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O texto argumentativo na aula de português: uma proposta de análise de textos


produzidos pelos estudantes do 2ª ano da Universidade Licungo

Armando Samo Mandevo

Carmónio Vasco Nhumaio

Castigo Ndongue Manuel

Edna Sanjo Manuel Amalique

Ezertina Alfredo Júlio

Regina João Jecinai

Resumo

Apresentamos a seguir a análise de cinco (5) textos produzidos por estudantes do 2º ano da Universidade
Licungo, curso de Ensino de Língua Portuguesa, em que nos cingimos nos seguintes pontos: pertinência do título
que é um elemento muito fundamental, por orientar o leitor para o conhecimento do que se tratará no desenrolar
do texto; organização textual, devendo apresentar Introdução, desenvolvimento e conclusão; verificação da
conexão de ideias, na progressão temática e na argumentação, apresentando clareza, objectividade e, dentro das
expectativas, coerência e coesão.

Palavras-chave: análise textual; macro e micro estrutura, progressão temática.

Introdução

No presente artigo de análise de textos Argumentativos, produzidos por estudantes da


Universidade Licungo, 2⁰ ano do curso de ensino de língua portuguesa, traremos alguns
conceitos básicos sobre a argumentação, pertinência do título para elaboração de um texto,
sobre tudo o argumentativo, macro e micro estrutura do texto em alusão, elementos que
concorrem para a coerência e coesão textual. De seguida faremos a análise de cinco (5) textos
produzidos por estudantes acima referidos, observando os itens já mencionados.

Nesse sentido, comparamos as estratégias de construção do texto _ seus recursos


sintáticos e semânticos – aos andaimes de construção de um prédio que, durante toda a obra,
estiveram presentes possibilitando um acabamento perfeito. Ao explicitar os “andaimes” que
subjazem dessas estruturas, percorremos o caminho já trilhado por estudantes/autores, em
busca dos recursos por eles utilizados para o encadeamento de suas ideias e argumentações.
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0.0 Objectivos

0.1 Geral

 Compreender as noções básicas da argumentação

0.2 Específicos

 Descrever as características de textos argumentativos


 Explicar os elementos que concorrem para a coerência e coesão textual
 Identificar textos argumentativos

1 Metodologia de análise

Para fazer uso dos textos elaborados em sala de aulas como elemento Ilustrativo dos
conceitos teóricos Explicitados neste trabalho, a função de cada Parágrafo, segundo descrito
em Charaudeau (1992), forma a base de estudo de como o enunciador vai-se posicionando. E
assim, construindo o seu discurso através de marcas consagradas. Algumas destas, tais como:
pertinência do título, macro e micro estrutura do texto argumentativo, elementos que
concorrem para a coerência e coesão textual, e a validade dos textos produzidos em sala de
aulas por estudantes do 2º do curso de ensino de língua portuguesa, da Universidade Licungo.

2 Teorias básicas de argumentação

Segundo Fiorin (2017, p. 22), Citado por Andrade et all a palavra " argumentar" é
formada pela raiz latina “argu”, que significa fazer brilhar, cintilar, (O que realça, o que faz
brilhar uma ideia). O autor afirma que a argumentatividade é intrínseca à linguagem humana,
que ela está presente em todos os enunciados, e com ele corroboram Koch e Elias (2020, p. 9),
quando nos contam que “argumentar é humano. Oralmente ou por escrito, em nossas
interações, estamos argumentando”. Ainda na perspectiva de Andrade citando Weston (2009,
p.11), argumentar significa “apresentar um conjunto de razões ou provas que fundamentam
uma conclusão”.

Tendo como base nessas teorias pode-se perceber que todas as pessoas, no seu
quotidiano, são obrigadas a utilizar a argumentação, seja na escola, no trabalho ou mesmo em
família para justificar opiniões e defender pontos de vista. Quando assim é, há que
argumentar, ou seja, apresentar convicta e fundamentadamente um ponto de vista, de forma a
persuadir o ouvinte ou leitor de uma exposição oral ou escrita. Como tal, é necessário que o
raciocínio seja lógico, ponderado e convincente.
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Tendo por base este enquadramento, pode-se definir o texto argumentativo como
aquele tipo de texto que visa convencer, persuadir ou influenciar o destinatário ao qual se
apresenta um ponto de vista cuja autencidade ou validade se deve provar.

3 Componentes estruturais, linguísticos e discursivos do texto argumentativo

Segundo Figueiredo (2009, p.85), o texto argumentativo tem sua estrutura dividida em
três partes – introdução, desenvolvimento e conclusão – cada uma delas tem suas
particularidades, conforme explicaremos a seguir:

Introdução: o primeiro parágrafo do texto argumentativo, deve conter duas partes – a


apresentação do tema e a explicitação da tese. Tese é o mesmo que ponto de vista, ou seja,
uma opinião do autor do texto acerca do tema proposto.

Desenvolvimento: os parágrafos intermediários destes textos são reservados para a


comprovação da tese apresentada na introdução, recorrendo à argumentos. Um argumento é
composto por duas partes: a fundamentação e a análise do fundamento. Na fundamentação, o
autor deve buscar provas de que seu ponto de vista está correcto. São considerados
fundamentos: citações de autoridade, referências históricas, conceitos teóricos consagrados,
notícias publicadas em jornais de qualidade, etc. Para além de argumentos, encontramos
também os contra-argumentos - recursos utilizados para rebater ou refutar as proposições
produzidas pela argumentação, ou seja, apresenta uma opinião contrária à argumentação
textual.

Conclusão: normalmente, tem sido o último parágrafo do texto argumentativo, pode


ser feito de duas maneiras: em forma de síntese ou com proposta de solução. No caso da
síntese, o autor deve resumir os argumentos e repetir sua tese, concluindo o raciocínio
construído desde a introdução.

As partes acima mencionadas devem estar interligados entre si de forma coeso e


coerente, e os elementos que garantem esta inteligibilidade denominam-se operadores
discursivos, neste caso chamaremos de operadores argumentativos. Os operadores
argumentativos são elementos linguísticos que servem para marcar a função argumentativa e
direcionar o sentido das frases ou do texto. Os operadores mais comuns são os denominados
conectivos, que abrangem algumas classes de palavras com função de relacionar as partes do
texto, como conjunção, preposição e pronome. O uso adequado dos operadores tanto garante a
coerência e coesão textual como também facilita a interpretação do texto, pelo leitor. Por
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outro lado, o mau uso pode acarretar em um texto confuso, incoerente e com pouca força
argumentativa. Os mesmos desempenham diferentes funções no texto, evidenciando
estratégias de justificativa e comprovação e estabelecendo relações entre diferentes conteúdos,
para a defesa de uma conclusão, uma tese ou um ponto de vista. Dependendo do valor
semântico que eles transmitem, podem ser: copulativas, adversativas, disjuntivas,
consecutivas, explicativas, condicionais, finais, conclusivas.

Geralmente, a linguagem usada nos textos argumentativos tem sido clara, objectiva,
formal e impessoal.

4 Análises textuais

Segundo afirmam Azevedo e Angelim (1996,p.129), citados por Soares, "todo texto
coerente caracteriza-se por alguma forma de progressão temática, que se revela, de um modo
geral, na soma de ideias novas as que já vinham sendo tratadas, sem prejuízo da continuidade
conceitual entre umas e outras". No entanto, não podemos esquecer que, para que o
interpretante antecipe informações sobre o texto que ele irá ler, tais como o gênero, o tema e a
posição do argumentador com relação a este, os elementos paratextuais também são
importantes. Portanto, primeiramente faremos uma análise da escolha lexical para o título e
como este prepara o leitor para a adesão à tese.

4.1 Pertinência do título para um texto argumentativo

Segundo Suares (p.7), ao ler o título, o predicatado deve saber que se tratará de um
texto cujo propósito argumentativo será o de provar através de argumentos a sua tese, isto é, a
partir do título, são ativados os conhecimentos sobre o que se irá tratar no desenrolar do
texto, por exemplo, os títulos dos textos 1: A falta de amor entre os homens; 2: A subida de
preços de produtos alimentares em Moçambique e 4: Ciclone Idai possuem tais requisitos
propostos anteriormente, pois a partir dos títulos o leitor já estará ciente do que se irá
desenvolver ao longo do texto, contudo os textos 3: A Contracepção e 5: Chocolate não
reúnem esses requisitos, pois suscitam muitas questões sobre o que se irá falar, isto é, os
títulos são muito abrangentes, para isso o grupo propõe que os mesmos deveriam estar
acompanhados por subtítulos como forma de especificá-los.

4.2 Superestrutura, intertextualidade e textualidade


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Olhando para a superestrutura orgânica dos textos constatamos que todos os textos
apresentam introdução, desenvolvimento e conclusão excepto os textos 2, 3 e 4 que não
apresentam a conclusão.

A intertextualidade é a ponte que o texto estabelece com outros, já a textualidade,


determina o que é um texto e, se for o caso, se ele é um bom texto.

Feita a leitura dos textos em análise notamos a falta de coerência e coesão ao longo
dos discursos produzidos, por exemplo, no texto 1 há discordância em número logo no título:
“A falta de amor entre os homem” , no lugar de “(...) os homens(.)" e ao longo do texto, o
mesmo caso repete-se no texto 2 nas seguintes frases: “(...), faz-se sentir até nos menor de
idade(...)” ; “(...) para funcionários que não tem transporte (...)" ao invés de: “(...), esta é uma
situação preocupante (...) faz-se sentir até nos menores de idade ”, “(...) para funcionários que
não têm transporte (...)". Esta discordância em número também observa-se no texto 5. Os
restantes textos, não apresentam esses problemas.

Quanto ao aspecto concordância em género, observamos que todos os textos estão não
têm problemas, excepto o texto 2 quando o redator diz: “(...) este é uma situação preocupante
(...)" ao invés de “(...) esta é uma situação preocupante (...)". Já quanto a ortografia,
verificamos que todos os textos apresentam muitos erros ortográficos, tais como pós/pós ≠
pois, metodos ≠ métodos, mais ≠ mas, pensace ≠ pensa-se, terria ≠ teria, consiência ≠
consciência, refletir ≠ reflectir, tentarmos ≠ tentarmos, armonia ≠ harmonia, março ≠ Março,
perdaram ≠ perderam, herguer ≠ erguer, países ≠ pais, votade ≠ vontade, mome ≠ nome,
havoo ≠ havia. Para além desses erros, notamos também a ausência ou a má colocação de
acentos gráficos em palavras, letras maiúsculas no meio de frases sem necessidade e
minúscula em início de uma frase e ideias incoerentes, como no caso de : “(...) nos últimos
anos em Moçambique é de observar que houveram uma grande subida, (...)" “(...) se calhar
não pode ter ao seu alcance. Em um lar, porque que chegar-se a se lugar, violar-se (...)". Para
além dos problemas anteriormente destacados constatamos três textos que não pertencem a
essa tipologia textual (argumentativo), por exemplo, os textos intitulados “Chocolate" e
“Subida de preços dos produtos alimentares em Moçambique" têm características de textos
jornalísticos, e o texto “Ciclone Idai" apresenta característica de um texto descritivo.

Todos os pontos avançados acima contribuem de algum modo para a coerência e


coesão textual e quando não estiverem bem aplicados poderão suscitar muitas questões e
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consequentemente interpretações equivocadas sobre o que realmente o redator pretende


transmitir com o seu texto.

5 Conclusão

O trabalho realizado, embora também apresente falhas, principalmente quanto a


análise reescrita dos textos, tem como mérito a explicitação de pontos que estavam
“escondidos” nos textos argumentativos analisados que estão em anexo. A partir Da
visualização dos “andaimes” dessa elaborada construção, os estudantes terão condição de usar
a intuição aliada à reflexão. Nessa interação quem sai ganhando é a linguagem, que Se abre
frente a um novo leque de possibilidades de efeitos e sentidos, ganhando força argumentativa.
Um ponto polêmico a ser discutido é a questão “gênero x tipo” textual.

A estratégia de explicitação dos andaimes de construção de textos pode ser


Desenvolvida também em diversos textos.

Trabalhar a tipologia textual para validar os textos analisados não foi fácil, porque
requer um conhecimento profundo por parte do analista para poder validar um texto de
acordo com a sua tipologia ou gênero textual. E, feita a análise, concluímos que dos cinco
textos, dois são argumentativos e os outros não.

Referências Bibliografias

ANDRADE Elisângela Ladeira de Moura, FERNANDES, Juliana Cristina da Costa,


SANTIAGO, Léia Adriana da Silva, Produto Educacional, Instituto Federal Goiano –
Campus Ceres Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica 2021.

FIGUEIREDO, Maria Olívia e DE FIGUEIREDO, Eunice Barbieri, Itinerário Gramatical


(Gramática do Discurso e Gramática da Língua), Porto Editor (2009).

SOARES, Doris de Almeida, Elementos Básicos para a Análise de Textos Argumentativos em


Língua Portuguesa, PUC-RJ, Rio de Janeiro (RJ), Brasil, dorissoares@terra.com.br
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Textos em análise
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Textos reescritos
(proposta)
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