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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CECH – CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PPGEES – PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Inclusão X Exclusão no Brasil:


reflexões sobre a formação docente
dez anos após Salamanca

Discentes:
Silvany R. Brasil
Tássia L. de Azevedo
Olhar sobre as desigualdades de oportunidades
educacionais e o nascimento do princípio da inclusão

Cerca de 50 anos - Fenômeno da exclusão,


educacional é ainda um fenômeno contemporâneo

Tem estado presente na agenda internacional


Liderada por agências das nações unidas: Unesco,
Banco Mundial, Unicef, etc.
América Latina (por exemplo):

 O projeto principal de educação na América


Latina e no Caribe foi implementado na
década de 70.

 Relatório considera que na déc. De 80 e 90


foram marcos de desenvolvimento das
políticas de educação no continente.
 O fenômeno da exclusão educacional não diz
respeito somente: aos continentes Africanos,
Asiáticos e Latino- Americano.

 E.U.A., Canadá, países europeus e Austrália e


Nova Zelândia também convivem com o
fenômeno da exclusão educacional de grupos
em desvantagem social;
 Final do séc. XX – criaram a urgência para o
estabelecimento de novas diretrizes
internacionais, devido ao reconhecido
fracasso no combate mundial ao
analfabetismo e à falta de acesso à educação
A declaração de educação para todos- Procura
Justificar o fracasso (desenvolvimento dos sistemas
educacionais) dos governos e da comunidade
internacional, apontando como causa:

 Aumento da dívida externa de muitos países;


 Retrocesso econômico e o crescimento
populacional;
 As disparidades econômicas entre as nações e
dentro delas;
 As guerras, as lutas civis, a violência, morte
prematura e degradação do meio ambiente.
O panorama internacional não se modificou com as
ações implementadas no últimos 30a., a Unesco
conclama seus estados-membros a se unirem para
responder às metas prioritárias para o novo milênio:

 Universalização da educação básica para todos;

 Redução do analfabetismo do adulto à metade


do índice de 1990;

 Eliminação das diferenças existentes entre os


gêneros.
 Como consequência das novas diretrizes, a
déc. de 90 transformou-se em palco de debate
avanços dos sistemas educacionais, mas...

 Não conseguiu eliminar as disparidades que


privilegiam grupos dominantes em detrimento
de grupos desfavorecidos.
Nesta década, foram realizados eventos
mundiais de porte para combater a desigualdade
educacional e social:

 Reunião Mundial de cúpula sobre a criança;

 Conferência mundial de Salamanca;

 Conferência Internacional sobre a população e


desenvolvimento;

 A conferência de Pequim
No campo da educação, a déc. de 90 encerrou
se com o peso de meio séc. de fracasso
mundial para garantir o direito igualitário à
educação para todos, estabelecido na
Convenção dos Direitos humanos da ONU,
publicada em 1948.
Foi realizado em Dacar o fórum Mundial de
educação, teve como objetivo avaliar os
resultados obtidos após dez anos do
lançamento das metas de educação para
todos.
Considerando que os avanços foram insignificantes,
o fórum conclama os governos a agir com rapidez na
consecução dos seguintes objetivos:

 Expandir a melhoria da ed. e cuidados


infantis;

 Garantir em 2015 todas as crianças tenham


acesso e contemplem a ed. primária;

 Garantir que jovens e adultos tenham acesso


a programas de aprendizagem;
Cont...
 Atingir 50% de melhoria na alfabetização de
adultos até 2015;

 Eliminar a disparidade de gênero em


educação 1ª e 2ª até 2005, e atingir a
igualdade até 2015;

 Melhorar a qualidade da educação .


O olhar sobre o berço da educação inclusiva

A educação inclusiva nasceu no final do séc.


20 (1994), como uma alternativa voltada para
a defesa e a promoção dos direitos dos grupos
vulneráveis historicamente excluídos dos
sistemas educacionais.
As bases do movimento pela inclusão
encontram-se firmadas no principio da
inclusão, com base no qual as escolas devem
acomodar todas as crianças independente de
suas condições físicas, intelectuais, sociais,
emocionais, linguística...
No Brasil, 1996- após a publicação da nova lei
de diretrizes e bases da educação nacional
ocorreu uma mudança rápida radical no
panorama do sistema educacional, tal
mudança foi representada pelo aumento
significativo do número de matrículas nas
escolas
Na educação inclusiva, talvez a principal
implicação trazida pela introdução da ‘’ideia’’
de inclusão no cenário de rede de ensino
pública brasileira tenha sido o temor

 dos educadores, gestores, professores, e pais


de crianças sem NEE (de ser obrigados a ter
que aceitar crianças com deficiência em suas
escolas)
A pesquisa com crianças com deficiência e a convenção dos direitos
da criança: mostrou práticas sistemáticas de violação dos direitos da
criança e do jovem com deficiência no contexto educacional:

- Escolas e professores não se sentem preparados;

- As crianças e adolescentes tendem a abandonar a escolarização;

- As famílias que não desistem da escolarização de seus filhos, tendem a procurar


escolas de ed. especial;

- Crianças que estudam em escolas especiais são integrados em escolas regulares .


Após um período de escolarização e de vivências discriminatórias nesse contexto,
seus pais decidem retorná-las para a escola especial;
- Nas escolas privadas, há uma tendência a não aceitação das
crianças com deficiência sob a alegação de que a escola não esta
preparada para recebê-los;

- A educação oferecida a essas crianças é, em geral, pobre de


qualidade educacional;

- Algumas mães consideram que as escolas especiais não são


seguras;

- Embora a escola também viole sistematicamente os direitos à


educação de crianças deficiente, os dados revelam que muitas
crianças que são integradas com sucesso nas escolas regulares têm
o apoio da escola e são bem sucedidas educacionalmente. Contudo
esse quadro positivo esta longe de ser amplamente atingido
 O temor existente com relação aos
estudantes com deficiência, se explica pela
histórica da invisibilidade de crianças e jovens
desse grupo social no cenário educacional
brasileiro

 Contudo, não se justifica como argumento


para excluí-los ou segregá-los em escolas ou
classes especiais
Todos tem direitos iguais à educação

A escola como uma instituição fundamental na


construção da cidadania deve necessariamente
servir de modelo social e criar culturas que
celebrem a diversidade, sejam inclusivas e não
alimentem o preconceito e a discriminação
contra qualquer grupo social.
Segundo o Estabelecimento na Conferência de
Salamanca, o princípio fundamental das
escolas inclusivas consiste em garantir que
todos os alunos aprendam juntos, sempre que
possível, independentemente das dificuldades
e das diferenças que apresentam.
Contudo, as escolas e comunidades devem
mudar e se preparar para entender, celebrar e
trabalhar com a diversidade humana existente
nas suas classes, a fim de promover a inclusão.
Educação Inclusiva em direção à
Educação para Todos
- A Educação Inclusiva cresce e se fortalece
mundialmente tanto enquanto teoria quanto
prática;

- Cinco anos após Salamanca (Salamanca, five


years on) – Inglaterra, 1999: relato de
experiências de projetos sobre o desenvolvimento
da educação inclusiva e elaboração de um
documento conceitual sobre o movimento em
direção à defesa da Educação para Todos;
– Algumas definições:
Special needs education

Educação das necessidades Special educational needs


especiais

Pensar como a escola pode


mudar para oferecer os recursos Necessidades educacionais
necessários às necessidades de especiais
qualquer aluno(a)

Todos os estudantes que estão


fracassando por enfrentarem barreiras Necessidades que qualquer
arquitetônicas, de acesso ao conteúdo,
criança enfrenta em seu
atitudinais e linguísticas, conhecidas por
impedirem a permanência e o progresso processo de escolarização
máximo na escola.
Disabled children

Crianças “desabilitadas” Crianças portadoras de deficiência

Impossibilidade de acesso pelo Incapacidade de acesso pela


ambiente pessoa

Mais atenção aos impedimentos


Possibilidade de mudanças
do que aos potenciais
“Ela [Educação Especial] assume que as
diferenças humanas são normais e que, em
consonância a aprendizagem deve ser adaptada
às necessidades da criança, ao invés de se
adaptar a criança às assunções pré-concebidas a
respeito do ritmo e da natureza do processo de
aprendizagem” (BRASIL, 1994, artigo 4).

- Mesmo após uma década de existência,


Educação Inclusiva ainda é tomada como
sinônimo de Educação Especial;
‒ Outros grupos sociais vulneráveis em situação de
desvantagem educacional: pessoas portadoras do
vírus HIV/Aids, crianças e jovens vítimas de
violência doméstica ou exploração sexual, grupos
étnicos;

“(...) o estabelecimento de tais escolas [inclusivas] é


um passo crucial no sentido de modificar atitudes
discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras
e de desenvolver uma sociedade inclusiva” (BRASIL,
1994, artigo 3).
- Este é o novo perfil do aluno:

“(...) crianças independentemente de suas


condições físicas, intelectuais, sociais,
emocionais, lingüísticas ou outras (...) crianças
deficientes e super-dotadas, crianças de rua e que
trabalham, crianças de origem remota ou de
população nômade, crianças pertencentes a
minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e
crianças de outros grupos desavantajados ou
marginalizados” (BRASIL, 1994, artigo 3).
E o novo perfil do professor?
- Diversidade existente nas classes das escolas
(especialmente) públicas não permite mais
metodologias tradicionais e centradas no
professor.

Ilustração Renato Alarcão


‒ 1° requisito: adquirir conhecimentos sobre como
conhecer as características individuais de cada
um de seus estudantes;

‒ 2° requisito: utilizar os instrumentos básicos das


tecnologias de informação e comunicação (TIC);

‒ 3° requisito: capaz de trabalhar de maneira


colaborativa, de refletir sua prática e pesquisá-la
com vistas à transformação.
Como tem sido a Formação?
- Formação inicial: oferecida em diferentes
instituições de ensino fornecendo
conhecimentos e habilidades básicas para a
docência que vai ser aprimorada nas escolas
com as práticas de ensino e os processos de
aprendizagem dos(as) alunos(as).

“Treinamento pré-profissional deveria fornecer a


todos os estudantes de pedagogia de ensino
primário ou secundário, orientação positiva
frente à deficiência” (BRASIL, 1994, artigo 39).
- Formação continuada: qualquer ação realizada
por instituições de ensino superior, secretarias de
educação, ONG ou setor privado para professoras
já atuantes no campo, particularmente nas salas
de aula.
As • Sugere reflexão sobre o
professoras desempenho das
não foram universidades na
qualificadas? formação inicial.

O repertório • No formato acadêmico, um


FORMAÇÃO da conteúdo pré-determinado
CONTINUADA professora é ministrado por um
não possui especialista para alguém
valor? que não sabe.

Há mudanças • Se fossem implementadas


tão rápidas dentro das escolas, seriam
que a ações de desenvolvimento
professora
precisa de e aperfeiçoamento de
apoio para dar práticas docentes.
conta delas?
“(...) tais cursos deveriam se caracterizar como
ações de desenvolvimento e aperfeiçoamento
profissional do docente, cujos conteúdos
programáticos adotassem o repertório [de longa
ou curta duração] de conhecimentos e habilidades
do docente como ponto de partida e reta de
chegada” (Ferreira, 2006, p. 229);

“ser desenvolvido ao nível da escola e por meio de


interação com treinadores e apoiado por técnicas
de educação à distância e outras técnicas auto-
didáticas” (BRASIL, 1994, artigo 43).
Conclusões
- Prioridades internacionais no campo da educação consideram
períodos extensos;

- Educação Inclusiva se tornou campo de estudo tanto em países ricos


como nos economicamente pobres;

- Valorização do docente é princípio e fundamental para a inclusão;

- Instituições de ensino superior que não formam docentes com o


novo perfil;

- Ausência de sistemas educacionais que promovam ações de


educação docente para a inclusão;

- Logo ausência de professoras no novo perfil.


(cont.)
- As universidades marginalizam o debate sobre inclusão
na formação de professores, formando “exércitos de
docentes preparados e prontos para excluir”
(FERREIRA, 2006, p. 235) e desconsideram o repertório
de experiência das professoras atuantes.

“Universidades possuem um papel majoritário no sentido


de aconselhamento no processo de desenvolvimento da
educação especial, especialmente no que diz respeito à
pesquisa, avaliação, preparação de formadores de
professores e desenvolvimento de programas e materiais
de treinamento” (BRASIL, 1994, artigo 46).
Referências
• BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Especial. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e
Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, 1994.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf -
acesso em 25 de março de 2012.
• FERREIRA, W. Inclusão x exclusão no Brasil: reflexões sobre a
formação docente dez anos após Salamanca. In David
Rodrigues. (Org.). Inclusão e educação, 1ª. Ed., São Paulo:
Summus Editorial, 2006, p. 211-238.

Imagens
• http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/conto-escola-
634361.shtml
• http://www.ziraldo.com/livros/profess.htm
Obrigada!

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