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NEAD – Núcleo de Educação a Distância

NOTA DE AULA – UNIDADE 2 – A revelação divina nas religiões


Curso: Teologia Disciplina: Teologia das Religiões
Autor: Prof. Dr. José Tadeu de Almeida
Professor/Tutor:

Introdução

As discussões propostas nesta Unidade irão ressaltar o elemento divino nas tradições
religiosas orientais e ocidentais. Desta forma, espera-se que o estudante seja capaz,
mediante a observação da temática proposta, de compreender a experiência religiosa
na perspectiva de um relacionamento pessoal e profundo entre a realidade natural e
o contexto da sobrenaturalidade desenvolvida pelas referências culturais e sociais das
civilizações.
Neste sentido, as discussões propostas nesta Unidade apresentam uma relação
profunda com os pressupostos teológicos que orientam a disciplina, ao mencionar os
modos pelos quais o ser humano é capaz de conceber a divindade, criando conceitos
a respeito de elementos de natureza criadora que estão presentes em suas
cosmovisões e cosmogonias.

Sinopse

O conteúdo trabalhado nesta Unidade procura destacar a dimensão holística da


disciplina, isto é, o seu caráter abrangente (e mesmo totalizante) a respeito da
experiência religiosa: independentemente da doutrina institucional ou tradição a ser
analisada, é patente a necessidade de uma reflexão sobre os modos pelos quais o
ser humano estabelece uma vinculação com uma entidade (ou várias) que são por ele
concebidas como sobrenaturais.
Esta(s) divindade(s) possuem algumas características importantes que condicionam
seu poder supremo e sua capacidade criadora e destruidora, desenvolvendo tradições
religiosas animistas, politeístas e monoteístas que articulam uma relação objetiva
entre deuses e seres humanos.

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É necessário observar, portanto, a importância das instituições religiosas para a


compreensão de relações que entendem o papel da divindade e inserem-na em uma
série de relações cotidianas e vínculos sociais que se estabelecem a partir da vivência
das comunidades de fé.
Por exemplo, as religiões cristãs adotam uma posição trinitária, isto é, a existência de
um único Deus em três pessoas, e que se revela ao longo da história pela ação dos
profetas e, em particular, na pessoa de Cristo, Seu Filho unigênito. Outras
cosmogonias, por sua vez, se estabelecem a partir de panteões (grupos de deuses)
que apresentam vínculos e relações hierárquicas entre si, como ocorre, por exemplo,
com a cosmogonia nórdica.

Questões focais

 De que modo se pode compreender a importância da(s) divindade(s) para a


consolidação do campo religioso?
 Dentro da tradição judaico-cristã, como se pode compreender a Deus enquanto
elemento de força criadora e poder supremo?
 Quais os aspectos mais relevantes das tradições animistas, politeístas e
monoteístas?
 Como se configura o campo religioso brasileiro a partir das dimensões da
divindade no âmbito das religiões de matriz africana?
 Qual o lugar da divindade na sociedade contemporânea?

Metodologia

Esta Unidade adota, como parte de seu referencial metodológico, um conjunto de


discussões que deverá relacionar os conteúdos apresentados ao longo da videoaula,
os contextos explicativos da bibliografia comentada (paralelamente à indicação de
outras fontes de estudo) e os debates e discussões que poderão ser fomentados entre
os estudantes a partir da ação do professor/tutor. Assim, torna-se possível estabelecer
uma relevante síntese interpretativa a respeito do papel e do lugar do divino nas
tradições religiosas, em perspectiva histórica e a partir das transformações comuns
ao horizonte contemporâneo.
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Vale dizer, o estímulo ao debate é relevante para que o professor tenha condições
objetivas de demonstrar que a relação entre o imanente e o transcendente ocorre a
partir de quaisquer experiências e tradições religiosas, criando assim uma perspectiva
de inclusão e diálogo que poderá ser útil na superação de concepções
fundamentalistas ou sectárias a respeito de alguma tradição ou instituição presente
no campo religioso brasileiro.
Compreende-se, portanto, que o referencial adotado gere condições objetivas de
percepção pelo estudante em relação à dimensão e à relevância da(s) divindade(s)
para a consolidação das referências culturais e sociais de um povo. A revelação divina
expressa, neste sentido, um conjunto de determinações morais e normas de conduta
que devem balizar o comportamento das pessoas e viabilizar a conexão efetiva entre
deuses e pessoas.

Objetivos de aprendizagem

 Analisar o papel e o lugar da(s) divindade(s) nas tradições religiosas;


 Apontar as características intrínsecas a esta(s) divindade(s) e sua contribuição
para o surgimento da vida humana;
 Debater os elementos que relacionam a existência de crenças animistas,
politeístas e monoteístas;
 Recordar as principais características da(s) divindade(s) na perspectiva do
conceito de ‘Sagrado’;
 Avaliar a importância dos conceitos relativos à revelação divina para a
consolidação das relações sociais.

Discussão do tema

- O senhor acredita em Deus? – pergunta Torres.


- Por que, o sacerdócio requer sempre um Deus?
- É evidente, caso contrário seria um dever da profissão; no sacerdócio a prática do
bem reverte a Deus (CASTRO, 1992, p. 63)

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O trecho destacado é um pequeno excerto do romance Croma – Caminho de Vida, de


Régis Castro. Neste livro, o protagonista Fernando Torres é um jovem seminarista
católico que está sendo confrontado, pelo convite de um psicanalista, a uma
experiência amorosa em uma viagem de navio, colocando à prova a sua vocação
sacerdotal para revelar o seu verdadeiro ‘caminho de vida’.
A experiência religiosa, de certo modo, procura apresentar este ‘caminho de vida’ ao
indivíduo, de um modo abrangente, a partir da importância desta conexão com o
sobrenatural: o sentimento religioso se articula, portanto, a partir de uma busca
subjetiva e consciente por entidades, seres ou dimensões consideradas elevadas,
eventualmente inobserváveis, mas sempre poderosas.
Estas entidades (deuses, orixás, energias, seres divinizados, etc.) compõem as
cosmogonias religiosas a partir de tradições ancestrais que referem a existência de
uma força criadora que pode estar contida em todas as coisas criadas (dimensão
animista), ou em divindades múltiplas (politeísmo) ou em um único ser supremo
(monoteísmo).
As instituições religiosas se originam e se desenvolvem, portanto, a partir desta
orientação primitiva do ser humano na direção do sobrenatural, buscando por
revelações que irão justificar e caracterizar a sua existência em um plano
físico/natural. Ao observar as tradições abraâmicas por exemplo, há uma ênfase no
culto monoteísta de um Deus único que se revela pela ação dos Patriarcas e dos
Profetas (Judaísmo e Islamismo). Os cristãos, por sua vez, consideram a importância
de Jesus Cristo como o centro desta revelação, enfatizando que a mensagem contida
nas Escrituras até a vinda de Cristo procurava, assim, demonstrar a presença futura
do Filho de Deus entre os homens.

Bibliografia comentada

Para dar início a um conjunto de discussões a respeito da dimensão da divindade e


do pensamento religioso, é possível indicar o primeiro capítulo (‘Introdução: a questão
de Deus’) do livro Religião: conceitos-chave em Filosofia, de Brendan Sweetman.
Neste livro, será possível observar, a partir do raciocínio do autor, que a experiência
religiosa diz respeito à realidade humana desde o surgimento das civilizações e das
diferentes formas de convívio social.
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Desta forma, a relação humano – divino se desenvolve para fortalecer os vínculos


entre pessoas ao mesmo empo que permite ressaltar o relacionamento entre a
dimensão objetiva e subjetiva dos indivíduos.
O livro está disponível na biblioteca virtual (Minha Biblioteca) no seguinte link:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788565848343/pageid/0

A compreensão das cosmogonias da Antiguidade apresentam a importância dos


relacionamentos entre seres sobrenaturais para a constituição das diferentes
tradições religiosas. A dinâmica relacionada à cosmogonia grega, por exemplo, refere
os embates importantes entre deuses e titãs para a constituição do universo, o
surgimento da vida humana como reflexo das forças criadoras, e a vitória dos deuses
sobre estas entidades primitivas.
Esta discussão está apresentada no segundo capítulo (‘Histórias dos Titãs’) do
primeiro volume da obra A Mitologia dos Gregos, de Karl Kerényi, o qual está
disponível na Biblioteca Virtual (Pearson), neste link:
https://www.bvirtual.com.br/NossoAcervo/Publicacao/114707

Material de apoio
CASTRO, Régis. Croma – Caminho de Vida. 19. Ed. Campinas: Raboni, 1992.
CATENASSI, Fabrizio Zandonadi. Bíblia: introdução teológica e história de Israel.
Londrina: Intersaberes, 2018.
KERÉNYI, Karl. A Mitologia dos Gregos. Petrópolis: Vozes, 2015.
STEINER, João. A origem do Universo. Estudos Avançados, vol. 20, n.58, São
Paulo, dez. 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ea/a/L4Cn5NyczfTBhdxTDsr4Kng/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em 26 ago. 2022.
SWEETMAN, Brendan. Religião: conceitos-chave em Filosofia. Porto Alegre:
Penso, 2013.

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