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DISCURSIVAS DE
LÍNGUA INGLESA:
GÊNEROS
ACADÊMICOS
Introdução
Durante o aprendizado de língua inglesa, o sujeito-aluno passa a dialogar
com formações discursivas diversas. Algumas tomam o inglês como
língua mundial, outras como instrumento de comunicação. Nesses (des)
encontros, o aluno se identifica ou não com um conjunto de posições
enunciativas dadas, o que muitas vezes não permite a ele se construir
como um sujeito-falante do idioma.
Nesse contexto, alguns estudos auxiliam o sujeito-professor a pensar
na sua prática pedagógica de ensino e de aprendizagem da língua a partir
dos gêneros. Na esfera educacional, os gêneros acadêmicos tornam-se
objetos de estudo importantes para que o sujeito-aluno aprenda sobre
como se estruturam os usos e as atividades de interação estabelecidas
pelas práticas discursivas que usamos para agir no mundo.
Neste capítulo, você vai ver uma reflexão sobre a noção de “erro” a
partir dos processos de ensino e aprendizagem de uma língua, ofere-
cidos à luz da abordagem da análise do discurso francesa (ADF). Você
também vai estudar alguns dos elementos importantes ao estudo dos
2 Movimentos de reformulação textual: acréscimo e deslocamento
A noção de “erro” é empregada entre aspas como uma tentativa de nos afastarmos um
pouco do uso comum que a palavra implica. Esse uso frequentemente carrega uma
memória e uma representação discursiva negativas para aquele a quem o termo se
dirige, em especial no espaço de uma sala de aula. Também encontramos em Fortes e
Grigoletto (2013) o uso desse termo entre aspas. Partindo também de uma abordagem
discursiva, essas autoras empregam as aspas ao falarem de erro como um gesto que
busca “desnaturalizar” essa palavra, que está constantemente em circulação nos
discursos dos sujeitos-professores, quando trabalham os seus processos pedagógicos
de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira com os seus sujeitos-alunos.
a situação social;
as estruturas linguístico-discursivas;
os papéis sociais dos participantes;
os tipos de formalidade;
os valores sociais colocados em jogo;
as relações de poder;
as ideologias.
Além disso, uma pedagogia voltada para o estudo desses elementos oferece
outras perspectivas para o aluno-aprendiz sobre os usos situados e contextua-
lizados de uma língua. Ele pode identificar, por exemplo, de que maneiras os
vários grupos de falantes de inglês se constituem como falantes dessa língua
por meio de ações tipificadas comuns (gêneros), que são realizadas ao longo
dos diversos horizontes sociais e culturais em que atuam.
Dentro desse estudo, Swales (1990 apud HYON, 2001; PÉREZ-LLAN-
TADA AURÍA, 2006) se coloca como um estudioso que tem trazido con-
tribuições significativas para os estudos dos gêneros acadêmicos usados
nos espaços escolares, que envolvem o uso do inglês para fins específicos
(ESP). Tomando a língua a partir de uma perspectiva social, mas ainda sob
a influência dos estudos funcionais-sistêmicos, da linguística aplicada e do
campo da retórica, Swales (1990 apud HYON, 2001) interpreta as práticas de
comunicação acadêmica como um processo contínuo que é co-construído com
os diversos sujeitos envolvidos. Em tais práticas, os sentidos e as interpretações
são estabelecidos por meio da interação social.
De acordo com Swales (2016), o gênero é uma ação social e comunicativa
que estrutura a nossa vida, e que varia em complexidade e em frequência.
Há os gêneros ditos mais simples, como os anúncios de venda de objetos
usados; os mais raros, como as encíclicas papais; há os mais comuns, como
os recibos de compras; e os ditos mais complexos, como os estatutos legais,
as teses de doutorado, entre outros. Como aponta o estudioso, os gêneros
“evoluem” e se modificam, ou seja, podem estar estáveis agora, mas não
para sempre: uma vez que diferentes pessoas agem socialmente por meio
dos gêneros, em lugares, momentos e circunstâncias culturais distintos, eles
passam a ser sujeitos a mudança. Há ainda as pressões externas nos gêneros,
8 Movimentos de reformulação textual: acréscimo e deslocamento
como nos artigos científicos, que passaram a incluir o resumo (em mais de
uma língua), as palavras-chave, os destaques (highlights), etc.
Os gêneros variam ainda conforme determinados traços, ou seja, enquanto
alguns apresentam traços mais prototípicos, outros estão mais à margem, à
beira da possibilidade de mudanças. De maneira geral, há uma tendência de
buscar padronizar determinadas ações comunicativas, mas há aqueles que
tendem a transgredir tais normas (SWALES, 2016) ou a variá-las, porque há
certo “descontentamento” em relação a como elas são colocadas.
Swales (2016) também discute que a maioria dos gêneros (ou parte deles)
apresentam certa caracterização enunciativa estrutural prototípica. Esse é o
caso do início dos gêneros enciclopédicos, que trazem definições do âmbito
mais geral, para depois passar a trabalhar as suas especificidades; e do início
dos artigos científicos, que muitas vezes apresentam um estudo de caso bem
definido, para depois passar a discutir o geral. Há ainda outras caracterizações
estruturais de ordem mais cronológica, como nos procedimentos que são des-
critos nos artigos científicos, e as formulações estruturais que apresentam o
problema e a sua solução, como nos relatórios técnicos de segurança do trabalho.
De maneira geral, Swales (1990 apud HYON, 2001) caracteriza um gênero
como um conjunto de textos que compartilham propósitos ou funcionalidades
em comum, assim como uma variedade de traços similares em termos de
estrutura, estilo, conteúdo e audiência. A partir do que aponta o autor e das
discussões que você viu, essas reflexões são significativas para o trabalho com
a língua inglesa em sala de aula por meio dos gêneros acadêmicos.
Pode-se afirmar que, dentro de uma pedagogia do gênero (SWALES, 2016),
alguns elementos parecem ser essenciais para os processos de ensino e apren-
dizagem, uma vez que o olhar sobre o assunto (os conteúdos que comumente
têm espaço em tal gênero acadêmico) também deve considerar o olhar sobre
como ele é estruturado e construído nas diversas maneiras como os falantes
de um idioma agem no mundo. Considerando as esferas educacionais, mais
especificamente a da universidade, veja a seguir alguns desses elementos:
Leituras recomendadas
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261–306.
BHATIA, V. K. A análise de gêneros hoje. In: BEZERRA, B. G.; BIASE-RODRIGUES, B.; CA-
VALCANTE, M. M. (org.). Gêneros e sequências textuais. Recife: Edupe, 2009. p. 159–195.
BEZERRA, B. G.; BIASE-RODRIGUES, B.; CAVALCANTE, M. M. (org.). Gêneros e sequências
textuais. Recife: Edupe, 2009.
CORDEIRO, R. Q. F. Relato de experiência: um ensaio sobre os desejos na linguagem.
Revista Escrita, Rio de Janeiro, v. 20, p. 1–8, 2015. Disponível em: https://www.maxwell.
vrac.puc-rio.br/24988/24988.PDF. Acesso em: 19 maio 2020.
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