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Introdução
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Professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais - DCS e do Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, ambos da Universidade Federal da
Paraíba – UFPB.
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TILBURY, D. (1996). Environmental education for sustainability in Europe: philosophy into practice.
Environmental Education and Information, vol. 16, nº 2, Salford, UK. CARVALHO, I. C. de M. (2002).
O “ambiental” como valor substantivo: uma reflexão sobre a identidade da educação ambiental. In: L.
Sauvé, I. Orelana e M. Sato (orgs.) Textos escolhidos em Educação Ambiental de uma América à outra.
Montreal: Publications. LIMA, G. F. da C. (2003). O discurso da sustentabilidade e suas implicações para
a educação. Ambiente & Sociedade, NEPAM/UNICAMP, Campinas, vol. 6, nº 2, jul/dez. JICKLING, B.
(1992). Why I don’t want my children to be educated for sustainable development. The Journal of
Environmental Education, vol. 23, nº 4, Heldref Pub., Washington DC, USA. MEIRA, P. (2005). Elogio
da educação ambiental. In XII Jornadas Pedagógicas da Educação Ambiental. ASPEA: Associação
Portuguesa da Educação Ambiental.
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Embora alguns autores diferenciem essas duas noções neste texto entende-se que a noção de
sustentabilidade deriva do debate sobre o desenvolvimento sustentável e retira dele as principais
característica de sua significação.
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social – o campo ambiental -, no sentido elaborado por Bourdieu (2001; 2004), onde
uma rede plural de agentes e forças socioambientais disputa o sentido legítimo do termo
e o direito de definir as estratégias mais adequadas à sua realização. Viola e Olivieri
(1997: 212-213) compartilham essa compreensão quando ponderam:
“Em outras palavras, a luta pelo significado legítimo do desenvolvimento sustentável, expressa
diversas categorizações e classificações fundadas, obviamente em práticas diferentes e ligadas a
múltiplas cosmovisões provenientes de uma pluralidade de pontos de vista essencialmente
conflitantes. ... Em outras palavras, os diferentes atores do ambientalismo formulam e pleiteiam
suas diferenças internas dentro desse campo de significado, denominado ambientalismo
multissetorial. ... Nesse sentido, pode-se afirmar que as diversas posições do ambientalismo em
relação ao significado da “transição em direção a uma sociedade sustentável” implicam lutas
simbólicas pelo poder de produzir e de impor uma visão legítima de sustentabilidade.
Testemunhamos a todo instante e pelos mais diferentes meios e mídias o fato de que
as sociedades capitalistas contemporâneas têm sido hegemonicamente regidas pela
esfera econômica. Somos condicionados por ideologias liberais e neoliberais, por
relações de mercado se sobrepondo a outros critérios, por estímulos crescentes de
consumo, que por sua vez definem a cidadania, colonizam nossos desejos e sonhos de
felicidade e por valores culturais de competição, eficiência, aquisitividade, sucesso
econômico e individualismo entre outros. Sabemos, por outro lado, que a sociedade
humana é composta pela interação entre as esferas econômica do mercado, do estado e
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da sociedade civil que, embora se relacionem mutuamente mantêm cada uma delas
características próprias que definem sua função, ação e identidade. Desde as décadas
finais do século XX, com o advento da globalização econômica, temos assistido um
duplo movimento social que se manifesta na expansão da esfera do mercado e,
simultaneamente, na atrofia da esfera estatal. Esse duplo movimento decorre
diretamente da crise do Estado como agente promotor do desenvolvimento e gestor das
demandas sociais e de sua substituição por uma hegemonia político-ideológica de feição
neoliberal, marcada pelo estado mínimo, com conseqüentes impactos sobre as políticas
sociais; pela privatização das empresas e serviços públicos, pela regulação da inflação e
das finanças, pela desregulamentação das leis trabalhistas e incentivo aos processos de
produção flexíveis, de alta intensidade tecnológica que favoreceram a figura do
desemprego estrutural e a fragilização das lutas sindicais (COHEN, 2003;
ANDERSON, 1995). Diante desse cenário qual a importância e a contribuição da
sociedade civil e dos movimentos sociais?
mais significativas de sua identidade. Faz sentido, assim, que a educação ambiental e as
escolas preocupadas com as transformações sociais e ambientais se aproximem e
apóiem os movimentos sociais enquanto forças orientadas à defesa das causas públicas.
Entendo, nesse sentido, que a EA sintonizada com esse propósito dispõe de duas
esferas de ação e interação com os movimentos sociais: a) uma esfera de ação educativa
formal que se desenvolve em espaços escolarizados e b) uma esfera de ação educativa
não-formal que ocorre em espaços comunitários. No caso da ação educativa formal, que
nos interessa no momento, a interlocução com os movimentos sociais não seria sempre
direta, mas propiciada por parcerias, atividades solidárias, visitas mútuas, palestras, dias
de campo e atividades comunitárias. Essa relação entre as escolas e movimentos sociais
pode ser complementada através do próprio processo educativo quando a escola pode
promover e legitimar os movimentos sociais inserindo-os como temática no currículo. E
como é possível essa inserção no currículo? Ela pode se dar através de uma abordagem
da relação entre sociedade e ambiente que problematize: as razões de existência dos
movimentos sociais; suas bandeiras de luta; seu papel político e pedagógico na
sociedade, sua contribuição na diagnose social e na revitalização da democracia; a
relação e as possibilidades de cooperação entre a escola e a comunidade; os conflitos e
interesses com os quais estão envolvidos; suas relações com o Estado, a democracia, o
mercado, as ONGs e as mídias entre outras esferas da sociedade; as identidades e
ideologias que os definem; suas finalidades sociais, políticas e culturais, suas relações
com o meio ambiente, com a educação e com os ambientalismos. Ou seja, falar da
relação entre a EA e os movimentos sociais é falar de uma EA comprometida com a
cidadania socioambiental e com a esfera pública que desenvolve práticas e saberes
comprometidos com a participação social e com a construção de uma sustentabilidade
democrática (GOHN, 2012; LIMA, 2013; LOUREIRO, 2008).
Com relação ao currículo importa examiná-lo por uma perspectiva crítica que não o
considera apenas como instrumento neutro de organização do conhecimento, mas como
uma construção social e política que seleciona, classifica e hierarquiza os
conhecimentos disponíveis e produzidos socialmente. Neste sentido, cabe à educação
ambiental que aspira à transformação, politizar a crise ambiental, compreender seus
significados e sua gênese social, explorar os conflitos entre interesses privados e
públicos que se manifestam como problemas ambientais, as ambigüidades do projeto
oficial de desenvolvimento sustentável, verificar a distribuição de riscos ambientais no
interior da sociedade e identificar os caminhos de mudança e as possibilidades
individuais e coletivas de resistência à degradação. Nessa tarefa importa ter em conta
que o currículo não é apenas uma seleção de conteúdos e de diretrizes pedagógicas
escritas em algum lugar, mas todas as mensagens veiculadas direta ou indiretamente no
ambiente escolar através das relações sociais cotidianas – com suas atitudes e valores -,
da organização do espaço escolar, das práticas e rituais desenvolvidos nesses espaços e
em sua relação com a comunidade e o entorno que a cercam (CAVALCANTE, 2005,
SILVA, 2005). Então, vale não apenas o que se ensina pela frente, mas principalmente o
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que se ensina pelas costas, isto é, pelo exemplo. A articulação e coerência entre teoria e
prática, que caracteriza a práxis, é outro aspecto a ressaltar já que de pouco adianta um
mar de boas intenções que não se convertem em práticas cotidianas e pedagógicas nas
salas e nas atividades desenvolvidas. Por fim, mas não menos importante, aparece a
questão de incorporar no currículo a cultura, o ambiente e os problemas do local onde o
processo educativo se verifica.
Com relação às práticas escolares muitos destes exemplos são válidos e podem ser
adaptados para atividades dentro e fora das salas de aula, envolvendo desde atividades
de levantamento e pesquisa sobre problemas socioambientais de interesse dos alunos
passando por atividades na escola, atividades no bairro e na cidade. Importa que a
aprendizagem considere a compatibilidade entre os temas e a idade dos alunos, assim
como os princípios citados de participação, liberdade, problematização e complexidade.
É possível convidar pessoas que vivem experiências significativas ligadas ao meio
ambiente, desde cientistas até comunidades de catadores de resíduos, ambientalistas e
agentes do governo, grupos artísticos vinculados ao tema e associações do bairro.
Aproveitar diversas mídias como o jornal, as revistas, livros, documentários, filmes de
ficção e internet. Investigar como crianças ou povos de outras regiões do mundo vivem
e resolvem os mesmos problemas, como se relacionam entre si e seu ambiente, como
produzem e consomem e que valores atribuem às experiências vividas.
4. Considerações finais
Discutimos ao longo do texto alguns dos desafios de nosso tempo e o papel que a
educação ambiental pode desempenhar neste contexto. É inegável que a educação não
pode tudo, mas tem um papel relevante e possibilidades de se desenvolver na direção da
conservação ou da transformação da ordem social estabelecida.
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Vimos, neste contexto, que a educação ambiental é herdeira direta dos movimentos
sociais e dos ambientalismos e ao tematizar a mudança social ela inevitavelmente se
encontra com os anseios da sociedade civil e dos movimentos sociais, sobretudo no
quadro de uma globalização neoliberal que expande os domínios da economia e do
privado enquanto promove a atrofia das forças e funções do estado-nação.
5.Referências bibliográficas
COHEN, J. Sociedade civil e globalização: repensando categorias. Dados v.46 n.3 Rio
de Janeiro, 2003.
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LASH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social
moderna. São Paulo: UNESP, 1997.
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Janeiro: Record, 2000.
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HABERMAS, Jürgen. The theory of communicative action. Boston: Beacon Press,
1984.
JICKLING, B. Why I don’t want my children to be educated for sustainable
development. The Journal of Environmental Education, vol. 23, nº 4, Heldref Pub.,
Washington DC, USA, 1992.
LIMA, G. F. da C. O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a educação.
Ambiente & Sociedade, NEPAM/UNICAMP, Campinas, vol. 6, nº 2, jul/dez, 2003.
______________. Educação ambiental e movimentos sociais: do conservacionismo ao
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ambiental para o semiárido: Da pedagogia dialógica à sustentabilidade ambiental. João
Pessoa, PB: Editora UEPB, 2013 (No prelo).
LOUREIRO, C.F.B. Educação ambiental e movimentos sociais: reflexões e questões
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VIEIRA, L. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2011.
VIOLA, E. J. & OLIVIERI, A. Globalização, sustentabilidade e governabilidade
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SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond,
2002.
SILVA, T. T. da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo.
Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
TILBURY, D. (1996). Environmental education for sustainability in Europe:
philosophy into practice. Environmental Education and Information, vol. 16, nº 2,
Salford, UK.