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Aula 3 – Educação Especial X Educação inclusiva

Prof Gabriela Frangiosi

O que é educação especial


De acordo com o artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), nº 9394 de 20 de dezembro de 1996:
Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de
educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades ou superdotação.
Resumindo, é uma espécie de modelo de educação, implementado
exclusivamente para pessoas com deficiência ou superdotação.
Tem como objetivo atender as necessidades de cada indivíduo e facilitar o
processo de aprendizagem desses alunos.
Esse modelo educacional prevê a criação não só de um projeto pedagógico
que dê conta de atender as necessidades de cada estudante, mas também
toda a infraestrutura necessária para facilitar o acesso dos alunos com
deficiência.

Diferença entre educação especial e educação inclusiva


A educação inclusiva não se trata da criação de espaços específicos e sim da
adoção de uma postura e práticas educacionais, que, como o próprio nome
diz, servem para abranger estudantes sem e com deficiência em um único
espaço de aprendizado.
Já quando falamos em educação especial, falamos na criação de um espaço
físico e na adoção de práticas pedagógicas específicas.
E por mais que isso possa parecer o suficiente para que pessoas com
deficiência tenham acesso à educação de qualidade, existem outras
questões relacionadas à convivência e criação de uma sociedade apta a
acolher essas pessoas.
Maria Teresa Eglér Mantoan, uma das maiores especialistas em Educação
Inclusiva do Brasil e Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas
em Ensino e Diferença (LEPED), afirma:
A educação é muito mais do que ensinar e aprender a fazer conta, ler e
escrever. É formar para a vida pública. (...) Agora, que tipo de cidadania se
está ensinando para essas pessoas quando elas estão em um espaço à parte?
Que há uma cidadania para aqueles que são ‘normais’ e outra para aqueles
que são "diferentes"?
Então, melhor do que ter uma educação especial é oferecer uma educação
que seja inclusiva.

O que é educação inclusiva


Como visto, a educação especial pensa um processo inteiro, em separado,
para atender estudantes com deficiência.
Já a educação inclusiva prevê uma adaptação do sistema educacional que já
existe para garantir o acesso e permanência de alunos com necessidades
especiais no ensino regular.
O objetivo da educação inclusiva não é apenas que o aluno consiga ter uma
formação regular, mas que ele consiga aproveitar o processo de socialização
e se integrar com os demais colegas.
Mas vale lembrar que a educação inclusiva não é caracterizada só pela
diversidade. Isso porque de nada adianta uma escola regular aceitar alunos
com deficiência sem que haja um projeto pedagógico pensado para atender
a todos ou recursos que auxiliem as necessidades dos estudantes.

Como surgiu a educação inclusiva?


Mesmo com suas dificuldades, o sistema de ensino é muito mais inclusivo
hoje do que já foi em outros períodos da história.
O grupo formado por pessoas com deficiência apenas teve seus direitos
plenamente reconhecidos na Constituição Federal de 1988.
Porém, mesmo tendo seus direitos promulgados, na prática as coisas
sempre foram diferentes.
A educação de pessoas com deficiência se dava apenas em escolas especiais.
Por isso, na Conferência Mundial de Salamanca sobre Educação para
Necessidades Especiais, em 1994, chegou-se a um documento que reforça o
compromisso da educação inclusiva.
Este documento é uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU)
e reconhece o dever de proporcionar educação às pessoas com deficiência
dentro do sistema regular de ensino, tendo como base a inclusão escolar e
social.
Como consequência ao documento, surgiu o conceito da educação inclusiva
e esforços ao redor do mundo para transformar em prática as diretrizes do
documento.
Importância da educação especial e inclusiva
De acordo com um levantamento realizado pela Unicef na América
Latina, 70% das crianças com deficiência não frequentam a escola.
Esse tipo de estatística alerta para um movimento de exclusão desses
sujeitos a uma das etapas mais importantes de formação do cidadão, a vida
escolar.
A educação pública é um direito de todos, assegurados por lei. E a educação
especial e inclusiva faz com que as pessoas com deficiência sejam integradas
à escola.
Facilitando assim, seus processos de socialização tal qual as pessoas sem
deficiência.
Sendo assim, é necessário que se entenda que todas as pessoas são
indivíduos únicos e que a única resposta para a educação, é que ela promova
a equidade e não o preconceito.
Você conhece os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?
Eles são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio
ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam
desfrutar de paz e de prosperidade.
Essa é uma iniciativa global, fruto da Agenda 2030 da Organização das
Nações Unidas (ONU) e a Educação Especial e Inclusiva se encaixa
diretamente nas necessidades de dois Objetivos, o 4 - Educação de
Qualidade e também o 10 - Redução das Desigualdades.
O mais importante quando se fala sobre a educação especial e educação
inclusiva é reconhecer a existência das singularidades dos indivíduos.
Uma educação inclusiva é importante para que os estudantes, com e sem
deficiência, possam aprender a viver em sociedade, respeitando as
diferenças e lutando por um mundo mais justo, com oportunidades para
todos.

Como é a educação especial e inclusiva no Brasil


O Brasil tem uma longa história de descaso quando o assunto é a educação
de pessoas com necessidades especiais.
Como dissemos, foi previsto na Constituição de 1988 que pessoas com
necessidades deveriam ter acesso à educação como as demais, porém o
ensino inclusivo ainda dá passos curtos no país.
O avanço mais significativo nesse sentido, depois da Constituição e do
documento originado na Conferência de Salamanca, é a Lei Brasileira de
Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência.
O estatuto foi aprovado em 2015 e traz aspectos relacionados à inclusão de
pessoas com necessidades especiais. E mesmo assim, há falhas no conteúdo.
Por exemplo, o texto diz que o sistema educacional deve ser inclusivo, porém
não cita explicitamente que a matrícula de alunos com necessidades
especiais deve ser feita no sistema regular em vez de escolas especiais. O
que abre brechas, sendo ponto de controvérsias.
Durante a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), houve uma
disputa para retirada de um texto que explicava a educação inclusiva, sendo
o trecho redigido em contribuição com entidades e pesquisadores do
assunto.
Além disso, no conteúdo da BNCC é citada uma diferenciação de currículo
para alunos com necessidades especiais e demais alunos, o que é
considerado por especialistas como uma forma de discriminação.
Também houve controvérsia na tramitação do Plano Nacional de Educação,
o PNE, onde são traçadas metas de educação para o país cumprir nos
próximos 10 anos.
Nele, fica aberta a possibilidade de alunos com necessidades especiais
poderem ser matriculados tanto em escolas especiais quanto regulares, sem
obrigatoriedade da rede regular de ensino se adaptar para receber essas
crianças e adolescentes. Na redação final da meta, mesmo havendo
controvérsia, o texto foi mantido.
No momento atual, o MEC está revisando a PNEEPEI, a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, um documento de
2008.
E a discussão ainda é a mesma: o texto proposto, aparentemente, estimula
a separação da educação das pessoas com necessidades especiais, o que vai
na contramão do que é esperado socialmente.

O que é o Atendimento Educacional Especializado (AEE)


O AEE é utilizado dentro das salas de recursos multifuncionais, porém ele
não é uma exclusividade da educação especial. O atendimento educacional
especializado é direito de todos que estudam no Brasil, desde a Educação
Infantil até o Ensino Superior.
É através dele que professores conseguem planejar e executar ações
pedagógicas que eliminam os obstáculos na participação ativa de alunos,
sempre levando em conta suas necessidades específicas.
Uma das maiores dificuldades da aplicação do AEE em todos os níveis de
educação é a falta de formação de professores nessa abordagem. Muitos
não têm especialização na área e nem incentivo de buscar essa
especialização, então o AEE acaba se tornando mais comum em lugares que
buscam ativamente a integração de alunos com necessidades especiais.
Porém, quando têm vivência e formação em AEE, os professores conseguem
oferecer aulas bastante diferentes das tradicionais, com uso de materiais em
Braile, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e diversos recursos que facilitam a
experiência do aluno com necessidades.
Como dito no início dessa seção, o atendimento educacional especializado é
previsto por lei e um direito de todo aluno, portanto pode ser solicitado a
qualquer hora por quem precisa. E quando a solicitação é negada, existe
penalidade.
O professor, aluno ou seus responsáveis deverão, então, abrir uma denúncia
no Ministério Público. Mas mesmo sendo um direito e tendo implicações
legais, o AEE ainda não é uma realidade na maior parte dos ambientes
educacionais.

Pessoas atendidas pela educação especial e inclusiva


Existem certas práticas dentro da educação especial e inclusiva que buscam
auxiliar estudantes com deficiência, de acordo com a sua necessidade e
especificidade.
Veja quem é atendido por esse modelo educacional e como é feito o
trabalho com eles:

 Deficiência Visual e Auditiva: é necessário que se ensine as linguagens


e códigos específicos para cada um, respectivamente braile e LIBRAS.
 Deficiência intelectual: a adoção de estratégias que auxiliem na
comunicação desses alunos.
 Deficiência física: adaptação dos conteúdos e principalmente do
espaço, para que o aluno consiga se sentir pertencente e recebido.
 Transtorno Global do Desenvolvimento (autismo): estratégias para
adaptação e regulação do comportamento (método ABA,
ou TEACCH).
 Altas Habilidades: geralmente esses alunos necessitam de adaptação
curricular, e/ou aceleração dos conteúdos.

Desafios da educação especial e inclusiva


Existem vários desafios que a educação especial e inclusiva enfrenta.
Entre os maiores, hoje, se destacam a formação de profissionais para atuar
nesse campo, que por mais que exista, é de certa forma negligenciado.
A maioria dos professores que atuam na rede de ensino declaram não estar
preparados para atuar com pessoas com deficiência por mais que defendam
a ideia do ensino transversal.
Por outro lado, os especialistas apontam que a preparação é um mito.
Já que o que traz o preparo é a prática e o convívio com os alunos, pois cada
um lida com o processo de educação de forma diferente e demanda
necessidades diferentes.
E a pessoa com deficiência não é diferente!
Outro grande problema é que a infraestrutura de escolas comuns, muitas
vezes, não atende as pessoas com deficiência.
Dessa forma, essas pessoas são vetadas destes espaços, mesmo que tenham
o direito de pertencer a eles.
Em um aspecto mais geral, é importante também descentralizar a
questão. Não são apenas os professores que devem ser incumbidos de
responsabilidade.
As famílias e toda a sociedade deve se movimentar para que a educação
especial e inclusiva funcione de maneira orgânica.
Na luta por uma sociedade que respeite a todos, é dever de todos lutar pela
equidade e pelo acesso aos direitos.

Mercado de trabalho na educação especial e inclusiva


Quem se dedica ao campo da educação especial e inclusiva geralmente atua
na docência, dedicando-se à educação de pessoas com deficiência ou
à preparação de professores para lidar com as necessidades dos alunos.
Como explicado anteriormente, existe falta de profissionais capacitados
para atuar nessa área.
Além disso, há uma maior consciência da importância da educação especial
e inclusiva, fazendo com que se cresça o número de alunos matriculados.
Assim, há uma demanda crescente por profissionais especializados em
educação especial.
Os salários podem variar muito, dependendo da função exercida, localidade
geográfica e porte da empresa de contratação.
Segundo os dados do portal Salário.com.br, a média salarial de um Professor
de Ensino Especial na Área de Deficiência Múltipla é de R$ 2.775,82, para
uma jornada de trabalho de 31h semanais, com um teto salarial de R$
5.578,19.

Como trabalhar na área da educação especial e inclusiva


É sabido que a responsabilidade de atender estudantes com deficiência não
é apenas do professor. No entanto, quanto mais bem preparado estiver o
profissional, maiores são as chances de ele também advogar pela inclusão.
Especialmente porque o número de estudantes com deficiências
matriculados em escolas regulares vem aumentando. Segundo dados
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep), houve um aumento de 33,2% no número de matrículas de alunos
com necessidades especiais entre 2014 e 2018, sendo que 92,1% destes
estão incluídos no ensino regular.
Porém, apenas 6% dos professores, segundo o Censo Escolar 2019, estão
preparados para ministrar aulas para estes alunos. Então, para conseguir
trazer uma inclusão, é preciso investir em formação.
Existem dois caminhos para isso: uma graduação voltada para a educação
especial ou uma especialização.

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