos que um professor chega à escola de manhã e sente-se bem, tem uma energia
positiva. É recebido de forma amigável pelos colegas e há um bom ambiente. Nesse dia,
aquele docente vai certamente ensinar melhor e ter uma boa relação, de cooperação, com
as crianças. Pelo contrário, se o professor chegar stressado, aborrecido, deprimido, com
a sensação de que a escola não se importa realmente consigo, é totalmente diferente.
Temos de nos lembrar que a saúde dos professores também é importante. E a verdade é
que acabamos por ter muitos custos de saúde para muitos docentes em Portugal porque
eles têm empregos stressantes e não lhes damos as competências que deveríamos dar.
Sabemos que quando as crianças têm professores que são divertidos, calorosos e se
preocupam com elas, trabalham mais. Porque nós vamos trabalhar sempre mais e dar mais
por alguém que se preocupa connosco.
Temos de nos lembrar que a saúde dos professores também é importante. E a verdade é
que acabamos por ter muitos custos de saúde para muitos docentes em Portugal porque
eles têm empregos stressantes e não lhes damos as competências que deveríamos dar.
Muitas vezes isso acaba por derivar para transtornos de ansiedade, depressão, baixas
médicas e acarretam custos em saúde mental que podiam ter sido evitados.
Acho que se está a criar uma transformação no sentido em que as pessoas já pensam que
isto deveria mesmo fazer parte da educação. E em muitos países já é assim: isso acontece
na maioria dos estados dos EUA, em Inglaterra, Suécia, Noruega e Dinamarca, Singapura,
Austrália.
O tratamento é uma resposta, mas o objectivo não é esse. Não podemos continuar a tratar
uma pessoa de cada vez porque, dessa forma, não estamos a resolver o problema.
O tratamento é uma resposta, mas o objectivo não é esse. Não podemos continuar a tratar
uma pessoa de cada vez porque, dessa forma, não estamos a resolver o problema.
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Mark Greenberg Rui Gaudêncio
Portanto, desde o primeiro momento em que os professores estão a ser formados para
leccionar, durante os estágios, já devem estar a ser instruídos sobre competências
socioemocionais.
Num mundo em que o trabalho em equipa é uma realidade, as soft skills desempenham
ainda mais importância porque fazem as pessoas trabalhar de forma mais eficaz, tanto
sozinhas como em grupo e, quando em grupo, são capazes de apoiar os colegas, resolver
problemas ou pensar em conjunto.
E quando isso acontece os docentes gostam. Como disse anteriormente, quando põem
estes programas em prática, não apenas as crianças se saem melhor, mas isso também
lhes acontece. É gratificante.
Penso que o ministro da Educação português tem essa visão de futuro, ele entende o
problema. Mas há outro grande problema: o ensino não é valorizado. Temos de apoiar a
profissão e apoiar os jovens que querem segui-la.