Você está na página 1de 17

1

UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE ENSINO DE FILOSOFIA

Lídia Adélia Muchanga

O fim da história e último homem em Francis Fukuyama

Beira
2023
2

Lídia Adélia Muchanga

O fim da história e último homem em Francis Fukuyama


Trabalho investigativo apresentado ao
curso de filosofia departamento de letras e
humanidade, para fins avaliativos na
cadeira de hermenêutica

Docente: Remígio

Beira
2023
3

Índice
Introdução..................................................................................................................................4

1.Vida e obras de Francis Fukuyama.........................................................................................5

1.2 Principais obras....................................................................................................................6

1.3 Contextualização em volta do fim da história......................................................................8

1.4 O significado do termo último homem..............................................................................11

1.5 A democracia liberal em: Francis Fukuyama.....................................................................12

Conclusão.................................................................................................................................16

Referências Bibliográficas.......................................................................................................17
4

Introdução
O presente trabalho disserta-se em volta de: O fim da história e o último homem em
Francis Fukuyama, sobre a derrocada dos regimes socialistas no Leste europeu e em especial
na ex-União Soviética e a consequente vitória da economia de mercado e da democracia
liberal.

Fukuyama afirma-se amparando principalmente no pensamento hegeliano, que a


história havia chegado ao seu fim; que a humanidade, no final do século XX, teria atingido o
auge de sua evolução com a superação das contradições existentes e personificadas na Guerra
Fria. Com a queda dos regimes socialistas do hemisfério Norte, restava apenas uma única
ideologia, um único e vitorioso regime, a democracia liberal. Portanto, quando resta um único
regime já não resta mais nada para se contar. Entretanto, surgem as seguintes questões: qual
seria a melhor forma de governação para Fukuyama? Qual é o motivo de haver o fim da
historia? Será que o mundo já atingiu o seu nível de conhecimento, isto é, o apogeu?

Feitas estas considerações, temos a mencionar o objectivo geral: compreender o


pensamento de Fukuyamao.

Já na ramificação do objectivo geral, isto é específicos temos:

Descrever o sentido do fim da história e o último homem em Fukuyama e por último analisar
a democracia liberal na visão de Fukuyama.

Quanto a estrutura o trabalho, apresenta numa primeira fase, a biografia do autor; de seguida
o seu pensamento sobre o tema em causa.

É o método hermenêutico que recorremos, para a materialização do trabalho. Tanto que


temos a consulta bibliográfica como a técnica predominante.
5

1.Vida e obras de Francis Fukuyama


Francis Fukuyama nasceu no dia 27 de Outubro de 1952 em Chicago, é um pensador
Americano, estudou em Yale, na Sabonha e Hardvard, estudou literatura comparada, ciência
política com mestre como Allan Bloom, Man, Rolans Barthes e Jacques Derrida (Gallardo,
2007, p.46).

Doutorou em filosofia e letras, concretamente em ciências políticas a universidade de


Harvard sobre a supervisão do professor Nadav Safran em 1981. Virou celebridade em 1989,
quando o Muro de Berlim caiu e o império soviético começou a desabar (Ibidem).

Nesta época, publicou em um jornal o artigo profetizando a sua tese sobre o fim da
história e o ultimo homem. Posteriormente o artigo virou livro em 1992, dilatando muitas
controvérsias que também custou muitos exames ao Fukuyama (Ibidem).

Para além de Fukuyama ser professor de política pública na universidade de George


Mason University em Fairfax, também ocupou vários cargos, como o de director do
inernational transactions program:

e investigador do Rand corporation1 em Washington, faz


parte do departamento Americano desde 1981 à 1982, e
foi membro das delegações das conversões entre Egipto
e Israel sobre a emancipação da palestina, Fukuyama é
um cientista político especializado em assuntos militares
do médio oriente e da política exterior da antiga união
soviética (Fukuyama, 1992, p.27).

Sobre sua vida pessoal, cabe destacar o casamento com Laura Holmgren, que ele
conheceu logo no início de seu trabalho na RAND Corporation. O casal têm três filhos, Júlia,
David e John, e a dedicatória de sua mais conhecida obra, “O Fim da História e o Último
Homem”, é direccionada para dois deles, tendo David nascido ao longo da redacção do livro
e John logo após o seu lançamento (Ibidem, p. 36-37).

1
Rand corporation, é uma empresa criada pelas forças dos Estados Unidos com objectivo de dar continuidade a
colaboração entre cientistas universitários e chefes militares.
6

1.2 Principais obras


1. O fim da história e último homem2

Nesta obra debate-se em torno do ponto superior em relação ao progresso da história


ideológica da humanidade que é marcada pela democracia liberal como uma ideologia mais
evoluída para a satisfação do homem contemporâneo (Fukuyama, 1992, p.22).

Trata-se do poder de uma história universal da humanidade que direcciona ao


encontro da democracia liberal como sendo o ponto superior da evolução ideológica.
Fukuyama fundamenta essa ideia em dois elementos fundamentais: a ciência natural
moderna e a luta pelo reconhecimento, esses são os motores da história, são como chaves
norteadoras do processo histórico e ideológico (Ibidem).

2. Nosso futuro pós-humano: consequências da revolução da biotecnologia

Na obra, Fukuyama faz uma advertência ao mundo, ele pensa que o avanço da
tecnologia tem sido mais rápido que a nossa capacidade de discutir a criação de instituições
nacionais e internacionais que lidem com os frutos desse progresso (Ibidem).

Este progresso biotecnológico sobre o homem, tanto está pronto para promover a
felicidade como um inultrapassável abismo à humanidade, por um lado, este progresso
promete a cura para as doenças que mais nos afligem:

Apresenta soluções diversas para a resolução de diversos problemas, as


quais, uma vez solucionados, por outro, por detrás da concretização
daquilo que a técnica e a ciência nomeadamente, as ciências
biomédicas nos propõem é possível antever, não só o risco de
perdermos os direitos que subjazem à dignidade humana, bem como a
nossa própria essência, aquilo que corresponde ao conjunto de todas as
emoções que nos caracterizam enquanto humanos (Idem, p. 17-25).

2
Esta obra nasce a partir de um artigo publicado por ele em 1989. Este artigo nasce de uma conferência
ministrada por Fukuyama com o mesmo titulo ditado por encargo dos professores Natham Tarcov e Allan
Bloom no centro John M. Olin Center para investigação da teoria e pratica da democracia no ano académico de
1988-1989. Alguns anos depois, um dos editores da revista norte-americana do pensamento político e relações
internacionais the nation interest, Own Harris pressionou-lhe para que transformasse a conferência em um artigo
definitivo com o título O fim da história?
7

3. A confiança (1961)

Nesta obra, Fukuyama faz uma reflexão da forma como as relações sociais
influenciam a economia. Mostra que, se for examinado o despenho económico de uma nação
medido pelo bem-estar e pela capacidade competir pode se concluir que ele é condicionado
por uma única e abrangente característica cultural: o nível da confiança entre aos agentes da
sociedade civil, empresas, sindicatos, igrejas, clubes, associações comunitárias 3 e média,
entre outros.

4. A grande ruptura a natureza humana e a reconstituição da ordem social

Esta obra é constituída por três partes: Na primeira parte Fukuyama debruça-se em
torno da grande ruptura, concebida como o declino, o qual se traduziu por uma tradução do
capital social4, e é mais bem legível nas seguintes estatísticas: criminalidade, crianças sem
pais, fraco rendimento escolar, redução das oportunidades e quebra de confiança. Esses
fenómenos tiveram lugar em todos os países desenvolvidos e especificamente do mundo
ocidental (Idem, 2000, p.21).

1.3 Contextualização em volta do fim da história

3
Organizações não governamentais
4
Capital Social é entendido como sendo a capacidade das pessoas trabalharem em conjuntos, grupos e
organizações que constituem a sociedade civil. Nesse sentido a confiança nasce da partilha de valores que tem,
como veremos, um vasto e imensurável valore económico
8

A expressão fim da história5 designa a derrocada da filosofia da história e o surgimento da


multiplicidade dos horizontes de sentido. Com o desmoronamento das grandes visões
filosóficas, políticas e religiosas do mundo:

Bem como com o declínio ou enfraquecimento do mito do progresso e


da emancipação, e das visões integradas e coerentes de mundo que
explicam todos os aspectos da realidade, dando coesão aos grupos
humanos e fazendo-os aceitar as normas que regulam seus
comportamentos e legitimam seus sistemas de valores (Japiassú e
Marcondes, 2001, p. 94).

Fukuyama inicia seu ensaio afirmando que o liberalismo ou democracia liberal, desde
seu surgimento na modernidade, travou disputas na arena ideológica e material
primeiramente contra o absolutismo para logo em seguida se confrontar com o bolchevismo,
os fascismos e por fim com o que ele conceituava como sendo um marxismo actualizado, ou
seja, o modelo político económico que vingou no Leste Europeu e ex-União Soviética e que
se ambientou no contexto da Guerra Fria (1992, p. 6).

Apoiando-se da hermenêutica de Hegel feita por Alexandre Kojeve, Fukuyama


sustenta a tese de que a humanidade chegou ao ponto final de seu progresso ideológico com o
êxito da democracia liberal sobre o fascismo e, mais contemporaneamente, sobre o
comunismo (Ibidem)

Afirma ainda Fukuyama que a ideia do fim da história teve como grande propagador o
filósofo alemão Karl Marx , para quem as contradições existentes no modo de produção
capitalista acabariam por provocar:

Sua destruição e possibilitariam a construção da sociedade


comunista extinguindo a luta de classes e consequentemente
decretando o fim da história, haja vista que segundo Marx, a
luta de classes é o motor da história (p. 8)

5
A mesma expressão (hermenêutica) é bastante utilizada nos últimos tempos pelos defensores das teorias
económicas neoliberais tal é o caso de Fukuyama
9

Marx também tomou emprestada do filósofo George Wilhelm Friedrich Hegel e que
se encarregou de distorcê-la, sendo seguido nesta empreitada por seus sucessores. Tanto para
Hegel quanto para Marx,

A evolução das sociedades humanas não era ilimitada, mas terminaria


quando a humanidade alcançasse uma forma de sociedade que pudesse
satisfazer suas aspirações mais profundas e fundamentais. Desse modo,
os dois pensadores previam um fim da história. Para Hegel seria o
Estado Liberal, enquanto que para Marx seria a sociedade comunista
(I1992, p. 7- 12).

O fim da história para Hegel, ocorreria quando a humanidade alcançasse a


estabilidade proporcionada pelo Estado liberal e constitucional, o único capaz de assegurar a
igualdade jurídica e a liberdade, dito de outra forma, o indivíduo, o membro da família, o
cidadão pertencente a qualquer classe social estaria representado na esfera do Estado, pois,
este sendo o espírito objectivo, é o representante dos interesses de toda a sociedade, uma vez
que sua realização é a síntese das contradições existentes na sociedade civil 6 (Chaui, 1987, p.
79).

Hegel citado por Gomes, acreditava num direcionamento da história da humanidade


no sentido da evolução e do progresso. Para ele, a história humana era a realização
progressiva e absoluta da ideia (1993, p. 67).

Ao mesmo tempo, pode-se afirmar que Hegel acreditava que haveria um fim da
história, não no sentido de que, com a construção de uma sociedade superior e livre, a história
da humanidade iria terminar, e sim como manifestação da realização plena da ideia absoluta
(Ibidem)

6
Em suma é um momento de uma culminação absoluta, em que a razão como liberdade na terra foi consumada
nas instituições de um Estado liberal.
10

Fukuyama, ressalta um ponto relevante da concepção hegeliana, ligada à relação entre


consciência e materialidade do mundo. Portanto, o mesmo (Fukuyama) diz que para Hegel,
toda acção humana no mundo material e, por conseguinte:

Toda a história da humanidade encontra suas raízes num estado


prévio da consciência, o que significa dizer que o mundo
material tem sua causa na consciência, sendo por ela criado à
sua imagem e semelhança. E, com esse pensamento de Hegel,
Fukuyama criticou o materialismo de Marx por tomar a
consciência como aspecto secundário e determinado pela
matéria (P. 10-11).

Para dar consistência filosófica às suas teses, Fukuyama foi buscar em Hegel os
fundamentos para sua teoria do fim da história, através de algumas passagens de seu livro, é
possível entendermos a importância de Hegel para a construção da ideia do fim da história e
do porquê de tê-lo escolhido como base teórica (Anderson, 1992, p. 67).

A ideia central do livro é a de que o fim da história apresenta-se porque a actual


democracia liberal é a forma vitoriosa e final de expressão do poder estatal, pois permite aos
homens a real vivência e correlaciona garantia, eficácia e efectividade de seus direitos
humanos-fundamentais (Ibidem).

Ao longo de toda a obra Fukuyama, afirma que, apesar de as democracias liberais


contemporâneas enfrentarem problemas de facto, estes não são tão graves a fim de
conduzirem necessariamente ao colapso da sociedade como um todo, como aconteceu com o
comunismo na década de 1980 (1992, p. 22).

Para, o desenvolvimento tecnológico e o domínio da natureza pelo homem levam a três


consequências nomeadamente:

a) Vantagens militares para os países que detêm ou criam tais tecnologias;


b) Acúmulo de riquezas capazes de satisfazerem, ainda que em parte, os desejos
humanos;
c) A homogeneização uniforme de todas as sociedades humanas, independentemente de
suas origens históricas ou das suas heranças culturais.
11

Assim, a citada lógica da ciência natural moderna é uma interpretação economizada


mudança histórica, mudança que, conduz ao capitalismo, e não ao socialismo, como resultado
final (Ibidem, p. 15-16).

O sentido do fim da história para Fukuyama: é o limite da história ideológica, da


universalização da democracia liberal como forma final de governo humano. Trata-se do
triunfo da ideia, da razão universal concretizada no Estado capitalista (p. 17).

Para Fukuyama, a descrição hegeliana não materialista da história, baseada na ideia da


luta pelo reconhecimento humano, é, também, peça chave desta compreensão. As
interpretações económicas da história são incompletas e insatisfatórias, porque o homem não
é simplesmente um animal económico (1992, p. 16).

Em especial, estas interpretações não podem explicar o por que de sermos democratas,
isto é, proponentes do princípio da soberania popular e da garantia dos direitos básicos sob o
império da lei (Ibidem).

O homem difere fundamentalmente dos animais porque, além disso, deseja o desejo dos
outros homens. Especialmente, quer ser reconhecido como ser humano, isto é, como um ser
com certo valor ou dignidade. Exactamente porque o objectivo da luta não é determinado
pela biologia, Hegel o interpreta como o primeiro lampejo da liberdade humana (Ibidem).

1.4 O significado do termo último homem7


O último homem é a criatura que surge diante do fim da história, Fukuyama afirma,
na Parte cinco de seu livro, que apesar dessa constatação, o autor se questiona sobre a
condição deste homem final (Pereira, 2014, p. 11).

Será para ele, cidadão, a democracia liberal satisfatória? Responderá a suas


pretensões e necessidades? Sob os subtítulos No Reino da Liberdade, Homens sem Peito,
Livre e Desigual, Direitos Perfeitos e Deveres Imperfeitos e Imensas Guerras do Espírito
(Ibidem).

7
A expressão O último homem, foi usada pela primeira vez pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
12

Para o efeito autor apresenta duas possíveis respostas, ou melhor, críticas, aos
questionamentos acima formulados, uma fornecida pela direita e outra pela esquerda
(Ibidem).

A resposta da esquerda, de viés marxista, é a de que a democracia liberal é, em sua


essência, incompleta e, sobretudo, falaciosa em suas promessas. O capitalismo que a orienta
preserva as desigualdades:

Económicas e sociais, promove a divisão do trabalho, a exploração do


homem pelo homem, ou seja, não é suficiente para empoderar os seres
humanos do reconhecimento necessário e, assim, continua tratando os
iguais como desiguais (Ibidem, p. 12).

1.5 A democracia liberal em: Francis Fukuyama

A democracia liberal é herdeira da convicção firmada por pensadores como Marsílio de


Pádua, no século XIV, John Locke no século XVII e Rousseau no século XVII, que
estabelece a distinção entre a acção de governar e a acção de elaborar leis, que não podem ser
exercidos por um único indivíduo e que de alguma forma, a soberania legislativa deve ser um
atributo popular (Ibidem).

Desta forma se garante que a soberania não seja um privilégio de quem governa, mas dos
governados, é o que escreve Marsílio de Pádua quando afirma em seu Defensor Pacis que o
poder executivo não é o poder soberano, uma vez que este pertence ao povo, mas cabe ao
executivo governar conforme lhe é determinado pelas leis (Ibidem)

De forma similar, Rousseau com seu conceito de vontade Geral, atribui ao legislativo,
enquanto representante do povo, poder hegemônico chegando inclusive a admitir a
possibilidade de sublevação popular quando o governo perde sua representatividade junto à
sociedade civil (Bobbio, 1998, P. 319-329).

Dahl ao compuser sobre as vantagens da democracia apresenta a seguinte ordem:

a) A democracia ajuda a impedir o governo de autocratas cruéis e perversos;


b) A democracia garante aos cidadãos uma série de direitos fundamentais que os
sistemas não- democráticos não proporcionam;
c) A democracia assegura aos cidadãos uma liberdade individual mais ampla que
qualquer alternativa viável (2001, p. 73).
13

A construção teórica feita por Fukuyama o leva a tecer inúmeros elogios ao liberalismo.
Para ele, a universalidade do estado liberal resolveria os conflitos de classe e traria melhores
condições económicas para grupos sociais:

Pois seria garantido o reconhecimento a todos os cidadãos.


Qualquer criança nascida nos EUA teria os mesmos direitos em
todos os estados liberais, as leis surgiriam de normas universais
adoptadas em todos os países de economia e democracia liberal,
proporcionando a todos, independente de classe social ou nível
de instrução, o direito ao exercício pleno da cidadania. Embora
haja o aparecimento de novas classes sociais baseadas no status
económico e educação, a mobilidade entre estas também seria
maior. A ideia de igualdade estaria fortalecida (1992, p. 249).

O sinal mais impressionante, argumenta Fukuyama, da irresistível força dos princípios


da política liberal não é apenas a rapidez e a escala do colapso de tantas ditaduras no mundo
inteiro começando na Europa meridional em meados da década de 70, propagando-se à
América Latina nos anos 80, cruzando o Pacífico, deslocando-se depois para a Europa
Oriental e a URSS no final da década, antes de atingir finalmente a África mas também a
ausência de violência que o marcou de forma inconfundível (Anderson, 1992, p. 96).

Para conceituar democracia, o autor faz uso de uma definição formal: um país é
democrático porque garante ao seu povo o direito de escolher o seu próprio governo através
de eleições periódicas, secretas, multipartidárias, baseadas no sufrágio universal adulto e
igual (Fukuyama, 1992, P.72-3).

O liberalismo em Fukuyama, é portanto, um regime fundado simultaneamente nas


esferas políticas e económica. Em termos políticos, a base encontra-se na democracia liberal,
enquanto que no âmbito económico o cerne consiste em reconhecimento do direito à
liberdade de actividade económica e troca económica, com base na propriedade privada e nos
mercados (Ibidem, p.74).
14

Torna-se importante expor a associação feita por Fukuyama entre o liberalismo


económico e a consolidação da democracia na esfera política, já que este é um sistema
claramente defendido por ele:

Atribuindo-o aos países considerados mais desenvolvidos. A


íntima relação entre política e economia faz com que sua visão
liberal perpasse ambos os terrenos, tornando-os os quase como
que inseparáveis durante sua análise (Ibidem).

Duas passagens de Fukuyama ilustram esta ideia, o direito de participar do poder


político pode ser considerado como outra lei liberal, na verdade a mais importante, e é por
isso que o liberalismo tem sido historicamente associado à democracia (1992, p. 70).

O sucesso económico de outros países recém-industrializados na Ásia, seguindo o


exemplo do Japão, já é uma história familiar. O que é importante do ponto de vista hegeliano
é que o liberalismo político vem seguindo o liberalismo:

Económico, mais lentamente do que muitos esperavam, mas


com aparente inevitabilidade. Aqui novamente vemos a vitória
da ideia do estado universal homogêneo (1989, p.14).

A revolução liberal ainda não está realizada em toda a parte. Mas na ausência de
quaisquer competidores, a história parece realmente ter chegado a seu termo. É essa
aparência conclusiva? Passando para a segunda parte:

Do seu título e abordando agora o principal problema que ele


admitiu ter deixado em aberto no seu ensaio original, Fukuyama
sublinha que a eliminação empírica de alternativas não decide
em si mesma se essa ordem satisfaz as exigências categóricas da
humanidade ou seja, as aspirações duradouras que definem a
nossa natureza como espécie (Anderson, 1992, p. 97).

Conforme diz Gomes, a democracia liberal teria superado os totalitarismos de direita e


esquerda, e também quaisquer outras variantes autoritárias, e triunfado como o regime mais
adequado ao progresso e à liberdade humana. As propostas que restam hoje em contraposição
à democracia liberal estão na defensiva, e representariam o conservadorismo e o atraso (1993,
p. 2).
15

Para Fukuyama, embora o poder comunista persistisse no mundo, já havia deixado de


reflectir uma ideia dinâmica e atraente. Os que ainda se diziam comunistas estariam
envolvidos numa luta contínua:

De retaguarda e preservação. Seria uma posição nada invejável,


de defender uma ordem social e ultrapassada, como os
monarquistas que sobreviveram no século XX (p. 138).

Fukuyama retoma a noção de fim da história proclamada por Hegel e Kojève. Mais
especificamente, sua ideia seria que a democracia liberal pode constituir não apenas o fim da
Guerra Fria, ou a passagem:

De um determinado período da história do pós-guerra, mas o fim da


história como tal: isto é, o ponto final da evolução ideológica da
humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como a
forma final de governo humano. Não é um fim da ideologia ou uma
convergência entre capitalismo e socialismo, como já foi previsto
anteriormente, e sim uma vitória descarada do liberalismo económico e
político (1989, p.139).

Fukuyama admite que os avanços dos princípios fundamentais da organização


político-social não têm sido tão extraordinários desde 1806. Diz ele o que estamos
testemunhando, na actualidade, não é apenas o fim da Guerra Fria:

Ou o término de um período específico da história do pós-guerra, mas o


fim da história enquanto tal: ou seja, o ponto final da evolução
ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal
ocidental como forma última de governo humano (Ibidem)

Uma consequência do fim da história dominado pelas democracias liberais seria,


segundo Fukuyama, o término das guerras. Segundo o autor, o desejo de reconhecimento não
se manifestaria apenas nos indivíduos, mas também entre as nações8 (Ibidem)

8
Posta a tese chegamos ao ponto que, a democracia liberal teve como antíteses e se saiu vitoriosa não somente
contra o socialismo, mas também contra outros regimes totalitários como o fascismo e o nazismo e os
autoritarismos de direita representados pelos regimes militares latino-americanos como os do Brasil e Argentina,
africanos como o da África do Sul, e os asiáticos como o das Filipinas de Ferdinand Marcos
16

Conclusão
Falávamos ao longo do trabalho em volta de: fim da história e último homem em
Fukuyama, entretanto expressão fim da história é bastante utilizada nos últimos tempos pelos
defensores das teorias económicas neoliberais, (tal é o caso de Fukuyama) que designam a
derrocada da filosofia da história e, o surgimento da multiplicidade dos horizontes de sentido.
Com o desmoronamento das grandes visões filosóficas, políticas e religiosas do mundo bem
como com o declínio ou enfraquecimento do mito do progresso e da emancipação, e das
visões integradas e coerentes de mundo que explicam todos os aspectos da realidade,

Em jeito de crítica Fukuyama foi confortado pelas questões: (primeira) se O último


homem é a criatura que surge diante do fim da história, entretanto, o autor afirma, na Parte
cinco de seu livro, que apesar dessa constatação, o memos se questiona sobre a condição
deste homem final. Será para ele, cidadão, a democracia liberal satisfatória? Responderá a
suas pretensões e necessidades? Sob os subtítulos No Reino da Liberdade, Homens sem
Peito, Livre e Desigual, Direitos Perfeitos e Deveres Imperfeitos e Imensas Guerras do
Espírito

O autor apresenta duas possíveis respostas, ou melhor, críticas, aos questionamentos


acima formulados, uma fornecida pela direita e outra pela esquerda.

A resposta da esquerda, de viés marxista, é a de que a democracia liberal é, em sua


essência, incompleta e, sobretudo, falaciosa em suas promessas. O capitalismo que a orienta
preserva as desigualdades económicas e sociais, promove a divisão do trabalho, a exploração
do homem pelo homem, ou seja, não é suficiente para empoderar os seres humanos do
reconhecimento necessário e assim, continua tratando os iguais como desiguais.
17

Referências Bibliográficas
Fukuyama, F. (1992). O Fim da História e o Último Homem. Rio de Janeiro: Editora Rocco.

__________. (1989). O Fim da História. O Interesse Nacional, p.3-18.

Anderson, P. (1992). O fim da história: de Hegel a Fukuyama. trad. de Álvaro Cabral, Rio de
Janeiro, Jorge Zahar.

Bobbio, N. (1998). Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Chauí, M. (1987). O que é ideologia 24. ed. São Paulo: Brasiliense.

Dahl, R. (2001). Sobre a democracia. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Gomes, L. (1993). Fim da história justifica Nova Ordem. Princípios, São Paulo.

Japiassú, H. & Marcondes, D. (2001). Dicionário Básico de Filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro.

Pereira, L. (2014). O Fim Da História E O Último Homem. E-Civitas - Revista Científica do

Departamento de Ciências Jurídicas, Políticas e Gerenciais do UNI-BH – Belo Horizonte,


volume VII, número 1. Disponível em: www.unibh.br/revistas/ecivitas

Você também pode gostar