A educação e a inclusão são temáticas que são reconhecidos nos últimos
anos, todavia, são poucas as discussões sobre o ensino de Química na educação inclusiva, tema central desta pesquisa. Se a Química já é tida como uma matéria incompreensível por muitos alunos devido ao seu grau de abstração, os alunos com qualquer que seja a dificuldade devem sentir-se numa corrida educacional nada justa. É de consenso geral a importância da inclusão na compreensão e execução do processo de ensino e aprendizagem do alunos apesar das pesquisas sobre a inserção da inclusão no ensino de Química ter poucas pesquisas relacionadas. Essa percepção e objetivação justifica a pouca pesquisa disponível sobre a temática, até mesmo sobre as práticas de inclusão no ensino da Química .Sabe-se que a Química trabalha situações do mundo real e concreto, mas durante o ensino, na quase totalidade das vezes, são empregados exemplos de elementos microscópicos, como átomos, íons, elétrons, entre outros. Daí foi formulado o seguinte problema de pesquisa: A Educação Especial e o ensino de Química: o que apontam as pesquisas? Aos poucos tem se conseguido embora de forma lenta algumas conquistas no que diz respeito a direito à inclusão escolar. Já há suporte legal para tanto, a exemplo da a Lei nº 9.394, de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB); De acordo com a LDB: Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;(...) Com isso, é de responsabilidade da instituição, organizar-se para melhor atender estudantes com necessidades educacionais especiais, dando-lhe a condição para obter uma educação de qualidade (BRASIL, 2006). A inclusão em salas regulares de ensino é motivo de discussão entre os profissionais envolvidos. Parte dos profissionais, não se sente e não está preparada para trabalhar didaticamente falando, porém esta inclusão deve ser vista como responsabilidade coletiva de toda a comunidade escolar. Para essa realização é preciso uma preparação efetiva dos profissionais, que resulte numa nova maneira de atuar com as diferenças de todos os alunos, refletindo constantemente sobre a sua prática. Até mesmo as escolas inclusivas enfrentam um desafio na aprendizagem dos estudantes, pois é preciso atender todas as necessidades dos alunos. É importante salientar que mesmo com o uso de algumas práticas inclusivas no ensino de Química, o aluno enfrentará dificuldades. Essa pesquisa parte do pressuposto que uma das maiores causas das dificuldades de alunos em aprender Química reside na abstração exigida pela disciplina e o uso de recursos visuais pode auxiliar na aprendizagem por permitir a visualização do conteúdo ensinado. Nesse sentido, o estudo se justifica pela necessidade da utilização de recursos didáticos que priorizem as práticas necessárias para facilitar o aprendizado de alunos , e que por sua vez, garanta uma efetiva educação inclusiva. O trabalho evidencia a experiência de alunos e professores em aulas com e sem práticas inclusivas embora esse instrumento didático também pode ser empregado no ensino de Química para todos os alunos. Abordar o ensino de Química na educação especial é trabalhar a temática educação inclusiva e por isso, um resumo de como a questão vem sendo tratada no Brasil é essencial, inclusive apresentando os avanços na legislação e apontando possibilidades na prática pedagógica que garantam a educação especial. Ainda no tocante à justificativa dessa pesquisa, constata-se ser uma necessidade, uma vez que são poucos os trabalhos que abordam essa temática
A EDUCAÇÃO ESPECIAL E O ENSINO DA QUÍMICA: O QUE APONTAM AS
PESQUISAS ?
A visão e a abordagem das questões da deficiência estão hoje imersas na lente
dos direitos fundamentais, porém, há sempre a necessidade de respeitar os caminhos históricos que possibilitaram a evolução do cenário da inclusão, principalmente no âmbito escolar. A base legal do tema considera pessoa com deficiência toda pessoa com impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que a impeça de participar plena e efetivamente da sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Nacionalmente, a educação para pessoas com deficiência teve início ainda no
Império, quando foram criadas duas instituições com essa finalidade: (i) Instituto dos Meninos Cegos em 1854, atual Instituto Benjamin Constantine - IBC e, (ii) ) Instituto de Surdos, criado em 1857, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES (Brasil, 2007). No entanto, essas instituições só admitiam pessoas com características físicas fora do “normal” e aquelas cujo comportamento era considerado desviante das normas socialmente aceitas da época (FONSECA, 2015).
Isso começou a mudar em meados do século XX, quando políticas de
educação especial começaram a ser instituídas e surgiram escolas públicas e/ou classes especiais destinadas a oferecer educação individualizada para pessoas com deficiência. Por volta da década de 1970, houve um movimento de inclusão social de pessoas com deficiência, com o objetivo de integrá-las em um ambiente escolar o mais próximo possível daquele proporcionado aos demais (MIRANDA, 2008). Desde a década de 1980, a educação tem sido caracterizada pela educação inclusiva. Em 1994, foi realizada na Espanha a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, que resultou na adoção da Declaração de Salamanca . O Brasil também é signatário do documento, que se compromete a garantir que todas as crianças em idade escolar possam frequentar e frequentar a escola de forma permanente, independentemente de suas diferenças ou dificuldades. Assim, os princípios básicos da educação inclusiva que orientam o processo inclusivo estabelecem: […] Todas as crianças devem aprender juntas, independentemente das dificuldades ou diferenças que possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades dos alunos, acomodar diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e garantir educação de qualidade para todos por meio de currículos apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com a comunidade (UNESCO UNESCO, 1994 , pág. 5).
A Declaração de Salamanca tem sido avaliada como um dos mais importantes
documentos voltados para a educação e inclusão social, enfatizando o conceito de necessidades educacionais especiais, abrangendo todas as crianças que não podem se beneficiar da escola (FONSECA, 2015). RECC, Canos, v. 27, não. 1, 01 a 19, março de 2022. Educação Inclusiva e Ensino de Química nas Escolas Públicas: Uma Análise em Contexto 3 Em Carvalho (2008) Considerar a escola, e abandonar o padrão do aluno ideal em favor da diversidade existente. Nessa perspectiva, Silva et al. (2018) apontam que quando se trata de alunos com deficiência, é preciso entender que o processo de aprendizagem pode acontecer dentro da sala de aula regular e mudar o pensamento excludente desses alunos que não são capazes de estudar, conviver e aprender com os demais. Entende-se que para a inclusão de fato acontecer é preciso providências para além de garantir a chegada do aluno à escola, necessitando-se de, por exemplo, mudanças físicas nas estruturas dos prédios, bem como em sua organização pedagógica, na prática dos professores, e no acompanhamento por outros profissionais para auxiliarem nos atendimentos quando se fizerem necessários (OLIVEIRA, 2011). Em relação às escolas, como defende Nascimento (2014) é preciso transformá-las, e esta transformação depende de cada um, da sociedade em geral e principalmente dos professores, pois é um passo importante para que os alunos sejam recebidos em sala de aula. Nesse sentido, para as mudanças na estrutura física das escolas para a permanência de alunos com deficiências, foram criadas no país comissões direcionadas a estas questões, a saber: o Comitê Brasileiro de Acessibilidade e a Comissão de Estudo de Acessibilidade em Edificações, responsáveis por estabelecer normas, como exemplo a NBR 9050 (2015), cujo objetivo foi criar critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade. No âmbito do acompanhamento por profissionais especializados, destaca-se o Decreto nº 7.611 de 17 de novembro de 2011, que dispõe sobre o atendimento educacional especializado (AEE).
Esse decreto esclarece que o AEE se configura como o conjunto de atividades,
recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, prestados das seguintes formas: (i) complementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; (ii) suplementar à formação de estudantes com altas habilidades ou superdotação. Portanto, o AEE nas escolas regulares se apresenta como um serviço criado para dar condições ao aluno com deficiência de frequentar ativamente as atividades da escola, por meio de monitoramentos a serem realizados em Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), visto que essas salas deverão ser ambientes dotados de equipamentos mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos com objetivo de promover o processo de inclusão e apoiar a aprendizagem dos estudantes com deficiências presentes na rede regular de ensino (BRASIL, 2011).
Dentro dessa proposta, entende-se que a prática efetiva do direito à educação
à todos os brasileiros (as) é um fato a ser considerado em todas as áreas, inclusive no que se refere ao ensino das ciências exatas, por se apresentar como necessário para a formação de cidadãos críticos e conscientes do seu papel na sociedade. No que se refere ao ensino de química, segundo Pires (2010) é preciso proporcionar o desenvolvimento de habilidades e competências específicas, permitindo que os alunos sejam capazes de argumentar, compreender e agir, adquirindo uma atitude permanente de aprendizado. Dessa forma, enfatiza-se a relevância das pesquisas em educação que problematizam temas voltados ao ensino de química e a educação inclusiva, para contribuir na desmistificação da ideia de que os alunos com deficiências são limitados e/ou impossibilitados de compreender os conteúdos científicos da área. Diante disso, pesquisas que se propõem a investigar os caminhos percorridos no processo de inclusão RECC, Canoas, v. 27, n. 1, 01-19, março, 2022. A utilização de metodologias de ensino aplicadas em disciplinas que buscam contribuir para formação de sujeitos na perspectiva crítica, democrática e participativa. Portanto, o presente estudo teve por finalidade caracterizar o ensino de química na perspectiva da educação especial A relevância do tema investigado é justificado pelo baixo registro de estudos pontuais sobre esse tema em vários municípios das cidades brasileiras. Pontua-se que os questionamentos que nortearam esta pesquisa buscaram entender: Como e em quais condições as escolas de Ensino Médio buscam efetivar a inclusão de alunos com deficiência no ensino de quimica? Quais as percepções dos professores de química da cidade sobre o processo de Inclusão Escolar?
É preciso entender qual percurso metodológico se é utilizado para com esses
alunos sendo preciso enfatizar a visão de todos aqueles que englobam a construção do processo educacional do que o produto alcançado.tendo em vista os, alunos nessas condições enfrentam barreiras estruturais para a permanência no ambiente escolar, uma realidade também enfrentada em diversos espaços públicos no Brasil. Diante desse quadro, percebe-se que ainda são necessárias diversas adaptações específicas que proporcionem a todos os alunos com deficiências, independente de suas limitações, o acesso e a permanência em qualquer espaço do ambiente escolar.
Em 2010 o Ministério da Educação (MEC) publicou um documento intitulado
“Marcos político-legais da educação especial na perspectiva da educação inclusiva”. Tal publicação aponta os seguintes documentos como marcos político-legais: Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008); Decreto nº 6.571/2008 que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado em uma Convenção a respeito dos direitos das pessoas com deficiência, ratificada pelo Decreto nº 6.949/2009 e Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica – Modalidade Educação Especial – Resolução nº 04 CNE/CEB 2009 (LITWINCZUK, 2011).
A partir desses dados, acontecimentos e documentos que reforçam a inclusão
no sentido de exercer um papel realmente “inclusivo” onde a educação para alunos com NEE deve acontecer nas escolas regulares, percebemos que esse tipo de educação vem sendo mais divulgado e em função disso, surge então uma maior discussão e trabalhos nessa temática como será visto através do crescente número de trabalhos apresentados nesse sentido, nos Encontros Nacionais de Ensino de Química (ENEQ) de 2004 a 2014.
Muito se é discutido sobre a importância e relevância do desenvolvimento de
um processo de ensino e aprendizagem que contemple as necessidades educacionais específicas. Documentos oficiais também têm apontado isso e nos debates atuais sobre inclusão o ensino brasileiro tem diante de si o desafio de encontrar a solução para uma melhoria nessa modalidade de ensino, principalmente no que tange o ensino das ciências como a química. Conforme afirma Tavares (2009) o ensino de química é uma área de pesquisa relativamente nova e que se faz necessário ser trabalhada.
É necessário também que haja 18 maiores diálogos entre pesquisadores e
professores no sentido de se ter uma troca de experiências e perspectivas teóricas e/ou metodológicas. E essa troca de experiência é de suma importância uma vez que contribui para o crescimento da pesquisa, enriquece o conhecimento nessa perspectiva além de levar a uma maior compreensão quanto ao estudo de química na formação crítica de cidadãos. A área de Pesquisa em Ensino de Química (PEQ) vem sendo desenvolvida nas últimas décadas, tornando então um grande campo de estudo, denominado Didática das Ciências. A PEQ obteve-se pouco reconhecimento no início e foi propagada no Brasil a partir dos anos 80 em decurso do “movimento das concepções alternativas”, contribuindo para um considerável avanço em suas pesquisas. De acordo com Schnetzler (2002) o desenvolvimento dessa área de pesquisa deve-se a vários marcos, sendo um deles, a constituição da Divisão de Ensino na Sociedade Brasileira de Química: A constituição da Divisão de Ensino na Sociedade Brasileira de Química foi a primeira a ser oficialmente criada, em julho de 1988, durante a XI Reunião Anual.
No entanto, é importante registrar que tal constituição foi resultante de uma
divisão de ensino formal, oficiosa, mas significativamente atuante na organização de Encontros Nacionais e Regionais de Ensino de Química desde 1980 (SCHNETZLER, 2002, p. 21). Schnetzler (2002) relata ainda que a PEQ no Brasil vem sendo constituída e consolidou-se a partir dos mecanismos de publicação e divulgação próprios, com os inúmeros congressos e encontros desenvolvidos e o aumento da formação de mestres e doutores na área, contando com um grande avanço na última década.
A PEQ tem se desenvolvido e amadurecido no Brasil com trabalhos abordando
temas atuais onde muito de seus resultados podem ser aplicados de forma acessível à compreensão do educando, propiciando a construção do ensino- aprendizagem dentro e fora de sala de aula. Trabalhos concernentes ao ensino de química, mais especificamente voltados para educação inclusiva têm sido crescentes uma vez que é um tema também muito atual e por isso tem despertado interesse de vários pesquisadores (SAMPAIO, 2009; ARAGÃO, 2010; GONÇALVES, 2013). Vale ressaltar que esses trabalhos não são apenas publicados em Revistas Eletrônicas ou em sites educacionais. Em sua grande maioria são apresentados em eventos na área de química onde se tem uma enorme divulgação e discussão concernente ao assunto em questão, além dos pesquisadores terem contato com professores e também com outros pesquisadores, momento propício para troca de experiências, maior esclarecimento e um significativo avanço no conhecimento. Quando falamos em Ensino de Química ou mesmo apenas na palavra “Química” logo imaginamos modelos atômicos, grandes laboratórios e fórmulas. Por ser uma ciência que possui uma linguagem própria proveniente do aspecto representacional da ciência como o uso de fórmulas e reações, é necessário que haja sempre pesquisas nessa área uma vez que a busca por novas formas de ensinar é sempre importante. Ressalta-se que o ensino de química de maneira geral é taxado como complexo e por tal motivo devemos nos atentar para a diversidade dos alunos, tendo o cuidado de trabalhar corretamente na perspectiva inclusiva.
Com isso, vários são os trabalhos escritos nessa perspectiva de ensino
conforme mencionado anteriormente e sendo assim os congressos e encontros voltados para o ensino de química já possuem uma linha específica para submissão de trabalhos na área de Educação Inclusiva. Um dos principais encontros na área de Ensino de Química no Brasil é o Encontro Nacional do Ensino de Química, que ocorre bianualmente desde 1982, sendo um evento específico da área. Os ENEQ’s se configuram como um dos maiores encontros nacionais da área de ensino de química e sua estrutura é composta de conferências e/ou palestras, mesas-redondas, simpósios ou sessões coordenadas, além de cursos ou mini-cursos de várias temáticas e apresentações de trabalhos de pesquisa na forma de comunicações orais e painéis (SCHNETZLER, 2012).
Ao longo dos anos a participação de professores e alunos tem aumentado
exponencialmente, a saber, que em 1982 o número de participantes era de 253 e hoje em 2014 em sua última edição contamos com a participação segundo a Sociedade Brasileira de Química de mais de 1500 inscritos. A edição de 2014, o XVII ENEQ, aconteceu na cidade de Ouro Preto – MG de 19 a 22 de Agosto de 2014, foi organizado em parceria com várias universidades e sediado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e teve como tema “A integração entre pesquisa e escola abrindo possibilidades para um ensino de química melhor”. Segundo os organizadores, o tema surgiu a partir da palestra “Desafios para a Formação de Professores na Contemporaneidade” proferida pela vice-reitora da UFOP, Professora Doutora Célia Maria Fernandes Nunes, no Encontro anual do PIBID-UFOP, realizado em 2013..