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Educação inclusiva
SUMÁRIO
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Educação inclusiva
A Pluralidade faz surgir um país feito a muitas mãos, onde todos juntos, vindo
de tradições diversas, com distintas formas de arrumar o mundo, com inúmeras
concepções do belo, conseguem criar uma comunidade plena da consciência da
importância da participação de cada um na construção do bem comum. Todos podem
ser diferentes, mas são absolutamente necessários. Só com esta união na diversidade
se constrói um mundo novo [...] (THEODORO, 2005, p. 83).
Apresentamos reflexões sobre a educação inclusiva, especialmente aspectos
relacionados com a escola para todos, questões conceituais, a inclusão, a escola
inclusiva e a sociedade inclusiva, priorizando, no entanto: Pluralidade cultural,
diversidade, diferença: questões étnico-raciais e questões de gênero e a educação
inclusiva, refletidas no movimento da escola para todos, considerando que: O
movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e
pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem
juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação
inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos
humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que
avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias
históricas da produção da exclusão dentro da escola. Ao reconhecer que as
dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de
confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação
inclusiva assume papel central no debate acerca da sociedade contemporânea e do
papel da escola na superação da lógica da exclusão (BRASIL, 2008, p. 9).
Dessa forma, foi introduzida a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), documento elaborado com o firme
propósito de reposicionar a educação especial no País, bem como modificar e inserir
nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas comuns as diretrizes norteadoras da
implantação dessa Política, cujo foco reside na oferta do atendimento educacional
especializado de forma complementar e suplementar aos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,
identificados como alunado da educação especial.
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Para Garcia (2006), esse termo da forma como foi proposto nos documentos
oficiais reforça a visão funcionalista da deficiência, pela qual o aluno deve ajustar-se
à sociedade e à escola e não o contrário como pressupõem as diretrizes da educação
inclusiva.
Enquanto que para Pletsch (2010, p. 80): [...] alunos com necessidades
educacionais especiais são aqueles que apresentam dificuldades no processo de
ensino-aprendizagem, podendo necessitar da mediação e do apoio de serviços
especializados em períodos determinados, ou durante todo o percurso escolar, de
forma a promover o seu desenvolvimento escolar, social e emocional. Portanto,
reconhecendo que as expressões necessidades educacionais e educação inclusiva
guardam um significado amplo [...].
E, ainda, aliado a tudo isso, com o advento da Declaração de Salamanca,
(1994) foi advogado o conceito de escola integradora, que deve ser compreendida
como aquela que acolhe.
Crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas
e que trabalham; crianças de populações nômades; crianças de minorias linguísticas,
étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidos ou
marginalizados (BRASIL, 1997, p. 18).
Tais reformas são oriundas de eventos voltados à discussão da educação na
satisfação das necessidades básicas dos alunos, com os pressupostos da educação
para todos, os quais poderão ser analisados na Declaração de Jomtien (TAILÂNDIA,
1990).
As necessidades básicas de aprendizagem [...] compreendem tanto os
instrumentos essenciais de aprendizagem [...] quanto o conteúdo que precisam os
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escola promove a exclusão. Se ela tem prerrogativa de certificar quem está apto, tem
também o poder de identificar quem é inepto. A desqualificação é o avesso da
certificação de qualidade. Como um esforço de ação preventiva, a escola cunha na
história do desenvolvimento intelectual de muitos jovens e crianças, mas não de todos,
a marca da inépcia para o vir a ser o adulto, significando isso a profecia do
autorrealizável da impossibilidade futura de uma vida social e profissional autônoma.
Esse é o caso de um enorme contingente de crianças e jovens que compõem as
estatísticas do chamado fracasso escolar (TUNES e BARTHOLO, 2008, p. 133).
Em um trabalho de pesquisa posterior, Bueno ainda apresenta suas críticas
referentes à Declaração de Salamanca. Primeiro levantando equívocos conceituais
cometidos pelos órgãos oficiais, na tradução do documento, e por outro lado, dizendo:
A declaração simplesmente reconhece que as políticas educacionais de todo o mundo
fracassaram no sentido de estender a todas as suas crianças a educação obrigatória
e de que é preciso modificar tanto as políticas quanto as práticas escolares
sedimentadas na perspectiva da homogeneidade do alunado, mas isto parece ficar
obscurecido.
Por outro lado, ao se colocar a educação inclusiva como um novo paradigma,
esconde-se que, desde há décadas, a inserção escolar de determinados tipos de
alunos com deficiência já vinha ocorrendo, de forma gradativa e pouco estruturada,
em especial para crianças oriundas de estratos sociais superiores, sob a batuta de
profissionais da saúde (médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, etc.) e incorporados pela
rede privada de ensino regular. Mas, mesmo entre alunos das redes públicas
assistenciais de educação especial, os processos de inserção de alunos deficientes
no ensino regular começaram muito antes das reformas educacionais da década de
90, em cujo bojo surgiu a bandeira da inclusão escolar (BUENO, 2008, p. 46).
O próprio Instituto Nacional de Educação e Pesquisa (INEP) ressalta o
seguinte: Os números são “preocupantes”, uma vez que ler uma bula de remédio e
identificar seu próprio ativo, calcular juros de um carnê numa compra e prestações, ler
o manual de um eletrodoméstico ou de um equipamento de trabalho, além de outras
atividades [...] exigem uma gama de informações que seriam de responsabilidade da
própria escola (BRASIL, 2004, p. 39).
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Num mundo que tende cada vez mais à globalização no plano econômico da
qual é ainda desconhecido o conjunto dos efeitos sociais, é importante perceber o
incessante processo de reposição das diferenças e o surgimento das etnicidades. De
um lado, esse processo ensina que o fato das culturas viverem dinâmicas que resultam
em sua modificação constante não quer dizer que o sentido da mudança seja único, e
conduza fatalmente ao modelo de desenvolvimento dominante. De outro, apresenta
com clareza a necessidade de construção de valores e novas práticas de relação
social que permitam o reconhecimento e a valorização da existência das diferenças
étnicas e culturais, e a superação da relação de dominação e exclusão – ao mesmo
tempo em que se constitui a solidariedade (BRASIL, 1997a, p. 36).
Dessa forma, o tema diversidade deverá constar no Projeto Político
Pedagógico, contribuindo para a manutenção de um currículo culturalmente valioso.
Com isso, buscar um diálogo com outros momentos da história cujas manifestações
de poder estiveram sempre ligadas à violência, à exclusão, como pode ser visto em
episódios referentes à colonização, à inquisição, às cruzadas, à escravidão e outros.
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étnicas, garantindo a todos o pleno exercício dos direitos culturais, bem como o apoio,
o incentivo e a valorização da difusão cultural.
O enfrentamento às desigualdades sociais, à pobreza, à violação dos direitos
humanos - quando vivenciado no cotidiano da maioria das cidades do mundo – impõe
que repensemos as bases das políticas de cultura e do seu papel na transformação
desse quadro de exclusão que marginaliza mais de um bilhão de pessoas do consumo
e do acesso aos códigos da modernidade. Políticas democráticas e inclusivas que
levem em conta a variedade e demandas da população, e que propiciem a convivência
dessas multiplicidades étnicas, religiosas, de tradições, gostos e sensibilidades,
incluindo na agenda de prioridades o combate à pobreza e a todas as formas de
discriminação social e política. Uma política cultural exercida a partir da ideia dos
direitos e da construção de valores sólidos de cidadania participativa, que nos permita
maior capacidade de discernimento, crítica e desenvolvimento social e humano
(PORTO, 2003, p. 202).
A escola tem um papel significativo nesse processo. Em primeiro lugar, porque
é o espaço em que se dá a convergência entre as crianças de origens culturais e nível
socioeconômico diferentes, com diversos costumes e crenças religiosas, visões
diversas de mundo, mesmo compartilhadas em famílias. Em segundo lugar, porque,
formalmente, a sociedade define a escola como instituição especializada em dar
acesso, às crianças, aos conhecimentos sistematizados sobre o País e o mundo. A
realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e discussões
em torno de questões sociais. A criança, na escola convive com a diversidade e poderá
aprender com ela (BRASIL, 1997a, p. 23).
No texto da Declaração de Salamanca (1994), ao falar da educação inclusiva
(integrada, no texto original), além de destacar a pessoa com deficiência como
merecedora das mudanças, nos sistemas de ensino para efetivação do acesso e
permanência na escola com sucesso, destacou alguns grupos que, por seus traços
sociais carregam consigo a complexidade das múltiplas relações sociais.
Se, por um lado, desde a Declaração, a ênfase se volta para a adoção de
políticas e de práticas educacionais que permitam a inclusão da maior diversidade de
alunos, por outro, não se pode deixar de lado o fato de que ela é derivada da
preocupação com a chamada “escola para todos”, cujo marco maior foi a Declaração
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a) Questões de gênero
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lado feminino, sua luta diária é acompanhada pela vaidade, pela simpatia, pela beleza
e, muito mais ainda, pela determinação.
Nesse momento de efervescência, de afirmação da cidadania e de participação
ativa na sociedade, novos atores invadem a cena social para denunciar injustiças,
reivindicar direitos e propor estratégias de libertação. Entre eles, destaca-se o
movimento feminista, cujas ações baseiam-se na valorização da experiência de ser
mulher em uma sociedade clivada de diferenças étnicas, de classe, de escolhas
sexuais, de profissão, etc. Chega-se a vislumbrar transformações nas relações, nas
estruturas sociais, cotejando novas formas de pensar a sociedade (GONÇALVES e
SILVA, 2006, p. 40-41).
Da mesma forma, a mulher acumula o importante papel de ser mãe e
trabalhadora e a missão de mostrar aos homens que o mundo mudou, mas que
continua ao seu lado, como parceira na luta pela sobrevivência e pelo bem-estar da
família. Evidencia-se mudança da atuação da mulher na política, na família, nos
grupos sociais e culturais.
A Lei 9394/96 (LDB), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
apresenta como um dos pressupostos básicos a formação integral, como um direito
básico de cada cidadão e dever do Estado na oferta, o que ampara o acesso igualitário
à educação, especialmente às mulheres em situação de desvantagem social. “Enfim,
o clima político da época favorece a emergência de ações afirmativas, visando, entre
outras coisas, garantir o acesso de todos a empregos e a estabelecimentos de ensino
em todos os níveis.” (GONÇALVES e SILVA, 2006, p.41).
Conforme nos diz Teixeira (2003), a estatística educacional, desde 1980, vem
registrando aumento de mulheres na escola, embora submetidas às estruturas de
poder, com acesso das mulheres neutralizado pela sociedade aos cargos de maiores
prestígios, mesmo em pleno desenvolvimento da feminilização de muitas profissões.
Esse autor evidencia a presença maciça das mulheres nas áreas humanas, com base
na realidade da educação, na qual a maioria dos docentes é mulher, apontando que,
dentre 1,6 milhões de professores da Educação Básica, 8,5% são do sexo feminino.
Da mesma forma, no entendimento desse autor (2003), a escola, ao longo dos
anos, vem representando o papel de reprodutora das desigualdades, cujo acesso
demonstra a persistência das dicotomias, mediante os significados que estão
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b) Questões étnico-raciais
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princípio, é contar com uma escola que a interprete e a utilize em suas diversas
manifestações e relações socioatitudinais.
Os trabalhos pedagógicos realizados de forma prazerosa, com ênfase na
interação, contribuirão para a transformação da escola em espaços democráticos, nos
quais os diversos saberes se encontram, favorecendo a educação para todos, com
todos e por toda a vida. A diferença será a marca fundamental da aprendizagem e a
Escola como um todo, na diversidade, viverá a diferença em sua plenitude. Mediante
os dados observados com relação às questões de gênero e étnico-raciais,
coadunamos com Bueno (2008, p. 60, grifo do autor), quando diz: [...] cabe a nós,
estudiosos da educação especial, envidar todos os esforços para que a “inclusão
escolar” não se restrinja somente à população tradicionalmente atendida por ela, pois,
se assim for, estará fadada ao insucesso, já que as diferentes expressões do fracasso
escolar têm se abatido sobre os deserdados sociais, criados por políticas econômicas
e sociais altamente injustas, sejam eles deficientes, com distúrbios ou “normais”.
Para isso, faz-se necessário que se juntem, sobretudo, os negros, os índios, as
mulheres, as pessoas com deficiência, dentre outros e, juntos continuem vigilantes e
nas suas lutas que, na verdade são de todos, tendo em vista que todos precisam
conquistar a cidadania e uma sociedade verdadeiramente democrática cuja
diversidade deve ser vista como uma realidade e um desafio e não mais como um
problema. Ao longo dos anos, algumas conquistas se concretizaram por força dos
movimentos organizados e que exigiram do poder público políticas específicas em
benefício do coletivo e de cada um.
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ganhou força durante a primeira metade do século XX, culminando, após as duas
grandes guerras mundiais, com a Declaração dos
Direitos Humanos de 1948, na qual se estabeleceu o seguinte princípio: “toda
pessoa tem o direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução será obrigatória” (ONU, 1948, apud
PLETSCH, 2010, p. 35).
Organismos internacionais, destacadamente as Nações Unidas e a UNESCO,
responsáveis por tais eventos, asseguram que a educação inclusiva é, sobretudo, uma
questão de direito. Dessa forma, a escola, ao receber o aluno, deve aceitá-lo sem
restrições, fazê-lo sentir-se pertencente, integrante do corpo discente, sem
discriminações, abolindo práticas excludentes que porventura existam em sua
comunidade escolar. Nesse sentido, retomamos o texto da Declaração de Salamanca
(1994): [...] as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem
acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas
e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias
linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidos
ou marginalizados (BRASIL, 1997, p. 17-18).
Assim, com especial ênfase aos textos de documentos disseminados pela
Organização das Nações Unidas, dentre eles, as Normas Uniformes sobre a Igualdade
de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência, “nas quais os estados são
instados a garantir que a educação de pessoas com deficiência seja parte integrante
do sistema educativo” (BRASIL, 1997, p. 9).
Desse documento, outros trechos serão ressaltados, uma vez que são
orientadores da reorganização das escolas e dos sistemas de ensino, na adequação
às necessidades educacionais de todos os alunos, nos seguintes termos:
Todas as crianças de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação e
que a ela deva ser dada a oportunidade de obter e manter nível aceitável de
conhecimento;
Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de
aprendizagem que lhe são próprios;
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GLAT, 2007, p. 33) quando essa autora faz referência aos postulados de Ainscow
(2004), enfatizando o seguinte: [...] a inclusão escolar pressupõe três elementos
básicos: a) a presença, o que significa estar na escola, superando o isolamento do
ambiente privado e inserindo o indivíduo num espaço público de socialização e
aprendizagem; b) a participação, que depende, no entanto, do oferecimento das
condições necessárias para que o aluno realmente possa interagir plenamente das
atividades escolares; c) a construção de conhecimentos, sem a qual pouco adianta os
outros aspectos.
Preceitos que devem ser incorporados nos documentos das escolas, nos
Projetos Políticos Pedagógicos, reconhecida sua importância por toda a comunidade
escolar, a fim de se evitar o abandono da escola pelo aluno, a solidão dos professores
que têm em suas salas de aula alunos que apresentam deficiência e, também para
evitar, na escola, o afastamento das famílias.
Por sua vez, no de 2006, a Secretaria de Direitos Humanos, os Ministérios da
Educação e da Justiça, juntamente com a UNESCO, instituem o Plano Nacional em
Direitos Humanos, no qual, um dos objetivos é inserir a temática sobre deficiências no
currículo da educação básica, e, ao mesmo tempo, implementar ações afirmativas que
possibilitem o acesso das pessoas com deficiência ao ensino superior.
Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que
promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações
envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da
acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos
materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos
seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a
pesquisa e a extensão (BRASIL, 2008, p. 16).
Em 2007, foi implantado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE),
incorporado à Agenda Social, priorizando a formação de professores para a educação
especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade
arquitetônica dos prédios escolares, acesso e permanência das pessoas com
deficiência na educação superior e o monitoramento dos beneficiários do Benefício de
Prestação Continuada (BPC), quanto ao acesso e frequência na escola. Com esse
documento, busca-se superar a oposição entre a educação regular e a educação
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Deficiência auditiva
Deficiência física
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Deficiência intelectual/mental
Deficiência múltipla
Deficiência visual
Surdocegueira
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Síndrome de Down
Autismo
Transtorno de aprendizagem
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Transtorno da leitura
Transtorno da matemática
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Ainda mais que a primeira iniciativa formal com relação à formação dos
professores já existe no País, por força da Resolução CNE/CP no. 1/2001, já citada
neste documento. Cabe aos sistemas de ensino, no que diz respeito ao ensino
superior, envidar esforços para implementá-la, haja vista a necessidade de ajuda e
apoio aos professores no sentido de modificar e incrementar sua atuação.
O papel do professor mudou: de um transmissor de informação, ele passou a
ser um facilitador do processo de aquisição de conhecimento. Esse procedimento
implica que para que a informação se transforme em conhecimento precisa ser
contextualizada, refletida e, muitas vezes, completada. Esta é uma nova competência
do professor e da escola (RODRIGUES, 2008, p. 9).
Para garantir sua atuação na educação especial, “o professor deve ter como
base sua formação inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da
docência e conhecimentos específicos na área” (BRASIL, 2008, p. 17).
Destacamos a participação da família e da comunidade, a própria Constituição
Federal (1988) reconhece a educação como direito de todos e dever do Estado, da
Família e da sociedade.
A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e possui o direito de
receber a proteção da sociedade e do Estado. As pessoas com deficiência e seus
familiares devem receber a proteção e a assistência necessárias para que as famílias
possam contribuir para o pleno e igual desfrute dos direitos das pessoas com
deficiência (ONU, 2006).
Nesse sentido, pensar a educação, sem a participação da família, é ferir
princípios já consagrados na Carta Magna (1998), nas leis que a sucederam, inclusive
no que ficou preconizado no texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiências, anteriormente explanado (BRASIL, 2006).
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confunde com o especialista no sentido usual do termo, porque ele é, antes de tudo,
um professor, cujo entendimento da Educação Especial na perspectiva inclusiva,
permite que ele integre sua especificidade ao ensino comum, sem desfigurá-la. Esse
professor pesquisador estuda cada um dos alunos que lhe é encaminhado e decide,
organiza, cria, desenvolve recursos para além do que já existe de suportes de todo
tipo, que possam suprir as necessidades de cada um (MANTOAN, 2010, p. 14).
Com tantas atribuições e diferenciações elencadas para o professor que
trabalha no AEE, nos leva a dizer, ainda, mais uma motivação para seguirmos nossa
trajetória de estudos e reflexões, uma vez que esse é um assunto presente em todas
as instâncias que se discute o processo de educação inclusiva e a educação especial,
no contexto das mudanças, mas principalmente, os alunos com deficiências
complexas, as quais têm impactado negativamente no aspecto cognitivo desses
alunos, causando prejuízo no percurso escolar.
E sobre a operacionalização do AEE? Como deve ocorrer de fato?
Não há um molde pronto para ser aplicado indistintamente aos problemas, às
deficiências dos alunos e assim sendo, o AEE desafia a capacidade de o professor
especializado encontrar saídas, descobrir o que pode acrescentar ao seu plano inicial
de ação, para mantê-lo atualizado e aberto a novos possíveis. Todas as suas
atribuições envolvem muita dedicação e um nível de responsabilidade que precisa ser
desenvolvido na prática, mas tendo por detrás uma boa sustentação teórica coerente
com os princípios da inclusão e, portanto, com o que se entende por “diferenças na
escola” e não com a “escola dos diferentes”.
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escolas próximas, nas quais não exista esse atendimento. Pode ser realizado
individualmente ou em pequenos grupos, para alunos que apresentem necessidades
educacionais especiais semelhantes, em horário diferente daquele em que frequenta
a classe comum (BRASIL, 2001c, p.50).
Essas salas de recursos, além de não refletirem a expressividade do aspecto
conceitual que a identificava não foram suficientes para atenderem às reais
necessidades de apoio pedagógico especializado que cada aluno com deficiência
requeria, dada a especificidade existente. Até mesmo pelos locais em que
funcionavam, nem sempre condizentes com as reais necessidades dos serviços, ou,
ainda, pela falta de clareza do verdadeiro papel das salas de recursos, muitas vezes,
entendido como de reforço escolar.
Foi assim, que com as mudanças trazidas pelos documentos oficiais, hoje se
pode ter sala de recursos multifuncionais, identificada atualmente no texto da
Resolução CNE/CEB, no. 4 de 2 de outubro de 2009, para oferecer o atendimento
educacional especializado. Essa sala pode ser compreendida como “um espaço para
a realização do atendimento educacional especializado de alunos que apresentam, ao
longo de sua aprendizagem, alguma necessidade educacional especial, temporária ou
permanente” (BRASIL, 2006, p. 15).
O atendimento educacional especializado nas salas de recursos multifuncionais
se caracteriza por ser uma ação do sistema de ensino no sentido de acolher a
diversidade ao longo do processo educativo, constituindo-se num serviço
disponibilizado pela escola para oferecer o suporte necessário às necessidades
educacionais especiais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento
(BRASIL, 2006).
Esse atendimento educacional especializado, então: [...] constitui parte
diversificada4 do currículo dos alunos com necessidades educacionais especiais,
organizado institucionalmente para apoiar, complementar e suplementar os serviços
educacionais comuns. Dentre as atividades curriculares específicas desenvolvidas no
atendimento educacional especializado em salas de recursos se destacam: o ensino
de Libras, o sistema Braille, e o Soroban, a comunicação alternativa, o enriquecimento
curricular, dentre outros (BRASIL, 2006, p. 15).
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a permanência e o percurso escolar com sucesso. Nesse contexto, alunos com e sem
deficiência estudando juntos, dividindo o mesmo espaço, usufruindo dos mesmos
direitos.
Com esses propósitos, mudanças foram introduzidas na política nacional de
educação especial, o que requer estudos que contemplem as necessidades básicas
de aprendizagem desses alunos e promovam superações. Por isso, a aprendizagem
e a educação escolar precisam constituir-se como foco dos projetos educacionais,
com as devidas atenções às necessidades específicas e ações voltadas a essas
questões.
Dessa forma, os estudos aqui apresentados sobre o atendimento educacional
especializado, conciliam-se com ações voltadas ao atendimento, às estratégias de
trabalho para essas finalidades e às práticas pedagógicas necessárias para o acesso
das pessoas com deficiência aos níveis, etapas e modalidades de ensino, direito
instituído pela Constituição Federal de 1988 e implementado pela Lei 9394/96-LDB e
seus desdobramentos.
Com a instituição da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, o entendimento conceitual e operacional, bem como das
dimensões do atendimento educacional especializado, princípios, diretrizes que o
norteiam, demandam estudos, pesquisas e orientações, a fim de que não se reduza
apenas ao texto das normas educacionais, que sobre esse atendimento dizem que:
[...] necessariamente diferente do ensino escolar e que é indicado para melhor suprir
as necessidades e atender às especificidades dos alunos com deficiência. Ele inclui,
principalmente, instrumentos necessários à eliminação das barreiras que as pessoas
com deficiência têm para relacionar-se com o ambiente externo. Por exemplo: ensino
da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), do código Braille, uso de recursos de
informática e outras ferramentas tecnológicas, além das linguagens que precisam
estar disponíveis nas escolas comuns para que elas possam atender com qualidade
aos alunos com e sem deficiência (BRASIL, 2007, p.26).
Pelo visto, os documentos publicados a esse respeito não apresentam
detalhamentos suficientes para esclarecer como deve ocorrer de fato sua
operacionalização frente às demandas das pessoas com deficiência. Além do mais,
refletindo suas necessidades no contexto das diferenças, cada pessoa é única e difere
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ativos na construção de uma sociedade que seja realmente para todas as pessoas,
independentemente de sua cor, idade, gênero, tipo de necessidade especial e
qualquer outro atributo pessoal (SASSAKI, 1997, p. 27)
Por outro lado, autores como Pessoti (1984), Amaral (1995), Schwartzman,
(1999), Cardoso (2004), Carvalho (2004), Bianchetti (et al. 1998) Glat (2007), Osório
(2007) e tantos outros pesquisadores evidenciam episódios excludentes que
marcaram a vida das pessoas com deficiência, a partir da antiguidade aos dias atuais,
em que as políticas públicas ainda se mostram insuficientes para garantir o acesso
das famílias e de seus filhos com deficiência aos direitos sociais, principalmente à
educação.
Na antiguidade, as pessoas com deficiência eram abandonadas ou
exterminadas, por não corresponderem aos ideais de homem para aquela sociedade,
cujos referenciais de perfeição e beleza eram determinantes.
Segundo Cardoso (2004), em Esparta, crianças com deficiências eram
consideradas subumanas, o que legitimava as políticas de extrema exclusão a que
eram submetidas. Além de suas vidas ameaçadas, eram significativas as resistências
quanto à aceitação das pessoas com deficiência na sociedade. Na Idade Média, sob
a influência da Igreja, predominava a crença de que a deficiência era um fenômeno
metafísico e espiritual e, assim, a deficiência era, ao mesmo tempo, uma questão
divina ou demoníaca. Essa concepção, de certa forma, influenciava a forma de
tratamento dispensado às pessoas com deficiência, o que as colocavam, segundo
Cardoso (2004, p. 16), numa “mesma categoria, a dos excluídos”.
Para a doutrina cristã, as pessoas com deficiência eram possuidoras de alma
e, portanto, filhas de Deus. Com isso, não poderiam mais ser abandonadas, pelo
contrário, deveriam ser acolhidas por instituições de caridade. Mesmo assim, as
pessoas com deficiência mental, por exemplo, eram consideradas produtos da união
entre a mulher e o demônio, motivo pelo qual, deveriam ser queimadas
(SCHWARTZMAN, 1999). Além disso, outros tipos de punições e torturas foram
identificados, e a dualidade caridade-castigo marcou o pensamento da sociedade
medieval em relação à pessoa com deficiência mental, assunto que teve
aprofundamento por Pessoti (1984), dentre outros pesquisadores.
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Para Glat (1995), tanto a forma de comportamento das pessoas com deficiência
na sociedade como a interação da sociedade com essas pessoas são determinantes
no que diz respeito à construção dos rótulos e dos valores que as identificam. De certa
forma, isso é indicativo de responsabilização do contexto social pela construção da
deficiência.
Por sua vez, no entendimento de Omote (1995), a pessoa com deficiência
mental possui algumas limitações em suas capacidades e desempenhos em algumas
ações, como há outras pessoas não identificadas como pessoas com deficiência
mental e que possuem outras limitações.
Vale ressaltar que a questão conceitual é complexa e não se constitui como
algo acabado, ou seja, acompanha a evolução histórica na sociedade que o influencia
com suas crenças, valores, determinantes morais, conceituais, políticos e até mesmo
econômicos.
a garantia e a efetivação dos direitos instituídos por força do arcabouço legal em nosso
País.
Da mesma forma, Glat (2003) nos esclarece que a deficiência não existe
unicamente inerente às pessoas, que não existe descontextualizada do meio social.
Tal como outros pesquisadores que destacamos neste estudo, deficiência é um
conceito que deve englobar o contexto socioeconômico e político de nossa época,
bem como as influências culturais presentes na construção desse sujeito concreto.
Nessa lógica, é importante compreender as relações estabelecidas entre a
criança com deficiência e o seu ambiente, em cada momento de sua vida, bem como
os conceitos e características, que, historicamente vêm se constituindo como traços
indicativos da deficiência na sociedade, por exemplo, o tripé, deficiência, incapacidade
e impedimento. “Deficiências são relativas a toda alteração do corpo ou aparência
física, de um órgão ou de uma função, qualquer que seja sua causa; em princípio
significam perturbações em nível de órgão” (AMARAL, 1995, p. 63).
não é mais dessa forma que devemos pensar a pessoa com deficiência, relacionandoa
a faltas, ao não poder.
Devemos empreender esforços, no sentido de contrariar qualquer tipo de
conceito pejorativo, e lutar contra essa cultura reducionista. Sabemos que, mesmo
com a evolução da sociedade, esta não rompeu totalmente com sua história conceitual
e preconceituosa, especialmente quanto à convivência e aceitação das diferenças,
haja vista as atitudes frente às pessoas que apresentem algum tipo de deficiência.
Pessoas significativamente diferentes geram impacto no olhar do outro,
provocando: “[...] sentimentos de comiseração (com diversas manifestações de
piedade, caridade ou tolerância, seja porque o ‘diferente’ é cego, surdo, deficiente
mental, deficiente físico, autista, ou deficiente múltiplo...)” (CARVALHO, 2004, p. 40).
Contrapondo a essas práticas, a Constituição Federal (1988) incorporou vários
dispositivos referentes aos direitos da pessoa com deficiência, nos âmbitos da saúde,
educação, trabalho e assistência. Tais determinações estenderam-se para outros
textos legais da União e para as legislações estaduais e municipais
(FERREIRA&FERREIRA, 2004).
A Constituição Federal nos aponta direitos essenciais, que se atendidos
poderão garantir qualidade de vida e plenas realizações, vejamos os principais:
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Para Omote (apud Amaral, 1995, p. 60), as tendências que marcaram tais
mudanças são necessárias, pois “os discursos acerca da deficiência não são retratos
dela, mas retratos de como ela é interpretada por meio de parâmetros ideológicos”.
Com isso, pensar a pessoa com deficiência na sociedade nos dias atuais deve
extrapolar preocupações aprisionadas às questões terminológicas que, como visto,
são tão variáveis, devendo-se, sobretudo, vislumbrar um olhar prospectivo sobre as
pessoas com deficiência, suas habilidades, potencialidades, condições de superação
e de construção da autonomia. Isso significa pensar na valorização de suas
habilidades e capacidades, em detrimento das dificuldades intrínsecas à inter- relação
entre essas pessoas e o ambiente.
Assim, sugere-se pensar a deficiência com “[...] menos ênfase nos aspectos
orgânicos e de constituição biológica da deficiência e mais ênfase nas relações sociais
e na atenção educacional [...]” (FERREIRA & FERREIRA, 2004, p. 41).
Com base nessas considerações acerca do processo histórico e conceitual que
permeia a vida das pessoas com deficiência defende-se outra história na vida das
pessoas com deficiência, repleta de realizações, de acolhimento, de cidadania e de
respeito, pelos quais as portas da vida se abram definitivamente para o hoje e para
um amanhã cheio de certezas e de muito sucesso. Enfim, que haja verdadeiro acesso
aos direitos constitucionais das pessoas com deficiência em todos os sentidos.
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Convêm refletirmos com Ferreira e Ferreira (2004, p. 36), quando falam da forte
presença do fracasso escolar nas escolas, de uma forma bem peculiar, e como uma
questão ainda não superada: Os estudos sobre a realidade social da escola
evidenciam que ela ainda não conseguiu equacionar um de seus mais sérios
problemas, conhecido como o fenômeno do fracasso escolar. [...] temos ainda hoje
uma escola regular que não sabe bem como ensinar seus alunos “tradicionais”.
E a prática pedagógica do professor? O que esse assunto tem a ver com tudo
isso? A grande questão que nos impulsionou a mais uma vez falar do tema no contexto
da escola que se quer inclusiva, diz respeito à curiosidade de saber: como essa prática
ocorre? Ao mesmo tempo, pesquisar sobre os fundamentos que direcionam essas
práticas.
Começamos pelos professores, que, em sua atuação, direcionam seu trabalho,
em sala de aula, conforme Marques (2001), calcados numa prática pedagógica
influenciada por correntes diversas. Apoiadas em teorias da aprendizagem, que no
entendimento de Moreira (1999) podem ser explicadas da seguinte forma:
No caso das teorias da aprendizagem são três as filosofias subjacentes – a
comportamentalista (behaviorismo), a humanista e a cognitivista (construtivismo) –
embora nem sempre se possa enquadrar claramente determinada teoria de
aprendizagem em apenas uma corrente filosófica (MOREIRA, 1999, p. 13-14, grifos
do autor).
Na lógica, comportamentalismo define-se como: As aprendizagens desejadas
[...] aquilo que os alunos deveriam aprender, eram expressas em termos de
comportamentos observáveis. Os objetivos comportamentais definiam, da maneira
mais clara possível, aquilo que os alunos deveriam ser capazes de fazer, em quanto
tempo e sob que condições, após a instrução. A avaliação consistia em verificar se as
condutas definidas nos objetivos comportamentais eram, de fato, apresentadas ao
final da instrução. Se isso acontecia, admitia-se implicitamente, que havia ocorrido
aprendizagem (MOREIRA, 1999, p. 14).
Enquanto que o construtivismo: [...] é uma posição filosófica cognitivista
interpretacionista. Cognitivista porque se ocupa da cognição, de como o indivíduo
conhece, de como ele constrói sua estrutura cognitiva. Interpretacionista porque supõe
que os eventos e objetos do universo são interpretados pelo sujeito cognoscente. O
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características das crianças e jovens que nela estão e dela esperam um papel crucial
no desenvolvimento cognitivo em todas as esferas do simbólico. E isso só é possível
com base em um projeto político- pedagógico que defina, com clareza, seu papel de
conhecer, reconhecer e programar a sua tarefa de criação positiva de formas de
trabalho, que respondam às particularidades de seus educandos; tanto as
particularidades pessoais de gênese biológica quanto as que são construídas na vida
social, nas relações concretas de vida de cada um (PADILHA, 2001, p. 108).
Com base em tais pressupostos, fica evidente que precisamos evoluir no
sentido de perceber esses alunos diferentemente do ideário que apontava para
diferenças como algo vinculado às faltas, aos impedimentos, às incapacidades.
Padilha (2001, p. 108) reproduzindo uma expressão de Vygotsky, acrescenta que
precisamos de “um novo ponto de vista” (VYGOTSKY, 1989, p. 33). Vygotsky ao
mesmo tempo, diz: “Que verdade – libertadora para o pedagogo! [...] o mais importante
é que a educação se apoie não só nas forças naturais do desenvolvimento, senão
também no ponto especial e final sobre o qual deve orientar-se”.
Por sua vez, Caiado (2007, p. 211) chama nossa atenção para a seguinte
constatação: Em nosso país nos acostumamos com pessoas deficientes caladas, sem
voz. Impossibilitadas de sair de casa por barreiras materiais ou por uma visão de
mundo hegemônica que as intitula incapazes e culpadas pela condição em que se
encontram vítimas.
Precisa-se construir outra maneira de pensar a pessoa com deficiência sob a
ótica das possibilidades, de seu funcionamento como pessoa, de tal forma, que seja
requisitada a participar do processo de aprendizagem e, ao mesmo tempo,
beneficiarse desse processo, por um lado, em nome de seus direitos e, por outro, em
nome de suas próprias necessidades escolares, de aquisição do conhecimento,
especialmente daquele que é exigido pela escola, sem o qual é um aluno reprovado
na escola e até na vida. Modificar essa situação não é tão simples de acontecer, no
momento em que: A escola cria realidades. Ao instituir a ideia de aluno como um ser
em preparação para a vida, criar o currículo padronizado, seriado, baseado em pré-
requisitos e linearmente organizado, forja e oficializa uma estrutura padrão do
desenvolvimento intelectual. Na sua missão de qualificar competências, elabora
mecanismos e procedimentos de avaliação que legitimem sua ação – daí, sua
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Partindo de sua tese de doutorado, Mendes (2008) nos diz que as práticas
curriculares são fundamentais para “a análise do trabalho da escola diante da
deficiência”, embora nesse mesmo trabalho tenha descoberto que haveria
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a escrita e nas terceiras e quarta séries é um fim em si mesmo. Não importa o sentido
e o significado para os alunos, importa é a tarefa, a atividade de mantê-los ocupados
de uma forma que lhes possibilite aprender a ler e escrever (MENDES, 2008, p. 143.).
Isso com uma forte constatação por parte dessa autora, ou seja, as práticas
realizadas contribuem para que o aluno abandone a leitura como prática social, ao
mesmo tempo em que, os conteúdos trabalhados são apresentados com base em
uma seleção de natureza pobre, desconexa, descontextualizada e sem o real
significado para os alunos, o conhecimento trabalhado em sala de aula é deslocado
do tempo e do espaço, em suma, “empobrecido, destituído de sentido, deslocado,
fragmentado e, principalmente, [...] incapaz de auxiliar na constituição de uma leitura
de mundo” (MENDES, 2008, p. 143).
O trabalho ora refletido contém infindáveis dados para serem estudados,
porém, não cabem aqui maiores aprofundamentos sobre o estudo em pauta, todavia,
ainda destacam-se o que disse a própria pesquisadora, ao constatar na escola
práticas curriculares fundamentadas em princípios homogeneizadores: [...] há uma
concepção intrínseca de que o processo de aprendizagem é igual e ocorre da mesma
forma para todos os sujeitos. Talvez, o mais adequado fosse afirmar que, na escola
estudada, como o foco é exclusivo no ensino, o princípio da homogeneização faz
constituir práticas de ensino centradas no coletivo: um único modelo válido de ensino,
um padrão de tarefas a serem solicitadas, um modelo invariante de sequências
didáticas (MENDES, 2008, p. 146).
Em decorrência, tais práticas observadas configuravam-se pela definição de um
modelo fixo de aluno, pelo qual, as diferenças tanto do tipo de capacidade superior
como inferior para a aprendizagem constituíam-se em empecilhos para o bom
andamento das aulas, sob o ponto de vista das práticas então institucionalizadas para
atender a tal modelo, inclusive a forma de ensino e aprendizagem respectivamente
determinada pelo professor.
[...] dessa forma tudo que fugia a esse modelo era visto como diferente, sendo
o diferente, nesse caso, sinônimo de inadequado, de dificuldades ou até mesmo de
incapacidade.
Nesse sentido, a atenção voltada para essa diferença que emergia, já partia do
pressuposto de enxergar nela o menos, o obstáculo, o erro, a impossibilidade. No
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que não desestabilizem nem a sua cultura, nem a cultura dos professores, isto é,
continua pautada no princípio da homogeneização.
Outra constatação foi quanto ao descrédito sobre a aprendizagem dos alunos
surdos nas classes regulares, o que era entendido como perda de tempo, pois
acreditavam que esses alunos sairiam do ensino fundamental sem a real
concretização das aprendizagens, especialmente porque os professores não se
consideravam preparados para ensiná-los. Sobre a inclusão do aluno surdo no ensino
regular, mostravam-se totalmente contrários. A preocupação maior manifestada pelos
professores era com a possibilidade de socialização desses alunos.
As condições sociais vividas por esses professores vêm continuamente
reiterando a ideia de que esse é o objetivo central, ou seja, a partir da segregação,
educá-los para serem inseridos ou integrados de modo adequado ao convívio social.
Nesse sentido, a maioria dos professores do ensino regular pareceu favorável à
inclusão, mas enfatizando como contribuição da escola o favorecimento da
socialização desses alunos (OLIVEIRA, 2008, p. 178).
Importante constatação foi apresentada pela referida pesquisadora: Considerar
o estar junto na classe como contribuição da escola é muito pouco quando se pensa
no conceito real da inclusão e evidencia claramente o desencontro entre o que se
manifestava e as ações que se realizavam. Verifiquei que, mesmo quando apareceu
a oportunidade de interação entre surdos e ouvintes, em uma das aulas, ela foi retirada
pelo próprio professor da classe. Não há neutralidade nem acaso nessas ações, pois
elas revelam baixa expectativa real em relação a esses alunos, até mesmo nesse
ponto, apesar de reproduzirem, quase que mecanicamente o que veiculam. Na própria
escola e fora dela, [...] uma das professoras considerou que os alunos da 6ª série
(apesar dos 17 e 21 anos) eram incapazes de participar da festa do folclore, servindo
pratos típicos cujas receitas foram copiadas na aula (OLIVEIRA, 2008, p. 179).
A descrença relativa à capacidade dos alunos aprenderem os conteúdos
próprios da etapa de ensino fundamental era evidenciada na fala dos professores,
quando esses diziam que os alunos surdos só aprenderiam nas classes regulares
Português, Matemática e Artes, enquanto que outras áreas de conhecimento só
aprenderiam nas classes especiais, uma vez que lá ministravam aulas, professores
especializados. Sem contar que, aqueles professores consideravam a gramática
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desnecessária aos alunos surdos, cujos textos a eles oferecidos eram desprovidos de
linguagem escrita e, em sua maioria, eram apresentados em forma de desenho,
diferentemente do que era praticado e aplicado aos alunos ouvintes.Outro aspecto
relevante apontado por Oliveira (2008) diz respeito ao tempo e espaço escolar
destinado aos alunos surdos. Sobre esse assunto, destaca o seguinte: Considerando
que o tempo normal para se cursar o ensino fundamental é de oito anos, e
considerando a idade de acesso à escola, que, segundo as informações obtidas, era
efetuada por volta dos dez anos, verifica-se a defasagem significativa na vida escolar
desses alunos, como o caso de uma aluna que, com 23 anos, estava cursando a 7ª
série do ensino fundamental. Esse aspecto está relacionado com o que foi dito antes,
a respeito da inserção parcial e total dos alunos surdos no âmbito da escola, ou seja,
há uma imprecisão que leva às ambiguidades e à indeterminação quanto aos espaços
a serem ocupados pelos surdos (OLIVEIRA, 2008, p. 184).
A atuação dos professores observados por Oliveira (2008) era comprometida
com o ensino tradicional, evidenciado pela comunicação na sala de aula, uma vez
constatado que os conteúdos eram ensinados, por meio de aulas expositivas, de
maneira oral e/ou escrita na lousa.
Percebe-se que alguns professores parecem estar diante de dilemas frente à
inserção de alunos surdos nas classes comuns, uma situação complexa que exige
tomada de decisões que tendem a romper a conexão pensamento e ação tradicional
[...]. Diante da impossibilidade de tomar uma decisão adequada à situação que se lhe
apresenta, muitas vezes, os professores são invadidos por uma sensação de fracasso
ou dúvida, como muitos se manifestaram (OLIVEIRA, 2008, p. 191).
Destaca-se que muitos foram os dados encontrados pela referida pesquisadora,
no entanto, só alguns foram destacados como os principais aspectos da prática
pedagógica dos professores observados, dentre os já citados:
Vários professores comentaram sobre as necessidades sentidas por eles em
alterar algo de seu padrão de atuação. Ir mais devagar, adequando-se ao ritmo dos
surdos; passar texto na lousa, coisa que não fazem quando não há aluno surdo na
classe; preocupar-se com filme legendado, e não apenas com o dublado; preocupação
com o desenho, para explicar ainda melhor o que já explicaram, foram algumas das
manifestações de professores as quais podem ser creditadas à alteração provocada
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pela inserção desses alunos nas classes regulares. Além disso, a relação interpessoal
com as professoras da classe especial, apesar de incipiente, passou a ocorrer
principalmente por causa da LIBRAS (OLIVEIRA, 2008, p.192).
Em suma, essa pesquisadora apontou expectativas em torno das professoras
com relação à possibilidade do aluno surdo aprender, como: escasso apoio
institucional para o trabalho com esses alunos, os professores não foram consultados
antes de os receberem em suas salas, alunos surdos apartados dos demais alunos
na escola, crença de que a surdez é impeditiva da aprendizagem, tendência à
homogeneização das turmas, atuação dos professores e organização escolar
sugestivas de um ambiente segregador dos alunos surdos.
“No entanto, foram encontrados professores que alteraram suas rotinas para
atender alunos com dificuldades, incluindo os surdos, fato que permite considerar as
possibilidades de mudança ainda que muito diminutas e parcelares” (OLIVEIRA, 2008,
p. 200). Com isso, não podemos afirmar que, de todo, a escola apresenta barreiras
para a aprendizagem dos alunos surdos ou que os professores não se comprometem
com sua aprendizagem, pois algumas mudanças na escola já estão acontecendo.
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prontas para nenhum tipo de aluno e, nem ao menos iguais, para o mesmo tipo de
deficiência, pois, cada aluno é único. Assim, conforme Glat (2007, p.89) “O professor
terá que valorizar seu próprio saber e criatividade, contando, sempre que necessário,
com supervisão ou suporte para o seu trabalho”.
Da mesma forma, destacamos que: O professor, na sua condição de sujeito,
elabora representações do espaço escolar pelas quais organiza sua ação, toma
decisões, resolve conflito e exerce intencionalmente sua ação educativa. No seu
trabalho pedagógico, experimenta vivências emocionais diversas, susceptíveis de
organizar-se em sentidos subjetivos que, surgidos na ação, também a mediatizam
participando em alguma medida na caracterização de sua ação como mais ou menos
criativa. É o professor, na sua condição de sujeito, quem planeja e desenvolve o
trabalho pedagógico a partir de suas configurações subjetivas, das características do
contexto em que atua e da subjetividade social que o caracteriza (MARTINEZ, 2008,
p. 77).
Com essas reflexões, a nossa pretensão foi apresentar estudos desenvolvidos
nas perspectivas teórico-metodológicas que inauguraram os séculos XX e XXI, com
reflexões pautadas em diversas referências e visões do passado histórico, no que diz
respeito às pessoas com deficiência e às teorias que discutem a aprendizagem, bem
como as práticas pedagógicas que as mediatizam.
Isso tudo, a fim de buscarmos aprofundamento em conhecimentos teóricos
acumulados sobre as práticas pedagógicas e seus fundamentos, a fim de
identificarmos tais práticas no interior da escola e sua influência no processo de
ensino-aprendizagem, especialmente em classes comuns em que estudam alunos
com e sem deficiência – ação impulsionada pelo movimento da educação inclusiva no
País.
Hoje, vivemos com uma multiplicidade de concepções sobre a deficiência,
muitas delas, se não a maioria, constituindo-se como agregados sincréticos de tantas
outras que, na verdade, mais obscurecem do que desvendam a natureza mesma do
fenômeno. A visão sobrenatural e a naturalista atravessaram o tempo e mantêm-se
até hoje atualizadas, ainda que a elas se oponham as ideias eussêmicas. Conforme
vimos com o advento do Cristianismo, foram extinguindo-se as práticas de eliminação
da pessoa deficiente, já que esta, possuidora de alma, deveria ser acolhida, ou seja,
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diversificam-se, dentre eles, o que foi vivenciado por Oliveira (2007, apud
MEIRELLES, 2007, p. 39), a qual nos diz o seguinte: Em um encontro de educadores,
uma professora levantou em relação à seguinte questão: é certo os alunos com
necessidades especiais serem cobaias na escola? E um rapaz com paralisia cerebral
com formação em nível superior levantou-se e disse: se eu não fosse cobaia há vinte
anos eu não estaria aqui hoje. O fato de uma escola ter me recebido, após inúmeras
tentativas de minha mãe, fez com que eu chegasse onde cheguei, provavelmente eu
estaria hoje em um canto de uma sala ou em uma rede.
Autores como Glat e Nogueira (2002), Mendes, Ferreira & Nunes (2003) e Beyer
(2005) vêm alertando para a questão da insuficiência dos cursos de formação de
professores para o trabalho com a diversidade. No que diz respeito à formação dos
professores para trabalhar com os pressupostos da educação inclusiva,
pesquisadores apresentam manifestações diversas, inclusive apontando
inconsistências presentes no currículo voltado a essas práticas.
[...] em todas as questões que se referem a currículo para formar professores,
percebemos a incompletude. Não há respostas fechadas quanto à dicotomia entre as
perspectivas de inclusão e a manutenção da exclusão diária e contumaz. Ou quanto
ao atendimento às classes heterogêneas via atividades diversificadas. Certamente,
não se constrói um currículo de forma apriorística por meio de planilhas rígidas e
objetivos estereotipados. Ele é vivo, produto de uma construção coletiva, vivenciado
no cotidiano da educação. Há muito que fazer, portanto, para que o “fazer pedagógico”
dos professores que trabalham com alunos portadores de necessidades educativas
especiais possa ser aperfeiçoado (OLIVEIRA e ABREU, 2003, p. 108 apud OLIVEIRA;
MACHADO, 2007, p. 39).
Da mesma forma, Fontes (2010, p. 56-57) contribui com esse assunto e
acrescenta: [...] além da falta de preparo teórico-metodológico para incluir o aluno com
deficiência ou outras condições de “excepcionalidade”, o professor do ensino regular
pode apresentar expectativas desfavoráveis em relação a sua capacidade de
aprendizagem. Nesse sentido, a aceitação do “aluno especial” e suas diferenças é um
processo complexo que passa pela sensibilização do professor.
O Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001) já denunciava não acreditar na
eficácia da escola sem que seus professores estivessem devidamente preparados
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para atender aos alunos com deficiência, por ocasião de sua formação inicial. Ao
mesmo tempo, refere-se à necessidade de formação continuada, reconhecendo que
esta “assume particular importância, em decorrência do avanço científico e tecnológico
e de exigência de um nível de conhecimentos sempre mais amplos e profundos na
sociedade” ( p. 77).
E tais providências são imprescindíveis, cresce cada vez mais a atuação do
Ministério de Educação com projetos voltados à efetivação da educação inclusiva no
contexto educacional brasileiro, conciliada com a projeção da construção da
sociedade inclusiva. Sobre esses dois assuntos, nas suas considerações sobre as
pesquisas realizadas por educadores, e, ao mesmo tempo, reportando-se às defesas
da construção de uma sociedade democrática encabeçadas por Anísio Teixeira (1979
apud BUENO 2008) e Paulo Freire (1967 apud BUENO, 2008), Bueno (2008, p. 56)
nos adverte sobre o real significado de tais bandeiras levantadas no País: A bandeira
da educação inclusiva parece, em princípio repor sobre outras bases, esses mesmos
ideais, mas isto é somente aparência, pois se o norte é a educação inclusiva como
meta a ser alcançada, isto significa que a projeção política que se faz do futuro é de
que continuarão a existir alunos excluídos, que deverão receber atenção especial para
deixar de sê-lo. [...] esta nova bandeira vira de cabeça para baixo aquilo que era uma
proposição política efetivamente democrática (mesmo com perspectivas políticas
diferentes), na medida em que o que deveria se constituir na política de fato – a
incorporação de todos pela escola, para se construir uma escola de qualidade para
todos – se transmuda num horizonte, sempre móvel, porque nunca alcançado.
Documentos emanados do Ministério da Educação (MEC), órgão nacional
responsável pela política pública de educação, tais como, a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), tratam da
emergência dos alunos com deficiência estudarem nas classes comuns junto com os
alunos sem deficiência, em todos os níveis, etapas e modalidades da Educação
Nacional, conforme previstos na Lei 9394/96 (LDB).
Tais providências foram reforçadas pelo texto da Convenção da Organização
das Nações Unidas (ONU, 2006b), nos seguintes termos:
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[...] reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. [...] deverão
assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o
aprendizado ao longo de toda a vida;
[...] [reconhecem] que as pessoas com deficiência não sejam excluídas do
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com
deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob
alegação de deficiência;
Deverão assegurar que pessoas com deficiência possam ter acesso à
educação comum nas modalidades; de ensino superior, treinamento profissional,
educação de jovens e adultos e aprendizado continuado, sem discriminação e
igualdade de condições com as demais pessoas. Para tanto, os Estados Partes
deverão assegurar a provisão de adaptações razoáveis para pessoas com deficiência.
Muito embora, as orientações supramencionadas ainda mereçam prudência,
pois, oportunamente, lemos o seguinte: [...] não se pode esperar que a turma comum
seja o ambiente de aprendizagem melhor para todos, sobretudo para os que
apresentam comprometimentos graves. Há crianças com comportamentos que
colocam em risco a si mesmas e aos outros; há aquelas que não se expressam ou
movem, e que sem uma interação mais próxima, em ambiente mais estruturado, o
professor não terá respostas a dar às suas necessidades educacionais especiais.
Some-se a isso o fato de que muitas dessas crianças e jovens tiveram seu ingresso
na escola tardiamente e não têm qualquer referência educacional. O que estamos
querendo enfatizar é que, dada a diversidade do alunado e das realidades escolares,
não temos ainda conhecimento e experiências de escolas inclusivas acumuladas que
permitam afirmar que as classes comuns da maioria das escolas brasileiras – com
grande número de alunos, professores sem formação adequada, entre outros
aspectos – são a melhor opção para aprendizagem e desenvolvimento de todos os
alunos (GLAT, 2007, p. 32-33).
Além disso, a parceria entre a escola comum e a educação especial deve ser
cada vez mais incentivada, haja vista a essencialidade da atuação conjunta de ambas
para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, no
momento em que a educação especial, em suas finalidades atuais, requer
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considerar o que nos apontam Anache e Martinez (2007, p. 47): O ser humano possui
uma história social, na qual estão englobados elementos da cultura e uma história
individual, os quais dizem respeito ao contexto relacional, que também é cultural, o
que dificulta padronizar um tipo específico de comportamento para um determinado
tipo de deficiência, ou seja, as reações frente à deficiência dependem não só das
capacidades individuais do sujeito, mas também do que representa para seu ambiente
familiar, escolar e social.
Nesse sentido, a educação com caráter interacional, configura-se em uma ação
processual de construção e reconstrução de conhecimentos, resultantes das
interações entre as pessoas, cada qual, com seus valores, ideias, percepções,
interesses, capacidades, estilos cognitivos e aprendizagens.
De tal modo, compreender o processo da aprendizagem de pessoas requer o
rompimento com a homogeneização, pois cada aluno é único e tem uma forma de
aprender. Isso significa pensar no quanto é necessário adentrar na escola a
disseminação pelo respeito à diversidade, cuja significação remete a outras
orientações às ações e ao Projeto Político Pedagógico da escola. Para tal, devemos
entender que: A celebração da diversidade é um verdadeiro desafio, porque o modelo
classificatório que pautou o último século da educação teve sempre por referencial o
padrão, a uniformidade, a homogeneidade. Em virtude disso, nossas instituições de
ensino foram e vêm sendo fortemente seletivas e excludentes, uma vez que se
contrapõem à natureza própria do desenvolvimento humano – que tem sua origem na
diversidade (HOFFMANN, 2005, p. 39).
Aliado a essas considerações, deve-se buscar outras formas de pensar sobre
cada uma dessas pessoas e de como ensiná-las.
O aporte teórico torna possível que as situações de ensino e aprendizagem
tenham sentido e sejam preparadas, modificadas, interrompidas [...] Procedimentos,
apenas meios e circunstâncias para alcançar objetivos mais amplos, esses sim,
norteadores de nossas ações educativas – o desenvolvimento e aprendizagem,
necessários à inserção cultural (PADILHA, 2001, p. 82).
Temos visto por parte de autores, tais como Glat (et al., 2007), bem como
Ferreira (2007) e Anache (2007), o quanto atividades diversificadas, criativas, trabalho
em grupo, pesquisas, aulas passeio e outras estratégias impactam positivamente em
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suas vidas, lembrando o seguinte: [...] em uma classe inclusiva, o professor terá que
aprender como melhor lidar com as diferenças significativas entre os alunos.
Conceitos que são considerados elementares para um determinado nível de
raciocínio, para alunos que apresentam deficiência mental podem não ser. Além disso,
muitas vezes, o professor avalia o aluno a partir de sua expectativa, não tendo o
cuidado de analisar as hipóteses por ele apresentadas. Assim, uma resposta que
parece sem lógica, com base nos processos cognitivos esperados, pode ter coerência
para aquele aluno que está iniciando suas investidas no curso da sua vida acadêmica
e que, dependendo da avaliação que seu professor fizer, terá ou não motivação para
continuar. Em outras palavras, a lógica da aprendizagem é inerente ao processo que
cada aluno percorre para alcançar conhecimento. Consequentemente, o professor
deve saber valorizar os diferentes caminhos percorridos por todos os seus alunos,
tenham eles uma necessidade educacional ou não (GLAT, et al. 2007, p. 89).
Reconhece-se que, se bem planejadas, inúmeras atividades podem favorecer
a aprendizagem dos alunos, mesmo os com deficiência, no entanto: [...] para ensinar
em uma turma inclusiva, o professor precisa adotar uma postura flexível e criativa,
revendo e transformando sua prática cotidianamente. Ele precisa estar muito atento
aos seus alunos para reconhecer os conhecimentos que eles já dispõem e as
necessidades educacionais que apresentam, e, a partir desses dados, elaborar formas
alternativas de ensinar, que respondam às necessidades observadas. Nesse sentido,
a avaliação deve ser resgatada como um relevante documento para identificar o que
precisa ser repensado, e como corrigir as falhas no processo de ensinoaprendizagem.
(GLAT et al., 2007, p. 94)
Devemos reconhecer que a aprendizagem é um fato complexo e não acontece
da mesma forma em todas as pessoas, ou, melhor dizendo, a maneira de aprender
não é homogênea, isso significa afirmar que cada um tem formas diferentes de
aprendizagem, de manifestação e de expor suas experiências.
Também, devemos considerar que: Necessidade educacional especial não é
uma característica homogênea fixa de um grupo etiológico também supostamente
homogêneo, e sim uma condição individual e específica; em outras palavras, é a
demanda de um determinado aluno em relação a uma aprendizagem no contexto em
que é vivida. Dois alunos com o mesmo tipo e grau de deficiência podem requisitar
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Capacidade de concentração;
Em quantos objetos é capaz de estar focada simultaneamente
(distribuição);
Excitabilidade (quanto tempo demora para iniciar a atenção).
Dimensões da Memória:
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Características do pensamento:
• Capacidades de generalização.
• Capacidades de identificar e distinguir nos fenômenos e objetos da
natureza o que é essencial e o que é acessório.
• Capacidades de utilizar o cabedal de conhecimentos acumulados para
elaborar conceitos e construir raciocínios.
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Conceitos:
Juízos:
Raciocínio:
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escolares e para além de chavões e discursos festivos e superficiais. Esse parece ser
o maior e mais desafiante dos compromissos dos profissionais da educação
(RESENDE, 2008, p. 19).
Da Declaração de Salamanca, Garcia (2007) foi buscar algumas ideias sobre a
temática flexibilidade, extraindo três delas, quais sejam:
• Sistemas educacionais flexíveis e adaptados para atender às diferentes
necessidades educacionais e contribuir para a educação e a inclusão.
• Currículos adaptados às crianças e não o contrário
• Estratégias de flexibilidade: diversificar opções de aprendizagem,
favorecer a ajuda entre as crianças, e oferecer suportes necessários à aprendizagem
e à convivência familiar e comunitária às pessoas com deficiência.
Resumidamente, apresentamos ideias principais extraídas dos estudos de
Garcia (2007), uma vez que a flexibilidade curricular está presente na Coletânea
Saberes e Práticas da Inclusão (2005) publicada pelo Ministério da Educação, do qual
extraímos a seguinte leitura “[...] o principal objetivo da educação é o de estabelecer
um modelo operacional flexível com uma estrutura aberta que dê suporte a uma
educação adequada ao momento do desenvolvimento em qualquer ambiente onde a
criança esteja” (BRASIL, 2005, p. 14).
Quanto aos saberes e práticas referidas no documento, são elementos que se
encontram alicerçados nos seguintes princípios e fundamentos: identidade, onde a
pessoa humana é vista nos aspectos afetivo, intelectual, moral e ético; gestão
democrática e descentralizada; sensibilidade estética, ou seja, convivência com as
diferenças; a diversidade; redes de apoio e construção de solidariedades, formação
continuada dos professores e articulação entre estes e os professores especializados.
O projeto pedagógico da escola como espaço inclusivo para a diversidade
pensa na aprendizagem de forma coletiva, priorizando as relações entre as pessoas,
a escola, as famílias e a comunidade.
Programas de educação da criança do nascimento aos seis anos que
funcionam em um contexto centrado na participação da família e da comunidade
podem (BRASIL, 2005, p. 9):
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Tais instituições devem saber que a sala de aula com princípios inclusivos
requer diferentes dinâmicas, estratégias de ensino que contemplem a todos os alunos,
sem discriminação e, ainda, complementação, adequação e suplementação curricular,
quando necessários. No que diz respeito ao aspecto valorativo do referido documento
oficial (BRASIL, 1999), Oliveira e Machado, o consideram como reconhecedor da
diversidade na escola, à qual alguns caminhos são apontados, dentre eles:
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• Gerar ideias
• Conversar com usuários (estudante/família/colegas).
• Buscar soluções existentes (família/catálogo).
• Pesquisar materiais que podem auxiliá-los.
• Pesquisar alternativas para confecção do objeto.
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• Acompanhar o uso
• Verificar se as condições do aluno mudam com o passar do tempo e se
há necessidade de fazer alguma adaptação no objeto.
• Os recursos sugeridos no referido documento compreendem, dentre
outros: dominó de cores, de quantidade, em relevo, de Figuras Geométricas, de
Texturas, Quebra-cabeça de Cubos, e outros; Caixa de Estímulos Jogos diversos
(memória, adivinhação; Tangram Imantado; Ábaco de Argolas; Multiplicação em
Pizza, Suporte para Lápis, etc).
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por meio dos recursos usualmente utilizados, mais especificamente a fala (BRASIL,
2006a, p. 4).
Sempre que necessário, deve-se selecionar as atividades, diminuindo as
dificuldades, removendo barreiras, partindo-se de elementos e fatos conhecidos,
oferecer apoios, modificando, sempre que necessário, a sequência das atividades.
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sobretudo, das pessoas com deficiência que devem ser ouvidas em suas
necessidades, em todos os aspectos relacionados com suas necessidades vitais.
REFERÊNCIAS
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