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PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL DOMÍNIO COGNITIVO E MOTOR

U.C. Diagnóstico, Avaliação e Intervenção em Educação Especial

Proposta de Reflexão “O que são NEE?”

O conceito de Necessidades Educativas Especiais (NEE) surge pela primeira vez no relatório
Warnock resultado de uma investigação liderada por Helen Mary Warnock, numa escola de educação
especial do Reino Unido, em 1978. Esta investigadora estudou crianças com e sem deficiência concluindo
que para se ter dificuldades de aprendizagem não está implícito ser deficiente, pois as crianças sem
deficiência podem apresentar problemas na aprendizagem. Este relatório veio deslocar o enfoque médico
nas deficiências para um enfoque na aprendizagem escolar de um currículo, isto é, uma mudança do
paradigma médico-psicológico para a do paradigma educativo (Silva, 2009). Define, também, a integração
como o princípio que declara a educação não segregada de alunos deficientes e não deficientes, atribuindo
às autoridades da educação o dever de oferecer aos alunos com NEE as mesmas oportunidades que aos
seus pares sem deficiência.
O conceito de educação especial, que se referia a alunos com dificuldades causadas por alguma
deficiência, deu lugar a um conceito mais vasto, incluindo, todos os alunos que precisam de apoio educativo
especial em algum momento do seu percurso escolar, independentemente da sua duração ou gravidade.
Decorrente da evolução das diferentes conceptualizações que enquadram a educação dos alunos
com NEE, a Declaração de Salamanca, constitui um marco referencial para a construção de uma Escola
Inclusiva. O documento remete ao princípio da inclusão e ao reconhecimento da necessidade de atuar com
o objetivo de conseguir uma “Escola para todos”. As escolas devem ajustar-se a todas as crianças além das
suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. Defende-se o desenvolvimento de uma pedagogia de
qualidade e centrada na criança, a aprendizagem é que se deve adaptar às necessidades da criança,
respeitando o seu ritmo e natureza e a eliminação de atitudes discriminatórias nas escolas, promovendo
uma sociedade inclusiva (UNESCO, 1994).
O conceito de NEE inclui assim “…crianças com deficiência ou sobredotados, crianças da rua ou
crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou nómadas, crianças de minorias linguísticas,
étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais.” (UNESCO, 1994, p.6).
Na escola inclusiva, todos os alunos estão na escola para aprender, participando. Eles não estão
presentes apenas fisicamente, pertencem à escola e ao grupo e os alunos sentem que pertencem à escola.
O aluno não é uma parte do todo, faz parte do todo (Correia, 2008).
Atualmente, na generalidade dos países observa-se uma progressiva tomada de consciência no
atendimento dos alunos com NEE com mobilização de esforços de especialistas, pais e entidades para que
estas crianças façam parte de um sistema educativo equitativo, democrático e orientado para o sucesso
tanto a nível de acessibilidade como de resultados académicos.
Em Portugal, até à década de 70, as crianças com NEE, não tinham quaisquer direitos legais no que
diz respeito ao acesso à educação pública. Contudo, nas últimas décadas foram introduzidas mudanças
significativas no apoio às crianças com NEE no ensino regular, surgindo o Decreto-Lei 3/2008 que visava a
inclusão educativa e social e a criação de ambientes favoráveis à aprendizagem de alunos com necessidades
especiais (Silva, 2011). Dez anos depois, surgiu um novo enquadramento legislativo da educação, o
Decreto-Lei n.º 54/2018, com o objetivo de alcançar uma educação inclusiva. Este decreto é um desafio
para as escolas, pois incentiva-as a mudarem a forma como olham para os alunos e como respondem às
suas necessidades, abandonando o pensamento de que para intervir é necessário categorizar. O abandono
da terminologia de NEE é, assim, uma das mudanças significativas em relação aos documentos anteriores.
Atualmente, o diploma que vigora para a educação especial é a Lei n.º 116/2019 de 13 de setembro,
que procede à primeira alteração do Decreto-Lei n.º 54/2018.
Apesar da legislação estabelecida, a educação ainda é vista por muitos, incluindo David Rodrigues,
como uma utopia, difícil de alcançar. Mas a Escola Inclusiva não é uma utopia! É necessário que “os pais, os
profissionais, os governantes e a população em geral acreditem que a escola inclusiva é qualquer coisa por
que vale a pena lutar” (Bénard da Costa, 1999). A construção de uma escola inclusiva exige um esforço e
uma colaboração estreita de todos!

Lígia Simone da Cunha Henriques, N.º 11359


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Referências Bibliográficas

• BÉNARD da COSTA, A. M. (1999). Uma Educação Inclusiva a partir da escola que temos. In Uma
Educação Inclusiva a Partir da Escola que temos (relato de seminários e colóquios). Conselho Nacional de
Educação. Ministério da Educação, pp.25-36.
• Correia, L. M. (2008). Inclusão e necessidades educativas especiais. Um guia para educadores e professores.
(2ªed., revista e ampliada). Porto: Porto Editora.
• Decreto-Lei n.º 54/2018 do Ministério da Educação (2018). Diário da República: Iª série, n.º 129.
• Direção Geral da Educação. (2018). Para uma Educação Inclusiva: Manual de Apoio à Prática. Ministério da
educação/Direção Geral da Educação.
• Jesus, S.N. & Martins, M.ª H. (2000). Escola Inclusiva e apoios educativos. Lisboa: ASA Editores.
• Lei n.º 116/2019 do Ministério da Educação. (2019). Diário da República: Iª série, n.º 176.
• Rodrigues, D. (2014). Pensar utopicamente a educação: David Rodrigues at TEDxLisboaED. Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=0kDL5kxDg_A
• Silva, M.O.E. (2009). Da exclusão à inclusão: concepções e práticas. Revista Lusófona de Educação, 13,
135-153. Retirado de: https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/562
• Silva, M.O.E. (2011). Gestão das aprendizagens na sala de aula inclusiva. Lisboa: Edições Universitárias
Lusófonas.
• UNESCO (1944). Declaração de Salamanca e enquadramento da acção na área das necessidades educativas
especiais. Salamanca: Unesco.

Lígia Simone da Cunha Henriques, N.º 11359


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