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Avaliação Diagnóstica 2019

Material Estruturado para o


Trabalho com os Descritores
do SPAECE

D09 – Reconhecer
gêneros discursivos.

Autora: Lilian Kelly Alves Guedes


Material Estruturado para o trabalho com os descritores do SPAECE

Caro(a) professor(a),

Este material estruturado foi elaborado com o intuito de apoiá-lo no


planejamento de aulas com foco no descritor D9, presente na matriz de avaliação
do SPAECE. Tal descritor refere-se à habilidade dos estudantes em reconhecer
gêneros discursivos.
Pensando nisso, sugerimos alguns exercícios que podem ser
desenvolvidos em sala de aula com base nas atividades já realizadas por você.
Dessa forma, você poderá adequá-los ao seu contexto e ao dos estudantes.
Com foco na aprendizagem, nós, da Secretaria da Educação do Estado do
Ceará, estamos mobilizados para contribuir e valorizar o ofício de ensinar, a fim
de elevar os estudantes de nossa rede ao nível adequado.
Bom trabalho a todos e a todas!

Equipe COADE
Secretaria da Educação do Estado do Ceará
Comentários referentes ao conteúdo abordado nesta unidade

Os estudos linguísticos passaram por grandes mudanças de perspectiva ao longo


dos anos. Antes, priorizava-se uma visão que desprezava as variações linguísticas e o
contexto do uso da língua, o que repercutia em um ensino limitado à identificação e à
classificação de frases isoladas de sua situação comunicativa original. É notório, no
entanto, que alguns fenômenos da língua não conseguem ser explicados se partirmos
desse aspecto de unidade que o estruturalismo e gerativismo forneciam. Um exemplo para
essa insuficiência pode ser visto na construção da referenciação (ZAVAM e ARAÚJO,
2008), quantos limites são percebidos ao trabalharmos este aspecto da língua se não
temos por base um texto?
Diante disso, novos estudos que tinham como foco os gêneros e começaram a
tomar espaço no cenário linguístico, “buscando compreender os princípios e condições que
regem a organização textual, pois toda vez que utilizamos a língua, o fazemos sob um
determinado gênero, ainda que não tenhamos consciência disso” (ZAVAM e ARAÚJO,
2008). Isso estimulou estudos plurais voltados para a análise de textos, ganhando o espaço
que até então era voltado para uma visão formalista da língua, por meio dos trabalhos de
Saussure, Bloomfield e Chomsky (MARCUSCHI, 2008).
Bakhtin tornou-se, então, nesse cenário, uma referência para pesquisadores das
ciências da linguagem, como também para os estudiosos do ensino de línguas. Suas
contribuições são basilares até hoje, como a definição de gênero. Para o autor, os sujeitos
fazem uso de enunciados que refletem condições e finalidades específicas, devido a seu
conteúdo temático (concernente às diversas atividades humanas), a seu estilo (que são
expressos por meio dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua) e a sua
construção composicional (características organizacionais dos enunciados que são
relativamente estáveis) (MARCUSCHI, 2008).

A percepção teórica adotada neste trabalho está consoante à “perspectiva


interacionista e sociodiscursiva de caráter psicolinguístico e atenção didática voltada
para a língua materna à luz de Bronckart, Dolz e Schneuwly: com vinculação
psicológica (influências de Bakhtin e Vygotsky) estão preocupados [...] tanto com a
oralidade como na escrita” (MARCUSCHI, 2008).
Assim, podemos entender o gênero como um meio pelo qual a sociedade estabelece
suas relações interacionais,

Trata-se, portanto, de escolhas que se definem em função de cada gênero e dos


propósitos comunicativos nos mais diferentes contextos sociointeracionais. Estes
contextos são situações de uso efetivo da linguagem verbal em que as pessoas
participam cotidianamente com os mais variados propósitos, no ambiente familiar, no
trabalho, nas instituições públicas e privadas, nas festas e outras reuniões sociais,
etc. (BIASI-RODRIGUES, 2008, p. 35).

Partindo da concepção de gênero de Bakhtin, muitas pesquisas e correntes teóricas


se subsidiam das contribuições do autor para formulações de novos estudos, uma delas
corresponde à proposta de Sequência Didática (SD) proposta por Dolz, Noverraz e
Schneuwly (2004). A SD entende que o ensino de uma língua deve envolver uma
diversidade de gêneros textuais e suas práticas sociais por meio da apresentação de
atividades sistemáticas e processuais necessárias para a aprendizagem, pois

cada gênero apresenta características específicas que os alunos devem aprender a


dominar a partir da observação e da análise de textos autênticos que representem um
gênero determinado. À escola cabe, pois, facilitar a apropriação dos gêneros,
trabalhando tanto a compreensão quanto a produção de textos, considerando seus
traços linguísticos predominantes (ZAVAM e ALMEIDA, 2008, p. 14).

Sendo assim, a SD pode permitir a formação contínua dos alunos, bem como a
construção da representação de atividades escritas e orais que poderão servir como
modelo para produções posteriores.
Dessa forma, a SD apresenta quatro etapas básicas que podem ser adequadas às
vivências em sala de aula, são elas: apresentação da situação; produção inicial; módulos e
produção final. A primeira etapa consiste em mostrar aos alunos informações suficientes
para a compreensão da situação de produção do gênero. Para isso, é necessário explicitar
qual gênero será abordado, a quem se dirige, quem participará e qual forma assumirá a
produção (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004). A produção inicial é a base para a
construção das etapas seguintes. Nela, os alunos fazem uma primeira versão do gênero
proposto, a qual não deve ser atribuída notas, mas feita uma coleta de informações sobre
os conhecimentos prévios dos estudantes e as dificuldades que eles apresentam em
relação ao gênero em estudo. Ou seja, deve-se realizar um diagnóstico inicial do estudante,
observando as dificuldades apresentadas na composição do gênero textual.
Os módulos, etapa seguinte da SD, compreendem as atividades de planejamento
das aulas com base nos aspectos detectados na avaliação da produção inicial. É
fundamental que cada necessidade formativa dos estudantes, identificada na produção
inicial, seja abordada em módulos específicos com uso de atividades diversificadas e que,
ao final de cada um, possa haver um momento de reescrita do texto inicial dos estudantes.
Vale salientar que fica a critério do professor o quantitativo de módulos da SD. A última
etapa consiste na produção final de um texto a partir dos conhecimentos adquiridos ao
longo da Sequência Didática. É nesse momento que o professor pode verificar a eficácia e
a validade das intervenções dos módulos. Além disso, essa etapa pode auxiliar o aluno a
“(...) regular e controlar seu próprio comportamento de produtor de textos, durante a revisão
e reescrita” (DOLZ, NOVERRAZ E SCHNEUWLY, 2004, p.107). Cabe ressaltar que, apesar
do uso da nomenclatura produção final, a SD enfatiza o processo de aprendizagem ao
longo de suas etapas. Nessa perspectiva, o produto é compreendido apenas como mais
um momento da aprendizagem.
O trabalho com as sequências didáticas possibilitam, assim, que o ensino da língua
portuguesa não se limite ao conhecimento da gramática descontextualizada, sendo
essencial o propósito comunicativo ser o mais próximo possível da realidade dos
estudantes. Com base no que foi explorado neste material, fica clara a necessidade de
levar para dentro da escola as situações de uso dos gêneros, distanciando, assim, das
redações escolares para a produção autêntica de gêneros discursivos.
O esquema a seguir mostra de maneira resumida as etapas supracitadas da SD.

Fig. 1: Esquema da sequência didática (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004. p. 98).

Dessa forma, na etapa final da SD, podem ser propostas para a classe situações nas
quais as produções realizadas tenham um público para que ela realmente seja lida, exposta
ou apresentada. O público pode ser composto por seus próprios colegas, professores,
comunidade escolar, familiares e até por sujeitos distantes de suas realidades, como no
caso de um ofício, carta aberta, entre tantos outros textos que circulam frequentemente na
sociedade. Além disso, é importante que o professor esteja atento nas escolhas de
gêneros, pois assim eles se tornam atrativos para os estudantes, de modo que os instigue
a produzir com mais facilidade.
Mesmo com todo esse cuidado de como o ensino da língua pautado no texto deva
ser trabalhado, sendo uma abordagem presente tanto nos documentos orientadores da
educação brasileira quanto em muitos livros didáticos, não podemos esquecer que

o reconhecimento de um gênero inclui a análise do contexto de uso, ou seja, o


reconhecimento de onde e quando o gênero é praticado; a identificação dos
interlocutores, isto é, as intenções e propósitos do emissor e a quem pode se destinar
um dado gênero; a escolha da forma mais adequada de codificar linguisticamente as
informações; a análise de características textuais e linguísticas que são típicas de
cada gênero (BIASI-RODRIGUES, 2008, p. 45).

Após todo o arcabouço teórico apresentado sobre as mais recentes diretrizes da


concepção de gênero, podemos nos questionar sobre o que podemos então fazer para que
o D9 (reconhecer gêneros discursivos) tenha um melhor desempenho, não só nas
avaliações que ele é cobrado, mas nas situações comunicativas que são exigidas fora dos
muros da escola.
Pensando nisso, no próximo tópico, serão apresentadas questões que podem ser
utilizadas em sala de aula no intuito de contribuir com o aprendizado dos nossos
estudantes. O professor pode fazer uso dessas sugestões e aplicá-las da maneira mais
apropriada dentro de seu planejamento. Além disso, também são indicadas sugestões
pedagógicas que complementam as proposições das questões.
ATIVIDADES PROPOSTAS

1) A partir da leitura e da observação dos textos a seguir, responda ao que se pede.

Texto I
Canção do exílio Minha terra tem primores,
(Gonçalves Dias) Que tais não encontro eu cá;
Minha terra tem palmeiras Em cismar – sozinho, à noite –
Onde canta o Sabiá, Mais prazer encontro eu lá;
As aves, que aqui gorjeiam, Minha terra tem palmeiras,
Não gorjeiam como lá. Onde canta o Sabiá.

Nosso céu tem mais estrelas, Não permita Deus que eu morra,
Nossas várzeas têm mais flores, Sem que eu volte para lá;
Nossos bosques têm mais vida, Sem que desfrute os primores
Nossa vida mais amores. Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Em cismar, sozinho, à noite,
Onde canta o Sabiá.
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, Cinco estrelas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Coleção
Onde canta o Sabiá. Literatura em Minha Casa.

Texto II Texto III

Bode Gaiato
Ministério da Saúde
Texto IV
Doutor, como eu faço para emagrecer? Basta a senhora mover a cabeça da
esquerda para a direita e da direita para a esquerda. Quantas vezes, doutor? Todas as
vezes que lhe oferecerem comida.
Autoria desconhecida

a) Por qual nome esses textos são reconhecidos e chamados na sociedade?


R: Espera-se que os estudantes respondam que os textos são: poema, meme,
anúncio publicitário e anedota, respectivamente.

b) Escolha pelo menos dois textos e apresente quais suas principais características,
avaliando pontos como: onde podemos encontrá-los, qual a sua função na sociedade e em
quais situações eles são usados.
R: A exemplo do texto II, podemos esperar que eles entendam que o meme
geralmente encontra-se na internet, especificamente nas redes sociais, que eles têm
como função principal fazer uma crítica ou provocar humor com aspectos
corriqueiros da sociedade e que, por fim, os memes podem ser usados em
publicações dessas mesmas redes para representar uma concepção acerca de algum
assunto.

c) Com base no que foi analisado nesta questão, tente definir o que é gênero textual.
R: Espera-se que os estudantes direcionem suas respostas para uma definição de
que gêneros textuais são tipos diferentes de textos que têm aspectos em comum
como a função e onde são encontrados.

Comentário pedagógico da questão 1


Professor, a questão 1 tem por objetivo ativar os conhecimentos prévios do
estudante para que, ao longo dos exercícios propostos, o aprendizado seja consolidado.
Assim, neste primeiro momento, foram apresentados alguns gêneros para que a classe
pudesse analisá-los a fim de perceber qual seria, então, uma possível definição de gênero.
No decorrer das demais atividades, essa ideia deve ser refutada ou confirmada. Para
complementar a atividade, você pode levar outros exemplos dos gêneros presentes na
questão para que, no item B, seja dado um maior subsídio para respondê-la, visto que será
possível estabelecer comparação com os textos complementares. Além disso, é preciso
enfatizar a necessidade em inserir o maior número possível de gêneros diversos no
cotidiano escolar. O contato dos estudantes a uma grande variedade de textos facilitará a
identificação do gênero, objetivo central do D9. Dessa forma, as aulas de leitura são
essenciais para desenvolvermos essa habilidade nos estudantes. Entretanto, além de aulas
exclusivas voltadas para leitura, os diversos ambientes da escola também podem servir de
suporte para os gêneros, através de quadros, exposições etc.

2) Leia o texto abaixo.

AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

PESSOA. Fernando. Poesias. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

Esse texto é um(a)


A) crônica. B) poema. C) notícia. D) carta. E) relato.
Fonte: BEIQ.

3) Leia o texto abaixo.


Morte e Vida Severina
Morte e Vida Severina retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino
em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Severino encontra no
caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão.
A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada
sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassinado a mando de
latifundiários.
Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente
ela, a morte, a maior empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico
ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico.
Nota, ao vagar pela Zona da Mata, onde há muito verde, que a morte a ninguém poupa.
Retrata, contudo, que a persistência da vida é a única a maneira de vencer a morte.
No poema, Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo
carpinteiro José, que fala do nascimento do filho.
A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um
carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br. Acesso em: 08 setembro 2018.

O texto acima é um exemplo de


A) crônica.
B) romance.
C) manchete de notícia.
D) resumo.
E) artigo de opinião.

4)
Esse texto é
A) uma biografia.
B) uma resenha.
C) um conto.
D) um editorial.
E) um resumo.
Diagnóstica 2018.

5) Preencha o quadro a seguir a partir da análise do gênero resenha, atentando para os


aspectos linguísticos e contextuais que o definem.

Características Orientações Respostas

Ortografia Como é a ortografia do texto? De Possivelmente, as respostas irão


acordo com a norma padrão ou se direcionar para a conclusão
não padrão? de que a norma padrão é a
maneira mais comum de
aparecer em resenhas.

Aspectos Observe a divisão em Espera-se que os estudantes


gráficos parágrafos, a disposição das percebam que as resenhas
linhas, o emprego de palavras podem vir acompanhadas de
em itálico, em negrito, em caixa imagens de livros, filmes ou
alta, sublinhada, com iniciais outras referências. Além disso, é
maiúsculas, as imagens. O característica do gênero
aspecto gráfico tem alguma apresentar títulos, nomes de
função? obras e autores que podem
ganhar destaque no texto. Assim,
esses aspectos gráficos acabam
por também definir o que são as
resenhas.

Suporte Não deixe de perceber o lugar no Provavelmente, os estudantes


qual o texto foi publicado. Ou entenderão que as resenhas
seja, fique atento à referência comumente aparecem em sites
bibliográfica, fonte do texto. de compra ou em revistas. O
Observe também a data de suporte está muito ligado ao
publicação. Quais dessas produto que se está sendo
informações podemos identificar analisado. No caso da questão 4,
no gênero estudado? o texto é encontrado em uma
revista que aborda curiosidades.

Conhecimento Para compreender o texto, é Para se elaborar uma resenha, é


de mundo necessário acessar informações preciso que o estudante tenha
que circulam no contexto atual, em mente que será preciso
mas não estão explícitas no conhecer a obra em análise e
texto? emitir uma opinião. Para isso, ele
se valerá de seus conhecimentos
prévios. No caso, os alunos terão
que conhecer o mínimo possível
sobre biologia e evolução para
compreender o texto.

Intencionalidade Com que intenção o texto foi Apresentar um ponto de vista


escrito? acerca de uma obra.

Recursos Analise se a escolha vocabular Espera-se que o estudante


estilísticos tem traços comuns à resenha. perceba que pela natureza
Aparecem figuras de linguagem objetiva do gênero, raramente
no texto? encontram-se figuras de
linguagem em resenhas.

Recursos Existe algum aspecto linguístico Sugestão de resposta: a


linguísticos que seja comum nas resenhas, alternância no tempo verbal entre
como alguma classe gramatical o presente e o pretérito perfeito
ou tempo verbal? do indicativo.
Disponível em: <http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/750/Caderno4Reforco_Escolar_Lingua_
Portuguesa_EF.pdf>. Adaptado.

Comentário pedagógico das questões 2, 3, 4 e 5

Nas avaliações externas, como SPAECE, é frequente vermos questões pedindo a


identificação dos gêneros. Pensando nisso, após os estudantes terem seus conhecimentos
prévios ativados, a próxima etapa de aprendizagem corresponde à habilidade em identificar
o gênero discursivo. Para isso, a questão 2 traz uma proposta de um texto que desde os
anos inicias de ensino é trabalhado em sala de aula, o poema. Espera-se, assim, que seja
um gênero mais fácil de identificar. Nessa mesma lógica, seguem as questões 3 e 4.
Enquanto a terceira apresenta um texto mais longo, o que seria uma dificuldade a mais
para leitores mais inexperientes, a quarta traz o gênero resenha que é menos presente no
contexto de alguns leitores. Por fim, na questão 5, vemos a seleção de alguns aspectos dos
gêneros que podem ser explorados na tabela. Muitos critérios escolhidos podem ser
expandidos ou resumidos ao explorar outros gêneros, de acordo com a escolha do
professor e a necessidade do gênero. Vale salientar que há uma vasta variabilidade de
aspectos que podem contribuir para a definição dos gêneros, logo a estrutura da tabela
também deve ser adequada mediante as necessidades.

6) Leia o poema a seguir.

Carta

A falta que me fazes não é tanto


Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
à hora de dormir, quando dizias
Ficaram velhas todas as notícias.
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
É quando, ao despertar, revejo a um canto
estes sinais em mim, não das carícias
a noite acumulada de meus dias,
(tão leves) que fazias no meu rosto:
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
são galopes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
Carlos Drummond de Andrade
perde a sabedoria das crianças.

Ao ler o texto, você o classificaria como qual gênero?


Houve alguma divergência de opinião em sala acerca da classificação do gênero?

R:Espera-se que o estudante perceba que o texto apresentado contém


características de poema, em sua estrutura, e de carta, por seu conteúdo.
7) Leia o texto a seguir.

O Chat e sua linguagem virtual

O significado da palavra chat vem do inglês e quer dizer “conversa”. Essa conversa
acontece em tempo real, e, para isso, é necessário que duas ou mais pessoas estejam
conectadas ao mesmo tempo, o que chamamos de comunicação síncrona. São muitos os
sites que oferecem a opção de bate-papo na internet, basta escolher a sala que deseja
“entrar”, salas são divididas por assuntos, como educação, cinema, esporte, música, sexo,
entre outros. Para entrar, é necessário escolher um nick, uma espécie de apelido que
identificará o participante durante a conversa. Algumas salas restringem a idade, mas não
existe nenhum controle para verificar se a idade informada é realmente a idade de quem
está acessando, facilitando que crianças e adolescentes acessem salas com conteúdos
inadequados para sua faixa etária.
AMARAL, S. F. Internet: novos valores e novos comportamentos. In: SILVA, E.T. (Coord.). A leitura nos
oceanos da internet. São Paulo: Cortez, 2003. (adaptado).

Segundo o texto, o chat proporciona a ocorrência de diálogos instantâneos com


linguagem específica, uma vez que nesses ambientes interativos faz-se uso de protocolos
diferenciados de interação. O chat, nessa perspectiva, cria uma nova forma de
comunicação porque

A) possibilita que ocorra diálogo sem a exposição da identidade real dos indivíduos,
que podem recorrer a apelidos fictícios sem comprometer o fluxo da comunicação
em tempo real.
B) disponibiliza salas de bate-papo sobre diferentes assuntos com pessoas pré-
selecionadas por meio de um sistema de busca monitorado e atualizado por autoridades no
assunto.
C) seleciona previamente conteúdos adequados à faixa etária dos usuários que serão
distribuídos nas faixas de idade organizadas pelo site que disponibiliza a ferramenta.
D) Garante a gravação das conversas, o que possibilita que um diálogo permaneça aberto,
independente da disposição de cada participante.
E) Limita a quantidade de participantes conectados nas salas de bate-papo, a fim de
garantir qualidade e eficiência dos diálogos, evitando mal-entendidos.
ENEM 2010.
Comentário das questões 6 e 7

Professor, a questão 6 tem por objetivo abordar o que Bakhtin pontuou como
aspectos relativamente estáveis do gênero. Isso fica claro quando percebemos
características marcantes de dois gêneros em um texto só. Por esse motivo, esta questão
está presente aqui, pois o estudante não tem apenas que identificar o gênero, mas deve
haver uma análise envolvendo uma situação nova que corresponde a percepção que um
texto pode conter traços de vários outros, fazendo assim com que eles se complementem
no propósito comunicativo. Diante do exposto, você poderá, através dessa questão,
levantar um debate sobre essa característica dos gêneros. Assim,

Compreender um gênero implica, pois, considerar tanto o contexto (social, histórico e


cultural) quanto a situação em que um dado texto foi produzido (quem fala, para
quem, em que formato e veículo, com que objetivo, finalidade ou intenção, em que
registro etc.) (ALMEIDA; ZAVAM, 2008, p. 13).

Já na questão 7, é possível trabalhar o aspecto de novos gêneros. A todo momento,


estamos sujeitos a produzir novos gêneros discursivos, devido à demanda existente na
nossa sociedade. Outro exemplo disso, além do chat, é o meme que, atendendo às
necessidades contextuais das redes sociais, surgiu apresentando características de outros
gêneros já reconhecidos na sociedade, como a charge.

8) Partindo do pressuposto de que um texto estrutura-se a partir de características gerais


de um determinado gênero, identifique os gêneros descritos a seguir.
I. Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas de destaque sobre
algum assunto de interesse, através de perguntas e respostas. Algumas revistas têm uma
seção dedicada a esse gênero;
II. Caracteriza-se por apresentar um trabalho rico em rimas, fazendo-o de maneira
particular, refletindo o momento, a vida dos homens através de figuras que possibilitam a
criação de imagens;
III. Gênero que apresenta uma narrativa informal ligada à vida cotidiana. Apresenta certa
dose de lirismo e sua principal característica é a brevidade;
IV. Linguagem linear e curta, envolve poucas personagens, que geralmente se movimentam
em torno de uma única ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações
encaminham-se diretamente para um desfecho;
V. Esse gênero é predominantemente utilizado em manuais de eletrodomésticos, jogos
eletrônicos, receitas, rótulos de produtos, entre outros.
São, respectivamente:
A) texto instrucional, crônica, carta, entrevista e carta argumentativa.
B) carta, bula de remédio, narração, prosa, crônica.
C) entrevista, poesia, crônica, conto, texto instrucional.
D) entrevista, poesia, conto, crônica, texto instrucional.
E) texto instrucional, crônica, entrevista, carta e carta argumentativa.

Disponível em: <https://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios-sobre-


generos-textuais.htm> Adaptada.

Comentário pedagógico da questão 8


Esta questão visa trabalhar a diferenciação entre os gêneros. Para complementar a
habilidade desejada neste nível, questione os estudantes sobre a diferença entre gêneros
semelhantes. Por exemplo, peça para eles distinguirem reportagem e notícia, e assim por
diante.

9) Escolha uma das propostas de redação para construir seu texto.


PROPOSTA 1: Escreva uma carta a um amigo narrando um fato que você acredita ser uma
demonstração da verdadeira amizade.
Textos motivadores:
(UECE, 2017.1)

PROPOSTA 2:

Nesta prova, seu desafio é refletir sobre uma das questões que mais têm
preocupado estudiosos do clima, cientistas sociais e governantes neste início de século: os
efeitos da crescente urbanização.
Imagine como será o futuro de sua cidade. Escreva uma história de ficção que seja
ambientada nesse lugar e cuja trama se desenvolva entre personagens do século XXII.

Textos motivadores:
(UECE, 2014.1)
Comentário pedagógico da questão 9

Chegou o momento no qual o estudante vai colocar em prática seus conhecimentos


adquiridos ao longo das aulas e exercícios. Para ilustrar esse momento, trouxemos dois
exemplos de propostas de redação, para as quais é indicada uma elaboração de um
propósito comunicativo, como uma exposição, uma coletânea de textos, uma publicação
em jornal etc. Logo, qualquer outro tema e gêneros podem fazer parte dessa etapa da
aprendizagem. Vale salientar também que, assim como foi abordado no início deste
material, as sequências didáticas podem ser grandes aliadas na elaboração processual de
uma produção textual e essas questões podem servir de subsídio para os módulos, de
acordo com o que foi diagnosticado na produção inicial. Para auxiliar os estudantes na
décima questão, é importante que seja feita a correção utilizando os métodos e critérios
que achar conveniente.

10) Agora chegou o momento de revisar! Aproprie-se das observações feitas pelo professor
em seu texto e reescreva-o a fim de trazer melhorias para seu produto final.

Comentário pedagógico da questão 10

Professor, após a primeira produção escrita dos estudantes, faça as suas


considerações. A depender do grau de dificuldade de cada um, priorize abordar os
aspectos que sejam pertinentes à construção do gênero. Se achar necessário, utilize os
três tipos de correção didaticamente abordados por Serafini (1999) e apontados a seguir:

Indicativa
Nesse tipo de correção, o professor indica, através de marcações no texto, onde
estariam os trechos que apresentam problemas de qualquer natureza.

Resolutiva
Na correção resolutiva, o professor reescreve palavras, frases e períodos completos
dos textos, refletindo a opinião do professor diante da produção do estudante.

Classificatória
Por meio de indicações feitas no texto, o aluno visualiza quais as melhorias a serem
efetuadas. É importante, para esse tipo de correção, que haja uma categorização de
elementos que o professor se baseará para a análise do texto. É preciso ainda que esses
elementos sejam previamente esclarecidos com a turma para evitar qualquer tipo de
ambiguidade que possa surgir na leitura das correções feita pelo estudante. Assim, um
método indicado é a criação de uma planilha de correção na qual seja convencionado,
juntamente com a sala, os símbolos e expressões que, por ventura, aparecerão nos textos.
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Nukácia; ZAVAM, Áurea. Gêneros escritos e ensino. In: PONTES, Antônio;
COSTA, Maria Aurora (Org.). Ensino de Língua Materna na Perspectiva do Discurso.
Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2008. p. 7 – 32.

BIASI-RODRIGUES, Bernadete. A abordagem dos gêneros textuais no ensino da Língua


Portuguesa. In: PONTES, Antônio; COSTA, Maria Aurora (Org.). Ensino de Língua
Materna na Perspectiva do Discurso. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2008. p. 33 –
50.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para


o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard et al.
Gêneros orais e escritos na escola. Trad. Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São


Paulo: Parábola, 2008.

SERAFINI, Maria Teresa. Como escrever textos. 8 edição. São Paulo: Editora Globo,
1999.

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