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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
3.3 Etiologia................................................................................................ 9
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 A RELEVÂNCIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA AS NECESSIDADES EDU-
CACIONAIS ESPECÍFICAS
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3 ABORDAGENS DIAGNÓSTICAS DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
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3.1 Entendendo a deficiência intelectual
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A partir da década de 1970, houve uma abordagem mais assertiva por parte do
poder público em relação a essa questão, com a ampliação do acesso à escola para
a população em geral e a implementação de classes especiais na educação básica
(JANNUZZI, 2004). Na segunda metade do século, várias instituições sem fins lucra-
tivos foram criadas com foco no atendimento de pessoas com deficiência intelectual,
sendo a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e a Sociedade Pes-
talozzi (PEREIRA, 2009) exemplos proeminentes. Até os dias atuais, essas institui-
ções desempenham um papel crucial na história dessa deficiência, buscando alinhar
seus projetos com a proposta de inclusão social adotada no Brasil desde a década de
1990.
A história da deficiência intelectual sugere que sua existência e desenvolvi-
mento como categoria social são extremamente complexos. A mutabilidade, a varia-
bilidade e a inconsistência conceitual, além das lutas contra a opressão ao longo do
tempo, indicam que ainda não existe uma base sólida para uma identidade social con-
solidada.
No ano de 2018, a deputada federal Rejane Dias (PT-PI) apresentou uma pro-
posta de emenda à Constituição, identificada como PEC n.º 427/18. A Câmara dos
Deputados analisa a proposta que altera a Constituição para padronizar a denomina-
ção de pessoas com deficiência. Diversos dispositivos constitucionais as tratam como
"pessoas portadoras de deficiência", enquanto a nomenclatura adequada atualmente
é "pessoas com deficiência" (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2019, documento
online).
O primeiro modelo é o do "entendimento socioecológico da deficiência intelec-
tual". Esse modelo aborda a pessoa considerando suas restrições no funcionamento
individual dentro de um contexto social. Ele não encara a deficiência como um pro-
blema centrado na pessoa em si, mas como um desajuste entre as capacidades do
indivíduo e as demandas do ambiente ao seu redor. Sob essa perspectiva, a origem
da deficiência intelectual pode estar relacionada a fatores orgânicos e/ou sociais. Es-
ses fatores podem resultar em limitações funcionais que afetam tanto o funcionamento
pessoal quanto o desempenho de papéis e tarefas esperados para um indivíduo em
seu ambiente social (PEREIRA, 2009).
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O próximo conceito é o "enfoque multidimensional", que considera o funciona-
mento humano por meio de cinco dimensões: habilidades intelectuais, comportamento
adaptativo, saúde, participação e contexto. As habilidades intelectuais dizem respeito
às capacidades mentais gerais, como raciocínio lógico, pensamento abstrato e ideias
complexas. Segundo a AAIDD (2010), essas habilidades devem ser avaliadas por
meio de testes padronizados.
O comportamento adaptativo engloba um conjunto de habilidades conceituais,
sociais e práticas que uma pessoa utiliza em suas atividades diárias. A participação
refere-se ao desempenho da pessoa em atividades reais nos diferentes aspectos da
vida social, como trabalho, lazer, vida espiritual e atividades culturais. A saúde é ava-
liada considerando o histórico clínico do indivíduo, contemplando seu bem-estar físico,
mental e social. Quanto ao contexto, avaliações devem ser feitas em relação ao am-
biente (físico, social e atitudinal) e às características pessoais, como motivação, esti-
los de aprendizagem e estilos de vida (DIAS; OLIVEIRA, 2013).
O último conceito estabelecido pela AAIDD (2010) diferencia uma "definição
operacional" de uma "definição constitutiva" da deficiência intelectual. A definição ope-
racional estabelece os limites do termo, separando o que está incluído do que não
está incluído, enquanto a definição constitutiva estabelece o construto em relação a
outros conceitos, fornecendo fundamentos teóricos mais claros.
3.2 Classificação
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Quadro 1 - Classificação da deficiência intelectual adaptada — CID-10 (2010)
• QI entre 50–69.
• Provável dificuldade de aprendizagem esco-
lar.
F.70 — Retardo mental • Adulto capaz de trabalhar.
leve • Relacionamento social satisfatório.
• Subnormalidade mental leve.
• QI entre 35–49
• Provável atraso (acentuado) do desenvolvi-
mento durante a infância.
F.71 — Retardo Mental • Graus variados de suporte para viver e traba-
Moderado lhar na comunidade durante a vida adulta.
• A maioria dos indivíduos desenvolve certo
grau de independência quanto aos cuidados
pessoais, às habilidades acadêmicas e à co-
municação.
• Subnormalidade mental moderada
• QI entre 20–34.
• Provável necessidade de assistência contí-
F.72 — Retardo Mental nua.
grave • Subnormalidade mental grave
• QI < 20
• Limitações graves relacionadas aos cuidados
F.73 — Retardo Mental pessoais, à comunicação e à mobilidade.
Profundo • Subnormalidade mental profunda
3.3 Etiologia
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OCOR- FATORES BIOMÉDI- FATORES SOCI- FATORES FATORES
RÊNCIA COS AIS COMPORTA- EDUCACIO-
MENTAIS NAIS
Pré-natal Distúrbios cromossô- Pobreza Uso de drogas Deficiência
micos ou álcool pelos cognitiva dos
Má nutrição ma- pais. pais sem
Distúrbios de gene terna apoio
único Pais fumantes
Violência domés- Falta de pre-
Síndromes tica Imaturidade dos paração para
pais serem pais.
Distúrbios metabóli- Falta de pré-natal
cos
Digênese cerebral
Doenças maternas
Idade dos pais
Perinatal Prematuridade Falta de acesso Rejeição dos Falta de en-
aos cuidados no pais à criança caminha-
Lesão no nascimento nascimento. mento mé-
Abandono da dico
Distúrbios neonatais criança pelos
pais.
Pós-natal Lesão cerebral trau- Cuidador incapa- Abuso ou negli- Incapacidade
mática citado gência dos pais
Falta de estimula- Violência do- Diagnóstico
Má nutrição ção méstica tardio
Pobreza Insegurança Intervenção
Meningoencefalite Doença crônica tardia
institucional Privação social
Distúrbios convulsi- Comportamen- Educação
vos tos difíceis inadequada
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3.4 Compreendendo os aspectos gerais da deficiência intelectual
11
3.5 Os principais tipos de deficiência intelectual e a vivência singular dos su-
jeitos.
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Embora tenham ocorrido avanços significativos no sentido de promover a inclu-
são e proporcionar oportunidades educacionais para as pessoas com deficiência in-
telectual, é necessário continuar a enfrentar os desafios específicos associados a
essa condição. É fundamental investir em estratégias de apoio e acompanhamento
individualizados, bem como em programas de capacitação e conscientização para
professores, profissionais e a sociedade em geral, a fim de garantir uma inclusão efe-
tiva e igualdade de oportunidades para todas as pessoas com deficiência intelectual.
As pessoas com deficiência intelectual frequentemente enfrentam limitações
em suas interações com o mundo social, como a desvalorização de seus papéis como
jovens e adultos, bem como expectativas reduzidas em relação à sua capacidade de
adaptação, solução de problemas, reflexão e autorreflexão — características essen-
ciais do funcionamento cognitivo mais desenvolvido (CARVALHO, 2006).
Em diversas perspectivas, as pessoas com deficiência são frequentemente
abordadas como se estivessem distantes da posição de adultos. São comparadas e
tratadas como crianças grandes, sendo consideradas incapazes de agir, tomar deci-
sões, fazer escolhas ou liderar, como as pessoas sem deficiência. Essa abordagem
limitada resulta na privação de diversas oportunidades, como inserção no mercado de
trabalho e acesso à educação em níveis mais elevados, prejudicando o seu desenvol-
vimento pessoal (DIAS, 2012).
É essencial superar esses estereótipos e promover o potencial das pessoas
com deficiência intelectual. Elas possuem habilidades, talentos e capacidades únicas
que podem contribuir de maneira significativa para a sociedade. É necessário garantir
que sejam tratadas com respeito, dignidade e igualdade de oportunidades, permitindo
que desenvolvam suas habilidades, adquiram autonomia e alcancem seu pleno po-
tencial. Isso requer criar ambientes inclusivos, a valorização de suas contribuições e
o apoio adequado para poderem participar ativamente na sociedade como cidadãos
de direitos plenos.
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e emocional até a educação, socialização e autonomia. Aqui estão alguns dos princi-
pais pontos a considerar ao fornecer cuidados especiais para pessoas com deficiência
intelectual:
✓ Saúde e Bem-Estar: Pessoas com deficiência intelectual podem ter ne-
cessidades de saúde específicas que requerem atenção. É importante
garantir que elas tenham acesso a cuidados médicos regulares, vacina-
ções e exames preventivos. Além disso, cuidados odontológicos e acom-
panhamento de condições médicas crônicas devem ser considerados.
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importante. Isso pode incluir treinamento em habilidades sociais, de co-
municação, de transporte público e de busca de emprego.
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Além disso, essas iniciativas têm como objetivo implementar intervenções de
reabilitação e prevenção precoce de incapacidades desde os estágios iniciais (BRA-
SIL, 2012, conforme informações online).Através da Portaria n.º 793, datada de 24 de
abril de 2012, foi estabelecida a criação da Rede de Cuidados voltada para atender
às necessidades da pessoa com deficiência no Sistema Único de Saúde (SUS). Os
objetivos principais dessa Rede de Cuidados são (BRASIL, 2012, documento online):
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rio obter um melhor entendimento sobre a deficiência intelectual antes de fazer julga-
mentos prévios, rotulando uma pessoa como incapaz, anormal ou inferior. As pessoas
com deficiência intelectual têm necessidades semelhantes às das pessoas sem defi-
ciência, porém requerem cuidados abrangentes de uma equipe interdisciplinar. Com
estímulos e intervenções adequadas, é possível promover uma interação máxima en-
tre o indivíduo, o ambiente e as tarefas, facilitando o desenvolvimento de suas habili-
dades.
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Sob essa perspectiva multidimensional da inteligência, o Relatório Marland de 1972,
produzido pelo Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar dos Estados Unidos,
apresentou a primeira definição de superdotação, propondo um conceito mais abran-
gente, delineando seis áreas gerais. Nas palavras contidas no próprio documento
(1972):
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• Preparar um pessoal especializado capaz de atender adequadamente
esse grupo.
• Adotar um conceito operativo de superdotado (ALENCAR; FLEITH,
2001).
Observa-se que, desde 1971, houve um movimento de organização para pro-
porcionar atendimento diferenciado a esses alunos, ao mesmo tempo, em que espe-
cialistas começaram a se destacar na área. Entre esses especialistas, merece desta-
que a professora Helena Antipoff, uma pesquisadora de origem russa que chegou ao
Brasil em 1929 e dedicou-se a estudos sobre inteligência. Em 1945, ela reuniu grupos
de pessoas com potencial superior no Instituto Pestalozzi do Rio de Janeiro para rea-
lizar estudos nesse campo. Além disso, em 1962, na Fazenda do Rosário, em Minas
Gerais, ela iniciou um programa de atendimento aos alunos talentosos da área rural e
das periferias urbanas (ALENCAR; FLEITH, 2001). Essas iniciativas pioneiras contri-
buíram para a evolução e a consolidação do atendimento aos alunos superdotados
no Brasil.
Em 1973, a criação do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) re-
presentou um importante passo para o apoio e desenvolvimento de iniciativas relaci-
onadas ao trabalho com alunos superdotados. Em 1977, o “II Seminário sobre o Su-
perdotado” foi realizado no Rio de Janeiro, e no ano seguinte, em 1978, a Associação
Brasileira para Superdotados foi fundada, promovendo eventos periódicos na área
desde então. Esses marcos foram essenciais para o fortalecimento e a consolidação
das ações voltadas para o atendimento e o desenvolvimento dos alunos superdotados
no Brasil.
A partir desse ponto, diversos estudos e propostas de atendimento para alunos
com Altas Habilidades/Superdotação começaram a se disseminar no Brasil, com
apoio das políticas públicas educacionais que reconhecem esses alunos como parte
do público da Educação Especial, com características e necessidades educacionais
distintas.
No cenário brasileiro, atualmente, existem diferentes concepções teórico/epis-
temológicas que fundamentam a compreensão e o atendimento dos alunos com Altas
Habilidades/Superdotação. O Documento das Diretrizes Gerais para o Atendimento
Educacional aos Alunos Portadores de Altas Habilidades, Superdotados e Talentosos
traz a seguinte definição:
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[…] altas habilidades referem-se a comportamentos observados ou relatados
que confiaram a expressão de ‘traços consistentemente superiores’ em rela-
ção a uma média […] em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se
entender por traços as formas consistentes, ou seja, aquelas que permane-
cem com frequência e duração no repertório dos comportamentos da pessoa,
para poderem ser registrados em épocas diferentes em situações semelhan-
tes (BRASIL, 1995, p.13).
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Nesse contexto de debate, recorre-se ao referencial e às contribuições teóricas
apresentadas pelo pesquisador norte-americano Joseph S. Renzulli, que é docente
de Psicologia da Educação na Universidade de Connecticut, onde exerce também a
função de Diretor do Centro de Pesquisa Nacional sobre superdotados e talentosos.
Debatendo sobre como identificar esses indivíduos com Altas Habilidades/Su-
perdotação, Renzulli (2004) propõe a concepção dos “Três Anéis” da superdotação,
apresentando esse conceito por meio de uma representação gráfica em forma de in-
terseção de três círculos — conhecido como Diagrama de Venn — que representam
três traços considerados essenciais para identificar a superdotação.
Inicialmente, o modelo dos três anéis focalizava apenas os fatores intrínsecos
ao sujeito, o que resultou em críticas. Assim, Renzulli (1986) promoveu uma alteração
no modelo original, inserindo uma rede para enfatizar a importância dos aspectos da
personalidade desses indivíduos, além dos aspectos genéticos e sociais, os quais in-
fluenciam a manifestação das características.
Quando o conceito foi apresentado, enfrentou certa resistência devido às con-
cepções prevalecentes na época. Apesar de algumas pessoas terem começado a
questionar a predominância de um único critério — o escore de QI — para identificar
alunos para os programas especiais, as diretrizes e regulamentações estaduais exis-
tentes ou em vigor ainda faziam referência ao trabalho de Lewis Terman e à crença
de que um certo nível de inteligência, medido tradicionalmente, era equivalente à su-
perdotação.
Essa visão de superdotação, inicialmente divulgada em 1978, contribui para a
compreensão dos comportamentos mencionados, pois “esse diagrama tem o objetivo
de representar graficamente as propriedades dinâmicas do conceito; ou seja, aquelas
características de movimento, interação, mudança e energias contínuas, e não uma
condição fixa e estática” (RENZULLI, 2004).
Os atributos que compõem o comportamento de superdotação, conforme o que
foi mencionado por Renzulli, são: habilidade acima da média, dedicação à tarefa e
criatividade. A "habilidade acima da média" refere-se à demonstração de proficiência
notável em áreas específicas de conhecimento ou habilidades, excedendo as expec-
tativas usuais. Essas habilidades podem abranger uma variedade de campos, como
acadêmicos, artísticos, esportivos ou práticos. A presença de habilidades altamente
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desenvolvidas é um indicativo chave da superdotação, destacando os indivíduos su-
perdotados em comparação com seus pares.
A "dedicação intensa à tarefa" destaca a persistência, a motivação e o empe-
nho excepcionais que os indivíduos superdotados direcionam para aprimorar suas ha-
bilidades e atingir seus objetivos. Essa característica frequentemente os impulsiona a
mergulhar profundamente em áreas de interesse, buscando o domínio e a excelência.
A dedicação fervorosa à busca do conhecimento ou da realização é uma característica
distintiva desses indivíduos.
A "criatividade excepcional" se refere à capacidade única de pensar de maneira
original, gerar ideias inovadoras e abordar problemas de maneiras não convencionais.
Os superdotados muitas vezes apresentam uma habilidade distinta para fazer cone-
xões entre informações aparentemente desconexas e para produzir soluções criativas
para desafios complexos. A criatividade é um componente vital que diferencia a su-
perdotação e contribui para o impacto que esses indivíduos podem ter em seus cam-
pos de interesse.
A combinação desses atributos cria uma sinergia que define a superdotação e
influencia positivamente as realizações e contribuições desses indivíduos em diversas
esferas da vida. O primeiro aspecto, a habilidade acima da média, abrange, conforme
descrito pelo autor, tanto habilidades gerais como específicas, representando o nível
de desempenho significativamente superior em relação a uma média.
De acordo com Virgolim (2007) A habilidade geral envolve a capacidade de
usar o pensamento abstrato ao processar informações e integrar experiências para
produzir respostas adequadas e adaptáveis a novas situações. Essas habilidades são
geralmente avaliadas em testes de aptidão e inteligência, como raciocínio verbal e
numérico, relações espaciais e fluência verbal. Por outro lado, as habilidades
específicas consistem na capacidade de aplicar diversas combinações das
habilidades gerais em uma ou mais áreas especializadas do conhecimento, ou
desempenho humano, como dança, fotografia, liderança, matemática, composição
musical, entre outras.
Por outro lado, o engajamento com a tarefa diz respeito ao empenho do
indivíduo em uma área específica de desempenho, envolvendo perseverança,
paciência, autoconfiança e crença em suas habilidades. A criatividade, por sua vez,
destaca-se pela capacidade de inovar em um campo determinado (RENZULLI, 2004).
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Esses traços do “comportamento de superdotação”, conforme sugerido por
Renzulli (2004), são manifestos em áreas gerais ou específicas, conforme as
potencialidades do indivíduo, e não é necessário que estejam presentes
simultaneamente e em mesma proporção no comportamento do sujeito. Desse modo,
valoriza-se as diversas áreas do conhecimento e o que cada indivíduo demonstra no
processo social, de aprendizado e criação.
Dessa forma, percebe-se que o comportamento do sujeito com Altas
Habilidades/Superdotação pode ser identificado em diferentes áreas, isoladas ou
combinadas, nem sempre relacionadas ao ambiente acadêmico. No entanto, os traços
do comportamento de superdotação, conforme descritos anteriormente, também são
considerados.
Renzulli (2004) também faz uma distinção entre dois tipos de superdotação:
acadêmica e produtivo-criativa. A superdotação acadêmica pode ser facilmente ob-
servada por meio de testes padronizados e abrange habilidades valorizadas no con-
texto do aprendizado escolar. Assim, é fundamental que empenhemos todos os es-
forços para implementar ajustes apropriados para os alunos que apresentam habili-
dades para avançar além do conteúdo do currículo regular, demonstrando um ritmo e
compreensão superiores em relação aos seus colegas (RENZULLI, 2004).
A superdotação produtivo-criativa, por outro lado, refere-se aos aspectos da
atividade e do envolvimento humano que estimulam o desenvolvimento de ideias, pro-
dutos e expressões artísticas originais, bem como áreas específicas do conhecimento
(RENZULLI, 2004). Conforme o próprio pesquisador, existem diferenças nos perfis
dos indivíduos com superdotação acadêmica e produtivo-criativa, uma vez que o
aluno deixa de ser apenas “aprendiz de lições pré-determinadas e consumidor de in-
formações” para desempenhar um papel diferente, onde ele ou ela atua como um
investigador em primeira mão (RENZULLI, 2004). Algumas vezes, o indivíduo pode
manifestar comportamentos dos dois tipos mencionados — acadêmico e produtivo-
criativo —, os quais podem estar relacionados.
Esses conceitos apresentados por Renzulli (2004) são relevantes, pois os indi-
víduos com Altas Habilidades/Superdotação têm perfis distintos entre si, com carac-
terísticas expressas de maneiras diversas. O mesmo autor ressalta que esse compor-
tamento de superdotação é influenciado por fatores de personalidade e ambientais
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(escola, família), os quais podem contribuir ou limitar o desenvolvimento dos traços
que compõem a superdotação.
Compreende-se que esses indivíduos podem não demonstrar um desempenho
elevado em todos os momentos de suas vidas, mas sim em épocas distintas e situa-
ções semelhantes. Seguindo a Concepção de Superdotação de Renzulli (2004), os
três traços mencionados são fundamentais para reconhecer uma pessoa com com-
portamento de superdotação. Considerando a realidade educacional de cada institui-
ção, bem como os elementos culturais e sociais que permeiam esse ambiente, é im-
portante que os professores ampliem seu olhar para identificar esses indivíduos nos
espaços educacionais, evitando representações equivocadas que dificultam o reco-
nhecimento de suas particularidades.
Contudo, também existem outras características que se evidenciam nesses in-
divíduos, de acordo com suas áreas de interesse e com seu tipo de superdotação. As
pessoas com superdotação acadêmica podem apresentar ainda as seguintes carac-
terísticas (Quadro 1), citados por Virgolim (2007).
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mico e produtivo-criativo. Esses indicadores descritos podem ser observados em mui-
tos dos indivíduos com Altas Habilidades/Superdotação, o que pode auxiliar na iden-
tificação desses sujeitos.
Por outro lado, as pessoas que apresentam a superdotação produtivo-criativa
exibem as seguintes características (Quadro 2), conforme a sugestão de Virgolim
(2007): [continuação da informação não fornecida na pergunta original.
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Fonte: Tourón, Peralta e Repáraz (1998).
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des em determinada área em uma idade menor do que a média, avançando rapida-
mente porque sua aprendizagem naquela área ocorre com grande facilidade. A autora
também afirma que “as crianças superdotadas são precoces” (WINNER, 1998). A
mesma autora menciona que o prodígio é “uma versão mais extrema de uma criança
superdotada, uma criança tão talentosa que realiza em determinado domínio em um
nível equivalente ao de um adulto” (WINNER, 1998).
Assim, evidencia-se que há uma população significativa de indivíduos com Al-
tas Habilidades/Superdotação, os quais apresentam características distintas, porém
requerem orientação e educação adequadas para seu desenvolvimento. Seguindo as
informações do Relatório de Marland, estima-se que o percentual de pessoas com
Altas Habilidades/Superdotação situa-se entre 3% e 5% da população, considerando
aquelas com QI acima da média, que geralmente se destacam nas áreas linguística,
lógico-matemática e espacial. Conforme mencionado por Pérez e Freitas (2011), em-
bora o Brasil não disponha de estatísticas oficiais sobre a população de pessoas com
Altas Habilidades/Superdotação, com base nesse índice, podemos estimar que exis-
tem, em média, mais de 8 milhões de brasileiros com essas características.
Contudo, considerando que esse percentual de estudantes com Altas Habilida-
des/Superdotação é de grande relevância, surge a indagação sobre onde esses su-
jeitos se encontram em nossas instituições educacionais. Por que não estão sendo
identificados e reconhecidos em relação aos seus potenciais? Essas questões nos
levam a refletir sobre a urgente necessidade de oferecer formação docente para ad-
quirir conhecimentos no campo, a fim de possibilitar avanços na identificação e aten-
dimento das necessidades específicas desses alunos.
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damente, fazem perguntas instigantes ou trazem contribuições valiosas para a discus-
são em aula. Suas ideias podem se destacar e, às vezes, desviar-se do tema abor-
dado, o que pode dificultar o andamento da aula conforme planejado pelo professor.
Além disso, eles podem corrigir informações fornecidas pelo professor, demonstrar
uma grande curiosidade intelectual e apresentar trabalhos ou propostas excepcional-
mente criativas. Infelizmente, essas atitudes são, em muitos casos, erroneamente as-
sociadas a problemas de comportamento.
Por outro lado, também existem alunos que se mostram mais introvertidos em
sala de aula, mas sofrem com apelidos pejorativos, como “nerd”, “gênio da lâmpada
quebrada”, “Einstein de araque” e outros. Seja qual for o perfil desses alunos, é im-
portante saber que eles são estudantes da Educação Especial e são classificados
como tendo Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). Mesmo que não tragam um “di-
agnóstico” formal que ateste suas necessidades educacionais, como outros alunos da
Educação Especial, eles também requerem um olhar específico dos professores para
poderem desenvolver plenamente seus potenciais e aprofundar-se em suas áreas de
interesse. Isso é fundamental para evitar que esses alunos se evadam do ambiente
escolar.
É essencial que os educadores estejam cientes de que alunos com Altas Habi-
lidades/Superdotação frequentam as escolas comuns e podem ser encontrados em
diversas salas de aula. Por isso, é importante que os professores se capacitem para
identificar e compreender melhor esses estudantes, a fim de fornecer-lhes um ambi-
ente de aprendizagem enriquecedor. Um olhar sensível e adaptado às suas necessi-
dades pode ser fundamental para o desenvolvimento pleno desses alunos e para al-
cançarem todo o seu potencial acadêmico e criativo. Com um ambiente inclusivo e
acolhedor, os alunos com Altas Habilidades/Superdotação têm a chance de se sentir
valorizados, compreendidos e estimulados, contribuindo positivamente para o enri-
quecimento da experiência educacional e para a construção de uma sociedade mais
diversificada e inclusiva.
A identificação dos estudantes com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) é
um aspecto fundamental em qualquer programa de atendimento a esse grupo de alu-
nos. Entretanto, os métodos utilizados para reconhecer suas características nem sem-
pre abrangem todas as suas potencialidades. Em muitos casos, as intervenções pa-
dronizadas, como testes psicológicos de inteligência, focam em áreas valorizadas pelo
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sistema acadêmico, apoiando-se em critérios estatísticos fixos para determinar limites
numéricos de desempenho. Embora essas ferramentas sejam úteis para identificar
certos aspectos das AH/SD, elas não conseguem captar outras habilidades valiosas,
como talentos artísticos, expressões criativas, musicalidade e outras formas de des-
taque.
Por outro lado, a utilização de procedimentos não estandardizados, como ques-
tionários, fichas e provisão de desafios, pode trazer mais incertezas do que respostas
concretas. Essas abordagens exigem um processo contínuo e criterioso ao longo do
tempo, embasado na observação direta das habilidades naturais manifestadas no co-
tidiano dos estudantes. Segundo Gerson e Carracedo (1996), a detecção de uma cri-
ança superdotada ocorre melhor quando ela é observada, ouvida e sentida em ação,
se for em um ambiente de liberdade.
Diante dessa perspectiva, surge a questão: como identificar efetivamente as
Altas Habilidades/Superdotação? É importante buscar um equilíbrio entre as aborda-
gens padronizadas e não estandardizadas, considerando uma avaliação holística dos
alunos. Os professores desempenham um papel crucial nesse processo, ao podarem
perceber os talentos e habilidades especiais dos estudantes em sala de aula, por meio
de uma interação mais próxima e uma observação atenta. Além disso, é essencial
envolver os pais e responsáveis nesse processo de identificação, ao podarem forne-
cer informações valiosas sobre o desenvolvimento e comportamento dos alunos fora
do ambiente escolar.
Ao adotar uma abordagem mais abrangente e sensível, as escolas têm a opor-
tunidade de identificar de maneira mais precisa e completa os alunos com Altas Habi-
lidades/Superdotação. A partir dessa identificação adequada, será possível oferecer
um atendimento mais personalizado, estimulando o desenvolvimento pleno das po-
tencialidades desses estudantes e proporcionando-lhes desafios intelectuais alinha-
dos com suas áreas de interesse e aptidões. Dessa forma, a educação torna-se mais
inclusiva e enriquecedora para todos, promovendo um ambiente que valoriza e nutre
o talento em todas as suas manifestações.
O objetivo primordial do procedimento de reconhecimento das Altas Habilida-
des/Superdotação (AH/SD) não é rotular os indivíduos, mas sim fornecer informações
para estabelecer uma intervenção educacional apropriada conforme as necessidades
educacionais, sociais e emocionais desses alunos. Em outras palavras, o processo
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de identificação não visa a uma seleção prematura de trajetórias educacionais restri-
tas, pois sua finalidade é ampliar as opções e oportunidades disponíveis, em vez de
limitá-las (GARDNER; FELDMAN e KRECHEVSKY, 2001).
Para alcançar esse propósito, é crucial que essa intervenção seja devidamente
registrada no projeto político-pedagógico da instituição escolar. Esse registro desem-
penha um papel importante ao oficializar a oferta do Atendimento Educacional Espe-
cializado (AEE) aos alunos com AH/SD nas escolas, além de estabelecer como esse
atendimento deve ser planejado e realizado. A inclusão dessa abordagem no projeto
político-pedagógico garante que a escola esteja comprometida em proporcionar a de-
vida atenção e suporte necessário para atender às necessidades específicas desses
estudantes excepcionais.
É relevante esclarecer que as abordagens de intervenção destinadas aos alu-
nos com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) se fundamentam em dois pressu-
postos teóricos essenciais: a concepção de inteligência e a compreensão da identi-
dade desses indivíduos. Esses pressupostos têm passado por importantes mudanças
nas últimas décadas, influenciados, conforme apontado por Alencar e Fleith (2001),
por quatro aspectos distintos: as transformações nas concepções de inteligência; os
avanços na área da criatividade; a influência dos estudos culturais e linguísticos; e as
diversas abordagens no processo de identificação. Esses aspectos têm contribuído
significativamente para uma visão mais abrangente das AH/SD, ampliando a compre-
ensão sobre quem são esses indivíduos. Contudo, a natureza multidimensional desse
perfil torna o processo de identificação mais complexo.
Costa, Sánchez e Martínez (1997) destacam que a temática da identificação
das pessoas com Altas Habilidades/Superdotação é um dos tópicos mais debatidos
no campo educacional, envolvendo diversas áreas do conhecimento, como a psico-
pedagogia, a sociologia, a política e a ética. O debate sob a perspectiva sociológica,
ética e política levanta questões sobre a necessidade de valorizar e aproveitar ao má-
ximo o potencial humano, considerado atualmente como uma das maiores riquezas
de uma nação. No âmbito educativo, a identificação desses sujeitos possui dois pro-
pósitos fundamentais: o avanço do conhecimento por meio de estudos e pesquisas
que contribuam para a melhor compreensão desse grupo social; e o desenvolvimento
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de métodos adequados para sua intervenção educacional. Esses objetivos visam as-
segurar uma abordagem educativa mais eficaz e alinhada às necessidades específi-
cas dos alunos com AH/SD.
32
Com o intuito de sistematizar e orientar a discussão sobre um tema contro-
verso, como os modelos teóricos de identificação das AH/SD, apresentamos no Qua-
dro 1 as características dos processos de identificação tradicional e atual, conforme
Reyes; Chapela (2010). Esses elementos são significativos, ao comprovarem que as
diferenças entre os dois modelos sempre estiveram presentes (e continuam), mas a
evolução de suas concepções e ideias está diretamente relacionada aos estudos e
pesquisas, especialmente no campo da inteligência.
Destaca-se, portanto, a importância de deixar claro o embasamento teórico que
orienta a intervenção junto aos alunos, ao ser a teoria que define a prática, sendo
fundamental que haja coerência entre ambas.
Quadro 4 - Contrastes nos modelos de identificação nos paradigmas tradicio-
nais e atuais.
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5.2 Modelos Tradicionais
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lução de problemas — como liderança, habilidade de interação, determinação e ima-
ginação — não são avaliadas pelos testes tradicionais de inteligência (GARDNER;
FELDMAN; KRECHEVSKY, 2001).
Em suma, é importante destacar que Gardner (2000) sustenta a ideia de que
as inteligências não são diretamente observáveis nem facilmente mensuráveis. Ele as
concebe como potenciais neurais, localizados em áreas específicas do cérebro, que
podem ser ativados ou não pelas influências culturais onde o indivíduo está inserido.
Isso nos permite entender que as Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) podem se
manifestar em um ou em alguns domínios da inteligência, sendo raro o desenvolvi-
mento excepcional em todas as áreas.
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do uso do corpo, da música, do espaço e das interações interpessoais no processo
de ensino e aprendizagem, além dos aspectos linguísticos e lógico-matemáticos.
Esses pressupostos, portanto, alteram a concepção tradicional das AH/SD,
abolindo a distinção entre “superdotação” e “talento”, pois ao introduzir diferentes do-
mínios das inteligências, atribui o mesmo valor a todas as competências humanas,
sem discriminar nem hierarquizar algumas como mais importantes que outras. Desse
modo, é essencial haver uma estreita relação entre a concepção de AH/SD e os pro-
cedimentos adotados para identificar esses sujeitos. Portanto, a perspectiva atual em-
bute o uso de procedimentos com critérios múltiplos, a identificação contínua e flexí-
vel, e uma maior valorização dos processos em detrimento dos resultados.
Por fim, é importante ressaltar que não é viável abordar todos os modelos teó-
ricos utilizados no processo de identificação, uma vez que a ampla diversificação exi-
giria uma obra dedicada exclusivamente a essa temática. Portanto, o objetivo desta
discussão é enfocar procedimentos de identificação que valorizem as capacidades e
talentos desses sujeitos em várias dimensões, considerando que as habilidades su-
periores podem se manifestar em qualquer idade e área do desenvolvimento humano,
além de enfatizar que tais identificações podem e devem ser realizadas na escola, por
professores capacitados na área.
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aluno, destacando suas habilidades e áreas a serem desenvolvidas. Por isso, é pos-
sível e recomendável que a identificação seja realizada na escola, com o auxílio de
professores capacitados e o apoio da equipe gestora da instituição.
Em segundo lugar, compreendemos que o processo de identificação se baseia
na definição de um conjunto de características que promovem a identidade de um
indivíduo ou de um grupo de indivíduos (VIEIRA, 2005). Portanto, como mencionado
anteriormente, a identificação deve ser fundamentada em uma concepção de inteli-
gência e em um modelo abrangente de Altas Habilidades/Superdotação. A interação
dessas duas concepções orientará a intervenção proposta. Nesse sentido, a concep-
ção de inteligência e AH/SD adotada neste capítulo segue as perspectivas de Gardner
(2000) e Renzulli (2004), cujos conceitos já foram apresentados em capítulos anterio-
res desta obra e não serão discutidos novamente aqui. Contudo, ressaltamos a im-
portância de retornar a esses capítulos sempre que necessário para melhor compre-
ensão do tema em questão.
Em terceiro lugar, as características propostas por Renzulli (2004) podem con-
tribuir significativamente para definir quem é o sujeito com AH/SD dentro de cada uma
das competências, a partir de uma abordagem multidimensional das inteligências de
Gardner (2000). Portanto, ao considerarmos a diversidade das inteligências, os três
traços que constituem a pessoa com Altas Habilidades/Superdotação em interação
com o contexto deverão estar potencialmente presentes em cada um dos domínios
das diferentes expressões da inteligência. Sendo assim, para identificar o sujeito com
AH/SD na área musical, por exemplo, seria necessário considerar os indicadores da
capacidade acima da média, da criatividade e do comprometimento com a tarefa no
domínio musical. Essa abordagem amplia a visão de identificação desses sujeitos e
implica a inclusão de profissionais de outras áreas nesse processo. Portanto, é justi-
ficada a afirmação anterior sobre a importância de convidar os demais professores da
escola para participar do processo de identificação.
Não existe uma maneira ideal para identificar as AH/SD. Sendo assim, é ne-
cessário buscar procedimentos que evidenciem o potencial dessas pessoas na própria
atividade, e não somente em situações tradicionais de testagem. A identificação das
AH/SD, baseada nas duas teorias mencionadas, oferece um perfil narrativo desse
aluno, destacando, dentro do possível, suas áreas de conhecimento e capacidades.
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Funciona, então, como um guia para os tipos de atividades que podem alimentar e
apoiar a gama particular de capacidades apresentadas pelo indivíduo.
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trabalho e referenciais teóricos adotados, entre outros. No entanto, pouco se tem fa-
lado sobre a importância dos próprios profissionais nesse processo. Vieira (2005) en-
fatiza a influência dos fatores afetivos dos professores na aprendizagem de seus alu-
nos. Da mesma forma, destaca-se aqui a importância desses fatores influenciando a
identificação, ao haver um envolvimento maior ou menor por parte dos profissionais
que fazem parte do processo.
O terceiro ponto está relacionado a consideração de uma perspectiva natural e
espontânea para as atividades, pois ao vivenciarem situações vinculadas ao seu co-
tidiano e com materiais familiares, os sujeitos têm oportunidades de demonstrar sua
compreensão em diferentes condições de interação com os colegas, materiais e brin-
quedos ou jogos. Da mesma forma, possibilita o exercício de respostas diversas às
situações propostas.
O quarto ponto enfatiza a análise dos fundamentos teóricos que sustentam
esse processo de identificação das AH/SD, é a compreensão de que se trata de um
processo contínuo, garantido pelo acompanhamento dos sujeitos ao longo do tempo
e em diferentes situações de sua vida diária. Esse entendimento resulta em um perfil
narrativo de cada aluno, no qual os pontos fortes são incentivados e os pontos que
precisam ser aprimorados (pois também estão presentes) são desenvolvidos. Cabe
ressaltar que, em concordância com a concepção dos três anéis de Renzulli (2014), a
influência do ambiente e dos fatores pessoais na elaboração desse perfil deve ser
valorizada, reconhecendo, assim, a presença da rede na constituição dos indicadores
identificados.
Em suma, destaca-se um último aspecto essencial para o crescimento global e
harmonioso das pessoas com AH/SD: seus comportamentos devem ser considerados
como parte integrante e não como “elementos centrais” da vida desses indivíduos,
uma vez que todas as áreas que compõem a pessoa — afetiva, cognitiva, social e
psicomotora — são significativas e nenhuma delas deve receber mais valorização que
as outras.
Essa abordagem de identificação, ao distinguir-se de uma “avaliação formal”
baseada em resultados estatísticos e positivistas, levanta mais questionamentos do
que certezas. No entanto, são precisamente essas incertezas que nos impulsionam a
procurar mais métodos que estimulem os indicadores de AH/SD e aprimorar nossa
capacidade de identificar esses indivíduos. Muitas vezes, nos ambientes acadêmicos,
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a intuição é desconsiderada. No entanto, sob uma perspectiva qualitativa, essa intui-
ção é fundamentada na prática e nos conhecimentos que sustentam essa prática.
Quando a identificação é guiada, principalmente, pela observação e compreensão dos
comportamentos e habilidades dos alunos, ela pode revelar-se valiosa e eficaz.
Freire (1995) utilizou perspicaz mente a palavra “saber” e essa ideia pode ser
aplicada neste contexto, ao refletir o processo de certezas e incertezas que moldam
o “saber” e o “fazer” na perspectiva do processo de identificação pela provisão: sei
que tenho o desejo de aprender/fazer cada vez mais e melhor o que ainda não sei/fiz;
sei desejar compartilhar o que já aprendi/fiz; sei que posso aprender/fazer o que ainda
não sei/fiz; e que posso construir novos conhecimentos/habilidades, pois, ao descobrir
o prazer de conhecer, refletir e investigar minha prática diária, não é mais possível
retroceder.
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atender às demandas dos indivíduos com AH/SD, estabelecendo uma relação de con-
fiança, essencial para o acolhimento adequado.
No âmbito técnico, é necessário articular diferentes conhecimentos para iden-
tificar as necessidades específicas das pessoas com AH/SD durante o processo de
acolhimento. Isso implica em utilizar abordagens e estratégias adequadas para aten-
der às suas particularidades. A dimensão política requer um compromisso coletivo
para potencializar a autonomia e o protagonismo das pessoas com AH/SD. É neces-
sário promover ações e políticas que garantam a participação ativa desses indivíduos,
possibilitando que eles exerçam seu pleno potencial e contribuam para a sociedade.
Dessa forma, o acolhimento de sujeitos com AH/SD abrange diversas dimen-
sões e demanda um esforço conjunto para criar ambientes inclusivos que valorizem e
respeitem as suas necessidades e habilidades. Para promover um acolhimento ade-
quado, é essencial que as políticas públicas funcionem de maneira efetiva. Além
disso, a empatia de todos os envolvidos nesse processo desempenha um papel fun-
damental. De acordo com Moreira, Torrenté e Jucá (2018), uma abordagem instituci-
onal pressupõe a criação de um ambiente estético e relacional que facilite o senti-
mento de pertencimento, segurança e acolhimento, proporcionando condições ade-
quadas para a expressão autêntica do sujeito e demonstrando disponibilidade para
um cuidado incondicional.
Embora exista uma vasta bibliografia sobre sujeitos com Altas Habilidades/Su-
perdotação (AH/SD) no contexto escolar, são poucos os estudos que se dedicam a
compreender seu cotidiano em outros ambientes. É necessário, portanto, estimular o
sentimento de pertencimento de todos os sujeitos na sociedade, para proporcionar
oportunidades de participação e inclusão em diferentes espaços públicos, para além
do ambiente escolar. Dessa forma, é essencial que as políticas públicas promovam
um acolhimento que valorize a singularidade e as necessidades dos sujeitos com
AH/SD, visando à criação de ambientes inclusivos e acolhedores em todas as esferas
da sociedade.
Isso implica garantir que esses sujeitos possam estabelecer relações de traba-
lho saudáveis, desfrutar de atividades de lazer em shoppings, parques e cinemas,
bem como utilizar o transporte público. Esses são apenas alguns exemplos, ao exis-
tirem inúmeras possibilidades de interação social em todos os espaços, o que nos
fortalece enquanto seres humanos e cidadãos. O contato com o outro é fundamental
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para conhecermos e superarmos os preconceitos institucionalizados em nossa cul-
tura. Portanto, é de suma importância avançar com pesquisas que retratem o cotidiano
desses sujeitos, a fim de identificar quais são as medidas necessárias para promover
uma inclusão efetiva de todos.
As Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) vão além da inteligência acadê-
mica, abrangendo um sistema cognitivo que envolve oito tipos de inteligência distintos,
os quais podem se manifestar de várias formas, como musical, corporal-sinestésica,
espacial, naturalista, entre outras. É importante ressaltar que essas inteligências nem
sempre são identificadas por meio de testes de QI.
Essa compreensão é fundamental para promover o convívio social entre as
pessoas com AH/SD e a comunidade em geral. Para isso, é necessário contar com
profissionais capacitados que possam trabalhar e desenvolver as potencialidades des-
ses indivíduos. Entre esses profissionais, destacam-se os psicólogos, pedagogos, es-
pecialistas em educação especial e outros que possuam a formação adequada para
atuar nessa área.
A Educação Especial é uma resposta à necessidade de garantir a igualdade de
oportunidades educacionais para todos os indivíduos, e sua criação foi impulsionada
pelas mudanças no atendimento às pessoas com deficiência e, posteriormente, às
pessoas com altas habilidades. Um dos princípios fundamentais desse campo é o
respeito às diferenças individuais e o direito de todos terem igualdade de oportunida-
des, sem privilégios ou discriminações (BRASIL, 2001, citado por ANTIPOFF; CAM-
POS, 2010, p. 303).
De acordo com Antipoff e Campos (2010), a elaboração de políticas públicas
na área da Educação Especial visa assegurar o direito à educação para todos, visando
combater as desigualdades sociais e democratizar o acesso aos bens e serviços pú-
blicos, incluindo a educação.
Góis, Santos e Santos (2012) discutem como os indivíduos com necessidades
especiais eram historicamente tratados em nossa sociedade e também abordam as
mudanças que estão ocorrendo nesse cenário. É importante refletirmos sobre como
podemos incluir as pessoas com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) em nosso
convívio social, uma vez que desde a infância esses sujeitos circulam por diversos
ambientes e, em algum momento, ingressarão no mercado de trabalho. Segundo eles:
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Ao longo da história, o portador de necessidade especial foi visto como um
ser incapaz, devendo ser isolado por não possuir condições necessárias de
contribuir produtivamente com a sociedade, e o atendimento dado a ele era
baseado em modelo médico assistencial, na qual o ‘doente’ deveria ficar sob
responsabilidade familiar ou interno em instituições ‘protegidas’, segregado
do resto da população (GÓIS; SANTOS; SANTOS, 2012, p. 6).
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da República, 2012. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudele-
gis/gm/2012/prt0793_24_04_2012.html. Acesso em: 13 jul.2023
46
KONKIEWTZ C.E. (Org.) AH/SD, inteligência e criatividade: uma visão multidiscipli-
nar. Campinas, SP: Papirus, 2014.
SILVA, Nara Liana Pereira; DESSEN, Maria Auxiliadora. Deficiência mental e família:
implicações para o desenvolvimento da criança. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Bra-
sília, v. 17, n. 2, p. 133-141, maio/ago. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722001000200005&lng=pt&nrm=iso.
Acesso em: 18 jan. 2021.
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