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Unidade II
2 TEORIAS CRÍTICAS DA LITERATURA: ANÁLISE E ELABORAÇÃO DE
ATIVIDADES DIDÁTICAS
Para esta segunda unidade, proporemos algumas atividades didáticas, tanto para o Ensino Fundamental
quanto para o Médio, para que possamos refletir sobre o ensino de literatura e sua prática em sala de
aula. Vale lembrar que teremos nesse curso uma disciplina específica sobre ensino de literatura, na qual
essas reflexões serão aprofundadas.
A partir de nossa prática docente, podemos constatar que há uma visão equivocada sobre o que
é o ensino de literatura. Alguns alunos costumam me questionar: “Professora, vou ensinar literatura
somente no Ensino Médio, não é mesmo?”. E eu respondo: “Claro que não”.
Ensinar literatura não é ensinar história da literatura, ou simplesmente apresentar obras e autores.
Como vimos anteriormente, essa é uma visão equivocada e tem sido questionada há mais de 50 anos.
Com o surgimento da teoria literária e suas diferentes correntes teóricas, não deveria haver mais dúvidas
a esse respeito.
No 6º ano, quando o professor de Língua Portuguesa trabalha com a leitura e produção de gêneros
da esfera literária, observa seu enredo, narrador, personagens, estrutura, linguagem plurissignificativa,
entre outros aspectos, está ensinando literatura. Ou seja, análises e enfoques relevantes para a teoria
literária têm sido utilizados pelos professores, mesmo que alguns não tenham plena consciência dessa
prática.
Os PCN de Língua Portuguesa destacam ainda a relevância do texto literário e suas especificidades,
que vão muito além de um mero pretexto para o estudo da língua:
Quanto ao conceito de fruição (desfrute) ou apreciação estética, mencionado nas citações que
acabamos de apresentar, vale considerarmos o que dizem os PCN+ do Ensino Médio:
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A partir do exposto, podemos observar que a literatura se emparelha a outras produções culturais,
configuradas em distintas linguagens. Inclusive, a proposta do Ensino Médio é a de que diferentes
disciplinas sejam tratadas a partir de uma mesma área de conhecimento. No caso, Língua Portuguesa
faz parte da área de Linguagens, códigos e tecnologias, juntamente com Língua Estrangeira Moderna,
Arte, Educação Física e Informática.
No Ensino Médio, propõe-se a sistematização do ensino de literatura, mas não que o aluno decore
regras, nomes de autores e obras, e sim tenha conhecimento de diferentes movimentos literários,
contextualizados e vistos de forma sincrônica e diacrônica:
Está claro que não se lê um texto literário da mesma forma que se lê outros textos, tanto que é
importante que façamos algumas considerações sobre leitura de literatura, digamos, a leitura literária.
Consideramos que o professor deva levar em conta esse engajamento afetivo, não só de seus alunos,
mas dele mesmo. Este é um grande desafio: motivar a leitura literária, incitar o desfrute, o prazer estético,
formar um leitor literário em meio a avaliações e cobranças para realização de provas e vestibulares. Não
há fórmulas mágicas. Pela nossa experiência, o encantamento do professor pela literatura contagia seus
alunos. Esse é um bom começo.
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OFICINA LITERÁRIA 2: TEORIAS CRÍTICAS DA LITERATURA
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Em nosso curso, há uma disciplina específica sobre os gêneros textuais, assim não nos aprofundaremos
muito nessa questão, apenas apontaremos aspectos que se referem especificamente à esfera literária.
Lembremos que os PCN destacam o trabalho com os gêneros, com relação à leitura, escuta, produção
e escrita, nas mais diferentes esferas (literária, jornalística, do cotidiano...), seguindo a perspectiva
enunciativa de Mikhail Bakhtin:
No ensino de literatura, essa concepção de gêneros é bastante relevante e deve ser considerada.
Contudo, nós professores devemos ficar atentos para não colocar o processo de ensino-aprendizagem
em “uma camisa de força”, optando por uma “gramática do gênero”. Não adianta nada o aluno conseguir
distinguir um conto de um romance se não for capaz de uma apreciação pessoal e crítica sobre a
obra. Além do que, há tantas especificidades que seria impossível trabalhar com todas as variantes
de um conto, por exemplo (de mistério, social, de terror, maravilhoso, fantástico, entre tantos outros),
ou mesmo de um poema, composto em diferentes estruturas, estilos e temas (soneto, quadras, haicai,
versos livres, poema digital, redondilhas, canções...).
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Vejamos os gêneros da esfera literária privilegiados para o Ensino Fundamental, segundo os PCN:
Outra sugestão de agrupamento é a dada pelos estudiosos Dolz e Schneuwly, a partir dos diferentes
domínios sociais da comunicação, levando em conta os aspectos tipológicos, no caso, trata-se da cultura
literária ficcional e do “narrar”, respectivamente:
Quadro 2
Conto maravilhoso
Conto de fadas
Fábula
Lenda
Narrativa de aventura
Narrativa de ficção científica
Narrativa de enigma
Cultura literária ficcional
Narrativa mítica
Narrar
Sketch ou história engraçada
Mímesis da ação através da criação da intriga Biografia romanceada
no domínio do verossímil
Romance
Romance histórico
Novela fantástica
Conto
Crônica literária
Adivinha
Piada
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A produção de tais gêneros também deve ser privilegiada, ao lado de outros de tantas esferas.
Um texto dramático como o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, pode ser estudado em paralelo
a outras produções, como o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e sua versão fílmica, cujo roteiro
também merece ser explorado.
Polêmicas à parte quanto o que é e não é literatura, letras de canções também devem ser
estudadas, já que muitas se constituem em poemas de significativo valor estético ou mesmo
compõem o universo cultural de muitos dos nossos alunos, como os raps, por exemplo. Veja a obra
de Chico Buarque, Renato Russo, Lenine, Zeca Baleiro, Arnaldo Antunes, Racionais MC’s, entre
tantos outros.
A literatura de cordel e diferentes gêneros da tradição oral, como lendas, mitos, fábulas e contos
populares, não devem ser abandonados no Ensino Médio, pois se constituem um riquíssimo material
para leitura e produção.
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Para o Ensino Médio, propomos uma análise contrastiva entre os contos “A menina de lá”, de Guimarães
Rosa, e “O não-desaparecimento de Maria Sombrinha”, de Mia Couto, publicados originalmente em
1962 e 1997, respectivamente. Sugerimos que a atividade seja aplicada no 3º ano do Ensino Médio, em
vista dos estudos sobre o Modernismo e Pós-Modernismo. Após o trabalho de análise e interpretação
dos contos, feita pelos alunos sob orientação do professor, sugerimos que sejam produzidos outros
contos, ou mesmo produções culturais diversas, a partir dos temas e discussões realizadas. Os alunos
podem transformar os contos em Histórias em Quadrinhos, textos dramáticos ou mesmo roteiros de
filmes, para posterior apresentação.
Como vimos, é importante que haja uma mescla de metodologias de ensino, baseadas em diferentes
teorias críticas. No caso dessa atividade, vislumbramos que a crítica temática, a crítica social, a estilística
e o estruturalismo dão conta de um trabalho consistente e produtivo. Cabe, logicamente, ao professor
verificar o nível de aprendizado de seus alunos para escolher os métodos que melhor atendem a suas
necessidades e capacidades.
Esclarecemos que muitos dos procedimentos aqui sugeridos são pontuados pelas disciplinas de
Teoria Literária, Literatura Comparada e História da Literatura.
“[...] Em geral, porém Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém,
e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia
gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida,
ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos,
o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, o arroz,
abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava
de repente.
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Mas Tiantônia. Parece que foi de manhã. Nhinhinha, só, sentada olhando o nada diante
das pessoas: – “Eu queria o sapo vir aqui”. Se bem a ouviram, pensaram fosse um patranhar,
o de seus disparates, de sempre. Tiantônia, por vez, acenou-lhe com o dedo. Mas, aí, reto,
aos pulinhos, o ser entrava na sala, para aos pés de Nhinhinha – e não o sapo de papo, mas
bela rã brejeira, vinda do verduroso, a rã verdíssima. Visita dessas jamais acontecera. E ela
riu: – “Está trabalhando um feitiço...” Os outros se pasmaram; silenciaram demais [...]
Fonte: Rosa (2001, p. 68-9).
A família de Maria Sombrinha vivia em tais misérias, que nem queria saber de
dinheiro. A moeda é o grão de areia esfluindo entre os dedos? Pois, ali, nem dedos.
Tudo começou com o pai de Sombrinha. Ele se sentou, uma noite, à cabeceira da mesa.
Fez as rezas e olhou o tampo vazio. – “Eh pá, esta mesa está a diminuir!” Os outros,
em silêncio, balancearam a cabeça, em hipótese. “Vocês não estão a ver? Qualquer dia
não temos onde comer.”
[...] Por fim, sua visão minguante aconteceu com Sombrinha. Ele via o tamanho dela se
acanhar, mais e mais pequenita. E se queixava, pressentimental: – “Esta menina está-se a
enxugar no poente...” Todos se riam. O pai cada vez piorava. Face ao riso, o homem se remeteu
à ausência. Se transferiu para as traseiras, se anichou entre desperdício e desembrulhos. A
filha ainda solicitou comparência do mais velho.- “Deixe o seu pai lá onde está, ele não está
em lugar nenhum.”
Valia a pena sombrear a miúda, minhocar-lhe o juízo? Mas Sombrinha não deixou de
rimar com a alegria. Afinal, era ainda menos que adolescente, dada somente a brincriações.
Sendo ainda tão menina, contudo, um certo dia ela se barrigou, carregada de outrem.
Noutros termos: ela se apresentou grávida. Nove meses depois se estreava a mãe. Sem ter
idade para ser filha como podia desempenhar maternidades?
Fonte: Couto (2009, p. 11-4).
Antes da leitura dos contos, sugerimos que seja feito um levantamento prévio dos conhecimentos
dos alunos a respeito dos autores e temas dos contos apresentados.
Devido ao estilo dos autores e uma certa dificuldade quanto ao vocabulário, é importante que o
professor faça uma primeira leitura em voz alta, enfatizando os nuances mais relevantes. Muitos dos
significados podem ser apreendidos pelos alunos pela inferência.
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A estrutura narrativa também deve ser explorada, levando-se em conta o gênero conto e suas
características. Além disso, deve-se destacar a figura do narrador e a construção das personagens.
Observação
Observe, caro aluno, que, ao compararmos os contos de forma crítica e reflexiva, estamos
referenciados pela Literatura Comparada. Podemos ainda aplicar alguns procedimentos dos Estudos
Culturais, observando questões prementes ao colonialismo e pós-colonialismo na África.
É preciso, ao final das análises, resgatar a história da literatura, incluindo Guimarães Rosa e
sua obra na terceira fase do modernismo brasileiro e Mia Couto como atual expoente da literatura
moçambicana.
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Veja no site da revista Crioula alguns artigos sobre Mia Couto e suas
relações estilísticas com Guimarães Rosa.
Para o Ensino fundamental, escolhemos uma atividade baseada no primeiro capítulo do 7º ano, da
coleção didática Português: uma Língua Brasileira, editora Leya, da qual a conteudista deste livro-texto
é coautora. Assim, a atividade é destinada a alunos de cerca de 12 anos.
Olhem lá, gritou a mãe de Noel. Era uma jangada que retornava da pescaria no mar alto.
Nunca tínhamos visto uma embarcação tão frágil. Uns troncos de madeira com uma vela de
pano rasgado – com aquilo os pescadores se aventuravam no oceano? Pensei que nós éramos
corajosos, disse minha mãe, mas esses homens têm muito mais coragem do que nós. Quase
precipitando-se pela amurada, Noel gritava e abanava para os pescadores, que, sorrindo,
abanavam também. Um deles ergueu no ar um grande peixe – as escamas rebrilharam ao
sol –, como se dissesse, olhem, estrangeiros, vejam como é generosa a natureza aqui, os
peixes se multiplicam sem cessar, as frutas caem das árvores, ninguém passa fome.
[...]
Por alguma razão (o olho do peixe, o olho morto do peixe?) aquela visão me causou
estranha angústia. Pobre peixe, arrancado da intimidade das águas pela rede que o
surpreendera, atirado sobre os troncos da jangada, golpeado com o remo ou com o facão que
o pescador tinha na cintura – e agora mostrado, morto, a perplexos e deliciados emigrantes
russos. [...] E ali estava, diante de nós, a cidade em que iríamos desembarcar e cujo nome não
sabíamos sequer pronunciar: Recife.
Inicialmente, antes mesmo da leitura, é preciso que se faça um levantamento dos conhecimentos
prévios dos alunos sobre o autor, as migrações, povos que participaram da formação do povo brasileiro,
entre outros aspectos. A partir desse “aquecimento” inicial, explique que o narrador é um menino de
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família judia, vindo da Rússia com sua família, para o Brasil, em 1921, quando se tornou amigo do
menino Noel Nutels, que se tornaria, futuramente, um famoso médico ligado aos indígenas do Xingu,
ou seja, um personagem real em uma obra de ficção.
Um objetivo específico para essa leitura deve ser apresentado aos alunos, ou seja, eles precisam saber
para que e porque estão lendo. Cabe ao professor incitar a curiosidade de seus alunos, perguntando, por
exemplo: “Você já teve que enfrentar um lugar totalmente desconhecido?” ou “Como será a aventura
desse narrador, um jovem como vocês?”.
O professor, como modelo de leitura, deve ser o primeiro a ler o texto em voz alta. Depois, os alunos
precisam reler o texto para responder a diferentes questões de compreensão e interpretação.
É importante ressaltar os recursos estilísticos utilizados pelo autor, como a primorosa escolha e
articulação das palavras, a descrição e ambientação e o uso da linguagem poética, itens que devem ser
destacados em um gênero da esfera literária.
Veja algumas questões, com as respostas sugeridas em vermelho, pensadas com o objetivo de incitar
a fruição e a apreciação estética dos alunos:
remo ou com o facão que o pescador tinha na cintura – e agora mostrado, morto, a
perplexos e deliciados emigrantes russos.”
Respostas pessoais.
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Resumo
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REFERÊNCIAS
Textuais
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000