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Volume 1

Por:
Para as crianças.
As que fomos.
As que cuidamos.

As que ainda somos.


Sumário

PARA INÍCIO DE CONVERSA  7

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 1 15

O PODER DAS PALAVRAS QUE


OUVIMOS E FALAMOS  18

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 2 20

UM OLHAR PARA A INFÂNCIA:


NOSSA E DE NOSSOS PAIS 25

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 3 29

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 4 32

A EDUCAÇÃO DO SILENCIAMENTO  35

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 5 40
CONSEQUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO QUE RECEBEMOS 42

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 6 43

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 7 47

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 8 50

PRATICANDO UMA CRIAÇÃO CONSCIENTE...  55

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 9 58

PARA NÃO REPETIR A MESMA HISTÓRIA 61

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 10 67

4 PASSOS PARA UMA EDUCAÇÃO COM DIÁLOGO 72

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 11 74

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 12 78

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 13 83
ATIVIDADE TERAPÊUTICA 14 86

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 15 92

QUESTÕES POTENTES QUE


PRECISAM DE RESPOSTAS 94

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 16 96

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 17 99

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 18 102

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 19 105

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 20 108

ATIVIDADE TERAPÊUTICA 21 111

ENCERRAMENTO  114

SOBRE A AUTORA 116


Para início de conversa

V
ocê é de café ou de
chá? Pegue um dos
dois para nos acom-
panhar nesse diálogo sobre
como criar filhos emocio-
nalmente saudáveis.

Eu sou a Viviane, muito prazer. Receba um abraço, o meu


carinho e todo o meu apoio. Afinal de contas, eu vou ser a sua
companhia nesse momento terapêutico.

Se você está aqui comigo agora é porque entende que o


padrão educacional das gerações passadas não contribuiu
para que crescêssemos emocionalmente saudáveis.

De modo geral, temos dificuldades de identificar, nomear


e lidar com sentimentos e emoções conflitantes, o que causa
uma série de dificuldades relacionais e desafios existenciais.

Talvez você já tenha lido algum estudo sobre o impacto des-


trutivo de uma educação tão permeada de violências (verbais
e físicas) na nossa autoestima, autoimagem e autoconfiança.

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Adultos que somos, lidamos com as consequências disso
na nossa relação com a gente mesmo, com os outros e com
o mundo.

E, agora, desejamos encontrar novos caminhos de educar


crianças, sem repetir os padrões que fizeram parte da nossa
própria educação.

Quando nos propomos a isso, percebemos o grande de-


safio que é.

Afinal de contas, no dia a dia...

ff É o grito que escapa.

ff A paciência que fica mais curta do que se gostaria.

ff A fala atravessada.

ff O não saber o que dizer para o filho fazer o que precisa


ser feito.

ff A dificuldade de entender o que a criança quer comu-


nicar.

ff As mil dúvidas sobre o que dizer quando a criança se


comporta de um jeito inesperado ou sobre como agir
quando há um conflito a ser resolvido.

Há alternativas. Eu estou aqui não só para te dizer isso,


mas para aproximar você do que talvez ainda seja uma teoria
na sua cabeça.

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E todas as alternativas envolvem não só entender o que
fazer para não repetir esses padrões, mas principalmente
identificar e nomear as razões que levam você a escolher
educar de uma forma, mas perceber essa educação lhe es-
capando pelos dedos muitas vezes.

Porque, sim, eu sei que isso acontece com você. Sei dis-
so porque acontece em praticamente todas as famílias, em
menor ou maior grau.

Criar filhos emocionalmente saudáveis sem você mes-


ma ter experimentado uma criação que lhe permitisse ago-
ra apenas repassar esses ensinamentos é um processo. Um
processo longo, cheio de avanços, mas que nunca termina.
É um caminhar pela vida.

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E não entender esse processo é um dos grandes – se não
o maior – motivos que acionam uma imensa culpa, segundo
as mães e pais que participam dos meus cursos e atendi-
mentos relatam.

Foi buscando cuidar e dar respostas significativas a esse


sentimento de culpa que as famílias traziam, que iniciei uma
pesquisa voltada para entender o seguinte...

Como uma geração que cresceu...

ff Ouvindo gritos,

ff Levando palmadas corretivas,

ff Recebendo punições, muitas vezes bem severas,

ff Ouvindo o tempo inteiro que seu único direito era obe-


decer,

ff Sendo ofendida e insultada quando errava.

Como essa geração...

Pode educar crianças sem repetir os seus padrões fa-


miliares, evitando que na idade adulta enfrentem os mes-
mos problemas emocionais que desafiam os adultos que
somos agora?

Essa foi a pergunta que norteou a pesquisa que desen-


volvemos no Instituto TeApoio, nos últimos anos.

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A resposta a ela deu origem ao nosso método exclusivo
de educação parental, que intitulamos Criação Consciente.

O método virou referência ao se tornar um curso de Cer-


tificação profissional formador de educadoras e educadores
parentais que multiplicam esses conhecimentos, oferecen-
do cursos e consultorias no Brasil e no exterior.

!
A Criação Consciente nada mais é do que um método
que ajuda famílias a entenderem a razão de encontrarem
determinadas dificuldades quando estão exercendo suas
funções de mãe e pai e como superá-las a partir do
aprendizado de novos padrões relacionais.

Em cada reflexão e atividade aqui realizada, tenha a cer-


teza que você está se aproximando dessa Criação Conscien-
te, uma vez que acreditamos que ela é uma das formas de
criar filhos emocionalmente saudáveis.

Como resultado de nossa investigação, percebemos que


é muito importante dar um passo além de dizer para essas
famílias o que fazer oferecendo conhecimento apenas, uma

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vez que os conhecimentos são de extrema importância, mas
só conseguem ser aplicados quando essa família também
participa de ações que envolvam:

1. Ampliação da capacidade de reflexão sobre suas reali-


dades internas e externas.

2. Atividades terapêuticas para obter as respostas e o


equilíbrio necessários para sustentarem suas escolhas.

3. Apoio contínuo para manutenção dos resultados.

!
Esse caderno terapêutico vai fazer você transitar e
avançar nas etapas 1 e 2.

Dessa forma, acreditamos ser possível olhar e avançar


na desconstrução dos padrões de violência aprendidos e vi-
venciar a prática de uma Criação Consciente, que traga por
consequência, saúde emocional para as crianças e para a fa-
mília, como um todo.

Dito isso, quero que entenda que esse caderno nada mais
é do que uma boa conversa com finalidades educacionais e
terapêuticas.

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É por isso que estamos aqui: para fazermos uma imersão
em reflexões e atividades que vão nos guiar para um me-
lhor entendimento sobre relações humanas a partir do olhar
para a história dos nossos pais, para a nossa própria história
e para a que queremos ajudar as crianças da nova geração a
construírem.

Eu jamais poderia entregar a você um caderno terapêutico


sem dizer que a cada linha que surge nesse papel eu escuto
você me contando sobre suas dificuldades com seus filhos e,
do lado de cá, me coloco em movimento para contar a você o
que tenho aprendido sobre isso.

Os insights que surgem de experiências como essas, que


apresento para você agora, costumam ser uma das vozes
que ficam na nossa cabeça quando estamos diante de deci-
sões, por exemplo. E eu bem sei a responsabilidade que te-
nho, então, quando me proponho a contribuir para que você
crie um espaço interno de reflexão.

Tudo o que construímos na vida é resultado da forma


como nos relacionamos com algo e/ou com alguém, isso é
um grande fato.

Por isso, meu grande objetivo aqui é fazer você perceber


que a forma como se relacionaram com você afeta enorme-
mente as suas relações. Nós vamos partir desse princípio.

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E que você, naturalmente, se relaciona com filhos da for-
ma como aprendeu até passar a trazer consciência para isso
e tomar novas decisões.

Afinal de contas, pode ser diferente. Precisa ser diferente,


se desejamos que as novas gerações aprendam habilidades
emocionais e relacionais que não tivemos a oportunidade de
aprender.

Desejo que você identifique nas reflexões e atividades


que trago as suas dificuldades relacionais com seus filhos e,
também, as suas potencialidades nesse sentido.

Quero que você perceba que estamos todos no mesmo


barco, afinal de contas somos frutos da educação e da cul-
tura em que estamos inseridos e, naturalmente, passamos
para a frente o que nos é ensinado.

Que possamos, então, aprender coisas novas. E mudar a


forma como nos relacionamos a partir desses novos apren-
dizados.

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Atividade Terapêutica 1

Escreva uma carta para a criança que você foi.

Para isso, escolha uma idade entre 1 a 7 anos. Feche os


olhos por alguns instantes e mentalize a criança que você
foi, na idade escolhida. Conecte-se a essa imagem.

Em seguida, abra os olhos e comece a carta da seguin-


te forma, apenas deixando as palavras fluírem, sem pensar
muito:

Querido(a)

Agora que sou adulta quero que saiba que

15
16
17
O poder das palavras que
ouvimos e falamos

P
ara criar filhos emocionalmente saudáveis, você preci-
sará encontrar formas de manter uma boa e adequada
relação com eles.

Por essa razão, precisa ficar muito claro que o diálogo é


extremamente importante para a educação de crianças. Afi-
nal de contas, é por meio dele que os adultos responsáveis
por elas explicam, alertam, orientam, educam.

É também pelo diálogo que pais ajudam as crianças a no-


mearem o que sentem, o que pensam. E ainda usando as pa-
lavras, nós, adultos, apresentamos a nossa visão de mundo
para as crianças.

É no diálogo cotidiano que os pais ajudam as crianças a


construírem sua autoimagem e a se perceberem como seres
no mundo.

Ao dialogar, pais expressam amor ou não. Expressam res-


peito pela criança ou não. Passam para a frente seus ensina-
mentos, sua cultura.

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Saber dialogar e abordar temas em família pode ser a di-
ferença entre criar filhos emocionalmente saudáveis ou não.

Digo isso porque a violência, muitas vezes, é o recurso


usado por pessoas que até gostariam de educar com diá-
logo, mas não sabem como fazer. Não foram acostumadas.
Não foram criadas assim. Não sabem bem por onde come-
çar. E quando sabem, sentem imensa dificuldade em sus-
tentar um diálogo educativo, respeitoso e construtivo.

O que observo nos cursos que facilito é que a maior parte


dos pais que encontram dificuldade em dialogar com os fi-
lhos são pessoas que não aprenderam a conversar nas suas
famílias de origem.

Talvez esse seja o seu caso. E talvez você já tenha tam-


bém alguma consciência sobre como a forma que falavam
com você quando era criança contribuiu para as suas dificul-
dades relacionais atuais.

Por isso, esse caderno está centrado em ajudar você a


identificar as principais dificuldades que enfrenta quando
quer educar crianças sem violência, usando o diálogo como
base. Assim, o ciclo não se repete.

A ideia é perceber de onde essas dificuldades surgiram,


trazendo consciência para o passado que regeu a nossa for-
ma de nos relacionarmos e o presente e o futuro de novas
relações que desejamos construir com as crianças, possibili-
tando que as novas gerações sejam educadas de outra forma.

19
Atividade Terapêutica 2

V
ocê acabou de ler que o mundo é apresentado para
nós pelos adultos que nos criaram. São eles que no-
mearam esse mundo para a gente, nos dizendo o
que é bom, o que é ruim, o que é belo, o que é feio, o que é
seguro, o que não é. E por aí vai.

Quero, então, que você faça 2 desenhos a partir dessa in-


formação:

“Os adultos que me criaram apresentaram o mundo


para mim a partir da forma como podiam perceber esse
mundo de acordo com suas realidades”.

20
Desenho 1: Faça uma representação do mundo apresen-
tado a você pelos adultos que a criaram. Não pense se está
certo ou errado. Apenas dê forma ao que vier.

21
Desenho 2: Agora faça uma representação do mundo que
você deseja apresentar às crianças que fazem parte da sua
vida, sejam filhos, alunos etc.

22
Não avance antes de olhar com gentileza e cuidado para
os dois desenhos. E perceber semelhanças e diferenças en-
tre eles.

Se desejar, escreva o que está sentindo ao olhar para os


dois desenhos.

Quando olho para os dois desenhos, a primeira


coisa que sinto é...

23
24
Um olhar para a infância:
nossa e de nossos pais

E
u comecei esse caderno terapêutico dizendo que
essa será uma boa conversa sobre relações huma-
nas. E eu quero chamar para esse papo agora a crian-
ça que você foi.

Porque a experiência me mostrou que absolutamente


ninguém consegue repensar a forma de educar crianças
sem antes entrar em contato com os ensinamentos recebi-
dos pela criança que foi e que, naturalmente, ainda regem
os seus padrões relacionais.

Sendo assim, a primeira pergunta que eu quero que você


se faça é:

“Como foi que aprendi a me relacionar com as pessoas da


forma como me relaciono hoje?”

25
26
27
Fique com esse questionamento apenas na mente, por ora.

Ofereço a você companhia na busca dessa resposta po-


tente, capaz de te ajudar a aproveitar essa experiência ple-
namente, entendendo que a forma como você se relaciona
hoje foi aprendida e tem uma função na sua vida.

Logo, para se relacionar de outra forma é necessário


aprender essa outra forma e dar nova função ao seu proces-
so de falar e ouvir.

Eu sei que está ficando um pouco mais complexo, então


antes de continuarmos esse papo, quero lhe contar uma his-
tória que não é a sua, mas bem que poderia ser.

Aproveite, então, a potência terapêutica de uma boa his-


tória.

28
Atividade Terapêutica 3

S
ua tarefa agora é observar e absorver da forma como
puder essa história, que vou dar o título de: Uma his-
tória que poderia ser a sua.

Bianca era a mais velha de três irmãos. Seu pai era um ho-
mem calado e de gestos rudes. Sua mãe era amorosa e sub-
missa. Vivia sobrecarregada entre os afazeres da casa e a
roupa que lavava para fora, para ajudar na despesa da casa.

Cresceu ouvindo frases como:

ff “Ande logo, me ajude!”, dizia a mãe.

ff “Filha menina tem que ajudar a mãe!”, dizia o pai

ff “Faz isso para mim”, diziam os irmãos.

Bianca foi a primeira da família a fazer uma faculdade


porque queria estimular os irmãos a fazerem o mesmo.

Arranjou um bom emprego para dar uma casa melhor para


os pais.

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Casou-se com uma boa pessoa para ser um bom exemplo
para a família.

Foi mãe aos 21 anos porque o marido não podia mais espe-
rar para realizar o sonho da paternidade.

Bianca vivia para os outros. E de tanto viver assim, acabou


esquecendo que ela mesma tinha necessidades que precisa-
vam ser identificadas e atendidas para que fosse feliz.

No casamento, começou a ter problemas com o marido.


Achava ele tão rude quanto seu pai. Gostaria que fosse mais
carinhoso, que não dissesse certas coisas que a magoavam,
que levasse em consideração sua opinião na criação da filha
que tiveram, que a entendesse e respeitasse mais.

Mas Bianca vivia para dentro. Como não fora acostumada a


pedir, jamais dizia ao marido do que precisava. Afinal de contas,
ela mesma sequer identificava com clareza.

Foi acumulando uma raiva enorme no decorrer dos anos.


Sentia-se sempre irritada e frustrada e, por isso, começou a
tratar a todos de forma mais ríspida. Parecia quase sempre
mal humorada.

Na maternidade, replicou o padrão que aprendeu: como foi


ensinada a viver para os outros, nada mais natural do que viver
para a filha, seu amor mais real e verdadeiro.

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Deixou a carreira, nunca mais estudou, não cuidava da sua
saúde como deveria, deixou de encontrar os amigos, de fazer
qualquer outra coisa que não fosse cuidar da filha.

Quando a crise no casamento se agravou, quis resolver as


coisas, mas não conseguiu. Não sabia se expressar. Só tinha
raiva acumulada para oferecer. O marido, que também não ti-
nha muitas habilidades de comunicação, também não soube
bem o que falar, nem tampouco como ouvir.

O divórcio veio quando a filha de Bianca tinha 10 anos. Foi


quando ela voltou para a casa dos pais.

E para quem esperava um final feliz, vou ficar devendo des-


sa vez.

A história termina aqui: com a filha de Bianca crescendo. E


repetindo a mesma história, com algumas modificações.

Por quê?

É o que convido você a pensar agora, lendo e refletin-


do sobre como os pais da nossa geração criavam filhos. Mas
não sem antes fazer a próxima atividade.

31
Atividade Terapêutica 4

Convido você agora a fazer um exercício de empatia com


seus pais e/ou principais cuidadores na infância.

Que fique claro: a ideia de praticar empatia aqui não está


associada a mudar seus sentimentos sobre as experiências vi-
vidas, mas sim a ampliar o olhar para o contexto de vida deles.

Quero, então, que escreva livremente sobre isso. Pensan-


do em coisas como:

ff Quanto amor receberam quando crianças?

ff O que estavam aprendendo sobre quem deveriam ser?

ff Como devia ser morar onde moravam?

ff Quais sentimentos deviam experimentar a maior parte


do tempo?

ff O quanto foram felizes?

ff E cuidados?

ff Quais traumas viveram?

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Escreva livremente sobre tudo o que puder aproximar
você de ver essa realidade com olhos mais próximos. E ape-
nas isso, ok? Sem tentar mudar qualquer sentimento, sensa-
ção ou percepção.

33
34
A Educação do Silenciamento

A
o chegar até aqui, você já deve ter percebido que
salvo raras exceções, a forma como fomos educados
não permitiu que nos conhecêssemos internamente
e aprendêssemos a lidar com sentimentos, necessidades e
limites que fazem parte de nós.

Com isso, crescemos desconectados de nós mesmos, sem


o autoconhecimento necessário para criarmos relacionamen-
tos saudáveis com a gente mesmo e com os outros.

Crescemos despreparados para a vida e seus desafios e a


cada crise nos sentimos menores e mais perdidas.

Foi assim comigo. Foi assim com a Bianca, a moça da his-


tória. E acredito que em algum ponto da sua vida, pelo me-
nos, já foi assim também com você.

E quando me dei conta que a educação que recebi fa-


lhou comigo nesse sentido – e que também havia falhado
com quase todos os que estavam ao meu redor - entendi
que precisamos urgentemente encontrar meios de abrir um
diálogo interno sincero, que nos permita encontrar a melhor
versão de nós mesmos.

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E por que existe essa lacuna na nossa educação?

As razões são inúmeras e as histórias individuais, claro.


Mas aqui eu quero destacar as características da educação
tradicional que a maior parte de nós recebeu.

Essa educação nos foi dada pelos nossos pais, cuidadores


e educadores, que como figuras de seu tempo, replicavam o
que aprenderam também quando crianças sobre o que era
importante para educar filhos.

A geração que nos criou tinha pouco acesso à informações


sobre as múltiplas possibilidades de educar crianças. Não ha-
via internet e nem grupo de mães e pais nas redes sociais.

Também presencialmente não havia a cultura de reunir


mães e pais para se refletir sobre aspectos educacionais da
criação de filhos e nem tampouco de se entender como fun-
ciona o cérebro da criança, por exemplo, e conhecer as suas
diversas fases de desenvolvimento, para se saber o que es-
perar e como agir em cada uma delas.

Além disso, muitas famílias eram bastante hierarquiza-


das e regidas por uma estrutura patriarcal, na qual os papeis
parentais eram definidos pela máxima “Manda quem pode,
obedece quem tem juízo”. Máxima essa que não abre espaço
para o diálogo, para acordos, para a igualdade de responsa-
bilidades e de direitos.

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Muitos de nós fomos silenciados na infância, como con-
sequência. Não podíamos dizer o que sentíamos. Não podí-
amos dizer o que pensávamos. Dizer o que queria era uma
ofensa. Dizer não era a violação máxima da regra que crian-
ças não tem voz e nem vez.

Só que crianças sentem. E pensam. E querem. E tem limi-


tes que quando rompidos, causam dor física e/ou emocional.

Há consequências em ser um sujeito que sente, pensa,


quer e tem limites e ser tão reprimido por uma cultura e,
consequentemente, uma educação que não dialogava com
a infância e suas necessidades.

E é a partir da infância que vamos aprendendo a nos re-


lacionar com a gente mesmo, com os outros e com o mundo.
Imersos nessa educação que recebemos, portanto, fomos
internalizando padrões relacionais bastante escassos, reple-
tos de precariedades.

Entenda que pensar sobre isso não significa olhar para a


educação que você recebeu e culpar os seus pais ou macu-
lar a sua relação de gratidão por tudo o que recebeu deles.

Muito pelo contrário: é importante percebermos que as


entregas dos adultos para nós eram permeadas do que se
esperava que eles fizessem para que crescêssemos e nos
tornássemos boas pessoas, numa época de tão pouco aces-
so a informações.

37
E agora que você é adulto e faz parte de um grupo de
pais e mães de outra geração, não faz mais sentido ter tão
poucos recursos educacionais, que sempre envolvam vio-
lência física e/ou emocional.

!
Ao chegar nesse ponto, sinto necessidade de dizer a você
que sinto muito, se ao ler o que acabei de escrever, você
pensou: “Esse não é exatamente o meu caso. Não, meus
pais não eram apenas pessoas bem intencionadas tentando
cuidar de mim da melhor forma possível e replicando a
educação de sua época”. Todo o meu carinho e respeito a
você, leitor ou leitora, que consegue reconhecer e validar
os abusos que sofreu, cuidar das feridas emocionais que
ficaram e criar filhos de forma respeitosa e saudável.

Eu quero continuar esse papo, chamando de volta o


exemplo que eu trouxe da história da Bianca para tratar um
pouco das consequências de uma educação com violência.

Mas, oras, se eu estou aqui porque quero educar com diá-


logo, sem violência, para que cresçam emocionalmente sau-
dáveis, então por que razão eu teria que pensar nas conse-
quências de uma educação violenta? Talvez você pense.

38
Porque se você está buscando essa Criação Consciente,
vai esbarrar na principal dificuldade que adultos da nossa
geração enfrentam e que diz respeito a entregar aos filhos o
que não receberam.

Porque, você sabe, é muito possível que o diálogo não te-


nha sido o recurso principal de educação no seu lar de origem.

E que, por isso, toda a teoria que você já leu nos livros e
viu nos cursos que ensinaram técnicas a você não contribu-
íram tanto quanto você esperava por uma razão muito sim-
ples e dolorosa: você não conseguiu aplicar. Não sem antes
fazer uma busca pessoal, que envolvesse algum trabalho te-
rapêutico.

39
Atividade Terapêutica 5

Vou convidar você a fazer uma visualização agora.

Coloque uma música tranquila, que faça você se sentir


bem. Preferencialmente, algo instrumental. Respire de for-
ma lenta e suave por pelo menos 3 vezes.

E comece a imaginar que você está num local muito agra-


dável. Pode ser qualquer lugar que faça você se sentir bem,
desde a sua própria casa até uma praia, por exemplo.

Imagine que você encontra nesse lugar uma outra ver-


são sua.

Você a recebe com carinho e gentileza. Olha nos seus


olhos e afirma:

ff Você é capaz de construir a sua própria história.

ff Você tem plena capacidade de se tonar a pessoa que


gostaria de ter ao lado, quando era criança.

ff Eu acredito em você e estou buscando recursos para


fazermos isso com gentileza e cuidado.

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Imagine, então, que vocês se abraçam e se tornam uma
só pessoa, integrando as duas partes. Se outras frases vie-
rem a sua mente, apenas as diga.

Respire novamente de forma consciente. E abra os olhos


ao final.

Como se sente? Espero que muito bem.

41
Consequências da
educação que recebemos

P
ara pensarmos nas consequências de uma educa-
ção sem diálogo, tenho uma proposta. Vamos fazer
um exercício de empatia com a Bianca. Isso mesmo, a
moça da história que contei.

Eu quero que nesse momento você pense na Bianca


criança, filha, irmã, estudante, profissional, mulher, esposa,
mãe. Pense em Bianca como ser integral que é e faça a ati-
vidade a seguir.

42
Atividade Terapêutica 6

E
screva: Do que você acha que a Bianca precisa? Quais
são as necessidades dela em cada um dos papeis que
ocupa? Faça uma lista que represente a sua resposta,
ok? Anote tudo o que lhe vier, sem se preocupar se está cer-
to ou errado.

43
44
O que você respondeu?

Eu também fiz esse exercício e respondi que Bianca pre-


cisa de amor, escuta, acolhimento, reconhecimento.

Bianca precisa ser valorizada, abraçada, entendida. Bian-


ca precisa aprender o que ainda não sabe.

Bianca precisa de ajuda.

Agora responda: Você – que não é a Bianca e não vive a


mesma história – consegue perceber que o que ela precisa é
o mesmo que você precisa para se sentir feliz e em paz?

Veja a sua resposta, a lista que fez, e pense: essas tam-


bém são necessidades minhas?

Pois bem. Segundo Marshall Rosemberg – meu mestre,


minha principal referência de trabalho - todos nós temos ne-
cessidades humanas básicas e Universais.

Isso mesmo: eu, você e aquela pessoa que sequer sabe-


mos que existe precisamos basicamente das mesmas coisas.

E mais: cada uma das nossas ações, cada coisa que fa-
zemos é uma estratégia para atender a uma ou mais dessas
necessidades. E isso inclui a forma como nos comunicamos.

E essa comunicação – que é a estratégia para eu conse-


guir o que eu quero - pode ser uma expressão consciente do
meu desejo, do que quero cuidar ou não. Simples assim.

45
Mentira, não é simples. Eu sei, é bastante complexo. Mas
vou dar um exemplo para que você entenda melhor.

Exemplificando...

Vamos voltar para a história da Bianca. Vou te contar um


dia da vida dela.

Então, voltemos ao poder terapêutico de uma boa história.

46
Atividade Terapêutica 7

Conecte-se à história a seguir.

Bianca trabalhava muito e quase não conseguia pegar a


filha na escola. Um certo dia, saiu mais cedo do trabalho para
fazer-lhe uma surpresa.

Precisou negociar com o chefe sobre fazer algumas horas


extras, mas estava feliz porque ia compensar ver o rostinho fe-
liz da filha e ir conversando com ela por todo o caminho para
casa.

Quando chegou na escola mais cedo, foi recebida pela fi-


lha da seguinte forma:

- Ahhhh, mãe! Logo hoje você veio? Eu tinha combinado de


brincar mais um pouco com a Lia! Que droga!

Bianca ficou enfurecida e respondeu:

47
- Você vai para casa comigo agora! Sem mais brincadeiras,
por hoje! Onde já se viu? Eu saí mais cedo do trabalho para
você me responder desse jeito?

E seguiram as duas chateadas para casa.

O que houve com Bianca e a filha?

A necessidade da Bianca era receber amor da filha, ser


reconhecida pelo esforço que fez de sair do trabalho cedo
para estar com ela.

Ao ter essa necessidade não atendida, Bianca se frustrou


e para dar vazão a essa frustração falou:

- Você vai para casa comigo agora! Sem mais brincadeiras,


por hoje! Onde já se viu? Eu saí mais cedo do trabalho para
você me responder desse jeito?

E conseguiu o que queria? Não... porque usou a nos-


sa comunicação tradicional, que não parte do princípio de
que precisamos primeiro entender o que acontece no nosso
mundo interno, para depois falarmos sobre isso.

E essa falta de consciência não gera conexão. Por isso as


duas foram para casa chateadas.

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Já aconteceu algo parecido com você e seus filhos, tenho
certeza.

Digo que a forma como ela se comunicou não foi eficaz


porque aqui vamos admitir o seguinte: não há eficácia sem-
pre que eu, ao me comunicar, apenas dou vazão a um senti-
mento conflitante ao invés de dar voz às minhas necessida-
des não atendidas, aos pedidos que preciso fazer, à conexão
que eu quero gerar para me sentir bem, amada, em paz.

E ao escrever isso, eu quase escuto você questionando:


se não é eficaz, por que passamos a nos comunicar assim ao
longo dos anos? Por que nos comportamos dessa forma?

A resposta é bem simples: porque foi assim que apren-


demos na convivência com os que nos criaram.

Em outras palavras: aprendemos dessa forma. Por isso


nos comunicamos assim. Por isso, nos relacionamos assim.
Necessário, então, se faz questionar essa forma de se comu-
nicar, de se relacionar e substituir velhos padrões por novos,
mais saudáveis, mais alinhados com a forma como você gos-
taria de se relacionar consigo mesmo(a) e com seus filhos.

49
Atividade Terapêutica 8

F
eche os olhos por alguns instantes e pense no último
conflito familiar que você vivenciou com seu filho(a).
Tente relembrar a situação detalhadamente, do come-
ço ao fim. Resgate os sentimentos que surgiram, as sensa-
ções. Tudo o que conseguir.

Quando tiver lembrado desses detalhes, abra os olhos e


responda:

A. Quais necessidades minhas não estavam sendo aten-


didas naquele momento?

Exemplo: eu precisava de colaboração e não tive.

50
B. Como eu reagi ao não ter minhas necessidades aten-
didas? Como me comuniquei?

Exemplo: Gritei com as crianças e as fiz se sentirem cul-


padas, dizendo que trabalho demais e elas não se importam.

51
C. Se eu fosse falar somente sobre minhas necessidades,
fazendo pedidos claros e possíveis, como eu poderia
ter me expressado?

Exemplo: Os brinquedos estão espalhados. Preciso de


ajuda aqui. Eu guardo esse e você guarda o restante porque
estou muito cansada para guardar sozinha. Preciso de ajuda.

52
53
Você vai reparar, por exemplo, que ao invés de ofender e
ameaçar, você pode usar uma comunicação direta, que co-
munique suas necessidades e não seja um ataque pessoal.

Por exemplo:

Ao invés de..

ff “Você é muito bagunceiro”.

ff “Eu já falei mil vezes, mas você parece surda”.

ff “Se não guardar os brinquedos, você vai ver só”.

Você pode descrever a situação e fazer um pedido para


expressar o que você precisa. Dessa forma:

“Os brinquedos estão espalhados. Precisam ser guarda-


dos antes do jantar”.

Mas agora voltando para a história de Bianca...

Se ficou difícil imaginar como ela poderia ter comunicado


a sua necessidade ao invés de apenas dar voz à sua frustra-
ção, vamos pensar em alternativas...

54
Praticando uma Criação
Consciente...

Para ter a sua necessidade atendida, Bianca poderia falar


algo como:

- Filha, eu saí mais cedo do trabalho porque queria muito


passar um tempo com você (necessidade). Será que a brinca-
deira com a sua amiga pode ficar para amanhã? (pedido) É
que hoje é muito importante para mim passarmos mais tempo
juntas (necessidade).

Pronto. Necessidade identificada e comunicada. Pedido


feito para que o outro possa ter a oportunidade de entender
como você precisa ser atendida. Oportunidade de conexão
estabelecida.

E com isso a criança ia dizer sim e sair sorrindo, feliz para


casa? Não sabemos. Afinal de contas, nessa situação ela te-
ria duas opções: conectar-se com o pedido da mãe e ir para
casa com ela ou continuar a olhar para a sua própria neces-
sidade – que era brincar um pouco – e comunicá-la. E se o
fizesse, a conversa continuaria.

55
Voltamos à estaca zero, talvez você pense. E é aí que se
engana. Educar de forma consciente para criar filhos emo-
cionalmente saudáveis tem a ver com entender que a comu-
nicação que me aproxima da criança e resolve problemas
precisa ser clara, amorosa e assertiva sempre, independente
de você ser atendida de imediato ou não.

Então, repetindo e complementando...

Quando nos propomos a praticar uma Criação Consciente


para criar filhos emocionalmente saudáveis, precisamos levar
em consideração que todos nós temos necessidades, como já
dizia Marshall Rosemberg. E, sim, isso vale para crianças.

Cada uma das nossas ações, cada coisa que fazemos nes-
sa vida é uma estratégia para atender a uma ou mais dessas
necessidades. E isso inclui a forma como nos relacionamos.

Normalmente, quando nossas necessidades não são aten-


didas, nos ressentimos e nos comunicamos de forma nada ou
pouco eficaz. O que gera ainda mais ressentimentos, desen-
tendimentos e desconexões.

Isso acontece com você, adulto. E acontece também com


as crianças.

Necessário se faz identificarmos quais necessidades são


essas e comunicarmos cada uma delas de forma clara, ge-
rando entendimento, conexão, relações saudáveis.

56
Na relação com filhos, é importante também pensar que
nessa fase as crianças não têm recursos neurológicos e lin-
guísticos suficientes para dizer claramente o que precisam.

Então, comunicam isso com seus comportamentos. E


quanto mais o adulto consegue ter essa noção de que o
comportamento é pura comunicação, mais avança na prá-
tica de uma Criação Consciente e, consequentemente, mais
saúde emocional é gerada.

E o que isso tudo tem a ver com aquela pergunta que eu


fiz lá no início: Por que a história da Bianca se repetiu com a
sua filha?

Porque passamos a vida sem identificarmos essas neces-


sidades, sem assumirmos cada uma delas e sem conseguir-
mos comunicá-las, gerando conexões. Bianca criou a filha
replicando o padrão que aprendeu.

57
Atividade Terapêutica 9

F
alamos tanto sobre necessidades nas últimas páginas.
Agora chegou a hora de entrar em contato com as suas.
Então, vamos relembrar algumas coisas.

Você está aqui porque...

1. Quer criar filhos emocionalmente saudáveis.

2. Percebe que não consegue manter as escolhas educa-


cionais que faz como gostaria.

3. Deseja encontrar sua melhor versão para oferecer ao


seu filho.

4. Quer entrar em contato com questões que estejam im-


pedindo que você consiga avançar nisso.

Itens relembrados, escreva livremente uma resposta para


as seguintes perguntas:

58
1. Desde a minha infância até aqui, quais foram as coisas
que tanto precisei e me foram negligenciadas, fazen-
do com que eu enfrentasse as dificuldades que tenho
agora?

59
2. Como eu, adulta que sou agora, posso cuidar de ofere-
cer a mim mesma essas coisas que preciso tanto?

60
Para não repetir
a mesma história

C
hegando aqui, você já entendeu que para criar filhos
emocionalmente saudáveis, diálogo é fundamental.
E que você, provavelmente, enfrenta dificuldades
relacionais justamente por não ter tido uma educação ade-
quada nesse sentido.

Por essa razão, daqui em diante vou focar nesse assunto:


diálogo. Porque eu acredito que o primeiro passo é entender
melhor como a forma como você se comunica afeta as suas
relações. Sem passar por esse momento de reflexão e aná-
lise não há técnica que você aprenda e consiga sustentar e
aplicar com as crianças.

É por isso que a proposta aqui é apresentar a comunica-


ção consciente como um caminho possível de se relacionar
com seus filhos e educá-los. Mesmo quando não estou no-
meando como “comunicação consciente” e apenas me refe-
rindo a educar com diálogo é sobre isso que estamos tratan-
do aqui o tempo inteiro.

61
!
A Comunicação Consciente é um método de educação
parental voltado para contribuir para que famílias
consigam se relacionar melhor a partir de mudanças na
forma como se comunicam.

Para contribuir para a prática dessa comunicação, as


educadoras parentais certificadas pelo Instituto TeApoio
facilitam uma atividade intitulada ´”Árvore Relacional”.

Tudo o que vamos fazer, então, agora é pensar na consci-


ência como caminho para a não repetição de padrões.

Eu vou escrever uma frase. Você vai ler e identificar o que


você pensa imediatamente ao lê-la. A frase é: “Vânia está in-
consciente”.

No que você pensou quando leu? Imaginou Vânia desa-


cordada? Vânia sem conseguir entender bem o que se passa
ao seu redor? Vânia sem conseguir dizer o que sente e do
que precisa?

Imagino que essas coisas tenham passado pela sua ca-


beça. Porque é exatamente assim: quando pensamos em al-
guém que perdeu a consciência, logo imaginamos que essa

62
pessoa não está em condições ideais de conduzir a sua vida,
sabendo bem o que faz.

É necessário, em primeiro lugar, refletirmos sobre a in-


consciência que muitas vezes rege a forma como nos rela-
cionamos.

Aprendemos a nos relacionar lá na infância, observando


e interagindo com a nossa família de origem. O lar foi o nosso
primeiro campo de aprendizado sobre comunicação.

Então, fomos absorvendo o que nossa família fazia.

Se é no grito que se consegue coisas, ok. Vamos gritar.


Afinal, queremos conseguir coisas, como todo mundo.

Se é ofendendo o outro que se expressa sentimentos, ok.


Vamos lá ofender o outro sempre que um sentimento con-
flitante como raiva ou irritação, por exemplo, tomar conta de
nós. Afinal de contas, precisamos expressar o que sentimos,
para não guardarmos tanta coisa dentro da gente.

Se é fazendo o outro se sentir mal, que faço ele entender


que preciso que mude o seu comportamento comigo, ok.
Vamos caprichar nos rótulos, nas ofensas e nos julgamentos
para garantirmos que aquela atitude não se repetirá. Afinal
de contas, precisamos colocar limites.

Esses são apenas alguns exemplos.

63
E se foi assim que aprendeu, isso significa que você faz
parte da grande maioria de pessoas que foi criada por pais
e/ou cuidadores que multiplicaram o que também apren-
deram quando crianças, replicando a cultura tão permeada
de violência na qual estamos todos inseridos.

Naturalmente, então, aprendemos em casa a nos comu-


nicar e, consequentemente, a nos relacionarmos.

Saímos de casa e percebemos que o mundo lá fora não


era muito diferente. Nossa cultura foi lá e confirmou: é assim
mesmo que se comunica, movimentando toda essa carga de
desconexão e violência.

Só que as nossas relações não vão bem. Nós quería-


mos ter mais paz no casamento, mas a cada divergência
um campo minado se cria. Nós queríamos não gritar com
as crianças, mas a rotina pesada de educar filhos faz a paci-
ência ficar tão curta, que parece que o grito é a única saída.

Nós queríamos conversar com o vizinho para resolver o


problema, mas parece que a cada palavra dita outros no-
vos problemas são criados. Nós queríamos pedir ao colega
de trabalho que não faça mais aquilo que nos chateia, mas
quando vamos conversar sobre isso, parece que ele não en-
tende e só fica mesmo é magoado.

É muita desconexão. E a partir dessas desconexões, mui-


ta dor é gerada. E precisamos lidar com toda essa carga de
falta de saúde emocional.

64
E continuamos por aí, nos comunicando de forma incons-
ciente. Ou seja, apenas replicando o que aprendemos. Sem
buscarmos novas formas de entendermos as nossas dificul-
dades de comunicação e encontrarmos caminhos para man-
termos relações melhores e mais saudáveis.

E para criar e manter relações melhores, é preciso que


antes de tudo nos tornemos pessoas melhores. É exatamen-
te nesse ponto que quero inserir a palavra “consciência”.

Consciência nada mais é do que compreender o que se


passa no nosso mundo interior em cada vivência que expe-
rimentamos.

Trazer consciência para essa relação que você estabele-


ce com seus filhos, portanto, pressupõe que você deseja se
tornar uma pessoa que entende que para criar filhos emo-
cionalmente saudáveis é necessário entrar em contato com
a carga emocional que é acessada em você todas as vezes
em que interage com a sua criança.

É essa carga emocional que vai ajudar você a se conectar


com seu filho ou bloquear essa conexão. Guarde bem essa
informação.

Acontece com todo mundo. Ao interagirmos com o outro,


ele vai despertando gatilhos em nós.

Esses gatilhos podem ser dores, tristezas, mágoas, decep-


ções, medos e toda uma sorte de sentimentos conflitantes.

65
Imagine que, por exemplo, você sofreu muita violência
física na infância. Seus pais batiam muito em você e os sen-
timentos e emoções dessa vivência ainda fazem parte de
você, naturalmente.

De repente, seu filho de 2 anos lhe dá um tapa inespera-


do. Você reage instintivamente dando um grito alto ou de-
volvendo-lhe o tapa. Você não queria ter reagido dessa for-
ma e se sente péssima. Por que será que teve essa reação
tão forte?

Fazendo uma imersão em si, é possível que passe a en-


tender que você alimentou durante os anos um medo enor-
me de passar por situações de violência de novo. E quando
o seu filho lhe bate, esse medo inconsciente é acessado e
você tem uma reação desproporcional ao que vivenciava no
momento presente.

Ao entender isso, você ganha consciência da sua reação. E


pode racionalizar e cuidar dos seus aspectos emocionais que
foram afetados ao passar por aquela situação.

66
Atividade Terapêutica 10

Pense agora em algo que o seu filho fez que lhe desper-
tou uma emoção muito forte, fazendo com que você reagis-
se de forma desproporcional.

Descreva detalhadamente a situação, respondendo às se-


guintes questões:

1. O que o meu filho fez?

67
2. Como interpretei a ação dele?

68
3. O que senti quando atribuí essa interpretação ao que
ele fez?

69
4. Existe a possibilidade da minha interpretação estar
errada?

70
E, bem, eu já te adianto que você precisa responder que
sim, na última questão. Porque sempre existe a possibilidade
de estarmos erradas. E isso acontece por um motivo muito
simples: lemos as atitudes dos outros com toda a nossa pró-
pria carga de dificuldades emocionais.

Então, muitas vezes, uma criança que vira um copo de


suco o fez por distração apenas. E não porque quer estragar
o seu dia.

Uma que não faz as tarefas da escola está apenas cansa-


da e acha aquilo muito chato. O que não significa que ela é
folgada e preguiçosa.

E por aí vai, percebe? Precisamos perceber.

71
4 passos para uma
educação com diálogo

Criar filhos emocionalmente saudáveis é um ato de resis-


tência e de amor.

É um ato de resistência porque vivemos numa socieda-


de que, essencialmente, acredita que a educação das crian-
ças precisa ser punitiva. Que somente assim elas aprendem.
Uma sociedade fruto da educação punitiva que regeu as ge-
rações passadas, com todas as consequências que são vivi-
das quando se nomeia tapas como amor, por exemplo.

“Faço isso porque te amo” facilmente faz uma criança


crescer e se tornar um adulto que quando tem filhos deseja
demonstrar amor replicando uma violência, que nem perce-
be como tal. Afinal de contas, não era amor?

O fato é que quem deseja criar filhos emocionalmente


saudáveis já percebeu que não precisa que seus filhos apenas
sobrevivam à ignorância da nossa cultura violenta, que não
sabe bem lidar com crianças, seus sentimentos, suas limita-
ções naturais da idade e suas necessidades.

72
Ainda assim, esbarram muitas vezes no seu próprio des-
conhecimento sobre como dialogar com crianças e nas suas
próprias feridas emocionais, que são acessadas na interação
com os filhos e parecem criar um abismo entre a vontade de
fazer diferente e a realidade da convivência no dia a dia.

Isso acontece porque, lá na sua infância, era uma vez uma


criança que vou descrever na história a seguir.

73
Atividade Terapêutica 11

A
penas entre em contato com a história a seguir. Ima-
gine que estou ao seu lado, contando ela carinhosa-
mente para você.

Era uma vez...

Uma criança ferida que cresceu achando normal negarem


seus sentimentos mais dolorosos. Afinal de contas, sempre ou-
viu que tudo o que mais lhe doía desde o ralado no joelho até
a pele em carne viva não era nada e ia passar logo. Às vezes
não passava. Quase sempre não passava.

Uma criança que cresceu achando normal acreditar que


não sabia o que fazer e que apenas os adultos tinham as res-
postas seguras e corretas. Afinal de contas, sempre ouviu con-
selhos não solicitados sobre tudo o que precisava fazer para
resolver desde a briga no colégio até as suas próprias ques-
tões internas.

74
Era uma vez...

Uma criança que cresceu acreditando que as outras crianças


eram melhores que ela. Afinal de contas, desde a nota da escola
até ser uma boa filha, um bom filho, sempre havia uma criança
que podia fazer (e fazia!) melhor do que ela.

E essa criança era você. E também era eu. E também era


todas as outras crianças da nossa geração.

Crianças que fomos e que precisam ser acolhidas e ouvi-


das pelos adultos que nos tornamos.

Vamos, então, entender quais são os 4 passos para que


adultos possam partir do acolhimento dessa criança que fo-
ram, tornando-se adultos conscientes de suas histórias e das
mudanças que estão implementando.

E, novamente, eu vou convidar você a pensar nas suas di-


ficuldades relacionais e identificar e repensar a forma como
você se comunica.

75
Passo 1: Entender que você tem
dificuldades relacionais

É importante sair do “a culpa é sempre do outro” para “o


que posso fazer para me relacionar melhor?”.

Esse é um grande passo para se tornar um pai ou uma


mãe consciente.

Você vai reparar que eu sempre falo de dificuldades rela-


cionais de modo geral, mesmo tendo como foco aqui trazer
exemplos da relação com a criança.

Faço isso porque a prática me mostrou que nenhum adul-


to tem uma dificuldade relacional específica com a criança.
O adulto simplesmente tem aquela dificuldade e ela apare-
ce muito quando ele está lidando com filhos, mas também
se apresenta nas suas outras relações.

Por exemplo, se a sua grande dificuldade com a criança é


conter os gritos que você dá por conta da irritação que sente
quando ela não te obedece, pense se essa irritação também
não surge sempre que alguém faz o que deseja e não o que
você pediu. Talvez você não grite com seu chefe porque não
possa, mas a irritação que surge é a mesma.

É possível que você tenha dificuldade de entender que o


outro é um ser com direitos e vontades também. E que muitas
vezes esses desejos e vontades irão numa direção contrária

76
dos seus próprios desejos e vontades e que por mais que seja
chato e difícil lidar com isso, não se trata de uma ofensa pes-
soal ou de alguém medindo forças com você. Trata-se apenas
de uma pessoa exercendo o seu direito de existir, seja ela um
ser humano pequeno ou um ser humano grande.

Quando pensamos na relação de adultos com crianças


nossas dificuldades relacionais podem passar pela noção de
que “se a criança reagiu mal ao que eu pedi, minha comuni-
cação não foi eficaz”, por exemplo.

E muitas vezes não é bem assim, pois comunicação pres-


supõe uma relação entre duas partes e essas partes têm ne-
cessidades diferentes, muitas vezes, o que pode gerar diver-
gências naturais e frustrações de toda a sorte.

É claro que o adulto precisará pedir muitas coisas que


tem que ser atendidas pelas crianças para que elas estejam
bem e seguras. Mas mesmo essas coisas podem ser ditas
num diálogo aberto e respeitoso. E tudo bem se a criança se
frustrar. Crianças podem – e vão – se frustrar.

Melhor ainda: crianças podem sentir o que há para sentir.


Isso, inclusive, é um pressuposto da educação emocional. E,
veja bem, não vale só para crianças.

E isso só vai virar um grande problema se você não sou-


ber que o seu papel não é nunca causar frustração, mas sim
lidar de forma respeitosa com uma criança frustrada, dando
a ela o direito de sentir o que há para sentir.

77
Atividade Terapêutica 12

F
aça uma avaliação sobre a forma como costuma lidar
com os sentimentos dos seus filhos. É possível que
você coloque mais empenho em fazer a criança deixar
de expressar seu sentimento por ser incômodo do que aco-
lhê-la? É possível que faça isso porque não consegue lidar
com os próprios sentimentos que lidar com os sentimentos
alheios traz? Escreva livremente sobre isso, trazendo suas
percepções para o papel.

78
79
Feito isso, vamos para o segundo passo.

80
Passo 2: Identificar quais
dificuldades são essas

Muitas vezes é mais fácil identificarmos as dificuldades


dos outros. “Meu marido fala grosseiramente”. “Minha irmã
não escuta”. “Meu filho é tão teimoso que não adianta nada
falar”. O que nos incomoda no outro fica muito visível para nós.

Mas temos uma grande impotência no que diz respeito a


mudarmos a forma como o outro se comunica. Mesmo crian-
ças que estão sob nossos cuidados respondem bem mais a
absorver a forma como nos comunicamos com elas do que
aos nossos pedidos de “fale desse jeito ou de outro”.

Podemos, então, apenas mudar a forma como nos co-


municamos, como nos relacionamos com o outro. Para isso,
precisamos identificar quais são as nossas dificuldades de
comunicação.

Então, se meu marido é grosseiro, preciso pensar se te-


nho conseguido colocar limites que me protejam desse as-
pecto de sua personalidade, tão difícil de lidar.

Se minha irmã, não escuta, preciso pensar se o que falo e a


forma como falo está contribuindo para o outro colocar mais
energia em me silenciar do que em me ouvir.

81
Se meu filho é teimoso, preciso pensar se o que ando pe-
dindo para ele está claro e se fere suas necessidades pes-
soais e o quanto posso respeitá-las sem isso influenciar na
rotina da casa e na saúde e segurança de todos.

Não se trata de tomar toda a responsabilidade para você,


acreditando que a comunicação com o outro não flui porque
você é o problema. Trata-se de olhar para a situação e se co-
locar em movimento para modificá-la, sempre que possível.

Alguns exemplos de dificuldades de comunicação com


crianças:

Não saber dizer não: “Eu acabei deixando ele ir porque


não consegui fazê-lo entender que não podia”.

Corrigir ofendendo: “Você fica muito feio quando se com-


porta assim”.

Dificuldade de lidar com a criança quando ela está em


crise emocional: “Engole esse choro agora!”

Usar uma linguagem punitiva: “Se você não descer daí,


vai apanhar”.

Estimular sentimentos conflitantes para ser atendido:


“O bicho vai te pegar se você for até lá”.

82
Atividade Terapêutica 13

F
aça um exercício de empatia com seus filhos agora,
respondendo à seguinte questão: Por que pode ser tão
difícil para eles me ouvir?

Tente ser bem detalhista e pensar em características e


comportamentos seus que facilitem o bloqueio dessa escuta.

Exemplos: falar muito alto, pedir atenção quando eles es-


tão num momento de lazer, estar sempre sem paciência, as-
sustá-los, ameaçá-los etc.

83
84
Passo 3: Saber de onde essas
dificuldades surgiram

Talvez você tenha se tornado uma pessoa explosiva por-


que na sua casa só ouviam você quando um grito era dado.
Ou talvez você tenha aprendido que não expressar senti-
mentos é uma forma de não contrariar ninguém e isso, por
muito tempo, pareceu uma ótima forma de garantir que você
estivesse segura.

É possível que você tenha vivido experiências que fizeram


com que acreditasse que se você disser não, poderá deixar
de ser amada. E isso fez com que você ultrapassasse muitos
e muitos limites, tentando evitar a solidão e o desamor.

Nossas experiências da infância vão nos ensinando coi-


sas e regendo a forma como nos comunicamos, como nos
relacionamos.

Uma vez que entendo, por exemplo, que não preciso mais
gritar para ser ouvido, que posso falar sobre o que sinto sem
alguém me negar esse direito. Ou ainda que posso dizer não
e colocar limites sem ser abandonada, posso, então, atuali-
zar a minha forma de ver, pensar e viver a vida e as relações.

85
Atividade Terapêutica 14

Ao ler essa parte do material, você teve algum insight so-


bre comportamentos seus? Escreva livremente sobre isso.

86
87
Passo 4: Entender a função da
sua forma de se comunicar

Você já sabe que qualquer relação que estabelecemos é


permeada por necessidades nossas e dos outros. Inclusive,
as com as crianças.

Pense no seguinte: quando você começa a namorar uma


pessoa, logo cria expectativas sobre como essa relação nu-
trirá o seu campo emocional, por exemplo.

Talvez você pense que será maravilhoso não passar mais


as noites de sábado sozinha assistindo séries. Porque para
você ter a companhia do seu parceiro numa noite de sábado
é importante.

Outra pessoa pode começar a namorar e de repente se


perceber pensando justamente o contrário: “Nossa, estou
adorando estar nessa relação. Mas sinto falta de assistir mi-
nhas séries sozinha”.

Porque somos diferentes e temos necessidades diferen-


tes. Também por isso a comunicação é tão importante: para
que o outro entenda quem somos e do que precisamos para
nos sentirmos bem naquela relação.

88
Vamos chamar a moça que está feliz porque não vai mais
ver séries sozinha de Vanessa. E a que sente falta de ver sé-
ries sozinha, de Marília. Imagine a situação a seguir.

Marília está movida pelo seu pensamento de “Hoje eu


queria mesmo era mais espaço e apenas ficar algumas horas
assistindo séries sozinha na TV”.

Mas o seu namorado – que não sabe disso – propõe um


programa a dois.

Marília começa a dar desculpas e dizer que trabalhou


muito e está cansada, torcendo para ele simplesmente dizer:
“ah, então, descanse. Nos vemos amanhã, sem problemas”.

Mas o namorado não diz. Mais do que isso, ele passa a


achar bem estranho tanto cansaço e começa a pensar que
Marília está desinteressada. Será que ela não quer me ver
hoje, para ver outra pessoa? Ele começa a pensar.

Movido por esse pensamento, sua comunicação se torna


mais desconfiada. Ele começa a dar indiretas. Marília, que só
quer ver séries, mas não comunica isso, vai ficando irritada.
E daqui a pouco um conflito começa. A interação dos dois
termina com Marília dizendo: “Eu realmente não quero ver a
sua cara hoje”.

89
Perceba que a ideia sempre foi essa: não ver o namorado
naquele dia. Mas muitas vezes não conseguimos dizer coisas
aparentemente simples, com medo de desagradar o outro.

É possível que Marília tenha aprendido algum dia que só


consegue ter espaço se provocar uma briga, se houver uma
ruptura. A função da briga foi comunicar o que ela não esta-
va conseguindo.

A briga não precisaria acontecer se lá no início ela tivesse


dito: “A gente pode se ver amanhã? Estou com muitas sauda-
des, mas tenho a particularidade de às vezes precisar passar
um tempo sozinha. Hoje estou me sentindo assim. Você pode
entender isso e estar comigo amanhã?"

Uma fala clara e totalmente focada em si, abre uma pos-


sibilidade enorme do outro entender, mesmo que a princípio
nem faça tanto sentido.

Com as crianças, uma das grandes funções da nossa co-


municação é garantir que elas estejam seguras, saudáveis e
protegidas. Queremos dizer a elas o que precisam fazer para
isso. E dizemos. Mas nem sempre da forma mais eficaz.

O que quero dizer é que você precisa entender que quan-


do você grita com seu filho, por exemplo, esse grito tem uma
função para além de mostrar ao mundo a sua braveza.

90
Talvez você tenha aprendido lá na sua infância que é só
no grito que você é ouvida, vamos imaginar assim. E movida
por essa “voz na sua cabeça”, você passa a gritar sempre que
precisa ser ouvida.

Essa é a função do grito nesse exemplo hipotético: ser


uma ferramenta para garantir que você será ouvida. Uma vez
que você entende que pode usar outras ferramentas para
ser ouvida pelos seus filhos, o grito pode ser colocado de
lado e, ainda assim, você estará garantindo que eles estejam
bem, seguros e protegidos.

91
Atividade Terapêutica 15

E
screva livremente sobre o que você sente quando per-
cebe que garantir a segurança e saúde dos seus filhos
é sua responsabilidade. Como acha que lidar com es-
ses sentimentos, tão intensos, afeta a forma como você cui-
da e faz pedidos a eles?

92
93
Questões potentes que
precisam de respostas

V
ocê lembra que logo no começo dessa nossa jorna-
da eu disse a você que o diálogo era essencial para
criar filhos emocionalmente saudáveis?

Pois então. Agora nossas atividades serão focadas em


avançarmos na busca da resposta para: “Por que eu me rela-
ciono da forma como me relaciono hoje?”. Essa é a pergunta
central para quem deseja praticar uma comunicação cons-
ciente com os filhos.

Ao se aproximar das respostas, você passa a entender


melhor a forma como você se comunica e o quanto essa co-
municação pode contribuir ou não para a saúde emocional
dos pequenos.

A partir dessa resposta, você conseguirá ter maior clare-


za do que recebeu dos seus pais, de como isso ainda rege a
forma como você se relaciona e quais mudanças você pode
fazer para criar e sustentar novos padrões relacionais.

94
Para isso, vou trazer uma atividade biográfica para você.
Trabalhar com a biografia humana consiste em buscar res-
postas para nossas inquietações e conflitos internos usando
como base um resgate de memórias sobre a nossa própria
história.

É um caminho saudável de reconexão com a nossa es-


sência. Um mergulho no passado para ressignificá-lo, mas
também para projetar o futuro.

Uma das formas de conduzir um resgate biográfico é pe-


dir a cada pessoa para resgatar acontecimentos e histórias
de vida de forma guiada. E é o que farei com você agora.

Todas as reflexões que você fez a partir do conteúdo e


das atividades desse caderno, prepararam você para chegar
exatamente nesse ponto.

Dedique-se a encontrar essas respostas e verá a sua re-


lação consigo mesma e com os seus filhos mudar completa-
mente.

95
Atividade Terapêutica 16

P
egue papel e caneta e vamos começar agora o seu
resgate biográfico. Meu objetivo aqui é ajudar você a
trazer algumas memórias da sua infância que tenham
relação com a forma como a comunicação, a conexão entre
as pessoas que faziam parte do seu cotidiano acontecia.

Primeiras memórias
Pense nas primeiras frases que vierem a sua cabeça so-
bre coisas que você ouvia na infância. Podem ser frases dire-
cionadas para você ou simplesmente coisas que você ouvia
muito.

Escreva. Registre. Sem pressa. Deixe as memórias apa-


recerem, sem julgá-las e sem se apegar a elas. É como se
nesse momento, você fosse apenas uma expectadora da
própria vida.

96
97
98
Atividade Terapêutica 17

Necessidades
O choro é a forma como a criança expressa as suas ne-
cessidades quando ainda não sabe falar. E também depois
que sabe e não consegue expressar o que quer, a criança
chora. Como o seu choro costumava ser recebido? Havia
acolhimento ou repressão? Quais são as suas memórias re-
lacionadas ao seu choro?

Registre tudo o que vier a sua mente sobre essas ques-


tões.

99
100
101
Atividade Terapêutica 18

Família
Quando você era criança...

Como você percebia a comunicação na sua família?


Havia entendimento?

Seus pais falavam sobre tudo ou muitos assuntos eram


proibidos?

Como era o tom de voz das pessoas da sua casa?

Você recebia insultos, xingamentos dos seus pais?

Havia mais punições ou mais diálogo?

Você se sentia ouvido? Compreendido?

Você era uma criança falante ou calada?

Como os seus pedidos eram recebidos?

Como os sentimentos negativos da sua família


eram expressados?

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104
Atividade Terapêutica 19

Escola

Como era a sua escola?

Você podia se comunicar livremente por lá ou havia rigidez?

Sentia-se acolhido pelo ambiente?

Como era a sua professora preferida?

E a que te amedrontava?

Sentia-se ouvido?

Conseguia se expressar sempre que precisava?

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Atividade Terapêutica 20

Amigos

Pense nos seus três melhores amigos de infância.

Como era a sua comunicação com eles?

Os seus pais sabiam sobre o que vocês conversavam?

Pense em uma briga que tenha tido com um amiguinho.


Como foi? Alguém intermediou? Se sim, como foi?

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Atividade Terapêutica 21

E
ssa é a atividade final desse caderno. Agora que resga-
tou essas memórias, entre em contato com elas mais
uma vez e responda:

O que essas memórias podem me dizer sobre a forma


como eu me relaciono com meus filhos hoje?

Quais foram os padrões aprendidos? Estou me defenden-


do de algo quando me comunico? Se sim, de quê? Estou re-
plicando uma forma de interação com o mundo que sequer
faz sentido para mim hoje?

Escreva um texto sobre isso. Com calma. Sem pressa. Esse


é o momento de você encontrar-se consigo mesma e finalizar,
com gentileza, a jornada que que fizemos juntas.

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Encerramento

E
spero que entrar em contato com as reflexões e ativi-
dades propostas tenha sido útil para você entrar em
contato com questões importantes para encontrar ca-
minhos para criar seus filhos de forma que cresçam emo-
cionalmente saudáveis, entendendo que para isso o adulto
que cuida deles precisa desconstruir padrões tóxicos e ina-
dequados de relação, que envolvem a forma como você se
comunica com eles, inclusive.

Assim, novos padrões vão sendo vivenciados em casa e


passados adiante.

Outros passos que podem ser importantes para esse pro-


cesso de desconstrução de padrões e criação de novos mais
saudáveis e adequados aos seus objetivos relacionais são:

ff Fazer curso sobre criação consciente e educação com


diálogo.

ff Realizar a leitura dos demais cadernos terapêuticos.

ff Consultoria em educação parental.

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ff Fazer parte de um grupo terapêutico contínuo.

ff Ter uma terapeuta para chamar de sua.

O Instituto TeApoio pode apoiá-la em cada uma dessas


ações. Então, entre em contato quando se sentir pronta para
aprofundar o que você iniciou.

Com carinho,

Viviane Ribeiro.

Entre em contato:

22 9921-89821

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Sobre a autora
Viviane Ribeiro é Educadora e Psicanalista.

Formada em Letras e com Mestrado em Linguística pela


UFRJ, passou a estudar a forma como a comunicação afeta
as relações humanas ainda na faculdade.

Após 15 anos de experiência na área de desenvolvimento


humano, fundou o Instituto TeApoio em 2014 e passou os úl-
timos anos desenvolvendo pesquisas e trabalhos na área de
educação parental, comunicação consciente e relações hu-
manas, criando cursos e atendimentos para pais e métodos
que são multiplicados pelas profissionais que forma.

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Conheça o Instituto TeApoio
Este material conta com o
projeto editorial da

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@elivreta

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