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“A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades.

Paulo Freire

Será o insucesso escolar um dos maiores entraves à inclusão plena? Serão as


características e especificidades de cada aluno vistos como barreiras e limitações para
que o processo de ensino e aprendizagem falhe no seu propósito de implementação de
novas medidas e respostas educativas face à aprendizagem e à inclusão para todos os
alunos? Se há algo que podemos aprender na diferença é o fazer de forma diferente.
Sempre com a máxima de que cada aluno é um ser único, nas suas dificuldades,
necessidades e potencialidades estaremos nós a promover alternativas de intervenção para
todos os alunos? Provavelmente não o suficiente, provavelmente ainda se torna pertinente
adequar estratégias, provavelmente ainda se torna urgente uma escola inclusiva nas suas
alternativas de intervenção. E é aqui, nesta pertinência, que o trabalho conjunto entre
professor do ensino regular e professor do ensino especial poderá fazer toda a diferença.
E é neste contexto que foram criadas as equipas multidisciplinares. Para Correia (2018)
promover o desenvolvimento global do aluno com dificuldades passa pelo trabalho de
uma equipa qualificada e diversificada, onde cada elemento tem uma responsabilidade e
reconhece a importância dos diversos elementos. Esta equipa terá um papel importante
na vida de cada um dos alunos. Regulamentado no decreto-lei n.º 54/2018 , esta equipa
pode envolver vários elementos e compete ao diretor da escola designar a sua
constituição. Mas e o trabalho individual do professor do ensino regular, será menos
importante? E o do professor do ensino especial, poderá ser descurado? E se os
analisarmos numa perspectiva conjunta, como equipa de trabalho também? Como uma
parceria? Por norma, cada um na sua individualidade tende a considerar uma de duas
coisas: ou faço eu ou fazes tu. E assim, pensando na aprendizagem como uma perspetiva
holística, vão-se perdendo oportunidades preciosas de troca e partilha de conhecimento,
sendo que quem sai mais prejudicado é o aluno. Será sempre no trabalho colaborativo, na
partilha de ideias e opiniões, que encontraremos uma solução mais ajustada para intervir
em cada aluno na sua individualidade. Se o professor do ensino regular é o mais entendido
nos conceitos e conteúdos a lecionar da sua disciplina, é o professor do ensino especial
que melhor conhece o aluno na sua especificidade e poderá funcionar como facilitador da
aprendizagem dos mesmos. Nenhum trabalho é mais importante que o do outro, mas a
tendência é pensar que sim e sempre em detrimento do trabalho do outro. Estaremos nós
conscientes do que significa para um aluno com necessidades especificas o trabalho em
parceria destes dois professores? Provavelmente não o suficiente, provavelmente ainda
se torna pertinente aprofundar este conceito e adequar estratégias, provavelmente ainda
se torna urgente uma escola inclusiva nas suas alternativas de intervenção. E é aqui nesta
pertinência que, trabalhando em parceria, podemos fazer a diferença no que pode ser
apenas diferente. Promovendo esta colaboração, aliada a outras estratégias educativas,
podemos tentar minorar as dificuldades, potenciando outras capacidades de intervenção
de acordo com as necessidades de cada aluno possibilitando novas formas de aprender e
de ensinar também.

Parece-me pertinente pensar que a educação é universal e um direito de todas as crianças,


mas porque necessitamos de reforçar que todos os alunos têm que usufruir de igualdade
de oportunidades adoptadas à sua individualidade? Porque não teremos nós a necessidade
básica de perceber como podemos ajudar qualquer aluno a aprender? Se é certo que a
grande maioria entende que é importante que todas as crianças estejam incluídas em
turmas regulares e nelas sejam capazes de se desenvolver plenamente num ambiente de
verdadeira inclusão, também é certo que nem sempre tivemos os meios que nos permitiam
lidar com situações diferentes. Felizmente a autonomia concedida às escolas e aos
professores, permitiu que identificássemos as diversas barreias à aprendizagem dos
alunos e criássemos estratégias de ensino e de adequação curricular. E é com este intuito
que qualquer um de nós pode apresentar alternativas de intervenção e promover igualdade
de oportunidades e participação ativa de todos os alunos. Porque não aplicar as
potencialidades do trabalho colaborativo entre professor do ensino regular e professor do
ensino especial e promover a aprendizagem? Se é possível flexibilizar a aprendizagem,
de acordo com as necessidades dos alunos, porque não garantir que a partilha de
experiências possa acrescentar algo de bom e incentivar-nos a fazer mais e melhor em
contexto educativo. Com esta experiência sinto que cresci como agente educativo e
facilitadora do processo de ensino e aprendizagem, mas também como pessoa atenta às
diferenças permitindo que o trabalho colaborativo entre os vários agentes educativos
possibilite uma igualdade na inclusão.

Cláudia Costa

Educação Especial Domínio Cognitivo e Motor

Nº 11353
Bibliografia

Correia, L.M. (1991). Dificuldades de aprendizagem: Contributos para a aclarificação e


unificação de conceitos. Porto: APPORT.

Correia, L. M. (2001). Educação Inclusiva ou Educação Apropriada? In: Rodrigues, D.


(2003). (Org.). Perspectivas sobre a Inclusão. Da Educação à Sociedade. Porto, Porto
Editora, pp. 123-142.

Correia, L. (2008a). Dificuldades de aprendizagem específicas: contributos para uma


definição portuguesa. Porto, Porto Editora.

Correia, L. (2010). (Org.). Educação Especial e Inclusão. Quem disser que uma sobrevive
sem a outra não está no seu perfeito Juízo. (2.aed. rev.). Porto, Porto Editora.

Correia, L. M. (2010). O Sistema Educativo Português e as Necessidades Educativas


Especiais ou Quando Inclusão Quer Dizer Exclusão. In L. M. Correia (Org.), Educação
Especial e Inclusão, Quem Disser Que Uma Sobrevive Sem a Outra Não Está no Seu
Perfeito Juízo, (Cap. 1, pp. 11-40). Porto: Porto Editora.

Correia, L. (2013). Inclusão e necessidades educativas especiais: Um guia para


educadores e professores (2.a Edição). Porto, Porto Editora.

Costa, A. M. B. (1999). Uma educação inclusiva a partir da escola que temos. Lisboa:
Ministério da Educação.

Legislação
Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro. Diário da República n.º 4/08 - I Série A. (2008)

Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho. Diário da República n.º 129/18 - I série A.

Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho, alterado pela Lei 116/2019 de 13 de setembro.


Diário da República n.º 176/19 - I série.

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