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Ecoteologia Decolonial

Josias Vieira do Nascimento Junior1

1 Resumo

Pensar a Ecoteologia Decolonial é desafio por se tratar, nela mesma, de um


questionamento aos parâmetros, há séculos estabelecidos, para a Teologia como
conhecemos. Passa, portanto, do ambiente da teorização para o chão da vida real de
culturas e espiritualidades subalternizadas. No seu caso, se apresenta como uma postura
profética, ainda mais ao constituir um binômio com o Decolonial. Isso torna esse texto
ainda mais desafiador, tentando ler um caminho que, ao mesmo tempo que experimenta
a espiritualidade a partir da harmonia em toda a criação, apresenta uma reflexão crítica
sobre esta pelo método dos estudos pós-coloniais com respeito à revelação de Deus escrita
e criada. E, a partir de então, fazer uma contribuição para que a Igreja de Jesus
compreenda o chamado a reconciliação, constante em todo texto bíblico, mas evidenciado
em II Cor 5: 18 – 20. E para continuar dizendo que é necessário descolonizar a Teologia.

No desdobrar da minha formação, há uma construção que, alinhada com a prática da


educação popular, aponta um processo dialógico com a formação teológica. Nela, ainda
solitariamente, pela ausência de contribuições nas escolas superiores de teologia, iniciei
a busca de como se dá a relação de Deus com sua criação, uma vez que temos por certa
sua imanência como transparência no que houvera criado.

Neste sentido, para dar nome ao que buscava como sendo a compreensão da fé alinhada
com o meio ambiente, inicialmente, encontrei o conceito de “Teologia da Criação”. Este,
logo foi compreendido como parte do processo por se limitar ao estudo da teologia contida
no ato criador de Deus. A busca por um aprendizado transversal, que me incomodava
ausente na abordagem rasa que encontrava a respeito dessa imanência, me levou a acessar

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Teólogo por formação pela Faculdade Teológica Sul Americana, mas Ecoteólogo Decolonial por
conversão; Especialista em Educação Ambiental e Cultura – IFPE; Mestrando em Teologia na Universidade
Católica de Pernambuco; Integra a equipe pastoral da Igreja Batista em Coqueiral (IBC); Mobilizador
Nacional do Movimento Nós na Criação; Integra a Coalizão de Evangélicos pelo Clima; Coalizión por la
Justícia Climática; Movimento Renovar Nosso Mundo. Integra o Grupo de Pesquisas de Pós Colonialismo
– IFPE.
no texto do teólogo Afonso Murad o aprofundamento a respeito da Ecoteologia(MURAD,
2019).

Mas, o que viria a ser ela?

O texto de Murad, apesar de muito didático, elucidativo e inspirador, não trouxe uma
definição naquele momento. Assim, inspirado pelas definições conhecidas de Teologia,
que aponta sua razão de ser, busquei entender a construção da palavra “ecoteologia”.
Então, me atrevi a elaborar uma definição para fazer meus estudos fluírem mais
tranquilos. E aqui, para que se torne mais palatável este nosso diálogo, vamos entender o
binômio como dois conceitos.

Em primeiro lugar, para visualizar a Ecoteologia, podemos considerar que o termo é


constituído pelo encontro de três radicais gregos, a saber, (Oikos + Theos + Logos). E
assim, didaticamente, pode-se entender essa construção da Ecoteologia onde o primeiro
termo (Oikos) se refere ao todo criado por Deus, o termo (Theos) que refere-se à própria
divindade e o terceiro (Logos) traz além do conceito de palavra, mas a palavra que cria e
diz sobre a sua própria Criação que é “muito bom” (Gn 1:31)(NASCIMENTO JUNIOR,
2022)

Desse modo, fazendo o encontro de cada significado na formação da palavra


“Ecoteologia”, me aventurei em defini-la como “...o estudo sistemático da palavra da
divindade sobre tudo o que ela criou.”(NASCIMENTO JUNIOR, 2022).

Mas, por ainda me encontrar num ambiente incômodo, precisava compreender como essa
reflexão, a respeito da relação de Deus com sua Criação, se materializa a partir do meu
território, da minha cultura e não apenas mediada por um pacote das experiências culturais
de outro chão. Assim, venho ressignificando minhas práticas e conceitos da
espiritualidade que levam a pensar sobre minhas raízes e cultura composta por negros que
vieram sequestrados da África e indígenas dessas terras chamadas pelo colonizador de
Brasil.

Em segundo lugar, para pensar a Ecoteologia, ou começar uma contribuição para a


mesma, necessitamos, após a compreensão do primeiro termo deste binômio, entender o
que vem a ser o segundo, a saber “Decolonial”. E, para isso, faz-se necessário assumir o
território como constituído e constitutivo dos/as que foram subalternizados/as pela
colonialidade imposta, inclusive, através da teologia num maniqueísmo que põe em polos
opostos o sobrenatural e o natural, onde o corpo, a terra e o que seja natural ou diferente
do seu padrão definido, é explorável e subalternizável. Essa definição de colonialidade,
encontramos no trabalho do sociólogo peruano Anibal Quijano (QUIJANO, 2005)

Neste sentido, “Decolonial” é a contraposição à colonialidade estabelecida no meio


teológico. Pensando que a teologia eurocentrada sendo colonial, estabelece uma relação
com Deus apenas sobrenatural, “esquecendo” que é na dimensão do material, do corpo,
do natural que acontece a encarnação do Filho de Deus, objeto de sua missão de
reconciliação. Por isso necessário estabelecer uma decolonialidade na reflexão da
espiritualidade na criação sobre os escombros que a colonização deixou. Desse modo a
Ecoteologia Decolonial deveria ser desnecessária, ao passo que as teologias cumprissem
o papel de refletir sobre Deus, sua imanência e sua operação salvífica do mundo criado.
Por isso, o lugar da Ecoteologia Decolonia é primeiramente profético e, por conseguinte,
de construção de novidade de vida para o ambiente teológico (Rm 6:4). Desse modo,
podemos afirmar que este fazer se estabelece na conexão com a divindade, pela harmonia
entre todos os seres na criação que revela o Criador. Seres humanos e não humanos.
Porém, não é possível se não contextualizar que, para a Ecoteologia ser, a partir da
harmonia na criação de Deus nos territórios subalternizados, ela precisa ser Decolonial,
pois entende a Criação, não como ativos ou recursos, mas como um organismo vivo no
Criador e a partir de onde o próprio se manifesta, se relaciona e salva. Essas poucas
palavras são parte do que podemos aprofundar sobre a Ecoteologia Decolonial, lastreada
pelas epistemologias do sul, as teologias Negra e Indígena, e a manifestação de Deus
atuante na criação para fora das paredes eclesiásticas e a importância fundamental da
Igreja corpo.

Espero continuar essa conversa com vocês daqui por diante.

Que Deus te Bendiga.


REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES DE LEITURA

MURAD, A. T. DE DOMINADORES A IRMÃOS: UM DIÁLOGO DA


ECOTEOLOGIA COM J. RIECHMANN ACERCA DA LIBERTAÇÃO ANIMAL. Em:
TAUCHEN, J. (Ed.). Cordeirio de Deus: Festschrift em homenagem a Luiz Carlos
Susin. 1. ed. [s.l.] Editora Fundação Fênix, 2019. p. 51–86.

MURAD, Afonso O NÚCLEO DA ECOTEOLOGIA E A UNIDADE DA


EXPERIÊNCIA SALVÍFICA Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral, vol. 1, núm.
2, julio-diciembre, 2009, pp. 277-297 Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Curitiba, Brasil

NASCIMENTO JUNIOR, J. ECOTEOLOGIA DECOLONIAL SISTEMÁTICA: UM


INÍCIO, UMA CONTRIBUIÇÃO. Anais Eletrônicos da XXV Semana Teológica da
Unicap, p. 140–148, 2022.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. n. CLACSO,


Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

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