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AULA 1
ANJOS E DEMÔNIOS
1.1 Mensageiros
Existe uma ordem de seres celestiais, distintos dos humanos e de Deus, que ocupam uma
posiçãoexaltada, acima da posição atual da raça humana caída. Os anjos executam o
propósito daquelea quem eles servem: os santos anjos são mensageiros de seu Criador,
enquanto os anjos caídos são mensageiros de satanás, o “deus deste século”, a quem eles
escolheram servir [Chafer, 1976].
Apesar de serem servos (de Deus ou do diabo), os anjos não são robôs ou marionetes que
apenasrepetem o que lhes é ordenado. São seres inteligentes, com vontade própria
(veja o diálogode Jesus com os demônios do gadareno em Marcos 5). No passado, eles
tiveram seus próprios destinos em suas mãos e, por meio de seu livre arbítrio, muitos deles
escolheram seguir satanás em sua rebelião contra Deus e não guardaram o seu
principado, mas deixaram a sua própria habitação (Jd 1:6, II Pe 2:4). A seguir,
comentamos sobre os pontos básicos da angelologiaem uma adaptação do texto
clássico de [Chafer, 1976].
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• Satanás também tem acesso a Deus (Jó 1:6), onde nos acusa de dia e de noite
(Ap 12:10);
1.2.1.3 Os anjos estavam com Deus quando Ele criou a Terra (Jó 38:4-7).
Uma concepção errônea das esferas angelicais é a ideia de que o diabo e seus anjos estão
hoje reinando no inferno. O diabo não está no inferno, está solto, andando em derredor,
bramando como leão e buscando a quem possa tragar (I Pe 5:8). Um dia, ele será lançado
no inferno com seus anjos, onde não irão reinar, mas serão atormentados de dia e de noite
para todo o sempre (Mt 25:41; Ap 20:10).
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O texto acima afirma que os homens foram criados menores do que os anjos. Isto,
provavelmente, refere-se ao fato de que os anjos são maiores em poder (Gn 19:10-11),
mas aos homensé dito que foram criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1:26),
o que nunca foi ditocom relação aos anjos.
Algumas pessoas acham, devido a textos como Mt 22:30 e Mc 12:25, que quando
morrermos nos transformaremos em anjos. Esses textos apenas dizem que na
ressurreição não nos casaremos, assim como os anjos, mas isso não quer dizer que em
tudo seremos como os anjos. Os anjos são seres essencialmente espirituais que podem
assumir uma forma corpórea (Gn 19:1)ou possuir um corpo humano (Mc 5:2), ao passo
que os homens são essencialmente constituídosde corpo, alma e espírito (como veremos
no capítulo sobre antropologia). Os crentes em Jesus estão destinados a se tornarem
semelhantes a Ele, inclusive seu corpo (I Jo 3:2; I Co 15:45-49; Fp 3:21), logo, nosso
último estado será muito superior ao dos anjos. Também nos é dito que iremos julgar os
anjos (I Co 6:3).
Um fato curioso a respeito de anjos é que, ao que tudo indica, eles aprendem com os
homens,principalmente com relação ao plano de redenção. Note que os anjos que pecaram
e caíram nuncaforam e nunca serão salvos (II Pe 2:4; Jd 1:6; Hb 2:16). No entanto, a
igreja revela aos anjosa sabedoria de Deus na salvação dos homens (I Pe 1:12; Ef
3:10; Ef 2:7).
O texto acima deixa claro que os anjos são seres criados por Cristo em algum
momento, que entendemos ser antes da criação do mundo (Jó 38:4-7). Como os anjos
não se reproduzem(Mt 22:30) e também não morrem, entendemos que o número total de
anjos (ou potestades e principados) é fixo e todos foram criados num momento no passado;
sua população não aumentanem diminui.
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Com relação à sua essência, os anjos são chamados de espíritos ministradores (Hb
1:14) e Jesus disse que “um espírito não tem carne nem ossos” (Lc 24:39). Entretanto,
isso não querdizer que eles não tenham uma aparência na esfera espiritual ou que seu
ser esteja “espalhado” em todo lugar. Essa declaração de Jesus pode significar que os
espíritos não possuem um corpo com a mesma constituição (carne e ossos) que o corpo
humano, mas podem ter outra espécie de corpo. Esse assunto é complexo e sujeito a
especulações. Por um lado, o corpo humano ressurreto é chamado de corpo espiritual
em I Co 15:44; por outro lado, esse corpo é diferente dosespíritos por ser constituído de
carne e ossos Lc 24:39. Mas, note que mesmo antes da ressurreição, Moisés apareceu
em forma corpórea perante os discípulos no monte da Transfiguração(Mt 17:3), assim
como anjos se manifestaram em forma corpórea diversas vezes. Portanto, os espíritos
parecem estar confinados a uma forma corpórea, sendo que os que ressuscitarão
receberão um novo corpo espiritual de carne e ossos, incorruptível.
Com relação à sua aparência, os anjos têm aparência humana. Baseado em Dn 9:21,
onde o anjo Gabriel aparece voando em direção a Daniel, eles têm sido, tradicionalmente,
representadoscom asas pelos artistas da Idade Média. É verdade que querubins (II Cr
3:11) e serafins (Is 6:2) possuem asas, assim como as mulheres da visão de Zc 5:9,
que possuíam asas como decegonhas. No entanto, isso não significa que todos os
anjos possuam asas. Certamente, os anjos que apareceram a Ló não possuíam asas,
pois foram confundidos com pessoas comuns pela população de Sodoma (Gn 19:5).
Alguns versos bíblicos dão a entender que existe diferença de força ou poder entre
diferentesanjos (Dn 10:13). A Bíblia não nos revela como isso ocorre, mas de alguma
maneira isso influencia na batalha angelical que ocorre nas regiões celestiais. Em última
análise, são o poder e a autoridade de Deus que determinam a vitória na batalha
espiritual, de forma que às vezesnem mesmo um arcanjo ousa repreender diretamente a
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satanás (Jd 1:9), e em outra ocasião, um simples anjo pode prendê-lo por mil anos
(Ap 20:1-2).
Só Deus conhece o coração dos homens (II Cr 6:30; Ap 2:23). O fato de Jesus
conheceros corações dos homens (Mt 9:3,4) é mais uma prova de que Ele é Deus.
4. Serafins: este nome só aparece em Is 6:1-3, onde são descritos como seres com 6
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asas que adoram na presença de Deus incessantemente. Essa descrição tem levado
muitos a considerarem os seres viventes de Ap 4:8 como sendo serafins.
• Lúcifer: esta palavra não se encontra nas línguas originais da Bíblia, sendo
usada em Is 14:12 na Vulgata, uma tradução da Bíblia para o latim. Significa
portador de luz e refere-se à estrela da manhã, ou estrela da alva, que hoje
sabemos ser oplaneta Vênus. O nome é usado metaforicamente em relação
ao rei da Babilônia e,supostamente, também em relação ao diabo antes
de sua queda.
• Miguel: em Dn 12:1 ele é chamado de grande príncipe, que se levanta em favor
de seu povo (Israel). Em Jd 1:9 ele é chamado de arcanjo, enquanto contendia
com o diabo pelo corpo de Moisés. Em Ap 12:7-12 ele é visto como líder dos
anjos de Deus em uma batalha contra satanás. Sua voz será ouvida quando
Cristo vier arrebatarSua Igreja (I Ts 4:16). Seu nome significa “quem é como
Deus?”. Ao que parece,não existe nenhum outro arcanjo além dele.
• Gabriel: seu nome significa “o poderoso”; aparece na Bíblia trazendo
mensagens a Daniel (Dn 8:15-27; 9:20-27), a Zacarias e à virgem Maria
(Lc 1:26-33).
• Rafael, Uriel e Jeremiel: não existem na Bíblia, sendo mencionados
apenas em livros apócrifos.
Outro ministério dos anjos é a adoração a Deus, que já foi mencionada em seções
acima.
1.3 A queda
Assim como o homem, os anjos um dia tiveram que se deparar com uma decisão
moral, queocorre quando agentes morais livres confrontam questões sobre o bem e
o mal. O mal teve início com a queda de um anjo, que foi seguida pela queda de uma
multidão de outros anjos(Ap 12:4). A mesma queda foi protagonizada pelo primeiro
homem e transmitida à sua raçana forma de uma natureza depravada. Vemos que o
primeiro homem pecou sob a tentação do primeiro anjo que caiu e que a multidão de anjos
pecou sob a influência daquele mesmo pecadororiginal. Mas é muito difícil compreender
a razão porque um anjo de luz, que ministrava na presença imediata de Deus e que
deveria saber a diferença entre certo e errado, tenha escolhidoas trevas sem a ação de
qualquer tentador externo. Como alguém pode explicar o nascimento do mal no coração
de um ser moralmente bom? Este é um problema que os teólogos nuncaforam capazes
de resolver. Permanecer com Deus teria sido sanidade angelical; se apartar dEle foi
insanidade, mas uma insanidade responsável por seus atos. O pecado não tem lugar
na constituição e no status de um anjo não caído. Sua presença significa iniquidade
e ausência de razão. Os anjos (assim como os homens) foram criados para terem suas
vidas centradas em Deus. Tornar-se centrado em si mesmo é uma contradição da lei
básica da existência da criatura.
4. cada anjo que caiu, caiu individualmente por sua própria escolha, ao contrário dos
homens,que já nascem caídos por causa da queda de seu cabeça, Adão.
1.4 Satanás
Assim como existe um arcanjo dentre os santos anjos (Miguel), existe um arcanjo dentre os
anjoscaídos. Ele é chamado de diversos nomes na Bíblia:
1. Satanás: usado pela primeira vez em I Cr 21:1, significa adversário e tem origem
hebraica(satan);
2. Diabo: usado pela primeira vez em Mt 4:1, significa acusador ou caluniador e tem
origem grega (diabolos);
4. Lúcifer: significa portador de luz; embora alguns contestem, parece ser o nome de
Satanásantes de sua queda (Is 14:12);
7. Belial: usado tanto no Velho (Dt 13:13) quanto no Novo (II Co 6:15)
Testamentos, tem origem hebraica e significa imprestável ou perverso,
maligno;
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8. Maligno: semelhante ao nome anterior, mas com origem grega (Mt 13:19);
9. Príncipe deste mundo: Jo 12:31 denota seu governo sobre o sistema do mundo
caído;
11. Príncipe das potestades do ar: Ef 2:2, denota seu governo sobre os anjos caídos,
que estão nos ares.
12. Belzebu: nome de origem aramaica, significa senhor da casa e era usado pelos
judeus para se referir ao príncipe dos demônios (Mt 12:24);
13. Pai da mentira: nome usado por Jesus em Jo 8:44. Certamente ele foi o
primeiro a mentir, seja para Eva, quando disse que esta não morreria se
comesse do fruto, ou possivelmente antes disso, quando seduziu os anjos na
rebelião celestial. Há quem afirme que Satanás não é capaz de criar nada, mas ele
certamente é criativo em suas mentiras.
Assumindo que o texto refere-se a Satanás, algumas informações podem ser extraídas
sobre seu estado original:
Ele esteve no jardim do Éden (v. 13). Se isso se refere ao jardim original nos céus
•
ou sua cópia na terra, pouco importa. Satanás esteve em ambos, mas o rei de
Tiro não esteveem nenhum deles;
• A presença de instrumentos musicais em si (v. 13) indicam que ele existe para
adorar aDeus;
1.4.1.2 Ele não é eterno como Deus, mas foi criado (v. 13, 15);
• Ele foi criado perfeito (sem pecado), até que Deus descobriu o pecado em seu
coração (v. 15);
Com relação ao castigo futuro de Deus sobre Satanás, uma descrição mais detalhada
é dada em Is 14:12-17, que é um texto inicialmente direcionado ao rei da Babilônia.
Note que o textoenfatiza que o inimigo de Israel aqui queria ser como o Altíssimo e ter um
trono para si e governarsobre os outros anjos (as estrelas de Deus). Este continua
sendo o desejo de Satanás, comoexposto na tentação de Jesus. Ele conseguiu parcial e
temporariamente seu objetivo, reinando sobre homens e anjos não-eleitos.
Embora Satanás tenha perdido sua posição de querubim perante Deus, ele ainda tem
acesso à Sua presença. Futuramente, ele será definitivamente expulso dessas esferas e
lançado na terra (Ap 12:7-9). Alguns acham que é sobre essa queda futura que Jesus
se referiu em Lc 10:18.
1.5 Demonologia
As Escrituras revelam que Satanás é o príncipe de dois reinos, o cosmos e o reino dos
demônios (Mt 12:22-30), que se aliaram a ele quando abandonaram seu estado
original (II Pe 2:4; Jd 1:6). Satanás não é onipresente, mas por meio de seus demônios
sua ação está presente emtodo o mundo; ele não é onisciente, mas por meio de seus
demônios ele pode ter informação de tudo o que se passa no mundo; ele não é
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onipotente, mas por meio de seus demônios ele tem seu poder imensuravelmente
aumentado. Já comentamos muito sobre os demônios nas seções anteriores e
completamos, a seguir, com algumas observações próprias deste grupo de espíritos.
3. Filhos de anjos com mulheres antes do dilúvio (Gn 6:1-4): esta posição assume
que os filhos de Deus em Gn 6:1-4 são anjos que se casaram com mulheres e seus
descendentes não foram humanos. Tais descendentes teriam morrido no dilúvio e seus
espíritos tornaram- se demônios. Embora seja possível buscar base bíblica para
afirmar que os filhos de Deus eram anjos, não há base para se afirmar que seus
filhos não eram humanos. Tudo issose torna mais confuso quando notamos que
os anjos dos céus não se casam (Mt 22:30). Alguns sugerem que tais anjos caíram
para poderem se casar, mas isso é especulação.
Por que alguns anjos estão no Tártaro e outros estão soltos? Alguns sugerem que os
anjos presos são aqueles que coabitaram com mulheres em Gn 6:2-4, se de fato os filhos
de Deus ali significam anjos.
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AULA 2
O HOMEM
A antropologia pode ser estudada por duas abordagens distintas e complementares ou,
possivelmente, contraditórias. Academicamente, costuma-se estudar as origens do
homem do ponto de vista científico, com base em estudos de fósseis antigos, inscrições
em cavernas e por meio de filosofia humana, desconsiderando-se totalmente a revelação
divina. Teologicamente, usa-se a Bíblia como fonte autoritária para a verdade sobre as
origens, sendo que as informações científicas só são utilizadas quando estão de acordo
com o texto Bíblico ou como forma de apoio nainterpretação de tais textos.
cientista, estou procurando descobrir como são formadas as estrelas, não posso
simplesmente dizer: Deus criou as estrelas. Esta resposta é perfeitamente aceitável do
ponto de vista da religião, mas para a ciência, ela não acrescenta muita coisa. Eu não
aprendo nada sobre a física das estrelas com esta resposta. A pergunta permanece:
como Ele criou as estrelas? Resposta: "Criou pela Sua palavra, ora". Sim, mas depois
que Ele falou, o que aconteceu? Elas apareceram do nada jáprontas ou se formaram
a partir da matéria que Ele havia criado no instante inicial? Existe ummecanismo físico,
com leis naturais que Ele criou para que elas se formassem? Para descobrir a resposta,
tenho que supor que este mecanismo existe, não dizer simplesmente: foi um milagre. É
verdade que foi milagre, mas como foi feito?
Percebe-se que a ciência e a fé podem atuar juntas, mas possuem objetivos distintos.
Não deveríamos tratar a investigação científica como se fosse uma ameaça, nem a
ignorância comose fosse uma virtude. A ciência é uma ameaça nas mãos de homens
incrédulos que a usam para negar o Criador. Nas mãos de servos de Deus, deveria ser
usada para glorificar o Criador. Oinimigo não é a ciência, mas o mal uso dela. Ciência
e fé precisam fazer as pazes, pelo menosna cabeça dos crentes. O mundo nunca vai
aceitar a autoridade da Bíblia, mas nós podemos ser crentes e cientistas sem comprometer
nossos valores e convicções. Haverá momentos em que será necessário rejeitar as teorias
científicas por estarem em clara contradição com o relato Bíblico,mas não podemos nos
precipitar em nossas conclusões para não cairmos em erro [Rempel, 2014].
2.2 Gênesis
Vou começar a discutir algumas possíveis interpretações para os primeiros dois capítulos
de Gênesis e como eles devem ser aceitos, apesar dos ataques da ciência secular.
Minha intençãoaqui não é apresentar bases científicas para o texto, apesar de que
faremos um pouco disto.Também não tenho a pretensão de apresentar a interpretação
definitiva do texto, pois foi escritoem uma linguagem simples e com poucos detalhes. Vou
fazer apenas um apanhado geral das teorias e deixar o veredito com o leitor. Tenho ouvido
de pessoas que abandonaram a fé cristã que professavam por causa de dúvidas quanto à
coerência científica da Bíblia, mas também de outros (biólogos e astrônomos) que eram
ateus e se tornaram Cristãos após estudarem o livrode Gênesis. No final das contas, a
pessoa crê se tiver fé e endurece o coração se não tiver. E sem fé é impossível
agradar a Deus.
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Primeiro, vou resumir o modelo mais aceito hoje pelos cosmólogos, conforme
apresentado por Malcolm Longair, ex-professor de Física da Universidade de
Cambridge.
Uma visão estritamente literal de Gênesis 1 sugere que esta seria a interpretação
correta.Aliás, para os que levam a Bíblia a sério, pode parecer a única interpretação
aceitável e quequalquer outra interpretação seria heresia e que outras posições estariam
comprometendo a inspiração e a inerrância das Escrituras. No entanto, muitas
perguntas levantadas pelo textopermanecem em discussão, gerando interpretações
alternativas. Por exemplo,
2.2.2.1 Se os céus foram criados no princípio mas não tinham astros, o que
havia neles?
• No primeiro dia da criação, Deus criou a luz, fez separação entre luz e trevas, e
chamouà luz Dia (Gn 1:3-5) e às trevas Noite. Que luz era esta que governava
o dia se o sol
só apareceu no quarto dia de criação (Gn 1:14-19)? Além disso, por que Deus
criou novamente os luminares no quarto dia e fez, de novo, separação entre o
dia (luz) e a noite (trevas)? Curiosidade: assim como em português, a palavra em
hebraico traduzida como “luz” (’owr) no primeiro dia tem a mesma raiz da palavra
traduzida como “luminar” (ma’owr) no quarto dia. O que aconteceu com a luz
do dia 1?
• Após a queda, a terra parece ter ficado menos produtiva e cheia de espinhos e cardos
(Gn 3:18-19). O que mais aconteceu? Por que a “criação geme” aguardando a
“manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8:19-22)?
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No dia 6 Deus criou o homem, “homem e mulher os criou”. Portanto, Deus criou
•
Adão e Eva no sexto dia. Mas, segundo Gênesis capítulo 2, algumas coisas
aconteceram neste sexto dia entre a criação de Adão e a criação de Eva:
Existem respostas para todas estas perguntas, mas não creio que alguém seja
tamanha au- toridade nas Escrituras para garantir o significado de tudo isso e achar que
quem pensa diferenteestá sendo herege. Eu mesmo tenho teorias para explicar cada uma
das questões que levantei, mas não sou autoridade para pregar isto como se fosse
verdade. Devemos admitir nossa ignorân-cia a respeito de muitas coisas nos primeiros
capítulos de Gênesis, pois o texto é curto, simplese adaptado à linguagem e conceitos
do homem da época.
ainda não brotava; porque ainda o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não
haviahomem para lavrar a terra.” Depois, Deus cria Adão, planta um jardim e põe o
homem lá parao lavrar e o guardar (Gn 2:15). Então, quem veio primeiro, o homem
ou as plantas? Algunstentam resolver este impasse dizendo que as plantas mencionadas
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Apesar de a Bíblia não nos informar a idade do Universo ou da Terra, uma leitura
direta deGênesis sugere um universo criado há poucos milhares de anos. Por outro
lado, mesmo com uma leitura direta, muitas questões permanecem em aberto e
qualquer tentativa de resposta deve recorrer a especulações sobre o que não está
explícito no texto. Além disso, existem fortes evidências científicas que apontam para
um universo com alguns bilhões de anos. É descorfortável a ideia de se reinterpretar o
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que fiz isto”. O problema desta interpretação é que parece transformar Deus em
cúmplice de uma mentira.
depois caiu bruscamente. Mas, a velocidade constante da luzé uma “vaca sagrada” da
ciência e não pode ser tocada. Outra tentativa, defendida pelo Dr.Humphreys, baseia-
se na teoria da relatividade de Einstein, que diz que o tempo é relativo epassa mais
rápida ou mais lentamente de acordo com o referencial onde é medido. Na teoriade
Humphreys, a Terra tem 6 mil anos e a fronteira final do universo tem bilhões de anos.
Se considerarmos o universo como um espaço tridimensional com a Terra
aproximadamente no centro, durante a criação um relógio localizado na terra teria marcado
seis dias, mas um relógio localizado na fronteira do universo teria marcado os bilhões de
anos necessários para a luz das estrelas mais distantes chegar até a terra no dia 4 da
criação. Esta teoria é pouco popular pois, obviamente, poucos são capazes de entendê-la
e só físicos experientes podem avaliar se o Dr. Humphreys cometeu erros ou não em
seus cálculos. De qualquer jeito, a teoria é fortementecriticada até mesmo por físicos
criacionistas.
2.2.9 Conclusão
Todas estas teorias têm suas dificuldades e o modelo científico apresentado nas
universidades também tem. Questões ainda sem resposta permanecem e deveríamos ser
cautelosos antes de tirar conclusões definitivas sobre estes assuntos. A Bíblia é clara
sobre a vontade de Deus para o homem, mas não tem intenção de ensinar ciência e o
ensino sobre as origens foi dado em umalinguagem simples e com poucos detalhes, de
forma que pudesse ser compreendida por qualquer pessoa em qualquer época.
Simplesmente temos que admitir que não sabemos com certeza os detalhes de como foi
que Deus criou o universo e devemos ser cautelosos e não dogmáticosquanto a este
assunto, admitindo nossa ignorância na interpretação de partes deste texto e na
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Como já mencionamos, o homem é o único ser vivo racional e que cultua o Criador.
Alémdisso, é o único que tem uma mente criadora (que desenvolve tecnologia), domestica
(ou domina) os animais, possui consciência e uma alma eterna (sua parte imaterial).
Tudo isso pode ser associado ao fato de termos sido criados à imagem de Deus. O
significado preciso dos termos “imagem” e “semelhança” de Deus com relação à criação
do homem são motivo de muita especulação entre teólogos, mas parece ser seguro afirmar
que eles se referem ao fato de com- partilharmos, em certa medida, dos atributos de
Deus. Aquilo que Deus tinha em perfeição e infinitude, Adão e Eva tinham de maneira
limitada. Corrobora para esta interpretação o fato de que o homem, ao gerar um filho, o
faz à sua imagem e semelhança, ou seja, com os mesmosatributos, conforme vemos
em Gn 5:1-3, onde a geração de Adão e Eva por parte de Deus écomparada à geração
de Sete por Adão, “E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua
semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete”.
Esses traços da imagem de Deus foram distorcidos após a queda de Adão, mas não
apagados.A prova disso é que Deus diz que ainda somos a imagem de Deus (Gn 9:6; I
Co 11:7; Tg 3:9). A regeneração e a santificação servem para moldar o cristão de acordo
com a Pessoa de Cristo, à imagem de quem algum dia seremos perfeitamente
conformados (Rm 8:29; II Co 3:18), demodo que “o segundo Adão” (Cristo) restaura
aquilo que o primeiro Adão perdeu.
É claro que a parte material do homem é transferida aos seus descendentes por
meio dageração natural. Mas como a parte imaterial ou espiritual passa de geração a
geração? Adãorecebeu sua alma diretamente de Deus no sexto dia da criação, mas qual
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é a origem da nossa? Três respostas têm sido apresentadas pelos cristãos [Chafer, 1976,
Ryrie, 2004, Nogueira, 2005]:
• Traducianismo: esses defendem que a alma também é transmitida de pai para filho
pelo processo de geração natural, assim como o corpo. O corpo e a alma do homem
se desen- volvem juntos no útero da mãe. O fato dos filhos possuírem
características psicológicas e emocionais semelhantes a seus pais dá apoio
indireto a essa posição. Um texto usadopara apoiar essa posição é Hb 7:9-10, “E,
por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi,que recebe dízimos, pagou dízimos.
Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai quandoMelquisedeque lhe saiu ao
encontro.”. Tal texto indica que Levi estava em Abraão, seuancestral distante,
pagando o dízimo. Se apenas a parte física de Levi estava em Abraão,o texto perde
o sentido. Uma crítica que se faz ao traducianismo é que ele implica que se a
substância imaterial de toda a raça humana estava em Adão, então Jesus teria
herdado a natureza pecaminosa, por consequência. Como resposta, os
traducianistas invocam a“imaculada conceição”, onde Deus teria protegido Jesus
de herdar o pecado quando Sua alma se formou no ventre de Maria, com base
em Lc 1:35.
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Dicotomia × tricotomia
Estes dois termos se referem à divisão do homem em duas partes, corpo e alma
(dicotomia), outrês partes, corpo, alma e espírito (tricotomia).
Não obstante o uso alternado entre os dois termos na Bíblia, existem também alguns
textos em que alma e espírito são claramente distinguidos:
João Calvino considerou que quando os termos alma e espírito são usados juntos no
mesmo verso, eles têm significados distintos; mas, quando a palavra espírito é usada
sozinha, ela tem o mesmo significado que alma (João Calvino, citado por [Constable, 2013]
no comentário sobre Ef 5:23).
Embora seja impossível chegar-se a uma conclusão inquestionável sobre este assunto
e muitas vezes os termos sejam usados como sinônimos nas Escrituras, entendo ser
correto manter uma distinção entre “alma” e “espírito” quando a Bíblia assim o faz. Seja
como uma divisão do euinterior ou como aspectos ou facetas distintas de uma mesma
substância incorpórea, o espírito parece estar mais ligado às coisas de Deus e a alma às
coisas do corpo. Como se o corpo fosse ajanela para o mundo, a alma a janela para o
corpo e o espírito a janela para Deus, como citado em [Chafer, 1976].
O sono da alma
Após a morte, tanto o espírito (Ec 12:7; Lc 23:46; At 7:59) quanto a alma (Ap 6:9)
retornama Deus. No entanto, alguns grupos, tais como os Adventistas do Sétimo Dia e
as Testemunhas de Jeová, ensinam que o corpo e a alma não podem ser separados.
Segundo eles, após a morte, a alma adormece junto com o corpo, ficando em um
estado inerte até o dia da ressurreição. A base bíblica para esse pensamento é
encontrada, principalmente, em alguns textos do Velho Testamento: Salmos 94:17, 115:17
e Isaías 38:18, que falam em “silêncio”; Salmos 6:5, fala em “esquecimento”; Eclesiastes
9:5, 6 e 10, de “inconsciência”; Daniel 12:2; Jó 14:12; Salmos 13:3.
Além desses, João 11:11 a 14; I Ts 4:13-15, falam de “sono”; Dn 12:13; Ap 6:11; 14:13,
falam de “repouso”. Apesar disso, a doutrina do sono da alma é um erro e a explicação
correta paratodos esses textos pode ser resumida com a análise de apenas um verso [da
Costa, 2014],
“Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma...asua memória ficou entregue ao esquecimento”, Ec 9:5.
O próprio Salomão explica onde se dá essa falta de memória dos mortos. Vejam:
“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na
sepultura, para ondetu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria
alguma” (v.10). Então, a palavra se refere ao corpo morto, inconsciente, que não mais terá
qualquer atividade “debaixo do sol” (Ec 9:6), na terra, mas com certeza saberá o que
estiver ocorrendo no céu (confira Lc 16:19-31; II Co 5:8; Fp 1:23; Ap 6:9).
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A revelação do Novo Testamento é clara sobre a vida consciente logo após a morte:
• Jesus disse ao ladrão na cruz, “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43);
• Paulo disse que era melhor partir e estar com Cristo (Fp 1:23);
• As almas dos decapitados da tribulação clamam no céu por justiça (Ap 6:9);
• O rico e Lázaro foram levados vivos e conscientes para o além (Lc 16:20-23);
Os textos que falam dos crentes “dormindo” referem-se ao descanso das lutas dessa
vida e àimagem do corpo no túmulo, aguardando a ressurreição
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AULA 3
O PECADO
Uma série de palavras são usadas na Bíblia para se referir ao pecado, de onde
obtemos um entendimento desse importante doutrina. No hebraico do Antigo
Testamento, alguns exemplos são [Ryrie, 2004]:
•Chata: usada 522 vezes no Velho Testamento, significa “errar o alvo”, sendo usada para
pecados morais, idolatria e pecados cerimoniais. Ex: Ex 20:20; Jz 20:16; Pv 8:36;
19:2;
•Ra: usada 444 vezes no Velho Testamento, significa “quebrar” ou “romper”, sendo
usada para indicar calamidades ou males. Ex: Gn 3:5; 38:7; Is 45:7;
• Pesha: significa “rebelar”. Ex: I Re 12:19; Sl 51:13;
• Shagag: significa “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um bêbado (Is 28:7);
No Novo Testamento, uma série de outras palavras são usadas, de onde destacamos duas:
Hamartía, que também tem a ideia de “errar o alvo” (Mt 1:21; Jo 1:29; At 2:38), e
Hypócry- sis, que significa “interpretar falsamente”, “fingir” (como Pedro em Gl 2:11-21) ou
“seguir uma interpretação” falsa (I Tm 4:2).
Vemos que o pecado pode ser entendido como “errar o alvo”, ou seja, desobedecer a
vontadede Deus. Isso pode ser feito intencionalmente, com um coração perverso, ou por
ignorância, mas sempre o homem é responsabilizado por buscar saber e cumprir a
vontade de Deus. Conforme William MacDonald, “o pecado é qualquer ato ou palavra
que não esteja exatamente de acordo com a perfeição de Deus (Rm 3:23). É
Curso Básico de Teologia 30
“Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles
buscarammuitas astúcias”, Ec 7:29.
Já comentamos o pecado original de Satanás e seus anjos nas seções 6.3 e 6.4.1.
Com relação à queda do homem, Adão voltou suas costas a Deus e caiu em pecado. O
mal, então, será o caminho de todos os homens, sendo a redenção o único escape.
Redenção acontece quando Deus inocenta a humanidade por meio da oferta do Messias
para que o indivíduo se torne justo pela fé [Couch, 2010].
Adão e Eva caíram pelas sutis palavras da serpente, perdendo o estado de inocência
de que eles desfrutavam em relação ao Senhor. Os rabinos judeus fazem o seguinte
comentário sobre a queda:
“Deus não deu nenhuma razão para a ordem de não comer da árvore (do bem
e do mal). Mas a serpente sugeriu que o Senhor estava com inveja do que o
homem iria setornar se comesse do fruto proibido. Com seus olhos abertos, eles
teriam uma nova fonte de conhecimento, escondida da visão ordinária. Satanás
agora sugere que eles seriam revestidos de um poder que estava reservado
apenas a Deus...a mulher olhou para a fruta com um novo desejo...ela dá as costas
aos impulsos de gratidão, amor e responsabilidade para com Deus. A estória é um
espelho da experiência humana. O conhecimento obtido não era felicidade,
sabedoria ou poder, mas consciência do pecado e seu conflito com avontade de
Deus. Em seguida, vem a vergonha, o medo e a tentativa de se esconder. Eles
abandonaram sua inocência. Um único preceito lhes foi dado e mesmo isso foi
demais pra eles!”, [Cohen and Rosenberg, 2010].
Assim como na queda do diabo, é difícil saber como ou por quê se originou o
pecado emuma criatura originalmente desprovida de natureza pecaminosa, como o
homem. De algumaforma, Adão e Eva caíram por sua própria escolha, sendo totalmente
responsáveis pela queda e nunca podemos culpar Deus pela origem do pecado.
Todavia, precisamos tomar cuidado paranão cairmos no erro de achar que há um poder
maligno que existe eternamente no universo assimcomo o próprio Deus. Isso é o que
ensina o dualismo, a existência de dois poderes igualmente supremos, um bom e outro
mau. Em contraste com o dualismo, muitos teólogos argumentamque o pecado ou o
princípio do mal não possui independência em relação ao bem. O bemé totalmente
independente do mal, no sentido de que não necessita do mal; e. g. o amor seria
eternamente o mesmo, mesmo que não houvesse o ódio. O mal, por outro lado, só vem
à existência em contraste com o bem. Como a oposição sugere algo que é oposto, o mal
Curso Básico de Teologia 31
“E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será
Deus injusto, trazendo ira sobre nós? (Falo como homem.)”, Rm3:5;
“...pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua...”, Rm 3:7b.
A queda permitiu que Deus revelasse Seu amor ao dar Seu Filho para salvar homens
maus:
“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo
nós aindapecadores”, Rm 5:8.
“E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder,
suportoucom muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para
Curso Básico de Teologia 32
que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia,
que para glória já dantes preparou”, Rm 9:22-23.
“Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de
Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem
agradar a Deus.”,Rm 8:7-8;
“Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem,
não há nem um só.”, Rm 3:12;
“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da
imundí- cia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades
como um vento nosarrebatam.” Is 64:6.
Esses textos não significam que o homem é incapaz de fazer atos de bondade
ou que oshomens não têm nenhuma forma de domínio próprio. Na verdade, conhecemos
pessoas sem Deus que fazem muita caridade; no entanto, o que a depravação total quer
dizer é que o homem é incapaz de fazer qualquer coisa que o torne aceitável ou
justificado aos olhos de Deus.
Pelagianismo
Pelágio foi um monge bretão que pregou em Roma por volta do ano 400. Ele
acreditava queDeus não poderia ordenar aos seres humanos que fossem santos se isso
não fosse possível. Assim,ele ensinava que todos podem viver uma vida sem pecados.
Ele ensinou que o homem foi criado neutro – nem santo nem pecador – e com livre arbítrio
para escolher entre pecar e fazer o bem. Para ele, Adão não transmitiu a natureza
pecaminosa ou a culpa pelo pecado à sua descendência.
Semipelagianismo
Agostinho de Hipona opôs-se aos ensinos de Pelágio e afirmou que o homem era
totalmenteincapaz de ser justo, necessitando contar somente com a graça de Deus. O
semipelagianismo é uma posição intermediária entre o agostinismo (com forte ênfase na
predestinação e depravação do homem) e o pelagianismo (com sua insistência na
capacidade de o homem escolher o bem).O semipelagianismo ensina que o homem não
é totalmente depravado, mas retém certa liberdadesegundo a qual pode cooperar com a
graça de Deus. Na regeneração, o homem escolhe Deus, que, depois, acrescenta sua
graça.
Neo-ortodoxia
Proposta pelo teólogo alemão Karl Barth na década de 1920, a neo-orodoxia afirma que
o relato da queda de Adão não é um fato histórico. Adão não foi um ser verdadeiro,
Curso Básico de Teologia 34
Pergunta: Se a Bíblia deixa claro que todos pecam, por que o Velho Testamento
menciona alguns homens que guardaram a Lei de Deus com “perfeição” (I Re
14:8)?
Logo, todos os membros da raça humana pecaram em Adão no Éden. Como nosso
cabeça, Adão pecou e Deus nos considera condenáveis, ou seja, o pecado de Adão
nos foi imputado ou atribuído. Assim, somos vistos como pecadores ainda antes de
cometermos nosso primeiro pecado, pelo simples fato de sermos descendentes de Adão,
“Eis que em iniqüidade fui formado,e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5).
Somos, por natureza, filhos da ira (Ef 2:3).Já nascemos com a condenação e a dívida
de Adão (pecado imputado) e com a tendência depecar de nossos pais (pecado
herdado).
Alguns podem achar injusto que o pecado de Adão nos seja imputado, afinal de
contas, senão decidimos pecar com Adão, por que recebemos sua condenação?
Como resposta, bastamencionar que mesmo que não tivéssemos sido considerados
culpados em Adão, nossos atos pecaminosos já seriam suficientes para nos condenar e,
de fato, é por eles que os homens serão julgados no Juízo Final, “E os mortos foram
julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” (Ap
20:12). Além disso, vale lembrar que da mesma forma como morremos em Adão pela
imputação de seu pecado a nós, também somos vivificados em Cristoe justificados
pela imputação da Sua justiça a nós, como afirma Rm 5:18-19, citado acima. O
primeiro homem (Adão), pai de todos nós, pecou – e Deus considerou-nos culpados. Mas
último Adão (Cristo, I Co 15:45-47), em quem estão todos os crentes, obedeceu a Deus
perfeitamente na cruz – e Deus considerou-os justos. Deus considera toda a raça
humana posicionada em Adão, seu cabeça. E Deus também vê a nova raça de
cristãos, redimidos por Cristo, como posicionados em Cristo.
Este princípio da posição pode ser difícil para nós, ocidentais, entendermos hoje,
mas fazparte do pensamento Bíblico, como podemos ver em outro contexto no livro
de Hebreus:
“E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou
dízimos.Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai quando Melquisedeque lhe
saiu ao encontro.”,Hb 7:9-10.
O autor claramente diz que Levi, embora só fosse nascer 200 anos depois, na verdade
entre-gou seu dízimo a Melquisedeque por meio de seu bisavô, Abraão. O ancestral,
Abraão, possuía em seu “interior” seu descendente, Levi. De maneira similar, Adão,
nosso ancestral, possía todosnós [Ryrie, 2004].
Devemos admitir que esse assunto não tem uma resposta clara nas Escrituras e, além
disso, sabemos que desde muito cedo as crianças tomam consciência de seus pecados
e são capazes de compreender o evangelho, tornando-se responsáveis por suas
escolhas. Isso deve nos estimular a evangelizar as crianças desde o berço.
Se de fato as criancinhas são salvas, não seriam salvas por méritos próprios ou
inocência, mas por uma aplicação do sangue de Cristo sobre elas, dentro da
predeterminação de Deus. Wayne Grudem considera que Deus pode operar o novo
nascimento mesmo em bebês [Grudem, 1999], como fez com João Batista (Lc 1:15),
mas isso me parece ser um caso isolado.
Curso Básico de Teologia 37
Talvez você já tenha ouvido alguém dizer “não existe pecado, pecadinho e pecadão; todo
pecadoé igual perante Deus”. De certa forma, é verdade que todo pecado é suficiente
para demonstrar que somos culpáveis diante de Deus e merecedores do inferno,
como disse Tiago,
Assim, pelas obras da Lei, nenhuma carne será justificada diante de Deus (Gl
2:16). No entanto, a Bíblia também fala que existe diferença entre pecados; Jesus disse
que o pecado de Caifás, ao entregá-lo a Pilatos, era maior que o do governante (Jo
19:11). Como Caifás era osumo sacerdote, tinha maior esclarecimento da Palavra de
Deus do que Pilatos e, portanto, maiorresponsabilidade. O mesmo é dito a respeito do
pecado de Corazim e Betsaida em comparação com o pecado de Tiro e Sidom, pois
todas essas cidades rejeitaram Deus, mas as duas primeiras viram os milagres de
Jesus, enquanto as duas últimas não. Assim, “haverá menos rigor paraTiro e Sidom,
no dia do juízo” do que para Corazim e Betsaida (Mt 11:22). O mesmo é dito a
respeito de Cafarnaum em comparação com Sodoma (v. 23-24). Logo, o pecado de
algumas cidades foi considerado maior do que o de outras, sendo merecedor de
maior punição. Note,também, os seguintes textos:
“qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe
fora quese lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na
profundeza do mar”,Mt 18:6.
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a
doutrina que aprendestes; desviai-vos deles”, Rm 16:17.
“Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for
devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com
o tal nem aindacomais”, I Co 5:11.
Deus é luz e abomina qualquer pecado, mas fica claro por esses e outros textos
que existealgum aspecto sob o qual Deus considera alguns pecados maiores do que
outros, pois Ele nãomanda que tratemos todo pecado de maneira igual. Isso revela a
justiça de Deus, que dará acada um segundo as suas obras (Mt 16:27).
a intenção do coração. Toda violação da Lei de Deus é pecado, mas aquela que é feita
conscientemente é pior do que a que é feita por ignorância:
“E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme
a suavontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez
coisas dignasde açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que
muito for dado, muitose lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se
lhe pedirá”, Lc 12:47-48.
“ E, se alguma alma pecar por ignorância, para expiação do pecado oferecerá uma
cabra deum ano. E o sacerdote fará expiação pela pessoa que pecou, quando pecar
por ignorância,perante o Senhor, fazendo expiação por ela, e lhe será perdoado.
... Mas a pessoa quefizer alguma coisa temerariamente, quer seja dos naturais
quer dos estrangeiros, injuriaao Senhor; tal pessoa será extirpada do meio do
seu povo. Pois desprezou a palavra do Senhor, e anulou o seu mandamento;
totalmente será extirpada aquela pessoa, a sua iniquidade será sobre ela.”, Nm
15:27,28,30,31.
Devemos lembrar que existem duas naturezas em cada cristão (Rm 7:14-25). Uma
é a velhanatureza maligna e corrupta que nasce com ele. A outra é a nova natureza
pura e santa queele recebe na sua conversão. A velha natureza é completamente
má. A experiência de Paulotambém é a nossa. Ele disse: “Porque eu sei que em
mim, isto é, na minha carne, não habitabem nenhum” (Rm 7.18a). Portanto, nunca
devemos procurar uma tendência boa na nossavelha natureza, e nunca devemos ficar
desapontados ou surpreendidos quando não encontramosessa tendência boa. Ela não
só é completamente má, é incuravelmente má! Depois de uma vida inteira tentando ser
correta, ela não ficará melhor do que era quando essa vida começou. De fatoDeus não
tem interesse em melhorar a velha natureza. Ele condenou-a na cruz do Calvário, e
Curso Básico de Teologia 39
quer que nos mantenhamos alheios a todas as tentativas que ela faz para controlar as
nossas vidas.
Paulo igualou a velha natureza a um cadáver amarrado às suas costas. (É claro que
o corpo estava se decompondo e cheirava mal.) Tinha que transportá-lo onde quer
que fosse, o queo fazia gritar de angústia: “Desventurado homem que sou! Quem
me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24).
A nova natureza é a vida de Cristo e por isso mesmo é totalmente boa, tendo
capacidade para fazer somente o bem. É pura, nobre, justa, cheia de amor e
verdadeira. Todos os seuspensamentos, desejos, motivos e ações são semelhantes a
Cristo. Não é de se admirar que duas naturezas tão opostas estejam sempre em
constante conflito. A batalha que começou com aconversão continuará durante toda
a vida. Nunca se está de licença nesta guerra, só a morteou o Arrebatamento nos
darão a liberdade, mas seremos libertados da nossa velha natureza no momento em
que virmos o Salvador, pois ao vê-lO seremos feitos semelhantes a Ele.
Não devemos desculpar o nosso pecado culpando a velha natureza. Essa forma de
transfer- ência de culpa não funciona. Deus responsabiliza a pessoa e não a
natureza. Talvez já tenha
Como nota final, chamamos a atenção para dois erros que devem ser evitados, as
ideias de perfeccionismo e antinomismo. O perfeccionismo ensina que é possível que o
Cristão atinja um estado de consagração tal que ele não peca mais. Essa doutrina
contraria o ensino claro das Escrituras de que todos pecam, como mencionamos
anteriormente. Já o antinomismo afirma que os Cristãos não estão debaixo da Lei,
portanto, têm licença para pecar, pois onde abundouo pecado, superabundou a graça.
Este é um erro antigo, já combatido por Paulo em Rm 6. Na verdade, não estamos
debaixo da Lei de Moisés, mas sim da Lei de Cristo.
Curso Básico de Teologia 40
AULA 4
A SALVAÇÃO
“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça
de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos
inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós
mesmos ou um anjo do céu vosanuncie outro evangelho além do que já vos tenho
anunciado, seja anátema”, Gl 1:6-8.
Chegamos a um ponto crucial do estudo da fé cristã. É aqui que ocorrem as maiores
divisões,as discussões mais acaloradas e os debates intermináveis. É também aqui que
os erros se tornam mais graves e suas consequências mais severas, uma vez que se
errarmos no entendimento do evangelho de Cristo, poderemos estar incorrendo no
anátema mencionado por Paulo no texto acima. A palavra grega “anátema” significa
“maldição” ou “amaldiçoado”, e representa alguém separado de Deus ou condenado
(veja Rm 9:3). Assim, é de suma importância que se cultiveum entendimento bíblico
da doutrina da salvação. Felizmente, essa não é uma tarefa das mais complicadas, uma
vez que o evangelho são as boas novas de salvação oferecidas a todos, podendo ser
compreendidas até por uma criança. É interesse de Deus salvar os pecadores e Ele
revelou Sua vontade de maneira clara nas Escrituras. É verdade que existem algumas
questões complicadas associadas com a doutrina da salvação, tais como a
predestinação, mas um entendi-mento profundo dessas questões não é necessário
para a salvação.
“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me
salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua
casa”, At 16:30,31.
“Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o
Filho, ecrê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”, Jo 6:40.
“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna, porCristo Jesus nosso Senhor”, Rm 6:23.
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, Jo 3:16.
“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus
Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé
em Cristo, e nãopelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne
será justificada”, Gl 2:16.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom
de Deus.Não vem das obras, para que ninguém se glorie”, Ef 2:8.
“Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é
graça. Se,porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já
não é obra”, Rm 11:6.
“Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
imputadacomo justiça”, Rm 4:5.
O último verso acima nos remete à Hamartiologia, onde comentamos sobre o pecado
imputado e a justiça imputada. O que nos faz pecadores é que Deus vê o pecado de Adão
imputado na nossaconta (além dos nossos próprios pecados). Mas, pela fé em Jesus
como Senhor e Salvador, Sua justiça é imputada a nós e o pecado (nosso e de Adão)
é removido e colocado sobre o Messiasna cruz. Tudo isso é feito por uma transação
de Deus, conforme o plano que Ele traçou pararedimir o perdido [Couch, 2010]. O texto
é claro. Se você crer, será justificado diante de Deus, mesmo sem obras. Essa promessa
não é só para quem pecar pouco, mas para os ímpios (do grego asebes: irreverentes,
perversos, sem Deus). Suas maldades (do grego anomia: perversidades, transgressões
da Lei, iniqüidades) são perdoadas. Deus justifica o ímpio se ele crer. Nenhum
pecado lhe é imputado. Está puro, santo, sem dívida nenhuma para com Deus. Por
quê? Sóporque creu.
Este assunto é tão sem sentido para o homem natural que se pode dividir as
religiões domundo em dois grupos: A religião do “faça” e a religião do “feito”. De um
lado, estão todas as religiões que dizem ser necessário ao homem fazer algo para
Curso Básico de Teologia 42
alcançar ou merecer a salvação. De outro lado, a religião que diz que a obra redentora
já foi feita na cruz; “está consumado”,não há nada que eu ou você possamos fazer
para complementar o sacrifício de Cristo na cruz.Ele é perfeito e perfeitamente capaz
de justificá-lo diante de Deus, se você tão somente crer.
A salvação não depende de seus esforços para cumprir a Lei de Deus, nem de seus
votos defidelidade ou do quanto você ama Deus. A salvação é obra do SENHOR,
não sua. Apenas receba:
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de
Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da
vontade da carne,nem da vontade do homem, mas de Deus”, Jo 1:12-13.
Se tomarmos como padrão a Lei de Deus, Tg 2:10 diz: “Porque qualquer que guardar
toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”. Culpado de todos no
sentido de ser considerado transgressor da Lei. Qualquer pecado que cometemos é
suficiente para nos lembrar de quem realmente somos: pecadores. Nosso problema não
é a quantidade ou gravidade dos pecados que praticamos. Nosso problema é que somos
pecadores, e isso basta para nos afastar de Deus. Em nenhum lugar das Escrituras está
escrito que podemos apagar pecados com boas obras. A única coisa que apaga nossos
pecados é o sangue de Cristo. Se não fizemos nada para merecer a salvação, como
poderíamos fazer algo para desmerecê-la mais do que já desmerecemos?
Certa vez, após expor o evangelho da graça na igreja, me perguntaram: “mas então
por que se diz que o caminho é estreito? Se é só crer, então é muito fácil”. Minha
resposta foi que o caminho é estreito não por ser muito difícil, mas por ser muito
simples. Poucos acreditam nele. A religião do “faça” faz mais sentido para a mente
do homem natural do que a religiãodo “feito”. A lógica humana nos diz que precisamos
fazer algo para merecer a salvação. Nossacarne gosta de se gloriar diante de Deus. A
religião do feito diz que Deus foi humilhado na cruz para pagar TODO o preço por
nossos pecados, o que é “escândalo para os judeus, e loucurapara os gregos” (I
Co 1:23).
O Espírito Santo é o selo de garantia de nossa salvação até o dia da posse de nossa
herança. A segurança dos crentes também é garantida pelas palavras de Jesus:
Curso Básico de Teologia 43
“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o
lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a
vontade daquele queme enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que
nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último
dia. Porquanto a vontade daquele queme enviou é esta: Que todo aquele que vê
o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”, Jo
6:37-40.
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida
eterna”, Jo 6:47.
O que vem a Cristo não será lançado fora. É promessa de Cristo. Esta é a missão
dEle, eEle não falha! Se você olhar para Jesus e crer nEle, será salvo e ressuscitado no
último dia. Será filho de Deus e nova criatura (II Co 5:17). Você se tornou nova
criatura pela fé, não pode se tornar velha criatura de novo pelas obras (apesar de que
você pode agir como se fosse velha criatura). Nada pode te afastar do amor de
Deus:
“Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura,
nem a profundidade,nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de
Deus, que está em Cristo Jesusnosso Senhor”, Rm 8:38-39.
E se pecarmos? Quando isso acontecer, saiba que temos um advogado junto ao Pai,
e nosso advogado nunca falha (I Jo 2:1).
Como temos visto repetidas vezes, nunca poderemos ser justos o bastante para
merecermos o céu, por isso Deus nos imputa Sua justiça:
“Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como
justiça”,
Rm 4:3.
“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras?
Porventuraa fé pode salvá-lo?”, Tg 2:14.
“Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o
nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o
seu filho Isaque?Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras
a fé foi aperfeiçoada.”, Tg 2:20-22.
Curso Básico de Teologia 44
A impressão que temos é que Tiago quer contrariar Paulo abertamente. Em face
desse texto,muitos têm tido crises com a doutrina da salvação. Nesse caso, temos
três alternativas:
Não sei quanto a você, mas eu não estou disposto a seguir nenhuma das 2 primeiras
alterna- tivas. Como creio na autoria do Espírito Santo para todos os livros das
Escrituras, devo seguiruma regra básica de Hermenêutica: os textos mais obscuros
devem ser entendidos à luz dostextos mais claros, pois as Escrituras não podem se
contradizer. Então, provavelmente Tiago quer enfatizar algo diferente do que
Paulo.
Uma interpretação de Tiago 2, popular no meio evangélico, diz que a fé que salva é
uma fé que produz obras. Se você diz que tem fé, mas não tem obras, então você
não tem a fé ver- dadeira. Mas, vamos tentar esclarecer melhor isso, pois existem
algumas dúvidas. Por exemplo, quantas obras são necessárias para que eu me considere
salvo, ou possuidor da fé salvadora? Todo mundo, por mais ímpio que seja, tem algumas
boas obras. Deixo bem claro que eu creio que o verdadeiro crente vai frutificar, a 30, 60
ou 100 por 1, mas esses frutos podem ser difíceis de se perceber em algumas pessoas
e isso é muito subjetivo para servir de base para estabelecera doutrina da salvação.
Creio que Tiago tem algo muito importante para dizer aos crentes. Note que, na
carta, Tiago refere-se aos leitores como “irmãos” e segue com uma coleção de
exortações, que incluema caridade. Estas exortações não têm nada a ver com o que
precisamos fazer para receber a vida eterna. Ele quer que haja coerência entre o
que falamos e o que fazemos. Ele não estáexplicando o que você precisa fazer para
ser salvo, mas sim o que você precisa fazer se você diz que é salvo. Dentro desta
exortação, não se exclui a validade de alguém perguntar a si mesmo se realmente
entendeu o evangelho, pois o novo nascimento produz mudança de vida. Mas, em
princípio, Tiago não está ensinando como ser salvo, nem tem a intenção de contradizer
o ensino de Paulo. O texto serve de alerta para três classes de pessoas:
1. A pessoa que DIZ que tem fé (v. 14), mas na verdade não tem, e está perdida;
2. A pessoa que crê que Deus é um só (v. 19), o que não quer dizer muita coisa, pois até os
demônios e algumas religiões pagãs crêem. Crer que Deus é um só não é a mesma coisa que
confiar em Jesus como seu único e suficiente salvador;
3. A pessoa que crê no evangelho, mas como não leva uma vida de obediência a Deus, sua
fé não tem proveito prático (v. 16).
Curso Básico de Teologia 45
É como se ele estivesse dizendo: “eu não sei se vocês são salvos ou não. Não me
diga que você tem fé, mostre-me que você tem fé. Eu não vejo o coração, mas vejo
as obras, e por elas você não parece salvo. Pode ser que você não seja, porque se
você somente professou afé e fez uma oração de conversão, mas não houve nenhuma
mudança no seu coração, apenas religiosidade externa, não houve novo nascimento.
Acreditar em alguns fatos sobre Deus e ser batizado não significa que você confiou
pessoalmente em Jesus como salvador. Por outro lado, se você realmente se
converteu, não pode viver como se fosse um corpo sem espírito. Devemostrar a fé
que tem, como Abraão fez, sendo justificado pelas obras.”
Como assim, justificado pelas obras? Somos considerados justos perante Deus pela
fé para salvação da alma, mas somos considerados justos perante os homens pelas obras
para demonstrara salvação. Assim, as obras aperfeiçoam a fé.
Conclusão: pratique as obras diligentemente, mas nunca confie nelas para ser salvo.
4.2.2 Arrependimento e fé
O fato de alguns cristãos professos não exibirem frutos de salvação tem levado muitos a
ques- tionarem as conversões em massa que ocorrem em cruzadas evangelísticas e
cultos em mega igrejas. Em uma tentativa de diminuir o número de falsas conversões,
alguns têm enfatizado a necessidade de arrependimento e comprometimento no
momento da conversão. Assim, além de receber Jesus como seu salvador, seria
necessário recebê-lo como Senhor da sua vida para que houvesse um genuíno novo
nascimento. Para esses, receber Jesus como Senhor significa se arrepender de seus
pecados, se comprometer a abandoná-los e seguir Jesus. O problema dessa posição é
que parece acrescentar algo mais além da fé para que alguém seja salvo. Note o que diz
A. W. Pink, um dos defensores dessa posição:
É claro que submeter-se ao senhorio de Cristo faz parte da vida cristã e todo
crente pro-fesso deve ser instruído a fazer isso em sua vida diária. Mas, isso é algo que
deveríamos incluir como condição necessária ou pré-requisito para que alguém
receba Jesus como salvador? Oque você diria a uma pessoa, “venha como está” ou
“venha abandonando seus pecados”? Não somos salvos porque confessamos todos
os pecados, nem porque prometemos que vamos largá-los, nem porque consagramos
nosso coração a Deus. Aliás,Deus não quer nosso coração se ainda não nascemos de
novo, pois Ele não quer um coração de pedra. Ele primeiro precisa trocar o coração de
Curso Básico de Teologia 46
pedra por um coração de carne por meio do novonascimento para que possamos
consagrar o novo coração a Ele.
Apesar do que foi dito acima, é claro na Bíblia que o arrependimento faz parte da
mensagem do evangelho (veja At 2:38; 17:30; II Pe 3:9). O que é esse arrependimento
e por que devemos confessar Jesus como Senhor para sermos salvos (Rm 10:9)?
Arrepender-se significa “mudar a mente” (metanoeo). No processo de salvação, a
pessoa precisa mudar sua mente a respeito do seu pecado, a respeito de quem Jesus é
e a respeito do Seu sacrifício na cruz [Couch, 2010]. Confessar Jesus como Senhor não
é prometer que vai obedecê-lo, isso seria confiar na carne e é exatamente o que os
judeus fizeram na velha aliança:
“Então todo o povo respondeu a uma voz, e disse: Tudo o que o Senhor tem
falado,faremos”, Ex 19:8a,
pouco depois eles estavam adorando o bezerro de ouro. Deus não se impressiona com
nossas promessas, Ele só requer fé para a salvação, nem que seja como um grão de
mostarda. ConfessarJesus como Senhor é crer que Ele é o Senhor, ou seja, é Deus.
Isso vai nos fortalecer para vencermos o pecado e nos submetermos a cada dia à Sua
autoridade, mas esse é o processo de santificação progressiva, não de salvação.
Em resposta a isso, a Bíblia afirma não só que Jesus salva, mas que só Cristo salva:
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai,
senão pormim.”, Jo 14:6.
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.”, At
4:12.
O cristianismo é exclusivista por natureza. Não existe salvação em nenhuma outra
crença.Este é um fato que não podemos negligenciar, mesmo sob o risco de perdermos
a simpatia dos outros. Não existe meio termo, é Jesus ou nada:
“Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto
não crê no nome do unigênito Filho de Deus”, Jo 3:18.
Curso Básico de Teologia 47
Mas, alguém dirá: “como então se salvam aqueles que nunca ouviram falar de
Jesus?” Por não se satisfazerem com a resposta Bíblica para esta pergunta, os
“inclusivistas” crêem que Deus vai salvar os “bons” de todas as religiões. Os
“universalistas” dizem que todos irão ser salvos,pois Cristo morreu por todos. Basta
ler o texto acima (Jo 3:18) e também Jo 3:16 para saberque somente os que crerem
em Jesus serão salvos. Não nos compete alterar as Escrituras para torná-las mais
facilmente aceitáveis.
“Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois,
invocarãoaquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não
ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?”, Rm 10:13-14.
A conclusão lógica é que todos os povos pagãos estão perdidos, pois não invocaram
aquele em quem não creram. Injusto? Não, um juiz nunca é injusto por condenar
criminosos. Se nãoacreditarmos nesse fato, nunca mais mandaremos missionários para
evangelizá-los. Melhor deixarque eles se salvem de outro jeito.
O inclusivismo ensina que apesar de a salvação ter-se tornado possível por Jesus
Cristo, nãoé necessário conhecer Jesus ou o que Ele fez para ser salvo. Assim, a
salvação poderia ser encontrada no Budismo, Hiduismo, Islamismo, etc. Isso pressupõe
que o deus (ou, pelo menos, o deus supremo) dessas religiões é o mesmo Deus da Bíblia,
o que claramente não é verdade. Não somos juízes das almas, apenas comunicamos a
sentença já determinada pelo Juiz. A humanidade está separada de Deus e não quer
segui-lo. São mortos que precisam nascer de novo. Se o Espírito Santo de Deus não
intervier por meio da pregação do Evangelho de Cristo, o homem não pode fazer
nada.
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”,Rm 10:17.
“Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua
sabedoria,aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.”,I Co
1:21.
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês
tu isto?”, Jo 11:25-26
Curso Básico de Teologia 48
4.4.1 Expiação
A palavra hebraica traduzida como expiação é kaphar, que significa cobrir, tendo o
sentido de que os pecados são cobertos pelo sangue. A palavra também denota
reconciliação. Expiaçãovicária, ou substituição penal, significa que Cristo sofreu como
nosso substituto (ou vigário), ou seja, em nosso lugar. Isso tornou possível que nossos
pecados fossem pagos.
“Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está
assentadoà destra de Deus”, Hb 10:12.
4.4.2 Redenção
Redenção significa resgate, ou libertação por meio do pagamento de resgate. Éramos
escravose Cristo nos libertou, pagando o preço do resgate com Seu próprio sangue: Note
os textos I Co 1:30 (Jesus é nossa redenção); Mc 10:45 (o Filho do Homem veio dar Sua
vida em resgate); I Tm 2:5-6 (Jesus deu Sua vida em preço de redenção por
todos).
Uma pergunta surge naturalmente nesse contexto. De quem Ele nos libertou?
Para quemfoi pago o preço? Uma teoria introduzida por Orígenes de Alexandria (185
– 254 A. D.) afirmaque Jesus morreu na cruz para pagar o preço ao diabo, dono das
almas dos homens perdidos.Satanás aceitou o preço e libertou os homens em troca do
Filho de Deus. No entanto, Satanás não sabia que Jesus iria ressuscitar, de forma que
Deus “virou o jogo” no final. Essa teoria do resgate é ensinada por C. S. Lewis no
livro As crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupas.
O problema dessa teoria do resgate é que ela ensina que Jesus teria feito um acordo
com o diabo, o que não é ensinado em lugar nenhum da Bíblia. A Bíblia também nunca
Curso Básico de Teologia 49
diz que Jesus derramou Seu sangue para o diabo, muito pelo contrário, o sangue foi
derramado para Deus,como pode ser visto em textos como Ef 5:2 e Hb 9:12-15. Da
mesma forma, os sacrifícios doVelho Testamento eram oferecidos a Deus, não ao
diabo.
Note que Hb 2:14-15 deixa claro que Jesus morreu não para pagar o diabo, mas
para aniquilá-lo e libertar os escravos do pecado e do império da morte.
4.4.3 Remissão
Uma palavra similar a redenção é remissão (ga’al), em geral usada no Velho
Testamento no contexto de um parente que paga o preço para recuperar a
propriedade da família que haviamudado de dono (veja Rt 4). Simbolicamente, Jesus
pagou o preço para recuperar aquele que se havia perdido. Note o uso dessa palavra
no texto abaixo:
“Eu os remirei (padah=resgatar,libertar) da mão do inferno, e os resgatarei
(ga’al=remir) da morte. Onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó
inferno, a tua perdição?”,Os 13:14a.
4.4.4 Propiciação
“E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas
também pelos de todo o mundo.”, I Jo 2:2.
“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a
paciência de Deus”, Rm 3:24-25.
Propiciação significa desviar a ira fazendo uma oferta. A ira de Deus foi aplacada
por meiodo sacrifício expiatório de Cristo.
Se a ira de Deus já foi aplacada com a morte de Cristo, então o que o pecador
pode fazer para tentar aplacar Sua ira? A resposta é: nada. Ele já está acalmado,
aplacado e eternamente satisfeito [Ryrie, 2004].
soberna’ (sic). Não opercebo com começo, meio e fim da história prontos; ou que
no presente esteja contente em administrar cada nano evento preordenado em
sua providência.”
Ou seja, ele afirma que a história não tem começo, meio e fim prontos, mas se
desenrola de acordo com o livre arbítrio do homem. Como pode, então, Deus saber o
futuro com precisão?O teísmo aberto diz que Ele não sabe; a teologia relacional
prefere se omitir.
“...não se pode conceber que Deus tenha decidido na eternidade que a missionária
fulana de tal seria estuprada numa esquina de São Paulo, para cumprir um
propósito, pois nesse caso, o estuprador está isento de responsabilidade...Essa
coisa de ‘Deus tem um plano paracada criatura’ é incoerente em relação à fé cristã,
pois seres criados à imagem e semelhança de Deus não podem ser privados da
liberdade. Ou os seres humanos são responsáveis pelos seus destinos, ou não
podem ser julgados moralmente”.
“Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu
faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão”, Dt 32:39.
“...receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não
pecou Jócom os seus lábios”, Jó 2:10b.
“... eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que
anuncio ofim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não
sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha
vontade”, Is 46:9b-10.
“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas
foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma
delas havia”, Sl 139:16.
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amama Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”, Rm 8:28.
Curso Básico de Teologia 52
Descanse. Você não precisa entender todas as coisas, mas pode confiar que a mão
de Deus está em todas elas para o seu bem e para honra e glória do Seu nome. Ele,
de fato, está nocontrole.
Com relação à salvação, tal ponto de vista encontra certa base nas Escrituras:
1 - Existe um problema com a idéia de que o homem pode aceitar Jesus por livre e espontânea
vontade. A questão é que a vontade do homem é corrompida e o homem em seu estado natural não
entende a mensagem da salvação:
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que
entenda; Nãohá ninguém que busque a Deus”, Rm 3:10-11.
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
parecemloucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente”, I Co 2:14.
É claro que sem esta ação de Deus os homens não vão crer, não importa o quanto
se tente. Os arminianos acham que Deus derrama graça preveniente sobre todos os
seres humanos, sem distinção, de maneira que todos têm a mesma chance de aceitar
ou rejeitar a salvação. Assim,o destino final está nas mãos do homem, e não de Deus.
Acho que é impossível encontrar naBíblia uma base sólida para defender que a graça
preveniente seja universal, principalmente se lembrarmos que muitos povos sequer
ouviram falar de Cristo. Assim, essa posição acaba caindo no inclusivismo.
Devemos admitir que as respostas para muitas dessas perguntas estão além da
nossa compreensão e nos conformarmos com o que a Bíblia nos revela. Deus é amor
e sabe o que faz;não age aleatoriamente, mas tem um propósito de glorificar o Seu
Curso Básico de Teologia 54
próprio nome; não é da nossa conta saber quais são os critérios que Ele usa em cada
uma de Suas decisões.
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada
dirá aoque a formou: Por que me fizeste assim?”, Rm 9:22.
Seja como for, nunca podemos negar a soberania de Deus. É ela que nos dá a
tranquilidade de sabermos que se cremos em Cristo é porque Ele nos criou, amou,
chamou, iluminou e nósaceitamos de boa vontade:
“...E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida”, Ap
22:17b.
Resumo do arminianismo
A tese dos arminianos, também chamados de Remonstrantes, pode ser resumida em um
conjuntode 5 pontos:
O último ponto é rejeitado por alguns arminianos, que consideram que um verdadeiro
crente jamais renunciará sua fé em Jesus. Historicamente, o arminianismo tem sido a
posição adotada pelas igrejas Metodistas e pentecostais em geral.
tentar isentar os homens da responsabilidade por seus atos. Este é o clássico problema
da soberania de Deus versus a responsabilidade do homem. Biblicamente, não
podemos negar nenhum dos dois fatos, Deus é 100% soberano sobre tudo eo homem
é 100% responsável por seus atos e escolhas.
“Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou”, Sl 115:3.
“Tudo o que o Senhor quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os
abismos”,
Sl 135:6.
“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados,
conformeo propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua
vontade”, Ef 1:11.
Sendo Ele o criador e o Senhor, ninguém pode contestá-lO perguntando “por que
nasci as- sim?”, “por que aconteceu esta tragédia?”, “por que Ele deixou a criança
morrer de fome?” ou “por que Ele escolheu Jacó e não Esaú?”. Certas respostas
simplesmente não nos pertencem.
4.5.3.1 Deus enviou Jesus ao mundo e ordena aos homens que se arrependam e creiam
nEle;
4.5.3.2 Como o homem natural não entende as coisas espirituais e seu coração é
totalmente depravado, seu desejo não é voltado para as coisas de Deus, e
consequentemente, se for depender apenas da sua própria vontade,
ninguém vem a Deus (Rm 3:10-11);
4.5.3.3 Deus, então, escolheu incondicionalmente alguns para serem salvos, a fim de
mostrar as riquezas da Sua graça (Rm 9:14-23). A estes Ele amou e
predestinou para serem seusfilhos adotivos (Ef 1:5).
4.5.3.4 Aos que Ele predestinou, Ele também salvou, quebrantando seus corações e
conduzindo-osa Jesus. Somente estes têm condição de crer no evangelho,
pois tiveram sua vontade transformada pelo Espírito Santo:
“E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai
não lhefor concedido”, Jo 6:65.
Curso Básico de Teologia 56
4.5.3.5 Por outro lado, todo aquele que é tocado pelo Pai, é conduzido a Jesus
de maneira irresistível:
4.5.3.6 Os que vêm a Jesus não perdem a salvação, mas perseveram até o final
pelo poder deCristo:
4.5.3.7 Como consequência de tudo isso, e considerando que Deus é soberano e faz
tudo que lhe apraz, conclui-se que Jesus morreu para pagar pelos pecados
apenas dos eleitos, e não pelos do mundo inteiro, pois se os pecados do
mundo todo tivessem sido pagos, ninguém seria condenado.
TULIPA
Assim como o arminianismo, pode-se resumir os ensinamentos do calvinismo em 5
pontos, queem inglês formam o acróstico TULIP:
“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo
(pela graça sois salvos)”, Ef 2:5.
Como John Piper coloca, sem primeiro nascer de novo, a pessoa não consegue
receber Jesus como salvador:
“Cremos que o novo nascimento é uma criação milagrosa de Deus que habilita uma
pessoaque estava ‘morta’ a receber Cristo e ser salva. Nós não achamos que a fé
precede e causa o novo nascimento. A fé é uma evidência de que Deus nos
regenerou.” (tradução minha)
Ou ainda, o pecador só vem a Jesus após nascer de novo e ter sua vontade mudada,
conforme D. Steele e C. Thomas:
“O Espírito Santo cria dentro do pecador um novo coração ou uma nova criatura.
Isto é feito por meio da regeneração ou novo nascimento, por meio do qual o
pecador se torna um filho de Deus e recebe vida espiritual. Sua vontade é
regenerada por este processo de tal forma que ele vem a Cristo...” (“Five Points
of Calvinism Defended”, tradução minha)
Logo, tem-se uma situação em que uma pessoa nasce de novo antes de receber
Jesus como salvador. É regenerada primeiro e só depois vai crer em Cristo. A pessoa
é salva contra sua vontade. Em contraste com essa teoria, teólogos de oposição têm
argumentado que os seguintestextos sugerem que a fé em Cristo é condição para a
salvação e não consequência dela:
“...Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê
no SenhorJesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”, At 6:30b-31.
Curso Básico de Teologia 58
“O que a soberania do Espírito significa é que quando Deus escolhe, ele pode
vencer arebelião e resistência da nossa vontade. Ele pode fazer Cristo parecer
tão atrativo quenossa resistência é quebrada e nós livremente vamos a ele e o
recebemos e cremos nele.” (“The Free Will of the Wind”, tradução minha).
Para Piper, essa mudança da vontade é o próprio novo nascimento, que habilita o
homem a crer. Para outros, essa mudança é uma ação do Espírito que habilita o homem
a crer e só então ele nasce de novo (veja [Stanford, 1988a]).
Terminologia
Alguns termos teológicos comuns às discussões sobre soteriologia são definidos abaixo.
•
Sinergismo: ensina que Deus e o homem cooperam para o processo de salvação.
Deus derrama Sua graça, mas o homem deve colaborar com seu livre arbítrio
para que hajasalvação. É a posição defendida pelos arminianos e católicos.
•Supralapsarianismo: refere-se à ordem lógica dos decretos de Deus antes da
criação. Segundo o supralapsarianismo, Deus decidiu:
1. Eleger alguns e reprovar outros;
2. Criar todos;
3. Permitir a queda;
4. Providenciar salvação para os eleitos;
5. Chamar os eleitos para a salvação.
1. Criar todos;
2. Permitir a queda;
3. Eleger alguns e ignorar os outros;
4. Providenciar salvação para os eleitos;
5. Chamar os eleitos para a salvação.
AULA 5
A IGREJA
Existe, na Bíblia, apenas um povo de Deus ou dois povos com destinos distintos?
A igrejaé, simplesmente, a versão neo-testamentária do Israel do Velho Testamento?
Qual sistema de interpretação explica melhor a doutrina da igreja?
“À igreja de Deus que está em Corinto (igreja local), aos santificados em Cristo
Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome
Curso Básico de Teologia 61
“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, eas portas do inferno não prevalecerão contra ela”, Mt 16:18.
Jesus usa duas palavras gregas distintas, mas parecidas neste verso. Petros é o
nome dePedro, sendo uma palavra masculina que significa pedra ou rocha. Petra é uma
palavra feminina que significa pedra, rocha ou rochedo. Assim, Jesus disse algo como
“...tu és uma pedra, e sobre esta rocha edificarei a minha igreja...”. Existem três
interpretações principais para este texto:
Mesmo que se adote a primeira opção, não há razão para se achar, com isso, que
Pedro seriaa principal pedra da igreja, pois foi ele mesmo que disse que Jesus “é a pedra
que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” (At
4:11). O próprio SenhorJesus afirmou a mesma verdade em Mc 12:10. Paulo
acrescenta:
Nesse texto fica claro que existem outras pedras importantes no fundamento da igreja,
além de Pedro, mas Cristo é a principal.
De uma forma mais detalhada, alguns autores procuram dividir as ações da igreja
em umconjunto de áreas ministeriais. Por exemplo, Rick Warren divide os propósitos
da igreja em cinco áreas: adoração, evangelismo, serviço, comunhão e ensino [Warren,
1997]. A divisão em três, cinco, sete ou mais propósitos é arbitrária, visando facilitar a
organização e administraçãoda igreja. O mais importante é permanecer fiel a toda a
revelação do Novo Testamento sobre a igreja. Neste sentido, uma passagem em
particular resume a vida da igreja primitiva em Jerusalém:
5.2 As ordenanças
5.2.1 O Batismo
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e doFilho, e do Espírito Santo”, Mt 28:19.
O batismo é uma doutrina que causa enorme divisão na igreja e no passado foi
responsável pela morte de inúmeros cristãos (o livro “O rasto de sangue”, do Dr.
James Milton Carrol, fala em cerca de 50 milhões de pessoas mortas por divergências
sobre este assunto). Apesarde ser uma ordenança clara de Jesus, algumas igrejas
ignoram esta prática, como as de linhahiper-dispensacionalista, que consideram que
era apenas uma ordenança para os primeiros anos da igreja.
O significado do batismo
“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós
também em novidadede vida”, Rm 6:4.
O texto acima expõe o significado do batismo nas águas como sendo um símbolo de
nossa identificação com a morte de Cristo, sepultamento e ressurreição para uma nova
vida. Tudo isto ocorreu espiritualmente quando cremos em Jesus e fomos batizados com
o Espírito Santo, sendoinseridos no corpo de Cristo (I Co 12:13).
A palavra grega baptizo significa mergulhar, submergir ou lavar. Como Jesus foi
batizado no rio Jordão, provavelmente tratou-se de um batismo por imersão. Esta forma
de batismo ilustra melhor o significado do batismo como a morte e sepultamento do velho
homem e ressurreição docrente para uma nova vida. Defensores de aspersão e efusão
afirmam que o batismo por imersão é inadequado na ausência de um rio, lago ou
batistério e dificilmente pode ser ministrado a pessoas muito idosas.
Curso Básico de Teologia 64
O batismo salva?
O texto de Marcos 16:16 tem sido usado para defender a necessidade do batismo para a
salvação: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será
condenado”, Mc 16:16.
Mas, note que o texto fala sobre a salvação dos que creem e são batizados, da
condenação dos que não creem, mas não fala nada sobre aqueles que creem e não são
batizados. Na verdade,a Bíblia é clara em afirmar que somos salvos pela graça mediante
a fé somente (Ef 2:8). Paulo deixa implícito que o batismo não salva quando afirma
“Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar” (I Co 1:17a). O
batismo é uma importante profissão pública da fé, mas não tem poder de salvar.
Quem deve ser batizado?
Na igreja Católica Romana o novo nascimento é efetuado pelo sacramento do
batismo e, por-tanto, eles praticam o pedobatismo, isto é, o batismo infantil. Para os
católicos romanos, sacramento é um ritual que tem o poder de conceder bênçãos
independentemente da fé da pes- soa. Para os protestantes, o novo nascimento é
somente pela fé (Jo 1:12; Jo 3:16).
Para responder essa pergunta, precisamos entender como alguém entrava no povo
de Deus no Velho Testamento e como entra no Novo. Em Israel, todas as crianças já
nasciam parte dopovo de Deus, pois eram descendência de Abraão, Isaque e Jacó
segundo a carne e estavamdebaixo das promessas. Filho de judeu é judeu. No entanto,
no Novo Testamento, para alguém entrar no corpo de Cristo é necessário nascer de novo.
Sendo assim, o símbolo só é válido para quem já foi regenerado. O batismo é um
símbolo de algo que aconteceu no passado, não dealgo que talvez vá acontecer no
futuro (At 10:47; Gl 3:27; Rm 6:3). É por isso que Pedroafirma ser necessário,
primeiro, o arrependimento:
Curso Básico de Teologia 65
A necessidade de arrependimento também era pregada por João Batista (Mt 3:7-8),
embora seu batismo fosse precursor do batismo praticado posteriormente pela igreja.
Alguns usam textos como At 16:15,33, onde famílias inteiras foram batizadas,
como justi- ficativa para o batismo de bebês. No entanto, em nenhum lugar está
escrito que bebês foram batizados nessas famílias, sendo isso uma suposição.
O texto de Rm 6:3-4 afirma que todos fomos batizados na morte de Cristo para
que an- demos em novidade de vida. É difícil imaginar que um bebê vai andar em
novidade de vida sóporque alguém molhou sua cabeça quando nasceu. A Bíblia
não ensina isso.
5.2.2 A ceia
“Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é
o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em
memória de mim”,I Co 11:25.
A outra ordenança de Jesus para a Igreja é a ceia, também chamada de
comunhão ou eucaristia, notadamente um símbolo do corpo e sangue de Cristo
entregues por nós na cruz.
salvador. A ceia é ummemorial desse evento. Assim como o batismo nos lembra de
nossa identificação com a morte de Cristo, a ceia nos lembra de Sua morte por nós.
Portanto, são ordenanças e não sacramentos.
Baseado em I Co 10:16, John Piper tenta defender uma posição reformada da ceia,
“quem come e bebe na ceia participa do corpo de Cristo espiritualmente. Pela fé, são
nutridos espiri-tualmente daquilo que Jesus conquistou. Quando você come e bebe,
sua fé deve alcançar tudoo que Jesus conquistou”. Pessoalmente, acho esta explicação
desnecessariamente complicada. Na verdade, é mais simples entender o texto de I
Co 10 como um simbolismo e não como uma presença mística de Jesus nos
elementos, até porque, no verso 17 somos todos chamados de “pão”, que é
simplesmente um símbolo de nossa união no corpo de Cristo. Existe benefício
espiritual em um coração contrito, mas não nos elementos. A cerimônia não te faz mais
espiritual.
Como dissemos anteriormente, o ritual da ceia não produz bênção, mas um coração
contritoe sincero pode ser abençoado neste momento. Da mesma forma, um coração
profano e quenão discerne o corpo de Cristo neste momento pode ser causa de juízo
divino. Não porque oselementos sejam sagrados, mas pelo que eles simbolizam. O juízo
de Deus pode vir sobre uma pessoa que deboche de qualquer momento de adoração,
sobretudo em relação à cruz de Cristo.
Com o fim da era apostólica, a igreja passou a ser presidida por presbíteros,
auxiliados pordiáconos. O termo apóstolo hoje não se refere mais aos “cabeças” ou
governantes da igreja, podendo ser empregado apenas como referência a um
missionário, enviado como representante da igreja. Na Bíblia, os termos “pastor”,
“bispo”, “presbítero” e “ancião” referem-se ao mesmocargo.
Posição complementarista
A posição complementarista afirma que o homem e a mulher não são iguais em todos
os papéis e ministérios na Igreja, mas se complementam. Essa posição pode ser
defendida pelos seguintestextos:
“As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar;
mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma
coisa, inter- roguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que
as mulheres falem na igreja”, I Co 14:34-35.
Existem diversas interpretações para o texto acima. Alguns acham que as mulheres
devem estar sempre em silêncio na igreja; outros acham que o texto refere-se a
problemas de desordemnos cultos em Corinto, onde várias pessoas falavam em línguas
ou profetizavam ao mesmo tempo e as mulheres faziam perguntas durante o ensino;
outros entendem, pelo contexto do capítulo 14,que a proibição refere-se ao momento de
julgamento de profecias, que seria reservado apenas aos homens. Qualquer que seja a
interpretação, o texto diz que as mulheres deveriam estar caladas e não os homens, de
onde pode-se concluir que não poderia haver pastoras na igreja, pois aos pastores é
incumbido o ensino e julgamento de erros na igreja.
“A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher
ensine,nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.”, I Tm
2:11-12.
Algumas pessoas afirmam que esse texto é aplicável somente ao contexto da época,
devido aproblemas particulares de insubordinação das mulheres da igreja. Seja qual for
a argumentação, os motivos para a proibição são atemporais, com Paulo indicando que
Eva foi criada como aju- dadora para Adão, e não vice-versa, além de Eva ter sido
enganada (v. 13-14). Ainda sobre esseponto, Paulo acrescenta:
“Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a
cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.”, I Co 11:3.
Curso Básico de Teologia 70
Logo em seguida, Paulo começa a ensinar que a mulher deve orar ou profetizar com
a cabeçacoberta, como símbolo de submissão ao homem. O homem não precisa desse
símbolo porque eleé a cabeça da mulher. Note que esse fato não significa que o homem
seja, em essência, superiorà mulher, assim como Jesus não é inferior ao Pai, apesar
de Deus ser a cabeça de Cristo. Suasubmissão ao Pai é voluntária, como deve ser a
submissão da mulher ao homem.
É curioso notar que muitos igualitaristas defendem que o homem deve ser o cabeça
do lar, mas não precisa ser o cabeça da igreja. Essa posição me parece contraditória,
pois I Tm 3:1-7 informa que os pastores devem governar bem seus lares e ser maridos
de uma só mulher. Se as mulheres não devem governar seus lares, como podem
governar a igreja? Os critérios para a escolha de pastores são exclusivamente voltados
para o sexo masculino. Se estes critérios podemser ignorados hoje, então, por que não
ignorar também a ordem hierárquica no lar?
De uma maneira mais geral, a posição complementarista está de acordo com o padrão
bíblico,onde Eva era ajudadora de Adão antes mesmo da queda; os patriarcas da casa
de Israel eramhomens; os sacerdotes do Velho Testamento eram todos homens; assim
como os 12 apóstolos eos pastores no Novo Testamento.
Posição igualitarista
A seguir, são apresentados os principais textos usados para se defender a posição
igualitarista.
“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porquetodos vós sois um em Cristo Jesus”, Gl 3:28
Os igualitaristas dizem que na igreja de Deus não existe diferença nenhuma entre
macho e fêmea, portanto, as mulheres podem exercer os mesmos ministérios. Mas, será
que é isso que o texto significa? Não existe diferença nenhuma? Então, minha filha
não precisa se submeter amim?
Outro argumento usado é que se Deus deu dons de ensino e liderança para as
mulheres,então elas precisam usá-los, caso contrário, estariam desperdiçando o dom
de Deus.
Curso Básico de Teologia 71
É claro que as mulheres precisam usar seus dons, mas isso deve ser feito dentro das
instruções bíblicas. Elas podem ensinar e exortar mulheres e crianças, evangelizar,
aconselhar, visitar, mas não podem exercer autoridade sobre os homens. Existe uma
hierarquia bíblica na igreja e no lar que deve ser respeitada.
Sobre o sacerdócio dos crentes, Pedro afirma que no Novo Testamento somos todos
sacer- dotes I Pe 2:9, o que certamente inclui as mulheres. Isso abre a porta para o
bispado feminino?
Observe que o papel principal dos sacerdotes é interceder perante Deus em favor do
povo, o queneste texto é descrito como anunciar “as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz”. Até as crianças podem fazer isso, mas não
significa que todos podem ser pastores.
Por fim, a liderança feminina na igreja tem sido defendida com base na lista de
mulheres de Rm 16. Aqui, menciona-se Febe, que servia na igreja em Cencréia;
Priscila, que cooperou e arriscou sua vida por Paulo; em sua casa se reunia uma igreja,
o que não significa que ela era a pastora; Maria trabalhou muito pelos apóstolos, assim
como Trifena, Trifosa e Pérside, Júlia eOlimpas e, é claro, Júnias, que se distinguiu
entre os apóstolos. Alguns afirmam que Júnias era uma apóstola, mas não há consenso
nem se este é nome de mulher ou de homem, muito menosse o texto garante que era
apóstolo ou apenas respeitado pelos apóstolos. Como Júnias esteve preso com Paulo
(v. 7), é provável que fosse homem.
Um dom espiritual é uma habilidade divinamente concedida a uma pessoa para que
desem- penhe uma tarefa para servir e edificar outros membros do corpo de Cristo
Curso Básico de Teologia 72
[Couch, 1999b]. Esta definição faz distinção entre as habilidades naturais, que podem
e devem ser usadas para oserviço na igreja, e os dons do Espírito, que só podem
estar presentes em uma pessoa após o novo nascimento. Tais dons são
soberanamente concedidos pelo Espírito Santo:
O indivíduo não escolhe seus próprios dons. Na verdade, os dons não podem ser
adquiridos por nossa própria vontade, caso contrário, Paulo não enfatizaria que todos
os dons são impor-tantes e que cada um deve estar satisfeito com seu próprio dom.
O “pé” não pode se tornar“mão”, portanto, deve se contentar em ser pé (I Co 12:15). A
passagem de Rm 12:3-8 mostra que devemos ter humildade e não exaltar nossos
próprios dons, pois foram dados conforme asoberania de Deus e não conforme nossa
própria vontade. Similarmente, a presença de donsespirituais nunca pode ser usada
como medida da espiritualidade de uma pessoa; a prova dissoé a igreja de Corinto, onde
os membros se gabavam de grandes dons, mas Paulo os repreendeu duramente pelo
mal uso dos dons e por outros pecados, chamando-os de carnais (I Co 3:3).
Os dons são dados para o benefício do corpo todo e não para auto-edificação
apenas. Istofica claro em textos como I Co 12:7 e I Pe 4:10.
Parte da controvérsia a respeito dos dons espirituais provém do fato de que o Novo
Testa-mento possui muito pouca informação sobre certos dons, sendo que em muitos
casos a únicacoisa que sabemos é o nome deles [Couch, 1999b].
evangelismo e vice-versa.
5.4.1.16 Ajuda: é a habilidade que Deus dá a alguns membros do corpo
de Cristo para investirseus talentos na vida e ministério de outros no corpo de
Cristo, capacitando-os a aumentara efetividade de seus dons espirituais.
5.4.1.17 Administração: as pessoas com este dom se alegram em organizar,
supervisionar e ajudaros ministérios, zelando para que o trabalho da igreja
local transcorra suavemente. Pode ser um dom do pastor, mas não
necessariamente. Um pastor pode se beneficiar muito de membros com este
dom, que podem aliviá-lo de certas tarefas administrativas para que elepossa
se dedicar à oração e à Palavra, como em At 6:4.
5.4.1.18 Fé: todo crente tem fé, sem a qual é impossível ser salvo ou
agradar a Deus. Mas estedom do Espírito refere-se não tanto à confiança em
Cristo como salvador, mas à confiança em Deus para cuidar dos detalhes das
nossas vidas, suprindo todas as nossas necessidadese guiando os nossos
passos.
5.4.2 Disciplina na Igreja
O propósito de Cristo para a Igreja é santificá-la e apresentá-la a Si mesmo sem
mácula nemruga (Ef 5:26-27). Todas as atividades da Igreja deveriam também visar este
alvo, incluindo a disciplina, que deve produzir um caráter santo naquele que é
disciplinado.
O processo de disciplina
O texto básico que instrui a forma como se deve disciplinar um membro da igreja é descrito
em
Mt 18.
Aqui, vale uma observação. Se não for possível constatar o pecado perante as
novas testemunhas pelo fato de o ofensor negar o ocorrido, não havendo maneira
de se provar aofensa, o bom senso indica que o processo de disciplina deve ser
interrompido aqui. Deus irá tratar com a pessoa se ela não se arrepender.
• O terceiro passo: repreensão pela assembleia
No verso 17, se o pecador não der ouvidos à comissão do segundo passo, leva-se
o caso publicamente à igreja para confrontação.
• O quarto passo: exclusão
Se o irmão se recusar a dar ouvidos à igreja e preferir continuar na prática do
pecado, só resta uma coisa a ser feita. O membro deve ser excluído da comunhão
da igreja (v. 17). Esta exclusão deve durar o tempo em que ele decidir permanecer
no pecado. Em havendo arrependimento e confissão, deve-se proceder com a
restauração à comunhão.
O ato corporativo da igreja desligar e religar um membro conforme o procedimento
descritopor Jesus carrega autoridade celestial, no sentido de que tudo o que for
desligado na terrareflete algo que já foi desligado no céu (Mt 18:18) [Couch,
1999b].
Note que a pessoa excluída deve ser tratada como “gentio e publicano”, o que
significa que não deve participar de refeições de comunhão (I Co 5:11), o que
certamente inclui a ceia do Senhor.
Os objetivos da disciplina
[Couch, 1999b] enumera três objetivos principais:
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5.4.2.1 Restaurar o irmão à comunhão plena com Deus e a igreja (II Co 2:5-11);
5.4.2.2 Remover o fermento, isto é, proteger os outros irmãos da má influência na
igreja (I Co 5:6-8; Tt 1:10-16; Gl 6:1; I Tm 5:20);
5.4.2.3 Corrigir erros doutrinários (Tt 1:13).