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O anjo disse-lhe: ‘‘Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe
porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e
reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: ‘‘Como se fará isso, pois não
conheço homem?’’. Respondeu-lhe o anjo: ‘‘O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua
sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus’’. (LUCAS 1, 30-35)
Acompanhamos até aqui a imagem do ser humano em sua criação no princípio. Sua formação inicial. Vimos também que,
feito inacabado e aberto à sua participação na própria formação, sua liberdade envolvia a possibilidade que se realizou em
pecar. No entanto, Deus não o abandonou.
Veremos, nesta aula, como Deus foi preparando personalidades que corporificaram a mudança necessária para formar seu
povo – os patriarcas – e como a vida de cada um deles, em Israel, e as alianças e promessas estabelecidas influenciaram na
chegada de seu filho.
Em Jesus Cristo, há a revelação de quem é o homem. Aqui, teremos a formação de uma nova criação, que começa na
configuração de cada um como filho de Deus e traz a perspectiva escatológica como o fim dessa criação.
Objetivos
A iniciativa é sempre de Deus em intervenções que envolvem condições vitais, em que vida e morte precisam ser distintas.
Através de seus escolhidos, Deus educa seu povo em direção à abertura enquanto humanidade, estabelecendo relação entre
promessa e aliança, prometendo um futuro de relação íntima com a humanidade. Com a aliança, insere o povo na dinâmica da
realização, antecipando o futuro no cotidiano. Para essa aliança, um sinal externo destaca Israel frente às nações.
Conheça os exemplos das passagens bíblicas que demonstram como Deus, por meio de suas interpelações formou seu povo,
tendo a história de Israel como pano de fundo.
Nada foi dado de graça. Israel se envolve na própria formação. Consolidado, deseja ser rei. Seu espelho é de poder e posse. O
advérbio como é comparativo e utilizado como meio que faz Israel cair1 , deixando-se levar pelo pecado.
A Lei educa o povo, mas não remove o pecado. Israel se torna escravo e, em sua miséria, precisa se repensar frente à ostentação
e à escravidão aos ídolos em Babilônia, definindo sua identidade monoteísta com toda a força e reconhecendo faltas e limitações.
Entende que não tem mérito e pede a graça. Ao longo de Deuteronômio 9 e Ezequiel 36 percebemos esse diálogo que remete ao
reconhecimento de Deus.
(Fonte: Andrey_Kuzmin / Shutterstock).
Contra inúmeras heresias, o desenvolvimento da cristologia auxilia na compreensão tanto de Jesus Cristo como da pessoa
humana.
Quem é o homem?
A Encarnação
A Criação é realizada do nada, a partir da Palavra criadora de Deus. E agora essa Palavra toma a nossa carne, faz-se um de nós,
como nós.
Em Lucas 1, 26-38, acompanhamos a narração da Encarnação, o encontro do divino com o humano no Emanuel, da ação do
Espírito Santo na resposta de Maria.
Importante destacarmos a pessoa nesse diálogo com o anjo Gabriel, pois Deus não
nos trata como objetos, desrespeitando nossa liberdade frente a seus desígnios.
A maior dignidade que uma pessoa pode ter é de trazer a graça em si. Em
Maria, temos a plenitude do ser mulher que, como prefigurada em Eva, está
relacionada à maternidade. Não é instrumentalizado nem foco de uma
sociedade autoritária. No sim de Maria, a liberdade de assumir o cuidado da
pessoa, a formação da próxima geração. E, se considerarmos de quem se trata
este Filho, temos um momento singular de revelação sobre quem é a mulher e
quem é essa mulher (Lucas 1, 43).
Senhor é contigo
Ele não está, Ele é. “Eu sou”, de Êxodo 3, 14 e João 8, 58. A partir de Maria, Deus
é na humanidade. “Fruto do seu ventre” (Lucas 1, 42), a vida humana recebe a
plenitude de seu valor, traz a dignidade do próprio Deus assumido na própria
carne. A relação entre o Deus que é e a humanidade que se abre plenamente é
realizada. Deus não só entra na história mas também lhe dá sentido visível e
escondido.
A vida escondida: o trabalho
O trabalho para o hebreu é sua identidade, dignidade e
continuidade. O menino aprende com seu pai a partir de cinco
anos. Assim, com José (Mateus 13, 55), Jesus se faz
carpinteiro (Marcos 6, 3).
Temos ainda o trabalho na superação das relações familiares e o labor de todos em prol de todos. A divisão e o confronto de Gn 3,
12.16 são interpelados na educação dos filhos (e não mais a si próprios).
O “no princípio” de Mateus 19, 4 e Mc 10, 6 é referência na reflexão cristã. Jesus não participa da lógica jurídico-casuísta e se
reporta a Gênesis 1, 27 e 2, 24 como princípio de unidade da Palavra de Deus em sua revelação anterior à queda. Ele leva a
discussão para o mistério da criação de uma humanidade dual na responsabilidade prefigurada de Cristo e da Igreja. (Efésios 5,
21-33)
Nos evangelhos, a mulher participa em diferentes momentos:
Acompanha Jesus pelas cidades e É elogiada em sua generosidade Recebe memória definitiva pela
aldeias, assistindo com seus bens ainda que viúva demonstração de seu amor
(Lucas 8, 1-3) (Lucas 21, 1-4) (Mateus 26, 6-13)
Comentário
Percebemos como Jesus supera o entendimento, levando a reflexão para o princípio. Em João 8, 3-11, temos a mulher
surpreendida em pecado e a defesa de Jesus em seguida. O chamado que faz não seria referência a abusos e injustiças
masculinos? À memória de Gênesis 3, 12, que vê na mulher o próprio pecado? A acusação não foi fruto do desejo, do homem que
não se assume como corresponsável e se aproveita da miséria social? Afinal, a mulher não teria pecado sozinha - e sua posição
social a coloca facilmente como passível de assédio.
Abandono da maternidade, violência doméstica, adultério no coração (Mateus 5, 28), tantas agressões: até que ponto a
mensagem evangélica foi realmente recebida e acolhida?
Atenção
No ato de total abandono, de radical solidão, ouvimos sua oração do Sl 22 (Mateus 27, 46ss) ao enfrentar a morte, terminando
com o abandono confiante em Deus (Lucas 23, 46). De João 1, 1 até o final, o Verbo Encarnado é o Cordeiro de Deus, o sacrifício
da Páscoa judaica que toma em si o fundamento de uma liberdade ampla, total e irrestrita.
Em seu esvaziamento (kênosis), em plena obediência ao Pai, assume a cruz como trono, em redenção universal, encontro da
aliança salvífica de Deus à resposta humana (João 3, 16; 6, 40; 17, 6).
Filho sofre a miséria dos pecadores: a separação de Deus. Desce ao inferno e o converte em mistério de salvação, tomando sobre
si e transformando-o. O poder mais que humano é absorvido e ordenado a Deus. Aqui o homem vê a responsabilidade frente a
uma solidão eterna, o que lhe exige uma decisão.
Maria3 é citada:
A partir da cruz, o homem de todos os tempos, revelado em sua solidão, abandonado em sua dor, é interpelado a se ver em Jesus
crucificado e, com Ele, ousar conversar com o Pai e Nele confiar. Já não está mais sozinho, pois tem um como ele que fala por ele
e quer falar nele.
Atenção
João vê Deus através da dor e do abandono, de alguém que se entrega totalmente a nós - e em nós. Em Jesus Cristo, Deus é - e
entendemos quem somos. Não fomos criados para a morte, e sim para a plenitude – realidade que revoluciona a história hoje e
sempre.
Jesus Cristo, morto por nós, ressuscita para que Nele também possamos ressuscitar.
Fonte: Romanos 6, 8.
É o princípio vital a ser perpassado pelo pneuma (Espírito) para poder entrar na glória
de Deus (1 Coríntios 15, 44-46), aguardando a ressurreição universal do último dia
(João 5, 28-29), na salvação que envolve a ação junto aos demais, vendo nos solitários
e abandonados a presença do Crucificado (Mateus 25, 35-46).
Na Ressurreição, percebemos que a maternidade não é limitada a uma restrição biológica, e sim tornada espiritual e modelo de
ação do cristão (Lucas 1, 35; Romanos 8, 4). Paulo (Gálatas 4, 19) assume a imagem feminina5 para descrever seu apostolado,
expressando o conceito de Igreja enquanto mãe dos crentes.
Comentário
Gênesis 3, 15 apresenta a confiança de Deus, que partilha seus filhos com a humanidade, em um sacerdócio universal. Da
maternidade guardada, em referência à espera do Messias, no Antigo Testamento, à maternidade espiritual do Novo Testamento,
que se torna a antecipação do estado definitivo da humanidade (Mateus 22, 30; 1 Coríntios 15, 20-28).
Permanecei no meu amor.
Situa a justiça como forma fundamental do amor, associando-a ao juízo. Não é um processo natural para o qual caminha a
humanidade, mas algo correlato à relação entre o dom e a liberdade de acolhê-lo e à responsabilidade de posicionamento frente a
Deus.
A Teologia Medieval, com seu dualismo e moralismo, exaltou o Dies Irae em detrimento do Maranatá6 . As imagens cosmológicas
usadas na Sagrada Escritura nos mostram que o amor não pode tolerar o mal indefinidamente e que precisa ser salvaguardado
pela justiça – os que sofrem a injustiça deste mundo esperam a justiça de Deus como momento de realização de uma promessa.
A Sagrada Escritura é consciente da impossibilidade de descrever a última realidade humana, utilizando analogias de imagens que
não dizem tudo e que precisam ser muito bem interpretadas.
O mundo não é somente o material, lugar no qual se desenvolve a existência humana. É o próprio ser humano no sentido de si. O
fim, o escathon, é um evento antropológico, o fim da história, em que Deus, vulnerável frente às dores e ao sofrimento da pessoa
humana, deseja que ela se encontre acolhida definitivamente.
Nele: primado do Logos, na convicção de que amar é divino, em noção cristã da Onipotência que se expressa em sua realidade
quando consideramos o presépio e a cruz.
O Ser cristológico, o Logos, apresenta o caminho para a nova humanidade: a Verdade
é Deus, e essa Verdade fundamenta o agir humano em uma realidade que apresenta o
que é propriamente humano. O nós, a comunhão entre os seres humanos, situa a
realidade como lugar, e não como ideia. O eu se orienta entre o Tu e o nós, é o
caminho da vida, em sentido de adoração comum.
Uma antropologia teológica séria exige renúncia, sacrifício, estudo, tempo, lendo a Sagrada Escritura no Espírito com que foi
escrita: a fé de um povo peregrino, formado nas inter-relações da humanidade dual, rumo ao fim da história em Deus, uma
realidade em unidade entre Palavra e Verbo.
Atividade
1. Correlacione a segunda coluna de acordo com a primeira, considerando as características da pessoa humana que podemos
identificar nos textos bíblicos:
j. Oséias 14, 1
10. o amor da mulher e a indiferença do homem
Notas
Israel cair 1
Os altos impostos para a construção do Templo de Jerusalém comprometem a sobrevivência de muitos, multiplicando viúvas e
órfãos. O reino é dividido em Norte (Israel) e Sul (Judá) em 931 a.C. Perdem os israelitas sua unidade e força, sendo dominados
por nações estrangeiras. O Norte, pelos assírios (722-621 a.C.); o Sul, pela Babilônia (587-538 a.C.).
Funções 2
Referência de dignidade, o trabalho é santificado por Jesus nas seguintes funções:
O apostolado é comparado à ceia (Mateus 9, 37; João 4, 38) e à pesca (Mateus 4, 19). Tida como sofrimento, a ação do “suor do
rosto” (Gênesis 3, 19) é entendida pela participação nos planos de Deus nas seguintes funções:
Maria 3
Assim como Maria, as mulheres (João 19, 25; Mateus 27, 55) aparecem no caminho do Calvário (Lucas 23, 27-28) e mesmo junto
a Pilatos (Mateus 27, 19).
Crucificado 4
Em Jesus esvaziado na cruz, a humanidade pode ouvir o Tu e responder ao amor de Deus com o risco da liberdade humana. O
cristão olha o Crucificado e “vê” até onde sua capacidade de destruição o pode levar, mas também que o amor é infinitamente
maior no chamado permanente a aceitar que, ainda que o mal pareça levar vantagem, Deus está aguardando o seu momento de
agir.
Aqui temos o humanismo mais radical, em que descobrimos a verdadeira face humana em Jesus de Nazaré, a mesma na qual o
ser humano é chamado a se espelhar. “Creio em Ti” é encontrar o caminho da Vida no carregar a cruz para a crucificação.
Imagem feminina 5
A dignidade da mulher é elevada ao dom de acolher e transmitir a Verdade de Deus (Lucas 8, 1-3). Estão presentes em
Pentecostes (Atos 1, 14; 2, 1-3), na vida da Igreja nascente (Romanos 16, 1; 2 Timóteo 4, 19; Filemom 2), na referência da família
(Provérbios 31, 10-26) e em toda a história.
Com a mulher, a humanidade encontra sua unidade, a família humana, expressando na família doméstica o mistério de união de
Cristo (marido) com sua Igreja (esposa). (Efésios 5, 23-33)
São duas faces do mesmo evento em uma escatologia performativa – o Juiz é Aquele que caminha conosco, não um estranho.
Morrer é estar com Cristo (Filipenses 1, 23), situando a pessoa humana no Ser de Deus. O mistério da cruz de Cristo vence o mal
indo ao encontro dos últimos, aos destruídos em si na realidade do amor.
Terra Prometida
Caminhada em que o povo murmura (Números 21, 5) e quebra a aliança (Êxodo 32; Deuteronômio 9). Na conquista da Terra
Prometida, é preciso formar uma identidade de nação pela fé, enfrentando medos e limitações para realizar a promessa da posse
da terra.
Referências
HACKMANN, G. L. B. Jesus Cristo, nosso redentor: iniciação à cristologia como soteriologia. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1999.
RUBIO, A. G. O encontro com Jesus Cristo vivo: um ensaio de cristologia para nossos dias. 11. ed. São Paulo: Paulinas, 2007.
Próxima aula
O testemunho da Escritura.
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