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Nesta aula, estudaremos a presença dos anjos na história da salvação. A tendência atual em negar a existência dos anjos ou
em justapô-los como mitos ou personificação do bem e do mal exige uma fé apoiada em dados firmes e precisos para
compreender sua existência, identidade e atividade.
Pela fé na revelação, na criação das “coisas visíveis e invisíveis”, a palavra nos oferece inúmeros testemunhos destes seres
intermediários que refletem melhor a perfeição de Deus. Assim, podemos perceber que não estamos sós, mas sob os
cuidados de Deus através deles.
Objetivos
Os anjos não existem desde sempre; fazem parte do universo que Deus criou.
Corpos e asas são expressões figuradas para indicar sua leveza e imaterialidade,
como os Serafins, Querubins, os quatro seres vivos do Apocalipse (Is 6, 2; Ez 1, 9-11;
10, 21; Ex 37, 9; Ap 4, 9), ou para serem percebidos por nós de modo especial (Nm 22,
31; 2Rs 6, 17; Lc 2, 13). Eles não estão sujeitos ao tempo ou a qualquer outro
fenômeno físico. Como criaturas de Deus, tiveram um começo, mas não terão um
fim.
Não há como definir objetivamente a criação dos anjos, mas podemos procurar
indícios na Sagrada Escritura. Através de Gn 2, 1, sabemos que sua criação é anterior
ao sétimo dia. Por Ex 20, 11 e Gn 2, 2, que foi anterior ao sexto dia. Gn 1, 2, sendo a
terra inacabada, sugere que o céu teria sido finalizado. Gruden (2017, p. 237), tendo
em vista Gn 1, 1 e Jó 38, 6-7, afirma que a criação dos anjos teria sido antes do
primeiro dia da criação da terra.
Atividade
1. Os capítulos 1 e 2 do livro Gênesis apresentam a criação como mais ampla que o ser humano e mesmo o planeta. Deus é
criador do céu e da terra. Indique, no texto bíblico, os sinais da criação das coisas invisíveis.
A presença dos anjos no Antigo Testamento
Os anjos aparecem como figuras misteriosas no Antigo Testamento. Do hebraico, mal’ak YHWH, são os enviados, mensageiros
do Senhor. Sua presença às vezes se apresenta distinta da de Deus, outras é identificada com Ele (Gn 16, 11-13; 18, 2.9s; 21, 17-
19; 22, 11s; 31, 11-13; Ex 3, 2-6).
Recebem grande poder para as missões que lhes são atribuídas e executam-nas sem questionamento, como:
Aos poucos, Israel vai distinguindo melhor os anjos. A tendência de acentuar Deus fez com que Ele se distanciasse dos homens,
envolvido pela presença de seus emissários, configurando sua Angeologia. Importante ressaltar que, na exaltação do poder
absoluto de Deus sobre o mundo, a posição de intermediários não é confundida com a de semideuses e muito menos com mitos,
como os povos ao redor. Israel apresenta-nos seu relacionamento com os anjos de modo próprio, expressão de uma monarquia,
em que o Senhor aparece servido em sua corte (1Rs 22,19).
A figura de um anjo é responsável pelos seguintes fatos bíblicos:
1
Proteção dos portões do Paraíso 4 subindo a escada que liga a terra
ao céu (Gn 28, 12);
(Gn 3, 24);
3
Proibição do sacrifício de Isaac
6
por Abraão (Gn 22, 11); Acompanhamento da família no
livro de Tobias.
O período de escravidão da Babilônia (587-538 a.C.) levou a um contato com as culturas persa e grega, desenvolvendo uma nova
compreensão, em uma mentalidade nova. Crescem as citações de anjos em seus escritos, com uma maior consciência da
distinção entre anjos bons e maus.
Anjos maus
Os tormentos de Jó. Ilustração de William Blake para o Livro de Jó, 1793. (Fonte: Fine Arts Museums of San Francisco
<https://art.famsf.org/william-blake/complaint-job-6930215> )
Através do diálogo com Deus, satã quer ferir a imagem de fidelidade de Jó, apresentando-o como uma pessoa interesseira,
somente sendo fiel pelos benefícios recebidos. Na mentalidade do hagiógrafo1 , no período de escrita em que se começa a
questionar sobre a consequência pós-morte da fidelidade, até então acreditando-se que todos adormeceriam no sheol,
esvaziando a posição de fé dos bons. A recompensa pela justiça teria que ser em vida e Jó estava perdendo tudo.
Nesta transição, a figura do anjo é apresentada de modo a gradativamente ser passível de uma posição perante Deus. Satã, em Jó
1, 6-12 e 2, 1-7, não é um nome próprio, mas, acompanhado do artigo o, é o anjo que traz a função de acusador, como em Zc 3, 1.
No período após o exílio babilônico (587-538 a.C.), satã é compreendido como o tentador ao pecado, ao mal, como em 1Cr 21, 1.
Textos mais recentes, como Sb 2, 24, satã é indicado explicitamente como adversário de Deus, em uma clara referência a Gn 3, 1-
5.14s. É identificado em sua inteligência, astúcia e mentira, com uma personalidade definida (não como uma personificação
instintiva do homem). No entanto, só pode agir com a permissão de Deus. O Antigo Testamento não apresenta sua queda e o
porquê, mas a traz como suposta em Jr 11, 10; Is 14, 12-15.
No Novo Testamento, os anjos são mensageiros do reino anunciado por Jesus. Milhões de milhões e milhares de milhares de
anjos (Ap 5, 11), em eco a Dn 7, 10, são membros do exército celeste (Lc 2, 13), em uma figura de linguagem que exalta sua
quantidade e ação de Deus junto à humanidade.
Eles são espíritos servidores, enviados ao serviço dos que devem herdar a salvação
(Hb 1, 14). São ministros que agem em favor dos santos, orientando-os ao bem,
defendendo-os e agindo contra os poderosos da Terra.
O Apocalipse se refere inúmeras vezes aos ministros da liturgia celeste, oferecendo a Deus as orações dos justos (Ap 5, 11s;
8, 2-5), com destaque especial a Miguel e seus anjos defensores em favor do povo de Deus (Ap 12, 7; 21, 3).
João Apóstolo (Ap 1, 1) é claro em definir um anjo como porta-voz da mensagem de Deus. Com a plenitude da revelação,
temos a exposição do mistério da iniquidade pela presença dos anjos maus. Sob diversos nomes e qualitativos, Satanás é o
homicida desde o princípio e que não permaneceu na verdade (Jo 8, 44; 1Jo 3, 8).
Queda dos anjos maus
Em Lc 10, 18, a queda dos anjos é clara, sendo presenciada por Jesus. Ele pede ao Pai pelos seus (Lc 22, 31-32), mostrando
que só podem agir com a permissão de Deus. A relação entre a permissão divina na atuação diabólica é um mistério, mas
sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam (Rm 8, 28).
Sabemos que tudo que Deus faz, a Suma Bondade, é bom. Todos os anjos foram criados bons e são criaturas dependentes
do Criador. Pela sua atuação junto a Deus e como seres de grande inteligência, seu serviço precisa ser livre. Então, os anjos
maus livremente afastaram-se de Deus, escolhendo a privação de Sua presença para sempre.
São Paulo indica o pecado da soberba como causa da queda destes anjos (1Tm 3, 6). Jd 6 e 2Pd 2, 4 presumem o pecado
com a referência da justiça de Deus. João considera que tenham sido em um terço (Ap 12, 4).
O pecado angélico, como o humano, não destrói a natureza. Continuam sendo seres angelicais com toda a dignidade que
isso significa. Não perderam sua inteligência perfeita nem a vontade livre. A mudança envolve a perspectiva infalível que tem
sua origem na visão de Deus, além da vontade ser conformada ao pecado, sem possibilidade de conversão.
Ap 12, 7-9 conta a batalha entre os anjos bons e maus, bem como a vitória sobre Satanás. O pecado dos primeiros pais, que
permitiu sua ação no mundo, é ordenado pela vitória de Cristo na cruz, subordinando-os (Ef 1, 21; Cl 2, 13-15; Hb 1, 7-14).
Sendo criatura, além da submissão a Deus, Satanás é incapaz de impedir a instauração do reino de Deus, pois só pode agir
com a permissão divina, levando a pessoa humana ao mal, mas sem poder anular sua liberdade. Nem todos os pecados
podem ser atribuídos aos anjos maus (Ef 6 , 11-12). Ainda que a vontade humana seja fragilizada, enfraquecida, ela não pode
ser retirada. É nas concessões que permitimos sua ação e o fortalecemos, a ponto de não conseguirmos agir devidamente
sozinhos.
Depois da vitória da Paixão, é a nossa vez de ir ao campo de batalha. Não numa luta dualista entre o bem e o mal, como duas
forças opostas em conflito entre si, pois Cristo já venceu. A questão está centrada em nossa definição pessoal por Deus ou não.
Nada nos pode ser dado que seja acima de nossas forças (1Cor 10, 13). Nesta perspectiva, o Cristianismo compreende a ação
dos anjos maus.
No entanto, independentemente do mistério da iniquidade, da presença do mal no mundo, no modo como sua ação favorece o
justo (Rm 8, 28), o afastamento dos anjos maus e a consequente negação de Deus de muitos é um fato em si e um
posicionamento objetivo. Este abismo que foi construído pela vontade livre dos anjos maus é manifesto por Deus em 2Ts 1, 6 e no
começo da tribulação (Ap 6).
O mal será plenamente manifesto em 2Ts 2, 6-9, quando passar este mundo e o Senhor voltar com os seus anjos para julgar os
ímpios (2Ts 7, 10; Ap 19, 11-21) e em Mt 24, 31; 25, 31; Mc 8, 38; 13, 27; Lc 9, 26.
Atividade
2. Percebemos claramente o aprofundamento da angeologia do Antigo para o Novo Testamento, tanto quanto a distinção dos
anjos e a qualidade de sua atuação junto a nós e perante Deus.
Faça a leitura de Gn 3, 1-7 e de Hb 1, 7-14. Considere a ação do anjo junto ao ser humano, imagem e semelhança, a posição dos
anjos junto ao que senta à direita do trono e o aprofundamento da angeologia do Antigo ao Novo Testamento.
Na Antiga Aliança.
(1Rs 13, 18/ Jó 4, 15-16/ Zc 3, 3/ Dn 6, 22-29)
Apresentam-se mais do que expectadores de Deus. Vendo Deus face a face (Mt 18, 10), participam de nossa vida e se felicitam
por nós (Lc 15, 10; 1Tm 3, 16), atuam na cura a doentes (Jo 5, 4), cooperam com Deus junto a nós (Hb 1, 14; 1Pd 1, 12),
tranquilizam-nos (Lc 22, 43), acompanhando os que se afastam (Ap 14, 13-14), estarão presentes de modo especial nos eventos
finais (Mt 25, 31-46; Ap 14, 6).
Os anjos são integrantes da revelação, de modo especial a partir de Jesus Cristo. A permanência no afastamento de Deus dos
anjos maus ocorre por uma negação da misericórdia de Deus, em obstinação no pecado. Eles não podem conhecer nosso futuro
livre, pois dependem da liberdade humana. Não têm acesso a nossos pensamentos e desejos íntimos, que só Deus pode, mas
eles identificam no modo como manifestamos com palavras e atos, sinais e expressões.
A presença dos anjos no serviço a Deus nos mostra que sua atuação independe do
tempo e, portanto, alcança-nos hoje. Em momentos especiais, Deus nos permite
percebê-los (Lc 24, 31; Ef 1, 18-21). Sua presença é muito importante, pois nos dispõe
à variedade e à harmonia com que Deus cria tudo, colocando-nos na adoração junto à
grande multidão de anjos (Hb 12, 22-23).
Na perspectiva angélica, compreendemos que nossas lutas cotidianas não se restringem ao sensitivo, ao visível, material. Há uma
dinâmica anterior, causa desta, que nos conduz. Nossa batalha passa a se centrar nesta dimensão, pela fé e pela oração (Ef 6, 18-
19). Mesmo sem podermos descrever o modo, sabemos que eles acompanham nossa oração e a apresenta a Deus (Ap 8, 3).
Trazem à nossa memória que as coisas invisíveis são reais e que temos bons exemplos a seguir, pois realizam a vontade de Deus
de modo imediato, sem questionar (Is 6, 3; Mt 6, 10) e com alegria (Ap 5, 11-12).
Os anjos nos apresentam, de forma sutil, a um mundo espiritual infinitamente melhor e mais perfeito que o nosso, em que Cristo
está no centro. Lembram-nos de que somos feitos para sermos imortais, vivermos na eternidade, em que o amor a tudo rege e
inspira nossa confiança de esperar a presença face a face com Deus. Com os anjos, sabemos que o melhor está por vir.
Atividade
3. Considerando a batalha no céu de Ap 12, 7-12, classifique as alternativas em verdadeiro ou falso.
a) Como a batalha é no céu, é justo que os anjos tenham asas. d) Cristo venceu o grande Dragão sozinho, sem qualquer outra
participação.
4. A perspectiva de Deus rodeado de uma corte de anos é uma imagem característica do Antigo Testamento, como Is 6. Duas
questões se destacam neste capítulo sobre a relação entre os anjos e a humanidade:
5. O pecado está em querer ocupar o lugar de Deus – a soberba, que tem o orgulho e a vaidade como relativos. Foi o que levou
1/3 dos anjos à queda. É significativo que, na plenitude da Revelação do Novo Testamento, de Deus como Amor, tenhamos o
mistério da iniquidade exposto claramente. Identifique como o apóstolo Paulo considera a ação do mal na história da Salvação.
Notas
Hagiógrafo 1
1. Diz-se de ou cada um dos livros do Antigo Testamento, exceto o Pentateuco e o dos Profetas;
Referências
FORTEA, José Antonio. História do mundo dos anjos. São Paulo: Palavra & Prece, 2012.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2017.
Próxima aula
Misticismo e superstições.
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Leia o trecho inicial do livro História do mundo dos anjos <https://edoc.site/historia-do-mundo-dos-anjos-pdf-free.html> . A partir
de um anjo narrando, José Antonio nos conta, a partir dos conhecimentos da Angeologia, como foi sua criação, como se dá a
relação com Deus, seu livre arbítrio e como tomam uma decisão definitiva: glorificar ou negar a Deus.