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Capítulo I – Introdução

1.1) 1.1 Conceito e Objecto de estudo da disciplina de Economia Pública


1.1.1) Definições

Na literatura anglo-saxónica usa-se indiferentemente Public Finance e Public Economics para


designar o mesmo objecto de investigação. Em termos gerais, Economia Pública é mais uma
abordagem económica, enquanto que Finanças Públicas é mais uma abordagem a partir do
Direito.

Finanças Públicas:

• Estuda a actividade financeira do Estado e outros entes públicos


• Como são gerados os recursos financeiros do Estado
• Dedica-se aos aspectos institucionais e monetários da actividade económica

Economia Pública: estuda a relação do Estado com a economia: a resolução do problema


económico (O Quê? Como? Quanto?)

A disciplina de economia pública ou finanças públicas, tem uma natureza interdisciplinar pois
situa-se na confluência das abordagens da ciência económica, da ciência política e do direito.

O objecto da Economia Pública é comum ao da economia, na medida em que considera, no


âmbito do sector publico, as questões económicas fundamentais: o que produzir? Como
produzir? E para quem produzir? Isto é, o problema de saber que recursos devem ser
utilizados na produção de bens públicos e quais deverão ser utilizados na produção de bens
privados, qual a melhor formar de produzir e financiar estes bens e, finalmente, quem deverá
beneficiar da sua produção. Contudo, todas estas decisões no sector público são tomadas
através do funcionamento de um processo político relativamente complexo. E é neste âmbito
que a ciência política é importante pois ajuda a compreender as escolhas colectivas em
regimes democráticos.

1.1.2) Acepções de Finanças Públicas


• Sentido Subjectivo: disciplina que estuda a relação do Estado com a economia e as leis
que regem essa intervenção/relação.
• Sentido Orgânico: órgãos do Estado a quem compete a aquisição e gestão dos meios
financeiros estáticos.
• Sentido Objectivo: actividade do Estado enquanto afecta recursos escassos à
satisfação de necessidades colectivas.

Em resumo podemos concluir que:

• Economia Pública: Sentido Objectivo e Subjectivo


• Finanças Públicas: Sentido Orgânico

A resposta que uma sociedade dá aos problemas acima referidos está por vezes imbuída duma
racionalidade predominantemente económica, outras vezes uma racionalidade puramente
política e frequentemente, existe uma mistura de razões de natureza económica e política.

1
A abordagem político-económica da economia do sector público traduz-se em fundamentar
economicamente as políticas financeiras do sector público, tendo em conta as regras e
instituições que propiciam, ou não, essas políticas. Muitas vezes, o caracter desejável de uma
política tem a ver tanto com apolítica económica em si, como com as instituições e regras que
foram desenhadas para a implementar.

A Economia e Finanças Públicas é, pois, a análise, normativa e positiva das actividades


financeiras, ou não financeiras, das entidades do sector Público. O seu estudo atende aos
seguintes aspectos:

• Quais os efeitos da manipulação de certas variáveis instrumentais (política


orçamental) na prossecução dos objectivos?
• Quais os efeitos de alterações em variáveis estruturais (regras e instituições) na
implementação de políticas públicas?
• Qual deve ser a intervenção do Estado na economia, nomeadamente na sua vertente
financeira (receitas e despesas públicas)?
• Quais devem ser as regras e instituições a operar no sector público de forma a
implementar as políticas desejáveis?

Os dois primeiros tipos de problemas prendem-se com a análise positiva e os dois últimos com
a análise normativa.

1.2 Análise Positiva vs Normativa

A disciplina de Economia Pública desenvolve a análise, normativa e positiva, das actividades


financeiras das entidades do sector público.

Análise positiva: Explicar o que existe e prever as consequências em certas variáveis objectivo
de alterações em uma ou mais variáveis instrumentais ou estruturais.

Ou seja, a análise Positiva responde questões como:

• Quais os efeitos da manipulação de certas variáveis (política orçamental) na


prossecução de objectivos?

Quais os efeitos de alterações em variáveis estruturais (regras e instituições do sistema


político) na implementação das políticas públicas?

Análise normativa: avaliar estados sociais, ou seja, produzir juízos de valor acerca:

 Da situação actual da sociedade;


 Da adopção de uma política pública (meios a utilizar; consequências).

Ou seja, a análise normativa responde questões como:

• Qual deve ser a intervenção do Estado na economia, nomeadamente no seu aspecto


financeiro (receitas e despesas públicas)?
• Quais devem ser as regras e instituições a operar no sector público de forma a
implementar as políticas públicas desejáveis?

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A análise positiva pretende explicar o que existe ou que se prevê que aconteça, a análise
normativa pretende avaliar as consequências das políticas e fazer recomendações.

Considere-se, por exemplo, que o governo pretende aumentar o imposto sobre os veículos.

1. Um tipo de problema a analisar é tentar prever o que acontecerá à receita fiscal e


estimar sobre quem recai efectivamente a carga do imposto (se sobre os
consumidores que pagam veículos mais caros ou os produtores/importadores quem
vêem reduzidos seus lucros). Interessará ainda saber em que medida a subida
previsível no preço dos veículos irá aumentar a procura pelos transportes colectivos
nas zonas urbanas e quais as consequências que isso terá em termos ambientais
(redução da emissão de gases tóxicos para a atmosfera).
 Estes problemas são do âmbito da análise positiva e a resposta para eles
pressupõe a utilização de modelos, mais ou menos complexos e a investigação
empírica.
2. Contudo, se a questão for saber se é desejável o aumento do imposto sobre veículos e
do e do imposto sobre produtos petrolíferos está-se a colocar problemas de natureza
completamente diferente, pois o caracter benefício, ou não, desse aumento, exige que
se classifiquem juízos de valor. Desejável em termos de que? De acordo com que
normas ou critérios?

Os economistas usualmente consideram dois critérios normativos: Eficiência, Equidade e


pode-se adicionar um terceiro critério que é a Liberdade. Só a partir destes critérios, e da
importância relativa dada a cada um deles, é possível dar uma resposta ao caracter desejável
do imposto automóvel.

Critérios normativos: equidade, eficiência e liberdade

Equidade (ou justiça): Os critérios da equidade são critérios que permitem analisar ou medir o
bem-estar social. Permitem determinar os efeitos da distribuição da carga fiscal e dos
benefícios da despesa pública no bem-estar social.

Eficiência: Afectar os recursos económicos de forma óptima (no sentido de que não é possível
melhorar o bem-estar de um agente sem ser à custa da diminuição do bem-estar de outro –
óptimo de Pareto). A dimensão ideal do sector público em relação ao privado, na óptica da
afectação eficiente de recursos, dependerá pois da importância relativa dada aos bens
públicos em relação aos privados, na certeza de que, dadas as restrições de recursos materiais
e tecnológicos, a maior produção de uns, andará associada a uma menor produção de outros.
Eficiência é pois o segundo grande critério normativo para avaliar os problemas que se
colocam no sector público.

Liberdade (negativa): Este critério considera que o indivíduo deve reter uma esfera de
autonomia imune à intervenção coerciva do Estado, ou seja que deve que deve haver limites
às possibilidades de intervenção deste.

Eficiência, Equidade e Liberdade, são critérios normativos aos quais os cientistas sociais dão
uma importância diferente. Os juristas, ao tratarem do fenómeno financeiro, dão primazia
clara ao conceito de justiça (ou equidade) em detrimento da eficiência e liberdade. Os

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economistas dividem-se nas suas opiniões. Há os que dão primazia aos critérios de eficiência e
liberdade, há os que dão maior importância ao critério de justiça social (equidade). Esta
diferente hierarquização dos critérios normativos, assim como a percepção do eventual
conflito entre eles, é uma das fontes de divergência entre economistas.

Divergências entre Economistas

Para analisarmos as divergências entre economistas, vamos aqui partir de uma situação:
introdução de uma taxa moderada nos serviços de urgências hospitalares.

Importa aqui distinguir duas fontes distintas de divergências. A primeira reside em desacordos
quanto a análise positiva, nomeadamente quanto à resposta à seguinte questão: vai a
introdução de uma pequena taxa efectivamente diminuir a utilização das urgências? A segunda
assenta em divergências quanto a análise normativa. Aqui o problema é outro: deve ser dada
prioridade a eficiência ou equidade, admitindo que há um conflito entre ambos os critérios?

A resposta a primeira questão depende da forma como se considera a procura de urgências


hospitalares. O gráfico a baixo, permite clarificar a problemática.

P
D´ D

TM

Q1 Q0 Q

Uma questão a dar resposta é saber qual a forma da função procura das urgências
hospitalares. Caso ela seja completamente rígida, como indica a recta D, então a introdução da
taxa moderada TM, em nada irá alterar a utilização das urgências. A conclusão será diferente
caso a procura tenha uma elasticidade negativa, com indica a recta D´. Neste caso a introdução
da taxa irá “moderar” a utilização diminuindo-a de Q0 para Q1. A forma da função é tão
fundamental para se perceber a consequência da introdução da taxa.

A segunda fonte de controvérsia tem a ver sobretudo com a prioridade dada aos critérios
normativos já referidos. Admita-se que a procura de urgências não é completamente rígida
(D´), pelo que a introdução de uma taxa irá moderar a utilização e com isso, diminuir o
congestionamento pela exclusão de alguns. Do ponto de vista da eficiência, a medida é
claramente defensável. Já do ponto de vista da equidade é possível argumentar que, sendo a
saúde um direito constitucionalmente garantido e de provisão tendencialmente gratuito 1, a
introdução da taxa irá obstar a que pessoas de muito parcos recursos possam beneficiar desse
serviço. Neste caso, como ponderar o ganho da eficiência com a introdução da taxa com a
redução da equidade derivada da exclusão dos que poucos recursos têm?

1
Financiado pelos impostos e não pelos utentes.

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Os economistas que dão prioridade ao critério de eficiência, são claramente favoráveis á
introdução da taxa moderada. Os que dão prioridade ao critério de equidade, poderão ser
contra essa introdução se pensarem que esta medida irá excluir um número significativo de
indivíduos por não terem capacidade de pagar. Neste caso, as divergências entre economistas
têm a ver sobretudo com uma postura normativa.

Na prática é possível, por vezes, tentar conciliar a eficiência coma equidade, se por exemplo no
caso acima, introduzirmos as taxas com isenções ao seu pagamento por parte de idosos,
desempregados e menores.

A necessidade de existência do Sector Público e as suas funções

• O Estado actua como fiscal, impedindo que a economia se afaste das regras de
economia perfeita. Se não está funcionar regula, multa, entre outras.
• Falhas de Mercado: a imperfeição do funcionamento do mercado, exigem a
intervenção do sector público na economia para melhorar a afectação dos recursos na
economia.

1.3 Funções do sector público

De acordo com Richard Musgrave as funções do Sector Público na economia são:

• Afectação,
• Distribuição
• Estabilização

E estas funções podem ser analisadas numa óptica macro e microeconómica.

i. Óptica macroeconómica:
 Afectação: por esta função entende-se o sector publico contribuir para uma
afectação eficiente dos recursos na economia.

Uma primeira área de intervenção do sector público é a provisão de bens ou serviços públicos
que, que sendo desejados pelos cidadãos, não encontram provisão através do funcionamento
dos mercados.

Uma segunda área de intervenção relacionada com a afectação eficiente de recursos prende-
se com os efeitos externos na produção ou no consumo de bens mercantis. Para certos bens
os preços a que são transaccionados reflectem os custos privados necessários para a sua
produção, mas não o custo global que a sociedade tem que suportar com a sua produção.
Neste caso está-se em presença de uma externalidade. Isto acontece quando estamos perante
a produção de um bem, cuja produção polui o ambiente. Na ausência da intervenção pública,
o preço do bem em causa seria mais baixo e as quantidades consumidas mais elevadas do que
deveriam ser caso a empresa produtora e os consumidores suportassem a totalidade dos
custos associados a sua produção. Há pois lugar a intervenção pública que poderá passar por
tributar a empresa produtora ou os consumidores com vista aos agentes económicos
incorporarem esses efeitos externos nas suas decisões.

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Um terceiro tipo de intervenção pública no âmbito da função afectação diz respeito à
regulação. É condição necessária (mas não suficiente) para uma afectação eficiente dos
recursos que os mercados sejam competitivos. Na realidade, muitos mercados funcionam de
forma não competitiva (em oligopólio ou monopólio) o que requer a intervenção pública com
vista a sua regulação para corrigir restrições à concorrência. Um dos objectivos da regulação é
evitar que as empresas pratiquem preços de monopólio.

Deste modo, pode-se então resumir o âmbito da intervenção pública no campo da função
afectação como sendo a provisão de bens e serviços públicos, a correcção do comportamento
dos agentes económicos através de impostos ou subsídios para que incorporem as actividades
externas das suas actividades e finalmente a regulação de certas actividades. Ou seja, a função
afectação, está ligada à:

 Promover afectação eficiente de recursos.


 Assegurar os fundamentos do funcionamento dos mercados (direitos de
propriedade, etc.)
 Ultrapassar os fracassos do mercado (provisão de bens públicos, correcção
de externalidades, lidar com informação assimétrica)

ii. Óptica microeconómica:


 Distribuição: a distribuição de rendimento e da riqueza numa dada sociedade,
é em grande parte, uma herança do passado, na medida em que determina a
distribuição de direitos de propriedade entre os agentes económicos.

Certos bens e serviços, embora de natureza essencialmente privada, são designados por bens
de mérito segundo Musgrave ou bens primários segundo Rawls, como é o caso de níveis de
instrução básica ou cuidados primários de saúde. Uma sociedade justa baseia-se no princípio
de igualdade de oportunidades para todos os cidadãos o que pressupõe, entre outras coisas,
uma igualdade de acesso a esses bens primários e de mérito. Esta igualdade de acesso implica
que o Estado intervenha ao nível do ensino básico obrigatório, ao nível de campanhas de
vacinação gratuitas e noutros sectores. Está-se, neste caso, na presença de uma provisão a
todos os cidadãos de certos bens e serviços directamente. É nestes dois sentidos que se pode
falar numa função distribuição com o duplo objectivo de intervir quer na distribuição de
rendimentos e riqueza com vista a adequa-las a uma norma distributiva considerada mais
desejável quer na provisão de certos bens e serviços com vista a contribuir para maior
igualdade de oportunidades. Em resumo, a função distribuição está relacionado com:

 Promover uma sociedade mais justa


 Igualdade de oportunidades: Assegurar a todos os cidadãos o acesso a
certos bens e serviços considerados meritórios (cuidados básicos de
saúde, ensino básico)
 Desigualdade de rendimentos: alterar a distribuição de rendimentos
resultante do mercado.

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iii. Óptica macroeconómica:
 Estabilização: esta função coloca-se sobretudo ao nível macroeconómico, de
contribuir para o crescimento sustentado da economia, para níveis de
empregos elevados, para uma estabilidade de preços e para equilíbrio das
contas externas. Em resumo, a função estabilização está relacionado com:
 Promover a estabilização macroeconómica da economia, ao nível de:
Emprego
Estabilidade dos preços
Equilíbrio das contas externas
Crescimento económico

1.4 Teorias Sobre o Papel do Estado

Quando se fala em papel do Estado, uma questão prévia é saber-se que tipo de sistema
económico e político se está a considerar. N realidade, uma coisa é o papel do Estado numa
economia planificada (centralizada) no caso das economias de direcção central dos países do
leste da Europa 2 uns a partir de 1917 e outros a partir de 1945 até finais da década de 80.
Outra coisa é considerar o papel do Estado em economias capitalistas mistas em que a maior
parte dos meios de produção é privada, mas a par do mercado existe um importante sector
público. É no quadro de economias mistas que se analisam as diferentes concepções acerca do
papel do Estado, pois elas consubstanciam abordagens diversas sobre o papel do sector
público e das finanças públicas.

Quando se fala numa teoria sobre o papel do Estado numa economia mista está-se
implicitamente a falar no papel que os mercados devem desempenhar e no que deverá ser
atribuído ao sector público.

Numa economia mista, grande parte das decisões de produção, distribuição e consumo são
tomadas descentralizadamente por agentes económicos privados no contexto de mercados,
mais ou menos competitivos, e uma outra parte considerável de recursos são afectados
segundo decisões políticas no contexto do sector público.

Três questões fundamentais são colocadas sobre o papel do Estado, nomeadamente: qual é a
justificação da existência do Estado, qual é a dimensão ideal do sector público e finalmente,
qual a composição desejável da despesa pública. A resposta a estão questões é, em parte, do
domínio da filosofia política, e existem três tipos de ideias de concepção do Estado numa
economia mista que são:

• O Estado mínimo ou de serviço


• O Estado protector ou de bem-estar
• O Estado imperfeito

1.4.1 Estado “Mínimo”: a primazia do mercado

Quando se fala do Estado mínimo, ou Estado liberal está-se a considerar uma situação real ou
ideal em que o peso do sector público na economia mista é no mínimo (10 – 15% do PIB) e se

2
Sistema adoptado por Angola após a independência até finais de 1991.

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resume à provisão de bens públicos necessários ao bom funcionamento dos mercados. Os
mercados só funcionam com uma clara definição e defesa dos direitos de propriedade privada,
paz e estabilidade social, condições que permitem o desenvolvimento das relações contratuais
estáveis e para uma livre circulação das pessoa e bens.

Assim, no essencial, o papel do Estado mínimo é o de assegurar as condições necessárias ao


bom funcionamento dos mercados, em particular através da provisão de certos bens públicos:
defesa e segurança interna, leis, tribunais e administração da justiça e fornecer um conjunto
de infra estruturas indispensáveis ao desenvolvimento económico (estradas, portos, etc.).

Dentre os defensores do Estado mínimo ou liberal destacam-se:

• Escola clássica inglesa: tem como principal nome o Economista Adam Smith: defensor
do sistema de “liberdade natural”. Ele considerava que existia um sistema de liberdade
natural que passava por o “príncipe” (o governante) não interferir com as actividades
produtivas da população.
Adam Smith desenvolveu três funções essenciais que devem ser atribuídas ao
“príncipe”
 Proteger a sociedade contra a invasão estrangeira
 Proteger cada membro da sociedade contra as injustiças que possam
ser cometidas por outros membros.
 Fornecer certas instituições e obras públicas que são do interesse
público mas que não serão fornecidos pelo mercado.

Na mesma linha de pensamento, David Ricardo parafraseando uma “regra de ouro”


financeira enunciada por Jean Baptist Say, dizia: “ que o melhor de todos os planos
financeiros consiste em gastar pouco e o melhor de todos os impostos é o que
proporciona menores receitas”.

Algum tempo mais tarde, John Stuart Mill dizia que o “laissez faire deveria se a prática
geral: qualquer afastamento deste princípio, a menos que seja necessário para um
bem melhor, é com certeza um mal”.

A ideia do laissez faire, laissez passer (“deixar fazer, deixar passar”) é que o mercado
deve ser deixado funcionar com a mínima interferência do Estado, quer no que toca à
tributação das actividades económicas. Quer no que respeita á circulação das
mercadorias e dos factores produtivos. De forma seria estimulado o crescimento
económico, ou como se dizia na altura, a riqueza das nações.

Implícita nesta abordagem estava uma ética utilitarista, em que o bem-estar de uma
sociedade era identificado com o bem-estar agregado de todos os indivíduos da
sociedade. A riqueza das nações era o objectivo, pois quanto mais rica uma nação,
maior o nível de bem-estar que poderia propiciar aos seus membros.

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• Nozick 3: o mercado como processo justo
Uma abordagem diferente e mais actual sobre o papel do Estado, mas que leva a
conclusões semelhantes acerca do papel mínimo da intervenção pública foi
desenvolvido por Nozick que refere que “ um Estado mínimo, limitado às funções
estreitas de protecção contra a força, roubo e fraude, a implementação de contractos,
etc., é justificado; qualquer Estado mais alargado violará os direitos individuais das
pessoas a não serem forçadas a fazer certas coisas. Isto sugere que Nozick dá
prioridade ao critério de liberdade negativa- ou seja o direito do indivíduo de não ser
forçado a tomar determinadas acções contra a sua vontade.

A perspectiva de Nozick de defesa do Estado mínimo, pode ser apoiada com três tipos
de argumentos:
 A ideia da existência de direitos invioláveis dos indivíduos
 Uma teoria sobre a criação da desigualdade
 A noção de Estado como associação voluntária de indivíduos.
Para ele e para alguns clássicos como Jonh Stuart Mill, há certas esferas de liberdade
individual com as quais nenhum Estado deverá interferir.

A forma mais justa de se entender a teoria de desigualdade de Nozick é com um


exemplo de dois indivíduos com as mesmas características, rendimentos, capacidade
empreendedora, inteligência e capacidades físicas. São idênticos em todas as as
condições objectivas e subjectivas à excepção de uma coisa: as preferências acerca da
forma de despender o seu igual rendimento. Um dos indivíduos, o consumista, gasta a
totalidade do rendimento que possui, todos os meses, enquanto que o outro, o
prudente, usa de alguma precaução e poupa todos os meses parte do seu rendimento
para com isso investir e aumentar seus rendimentos futuros. Facilmente se concluirá
que, após vários períodos, haverá uma situação de desigualdade de rendimentos entre
os dois, embora tenha partido de uma situação de igualdade, incluindo na liberdade de
gastar o rendimento. As desigualdades foram originadas a partir de escolhas
voluntárias dos indivíduos, isto é do seu comportamento discricionário. Será que o
Estado deverá tratar de forma diferenciada estes indivíduos? Na medida em que as
actividades de ambos decorrem no âmbito da legalidade, não parece haver razão para
tal assumir.
Para Nozick, tudo aquilo que tenha sido adquirido de forma justa, deve ser transferido
livremente. A aquisição justa de propriedade, exclui, pois, aquisições advindas de
força, roubo, de fraude ou outras actividades ilícitas. Na medida em que as aquisições
individuais sejam justas, o que resulta das transacções voluntárias entre os indivíduos

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Robert Nozick nasceu em Brooklyn, Nova Iorque, em 1938, numa família judaica de origem russa.
Desde a adolescência que se interessou pela filosofia — na qual se iniciou através da leitura
da República de Platão —, vindo mais tarde a licenciar-se neste domínio, no Columbia College. Embora
não tenha considerado a sua licenciatura particularmente interessante, ela permitiu-lhe prosseguir os
seus estudos de pós-graduação, na Princeton University, onde se doutorou em 1963, com uma tese
sobre “A Teoria Normativa da Escolha Individual”. De Princeton passou para Harvard, seguidamente
para a Rockefeller University e, em 1969, de novo para Harvard. Foi aqui que fez grande parte da sua
carreira, publicou vários livros e se tornou “University Professor”, a posição académica mais elitista e
cobiçada nesta universidade. Viria a falecer algo precocemente, de doença prolongada, em 2002.

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também é justo. Por outro lado, sempre que há injustiça, no sentido de dotações que
foram obtidas de forma injusta, hás lugar para uma correcção e rectificação desta
injustiça. A defesa do mercado como processo justo baseia-se na ideia de que as
transacções são voluntárias.
A argumentação de Nozick fundamenta pois uma defesa moderna do Estado mínimo,
limitado à sua função afectação de fornecedor de bens públicos (infra-estrutura e
defesa nacional), não intervindo pois na esfera distributiva.

1.4.2 O Estado de bem-estar (ou Protector)

Os autores defensores do Estado de bem-estar, partem de uma concepção de que, os


mercados, sobretudo quando competitivos, são mecanismos muito importantes e
insubstituíveis de transmissão de informação entre os agentes económicos, contribuindo assim
em grande parte para afectação eficiente dos recursos. Contudo, o mercado não é um
processo plenamente justo nem leva necessariamente a uma afectação de recursos
socialmente desejável, pois baseia-se, em geral numa distribuição muito desigual de direitos
de propriedade.

Uma definição do Estado de bem-estar foi dada por Briggs (1961), segundo ele: é um Estado
em que o poder organizado é deliberadamente usado (através da política e da administração)
um esforço de modificar o funcionamento das forças do mercado em pelo menos três
direcções: em primeiro garantir aos indivíduos e às famílias um rendimento mínimo, em
segundo; diminuindo a extensão da insegurança permitindo aos indivíduos e famílias fazerem
face a contingências sociais (por exemplo, doença, velhice e desemprego) que levarão, de
outro modo a crises individuais e sociais; terceiro, assegurando que todas os cidadãos, sem
distinção, de status ou classe, seja oferecido um certo tipo de serviços sociais, aos melhores
padrões disponíveis.

Assim, o Estado é uma instituição necessária para alcançar os objectivos de uma sociedade
justa. O que caracteriza o Estado do bem-estar é a função distributiva, pois é um ingrediente
fundamental do bem-estar social. Os fundamentos da dimensão distributiva têm três
componentes:

I. Estado enquanto agente redistribuidor de rendimento;


II. Estado enquanto fornecedor de bens primários;
III. Estado enquanto agente que diminui o risco, incerteza e informação assimétrica.

O Estado de bem-estar intervém deliberadamente nos mercados, garantindo um rendimento


mínimo, permitindo que haja alguma segurança através da cobertura de alguns riscos (doença
e invalidez) fornecendo um conjunto de bens considerados meritórios (educação básica,
cuidados primários de saúde e outros).

1.4.2 O Estado Imperfeito

A análise do Estado mínimo e sobretudo, a do Estado de bem-estar são essencialmente


abordagens normativas acerca do papel do Estado. Sugerem o papel que Estado deve
desempenhar numa economia mista de acordo com uma intencionalidade de interesse
público. Mas será que o Estado prossegue sempre com esse interesse publico?

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Certos autores partem de uma análise que se pretende positiva da actuação das entidades do
sector público, o que pressupõe que se introduzam algumas hipóteses em relação ao
comportamento dos seus agentes. Estes autores dão ênfase ao que se poderá designar por
Estado Imperfeito assumindo fundamentalmente que os cidadãos, quer na esfera privada (dos
mercados) quer na esfera pública, defendem essencialmente os seus interesses.

a. O Estado de Leviatã

O caso limite, no mau sentido da palavra do Estado imperfeito é o Estado de leviatã. Foi
conceptualizado inicialmente pelo filósofo político Thomas Hobbs no séc. XVII. A teoria de
Hobbs (1588-1679) não só racionaliza a emergência do Estado moderno como prevê o seu
crescimento incessante. A sua análise pode ser conceptualizada através de um jogo conhecido
como dilema do prisioneiro. Para isso situa-se o dilema na idade média e considerem-se dois
senhores feudais A e B, com territórios contíguos e com duas estratégias possíveis.

• Procurar a paz
• Invadir o território do vizinho.

Senhor B
Procurar paz Invadir
Senhor A
Procurar paz 3,3 (I) 1,4 (III)
Invadir 4,1 (II) 2,2 (IV)

Estas duas estratégias combinadas, dão lugar a quatro Estados sociais distintos: ambos
procurarem paz (paz), o senhor A quer invadir enquanto que o B procura a paz (II), a situação
simétrica (III), e ambos querem invadir.

Admita-se que a ordenação de forma decrescente (do melhor para o pior) das preferências
relativas a estes estados é a seguinte:

 (4) Superioridade e domínio do outro (obtém-se o espólio do derrotado). Esta


situação obtém-se quando um tem a estratégia de invasão e outro procura a
paz;
 (3) Paz. Obtém-se quando ambos procuram a paz
 (2) Vida miserável (guerra permanente mas em que há liberdade individual).
Advém de ambos adoptarem a estratégia de invasão.
 (1) Despojamento, escravatura, vassalagem. Resulta de se ter sido invadido
quando não se estava preparado.

Isto significa que o senhor A ordena as possíveis situações: II> I> IV> III ou seja 4> 3> 2> 1. Por
seu lado o senhor B faz a seguinte ordenação: III> I> IV> II ou seja 4> 3> 2> 1.

Neste caso está-se perante um jogo não cooperativo designado por dilema do prisioneiro. A
estratégia dominante para cada agente é optar pela invasão pois permite obter uma situação
melhor, qualquer que seja a estratégia adoptada pelo oponente. O senho A pensa que se B
procura a paz ele ficará melhor invadindo (4> 3). Por outro lado, se B vai invadir ele ficará
melhor também tendo uma postura agressiva e invadindo (2> 1). Existe uma estratégia

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dominante quando essa estratégia dá maior benefício individual, independentemente da
estratégia adoptada pelo oponente. O equilíbrio de estratégias dominantes desse jogo será
então ambos os senhores optarem pela guerra (IV), embora ambos ficassem melhores se
pudessem estabelecer um acordo credível pela paz (I). Facilmente se verifica que a guerra,
para além de todos malefícios a ela associados, é uma situação ineficiente do ponto de vista
dos senhores feudais, pois ambos ficariam melhores com a paz.

Nesta visão, o Estado surgem como um terceiro agente para forçar a solução eficiente que é a
paz mútua (I). Fá-lo retirando os exércitos aos senhores feudais, ficando com o monopólio do
uso da violência e garantindo, por outro lado, a defesa dos direitos de propriedade e a situação
interna de paz.

Hobbs considera que o Estado, ao ter poderes acrescidos, irá tendencialmente ficar com cada
vez mais poderes e crescer desmesuradamente. Tudo se passa como inicialmente tivesse
havido um contrato entre os senhores feudais que cedem o direito de organizar e financiar
autonomamente os seus exércitos, a uma terceira entidade, a coroa, que passa a ter essa
responsabilidade. Para pagar esses préstimos da Coroa os súbditos de cada senhor contribuem
com os seus tributos. Contudo, na medida em que os tributos dos camponeses passam a
dirigir-se não aos senhores feudais mas à Coroa, os apetites insaciáveis desta fazem com que
se quebre essa relação de troca. A Coroa tende a tornar-se num Leviatã, um monstro cuja
dimensão cresce sem cessar.

A abordagem Hobbesiana fundamenta as análises contemporâneas dos que consideram que o


sector público tende a crescer desmesuradamente em relação ao privado e o seu peso torna-
se excessivo e prejudicial para o bom funcionamento da economia, dado o peso excessivo dos
impostos necessários para o financiar.

a) O estado ao serviço dos interesses

Uma visão mais moderada, mais ainda assim crítica do Estado imperfeito, foi desenvolvida por
vários autores nas décadas de 70, 80 e 90, tendo como principais nomes Brennan e
Buchanan 4. Para estes, o Estado é entendido em termos de análise positiva, como uma
agência monopolista com poderes exclusivos de tributação, de emissão de licenças e regra da
maioria o que significa que há maiorias e minorias. As decisões democráticas, embora
maioritárias nem sempre favorecem ao interesse público.

Brennan e Buchanan, retomaram a ideia do Estado Leviatã, ou seja, o Estado sem restrições,
modelizado como se fosse uma agência monopolista, que pretendesse apenas satisfazer os
seus interesses, nomeadamente através de um aumento de impostos. A sua ideia não é que o
Estado se comporta efectivamente como um Leviatã, mas que ao encara-lo desse modo é
possível pensar no tipo de restrições de natureza constitucional 8limites á dívida, equilíbrio nas
contas públicas) que deverão ser introduzidas para limitar a tomada de decisão discricionária
pelos poderes públicos.

4
James McGill Buchanan Jr. (Murfreesboro, 3 de Outubro de 1919 — 9 de Janeiro de 2013) foi um
economista e jurista estadunidense. Suas ideias têm elementos da escola económica Austríaca e da
Escola de Chicago. Foi laureado com o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel de
1986.

12
Na realidade, do ponto de vista da análise normativa, Buchanan é um contratualista, isto é,
considera que a relação dos cidadãos com o Estado deve ser do tipo contratual, concedendo os
primeiros alguns direitos e contribuindo pecuniariamente (impostos) para que o Estado
forneça bens e serviços Públicos.

Os argumentos que desenvolvem são os de que o facto de haver fracasso de mercado não
significa que o Estado seja capaz de superar esses fracassos. Por outro lado, consideram que á
que estudar os fracassos do governo e compara-los com os fracassos do mercado. Dentro dos
fracassos do governo salientamos os seguintes:

 A medida que os governos pretendem considerar situações específicas dos agentes


económicos, através de benefícios fiscais e tratamento diferenciado dos agentes
aumenta drasticamente a quantidade de agentes quem procuram favoritismos
especiais (teoria da procura da renda)
 Os executivos têm menor informação sobre a eficácia da utilização dos recursos
públicos do que a administração que supostamente controlam (teoria da burocracia).
Isto leva a que os gastos públicos possam ser excessivos.
 As decisões políticas estão sujeitas as ciclos eleitorais. Neste sentido, a gestão
macroeconómica nem sempre pode ser explicada com recurso à função estabilização,
mas por vezes é explicada de acordo com critérios eleitorais (ciclos político-
económicos)
 Dados que só adultos das gerações presentes é que votam, pode haver uma tendência
endémica dos regimes democráticos para produzirem défices que serão saldados por
gerações futuras (que hoje não votam).

Ao falar-se do Estado imperfeito, existe uma ideia subjacente que é o Estado ideal. Este estado
ideal, na perspectiva destes autores, é o Estado como um instrumento da vontade da
generalidade dos cidadãos expressa democraticamente e satisfazendo o interesse público e
não uma soma de interesses individuais que vão contra o interesse público.

A visão do Estado imperfeito partilha com a concepção clássica a noção de que uma
importante função do Estado é uma afectação eficiente de recursos. Quanto á redistribuição
de rendimento, defende que deve ser generalista, ou seja, que são necessárias restrições de
natureza constitucional ou outras para que se evite que o Estado seja um instrumento de
redistribuição selectiva para grupos de interesse.

2.Fundamentos para a intervenção pública

2.1 Os dois teoremas fundamentais da economia do bem-estar

Para analisar os fundamentos microeconómicos da necessidade de intervenção do sector


público no domínio das funções afectação e redistribuição é necessário compreender o papel
dos mercados competitivos e o alcance bem como as limitações dos sistemas de preços.

Existe uma compreensão intuitiva a cerca do papel dos preços de mercado. As variações dos
preços relativos dão sinais aos consumidores que ajustam os seus cabazes de compras a essas
alterações, mas também às empresas que assim obtêm informação sobre a procura de
mercado para os seus bens tendo em conta as condições de oferta.

13
Contudo, existem dois resultados analíticos muito importantes que demonstram a
importância do sistema de preços em mercados competitivos. Um deles, conhecidos como o
primeiro teorema fundamental da economia de bem-estar, afirma que, sob certas condições 5,
mercados competitivos em equilíbrio caracterizam-se por uma afectação eficiente (segundo
Pareto) dos recursos.

Existe um sistema de preços de bens e factores produtivos, para o qual as empresas utilizam os
seus recursos produtivos de forma óptima-isto é com uma combinação de factores produtivos
que minimiza os seus custos- e os consumidores utilizam os seus rendimentos de forma
óptima. Estes preços resultam da interacção de milhões de agentes económicos de forma
descentralizada sem a necessidade a priori da intervenção pública. É uma versão moderna da
“mão invisível” de Adam Smith. O que este teorema mostra é que o mercado pode ser
poderoso mecanismo de coordenação e descentralização de recursos.

Este teorema dá também a primeira racionalidade para a intervenção do Estado na economia


baseado no critério de eficiência. Não só assegurar que os mercados são e permanecem
competitivos, como tentar ultrapassar os fracassos de mercado que existem quando pelo
menos uma daquelas condições não se verifica.

Por outro lado, dizer que a afectação de recursos é eficiente não significa que seja considerada
socialmente justa. Saber se para promover a justiça ou equidade é preciso abdicar da
eficiência, dá lugar ao segundo teorema da economia de bem-estar, segundo qual qualquer
afectação de recursos eficiente (à Parecto) pode ser alcançada como um equilíbrio competitivo
de mercado após uma apropriada redistribuição das dotações iniciais. O que este teorema
indica é que não é necessária uma sociedade ficar dependente da distribuição de rendimento
que resulta do funcionamento livre e competitivo dos mercados. Isto é, outra qualquer
afectação de recursos eficiente, pode e socialmente mais justa, poderá ser alcançada por via,
quer de uma redistribuição inicial quer do funcionamento dos mercados.

Têm-se então as duas racionalidades distintas que potencialmente justificam a intervenção do


sector público na economia. Por um lado, razões que se prendem com a ineficiência dos
mercados, quem em certas situações se designam por fracassos de mercados. Por outro,
razões que têm a ver com a equidade e justificam a intervenção pública redistributiva, quer
para corrigir a situação inicial em que os indivíduos “entram” no mercado (as suas dotações
inicias), quer para alterar a situação distributiva do seu funcionamento.

Eficiência do Mercado e a intervenção do Estado no equilíbrio do Mercado

O modelo de oferta e procura mostra como as pessoas e as empresas reagem aos incentivos
fornecidos por estas leis para controlar os preços. No entanto, muitas vezes levam a
consequências indesejáveis exigindo assim a intervenção do Estado como agente regulador do
mercado.

A controvérsia às vezes cerca dos preços e quantidades estabelecidos pela procura e oferta,
especialmente para produtos considerados de necessidade. Em alguns casos, o

5
Existência de bens privados, ausência de externalidades, informação simétrica e perfeita entre os
agentes, convexidade nas funções de utilidade.

14
descontentamento com os preços se transforma em pressão pública sobre os políticos, que
podem então aprovar legislações para evitar que determinados preços subam muito ou caiem
muito baixo, ou seja, o Estado pode utilizar ferramentas de políticas alternativas que podem
muitas vezes fazer com que sejam atingidos os objetivos desejados.

Portanto, ao longo deste capítulo, abordaremos fundamentalmente: (i) a procura e a oferta


como mecanismo de ajuste social, analisando o excedente do consumidor e do produtor; (ii)
intervenção do estado no mercado 6 através de políticas dos preços máximos e mínimos,
criação de impostos e concessão de subsídios.

Excedente do Consumidor e do Produtor

O conhecido diagrama da oferta e procura contém em si o conceito de eficiência econômica.


Para os economistas, eficiência significa que é impossível melhorar a situação de uma parte
sem impor um custo a outra. Por outro lado, se uma situação for ineficiente, torna-se possível

A eficiência no modelo da oferta e procura tem o mesmo significado básico, isto é, a


economia está obtendo o máximo de benefícios possível de seus recursos escassos e
todos os ganhos possíveis com as transacções foram alcançados. Em outras palavras, a
quantidade ideal de cada bem e serviço está sendo produzida e consumida.
beneficiar pelo menos uma parte sem impor custos a outras.

No nível eficiente de produção, é impossível gerar maior benefício ao consumidor sem reduzir
o benefício do produtor e é impossível gerar maior benefício do produtor sem reduzir o
benefício do consumidor. Esse nível de eficiência é o equilíbrio de mercado.

Excedente do Consumidor

O Excedente do Consumidor (EC) corresponde à diferença entre o montante que o consumidor


estaria dispostoa pagar por determinada quantidade de um bem e o montante que
efectivamente paga. Esta situação ocorre porque o consumidor consome até ao momento em
que a sua utilidade marginal 7 iguala o preço de mercado. Desta forma, todas as unidades
consumidas excepto a última apresentam utilidades marginais superiores ao preço.

Em situações de não concorrência é possível às empresas reduzir este excedente e,


teoricamente, é mesmo possível anulá-lo mediante da prática de preços diferenciados e
perfeitamente ajustados à curva da procura.

Conhecendo a curva da procura de um dado bem e o seu preço de mercado, é possível


quantificar o excedente do consumidor para esse bem. O triângulo ABC do gráfico abaixo,

6
Em próximos capítulos deste manual, discutiremos outras questões pertinentes sobre atuação do
Estado na economia, apresentando todos as razões da intervenção.
7
Utilidade Marginal: a satisfação adicional obtida por um idivíduo resultante do consumo da última
unidade adicional de um bem ou serviço, num determinado período. Mais detelhas sobre utilidade
marginal serão apresentados mais para frente quando abordarmos sobre a teoria do consumidor.

15
correspondente à área limitada pela curva da procura e pela recta do preço (P*) de mercado,
representa o Excedente do Consumidor.

Matematicamente, o excedente do consumidor é medido pela área da figura que o


representa. Ou seja, pela área do triângulo rectângulo ABC tendo em conta o gráfico acima.
Isto é: Excedente do Consumidor = área do triângulo rectângulo ABC.

Pode-se se obervar que a figura forma um triangula rectângulo. O cálculo da área de um


triangulo rectágulo é dado pela seguinte fórmula:

Para o gráfico acima teremos:

O conceito de excedente do consumidor é bastante útil,


particularmente na área de tributação, para avaliar a
capacidade de pagamento dos contribuintes, e na área de
economia internacional, para avaliar os ganhos e perdas no
comércio, quando da imposição de tarifas alfandegárias.

Exemplo...

A Zone Fragrance-Perfumes, determinou a função da procura para uma determinada marca de


perfume e a mesma é dado por: Qd(X) = 30 – 0,3P, onde X é a quantidade procurada a cada
mês e P é o preço por frasco de perfume expresso em kwanzas. Supondo que o preço de
mercado da Zone Fragrance seja de 21 Kz por frasco de perfume, determine o excedente do
consumidor.

Resposta:

16
Para determinarmos o excedente do consumidor, vamos reprentar a curva da oferta
no gráfico. Utilizando a equação Qd(X) = 330 – 0,3P, teremos:
Se P=0 ⇒ Qd = 33 e para Qd = 0 ⇒ P = 110. Assim, vamos colocar estes pares
ordenados no gráfico, assim como o preço de mercado de 21 e a este preço as
quantidades procuradas é 267.

O excedente do consumidor é formado pela área ABC, no gráfico acima. Sabemos que
o cálculo do valor do excedente é obtido através da fórmula da área de um triangula
rectêngulo, isto é:
𝒉𝒉.𝒃𝒃
∆= onde h é a altura e b é a base
𝟐𝟐
Sabe-se que h 8 é o segmento AB = 110 -21⇒ h=89 e b é o segmento BC = 26,7-
0⇒b=26,7. Assim, o excedente do consumidor será:
𝟖𝟖𝟖𝟖𝐱𝐱𝟐𝟐𝟐𝟐,𝟕𝟕
∆= ⇒ Excedente do consumidor igual 1.118,15, representa o ganho dos
𝟐𝟐
consumidores a consumirem ao preço de mercado.
Para diferentes níveis de procura e com função da procura não linear, o excedente não é
apresentado por uma função triangular., logo, será determinado por meio do cálculo integral.
Ou seja, o excedente do consumidor será a intergral da função da procura em relação ao
preço.

Suponha que a função P = f (q), neste caso, se a curva da procura não tiver um
comportamento linear, se o preço for P0, fará com que os consumidores a procurem uma
quantidade Q0. O P0 não é o preço máximo que os consumidores estão dispostos a pagar por
essa mercadoria, pois, para preços um pouco maiores que P0, ainda há quantidadeS
procuradas, embora menores que Q0. O excedente pode ser calculado pela área do gráfico a
baixo.

8
A altura do triangula (h), que representa o excedente do consumidor é determinada pela distância da
linha do preço de equilíbrio e onde a curva da procura cruza o eixo vertical.

17
O Excedente do consumidor é fornecido pela área da região limitada superiormente pela
função da procura P = f(q) e inferiormente pela recta P= Po, no intervalo ⌈0; 𝑄𝑄𝑂𝑂 ⌉, conforme o
gráfico acima. Neste caso, o excedente do consumidor pode ser determinado pela seguinte
expressão:
𝑸𝑸𝒐𝒐
� [𝒇𝒇(𝒒𝒒) − 𝑷𝑷𝒐𝒐 ] 𝒅𝒅𝒅𝒅
𝟎𝟎

Se houver um aumento no nível de preço e uma baixa no ponto de equilíbrio, o excedente do


consumidor diminui.

Exemplo...

A Celac, Lda., comercializa arcas frigoríficas cuja função da procura é dada por P = 1.200 – 60Q.
Calcule o excedente do consumidor sabendo que o preço de mercado para cada arca frigorífica
é 600 Kz e que prevalece o equilíbrio de mercado.

Resolução:

Para facilitar o cálculo do excedente do consumidor, vamos representar a função e o


preço num gráfico de modo a evidenciarmos a área e facilitar o cálculo. Utilizando a
equação P = 1.200 – 60Q, teremos:
Se Q=0 ⇒ P = 1.200 e para P= 0 ⇒ Q = 20. Assim, vamos colocar estes pares ordenados
no gráfico, assim como o preço de mercado de 600 e a este preço as quantidades
procuradas é 10.

Após colocarmos os dados no gráfico, vamos calcular o valor da área da figura


geomética que será formada, utilizando o cálculo integral.

18
10 10 10
Assim, Ec = � [(1.200 − 60𝑄𝑄) ⇒ � (1.200 -� 600𝑑𝑑𝑑𝑑
0 0 0

Aplicando as regras de integrais teremos:


10 10 ⇒ aplicando a regra da integral definida
teremos: (1.200𝑄𝑄 −(600𝑄𝑄)
0 0

(1.200x10- 30x102) – 600x10 ⇒ 9.000 – 6.000 ⇒ Ec = 3.000

Se aplicassemos a fórmula da área de um triângulo rectângulo teriamos:


ℎ.𝑏𝑏
Ec= 2
. h é o segmento AB = 1.200 – 600 ⇒ h= 600 e b é o segmento BC = 10-0⇒b=10
ℎ.𝑏𝑏 600x10 6.000
Ec= ⇒ Ec= ⇒ Ec= ⇒ Ec=3.000
2 2 2

Como podemos ver, para uma função da procura linear, calcular o excedente do
consumidor utilizando a fórmula do triângulo rectangulo ou a integral para o cálculo da
área, obtemos o mesmo resultado.

Texto de Apoio...

O que mede o excedente do consumidor?

Em geral os economistas consideram que:

• consumidores são racionais;


• consumidores buscam seus melhores interesses (existem excepções: drogas, por
exemplo);
• consumidores são capazes de melhor julgar os benefícios daquilo que consomem;
• disposição para pagar é uma medida razoável para definir a importância do bem,
segundo a preferência do consumidor;
• valores efetivamente pagos correspondem a valores que não poderão ser usados
na aquisição de outros bens;
• excedentes maiores poderão ser usados para adquirir mais bens importantes.

Portanto, maiores excedentes dos consumidores estão associados ao fato dos mesmos
estarem adquirindo bens de maior “valor”, segundo seu próprio julgamento.

Excedente do Produtor

Geralmente é aceite pela teoria económica que a efectivação voluntária de uma transação
entre dois intervenientes (vendedor e comprador) propicia benefícios para ambas as partes,
sendo que se assim não fosse não haveria sequer incentivo para que se realizasse. A avaliação
dos referidos benefícios é frequentemente feita através da utilização dos conceitos de
excedente do consumidor (que mede o benefício obtido pelo consumidor numa determinada
transação) e de excedente do produtor.

19
O excedente do produtor corresponde ao montante (em unidades monetárias) de que este
beneficia por produzir as quantidades que lhe proporcionam a maximização do seu lucro. Na
prática, este excedente resulta do facto de, para quantidades oferecidas inferiores à que se
acaba por verificar no mercado (pelo equilíbrio entre oferta e procura), uma empresa estar
disposta a oferecer o seu produto a preços inferiores ao que acaba por conseguir obter. De
facto, o preço a que uma empresa está disposta a oferecer a primeira unidade do produto que
comercializa é por regra inferior ao preço a que oferece a segunda e assim sucessivamente.
Logo, quando ela consegue praticar um preço para a primeira unidade superior ao que à
partida estava disposta a aceitar, obtém um benefício correspondente à diferença entre os
dois valores. O mesmo acontece para todas as unidades anteriores à última oferecida para o
preço que acaba por prevalecer no mercado, sendo o benefício de cada uma delas
decrescente.

Da mesma forma que acontece com o consumidor, o produtor também tem uma sobra
quando é fixado um preço Po para a mercadoria que oferece. Se ao preço PO o produtor
oferece uma quantidade QO, a preços mais baixos ainda estaria interessado em oferecer uma
quantidade, embora menor, dessa mercadoria.

A diferença entre o preço ao qual o produtor oferece uma quantidade da mercadoria e aquele
ao qual ainda estaria disposto a oferecê-la é também uma sobra ou uma renda económica
chamada Excedente do Produtor.

Supondo-se que a função oferta é dada por P = f (q) e que o preço da mercadoria está fixado
em po, o excedente do produtor é representado pela área presentada no gráfico abaixo, ou
seja, pela expressão: 𝑄𝑄𝑜𝑜
� [𝑃𝑃𝑂𝑂
0

Se a curva da oferta tiver um comportamento linear, o excedente do será evidenciado por um


triangula rectângulo, logo o seu cálculo pode também ser efectuado utilizando a fórmula de
cálculo da área de um triangulo rectângulo. Ou seja, se curva da oferta for:

20
Excedente do Produtor = área do triângulo rectângulo ABC. Sabe-se que:

Para o gráfico acima teremos:

Exemplo...

Determine o excedente do produtor de uma mercadoria cujo preço atual é 50 e cuja oferta é
descrita pela função P = 2Q + 10.

Resposta:

Para a resolução do exercício em causa, primeiramente, começaremos por fazer a


representação gráfica da curva da oferta de modo a evidenciar a área que representa
o excedente do produtor. Utilizando a equação P = 2Q + 10, teremos:

Se Q=0 ⇒ P = 10 e para P= 0 ⇒ Q = 5. Assim, vamos colocar estes pares ordenados no


gráfico, assim como o preço de mercado de 50 e a este preço as quantidades
procuradas é 20.

Após colocarmos os dados no gráfico, vamos calcular o valor da área da figura


geomética que será formada, utilizando o cálculo integral.

21
20 20 20
Assim, Ep = � [50 ⇒� 50𝑑𝑑𝑑𝑑 - � (2𝑄𝑄
0 0 0
+ 10)𝑑𝑑𝑑𝑑
Aplicando as regras de integrais teremos:
20 20
(50𝑄𝑄 ) - (𝑄𝑄 2 + 10𝑄𝑄 ) ⇒ aplicando a regra da integral definida teremos:
0 0

Ep= 50x20 – (202 + 10x20) ⇒ Ep= 1.000 -600 ⇒ Ep =400


Ou seja, o ganho do produtor em operar no mercado com o preço de 50 Kz é de 400.

Em geral os economistas consideram que o excedente do produtor é uma medida de bem-


estar dos produtores.

O Excedente Total e a Eficiência do Mercado

Como já vimos, as conhecidas curvas da oferta e procura contém em si o conceito de eficiência


econômica. O excedente do mercado é certamente uma forma útil de medir os benefícios
líquidos para os participantes do mercado, mas também pode ser usado para medir a
eficiência.

Vimos acima como são calculados o excedente do consumidor e o excedente do produtor, e


como podemos mensurá-los por meio das representações gráficas de oferta e procura que já
conhecemos. Analisaremos agora as duas situações de maneira simultânea. Relembrando,
temos que:

Excedente do Consumidor = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago

Excedente do Produtor = Valor Recebido – Custos de Produção


Se somarmos o excedente do consumidor e o excedente do produtor, chegaremos ao
excedente total do mercado ou excedente social, visto que levaremos em consideração, dessa
maneira, os excedentes tanto da procura quanto da oferta. Temos, assim, que:

22
Excedente Total ou Social = Excedente do Consumidor + Excedente do Produtor

Excedente Total Ou Social = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago + Valor
Recebido – Custos de Produção

Como o valor pago pelos compradores é igual ao valor recebido pelos vendedores, esses dois
valores irão se anular na fórmula do excedente total descrita acima, e teremos, assim, que:

Valor Efetivamente Pago = Valor Efetivamente Recebido

Logo,

Excedente Total ou Social= Disposição para Pagar – Custos de

Dessa maneira, temos que o excedente total do mercado corresponde à diferença entre a
disposição para pagar e os custos de produção.

Um mercado é considerado eficiente quando a alocação de recursos maximiza o


excedente total e seu resultado, para a sociedade, é o maior possível.

Entretanto, isso não significa que esse resultado seja dividido de maneira igual entre seus
participantes. Pelo contrário. É necessário salientar que há uma diferença importante entre os
conceitos de igualdade e equidade 9. O que ocorre aqui é a equidade, ou seja, uma
imparcialidade na distribuição desse resultado da alocação de recursos para a sociedade. Em
outras palavras, todos os participantes desse mercado são beneficiados em uma situação de
eficiência de mercado, mas nem todos são beneficiados de maneira igual.

Mas afinal, qual é essa situação na qual se maximiza o excedente total? Em que situação
podemos dizer que chegamos à “eficiência de mercado”?

A resposta das questões acima, serão respondidas com suporte do gráfico abaixo, que é
resultado da combinação do excedente do consumidor e do produtor.

9
A temática sobre Equidade será abordada com mais profundeza mais para frente, neste manual no
capítulo sobre as razões de intervenção do Estado na economia.

23
Olhando para o gráfico acima, podemos observar que, teremos uma situação que maximiza o
excedente total desse mercado, no ponto em que as curvas de oferta e procura se cruzarem
no ou seja, no ponto de equilíbrio. Na área sombreada mais clara (área A), temos o excedente
do consumidor e, na área sombreada mais escura (área B), o excedente do produtor. O
excedente total corresponde, portanto, à soma dessas duas áreas ou seja: Excedente total =
Área A + Área B.

Assim, podemos afirmar que é no equilíbrio de mercado que alcançamos a eficiência. Isso nos
permite dizer que o mercado livre aloca a oferta aos compradores que atribuem um valor
máximo a um bem e a procura aos produtores com o mínimo custo de produção. Além disso,
no nível de eficiência, é impossível produzir maior excedente do consumidor sem reduzir o
excedente do produtor, e é impossível produzir maior excedente do produtor sem reduzir o
excedente do consumidor.

Para preços maiores que o preço de equilíbrio, o valor para os compradores é maior que o
custo para os produtores. Para preços menores que o preço de equilíbrio o valor para os
compradores é menor que o custo para os produtores, como podemos ver no gráfico abaixo,
se partirmos de um exemplo em que preço praticado pelo mercado for estabelecido pelo
Estado (Pm, no gráfico abaixo) e menor que o preço de equilíbrio.

Pelo gráfico, percebe-se que a quantidade QE que será comercializada é inferior à quantidade
de equilíbrio (Qm, no gráfico acima), uma vez que, a esse preço, os ofertantes desejam vender
uma quantidade menor do produto. O excedente total, portanto, corresponde à soma das
áreas dos trapézios representadas no gráfico (e é, claramente, menor que aquele em uma
situação de equilíbrio de mercado). Em ambas as situações, não temos uma situação de
eficiência de mercado. Assim, é a quantidade de equilíbrio que maximiza a soma dos
excedentes do produtor e do consumidor e a eficiência do mercado é alcançada quando a
alocação dos recursos maximiza o excedente total.

24
A intervenção do Estado no equilíbrio do Mercado

Já vimos que o mercado livre é uma condição que maximiza a eficiência do mercado, sendo
assim, são geralmente uma boa maneira de organizar a atividade econômica. O mercado
deixado por sua própria conta maximiza o excedente total, maximizando assim a eficiência
económica do mercado.

Porém, devemos mais uma vez salientar que, este critério não diz se a situação de equilíbrio do
mercado que permite alcançar a eficiência é “justa” ou equitativa, uma vez que devemos
associar ao funcionamento do mercado a necessidade de se saber que:

•Mercados não são perfeitos pois podem permitir que determinados grupos tenham
“poder de influenciar preços;
• Transações têm efeitos colaterais, denominados externalidades 10, que afetam todas as
pessoas.
Assim, podem ser utilizadas algumas políticas públicas quem podem melhorar o resultado de
mercado em tais casos. Estas políticas públicas podem passar em regular preços de alguns
bens e melhorar as condições de produção de alguns bens, o que pode fazer o mercado
praticar preços fora do equilíbrio.

Quando os preços praticados no mercado não forem os preços de equilíbrio, pode resultar em
ineficiência. Assim, a interferência do Estado no mercado pode ser através do controlo de
preços, cobrança de imposto ou atribuição de subsidiando à alguns bens.

O controlo de Preços

O Estado intervém no mercado e regula o preço quando considera o preço de equilíbrio


inadequado ou injusto. Também pode intervir nos preços se considerar que o mercado não
funciona de forma eficiente devido ao poder de mercado de um lado ou do outro. As leis que o
Estado promulga para regular os preços são chamadas de controlos de preços.

O controlo de preços também é uma medida mais barata do que a introdução de um subsídio
(que deveria ser financiado por impostos). Frequentemente, o estado estabelece controlos de
preços após a pressão de lobbies, que tentam criar atividades de busca de renda. Finalmente,
mais raramente, controlos de preços podem ser introduzidos para controlar uma inflação
muito alta.

Os controlos de preços podem ser feitos de duas formas:

i. Preço máximo ou um teto de preço evita que um preço suba acima de certo nível (o
“teto”)
ii. Preço mínimo ou um piso de preço evita que um preço caia abaixo de um certo nível
(o “piso”).

10
A temática sobre Externalidades será abordada com mais profundeza mais para frente, neste manual
no capítulo intervenção do Estado na economia.

25
Preço Máximo ou Teto

Organismos como o Estado que tem poder de regular a atividade económica e os diferentes
mercados, pode impor preço máximo em determinados mercados.

Um preço máximo ocorre quando o Estado estabelece um limite legal, isto é um teto para o
preço de um bem ou serviço, com o objetivo de reduzir os preços abaixo do preço de equilíbrio
de mercado. Exemplos claros são o controlo dos preços dos transportes públicos em Luanda
(definição de limites máximos para os preços dos autocarros em Luanda), controlo de preços
nos combustíveis.

De um modo geral o preço máximo permite disponibilizar o bem a preços mais reduzidos do
que seria se o mercado funcionasse normalmente. Este teto de preços deve ser menor que o
preço de equilíbrio.

Desta forma o preço máximo deverá ser Se o preço máximo for igual ou maior que o
inferior ao de equilíbrio, o que vai originar
de equilíbrio será completamente
quantidades procuradas e oferecidas
indiferente pois o mercado por si só
diferentes. Ou seja, ainda que se consiga
encontrará o seu equilíbrio.
fornecer o bem a um preço mais baixo,
fornece-se menos quantidade. Teremos por isso uma procura superior à oferta: muitos
consumidores para a quantidade oferecida.

Os preços máximos envolvem o Estado fazer um julgamento normativo de que o preço de


equilíbrio do mercado é muito alto e precisa ser reduzido. O Estado pode impor um preço
máximo por vários motivos, entre eles:

• Bem é essencial para a vida diária. Sem um preço máximo, algumas pessoas podem
não ter condições de pagar por ele. Ao reduzir o preço, pode ajudar a reduzir a
pobreza relativa.
• Exploração de monopólio. Se as empresas detêm o poder de monopólio, podem
cobrar preços elevados aos consumidores - mais elevados do que o custo marginal de
produção e mais elevados do que em um mercado competitivo. Um preço máximo
pode ser uma forma de reduzir os "preços de monopólio" e também aumentar a
eficiência alocativa.

Para uma melhor análise do que acontece quando se define um preço máximo em um
mercado, vamos basear-nos no gráfico abaixo.

26
Na existencia de um preço máximo, teremos também um gasto de recursos e uma ineficiente
alocação dos bens. Ao mesmo tempo o bem terá a longo prazo uma redução da qualidade
(devido à redução do excedente do consumidor). Todos estes fatores conjugados levam à
existência de uma ineficiência económica no mercado.

O gráfico anterior ajuda-nos a calcular a ineficiência económica no mercado associada à


definição de um preço máximo. Para determinar a ineficiência económica no mercado vamos
fazer uma análise de bem-estar do mercado, ou seja, comparar os excedentes dos agentes
envolvidos antes e depois do preço máximo.

• Antes do preço máximo (preço=Pe)

 Excedente do Consumidor: A + D
 Excedente do Produtor: C + B + E
 Excedente Social: A + B + C + D + E

• Depois do preço máximo (preço =Pmáx)

 Excedente dos Consumidores: A + B


 Excedente dos Produtores: C
 Excedente Social: A + B + C

Assim, a ineficiência económica no mercado é dada pela soma das áreas D + E, a partir do
gráfico anterior.

A análise de bem-estar permite-nos verificar que ocorre uma transferência de excedente dos
produtores para os consumidores (B) devido à redução do preço. Contudo os triângulos D + E
não vão para nenhum dos agentes do mercado. Simplesmente desaparecem. Isto porque a
definição de um preço máximo gera procura superior à oferta, ou seja, existem transações que
não se vão realizar porque não há oferta suficiente. Por esta razão temos uma ineficiência
económica.

A implementação de um preço máximo para alguns bens no mercado, poderá causar outros
problemas no mercado, entre estes problemas temos:

• Escassez.
Um preço máximo distorce o mercado e leva ao desequilíbrio. A procura é maior do
que a oferta, o que significa que muitos consumidores não conseguirão obter o
produto.

• Incentiva o mercado negro.


Por causa da escassez, isso cria o incentivo para desenvolver um "mercado negro"
onde as pessoas comercializam ilegalmente os produtos. As pessoas podiam comprar
o produto pelo preço máximo baixo e revender para os clientes que não conseguiam
comprar. Isso é potencialmente muito lucrativo, pois alguns dos clientes que perderam
podem estar dispostos a pagar um preço muito alto.

• Filas.
Uma consequência de um preço máximo é que as pessoas acabarão na fila para tentar
obter o produto antes que ele se esgote. Isso encorajará as pessoas a passarem cada

27
vez mais tempo nas filas antes que acabem. Esse tempo gasto na fila representa um
custo significativo em termos de tempo.

• Mercado se tornará menos lucrativo para as empresas.


No longo prazo, isso pode levar a menos investimentos e também diminuir a oferta no
longo prazo. Por exemplo, o controlo dos preços das viagens em autocarro em Lunda
podem ser uma forma de lidar com o problema de curto prazo no preço do transporte
em Luanda. Mas, reduzir os preços dos autocarros desencoraja alguns investidores de
investir na compra de autocarros para o transporte colectivo.

A forma mais eficaz de implementar preços máximos seria também tentar lidar com o
fornecimento. Se o preço do transporte público por exemplo, for muito caro, uma solução a
longo prazo é a aumentar significativamente os transportes públicos e não apenas confiar nos
preços máximos.

Os preços máximos podem ser mais úteis no caso de um monopólio que restringe a oferta e
inflaciona os preços. Uma alternativa pode ser reduzir o poder dos monopólios; embora, em
alguns sectores, isso não seja possível. Portanto, os preços máximos serão os mais eficazes.

Preço Mínimo ou Piso

A par do teto, o Piso é também um conceito muito simples. Consiste na definição de um preço
mínimo. O Estado pode impor preço mínimo em determinados mercados. Exemplos claros são
os salários mínimos ou a política agrícola comum.

De um modo geral o preço mínimo permite disponibilizar o bem a preços mais elevados do
que seria se o mercado funcionasse normalmente. Este mínimo (piso) de preços deve ser
maior que o preço de equilíbrio.

Se o preço mínimo for igual ou menor que o de equilíbrio será completamente


indiferente pois o mercado por si só encontrará o equilíbrio.

Desta forma o preço mínimo deverá ser superior ao de equilíbrio, o que vai originar
quantidades procuradas e oferecidas diferentes. É o mecanismo exatamente oposto do preço
máximo.

Para melhor percepção dos efeitos de um preço mínimo num mercado, vamos analizar o gáfico
abaixo.

28
O gráfico de cima representa um mercado sujeito a controlo de preços. Se funcionasse
normalmente o equilíbrio seria atingido no ponto de intercessão entre a recta Qs e a recta Qd
onde seriam transacionadas QE unidades ao preço de PE.

Porém, quando se define um preço mínimo superior ao preço de equilíbrio, teremos:

• A um preço mais alto os consumidores vão querer consumir menos (Qd).


• A um preço mais alto os produtores vão disponibilizar mais quantidade no mercado
(Qs).
Ou seja, ainda que exista muita quantidade, apenas Qd é transacionada. Teremos por isso uma
procura inferior à oferta, poucos consumidores para a quantidade oferecida. Teremos também
um gasto de recursos e uma ineficiente alocação dos bens. Estes factores conjugados levam à
existência de uma ineficiência económica no mercado.

O preço mínimo existe por questões redistributivas e para proteger a produção nacional. A
inexistência destes mecanismos conduziria à falência de alguns setores da economia. Ainda
que seja negativo em termos de eficiência é política e socialmente necessária.

Assim como no preço máximo, vamos fazer de novo uma análise de bem-estar apartir do
gráfico anterior para determinarmos ineficiência económica.

• Antes do preço mínimo (preço=Pe)


 Excedente dos Consumidores: A + B + D
 Excedente dos Produtores: C + E
 Excedente Social: A + B + C + D + E

• Depois do preço mínimo (preço=Pmín)


 Excedente dos Consumidores: A
 Excedente dos Produtores: B + C
 Excedente Social: A + B + C

Assim, a ineficiência económica no mercado é dada pela soma das áreas D + E, apartir do
gráfico anterior.

Ao contrário do preço máximo verifica-se uma transferência de excedente dos consumidores


para os produtores (área B no gráfico) uma vez que, devido ao aumento do preço hà menos
consumidores a quererem comprar e mais produtores a quererem vender. Contudo os
triângulos D + E não vão para nenhum dos agentes do mercado. Isto porque a definição de um
preço mínimo gera oferta superior à procura. Por esta razão temos de novo uma ineficiência
económica.

Por isso, quando falamos a nível da eficiência económica a utilização destes tanto do preço
máximo quanto do preço mínimo é prejudicial. Porém, apesar disto, são políticas muito
utilizados uma vez que, apesar de ser mau a nível de eficiência econômica é positivo a nível da
redistribuição (a função do Estado 11).

A questão da redistribuição é alvo de análise em ciências econômicas. Importante reter que no


preço máximo os consumidores são beneficiados e no preço mínimo são os produtores.
Ambos as políticas de controlo de preços favorecem a existência de um mercado paralelo

A temática sobre as funções do Estado, será a abordada com maior profundidade ao longo deste
11

manual, no capítulo sobre as razões de intervenção do Estado na economia.

29
ilegal (mercado negro) para dar vazão ou à elevada procura (no caso de preço máximo) ou à
elevada oferta (vende-se o excesso de produtos a um preço baixo). É uma questão de fazer um
trade-off (prós e contras) entre eficiência económica e redistribuição.

Políticas de proteção dos Produtores nos de Preços mínimos

Trata-se de políticas que visam dar garantia de preços ao produtor de um dado bem, com
propósito de protegê-lo das flutuações dos preços no mercado, ou seja, ajudá-lo diante de
uma possível queda acentuada de preços e consequentemente da renda do mesmo. O Estado,
antes do início do processo, garante um preço que ele pagará após o acabamento do produto.
Se o preço de mercado for maior que o preço mínimo, o produtor vende ao mercado; caso o
preço de mercado for inferior ao preço mínimo garantido, o produtor vende ao Estado.
Normalmente os agricultores são os mais protegidos por estas políticas.

Supondo que o preço mínimo (Pmín) seja maior que o preço do mercado ou preço de equilíbrio,
o governo pode implementar dois tipos de políticas:

i. Compra o excedente, isto é, a diferença entre a quantidade produzida e a quantidade


desejam comprar ao preço mínimo (Qs – Qd, no gráfico a baixo). A isto dá-se o nome de
política de compras.
ii. Deixa os agricultores venderem toda a produção ao mercado o que fará o preço cair
para PC. O governo paga ao produtor a diferença entre o preço mínimo prometido (Pmín)
e o que o consumidor pagou no mercado (PC). Esta política é denominada política de
subsídios.

Neste caso, o Estado escolherá entre as duas políticas, aquela na qual gastará menos.
Como podemos observar nos gráficos abaixo.

30
A adopção de uma das políticas, dependerá da elasticidade-preço da procura, como podemos
ver na figura a seguir, dois gráficos um com demanda elástica e outro com demanda inelástica.

Os gastos do Estado com política de compras são dados pela área ABQdQs (primeiro gráfico
abaixo) e com a política de subsídios pela área PmBCPc. Logo, podemos notar que quanto mais
elástica for a procura de um bem, o Estado tenderá a adoptar política de subsídio, que sairá
mais barata aos cofres públicos e quanto mais elástica a procura, a área ABQdQs, se torna
maior que a área PmBCPc.

Impostos e seus efeitos no funcionamento do mercado

O Estado também pode intervir no mercado cobrando um imposto sobre o preço dos bens
vendidos. O principal objectivo do Estado, além de controlar o mercado, é obter rendimentos
para cobrir os custos do seu funcionamento (e para poder atribuir subsídios em outros
mercados).

A cobrança de um imposto faz com que o preço que os compradores pagam seja superior
(após a introdução do valor do imposto) ao preço que os vendedores recebem. Assim, o
imposto aumenta o preço que os consumidores pagam e diminui o preço que os vendedores
recebem de forma que diminui a
quantidade transaccionada.
Tradicionalmente, costuma definir-se o imposto
Existem nas economias uma
como uma prestação coactiva, definitiva,
diversidade de impostos, que incidem
unilateral, estabelecida por lei, a favor de uma
em regra sobre o rendimento e
entidade incumbida da prossecução de uma
consumo, sendo utilizados pelos
função pública, para a realização de fins
governos essencialmente para a
cobertura de despesas genéricas, podendo, excepcionalmente, ser usados para um destino
específico. Para este ponto do nosso manual vamos singir-nos nos impostos sobre o
consumo, ou seja, sobre os bens e serviços vendidos no mercado.

• Os impostos de consumo são impostos indirectos, pois incidem sobre o preço das
mercadorias, ou seja, os impostos de consumo se aplicam sobre bens selecionados
consumidos dentro de um país. Os impostos indirectos são regressivos em relação a
renda, pois representam uma maior parcela da renda dos mais pobres.

31
• Enquanto os impostos directos incidem directamente sobre o rendimento das
pessoas. Não provoca distorção nos mercados pois os preços relativos dos bens
permanecem iguais. O imposto directo é progressivo, ou seja, quem tem maior
rendimento, paga mais imposto.

Exemplo, na compra de uma TV INOVIA, se o imposto de consumo for de 5%, esta taxa,
representa maior parcela do rendimento do indivíduo pobre do que o do indivíduo rico.

O principal objectivo dos impostos indirectos é:

 Gerar receita fiscal para um governo;


 Desencorajar o consumo de produtos "prejudiciais";
 Incentive o consumo de produtos 'bons'.
Os impostos indirectos também são chamados de impostos sobre despesas. Existem dois tipos
diferentes de impostos indirectos que afetam o fornecimento de bens no mercado de forma
ligeiramente diferente, nomeadamente: específico e ad-valorem.

Tipos de impostos e seus efeitos

Vamos mostrar impostos específicos e ad-valorem, e analise seus impactos nos resultados do
mercado. O Impostos ad-valorem e específicos terão efeitos diferentes na curva de oferta.

Porém é bom salientar que a introdução de um imposto indirecto no mercado poderá afectar
não só a curva da oferta, mas, também a curva da procura.

• Isto é, afecta a a curva da oferta sobe (pois os produtores têm de cobrar mais para dar
a diferença ao Estado);
• Poderá também afectar a curva da procura (porque os consumidores têm de pagar a
taxa ao Estado).

I. Impostos específicos ou por unidade


É aqueles que representam uma parcela fixa por cada unidade vendida, independentemente
do valor da mercadoria, ou seja, são impostos aplicados por quantidades, tal como o cigarro
(exemplo: 50 kz por maço de cigarro, independentemente do preço).

A imposição de qualquer um dos tipos de imposto indirecto tem um efeito semelhante a um


aumento nos custos de produção. Isso significa que a curva de oferta de uma empresa
aumentará verticalmente de acordo com o valor do imposto. Ou seja, sendo o imposto
específico um valor fixo, qualquer que seja o preço do bem, ele deslocará a curva de oferta
paralelamente para cima, conforme mostrado no gráfico a seguir.

32
Vantagens dos Impostos específicos

 Previsível. Como o imposto não é sensível a alterações do preço, receitas


fiscais não se alteram quando os fabricantes alteram preços. A receita do
governo é, portanto, protegida contra as guerras de preços da indústria ou as
manipulações de preços.
 Aumenta o preço de todos os produtos. Impostos específicos são fixos e não
dependem da estratégia de precificação da indústria. Além disso, como o
imposto é aplicado a todos os produtos na mesma proporção, um imposto
mais alto geralmente resulta em aumento de preços similares em todo o
quadro, independente do produto. Impostos específicos reduzem a lacuna de
preços entre produtos baratos e caros.
 Fácil determinar o valor do imposto. Impostos de consumo específicos são
cobrados por quantidade, e seu cálculo exige apenas uma definição precisa do
que constitui “uma unidade” ou quantidade.
 Administração mais fácil. Os custos de administração de impostos específicos
de consumo são baixos porque é mais fácil contar o número de produtos do
que estimar seus valores. Ao contrário do imposto sobre valor agregado, que é
recolhido em diversos pontos de produção, impostos específicos são
recolhidos somente uma vez, tanto de produtores/importadores quando de
varejistas, deixando a evasão fiscal muito menos provável e aumentando a
eficácia do recolhimento.

Desvantagens dos Impostos específicos

 A inflação erode seu valor. Como a taxa tributária não é ligada ao preço do
produto, ela não se ajusta automaticamente com a inflação. Para lidar com
isso, o governo deve implementar periodicamente aumentos de taxa, ou
adicionar à lei tributária a premissa de que a taxa do imposto de consumo
específico será automaticamente ajustada à inflação.
 Imposto Injusto. Uma outra desvantagem é o facto de não ser muito justo,
isto é, independentemente do seu consumo, o indivíduo paga a mesma
quantia.

II. Impostos ad-valorem 12


Aplica-se uma alíquota (percentual) fixa sobre o valor da transacção ou seja, é aquele cuja base
de cálculo é o valor do bem tributado. Um imposto cujo valor corresponde a uma percentagem
do preço de um bem ou serviço.

Assim, o valor do imposto aumenta com o aumento do preço do bem em causa. O imposto
sobre o valor acrescentado (IVA), o Imposto de Selo, o Imposto de consumo são exemplos
deste tipo de impostos.

Sabemos que o imposto ad-valorem é uma porcentagem do preço de venda.

• Isso significa que a preços baixos o imposto será relativamente pequeno (10% de 100 é
apenas 10 Kz);

12
Ad-Valorem é uma expressão em latim, cujo significado literal é “conforme o valor”

33
• Mas a preços mais altos o imposto cobrado será mais alto (10% de 100 kz é 100 Kz).
Isso significa que a curva de oferta se desloca para a esquerda e para fora à medida que o
preço aumenta, como podemos ver no gráfico abaixo.

Vantagens dos Impostos ad valorem

 Ajuste automático para a inflação. Como a taxa tributária é ligada ao preço do


produto, ela se ajusta automaticamente com a inflação.
 A margem de lucro mais alta é tarifada. O imposto ad valorem reduz a
margem de lucro da indústria já que uma parte de qualquer aumento de
preço/lucro vai para o governo como renda tributária.
 Aumento automático da receita pública. Uma vantagem dos impostos ad
valorem é que a receita tributária do Estado pode aumentar automaticamente
à medida que a economia cresce. Isso significa que a taxa de imposto não
precisa ser reajustada com frequência, como no caso de impostos unitários
específicos.

Vantagens dos Impostos ad-valorem

 Fluxo de receita menos previsível. Como os impostos ad valorem são


baseados em valor, é difícil prever a receita tributária ao longo do tempo.
 Difícil determinar o valor do imposto. Ao contrário dos impostos específicos,
que podem ser facilmente aplicados aos produtos por mera determinação de
quantidade, os impostos ad valorem exigem mais esforço para se calcular o
pagamento. Os fabricantes podem facilmente estipular o preço de seus
produtos para evitar pagamentos de impostos mais altos.
 Preços baixos. Há um incentivo para que fabricantes produzam produtos de
baixo preço porque os impostos ad valorem são ligados aos preços dos
produtos. Isso, por sua vez, faz com que os produtos sejam mais acessíveis à
juventude e populações de baixa renda.
 Difícil administrar. Auditar o valor de múltiplos tipos de produtos a tributar
declarados pelos fabricantes exige uma grande capacidade de administração
tributária. Em países onde administração tributária pode ser fraca, o potencial
da receita tributária total pode não ser realizado caso os preços do mercado
não sejam bem estabelecidos ou verificados.

34
Apesar da vantagem do ad valorem, existem situações em que há um bom motivo para adotar
o imposto específico. Isso geralmente acontece com produtos cujo consumo o governo deseja
controlar ou até desincentivar. É o caso do tabaco e do álcool.

É importante lembrar que os impostos associados ao consumo acabam sendo repassados ao


comprador, embutidos no preço. Logo, se eles forem muito onerosos, podem fazer o consumo
desacelerar e prejudicar a economia.

Incidência de um imposto indirecto no mercado

A análise, ou forma, de como a carga de um imposto é dividida entre consumidores e


produtores é chamada de incidência tributária ou simplesmente incidência do imposto.
Normalmente, a incidência, ou ônus, de um imposto recai tanto sobre os consumidores
quanto sobre os produtores do bem tributado. Ou seja, A carga tributária é geralmente
compartilhada por consumidores e produtores.

A carga de um imposto é geralmente compartilhada pelos produtores e consumidores em um


mercado. O preço que o consumidor paga em decorrência do imposto (incluíndo o imposto) é
maior do que o que existiria no mercado sem o imposto, mas não pelo valor total do imposto.

Além disso, o preço que o produtor recebe como resultado do imposto (líquido do imposto) é
inferior ao que existiria no mercado sem o imposto, mas não pelo valor total do imposto.
(Excepções a isso ocorrem quando a oferta ou a procura são perfeitamente elásticas ou
perfeitamente inelásticas.)

I. Imposto específico

Com a introdução de um imposto num mercado, passa-se a ter uma curva da oferta diferente
da inicial: uma com imposto Qs´ = f (P´) e
outra sem imposto Qs = f (P).
Quando existe um imposto T, se forem os
Como o valor que os vendedores recebem é vendedores a reter o imposto, o valor que
menor, soma-se T para ficar igual Preço de os vendedores recebem é menor que o
mercado ⇒ P´ + T = P então P´ = P – T. Sendo
preço de transacção (preço de mercado).
P o preço de mercado, pago pelo comprador e
P´ o preço para o produtor (Preço de mercado menos o imposto).

O preço P´ é o que resta ao produtor após receber do mercado o preço P e retirar o imposto T
para os cofres do Estado. Para fornecer a mesma quantidade que fornecia anteriormente, o
produtor tem de aumentar o preço e se pretende manter o preço, deve diminuir a quantidade
pois, o imposto funciona como custo para o produtor.

O imposto aumenta o valor pago pelo comprador ao vendedor, porque o preço de equilíbrio
do mercado é o preço pago pelo comprador e é maior que o preço antes do imposto.

35
O gráfico acima mostra que, com a existência do imposto específico, o preço de equilíbrio no
mercado aumenta, excepto na situação em que a curva da demanda der totalmente elástica.

II. Imposto ad-valorem

Considerando P o preço do mercado, pago pelo comprador e P´ o preço para o produtor e t


uma alíquota ou percentagem do imposto, no caso do imposto ad valorem passa-se a ter duas
curvas da oferta: uma com imposto Qs´ = f (P´) e outra sem imposto Qs = f (P), teremos:

Se P´= P - Pt ⇔ P´ = P(1-t)
Neste caso, o que altera é o declive da curva da oferta e não o intercepto. E graficamente
teremos:

O gráfico acima mostra que a distância entre Qs´ e Qs é o imposto, que aumenta à medida que
o preço aumenta para o imposto ad valorem.

III. Cálculo da insidência do imposto


Vamos agora analisar para quem realmente incide o imposto, supondo o imposto específico e
consideraremos que a análise também é valida para o imposto ad valorem.

Considerando:

Po = Preço de equilíbrio sem imposto

P1 = Preço pago pelo consumidor em T

36
P´ = Preço recebido pelo produtor (vendedor) após T, Qo e Q1 são as quantidades antes
e depois do equilíbrio respectivamente, teremos: P´ = P1 – T. Segue-se então:

 A parcela em u.m do imposto paga pelo consumidor é a diferença entre o que


paga com imposto (P1) menos o que pagaria sem imposto (P0): (P1-PO).Q1

 A parcela em u.m do imposto paga pelo vendedor é a diferença entre o que


receberia sem imposto (P0) menos o que recebe com imposto (P1): (PO-P´).Q1

 A arrecadação neste mercado é a soma das duas parcelas anteriores ou o valor


do imposto multiplicado com a quantidade vendida. Isto é: A = T.q1

O peso morto do Imposto

Do ponto de vista da sociedade, a aplicação de imposto num mercado de concorrência causa


distorção na alocação de recursos. Isto pode ser visto a partir da análise do excedente do
consumidor e do produtor. Melhor percepção do peso morto, pode ser feita analisando o
gráfico abaixo.

37
Analisando o gráfico acima, podemos ver que o aumento do preço, (de PO para P1 por exemplo)
diminui a excedente do consumidor como pode ser visto no gráfico acima pela área da figura
A+B. Por outro lado, um menor preço líquido recebido pelo produtor, provoca uma redução do
seu bem-estar que é medido pela área da figura C+D. Supondo que a arrecadação fiscal é
utilizada para o benefício tanto dos consumidores como dos produtores, poderíamos dizer que
as perdas ficariam parcialmente compensadas pela devolução da área de arrecadação A+D.

Assim, podemos ver que o efeito líquido dos impostos sobre a sociedade é a geração de uma
perda líquida irrecuperável, um “peso morto” como normalmente é chamada. Esta perda
corresponde a área B+D, que reflecte a má alocação dos recursos que é gerada quando o
Estado impõe ao aplicar um imposto, que a quantidade transaccionada seja Q1.

Incidência dos Impostos e Elasticidade-Preço da Procura e da oferta

Sabe-se que, a incidência tributária é a maneira pela qual a carga tributária é dividida entre
compradores e vendedores.

A incidência tributária depende da elasticidade-preço relativa da oferta e procura.

 Quando a oferta é mais elástica do que a procura, os compradores suportam a maior


parte da carga tributária.
 Quando a demanda é mais elástica do que a oferta, os produtores assumem a maior
parte do custo do imposto.

A receita tributária é maior quanto mais No caso dos cigarros, por exemplo, a
inelásticas forem a demanda e a oferta.
procura é inelástica, porque os cigarros são
Dependendo das circunstâncias, a carga
uma substância viciante. Assim, os impostos
tributária pode recair mais sobre os
são principalmente repassados aos
consumidores ou sobre os produtores. Os
consumidores, sob a forma de preços mais
gráficos vão ajudar a perceber melhor a
incidência tributária, tendo em conta a altos.
elasticidade preço.

Como já vimos anteriormente, a incidência, ou carga, de um imposto recai tanto sobre os


consumidores quanto sobre os produtores do bem tributado. No entanto, se quisermos
prever qual grupo suportará a maior parte da carga, tudo o que precisamos fazer é examinar
a elasticidade da procura e da oferta.

 Se a procura for mais inelástica do que a oferta, os consumidores suportarão a maior


carga tributária. Mas, se a oferta for mais inelástica do que a demanda, os vendedores
suportarão a maior carga tributária.
 Quando a procura é inelástica, os consumidores não respondem muito a mudanças de
preços, e a quantidade procurada. O vendedor pode então passar o fardo do imposto
para os consumidores na forma de preços mais altos sem muito declínio da
quantidade de equilíbrio.
 Quando um imposto é introduzido em um mercado com uma oferta inelástica os
vendedores não tem escolha, senão aceitar preços mais baixos para os seus negócios.
Impostos não afetam significativamente a quantidade de equilíbrio. Neste caso, a
carga fiscal fica sobre os vendedores.

38
 Se a oferta fosse elástica e os vendedores tivessem a possibilidade de reorganizar seus
negócios para evitar ofertar o bem taxado, a carga fiscal sobre os vendedores seria
muito menor e o imposto resultaria em uma quantidade muito menor vendida ao
invés de preços mais baixos recebidos.

A relação entre a incidência de impostos e a elasticidade da procura e da oferta representada


no gráfico a seguir.

No gráfico A, acima à esquerda, a oferta é inelástica e a procura é elástica. Ao introduzir um


imposto, o Estado cria, essencialmente, uma discrepância entre o preço pago pelos
consumidores, P1 e o preço recebido pelos produtores P´.

Uma vez que o imposto pode ser visto como um aumento no custo de produção, também
pode ser representado por um deslocamento à esquerda da curva da oferta. A nova curva da
oferta interceptará a demanda na nova quantidade Q1.

• A receita tributária é dada pela área sombreada, a qual pode ser calculada
multiplicando-se o imposto por unidade pela quantidade total vendida, Q1.
• A incidência tributária sobre os consumidores é dada pela diferença entre o preço
pago, P1 e o preço de equilíbrio inicial PO.
• A incidência tributária sobre os vendedores é dada pela diferença entre o preço de
equilíbrio inicial, PO, e o preço que eles recebem depois que o imposto é introduzido,
P´.
Assim, podemos ver que a carga tributária recai desproporcionalmente sobre os vendedores e
uma proporção maior da carga tributária, a área sombreada, é devido a um preço recebido
pelos vendedores, menor que os preços mais altos pagos pelos consumidores.

Por outro lado, no gráfico B, acima à direita, no qual a oferta é mais elástica que a procura, a
incidência tributária agora recai desproporcionalmente sobre os consumidores, como
mostrado pela grande diferença entre o preço que eles pagam P1 e o preço inicial de equilíbrio,
PO. Os vendedores recebem um preço menor que antes do imposto, mas essa diferença é
muito menor que a mudança no preço ao consumidor.

Usando esse tipo de análise, nós também podemos prever se um imposto deverá criar uma
grande receita ou não.

 Quanto mais elástica a curva da procura, mais fácil para o consumidor reduzir a
quantidade ao invés de pagar preços mais altos.

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 Quanto mais elástica a curva da oferta, mais fácil para os vendedores reduzirem a
quantidade vendida ao invés de aceitar preços menores.

Logo, em um mercado em que ambos, procura e oferta, são muito elásticos, a imposição
de impostos gera baixas receitas.
As pessoas frequentemente pensam que impostos sobre consumo prejudicam indústrias
específicas a que se dirigem. Mas, por fim, saber se a carga tributária recairá mais sobre a
indústria ou sobre os consumidores dependerá simplesmente da elasticidade da procura e da
oferta.

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