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A RELAÇÃO ENTRE O DOCENTE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

E O DOCENTE DO ENSINO REGULAR

“É a equipa pedagógica, mais do que o professor individual,


que se deve encarregar da educação das crianças com
necessidades educativas especiais.”

Art.º 37 da Declaração de Salamanca, 1994

A colaboração entre os professores e educadores do ensino regular e os docentes de apoio


educativo reveste-se de extrema importância no desenvolvimento de atividades letivas visando
uma melhoria das práticas pedagógicas e avaliação das crianças/alunos com necessidades
educativas especiais.
De acordo com alguns estudos (Ripley, 1997; Salend; Duhaney, 1999; Argulles; Hughes;
Schumm, 2000), a colaboração entre a educação especial e a educação regular, quando é eficaz,
beneficia todos os estudantes e também os professores que se sentem renovados e
entusiasmados. Assim, estas práticas deverão ser utilizadas nos diversos contextos, com vista a
uma boa articulação entre os agentes educativos.
Na minha opinião, este trabalho não é de fácil coordenação. Por um lado, devido ao número
elevado de alunos a apoiar pelos docentes do ensino especial; por outro lado, pela necessidade
de tempo no horário para, em parceria, poder planificar, monitorizar e avaliar conjuntamente.
Os horários dos docentes não contemplam horas para trabalho colaborativo.
Deste modo, torna-se imperiosa a boa vontade de ambas as partes. Se, por um lado, o docente
do ensino especial pode apoiar vários alunos de várias turmas, envolvendo muitos docentes
titulares, resultando em escassos tempos semanais por aluno, por outro lado, o docente titular
terá também de disponibilizar do seu tempo, fora da componente letiva, para efetivamente
poderem planificar e trabalhar em parceria com os mesmos.
Numa conceção inclusiva, os alunos estão juntos na mesma sala de aula e a articulação entre
os docentes do ensino regular com os de educação especial, na perspetiva da inclusão, deve
ocorrer em todos os níveis e etapas do ensino. Correia (2003) defende que, para a concretização
da filosofia inclusiva, o papel do professor titular de turma deve conciliar-se com o papel do
professor de educação especial e com o dos pais, para que todos eles, em colaboração, possam
desenhar estratégias que promovam o sucesso escolar.
No entanto, o que tem acontecido é que os alunos são retirados da sala de aula para serem
acompanhados pelo docente da educação especial num espaço próprio para o mesmo, de forma
a proporcionar-lhe um apoio individualizado.
Contudo, permanecem na sala na restante componente letiva, sobretudo aquando da realização
de atividades que requerem menos concentração ou menos foco nas matérias. A inclusão
sempre existiu, porém, prevê-se que ocorra de uma forma permanente e sistemática na qual os

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docentes titulares e de apoio trabalhem em estreita cooperação e no mesmo espaço/sala de
aula.
Morgan (1993) considera que, na maioria das escolas, os professores são colegas apenas no
nome, porque cada um trabalha de forma individual, na planificação, preparação das aulas e dos
materiais e lutam por conta própria para resolver os problemas curriculares e de gestão.
Parece-me, tal como já referi anteriormente, que tal situação resulta da “falta de espaço” nos
horários alocados à planificação e trabalho colaborativo e em parceria. Estes horários, pensados
de outra forma, poderiam permitir uma articulação facilitadora da educação inclusiva, aquela que
deverá ser orientada para a progressiva construção e consolidação de verdadeiros laços de
cooperação e de colaboração entre aqueles profissionais, conduzindo a um maior sucesso
escolar dos intervenientes.
A meu ver, cabe às escolas enquanto gestoras, com a autonomia que detêm, orientar este
processo para, depois, os professores poderem efetivar a verdadeira inclusão dos alunos que
necessitam e possam beneficiar de apoio.
Considero que os professores, quer os titulares quer os de apoio, tentam de todas as formas
suprir as dificuldades que encontram nos alunos, com vista ao seu sucesso, utilizando os
recursos disponíveis na escola, quer humanos quer materiais, e investindo muitas vezes de
forma particular e pessoal. Recorrem à experiência de outros colegas, frequentam formações e
investem muito tempo na preparação e planificação das aulas.
Após a tão falada “reorganização” que o recente decreto-lei nº 54 de junho de 2018 veio trazer
ao mundo das escolas, com a introdução do paradigma da educação inclusiva (Salvador. A), o
papel dos professores titulares bem como dos professores educação especial provocou dúvidas
e confusão na definição da função de cada um, cabendo ao professor titular de turma, ao
educador de infância, ou diretor de turma, consoante o caso, a coordenação da implementação
das medidas previstas no relatório técnico-pedagógico, este sim feito com a participação do
docente da educação especial. Assim, prevê-se que a intervenção do professor de educação
especial assente em duas vertentes: por um lado, a de trabalho colaborativo com os diferentes
intervenientes no processo educativo dos alunos; por outro lado, a que concerne ao apoio direto
prestado aos alunos. Este terá sempre um caráter complementar ao trabalho desenvolvido em
sala de aula pelo professor titular/educador.
Deste modo, pode entender-se que o professor titular terá um papel mais ativo.
Na minha opinião sempre o teve, porque com ou sem apoio, sempre existiram alunos com
dificuldades de aprendizagem ou portadores de deficiências que frequentavam turmas do ensino
regular. Portanto, todas as responsabilidades recaíam sobre si, independentemente de ter
colaboração ou não de docentes da educação especial ou de apoio educativo.

BIBLIOGRAFIA
Declaração de Salamanca (1994)
Madureira, I. P. e Leite, T. S. (2003). Necessidades Educativas Especiais. Universidade Aberta

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Salvador A. (2019, maio 43). O papel do professor titular e o papel do professor do ensino
especial. Descubra as diferenças - Centro de Desenvolvimento Infantil. Artigo.
Silva. A. (2011). A articulação pedagógica do Professor do Ensino Regular com o Professor de
Educação Especial para a inclusão dos alunos com NEE – Tese de mestrado em Ciências de
Educação. Artigo.

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