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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

CAMPUS AVANÇADO PREFEITO WALTER DE SÁ LEITÃO – CAWSL


DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS– DLE

O MEDO DO DESCONHECIDO: UM DIÁLOGO ENTRE O TERROR


PSICOLÓGICO EM “THE FALL OF THE HOUSE OF USHER”, DE E.A. POE, E
“THE OUTSIDER”, DE H.P. LOVECRAFT

JEFFERSON FELIPHE DA COSTA CABRAL

ASSU/RN
2017.1
JEFFERSON FELIPHE DA COSTA CABRAL

O MEDO DO DESCONHECIDO: UM DIÁLOGO ENTRE O TERROR


PSICOLÓGICO EM “THE FALL OF THE HOUSE OF USHER”, DE E. A. POE, E
“THE OUTSIDER”, DE H.P. LOVECRAFT

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina


Seminário de Monografia I (Inglês), ministrada
pelo professor Me. Leodécio Martins Varela,
como requisito parcial de avaliação de
desempenho.
Orientadora: Prof. Dra. Letícia Fernandes
Malloy Diniz

ASSU/RN
2017.1

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SUMÁRIO

1 Introdução.............................................................................................................4
2 Justificativa...........................................................................................................6
3 Objetivos...............................................................................................................8
3.1 Objetivo geral.....................................................................................................8
3.2 Objetivos específicos.........................................................................................8
4 Metodologia de pesquisa.......................................................................................9
5 Referencial teórico................................................................................................9
6 Cronograma.........................................................................................................10
7 Referências..........................................................................................................10

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1 Introdução

Na literatura norte-americana do século XIX, encontram-se algumas das principais


premissas do conto moderno. (cf. KIEFER, p. 2011, p. 14) Tais premissas se concentram
especialmente na obra de Edgar Allan Poe (1809-1849). Além de Poe ter oferecido
contribuições fundamentais ao refinamento do conto enquanto gênero, o autor estadunidense
é, também, considerado o precursor da literatura de horror, do conto policial e da narrativa de
ficção científica. Percebe-se, assim, que um dos mais fortes traços da obra de Poe se relaciona
à reflexão do conto enquanto gênero e à seleção de âmbitos temáticos pelos quais a sua
narrativa breve transita. Dentre os temas frequentemente visitados por Poe, é possível destacar
o medo.
No século XX, a abordagem do medo nos domínios do conto é retomada
vigorosamente por Howard Phillips Lovecraft (1890-1937), que é considerado por escritores e
leitores do gênero, o pai do horror moderno (citar críticos). Embora nas obras de Poe e
Lovecraft sejam identificadas algumas das mais importantes premissas do conto de horror, é
pertinente lembrar que o medo consiste em traço essencial da espécie humana, que a
acompanha desde suas origens. Ao tratar do medo e horror, M. Beghini relata que:

O terror é um gênero literário riquíssimo, pois mostra ao leitor o que não é


típico em narrativas, mas que está presente em cada um de nós. Todo ser
humano, desde a infância, tem vários medos e os alimenta a cada dia, seja
por desconhecer algo e persistir na ignorância, seja por vivenciar
experiências traumáticas, seja através do medo alheio, que é divulgado e se
torna de senso-comum. O medo, a principal sensação que se tem ao ler um
livro de Edgar Allan Poe, de Stephen King ou de H. P. Lovecraft, por
exemplo, é uma descarga enorme que causa considerável impacto físico-
emocional no indivíduo. Portanto, as mensagens que o texto de terror nos
transmite, sejam elas explícitas ou implícitas, serão irremediavelmente
gravadas na memória, fazendo-nos muitas vezes até sonhar com tais
situações macabras. (BEGHINI, 2010, s/p.)

Enquanto Poe focava no terror psicológico do homem e se lançava mais aos efeitos
narrativos do que às personagens, a ficção de Lovecraft insistia no sobrenatural e, mais
especificamente, no conto de terror cósmico. Como menciona Gregório Dantas:

Seus livros estão repletos de personagens insanos em busca de mistérios


ancestrais e seres monstruosos; seu estilo possui um tom grandiloqüente (sic)
quase caricatural em sua adjetivação excessiva e na grandiosidade sinistra de
algumas cenas, quase épicas. Mas, apesar dos excessos (ou talvez, em parte,
um pouco por causa deles), seus melhores contos conseguem de fato criar
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uma atmosfera sinistra bastante singular, verossímeis porque narrados por
seres perturbados à beira da loucura, e adequados à grandiosidade de seus
temas, como a mitologia criada em torno de Cthulhu e outras criaturas
fantásticas. (DANTAS, 2012, s/p)

Tendo em vista essa sorte de abordagem do tema, Lovecraft relata sobre Poe em seu
ensaio:

Como a maioria dos ficcionistas, seu protagonista típico é um cavalheiro


soturno, elegante, altivo, melancólico, intelectual, altamente sensível,
caprichoso, introspectivo, solitário e, às vezes um pouco maluco de família
ancestral e condições opulentas; em geral, profundamente versado em
conhecimentos exóticos, e com uma terrível ambição de penetrar nos
segredos ocultos do universo. (LOVECRAFT, 1927, p. 69)

Lovecraft intencionalmente costumava usar um estilo de escrita Sesquipedalian (o uso


excessivo de longas formações silábicas, multissilábicas; uso exagerado de palavras
extraordinariamente longas) e ainda se utilizava escrita com grafias antiquadas, a fim de
evocar seriedade e verossimilhança à suas obras, assim enfatizando sua peculiaridade e
notoriedade ao medo.
Nestas linhas introdutórias, é pertinente tecer breves considerações sobre o panorama
da obra dos dois autores referidos acima. Poe foi um poeta, escritor, romancista, crítico
literário e editor norte-americano. Autor do famoso poema “O Corvo”, escreveu contos sobre
mistério, inaugurando um novo gênero e estilo na literatura. Em sua trajetória literária, Poe
deixou poemas, contos, um romance e ensaios. Muitas de suas obras exploram a temática do
sofrimento causado pela morte. O autor afirma, em “A filosofia da composição”, que nada
seria mais belo que um poema sobre a morte de uma mulher bela. (POE, 2017. p. 345) É
considerado o criador do conto policial. Seus poemas e contos mergulham na tristeza e em
temas de horror. Suas obras foram um marco para a literatura norte-americana, com destaque
para Contos do Grotesco e Arabesco, publicado na França com o título de Histórias
Extraordinárias (1837), que influenciou diversas gerações de escritores de livros de suspense
e terror, e os poemas, “O Corvo” (1845) e “Annabel Lee” (1849).
Entre suas obras destaca-se também “A Queda da Casa de Usher” (1839), “Os Crimes
da Rua Morgue” (1841), “A Máscara da Morte Escarlate” (1842), “O Coração Delator”
(1843), “O Gato Preto” (1843), “O Barril de Amontillado” (1846) e o ensaio “A Filosofia da
Composição” (1846).
A obra de Howard Phillips Lovecraft, por sua vez, compreende notáveis contos como
“A Tumba“ (1922), “O Chamado de Cthulhu” (1928), “Nas Montanhas da Loucura” (1936),
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“O Horror de Dunwich” (1929), “A Cor que Caiu do Espaço” (1927), “Um Sussurro nas
Trevas” (1931), ”O Caso de Charles Dexter Ward” (1943) e o ensaio “O Horror Sobrenatural
na Literatura” (1927). Segundo Bruno Marques Duarte, (FURG):

No âmbito da literatura fantástica, Lovecraft foi um dos principais escritores


estadunidenses contribuindo significativamente para o desenvolvimento do
gênero, não só para o seu país, mas também, para a América como um todo.
Entretanto, até hoje ele não alcançou no campo da crítica e historiografia
literária o devido reconhecimento. Em nosso país, algumas de suas
principais obras foram recém traduzidas, e a sua fortuna crítica ainda
encontra-se escassa. (2013, p. 1)

Um dos principais objetivos desta pesquisa é oferecer contribuições para a fortuna


crítica de Lovecraft no Brasil e, para isso, busca-se apontar diálogos entre as perspectivas
deste e de Poe, seu predecessor, a respeito do terror. Atualmente, após mais de cem anos de
seu nascimento, as histórias de Lovecraft estão disponíveis em edições com texto corrigido,
seus ensaios, poemas e cartas circulam amplamente, e muitos estudiosos de países anglófonos
têm analisado a complexidade de sua obra e de seu pensamento. Porém, os estudos no Brasil
sobre a obra de Lovecraft ainda não são expressivos. Lovecraft possui o mérito de ocupar um
espaço no cânone da literatura norte-americana, e sua obra merece maior atenção por parte de
docentes e discentes de cursos de Letras – Língua Inglesa no Brasil.

2 Justificativa

O presente projeto de pesquisa propõe um diálogo entre as obras de Edgar Allan Poe e
Howard Phillips Lovecraft, levando em consideração os elementos e fenômenos que
caracterizam o horror ficcional nas obras dos dois autores. Para isso, tomam-se por foco os
contos “The Fall of the House of Usher” (1839), de Poe, e “The Outsider” (1926), de
Lovecraft, por se tratarem de textos representativos das concepções de horror nas obras dos
dois autores.
Esta pesquisa é voltada a estudantes e pesquisadores das literaturas de língua inglesa,
assim como a leitores interessados na estética gótica, e foi estimulada pela relevância do tema,
frequentemente revisitado – mas não esgotado –pela fortuna crítica de Poe e Lovecraft.
O vasto arco de obras de Poe e Lovecraft exerceu e ainda exerce grande influência nas
artes visuais, na música e na literatura. Em âmbito literário, dentre incontáveis nomes, alguns

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dos mais famosos escritores inegavelmente influenciados por Poe são Agatha Christie, H. P.
Lovecraft, Stephen King e Clive Barker.
É notável a influência de Poe em quase tudo o que é sombrio na literatura e nas artes
audiovisuais, podendo-se ressaltar sua influência sobre a filmografia do consagrado diretor
Tim Burton. O universo cinematográfico de Burton é mórbido e macabro; porém, possui um
toque de inocência como é o caso do curta Vincent (1982), que narra a história de um garoto
obcecado pelas sombras e cujo autor preferido é o próprio Poe. Outro aspecto que remete à
influência de Poe em Burton é que o personagem Vincent recita os versos finais do poema “O
Corvo” ao final do curta.
No universo da música há grande reverberação da obra de Poe, como podemos
verificar na canção The Raven, do álbum homônimo de Lou Reed, que lançou um disco
inteiro inspirado nos contos de Poe. Eis um trecho da música Edgar Allan Poe:
These are the stories of Edgar Allan Poe
Not exactly the boy next door
He’ll tell you tales of horror
Then he’ll play with your mind
If you haven’t heard him
You must be deaf or blind. (REED, 2003)

Outras notáveis músicas baseadas na obra do escritor são The Call of Ktulu e The
Thing That Should Not Be do Metallica, My Lost Lenore, da banda Tristania, The Poet and
the Pendulum, do Nightwish, Phoenix, do Satyricon e diversas do Morbid Angel.
A obra de Lovecraft também é homenageada para além das fronteiras literárias, como
se pode verificar no clássico filme trash de Sam Raimi, Evildead (1981), em que é utilizado o
antigo e amaldiçoado livro dos mortos (Necronomicon) criado por Lovecraft em The Call of
Cthulhu.
Além do reconhecimento advindo de mentes geniosas da literatura como menciona
Stephen King:
Agora que o tempo nos permite olhar para sua obra com algum
distanciamento, parece não restar dúvida de que Lovecraft permanece
insuperado como o maior expoente do horror clássico do século XX. (KING)

Muitas bandas de Rock e Metal homenageiam Lovecraft em suas músicas e álbuns.


Uma delas é Sanctifier, banda brasileira fundada em Natal/RN no ano de 1989, que possui
toda a sua temática lírica fundamentada em Cthulhu Mythos. Músicas como Necronomicon -
The Book of the Damned e Cthulhu the Unspeakable do álbum Daemoncraft só enfatizam
essa influência exercida por Lovecraft na banda.

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3 Objetivos

3.1 Objetivo geral

Refletir criticamente sobre o terror psicológico (interno) presente na obra de Poe,


comparando-o com o horror cósmico e sobrenatural (externo) verificado na narrativa de
Lovecraft, assim como examinar diálogos estabelecidos por Lovecraft em face da obra de
Poe, seu antecessor no âmbito do conto.

3.2 Objetivos específicos

 Refletir, a partir dos contos selecionados e de ensaios escritos por Poe e Lovecraft,
sobre as características gerais da narrativa gótica de horror;

 Analisar e comparar aspectos estéticos dos contos selecionados, especialmente no que


toca às relações entre horror e espaço narrativo e entre horror e personagens;

 Examinar e comparar o fenômeno do horror tendo em vista os efeitos de sublimidade,


medo e obscuridade ocasionados pelos textos literários selecionados;

 Levantar relações de causalidade estabelecidas nos contos com vistas à instauração do


horror.

5 Metodologia de pesquisa

Ao propor a análise de textos literários, esta pesquisa será desenvolvida a partir da


abordagem interpretativista e bibliográfica. A análise proposta adotará, também, a perspectiva

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comparatista, uma vez que objetiva estabelecer cotejos entre textos de Poe e Lovecraft. Dentre
esses textos, citam-se “The Fall of the House of Usher” e “A filosofia da composição”, de
Poe, e “The Outsider” e “O horror sobrenatural na literatura”, de Lovecraft.

6 Referencial teórico

O estudo proposto compreenderá a leitura de artigos que integram a fortuna crítica de


Poe e Lovecraft. Entretanto, seu referencial teórico principal consiste em ensaios escritos
pelos próprios autores dos contos estudados, sendo tais ensaios “The Philosophy of
Composition”, de Poe, e “Supernatural Horror in Literature”, de Lovecraft.
No ensaio escrito por Lovecraft, este não apenas reflete sobre a própria obra e sobre
sua concepção de terror como também desenvolve considerações sobre a obra de Poe. Sob a
ótica de Lovecraft, em seu ensaio “O Horror Sobrenatural na Literatura”,

Os contos de Poe se encaixam em diversas classes. É claro; alguns contêm


uma essência de horror espiritual mais pura que outros. Os contos de lógica e
raciocínio, precursores da moderna história de detetives, não devem ser
incluídos na literatura fantástica, enquanto outros, provavelmente muito
influenciados por Hoffmann, são de uma extravagância que os relega à
fronteira do grotesco. (LOVECRAFT, 1927, p.65)

Segundo Italo Calvino, “depois de Hoffmann, Poe foi o autor que mais teve influência
sobre o fantástico europeu” (2004, p.14). Isso provavelmente ocorreu devido à recepção e
tradução que Charles Baudelaire fez de Poe na França. No ensaio “O horror sobrenatural na
literatura”, Lovecraft dedica um capítulo inteiro a Edgar Allan Poe para abordar a literatura de
horror nos EUA.
Para refletir criticamente sobre as aproximações e diferenças entre as obras dos dois
autores, será adotada a perspectiva de Julia Kristeva acerca da intertextualidade. Segundo
Kristeva, cabe considerar o texto literário como “um feixe de conexões”. Isto porque a palavra
que constitui o texto apresenta natureza “dupla”, ou seja, “pertence ao texto em questão e a
outros, precedentes e diferentes”. (KRISTEVA apud CARVALHAL, 2006, p. 127) Desse
modo, sob o viés proposto por Kristeva, compreende-se que os textos literários estabelecem
entre si duas sortes de relação: na primeira, o texto absorve elementos de textos preexistentes;
na segunda, promove transformações em outros textos. O entendimento de Kristeva permite
que sejam examinadas, de um lado, as reverberações da obra de Poe na obra de Lovecraft e,
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de outro, encoraja-nos a indagar em que medida a concepção de Lovecraft acerca do horror e
do medo abre caminhos a novas leituras dos contos de Edgar Allan Poe.

7 Cronograma

Atividades Nov./17 Dez./17 Fev./17 Mar./17 Abr./17 Mai./17


Levantamento x x
bibliográfico a
respeito da
temática
Escrita da x x x x x
monografia
Aprofundament x x x x
o do referencial
teórico
Conclusão da x
monografia
Defesa pública x
da monografia

8 Referências

BEGHINI, M. . A Literatura de Terror e a Comunicação. Disponível em the boy with the


blues: <http://theboywiththeblues.blogspot.com/2010/03/literatura-de-terror-e-
comunicacao.html.> Acesso em: 22 set.2016.

CALVINO, Italo. Contos fantásticos do século XIX: o fantástico visionário e o fantástico


cotidiano. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura comparada. 4. ed. rev. e ampliada.


Série Princípios. São Paulo: Ática, 2006.

DUARTE, Bruno Marques . H.P Lovecraft na história da literatura fantástica dos EUA. In:
Anais do X Seminário Internacional de História da Literatura. Porto Alegre, 2013.

KIEFER, Charles. A poética do conto: de Poe a Borges – um passeio pelo gênero. São
Paulo: Leya, 2011.
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LOVECRAFT, Howard Phillips. The Outsider. In: S. T. Joshi (ed.). The Dunwich Horror
and Others. Sauk City, WI: Arkhan House,1984.

LOVECRAFT, Howard Phillips. Supernatural Horror in Literature. In:S. T. Joshi (ed.).


Dagon and Other Macabre Tales. Sauk City, WI: Arkhan House,1986.

POE, Edgar Allan. A Queda da Casa de Usher. In: Medo clássico. Rio de Janeiro: Darkside
books, 2017.p. 53-72.

POE, Edgar Allan. A Filosofia da Composição. In: Medo clássico. Rio de Janeiro: Darkside
books, 2017.p. 341-353.

SUTTANA, Renato. The Life of a Gentleman of Providence. Disponível em


<http://www.sitelovecraft.com/hplovecraft.php>. Acesso em: 16 out.2017.

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