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EDUCAÇÃO FÍSICA

ADAPTADA

Juliano Vieira
Sociedade, realidade
e Educação Física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os desafios da inclusão social de pessoas com deficiência


no âmbito educacional.
 Descrever as possibilidades de atuação e inclusão social no âmbito
educacional.
 Verificar as possibilidades da educação física como meio de inclusão
social para pessoas com deficiência.

Introdução
Apesar de as instituições para atender pessoas com deficiência terem
surgido em meados do século XIX, a inclusão escolar no Brasil foi garantida
em lei há pouco mais de 20 anos. Embora haja essa garantia legal, isso
não assegura que ela ocorra na prática. Preconceito, desconhecimento
e má vontade ainda são elementos que dificultam esse processo.
No Brasil, os desafios para a inclusão são grandes. A falta de adap-
tação tanto na parte pedagógica quanto na parte arquitetônica são
comuns nos recantos educacionais do país. Além disso, os professores
ainda encontram dificuldades e resistência para promover a inclusão.
No entanto, esse dever é de todos. As aulas de educação física também
têm esse compromisso e podem estimular a inclusão com a melhora
dos movimentos e da interação entre os alunos.
Neste capítulo, você vai reconhecer os desafios da inclusão social de
pessoas com deficiência no âmbito educacional, bem como compreender
as possibilidades de atuação e inclusão social nesse contexto e, ainda,
verificar as possibilidades da educação física como meio de inclusão
social para pessoas com deficiência.
2 Sociedade, realidade e Educação Física

Desafios da inclusão no âmbito educacional


A discussão sobre a inclusão de pessoas com deficiência no âmbito educacional
foi ganhar destaque no Brasil no final do século passado, a partir do pensamento
e da necessidade da sociedade de contar com uma escola que acolhesse a todos.
Apenas com leis que surgiram na década de 1990 foi reconhecido, às pessoas
com deficiência, o direito que qualquer cidadão tem no Brasil: a educação e
a igualdade em todos os meios.
No entanto, a história da educação para pessoas com deficiência é marcada
por várias fases. França (2014) aponta que, em um primeiro momento, esses
indivíduos foram excluídos e segregados, sendo abandonados e até mesmo
eliminados. Em um segundo momento, reconheceu-se certas capacidades a
essas pessoas, porém, limitadas, o que fazia com que essas pessoas fossem
tuteladas, muitas vezes, em abrigos e asilos de onde raramente saíam, recebendo
tratamento e práticas inadequadas.
No Brasil, a educação inclusiva teve seus primeiros passos com a criação
do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, no Governo Imperial,
hoje Instituto Benjamin Constant. Três anos depois, foi criada outra im-
portante instituição na história da educação inclusiva, o Instituto Imperial
dos Surdos-Mudos, voltado para o atendimento de pessoas surdas. Embora
o atendimento dessas instituições fosse precário, elas foram atitudes pio-
neiras e importantes, pois possibilitaram a abertura para a discussão sobre
a educação para pessoas com deficiência no país (JANNUZZI, 2004 apud
SILVA, 2012).
No começo do século XX, o atendimento a pessoas com deficiência seguia
limitado e com atitudes isoladas, como a criação de instituições para atender
pessoas com deficiência intelectual. Nos anos 1960, vão surgir escolas especiais,
oficinas e centros de reabilitação com atendimento filantrópico — porém, são
instituições que seguem segregativas.
A inclusão, de fato, começa a ocorrer a partir de um terceiro momento,
segundo França (2014), nos anos 1990, a partir do reconhecimento do direito
e do valor humano das pessoas com deficiência. Em 1994, a partir da Decla-
ração de Salamanca, adotou-se a ideia de que as escolas deveriam abarcar
uma educação para todos.
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A Declaração de Salamanca, proclamada na Espanha, garantiu inúmeros direitos a


pessoas com deficiência em relação à inclusão escolar. Entres os princípios dessa
declaração, estão: o direto à educação independentemente das diferenças individuais,
a adaptação da escola à especificidade do aluno — e não do aluno à escola — e que
toda criança que apresenta dificuldade de aprendizagem pode ser considerada com
necessidades educativas especiais.

A partir disso, no Brasil, vão surgir leis para tratar da inclusão escolar.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996)
tem um capítulo sobre a educação especial em que sublinha que “A oferta de
educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária
de zero ao seis anos, durante a educação infantil” (BRASIL, 1999, documento
on-line). Atualmente, a educação infantil é considerada dos zero aos cinco anos.
Em 1999, é promulgada a Política Nacional para a Pessoa Portadora de
Deficiência (BRASIL, 1999), que se constitui em um conjunto de normas
com o objetivo de assegurar os direitos para esses indivíduos de forma plena.
Segundo a Política, as escolas são obrigadas a matricular os alunos com
deficiência e se torna crime a recusa da matrícula.
Esse documento ainda vai tratar de temas importantes para o processo inclu-
sivo, como: adaptações no meio físico, na comunicação, na forma de realizar as
provas ou nos recursos, como a carteira adaptada ou uma avaliação em braille
para um aluno com deficiência visual. Outro ponto tratado é a criação das salas
de recursos multifuncionais para o atendimento das pessoas com deficiência.

Mantoan (2015) destaca que não se deve confundir a sala de recursos multifuncionais
com qualquer outra sala de recursos. Segundo a autora, elas têm o objetivo de comple-
mentar ou suplementar a aprendizagem das pessoas com deficiência. Nessa sala, deve
haver equipamentos de informática, mobiliários adaptados, materiais pedagógicos e
de acessibilidade para as pessoas com deficiência.
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Sobre os desafios para a inclusão das pessoas com deficiência no âmbito


educacional, Mantoan afirma:

Os sistemas escolares relutam muito em mudar de direção porque também


estão organizados em um pensamento que recorta a realidade, que permite
dividir o aluno em normais e com deficiência, as modalidades de ensino em
regular e especial, os professores em especialistas nesse e naquele assunto.
A lógica dessa organização é marcada por uma visão determinista, mecani-
cista, formalista, reducionista, própria do pensamento científico moderno,
que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador – sem os quais é difícil romper
com o velho modelo escolar e produzir a reviravolta que a inclusão impõe
(MANTOAN, 2015, p. 7).

Segundo a autora, para que a educação seja de fato inclusiva, deve ser
pensada de maneira plena e global, livre de preconceitos e reconhecendo as
diferenças. Mantoan (2015) ainda aponta tarefas que precisam ser realizadas
para que o desafio da inclusão seja vencido.
A primeira delas é a recriação do modelo educativo, pois se torna inviá-
vel encaixar a inclusão em um velho projeto de escola. Essa recriação visa
atender as crianças a partir de suas necessidades específicas, no caso de não
conseguirem acompanhar os demais colegas da turma. Para isso, as escolas
precisam promover a adaptação de currículos, facilitação de atividades,
programas de reforço de aprendizagens para buscar a aceleração (MAN-
TOAN, 2015). Também não se deve excluir nenhum aluno de determinada
aula ou programa.
Os aspectos pedagógicos são igualmente um desafio para a inclusão es-
colar. Mantoan (2015) destaca que os modelos pedagógicos escolares têm
como características a meritocracia, sendo elitistas, condutistas e baseados na
transmissão do conhecimento, não prevendo a utilização de práticas ou métodos
para a criança que tem uma deficiência ou dificuldade de aprender. A autora
também questiona o ensino individualizado, que, muitas vezes, ocorre com as
pessoas com deficiência, pois esse modelo segue promovendo a segregação.
Com isso, o professor deve buscar o ensino de todos, promovendo trabalhos
que estimulem a socialização e a interação, visando o ensino de toda a turma.
Mantoan (2015) ainda aponta que suprimir a avaliação classificatória é
importante no processo inclusivo e que o aluno com deficiência deve ser
avaliado conforme seu desenvolvimento. Para isso, a escola precisa atuar sem
discriminações e passar por todas essas reformulações.
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Ainda cabe ressaltar que as escolas enfrentam outros desafios além da


questão pedagógica. Silva (2012), por exemplo, aponta outros obstáculos para
a inclusão: prédios escolares pouco ou nada adaptados (sem rampa de acesso,
banheiro adaptados, barras de apoios), falta de adaptação ao mobiliário, como
mesas e cadeiras, número elevado de alunos por sala, falta de recursos materiais,
como livros em braille, brinquedos adaptados, dispositivo para computadores,
pranchas e, por fim, a falta de recursos humanos, como intérprete de Libras,
monitores de inclusão, psicólogos e demais profissionais.
Sobre as barreiras arquitetônicas, Carvalho (1997) ressalta que, em-
bora tenham ocorrido avanços nas escolas, muitas vezes, os alunos estão
no mesmo espaço físico que os demais, sem participar efetivamente das
atividades escolares e verdadeiramente incluídos na aprendizagem, acres-
centando que, para que a inclusão realmente ocorra, a prática pedagógica
precisa ser mudada.
Nesta seção, você conferiu um breve histórico da educação inclusiva no
Brasil, desde a criação dos primeiros institutos para educação de cegos e
surdos até as leis que promovem a inclusão escolar. Também foram apresen-
tados alguns dos principais desafios que esse processo enfrenta no âmbito
educacional. Na sequência, acompanhe algumas possibilidades de atuação e
inclusão social nesse contexto.

Possibilidades de atuação e inclusão social


no âmbito educacional
Apesar da importância do professor no processo de inclusão das pessoas com
deficiência, Silva e Facion (2012) destacam que esse profissional não atua
sozinho para que esse processo tenha êxito. Além de buscar informações, o
professor deve contar com a colaboração da família e da equipe especializada
da escola.
Os mesmos autores apontam que, ao ter um aluno incluído em sua unidade,
todos os membros da escola devem participar desse processo, partilhando as
dificuldades, sugerindo e participando dos progressos obtidos. Ainda subli-
nham que a participação é fundamental para que todos saibam atender essas
crianças, afinal, são alunos da escola, e não de determinado professor. Isso
também favorece quando o professor for o regente desse aluno, pois já saberá
as particularidades do caso.
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Em consonância com essas ideias, Carvalho (1997) também ressalta a


necessidade de que todos os membros da escola participem desse processo,
como os professores, os técnicos em educação, os diretores e suas equipes,
além das merendeiras, faxineiras, dos porteiros, entre outros trabalhadores
da escola e das famílias dos alunos, discutindo cotidianamente formas de
melhorar a qualidade da educação oferecida.
No entanto, o que se vê na escola não é essa integração. Teixeira (2010)
afirma que os professores são despreparados quando o assunto é inclusão.
Para Neri (2003 apud TEIXEIRA, 2010), os professores necessitam reconhecer
as dificuldades de cada um para que, assim, possam buscar desenvolver o
potencial do aluno, respeitando suas limitações.
Nessa linha, Mazzotta (2002) atenta para a necessidade de não serem feitas
generalizações quanto às necessidades especiais de alunos com deficiência, pois
todo aluno e toda escola são especiais em sua singularidade. Por isso, somente
nas situações concretas em que se encontram os alunos nas escolas, pode-se
interpretar as necessidades educacionais escolares como comuns ou especiais.
Ferreira (2006) aponta que é fundamental que o professor altere seus
métodos, evitando as práticas mais tradicionais de ensino:

O processo de mudança da pedagogia tradicional (leitura, cópia, exercícios


no caderno ou livro, etc.) para uma pedagogia inclusiva, pouco a pouco,
transforma o docente em pesquisador de sua prática pedagógica, pois a nova
dinâmica de ensino faz com que adquira habilidades para refletir sobre sua
docência e aperfeiçoá-la continuamente. O docente aprende a reconhecer o
valor e a importância do trabalho colaborativo e da troca de experiências com
seus colegas professores, os quais podem contribuir de forma sistemática sobre
novas formas de ensinar, de lidar com velhos problemas e de se desenvolver
profissionalmente (FERREIRA, 2006, p. 6).

Sobre a atuação do professor no processo de inclusão escolar, Silva (2012)


afirma que é preciso que os docentes sejam formados para responder de melhor
maneira possível à diversidade em sala de aula. Mantoan (2015) aponta que um
professor que participa da caminhada do saber junto aos seus alunos consegue
entender melhor suas dificuldades e as possibilidade de cada um, pois:

[...] o professor inclusivo não procura eliminar a diferença em favor de uma


suposta igualdade do alunado — tão almejada pelos que apregoam a homo-
geneidade das salas de aula. Ele está atento aos diferentes tons das vozes
que compõem a turma, promovendo a harmonia, o diálogo, contrapondo-as,
complementando-as (MONTOAN, 2015, p. 58).
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A mesma autora aponta que a maior alegação dos professores para não
promoverem e resistirem ao processo de inclusão é não estarem ou não te-
rem sido preparados para realizar esse trabalho. Quando recebem formações
para trabalhar com pessoas com deficiência, os professores reagem de forma
contrariada, pois não estão acostumados com o processo de aprendizagem
de maneira segmentada:

Eles esperam por uma formação que lhes ensine a dar aula para os alunos
com deficiência, dificuldades de aprendizagem/ou problemas de indisciplina.
Ou melhor: anseiam por uma formação que lhes permita aplicar esquemas
de trabalho pedagógico pré-definido às suas aulas, garantindo-lhes a solução
dos problemas que presumem encontrar nas escolas ditas inclusivas (MAN-
TOAN, 2015, p. 59).

A visão de que as aulas inclusivas funcionam conforme as regras gerais


de uma turma sem inclusão é uma frustração que leva o professor a se opor
ou a se mostrar incapacitado para o processo, pois a inclusão não cabe nos
métodos tradicionais de educação. Mantoan (2015, p. 61) afirma que “[...]
formar o professor na perspectiva da educação inclusiva implica ressignificar
seu papel, o da escola, o da educação e o das práticas pedagógicas usuais do
contexto excludente do nosso ensino, em todos os níveis”.
Para a autora, o professor precisa preparar-se para ser inclusivo a partir de
formações, cursos, palestras e de especializações, assim como com a promoção
de encontros entre colegas e grupos de estudos e entre profissionais da mesma
escola para que, juntos, troquem e compartilhem informações, dirimam dúvi-
das, estudem, buscando opiniões e resoluções que colaborem com o processo
de ensino-aprendizagem da pessoa com deficiência. É importante que essas
reuniões sejam sempre acompanhadas pelo corpo diretivo da escola e membros
do Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Outro ponto importante na atuação pedagógica do professor é o reconhe-
cimento da diferença no processo educacional para todos. Mantoan (2015)
aponta que as escolas, ao buscarem a igualdade, geram identidades natura-
lizadas, e essas identidades definem os aparatos pedagógicos para os perfis
educacionais idealizados.
Logicamente, em comparações com esses perfis, os alunos com deficiência
levam desvantagens e acabam excluídos por não estarem no “padrão”. Mantoan
(2015) aponta que, ao reconhecer a diferença entre os alunos, o professor passa
a promover a aceitação do outro e a incorporação da diferença sem conflito e
sem confronto, dando ao aluno o direito de escolha: um exemplo é um aluno
que usa cadeira de rodas poder optar pelo lugar que ocupará em sala de aula.
8 Sociedade, realidade e Educação Física

Ele não é obrigado à imposição de sentar-se sempre à frente de todos, em


um lugar especial, definido por especialistas, se sua turma de colegas está
localizada mais ao fundo (MANTOAN, 2015).
Nesse exemplo, temos o direito da igualdade preservado, pois o aluno
estudará com seus colegas e poderá escolher o local da sala que quer ocupar.
Para isso, é necessário que as escolas acolham a diferença entre os alunos,
permitindo, assim, que o aluno aprenda.
Nesta seção, apresentamos as possibilidade de atuação no processo inclusivo
a partir de ações e posturas por parte do professor, profissional que necessita
buscar o máximo de informações e de apoio com a família, com colegas e
equipe especializada, preparando-se para ser inclusivo e para respeitar e
estimular as diferenças. Na sequência, conheça como a educação física pode
ser um meio de inclusão.

Educação física como meio de inclusão a


pessoas com deficiência
Cabe ressaltar que como disciplina obrigatória no currículo escolar, a educação
física é integrante de um projeto pedagógico da escola que deve envolver a
inclusão como um todo. Segundo Rodrigues (2003), a educação física não
pode ficar neutra ou indiferente nesse processo. Porém, a história prova que
isso nem sempre ocorreu.
Os primeiros anos da educação física no Brasil foram marcados por uma
prática totalmente excludente. As tendências higienista e militarista, as pri-
meiras da disciplina no Brasil, acentuaram essa questão, pois aqueles que não
se encaixassem dentro do padrão exigido de saúde ou para servir ao Exército
eram proibidos de participar das aulas.

Esse período durou desde meados do século XIX até o final do Estado Novo, em 1945.
No Estado Novo, a ideia do “aprimoramento eugênico incorporado à raça” levou o então
presidente Getúlio Vargas a decretar a proibição da matricula em nível secundário a
alunos cujo estado patológico os impedia permanentemente da frequência às aulas
de educação física (SOLER, 2006).
Sociedade, realidade e Educação Física 9

No período da ditadura militar, aqueles alunos que não apresentavam


bons rendimentos na prática esportiva e, consequentemente, não teriam
condições de servir o país como atletas futuros também eram excluídos.
Era a valorização dos habilidosos em detrimento dos menos talentosos
esportivamente.
As abordagens populares surgidas no começo dos anos 1980 vão trazer
a ideia pedagógica para a área, sendo uma delas a tendência da psicomotri-
cidade, que, originalmente, foi criada para atender pessoas com deficiência.
Essa abordagem busca trabalhar o aluno em sua integralidade, ou seja, nos
aspectos físicos, motores, psicológicos e cognitivos.
Com as leis educacionais entrando em voga, como a LDB, a educação física
passa a ter obrigação de colaborar com o processo de inclusão. O primeiro
documento que vai fazer referência à importância da inclusão nas aulas de
educação física foram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BASIL,
1997). Entre os aspectos que deveriam ser levados em conta na aula estava
o princípio da inclusão, ou seja, a educação física, na escola, deveria ser
direcionada a todos, sem discriminação (Figura 1).

Figura 1. Princípio da inclusão é garantido nos PCNs.


Fonte: São Gabriel (2016, documento on-line).
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Rodrigues (2003) aponta que o processo de inclusão nas aulas de edu-


cação física tem pontos positivos, como a flexibilidade dos conteúdos, as
atitudes positivas dos professores ao permitirem a participação de alunos
que evidenciam dificuldades, a vantagem em relação às outras disciplinas
— porque procura compreender as deficiências e como adaptá-las — e por
ser a área que lida o tempo todo com a diferença das pessoas.
Sobre a educação física inclusiva, Aguiar e Duarte (2005) apontam que:

[...] deve ter como eixo o aluno, para que se desenvolvam competências
e condições igualitárias, buscando, portanto, estratégias para dirimir a
exclusão ou segregação. É por meio das atividades de educação física que
os alunos podem ampliar esses contatos interpessoais, já que as atividades
físicas propiciam o ensino de limites e superação, além de dar uma visão
de competitividade e, também, a ter contatos físicos que são propostos
pelas dinâmicas das práticas educativas que valorizem a diversidade e o
respeito entre os alunos. (AGUIAR; DUARTE, 2005 apud LARA; PINTO,
2017, p. 69).

Soler (2006) aponta que a tarefa do professor de educação física é


bastante complexa, pois deve compatibilizar os interesses do grupo com
aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais, atendendo
à individualidade de cada um. Com isso, o professor buscar ser um facili-
tador, apropriando-se de conhecimentos específicos da inclusão, tomando
as devidas precauções e adequando o espaço a todos. Segundo o autor,
antes de iniciar um plano de ensino, o professor deve diagnosticar o nível
motor, cognitivo, social e afetivo em que se encontram seus alunos para
que, assim, possa ter um ponto de partida e ir aumentando a complexidade
das atividades.
Lara e Pinto (2017) referem que um dos fatores mais importantes que a
educação física pode propiciar às pessoas com deficiência é a socialização
(Figura 2). Por ser uma disciplina em que ocorre mais interação na brin-
cadeira, nos jogos e nos exercícios em geral, a interação fica facilitada na
aula. Para Staimback e Staimback (1999), as amizades conquistadas pelos
alunos em um ambiente inclusivo podem auxiliá-los a se sentirem realmente
membros de suas comunidades e a terem oportunidade de aprender o respeito,
o interesse e o apoio mútuo em uma sociedade inclusiva, ao mesmo tempo
que aprendem habilidades acadêmicas.
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Figura 2. A socialização é um dos aspectos mais importantes da aula de edu-


cação física.
Fonte: Centro Universitário Módulo (2015, documento on-line).

Sobre as práticas da cultura corporal de movimento, é importante que o pro-


fessor estimule o aluno à prática de acordo com suas características individuais e o
tipo de deficiência que o acomete. Desde a elaboração do programa de atividades,
para que se tenha um ambiente realmente inclusivo, o professor deve estudar o
ambiente e os acontecimentos de acordo com o contexto dos indivíduos que com-
põem o grupo (ALMEIDA; DUARTE; SILVA, 2011 apud LARA; PINTO, 2017).
Dessa forma, de acordo Stainback e Stainback (1999), o professor deverá
adequar-se a essa nova proposta pedagógica, sendo necessário considerar a di-
versidade social, cultural, física ou qualquer outra. O professor pode explorar
variáveis dentro da prática da educação física para fomentar processos inclusivos,
além de viabilizar uma melhor aceitação do outro e de si mesmo. A educação física
mediada por um professor inovador pode ser uma forma criativa de desvencilhar
preconceitos e aumentar formas de efetiva inclusão (LARA; PINTO, 2017).
Cabe ressaltar que todos os conteúdos da aula de educação física podem
ser adaptáveis à pessoa com deficiência, como os esportes, as atividades
rítmicas, os jogos e as lutas. Lara e Pinto (2017) ainda referem que, para que
isso ocorra, a relação entre professor-aluno precisa ser isenta de preconceito,
cabendo ao professor estimular o processo de inclusão.
12 Sociedade, realidade e Educação Física

Confira algumas atividades adaptadas para a aula de educação física acessando o


link a seguir.

https://goo.gl/AAMKdC

Neste capítulo, você viu como começou a educação inclusiva no Brasil e as


leis que asseguram a inclusão escolar. Também foram apresentados os desafios
do âmbito educacional, como as adaptações curriculares, arquitetônicas e
uma avaliação que valorize o desenvolvimento da criança com deficiência.
Na sequência, foram apresentadas as atuações do professor nesse processo.
O educador deve buscar trabalhar em equipe, tendo o máximo de informações
possíveis do aluno e buscando trocar informações.
Por fim, você viu como a educação física pode contribuir com esse pro-
cesso, já que, nessas aulas, o professor pode ampliar o repertório motor e a
socialização das crianças com deficiência por meio de adaptações.

BRASIL. Decreto nº. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de


24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.
Brasília, DF, 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.
htm>. Acesso em: 8 out. 2018.
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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CARVALHO, R. E. Temas em educação especial. Rio de janeiro: WVA, 1997.
CENTRO UNIVERSITÁRIO MÓDULO. Estudantes do curso de Educação Física do Módulo
fazem visita em centro educacional para deficientes visuais em Santos. 03 maio 2015.
Disponível em: <http://moduloeducacaofisica.blogspot.com/2015/05/estudantes-
-do-curso-de-educacao-fisica.html>. Acesso em: 10 out. 2018.
Sociedade, realidade e Educação Física 13

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TEIXEIRA, M. C. A. Políticas públicas para pessoas com deficiência no Brasil. 2010. Disser-
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Leitura recomendada
UNESCO. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das
Necessidades Educativas Especiais.1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 8 out. 2018.
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