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um manual de
maternidade
Mais do que respostas prontas e modelos fechados, a
parentalidade exige informação, intuição e alguns dane-se.
Mina traz diversos especialistas que nos ajudam a decidir
o que é melhor para cada família
POR BÁRBARA DOS ANJOS LIMA PARA MINA BEM-ESTAR
Introdução
O que é ser uma boa mãe? Talvez essa seja uma das maiores pergun-
tas da humanidade e, com certeza, todo mundo ao seu redor tem uma
resposta para dar. Eu tenho. Seu vizinho tem. Sua chefe tem. Sua melhor
amiga também. Se você já é mãe, sabe muito bem que o que não faltam
são palpites sobre esse assunto.
Sabemos que é preciso uma aldeia para criar uma criança, mas dar palpi-
te é criar? São tantas opções que é quase impossível não se sentir perdi-
da. E é nessa hora que a gente apela para os manuais prontos. Escolhe
um e segue. Mas será que essas fórmulas funcionam mesmo?
2 Introdução
6 Capítulo 1: O Manual é pessoal e intransferível
7 Capítulo 2: O que é ser uma boa mãe na atualidade
9 Capítulo 3: Ser “uma boa mãe” não depende só de você
10 Capítulo 4: O bem-estar da mãe é fundamental
12 Capítulo 5: Como construir rede de apoio que tanto falam?
15 Capítulo 6: Tudo bem perder a cabeça às vezes
17 Capítulo 7: É importante incluir os pais nessa conversa toda
20 Capítulo 8: O desafio de criar os filhos pro mundo
22 Capítulo 9: Saúde mental: sem negligenciar e nem diagnosticar
a qualquer custo
24 Capítulo 10: Vitamina “N”: todo mundo tem que dar
“O ideal é mesclar o
conhecimento científico com o
que faz sentido para cada família”
Mayra Aiello, psicóloga
Cada mãe é uma mãe, cada pai é um pai, cada família é uma família.
E mais: cada criança dessa família é diferente. Quantas atitudes, falas,
combinados dão certo com um filho e não dão com o irmão? Ter jogo
de cintura é mais importante do que definir regras esteaticas. A head de
conteúdo aqui da Mina, Lia Bock, costuma dizer: “a coisa mais justa que
faço pelos meus filhos é tratá-los de forma diferente”. Ela tem quatro
filhos e uma enteada. Claro que é legal ter valores e princípios claros –
mas no dia a dia as ações podem variar de uma criança para a outra.
“Nem sei se o termo ‘boa mãe’ é algo que eu usaria para nortear a
minha maternidade, porque posso sentir que estou sendo boa, só que
não estou enxergando a necessidade da criança”, diz Maya Engemann,
pedagoga, educadora parental e pós-graduada em Neurociência e Edu-
cação Positiva. “Acho que, talvez, se eu quiser fazer algo bom, seria me
conhecer profundamente e conhecer profundamente a minha criança.
Porque só assim vou conseguir atender as necessidades – tanto minhas
quanto dela”.
A educadora parental Lua Barros defende que não estar 100% disponível
para os filhos é um ato de amor – a si mesma, e também aos pequenos.
“Talvez essa seja uma das missões mais difíceis, porque se expandir pelos
filhos é algo bonito e percebido como grandioso. Mas abrir espaço para
a mulher que sustenta a mãe parece menor, desimportante. Um grande
ato de egoísmo, porque ele nos coloca diante do inevitável: a importân-
cia de faltar”, escreveu em um texto aqui na Mina.
O egoísmo de ter momentos sem seus filhos – que cria essa falta mo-
mentânea para eles – vai gerar outros momentos de conexão sincera
quando vocês estiverem juntos. Afinal, serão valorizados por todos. É
um investimento na saúde mental da família no presente e também uma
contribuição significativa para um futuro mais feliz e equilibrado para as
próximas gerações. Crianças criadas por mães completas nos momentos
em que estão com elas, mas que sabem dar lugar ao seu bem-estar apren-
dem, pelo exemplo, que é preciso cuidar de si também.
Para além de olhar para criança, a rede de apoio pode e deve se voltar
também para as mães. Muito mais do que produtos ditos indispensáveis
para a criação dos filhos, o que uma mãe precisa é de afeto e cuidado. E
de gente que olhe por ela. Mas quem?
“Estar com outras mães, estar com mulheres mais velhas do que eu, mais
novas do que eu, com mais filhos, menos filhos, que não tem filhos…
Tudo isso vai me nutrir, me fortalecer, gerar pertencimento e compreen-
são. Isso vai me alimentar para eu me voltar melhor para a relação com
nossos filhos”, garante Maya.
E aqui, sim, cabe um top 5 de dicas práticas para ajudar você a construir
uma rede de apoio forte:
2. Aceite a ajuda: se você ainda não lida bem com o fato de preci-
sar de outras pessoas, essa é a hora de mudar. Aprender a receber
apoio é fundamental para construir uma rede sólida. Aquele “acho
que ofereceu só por educação”, tem que sair da cabeça. Que mal
tem aceitar uma gentileza?
Logo você, que leu tanto sobre respeitar seus filhos, que fala para todo
mundo que é contra gritos e castigos, que acredita na educação positiva…
Isso não quer dizer que você fez certo ao gritar. Quer dizer que você
pode chegar para seus filhos e usar as mesmas palavras mágicas que
ensinou a eles. “Desculpa, a mamãe não soube se expressar, obrigada por
entender. Vamos todos tentar fazer melhor da próxima vez?”.
Crescimento esse que, além de te ajudar, se reflete nos seus filhos. “Por-
que quanto mais eu me aproximo da minha autenticidade, mais as
minhas crianças terão liberdade de serem autênticas”, completa Maya.
O importante é ter a clareza de que os erros fazem parte e que podemos
aprender com eles. Sempre tendo compaixão com nós mesmas. O que é,
aliás, um ótimo ensinamento para passar para os filhos.
7.
como lidar com as emoções.
É importante incluir os
pais nessa conversa toda
Se você é mulher, trabalha e tem filhos, é provável que não precisemos
explicar o que é carga mental, mas vamos lá: o conceito fala das tarefas
invisíveis que geralmente recaem sobre as mulheres, fala do cansaço que
o planejamento, a organização e a tomada de decisões geram.
Aqui vale lembrar que vivemos em um país com alto número de pais
separados e mães solo – o Brasil tem mais de 11 milhões de mães que
criam os filhos sozinhas, segundo dados de uma pesquisa divulgada
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2023. Nesses casos, é bom
estar com a lei na ponta da língua para exigir seus direitos. O art. 229 da
Constituição, regulamentado pelo Código Civil, impõe a ambos os geni-
tores o dever “assistir, criar e educar os filhos menores”.
E por que trazer esse conceito aqui? Porque um dos grandes desafios da
maternidade é o “deixar ir”. A maternidade é uma jornada repleta de
alegrias, mas também acompanhada de medos sobre o futuro de nos-
sos filhos. Estamos falando desde aquele primeiro dia de aula (em que
muitos pais ficam mais emotivos que os filhos) até a primeira vez que o
coração deles será partido – ou até violências piores.
Respirar fundo, confiar no processo e aceitar o que não está ao seu al-
cance também ajuda. “Sei que é difícil a gente não ficar pensando no
que pode acontecer de ruim. Mas, na maternidade, a gente precisa tentar
viver no agora. Pensar em tudo que pode acontecer nos tira muito do
momento presente, sabe? E nada é mais importante do que aproveitar o
presente”, afirma Maya.
“Será que isso que meu filho faz é normal?”. A busca por respostas é
natural e tem justificativa. Em 2000, os Estados Unidos registraram um
caso de autismo a cada 150 crianças observadas. Em 2020, houve um
salto gigantesco: um caso de transtorno a cada 36 crianças. Ou seja, o
número quadruplicou. As estatísticas foram divulgadas ano passado pelo
órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Cruzando as duas coisas, vemos que tem cerca de cinco horas a menos
por semana de natureza (ou vitamina ‘N’) na vida desses pequenos. Esse
tempo, no geral, é preenchido com telas. E, se pensarmos em crianças
que têm entre seis e dez anos – para as quais a SBP limita a até duas
horas diárias de tela –, vemos que há 30 horas a mais por semana do que
o recomendado. Sim, é chocante.
“Nós, adultos, sentimos na pele como o excesso de tela atrapalha, por isso,
é preocupante pensar como muita gente parece negligenciar essa questão
e expor uma criança com o cérebro imaturo e muito mais sensível que nós
a algo que faz mal. É quase uma covardia”, afirma Thiago Rocha.