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Finanças e Contabilidade

Pública
Sessão 1: O papel das finanças públicas
Finanças e Contabilidade Pública
Sessão 2: As receitas públicas
Programa Ajustado
Parte I: Finanças Públicas
Sessão 1: O papel das Finanças Públicas
Sessão 2: As receitas públicas
Sessão 3: As despesas públicas
Sessão 4: O Ciclo da Gestão Pública (O orçamento)
Sessão 5: Défice público e formas de financiamento
Sessão 6: Agenda Angolana para Finanças públicas (Tópicos especiais)
Parte II: Contabilidade Pública
Sessão 7: Introdução a Contabilidade Nacional
Sessão 8: Registo de Operações Típicas
Sessão 9: Contabilidade Patrimonial
Sessão 10: A contabilidade analítica (de gestão)
Sessão 11: Controlo da Administração pública
Sessão 12: Apresentação de Contas
Parte III: Trabalho em grupo
Sessão 13: Preparação dos trabalhos em grupo
Sessão 14: Apresentação e defesa dos trabalhos
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Finanças e Contabilidade Pública
Sessão 1: O papel das finanças públicas
Índice
1. Lembrar a Macroeconomia
2. Breve História sobre o tributo e o orçamento
3. O Conceito e Objectivo das Finanças Públicas
4. Finanças Públicas Vs Finanças Privadas
5. Dimensão do Sector Público
6. Contexto Económico (Perspetiva Histórica)
7. Modelo Keynesiano
8. Falhas de Mercado
9. Bens Públicos, Privados e Mistos
10. Necessidades Externalidades e o problema dos Free rider
11. Funções do Governo
12. Resumo & Questões

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Finanças e Contabilidade Pública
Sessão 1: O papel das finanças públicas
1. Lembrar a Macroeconomia
A Macroeconomia trata da economia como um todo. Estuda e interpreta a produção total de bens e
serviços, a inflação, o desemprego, a balança de pagamentos, as taxas de câmbio. Igualmente, analisa o
crescimento económico, recessão, as flutuações de curto prazo e o ciclo de negócios.

Abrange também o comportamento económico e as politicas que afectam o consumo, o investimento, as


taxas de câmbio, a balança comercial, os determinantes das variações nos preços, salários, as politicas
fiscal e monetária, o “stock” de moeda, o orçamento de Estado, as taxas de juro e a dívida pública.

Quando se lida com a Macroeconomia deve-se deixar de lado detalhes referentes ao comportamento
das unidades económicas individuais, tais como as famílias e as empresas, ou a determinação dos preços
em mercados específicos. Estes são problemas da microeconómica.

Apesar do contraste entre a Micro e a Macroeconomia não existe nenhum conflito entre elas. A diferença
primordial nelas numa visão descurada, é que o que interessa a Micro é como os consumidores afectam
em despesas de consumo um dado rendimento – enquanto para Macro, é justamente o processo de
formação do rendimento ou dos gastos agregados um dos seus objectivos.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
2. Breve história sobre o tributo e o orçamento

“Nenhum tributo ou auxilio será instituído no Reino, senão pelo seu Conselho Comum, a não ser com o
fim de resgatar a pessoa do Rei, fazer seu primogénito cavaleiro e casar sua filha mais velha uma vez, e os
auxílios para esse fim serão razoáveis em seu montante.”
Art. 12º Magna Carta Libertatum, ortogada em 1215 Pelo Rei John Lackland

Tal dispositivo foi conseguido mediante pressão dos Barões Feudais, que integravam o Conselho dos
Comuns: o órgão de representação da época. Aos nobres interessava basicamente escapar do até então
ilimitado poder discricionário do Rei em matéria tributária.

A aceitação dessa forma do controle representativo por parte do Parlamento nem sempre foi tranquila,
pois os monarcas tendiam a reagir estimulados pelo absolutismo que dominava a coroa britânica. As
consequências mais graves das divergências entre a monarquia e o parlamento ocorreram no século XVII.

Os problemas que surgiram no reinado de Jaques I se agravaram no período de seu sucessor, Carlos I. Em
protesto de um empréstimo compulsório o parlamento baixou um acto que confirmou o principio da
Magna Carta que considerava o tributo legitimo, quando consentido pelo órgão de representação.
Sempre de forma intolerante, Carlos I prosseguiu na sua cruzada de independência do parlamento ate
que se instalou luta armada no reino. Derrotado, o rei foi julgado, condenado e decapitado.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
2. Breve história sobre o tributo e o orçamento

A Lei do Fundo Consolidado, foi aprovada em 1787, representou um avanço bastante significativo na
organização das finanças publicas inglesa.

Consiste o sistema do fundo consolidado no seguinte: certo numero de impostos existem na Inglaterra
para atender a certos serviços de carácter permanente; anualmente o parlamento inglês não discute a
legitimidade desses impostos nem dessas despesa; aprova o pedido do governo, em globo; quando há
excedente, isto é, quando a receita do fundo excede as despesas, torna-se possível discutir esse
excedente, para ver se há imposto desnecessário e que devam ser abandonados; mas nessa discussão
nunca se verifica, porque os serviços administrativos crescem e o governo é sempre obrigado a pedir
maiores verbas e, dai a aprovação dos recursos solicitados, ainda que, para obtê-lo, seja preciso criar
novos impostos ou agravar os existentes.

O fundo consolidado possibilitou a contabilização dos fundos públicos e, a partir de 1802, a publicação
anual do relatório detalhado das finanças. Mas foi no ano de 1822 que o chanceler do Erário passou a
apresentar ao parlamento uma exposição que fixava a receita e a despesa de cada exercício. Burkhead
considera “essa data como a que marcava o inicio do orçamento, plenamente desenvolvido, na Grã-
Bretanha”.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
2. Breve história sobre o tributo e o orçamento
Na França a instituição orçamentária surgiu posterior à adopção do principio do consentimento popular
do imposto outorgado pela revolução de 1789. no período napoleónico, claramente autoritário, o
controle representativo sobre a criação de impostos não foi respeitado, sendo essa uma das poucas
oportunidade em que o principio foi infringido.

Com a restauração, a Assembleia Nacional começou a participar do processo orçamentário. Inicialmente,


em 1815, decretando a lei financeira anual sem, no entanto, controlar o detalhe das dotações. A partir de
1831, o controle parlamentar sobre o orçamento passou a ser complexo.

Burkhead nota que o sistema orçamentário francês em sua fase inicial ajudou a consolidar algumas
regras, hoje aceites como básicas na concepção doutrinaria do orçamento publico:
a) a anuidade do orçamento;
b) a votação do orçamento antes do inicio do exercício;
c) o orçamento deve conter todas as previsões financeiras para o exercício (principio da
universalidade);
d) a não vinculação de itens da receita a despesas especificas (principio da não afectação das
receitas).

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
ESTADO 3. O conceito e objectivos das Finanças Públicas (1/3)
Elementos
FP abrangem a captação de recursos pelo Estado, sua gestão e seu gasto, para atender as necessidades da
Povo: é a componente humana
colectividade e do próprio Estado, ou ainda, O papel das FP é levantar recursos para o sector público de
do estado
Território: a sua base física uma maneira eficiente e efectiva, e determinar como os gastos do sector público podem ser feitos de
Governo Soberano: é o maneira a melhorar o bem-estar da população de um país.
elemento condutor do Estado,
que detém e exerce o poder Só existem finanças públicas, se existir um poder político organizado, e é esta existência que vai permitir
absoluto de autodeterminação e pôr de pé o poder coativo e determinar quais as despesas que vão ser satisfeitas e as receitas que vão ser
auto organização emanada do recolhidas.
Povo
Uma sociedade sem Estado e sem poder político também saberia quais as necessidades para o seu bem
Poderes
estar social, mas isso é muito falível, pois sem um poder coativo as pessoas não pagariam impostos de
Legislativo: elaboração da lei – livre vontade, dando assim origem aos borlistas.
função normativa
Executivo: a conversão da lei em
acto individual e concreto -
função administrativa;
Judiciário: aplicação coativa da
lei aos litigantes – função
judicial.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
3. O conceito e objectivos das Finanças Públicas (2/3)
Por um lado tem por objecto o estudo da actividade financeira, a captação dos recursos financeiros
necessários com vista à satisfação das necessidades públicas.

Recursos:
• Impostos: recursos que o Estado recebe sem dar contrapartidas directas (Imposto sobre o
rendimento)
• Taxas: cobranças que o estado faz pela prestação de serviços.
• Receitas patrimoniais: valores que o Estado recebe pela venda e através de contractos, do seu
património.
• Emissão de moeda, títulos públicos, câmbio e crédito.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
3. O conceito e objectivos das Finanças Públicas (3/3)
O manual do Dr. Sousa Franco aponta Finanças Públicas em três sentidos:

O Sentido Objectivo das Finanças Públicas:


-Traduz a actividade financeira em si que é desenvolvida com vista à satisfação das necessidades públicas.

Sentido Orgânico das Finanças Públicas:


- Designa o conjunto de órgãos do Estado e demais entidades Públicas que têm a seu cargo a gestão dos
recursos públicos com vista à satisfação das necessidades públicas.

Sentido Jurídico das Finanças Públicas


- Estas traduzem o conjunto dos princípios e das regras que disciplinam a actividade financeira do Estado
e demais entidades públicas. (Estado está num Sentido Estrito, num Sentido amplo equivalia falar nos
demais entidades públicas).

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
4. Finanças Públicas Vs Finanças Privadas
Quando falamos de Finanças Públicas referimo-nos “à actividade económica de um ente público tendente
à afectação de bens à satisfação de necessidade que lhe estão confiadas” – na expressão do Professor
António de Sousa Franco. Enquanto neste caso estamos perante a actividade de entes públicos ou
perante a utilização de dinheiros e valores públicos, falamos, por contraponto, de Finanças Privadas para
referir os aspectos monetários do financiamento de uma economia, incluindo as questões ligadas à
moeda, ao crédito, aos mercados financeiros, nos quais se transacionam activos representados por títulos
a médio e longo prazos.

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5. Dimensão do sector público
O SECTOR PÚBLICO é a medida mais ampla de Governo e inclui Governo-geral e empresas públicas não
financeiras, fazem parte do sector público:
• O Governo Central: Governo, Banco Central e INSS
• O Governo provincial
• Empresas Públicas (BPC é parte do sector público?)
A cada nível de governo existem 3 tipos de operações: orçamentais, extra orçamental (prejuízos do banco
central) e segurança social

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
5. Contexto Económico (Perspetiva Histórica)
ESCOLA NEOCLASSICA
Mão invisível foi um termo introduzido por Adam Smith em “A Riqueza das Nações" para descrever como
numa economia de mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse
comunal, a interacção dos indivíduos parece resultar numa determinada ordem, como se houvesse uma
"mão invisível" que os orientasse.

Adam Smith viu na formação de monopólios ou seja, a concentração de poder do mercado nas mãos de
poucos produtores (no extremo apenas um) apoiados por um Estado intervencionista, como um dos
perigos ao funcionamento da economia de mercado.

Havendo distorções à plena "liberdade de mercado", como a exemplificada acima, a mão invisível fica
"paralisada" e já não auxilia o sistema. A "assimetria de informações" - isto é, o fato de alguns saberem
mais do que outros - também contribui para prejudicar o funcionamento adequado da "mão invisível" .

A clássica metáfora de Adam Smith sobre a 'mão invisível' refere-se a como o mercado, sob condições
ideais, garante uma alocação eficiente de recursos escassos. Mas, na prática, as condições normalmente
não são ideais. Por exemplo, a competição não é completamente livre, os consumidores não são
perfeitamente informados e a produção e o consumo desejáveis privadamente podem gerar custos e
benefícios sociais.

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6. Contexto Económico (Perspetiva Histórica)
ESCOLA KEYNESIANA
A escola keynesiana se fundamenta no princípio de que o ciclo económico não é auto-regulador como
pensavam os neoclássicos, uma vez que é determinado pelo "espírito animal" dos empresários. É por
esse motivo, e pela ineficiência do sistema capitalista em empregar todos que querem trabalhar que
Keynes defende a intervenção do Estado na economia.

A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos
em bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior a percentagem desta é poupada.
Assim, se a renda agregada aumenta em função do aumento do emprego, a taxa de poupança aumenta
simultaneamente; e como a taxa de acumulação de capital aumenta, a produtividade marginal do capital
reduz-se, e o investimento é reduzido, já que o lucro é proporcional à produtividade marginal do capital.

Então ocorre um excesso de poupança, em relação ao investimento, o que faz com que a demanda
(procura) efectiva fique abaixo da oferta e assim o emprego se reduza para um ponto de equilíbrio em
que a poupança e o investimento fiquem iguais. Como esse equilíbrio pode significar a ocorrência de
desemprego involuntário em economias avançadas (onde a quantidade de capital acumulado seja grande
e sua produtividade seja pequena), Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase
recessiva dos ciclos económicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a procura
efectiva através de deficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
6. Contexto Económico (Perspetiva Histórica)
Na maior parte do século XIX, a concepção capitalista centrada no mercado revitaliza-se com as
sucessivas revoluções industriais que fortaleciam o capitalismo concorrencial, tudo dentro de um cenário
de grande estabilidade monetária e de extraordinários progressos científicos. Tal quadro económico
dispensava a acção estatal.

No final do século XIX e no início do século XX começaram a manifestar-se sintomas das crises periódicas
intrínsecas do sistema capitalista. As grandes empresas, os monopólios, o proteccionismo e os sindicatos
abalaram o conceito do mercado como mecanismo regulador do sistema económico.

Quando a essa multiplicidade de factores extra mercado se somaram as consequências da primeira


guerra mundial, a economia mundial passou a viver o clima de desequilíbrio que desembocaria na
gravíssima depressão dos anos trinta.

O capitalismo ameaçado de um lado pela depressão e de outro pela ideologia marxista e pela forte
simpatia dedicada a revolução russa, foi salvo pelo economista inglês John Maynard Keynes.

Para Keynes, antes da perda total da liberdade individual num regime colectivista (marxista), era
preferível a perda de parte da liberdade económica, para quem?

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7. Modelo Keynesiano
O tripé microeconómico dos clássicos (oferta, procura, preço) foi substituído por um modelo Keynesiano
macroeconómico: a procura global mais o investimento global determinam a renda global e essas três
variáveis responsabilizam-se pelo nível de emprego.

O controlo dessas variáveis foi evidentemente atribuído ao Estado, cuja intervenção passou a ser
naturalmente aceite.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
8. Falhas de Mercado
Com efeito os mecanismos de mercado não podem desempenhar por si só as funções económicas de
afectação (ou alocação), redistribuição e estabilização, da mesma forma que determinados bens não
podem ser fornecidos através do sistema de mercado, ou seja, por meio de transacções entre
consumidores individuais e os produtores, tornando necessária a intervenção do Estado.

Concluiu-se portanto, que existiam falhas de mercado e falhas extra mercado com grande impacto na
economia e que o Estado deveria intervir para dinamizar a procura agregada e utilizar os instrumentos de
estabilização económica.

As falhas de mercado estão relacionadas com as características dos bens públicos.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
9. Bens Públicos, Privados e Mistos
Os bens que satisfaçam necessidades colectivas são bens públicos. O Estado pretende que sejam
satisfeitas determinadas necessidades colectivas, por isso o Estado propõe-se a produzir os respectivos
bens, que implicam a realização de despesas, havendo, portanto, a necessidade de obter receitas para as
cobrir.

Os bens privados são oferecidos por meio dos mecanismos próprios do sistema de mercado.

Há situações em que o Estado utiliza recursos orçamentários na provisão de bens com toda característica
de bens privados, esses são os bens mistos. A educação por exemplo é um bem privado que pode ser
comercializado no mercado podendo os seus benefícios serem individualizados, mas também é um bem
público, porque o nível da comunidade cresce quando os seus membros se educam.

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Sessão 1: O papel das finanças públicas
9. Bens Públicos, Privados e Mistos
Características dos Bens Públicos
• Os benefícios não estão limitados a um consumidor específico (não exclusividade);
• Não há rivalidade no consumo desse bem (não rivalidade);
• O consumidor não é excluído no caso de não pagamento (não divisibilidade);
• O custo marginal da produção de mais uma unidade é o custo global, logo, o custo de mais uma
unidade é nulo.

Características dos Bens Privados


• Os benefícios do mesmo estão limitados a um consumidor qualquer;
• Há rivalidade no consumo desse bem;
• O consumidor é excluído no caso de não pagamento;
• O custo marginal da produção de mais uma unidade tem um custo associado.

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10. Necessidades Externalidades e o problema dos Free rider
O acto de satisfazer uma necessidade faz-se por intermédio da sua utilização. Nuns casos para utilizar os
bens é preciso procurá-los, enquanto que noutros não, basta que os bens existam para que a sua
utilização se verifique, sendo por isso, concretizada a satisfação dessa necessidade.

Necessidades de satisfação activa – Exigem para a sua satisfação uma certa actividade por parte do
consumidor e são satisfeitas pelo mercado mediante o pagamento de um preço;

Necessidades de satisfação passiva – Necessidades que se satisfazem pela mera existência dos bens
(passividade no consumo), a serem satisfeitas por qualquer colectividade pública.

Existe externalidade ou efeito externo, quando os bens proporcionam utilidades não só a quem os produz
para si próprio como a outras pessoas a quem não se pode exigir qualquer compensação pecuniária,
através de um preço.

A externalidade pode ser positiva quando o efeito externo é benéfico para as outras pessoas. Pode-se
compensar através da concessão de subsídios ou redução dos impostos.

A externalidade é negativa quando se traduz num efeito malefício em que os bens não propiciam
utilidades a outras pessoas e estas não podem exigir indemnização. A compensação pode ser feita pelo
pagamento de taxas ou impostos ou pela imposição de regulamentação impeditiva da sua ocorrência.
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10. Necessidades Externalidades e o problema dos Free rider
Os free riders são aqueles que consomem mais do que sua parte justa dos recursos públicos, ou
suportam menos do que a parte justa dos custos da sua produção.

Free ride é geralmente considerado como um “problema” económico apenas quando conduz à não
produção ou de sub-produção de um bem público (e, portanto, a ineficiência de Pareto), ou quando leva
ao uso excessivo de um recurso de propriedade comum.

O problema free ride é a questão de como limitar o parasitismo (ou os seus efeitos negativos) nestas
situações.

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11. Funções do Governo
A actividade do estado não é confinada apenas ao asseguramento da ordem e da segurança, à garantia da
defesa da integridade nacional e ao fornecimento de justiça.

O sistema económico (mesmo nas economias mais descentralizadas) está sujeito ao controlo
governamental para guiar, corrigir e complementar, não existe portanto, nenhum país onde o
sistema económico seja simplesmente deixado sob controlo da “mão invisível” de Adam Smith.

Os meios financeiros recolhidos pelas colectividades públicas - Estado - destinam-se a satisfazer


necessidades colectivas (objecto das Finanças Públicas). Além das supracitadas, existem outras
necessidades de satisfação colectiva, como a estabilidade política, a redistribuição do rendimento, etc.,
que são bens regidos pelo princípio da indivisibilidade.

Richard Musgrave propôs uma classificação das funções económicas do Estado que se denominaram
funções fiscais ou funções do orçamento, principal instrumento de acção estatal na economia.
São as três funções:
Função Alocativa: promove ajustamentos na alocação de recursos;
Função Distributiva: promove ajustamentos na distribuição de renda;
Função Estabilizadora: manter a estabilidade económica.

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11. Funções do Governo
Função Alocativa

A actividade estatal na alocação de recursos justifica-se naqueles casos em que não houver a necessária
eficiência por parte do mecanismo de acção privada (sistema de mercado).

Os investimentos na infra-estrutura económica (transportes, energia, comunicações, etc.) são indutores


do desenvolvimento nacional sendo por isso de competência estatal. Os altos investimentos necessários e
o longo período de carência entre as aplicações e o retorno não estimulam o envolvimento privado.

Na provisão de bens públicos e bens meritórios a procura por certos bens que devido as suas
características especiais inviabilizam o fornecimento dos mesmos pelo sistema de mercado.

O bem privado é oferecido por meio dos mecanismos próprios do sistema de mercado, há uma troca
entre vendedor e comprador e uma transferência da propriedade do bem. O não pagamento por parte do
comprador impede a operação e consequentemente o benefício, é uma operação eficiente.

No caso do bem público não o sistema de mercado não teria a mesma eficiência, os benefícios não
podem ser individualizados nem recusados pelos consumidores, aqui o processo político substitui o
sistema de mercado.

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11. Funções do Governo
Função Alocativa

Note-se no entanto, que a análise sobre quem produz os bens não possibilita nenhuma conclusão
relevante, tanto as empresas privadas como as públicas produzem bens privados e públicos
indistintamente.

O estudo da alocação de recursos pelo Estado deve utilizar então o conceito de provisão de bens e
serviços, isto é podem não ser necessariamente produzidos pelo Governo, mas financiados pelo
orçamento público.

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11. Funções do Governo
Função Distributiva
De acordo com as regras económicas a distribuição da riqueza está ligada a maneira como estão
distribuídos os factores de produção e com os preços obtidos por seus detentores no mercado.

Existe ainda a questão das habilidades individuais bastante diversas e a transmissão de bens via herança.

As doutrinas de bem-estar integradas na análise convencional derivam da formulação pelo nome de


“ideal de Pareto”. Segundo ela, há eficiência na economia quando a posição de alguém sofre uma
melhoria sem que nenhuma outro tenha a situação deteriorada.

A função pública deve portanto, promover ajustamentos na distribuição de renda corrigindo as falhas de
mercado.

Para isso devemo-nos afastar da idealização de Pareto, porque a melhoria da posição de certas pessoas é
feita às expensas de outras.

O imposto sobre o rendimento, geralmente apontado como o tributo mais adequado as políticas
distributivas, outras medidas públicas como a educação gratuita, a capacitação profissional e os
programas de desenvolvimento comunitário enquadram-se nos esquemas distributivos.

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11. Funções do Governo
Função Estabilizadora

Além dos ajustamentos na alocação de recursos e na distribuição dos rendimentos, a política fiscal tem
quatro objectivos macroeconómicos que configuram o campo de acção da Função Estabilizadora:
• Manutenção de elevado nível de emprego;
• Estabilidade nos níveis de preços;
• Equilíbrio na Balança de Pagamentos e
• Razoável taxa de crescimento económico.

A mais moderna das três, a função estabilizadora adquiriu especial importância como instrumento de
combate aos efeitos da depressão dos anos trinta e a partir de então esteve sempre em cena, lutando
contra as pressões inflacionárias e o desemprego.

Em qualquer economia os níveis de emprego e de preços resultam dos níveis de procura agregada, isto é
da disposição de gastar dos consumidores, das famílias, dos capitalistas, enfim qualquer comprador
O mecanismo básico da política de estabilização é, portanto, a acção estatal sobre a procura agregada
aumentando-a e reduzindo-a conforme as necessidades.

Se a procura for superior a capacidade nominal (potencial) da produção, os preços tenderão a subir, se for
inferior haverá desemprego.
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Pública
Na Sessão 2: As receitas públicas

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