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Crianças com NEE

UFCD 3290

Caracterização das Necessidades


Específicas de Educação
Crianças com imaturidade de desenvolvimento

Atraso do desenvolvimento mental


O atraso ou deficiência mental é, na maioria dos casos, provocado por
alterações genéticas ou cromossómicas e por problemas metabólicos ou lesões
anatómicas ocorridas durante a gravidez, parto ou nos primeiros anos de vida, que
acabam por afetar o desenvolvimento do sistema nervoso central.
Existem inúmeros problemas genéticos ou cromossómicos que podem, entre as
suas manifestações, provocar um atraso mental. Entre os mais frequentes, destacam-
se a trissomia 21 (síndrome de Down ou, na terminologia mais popular, "mongolismo”)
e as síndromes de Klinefelter e de Turner, embora existam inúmeras anomalias
genéticas que podem ter esta repercussão específica.
Noutros casos, o problema pode ser provocado por problemas orgânicos,
independentemente de serem infeciosos (rubéola, toxoplasmose, sífilis), tóxicos
(alcoolismo, toxicomania) ou traumáticos, que afetam a mãe ao longo da gravidez.
Para além disso, qualquer problema que provoque um aporte insuficiente de oxigénio
ao feto também pode provocar um atraso mental congénito. Por vezes, a deficiência
mental é provocada por problemas ou sequelas de doenças que afetam o sistema
nervoso central nas primeiras fases da vida, como traumatismos, meningite, encefalite
ou grave desnutrição.
Por fim, o meio em que o paciente vive, nomeadamente uma evidente falta de
estímulo ou de afeto nos primeiros anos de vida, também pode provocar um certo
grau de atraso mental.
De acordo com o quociente de inteligência (QI) do indivíduo, o atraso mental
pode ser classificado em cinco tipos: limite, ligeiro, moderado, grave e profundo.
O atraso mental limite ou borderline (QI de 68 a 80), apesar de inicialmente
poder passar despercebido, tende a manifestar-se através de problemas na linguagem
e na escrita, os quais acabam por desenvolver um determinado insucesso escolar.

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O atraso mental ligeiro (QI de 52 a 67) pode ser provocado por fatores do tipo
psicossocial, evidenciando-se ao longo dos primeiros anos de vida, durante os quais é
possível observar dificuldades de índole psicomotora e intelectual (por exemplo, na
locomoção, linguagem ou capacidade de concentração). As crianças afetadas por esta
forma de atraso mental, normalmente, não conseguem atingir um quociente de
inteligência equivalente ao de uma criança de 11 anos, tendo um fraco rendimento
numa escola normal, necessitando por isso de um ensino especializado.
O atraso mental moderado (QI de 36 a 51), normalmente provocado por lesões
no sistema nervoso central, evidencia-se por dificuldades na locomoção, dicção,
capacidade de concentração e compreensão, na aprendizagem e na memória. As
crianças com atraso mental moderado, regra geral, apresentam uma expressão que
demonstra a falta de controlo adequado da musculatura facial, o que leva a criança a
adotar, inúmeras vezes, posições corporais atípicas. Para além disso, como o seu
estado de humor é instável, costumam ser muito inquietas e manifestam tendência
para rir e chorar facilmente. Estas crianças necessitam de uma educação especializada
para aprenderem a comer, a vestirem-se e a limparem-se, alcançando o seu máximo
desenvolvimento intelectual entre os 10 e os 12 anos de idade, apesar de terem um QI
equivalente ao de uma criança entre os 5 e os 8 anos.
O atraso mental grave (QI de 20 a 35) é sempre provocado por alterações
genéticas ou lesões orgânicas e evidencia-se pelo aspeto físico do recém-nascido ou
pelas dificuldades da criança em se manter de cabeça erguida, permanecer sentada e
caminhar nos primeiros meses de vida. É igualmente comum que estas crianças
realizem gestos repetidos com as mãos, dedos ou cabeça ou que permaneçam imóveis
durante longos períodos. Apesar de tudo, a criança com atraso mental conserva a
capacidade de reagir instintivamente perante uma ameaça física e pode aprender, com
o estímulo adequado, a reconhecer o seu nome e o das pessoas que a rodeiam, a
utilizar os talheres, a vestir-se, a limpar-se e a controlar as necessidades fisiológicas.
No entanto, precisa de ser constantemente acompanhada por uma pessoa responsável
e o topo do seu desenvolvimento intelectual, atingido entre os 8 e os 10 anos de idade,
raramente supera o QI médio de uma criança de 5 anos.
O atraso mental profundo (QI inferior a 20), sempre provocado por lesões
neurológicas muito graves, manifesta-se logo após o nascimento, pois o bebé não
reage com normalidade aos estímulos. Estes bebés encontram-se num estado
praticamente vegetativo, necessitam de acompanhamento constante e não chegam a
superar o quociente de inteligência de uma criança de 3 anos de idade.

Atraso do desenvolvimento psicomotor

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O Atraso Global do Desenvolvimento Psicomotor pode ser definido como um
atraso significativo em vários domínios do desenvolvimento, nomeadamente ao nível
da motricidade fina/grosseira, da linguagem, da cognição, das competências pessoais e
sociais, das atividades da vida diária, etc.
Características:

 Heterogénea na etiologia e no perfil fenotípico;


 Prevalência desconhecida, mas estimada em entre 1 e 3% das crianças com
menos de 5 anos de idade;
 Atraso significativo que se situa 2 desvios padrão abaixo da média (dentro
da mesma idade) – QI igual ou inferior a 70%.
Numa primeira fase, a intervenção deve ser efetuada pelo médico comunitário
que acompanha a criança, para posteriormente se estabelecer o diagnóstico de um
atraso ao nível do desenvolvimento.
O diagnóstico é difícil de efetuar devido à grande variação que existe nas
aquisições entre as crianças ditas “normais”. Por outro lado, existem alguns receios
por parte dos pais da criança e médicos que dificultam o processo de intervenção,
nomeadamente: receio dos pais em aceitar e descrever a situação do seu filho e receio
do médico em confrontar os pais com a situação dos seus filhos.
O diagnóstico revela-se eficaz se este for resultante da avaliação do
desenvolvimento infantil com vigilância contínua, através da monitorização das áreas
de desenvolvimento.
Ao contrário, o diagnóstico não é eficaz se resultar de um procedimento de
rastreio, que consiste numa consulta específica, tendo em conta a idade, a evolução do
peso, o crescimento, o perímetro craniano, entre outros.
Deve então existir um esforço no sentido de detetar alterações do
desenvolvimento o mais precocemente possível através da - intervenção precoce –
apesar da maioria dos problemas cognitivos se detetarem só com a entrada para a
escola (dislexia, discalculia, etc.).
Esta intervenção auxiliará as crianças e as famílias a encontrarem um equilíbrio
justo de expectativas e de estimulação adequada.
Sinais de Alerta:

 Motricidade grosseira: não rebola, não puxa, não fica de pé, não anda
em linha, …
 Motricidade fina: não segura, não junta as mãos, não faz construções,
tem dificuldades de preensão, …

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 Linguagem: não palra, não diz palavras, não constrói frases, não
compreende, não fala de um modo inelegível, …
 Cognição: não procura, não se interessa por jogos, não categoriza
semelhanças, não sabe o nome próprio ou apelido, não sabe contar, não
sabe as cores ou qualquer letra…
 Psicossocial: não ri, não estranha, não se consola nem aceita mimos,
agride sem provocação, não brinca com outras crianças, …

Crianças hiperativas

A hiperatividade, nome pelo qual é conhecida a Perturbação de Hiperatividade


e Défice de Atenção (PHDA), afeta entre 5 e 7 % das crianças em idade escolar. É o
segundo distúrbio do desenvolvimento mais frequente, depois da dislexia. Por isso, na
escola, não é raro que exista pelo menos uma criança diagnosticada por turma.
São, muitas vezes, consideradas crianças problemáticas, mas, a verdade, são é
desatentas e desconcentradas, o que resulta numa agitação permanente e anormal.
A Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção é uma perturbação
que se caracteriza pela ausência de atenção e concentração e pela impulsividade e
atividade motora excessiva, ou em maior grau do que tipicamente observado nos
indivíduos com nível equivalente de desenvolvimento.
Os sintomas ou reações de desatenção e/ou impulsividade surgem
primeiramente na infância. No entanto, existem casos em que só na adolescência é
reconhecido e diagnosticado a Perturbação da Hiperatividade com Défice de Atenção.
Essa perturbação pode continuar durante a fase adulta, provocando prejuízos
académicos, emocionais e mesmo familiares.
Levine (1990) alerta para o facto do défice de atenção com e sem
hiperatividade ser bastante comum entre as crianças em idade escolar e ser,
provavelmente, a razão mais evidente do insucesso académico de muitos alunos.
Normalmente os sintomas que antecedem o diagnóstico aparecem até aos 7
anos e em âmbitos distintos (na escola e em casa). Manifestam-se socialmente,
academicamente e ocupacionalmente.
Os sintomas manifestados são:

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 Impulsividade (impaciência, dificuldade em aguardar a sua vez,
interrompe com frequência os assuntos dos outros, respondem
precipitadamente antes das perguntas terem sido completadas);
 Alteração da sociabilidade (não se manifestam sempre da mesma
forma);
 Baixa tolerância (não compreendem nem aceitam atitudes e decisões
com facilidade);
 Baixa autoestima (sentem-se diferentes e marginalizados);
 Comportamentos desafiadores (testam os limites das pessoas que os
envolvem, provocando situações);
 Transtorno psicomotor (incoordenação motora (apraxia));
 Distúrbios na fala;
 Alterações do processo auditivo.

Podemos constatar que o papel do professor é fundamental para auxiliar no


diagnóstico do PHDA, visto que os sintomas desta problemática, referidos atrás,
evidenciam-se, principalmente na fase do pré-escolar e do 1.º ciclo. Deste modo, é
importantíssimo o professor está bem orientado para distinguir uma criança
hiperativa.
O diagnóstico é uma fase importantíssima para a rápida intervenção e
tratamento adequado. Quanto mais rápido for o diagnóstico mais vantajoso vai ser
para a criança.
O diagnóstico é realizado quase por completo clinicamente, com dados
retirados de uma anamnese cuidadosa e minuciosa, segundo os comportamentos do
doente em grande variedade de situações e em vários contextos. A observação clínica,
o exame neuropediátrico, as avaliações e os testes nas áreas comprometidas são
dados fundamentais no planeamento do tratamento.
Por vezes, durante os primeiros anos da criança é difícil diferenciar e
diagnosticar se estamos perante sintomas de PHDA ou comportamentos de crianças
ativas. Torna-se, também, difícil diferenciar comportamentos de crianças oriundas de
famílias problemáticas.
Relativamente à intervenção ela pode ser feita por tratamentos
medicamentosos e não-medicamentosos.
Relativamente aos tratamentos medicamentosos há a evidenciar que só se
prescrevem em último caso e só devem ser tomados por crianças com mais de seis
anos. Quando isso acontece todos os que intervêm com o paciente devem ser e estar
vigilantes.

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O tratamento tem como finalidade melhorar o comportamento dos doentes, e
não a obtenção de melhores notas na escola. Este facto será uma consequência da
evolução positiva desta síndrome, e não uma finalidade.
Os pais têm o direito de serem informados das consequências desse
tratamento, na medida em que a medicação por si só, traz vantagens só a curto prazo,
assim como as consequências do não-tratamento (baixa autoestima, insucesso escolar
e académico, aumento no risco de comportamento antissocial e continuação e
agravamento dos sintomas derivados desta patologia).
Quando as intervenções são realizadas em vários contextos (escola, casa,
sociedade, psicólogos), a eficácia do tratamento sai reforçada.
A criança hiperativa dispersa a atenção da turma devido ao seu
comportamento irrequieto, exigindo assim do professor uma atenção especial.
Relativamente às intervenções na sala de aula, existe um vasto número de
possibilidades:

 Mudanças do local onde está sentada a criança (pô-la sozinha numa


mesa ou colocá-la junto de uma criança mais sossegada e atenta);
 Terapias de modificação comportamental;
 Metodologias de ensino diversificadas para captar a atenção do aluno
com PHDA;
 Programação de atividades extra;
 Proporcionar ambientes calmos e desprovidos de estímulos;
 Recompensar progressos (comportamentos positivos, ficar sentado
sossegado durante a refeição).

Crianças com deficiência

Deficiência Motora:
Deficiência motora é uma disfunção física ou motora, a qual poderá ser de
caráter congénito ou adquirido. Desta forma, esta disfunção irá afetar a criança, no
que diz respeito à mobilidade, à coordenação motora ou à fala. Este tipo de deficiência
pode decorrer de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas e ainda de mal
formação.

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Considera-se deficiente motor todo o indivíduo que seja portador de deficiência
motora, de caráter permanente, ao nível dos membros superiores ou inferiores, de
grau igual ou superior a 60% (avaliada pela Tabela Nacional de Incapacidades,
aprovada pelo decreto-lei nº 341/93, 30 de setembro).
Para além disso, para ser titular deste nome, é necessário que essa deficiência
dificulte, comprovadamente, a locomoção na via pública sem auxílio de outrem ou
recurso a meios de compensação, bem como o acesso ou utilização dos transportes
públicos.
É considerado portador de multideficiência profunda todo aquele que tenha
uma deficiência motora de carácter permanente, ao nível dos membros inferiores ou
superiores, de grau igual ou superior a 60%, e contenha, cumulativamente, deficiência
sensorial, intelectual ou visual de carácter permanente, daí resultando um grau de
desvalorização superior a 90% e que, deste modo, esteja comprovadamente de
conduzir veículos automóveis.
São vários os motivos que podemos encontrar na base da deficiência motora,
destacando-se as seguintes:

 Acidentes de trânsito;
 Acidentes de trabalho;
 Erros médicos;
 Problemas durante o parto;
 Violência;
 Desnutrição.

Tipos de deficiência motora:

 Monoplegia: paralisia em um membro do corpo;


 Hemiplegia: paralisia na metade do corpo;
 Paraplegia: paralisia da cintura para baixo;
 Tetraplegia: paralisia do pescoço para baixo;
 Amputação: falta de um membro do corpo.

O aluno portador de deficiência motora e a escola:


Dentro da sala de aula
 Deverão ocupar um lugar relativamente próximo do professor;
 Aqueles que necessitem de usar cadeira de rodas, devem ter mesas
adaptadas, mais alta do que a dos colegas;

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 A incontinência é um dos obstáculos mais desagradáveis, o professor
deverá estar a par do problema e explicar aos outros alunos a situação;
 Deverá portanto ter em atenção os horários de evacuação da criança
para que não surjam situações embaraçosas.

Comportamentos que devemos evitar e que devemos promover nos


alunos com deficiência motora:
 Devemos promover o máximo de independência no âmbito das
capacidades e limitações do aluno, mas atendendo sempre às
necessidades inerentes a cada caso de deficiência, pois cada caso é um
caso e deve-se encontrar sempre uma solução específica adequada.
 Não se deve fazer de conta que estas pessoas não existem, pois se o
fizermos vamos estar a ignorar uma característica muito importante
dessa pessoa e, se não a virmos da forma como ela é, não nos
estaremos a relacionar com a pessoa “verdadeira”, mas sim com outra
pessoa que foi inventada por nós próprios. Quando se conversa com um
aluno em cadeira de rodas, devemo-nos lembrar sempre que, para eles
é extremamente incómodo conversar com a cabeça levantada, sendo
por isso melhor sentarmo-nos ao seu nível, para que o aluno se possa
sentir mais confortável.
 Sempre que haja muita gente em corredores, bares, restaurantes,
shoppings, e estivermos a ajudar um colega em cadeira de rodas,
devemos avançar a cadeira com prudência, pois a pessoa poder-se-á
sentir incomodada, se magoar outras pessoas.
 As maiores barreiras não são arquitetónicas, mas sim a falta de
informação e os preconceitos.

Deficiência Mental:
Durante muito tempo havia um fraco conhecimento sobre o que era a
deficiência mental. A pessoa era considerada deficiente mental apenas por ter um
desenvolvimento intelectual abaixo do normal determinado pelos testes do Q.I.
elaborados por Binet.
Na segunda metade do século XX mudou progressivamente a nossa conceção
global sobre estas pessoas e sobre os comportamentos a manter com elas.
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Das conceções médicas – orgânicas [o atraso mental é uma manifestação
patológica e poderia ser curada a partir de tratamentos médicos] passou-se a
conceções psicológicas do tipo psicométrico [utilizando os testes do Q.I.], e, destas
últimas, passou-se recentemente a uma conceção multidimensional [proposta pela
Associação Americana sobre deficiência mental] centrada no funcionamento do
indivíduo inserido no ambiente que o rodeia” (Alonso e Bermejo, 2001).
Segundo Kirk e Gallagher (2002), a definição atual de deficiência mental inclui
dois componentes essenciais: a subnormalidade intelectual e o comportamento
adaptador. A esta definição também se acrescenta o papel do ambiente social onde o
indivíduo se desenvolve. E a Associação Americana para a deficiência mental
acrescenta que o problema se manifesta antes dos dezoito anos de idade.
A Organização Mundial de Saúde atendendo aos níveis de Q.I. propõem cinco
níveis/graus de deficiência mental:

1. Deficiência limite ou borderline:


 Q.I. 68 – 85;
 Pequeno atraso na aprendizagem e/ou algumas dificuldades concretas;
 Muitos indivíduos provenientes de meios socioculturais desfavorecidos
poderiam ser aqui incluídos.

2. Deficiência mental ligeira:


Q.I. 52 – 68;

 Inclui subnormalidade mental leve, a debilidade mental, a oligofrenia


leve e a síndrome de “Morón”;
 “(…) Não é claramente deficiência mental, mas afeta as pessoas com
problemas de origem cultural, familiar ou ambiental”, (Bautista, 1997)
não têm contudo problemas de adaptação no ambiente familiar e
social;
 “Podem desenvolver aprendizagens sociais e de comunicação e têm
capacidade para se adaptar e integrar no mundo laboral” (Bautista,
1997);
 Atraso mínimo nas áreas percetivas e motoras;
 É na escola que se deteta, as limitações intelectuais, mas podem chegar
a concretizar o 1ºciclo e em alguns casos a escolaridade obrigatória
apesar de ter alguns problemas;

3. Deficiência mental moderada ou média


 Q.I. 36-51
 Inclui a imbecilidade, a subnormalidade mental moderada e oligofrenia
moderada;

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 “Podem adquirir hábitos de autonomia pessoal e social, tendo mais
dificuldades, para os últimos” (Bautista, 1997);
 Dificuldade de expressão oral e na compreensão dos convencionalismos
sociais;
 Desenvolvimento motor lento;
 Possibilidade de adquirir conhecimentos pré-tecnológicos que lhes
permitam desenvolver algum trabalho. Dificilmente chegam a dominar
técnicas instrumentais de leitura, escrita e cálculo;

4. Deficiência Mental grave


 Q.I. 20-35
 Subnormalidade mental grave e a oligofrenia grave;
 Nível de autonomia pessoal e social muito pobre;
 Apresenta muitas vezes problemas psicomotores importantes;
 Podem aprender um sistema de comunicação, mas a linguagem verbal é
muito deficitária;
 Podem ser treinados em algumas atividades da vida diária e em
aprendizagens pré-tecnológicas muito simples;

5. Deficiência mental profunda


 Q.I. inferior a 20;
 Subnormalidade mental profunda e a oligofrenia profunda;
 Grandes problemas sensório-motor e de comunicação;
 Depende dos outros em quase todas as funções e atividades;
 “Excecionalmente terão autonomia para se deslocar e responder a
treinos simples de autoajuda” (Bautista, 1997).

O grupo de Investigación en Medicina Psicosocial da Universidade de Cádiz


(1995) propõe mais dois tipos de deficiência mental, ou seja, um tipo de deficiência
mental utilizada quando a avaliação do grau do atraso intelectual é difícil ou impossível
de estabelecer mediante os procedimentos habituais, devido à presença de défices
sensoriais ou físicos tais como, a cegueira, a surdo-mudez e transtornos graves de
comportamento e incapacidade física. E, também propõe, a deficiência mental sem
especificação, utilizada quando não existe informação suficiente, durante os testes de
avaliação, para enquadrar o sujeito numa das características já definidas pela
Organização Mundial de Saúde.
Kirk e Gallagher (2002) dividem a deficiência mental em três tipos: a deficiência
mental educável, a deficiência mental treinável e a deficiência mental profunda ou
grave. Uma criança com deficiência mental educável é aquela que apresenta algumas
limitações em seguir o programa escolar estabelecido. Contudo, será capaz de se

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desenvolver a três níveis: educabilidade em assuntos académicos a nível primário e
avançado nos graus elementares; educabilidade em adaptação social até ao ponto em
que puder eventualmente progredir independentemente na comunidade; adequação
ocupacional a ponto de se poder sustentar parcial ou totalmente quando adultos.
Durante os primeiros anos de vida este tipo de deficiente mental não é
reconhecido como tal, pois o atraso não é evidente devido às exigências do currículo
do pré-escolar, acabando por ser reconhecido, só quando a criança ingressa no
primeiro ciclo, em que a capacidade de aprendizagem mais rápida é um fator
importante.
A criança deficiente mental treinável é aquela que tem dificuldades em
aprender as habilidades académicas em qualquer nível funcional, em desenvolver a
independência total em idade adulta e em alcançar adequação vocacional suficiente
para a nível adulto sustentar-se sem supervisão ou ajuda. Além disto, é capaz de
aprender habilidades de higiene pessoal e alimentar-se, de se proteger de perigos
comuns no lar, na escola e na vizinhança, e ainda consegue um ajustamento social ao
lar e à vizinhança, ou seja, aprende a partilhar, a respeitar os direitos de propriedade e
cooperar numa unidade familiar e comunitária. A criança deficiente treinável pode ter
uma utilidade económica no lar e na vizinhança, uma vez que pode auxiliar várias
tarefas, trabalhar em ambientes especiais ou mesmo em trabalhos rotineiros sem ser
preciso supervisão. Estes sujeitos são considerados deficientes nos primeiros anos de
vida, pois a deficiência é notada devido a estigmas, desvios físicos ou clínicos da
criança ou por ser tardios na fala e no andar.
No que se refere à deficiência mental grave e profunda, as crianças são
profundamente atrasadas a nível cognitivo, têm deficiências múltiplas (por exemplo,
além de ser uma criança deficiente, a criança pode ter paralisia cerebral ou perda
auditiva) que muitas vezes interferem nos procedimentos de instruções normais, o que
leva a que o desenvolvimento geral da criança fique extremamente restrito. O objetivo
da educação de uma criança deficiente metal grave limita-se ao estabelecimento de
algum nível de adaptação social num ambiente controlado. Para completar esta ideia,
Mª Goretti Ribeiro (1996) aponta como principais causas da deficiência mental
profunda, males de formações genéticas durante a gravidez, levando aos nascimentos
prematuros, sofrendo lesões adicionais que tornam a sua adaptação à vida
extrauterina muito complicada. No momento atual, uma grande parte das crianças
com este problema pertencem ao grupo de prematuros com baixo peso à nascença.
Por outro lado, as causas deste problema podem estar ligados a fatores ambientais,
tais como, as doenças infeciosas graves e mal controladas e os afogamentos que
podem levar traumatismo crânio-encefálicos graves.

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Em síntese, a deficiência mental pode ser definida como uma subnormalidade
intelectual e algumas limitações nas competências adaptativas. Algumas das
manifestações deste problema, em casos mais leves, podem ser visíveis só no período
escolar e nos casos mais graves podem ser evidentes desde os primeiros anos de vida.

Deficiência Visual:
Em Portugal, a designação de Deficiência Visual abrange a totalidade dos
indivíduos, razão porque utilizamos normalmente a designação genérica de DV. A
definição de "Cego", ao contrário do que pode parecer, não é "evidente" nem
universal. Sabe-se que a maior parte (cerca de 80%) dos designados "cegos" têm
alguns restos de visão.
As fronteiras entre a designação de "Cegueira" e os vários níveis de "Deficiência
Visual" são estabelecidas, com mais precisão, com base em números relativos à
acuidade e ao campo visual (estes valores são medidos no melhor dos dois olhos, com
correção e as respetivas definições também variam de país para país).
O Grupo Consultivo do Programa da OMS, em reunião sobre a prevenção da
cegueira, Genebra em 1981, preocupado com a localização, notificação, incidência,
etiologia, prevenção e tratamento da deficiência visual, salienta a importância de uma
definição que, além de satisfazer as necessidades atuais, seja adotada em todo o
mundo. Recomenda também a diferenciação entre cegueira e visão subnormal.
A OMS propõe a seguinte classificação, de acordo com a Escala Optométrica
Decimal de Snellen:

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*A fração 20/200 metros significa que o indivíduo vê a vinte metros o que


normalmente se veria a duzentos metros.
A escala optométrica decimal de Snellen serve para medir a acuidade visual
para longe, ou seja, a perceção de forma e posição a uma distância de 6 metros.
Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, cerca de 1% da população
mundial apresenta algum grau de deficiência visual. Mais de 90% encontram-se nos
países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a população com deficiência
visual é composta por cerca de 5% de crianças, enquanto os idosos são 75% desse
contingente.
De maneira genérica, podemos considerar que nos países em desenvolvimento
as principais causas são infeciosas, nutricionais, traumáticas e causadas por doenças
como as cataratas. Nos países desenvolvidos são mais importantes as causas genéticas
e degenerativas. As causas podem ser divididas também em: congénitas ou adquiridas.
Causas congénitas: amaurose congénita de Leber, malformações oculares,
glaucoma congénito, catarata congénita.
Causas adquiridas: traumas oculares, catarata, degeneração senil de mácula,
glaucoma, alterações da retina relacionadas à hipertensão arterial ou diabetes.
Existem alguns fatores de risco:

 Histórico familiar de deficiência visual por doenças de carácter


hereditário: por exemplo glaucoma.
 Histórico pessoal de diabetes, hipertensão arterial e outras doenças
sistémicas que podem levar a comprometimento visual, por exemplo:
esclerose múltipla.
 Senilidade, por exemplo: catarata, degeneração senil de mácula.
 Não realização de cuidados pré-natais e prematuridade.
 Não utilização de óculos de proteção durante a realização de
determinadas tarefas (por exemplo durante o uso de solda elétrica).
 Não imunização contra rubéola da população feminina em idade
reprodutiva, o que pode levar a uma maior hipótese de rubéola
congénita e consequente acometimento visual.
Para certos investigadores, alguns sinais característicos da presença da
deficiência visual na criança são desvio de um dos olhos, não seguimento visual de
objetos, não reconhecimento visual de familiares, baixa aproveitamento escolar,
atraso de desenvolvimento. No adulto, pode ser o borramento súbito ou paulatino da
visão. Em ambos os casos, são vermelhidão, mancha branca nos olhos, dor,

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lacrimejamento, flashes, retração do campo de visão que pode provocar esbarrões e
tropeços em móveis.
Em todos os casos, deve ser realizada avaliação oftalmológica para diagnóstico
do processo e possíveis tratamentos, em carácter de urgência. Obtido através do
exame realizado pelo oftalmologista que pode lançar mão de exames subsidiários. Nos
casos em que a deficiência visual está caracterizada, deve ser realizada avaliação por
oftalmologista especializado em baixa visão, que fará a indicação de auxílios óticos
especiais e orientará a sua adaptação.
Nota: Práticas/Recursos didáticos para alunos com Deficiência Visual
encontram-se no início destes manual.

Deficiência Auditiva:
A deficiência auditiva, trivialmente conhecida como surdez, consiste na perda
parcial ou total da capacidade de ouvir.
É considerado surdo todo o individuo cuja audição não é funcional no dia-a-dia,
e considerado parcialmente surdo todo aquele cuja capacidade de ouvir, ainda que
deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva.
A deficiência auditiva é uma das deficiências contempladas e integradas nas
necessidades educativas especiais (NEE); necessidades pelas quais a Escola tanto
proclama.
Por vezes, as pessoas confundem surdez com deficiência auditiva. Porém, estas
duas noções não devem ser encaradas como sinónimos.
A surdez, sendo de origem congénita, é quando se nasce surdo, isto é, não se
tem a capacidade de ouvir nenhum som. Por consequência, surge uma série de
dificuldades na aquisição da linguagem, bem como no desenvolvimento da
comunicação.
Por sua vez, a deficiência auditiva é um défice adquirido, ou seja, é quando se
nasce com uma audição perfeita e que, devido a lesões ou doenças, a perde. Nestas
situações, na maior parte dos casos, a pessoa já aprendeu a se comunicar oralmente.
Porém, ao adquirir esta deficiência, vai ter de aprender a comunicar de outra forma.
Em certos casos, pode-se recorrer ao uso de aparelhos auditivos ou a intervenções
cirúrgicas (dependendo do grau da deficiência auditiva) a fim de minimizar ou corrigir
o problema.
Tipos de deficiência auditiva
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 Deficiência Auditiva Condutiva
 Deficiência Auditiva Sensório-Neural
 Deficiência Auditiva Mista
 Deficiência Auditiva Central / Disfunção Auditiva Central / Surdez
Central

Deficiência Auditiva Condutiva


A perda de audição condutiva afeta, na maior parte das vezes, todas as
frequências do som. Contudo, por outro lado, não se verifica uma perda de audição
severa. Este tipo de perda de capacidade auditiva pode ser causada por doenças ou
obstruções existentes no ouvido externo ou no ouvido interno. A surdez condutiva
pode ter origem numa lesão da caixa do tímpano ou do ouvido médio. É vulgar nos
adultos a perda de audição condutiva, devido ao depósito de cerúmen (cera) no canal
auditivo externo. Nas crianças, a otite média, uma inflamação do ouvido médio, é a
causa mais comum de perda de audição condutiva.

Deficiência Auditiva Sensório-Neural


A perda de audição neurossensorial resulta de danos provocados pelas células
sensoriais auditivas ou no nervo auditivo. Este tipo de perda pode dever-se a um
problema hereditário num cromossoma, assim como, pode ser causado por lesões
provocadas durante o nascimento ou por lesões provocadas no feto em
desenvolvimento, tal como acontece quando uma grávida contrai rubéola.
A sujeição a ruídos excessivos e persistentes aumenta a pressão numa parte do
ouvido interno – o labirinto – e pode resultar numa perda de audição neurossensorial.
Essa perda pode variar entre ligeira e profunda.
Nestes casos, o recurso à amplificação do som pode não solucionar o problema,
uma vez que é possível que se verifique distorção do som.

Deficiência Auditiva Mista


Na deficiência auditiva mista verifica-se, conjuntamente, uma lesão do aparelho
de transmissão e de receção, ou seja, quer a transmissão mecânica das vibrações
sonoras, quer a sua transformação em perceção estão afetadas/perturbadas.

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Crianças com NEE
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Esta deficiência ocorre quando há alteração na condução do som até ao órgão
terminal sensorial ou do nervo auditivo. A surdez mista ocorre quando há ambas as
perdas auditivas: condutivas e neurossensoriais.

Deficiência Auditiva Central / Disfunção Auditiva Central / Surdez Central


A deficiência auditiva Central, Disfunção Auditiva Central ou Surdez Central não
é, necessariamente, acompanhada de uma diminuição da sensibilidade auditiva.
Contudo manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na perceção e compreensão
das quaisquer informações sonoras. Este tipo de deficiência é determinado por uma
alteração nas vias centrais da audição. Tal, decorre de alterações nos mecanismos de
processamento da informação sonora no tronco cerebral, ou seja, no Sistema Nervoso
Central.

Classificação BIAP (Bureau International d’Audiophonologic)


Graus de surdez:
- Leve – entre 20 e 40 dB
- Média – entre 40 e 70 dB
- Severa – entre 70 e 90 dB
- Profunda – mais de 90 dB
• 1º Grau: 90 dB
• 2º Grau: entre 90 e 100 dB
• 3º Grau: mais de 100 dB

Crianças com doenças crónicas


Uma Criança com uma Doença Crónica é uma criança que, durante um período
de tempo apreciável, se encontra impossibilitada, devido a causas físicas, de participar
plenamente nas atividades inerentes à sua idade, no domínio social, recreativo ou de
orientação profissional.
É na interajuda entre todos os elementos sociais que se encontra uma forma
concertada de agir. O professor deve por isso conhecer os sintomas da doença e

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Crianças com NEE
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fomentar o apoio entre todos os agentes na escola agindo segundo as orientações da
família que por sua vez deve estar orientada pelo médico assistente.
Existem vários tipos de doenças crónicas:

 Neurológicos: Epilepsia
 Metabólicos: Diabetes
 Respiratórios: Asma; Mucoviscidose
 Renais
 Hematológicos: Hemofilia; Anemia
 Cardíacos
 Sida
 Toxicodependência.

Aspetos Psicossociais da Doença Crónica nas crianças:

 Medo do abandono.
 Interpretação da doença como um castigo.
 Pobre autoconceito devido à existência de problemas físicos.
 Insegurança em relação às suas possibilidades escolares.
 Receio das restrições impostas pela doença.
 Medo do que as outras crianças possam pensar em relação à sua
doença e aos seus efeitos.

Como agir:

 Olhar a criança com Doença Crónica como criança e não como um


problema.
 Observá-la, conhecê-la, entendê-la.
 Saber o que a criança é capaz de fazer.
 Saber o que pode aprender a fazer.
 Encaminhar e realizar adaptações de horários, de estruturas e mesmo
curriculares.
 Orientar os Pais como parceiros e suporte educativo.
 Preparar possíveis hospitalizações e regresso à escola.
 Ajudar a criança a sentir-se bem consigo própria e com os outros.

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