Desenvolvimento Curricular da Educação Básica [DCEB]
– 1.º Semestre –
Beatriz Marques Dias, a97035 Daniela Luísa Viana
Lopes, a100236 TP 2 | Grupo n.º 5 Licenciatura em Educação Básica [LEB] / 3.º Ano Braga, outubro de 2023
O que é educação inclusiva?
A UNESCO define educação inclusiva (desde 2009) como um processo que visa responder à diversidade de necessidades dos alunos, através do aumento da participação de todos na aprendizagem e na vida da comunidade escolar. Este conceito baseia-se em princípios orientadores como a educabilidade universal, a equidade, a inclusão, a personalização e a flexibilidade . O objetivo é garantir que todas as crianças têm acesso e participação plena e efetiva nos mesmos contextos educativos, independentemente das suas características. A educação inclusiva é a meta a alcançar pelos sistemas educativos e tem como princípio primordial o direito à educação, proclamado na Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948), na Convenção dos Direitos da Criança (ONU, 1959) e reafirmada na Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (ONU, 2006). Segundo a Declaração de Salamanca, a educação inclusiva é um princípio que admite todas as crianças nas escolas regulares, excetuando no caso de existirem razões que obriguem a proceder de outro modo. Isto significa que as escolas devem reconhecer e adequar-se às necessidades educativas especiais das crianças, oferecendo uma pedagogia centrada na criança e nas suas necessidades. Além disso, as escolas inclusivas devem ser capazes de combater atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias e construindo uma sociedade inclusiva. O caminho para a educação inclusiva A história da educação inclusiva remonta ao final do século XX, quando a comunidade internacional começou a reconhecer a importância de garantir o direito à educação para todas as pessoas, independentemente das características pessoais que as distingam. Em 1994, durante a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais realizada em Salamanca, Espanha, foi estabelecida a Declaração de Salamanca, adotada pela UNESCO e por representantes de mais de 90 países, documento que estabeleceu os princípios e as diretrizes para a educação inclusiva, representando o primeiro passo dado internacionalmente no caminho da inclusão social e o estabelecimento de uma educação mais inclusiva. A Declaração de Salamanca reconheceu que a educação inclusiva é um processo que visa responder às diferentes necessidades de todos os alunos, promovendo a participação de todos na escola e na comunidade. Para alcançar esse objetivo, o documento destacou a importância de várias medidas, incluindo a formação de equipas multidisciplinares de apoio, a adaptação do currículo e dos materiais didáticos, bem como a oferta de recursos e serviços de apoio. Além disso, a Declaração de Salamanca defendeu uma abordagem baseada nos direitos humanos. Esse documento tem tido uma influência significativa em políticas e práticas educativas em todo o mundo, promovendo a inclusão educativa e lutando contra a discriminação e a exclusão social no contexto educacional. No século XXI, especificamente em 2006, a educação inclusiva tornou-se um objetivo global com a adoção da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, apenas entrou em vigor em 2008. O objetivo central dessa Convenção é promover, proteger e garantir o pleno e igual exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, sem qualquer forma de discriminação. A Convenção reconhece que as pessoas com deficiência são detentoras de direitos que devem ser respeitados ao nível da sua dignidade e autonomia. Portanto, impõe obrigações aos Estados Partes, incluindo a promoção da acessibilidade, a garantia do direito à educação inclusiva, a proteção contra a violência, exploração e abuso, bem como a promoção da participação plena e efetiva na vida política, social, económica e cultural. Os Estados Partes são compelidos a adotar medidas legislativas, administrativas e outras para assegurar o pleno exercício dos direitos das pessoas com deficiência. Além disso, a Convenção estabelece um representante dos Direitos das Pessoas com Deficiência, encarregado de monitorizar a implementação da Convenção pelos Estados Partes. Promove, ainda, a consciencialização sobre os direitos das pessoas com deficiência e enfatiza a importância da participação ativa dessas pessoas na sociedade. Portugal ratificou a Convenção em 2009, por meio da Resolução da Assembleia da República n.º 56/2009, demonstrando o seu compromisso em promover a inclusão e proteger os direitos das pessoas com deficiência. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência desempenha um papel fundamental na promoção da igualdade de oportunidades e na eliminação da discriminação contra pessoas com deficiência em todo o mundo. Como, enquanto professor, promover uma educação inclusiva? Na promoção da educação inclusiva, todos os agentes educativos desempenham um papel fundamental, mas os professores assumem uma posição chave nesse processo. É essencial que os professores adotem uma abordagem centrada no aluno, levando em consideração as necessidades individuais de cada um e promovendo a participação e a aprendizagem de todos. Várias diretrizes e princípios podem orientar os professores nesse caminho, defendendo e mostrando a grande importância de reconhecer e valorizar a diversidade dos alunos, respeitando as suas diferenças, de adaptar o ensino para atender às necessidades individuais de cada aluno, por meio da utilização de estratégias pedagógicas adequadas, de promover a participação ativa de todos os alunos na sala de aula, criando um ambiente inclusivo que estimule a colaboração e a interação entre eles, de criar um ambiente de aprendizagem seguro e acolhedor para todos os alunos, eliminando barreiras físicas e sociais que possam prejudicar a participação e, ainda, de trabalhar em colaboração com outros profissionais e com as famílias dos alunos para apoiar o sucesso educativo de todos, garantindo uma abordagem interdisciplinar. Além disso, os professores devem estar sensíveis às questões de acessibilidade e dispostos a aprender e adaptar-se às necessidades dos alunos com deficiência ou outras necessidades especiais. A Declaração de Salamanca também fornece princípios, políticas e práticas para orientar a promoção da inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais nas escolas regulares. A preparação dos professores deve ser uma parte fundamental na sua formação académica mas a realidade mostra-nos que tal não acontece e que em boa parte das licenciaturas em Educação Básica do país (incluindo a da Universidade do Minho) não existe nenhuma unidade curricular obrigatória destinada à preparação para o trabalho com crianças com necessidades educativas especiais, estando este tipo de formação reservado ao primeiro ano dos diferentes mestrados, o que, na nossa opinião, não é suficiente para uma real preparação dos professores para enfrentarem tais desafios, em especial no início das suas carreiras. A promoção da educação inclusiva é um processo contínuo que requer o comprometimento de toda a comunidade escolar, mas que ainda enfrenta alguns desafios, como a relevância atribuída à mesma. Escolas inclusivas A construção de escolas inclusivas requer, segundo diretrizes da Direção-Geral da Educação, a abordagem das três vertentes que a envolvem: a dimensão ética, que se relaciona com os princípios e valores fundamentais que a norteiam, a dimensão associada à aplicação de políticas educacionais que estimulem e orientem as atividades das escolas e as suas comunidades educativas, e a dimensão ligada às práticas educacionais. É, assim, imperativo não desconsiderar nenhuma destas vertentes, mas sim trabalhá-las em simultâneo. Quais as diretrizes em Portugal para o estabelecimento da educação inclusiva? O Decreto-Lei n.º 54/2018, em Portugal, estabelece o quadro legal para a promoção da educação inclusiva. As diretrizes fundamentais deste decreto incluem vários princípios, nomeadamente o princípio de inclusão (as escolas devem garantir a inclusão de todos os alunos, independentemente das suas características individuais), da flexibilidade curricular (as escolas devem adotar práticas pedagógicas flexíveis e adaptadas às necessidades dos alunos) da avaliação formativa (a avaliação deve ser contínua, formativa e ajustada às especificidades de cada aluno, com o objetivo de valorizar o progresso), de recursos de apoio (devem ser disponibilizados recursos e apoios especializados para alunos com necessidades específicas), do desenvolvimento de competências (as escolas incentivar a participação ativa dos alunos e a sua preparação para a cidadania), da parceria com a comunidade (é importante estabelecer parcerias com as famílias, instituições e serviços da comunidade), da formação de professores (os docentes devem receber formação adequada para lidar com a diversidade de alunos e desenvolver práticas inclusivas), do desenvolvimento de Planos de Apoio Individual (devem ser elaborados Planos de Apoio Individual (PAI) para alunos com necessidades especiais, definindo estratégias de apoio e metas a alcançar), da participação ativa dos alunos (os alunos devem ser envolvidos no processo de tomada de decisões relacionadas à sua educação), e, ainda, da avaliação e monitorização (as escolas devem avaliar continuamente a sua prática inclusiva e implementar medidas corretivas quando necessário). O Decreto-Lei nº 54/2018 reforça o compromisso de Portugal com a educação inclusiva, visando garantir que todos os alunos tenham igualdade de oportunidades no sistema educacional. Embora se verifique uma crescente preocupação com a inclusão e a adaptação para tornar a educação inclusiva a todos, ainda há um longo caminho a percorrer e, infelizmente, as famílias que se veem em situações de desigualdade continuam a enfrentar dificuldades no pleno acesso à educação. Bibliografia Diário da República: Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho . consultado em 2023, 30 de outubro, a partir de https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/decreto-lei/54-2018-115652961 UNESCO. Ministério da Educação e Ciência de Espanha. (1994, julho). Declaração de Salamanca e Enquadramento da Ação na área das necessidades educativas especiais . consultado em 2023, 30 de outubro, a partir de https://pnl2027.gov.pt/np4/%7B$clientServletPath%7D/? newsId=1011&fileName=Declaracao_Salaman ca.pdf Direção-Geral da Educação: Educação Inclusiva . consultado em 2023, 31 de outubro, a partir de https://www.dge.mec.pt/educacao-inclusiva República Portuguesa . Ministério da Educação . Direção-Geral da Educação . (2018). Para uma Educação Inclusiva: Manual de Apoio à Prática . consultado em 2023, 31 de outubro, a partir de https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/EEspecial/manual_de_apoio_a_pratica.pdf (2022, 5 de novembro) . Mãe acusa associação de pais de discriminar filho . Diário de Notícias . consultado em 2023, 31 de outubro, a partir de https://www.dn.pt/sociedade/mae-acusa- associacao-depais-de-discriminar-filho--15322441.html