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NEAD – Núcleo de Educação a Distância

NOTA DE AULA – UNIDADE 3 – As origens das tradições religiosas


Curso: Teologia Disciplina: Teologia das Religiões
Autor: Prof. Dr. José Tadeu de Almeida
Professor/Tutor:

Introdução

Ao longo desta Unidade, tem-se por objetivo geral analisar o fenômeno religioso sob
uma perspectiva histórica e historiográfica, de modo a compreender a importância das
cosmogonias para a consolidação das relações sociais e da dinâmica cultural das
diferentes sociedades. Desta forma, compreende-se que as narrativas de origem, e
os percursos históricos que foram estabelecidos por estas cosmogonias, podem ser
entendidos em um enfoque mais abrangente, que destaque um conjunto de
explicações a respeito do surgimento da vida a partir do caos, por meio da ação da(s)
divindade(s).
Assim sendo, o estudante poderá avaliar de que modo a experiência religiosa é capaz
de justificar em plenitude a sua existência individual e a inserção da pessoa no mundo,
por meio de contos de fundação e narrações fabulosas que destacam o papel do
sobrenatural no universo e a sua capacidade de ordenar a realidade e a natureza sob
diferentes contextos e situações.

Sinopse

Os elementos apresentados nesta Unidade apresentam uma importância crítica, pois


referem a importância das crenças e religiões para a consolidação das formas de
organização social. As narrativas de origem são capazes de referir, portanto, a
justificação para o desenvolvimento de uma ordem natural, que se estabelece a partir
do sobrenatural.
Ou seja, a relação desta Unidade com a disciplina se articula a partir de um resgate
das principais tradições religiosas orientais e ocidentais, demonstrando de que forma
estas tradições apresentam respostas a questionamentos existenciais do ser humano,
especificamente em relação à sua própria origem. Consequentemente, ao tratar sobre
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as origens destas tradições, também é necessário referir de que modo estas


cosmogonias inserem a origem dos tempos em suas próprias narrativas, revelando
assim os processos que viabilizam o desenvolvimento de panteões, ritos e ações
contemplativas no âmbito das instituições religiosas.
Como referência desta discussão, pode-se inicialmente resgatar duas cosmogonias
para a observação de suas especificidades: a tradição judaico-cristã enfatiza a
existência primitiva de Deus, como um ‘espírito que paira sobre as águas’. Neste caso,
o mar é visto como o sinônimo do caos, da desordem e do desconhecido, e é a partir
deste estado inicial que o Deus único irá iniciar sua obra e canalizar a sua força
criadora.
Entre os nórdicos, por sua vez, há a importância da fertilidade como um sinal de
presença do divino na ordem criadora: a tradição desta cosmogonia refere a presença
de um animal lendário, a vaca Audhumla, que alimenta um gigante adormecido (Ymir)
que hibernava em uma grande planície de gelo – igualmente, um lugar de caos e
ausência de vida.

Questões focais

 Como se originam as tradições religiosas e suas repercussões no cotidiano das


civilizações?
 De que modo as cosmogonias refletem atitudes e ações dos indivíduos na
sociedade?
 Quais as figuras recorrentes nas narrativas originárias que relacionam as
tradições religiosas?
 Qual o lugar do caos e da(s) divindades nestas cosmogonias, e de que modo
o caos passa a ser ordenado?
 Como se pode relacionar as narrativas de origem nas religiões ocidentais e
orientais?

Metodologia

A proposta desta Unidade é a de consolidar o conhecimento do estudante a respeito


de diferentes cosmogonias religiosas por meio de um trabalho de análise comparativa.
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Desta forma, será possível associar os modos de desenvolvimento destas


cosmogonias, isto é, as suas origens, às narrativas de origem das referidas tradições
religiosas. É preciso que o professor/tutor observe, neste sentido, uma dimensão tripla
que envolve a Unidade, a saber: o estudo das origens das tradições religiosas; o modo
pelo qual as próprias instituições concebem sua origem histórica; e as narrativas de
origem que estão contidas nestas cosmogonias.
Desta forma, o estudante poderá utilizar este processo de análise comparativa para
estabelecer vínculos e pontos comuns às narrativas que envolvem estas tradições, ao
observar, por exemplo, o papel dos elementos naturais para explicar (des)ordens
primitivas a partir das quais se estabelece a força criadora da(s) divindade(s).
Consequentemente, o referencial metodológico a ser adotado contempla o estudo dos
materiais de referência (atividades complementares) em paralelo com a observação
da videoaula e com a discussão a ser estabelecida entre os colegas e mediada pelo
professor/tutor, a fim de favorecer a construção coletiva do conhecimento por meio de
exemplos de aplicação e casos recorrentes que remetem, por exemplo, ao campo
religioso brasileiro e suas matrizes de inspiração cristã.

Objetivos de aprendizagem

 Apontar os pontos históricos que destacam o surgimento das principais


tradições religiosas no Oriente e no Ocidente;
 Descrever elementos comuns às narrativas de origem nas mencionadas
cosmogonias;
 Debater a importância da(s) divindade(s) como elemento(s) ordenativo(s) da
realidade humana e do mundo natural;
 Compreender o conceito de ‘caos’ e suas características em diferentes
tradições e religiões;
 Avaliar as relações entre narrativas de origem e o desenvolvimento histórico
das religiões.

Discussão do tema

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O processo de constituição das tradições religiosas obedece a uma série de pontos


comuns que convergem à necessidade de elucidação de aspectos considerados
essenciais à vida humana: a análise do universo na perspectiva religiosa responde,
portanto, a questões do tipo ‘De onde viemos? ’ Para assim inserir o indivíduo em uma
ordem desenvolvida pela(s) divindade(s).
Esta ordem, portanto, substitui o caos e desenvolve um ‘lugar de criação’ a partir do
qual se estabelece o universo e o homem como quintessência desta ordem: por
exemplo, o caos é sistematicamente descrito a partir de um ambiente tenebroso, como
a água (sobre o qual Deus paira como um ‘vento impetuoso’ no livro do Gênesis); a
água é o espaço onde ocorre a destruição, como nos contos de Atlântida, de
Gilgamesh e da Arca de Noé, onde as sociedades são extintas pela força da
divindade: nos dois últimos relatos, um grupo seleto é salvo junto com os animais em
um navio (arca), destacando assim a aproximação importante entre diferentes
tradições religiosas do Oriente Médio.
A narrativa de Noé encontra sua síntese em Abraão, a figura patriarcal do qual
descendem o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, em uma linha histórica. Por
meio de Abraão, ocorre o início da revelação divina, que está contida nos textos
sagrados dos hebreus (Torá), nas Escrituras cristãs (que enfatizam que a revelação
se encerra em Cristo) e na doutrina islâmica descrita no Alcorão.
A cosmogonia greco-romana, por sua vez, destaca relatos relevantes como o embate
entre deuses e os titãs (como Prometeu), de quem descendem as divindades. Por
exemplo, há o relato grego de Zeus que fere a seu pai, Cronos, estabelecendo-se
assim como o senhor da criação. Esta cosmogonia foi adaptada pelos romanos, que
enfatizavam sua origem a partir dos antigos troianos, dos quais descenderia Eneias,
o qual iria gerar a linhagem que daria surgimento aos primeiros romanos.
Por fim, é importante destacar também as cosmogonias orientais, como por exemplo,
o relato das antigas religiões chinesas, que referem a origem dos tempos como um
momento no qual um ser divino, P’an-ku, mantinha o controle e o equilíbrio de energias
(Yin e Yang) em todo o universo, enfatizando assim uma dualidade de forças que está
presente nas tradições religiosas (como Deus e o diabo por exemplo).
O xintoísmo destaca, também, a origem da sociedade japonesa e de seus líderes a
partir dos deuses, que formavam uma linhagem sagrada que divinizava os
imperadores. Por fim, é possível destacar ainda as tradições contemporâneas, como
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os Novos Movimentos Religiosos (NMRs), que articulam diferentes crenças e


cosmogonias para oferecer meios alternativos de experiência religiosa a partir das
doutrinas orientais, como por exemplo, a Seicho-No-Ie.

Bibliografia comentada

A fim de compreender adequadamente a importância dos mitos como fonte para a


elucidação de aspectos relevantes nas cosmogonias e tradições religiosas, é preciso
avaliar, ainda, os modos e motivações pelos quais as civilizações antigas
desenvolviam tais narrativas. O estudo do mito é essencial para a Filosofia, à medida
que permite compreender as formas de construção do conhecimento humano por
meio de narrações fabulosas e fatos extraordinários.
Esta discussão é proposta no primeiro capítulo do livro Introdução à Filosofia, de
autoria de Paulo Ghiraldelli Jr., que está disponível na Biblioteca Virtual (Minha
Biblioteca) no seguinte link:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788520448168/pageid/15

O conflito entre caos e ordem, e entre conhecimento e barbárie, é sistematicamente


proposto na cosmogonia grega, para enfatizar a importância dos deuses como
elementos ordenadores do universo. O embate entre deuses e titãs encontra na
narrativa de Prometeu um ponto-chave para avaliar a importância do conhecimento
como fonte de emancipação do indivíduo em relação ao poder absoluto e
aparentemente incontestável dos deuses.
As reflexões relativas às narrativas de origem na cosmogonia grega são destacadas
no Capítulo XIII (‘Prometeu e a raça humana’) do primeiro volume do livro A Mitologia
dos Gregos, de autoria de Karl Kerényi, e que está disponível na Biblioteca Virtual
(Pearson), no link: https://www.bvirtual.com.br/NossoAcervo/Publicacao/114707

Material de apoio
CATENASSI, Fabrizio Zandonadi. Bíblia: introdução teológica e história de Israel.
Londrina: Intersaberes, 2018.
GHIRALDELLI Jr. , Paulo. Introdução à Filosofia. Barueri: Manole, 2003.
KERÉNYI, Karl. A Mitologia dos Gregos. Petrópolis: Vozes, 2015.
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STEINER, João. A origem do Universo. Estudos Avançados, vol. 20, n.58, São
Paulo, dez. 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ea/a/L4Cn5NyczfTBhdxTDsr4Kng/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em 26 ago. 2022.
SWEETMAN, Brendan. Religião: conceitos-chave em Filosofia. Porto Alegre:
Penso, 2013.

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