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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE FILOSOFIA

LÍDIA ADÉLIA MUCHANGA

O FIM DA HISTÓRIA E O ÚLTIMO HOMEM

Beira

2023
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LÍDIA ADÉLIA MUCHANGA

O FIM DA HISTÓRIA E O ÚLTIMO HOMEM

Trabalho a ser apresentado ao


Departamento de Letras e Humanidades,
curso de Filosofia para fins avaliativos na
cadeira de Hermenêutica.

Docente: Msc. Remígio

Beira

2023

Índice
Introdução........................................................................................................................................3
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1.Vida e obras de Francis Fukuyama...............................................................................................4

1.2 Principais obras..........................................................................................................................4

1.3 Interpretação da obra: O fim da história e o último homem......................................................5

1.4 O significado do termo último homem......................................................................................9

Criticas feitas ao Fukuyama...........................................................................................................13

Conclusão......................................................................................................................................15

Referências Bibliográficas.............................................................................................................16
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Introdução

O presente trabalho debruça-se em volta de: O fim da história e o último homem em


Francis Fukuyama, sobre a derrocada dos regimes socialistas no Leste europeu e em especial na
ex-União Soviética e a consequente vitória da economia de mercado e da democracia liberal.

Yoshihiro Francis Fukuyama, nascido na cidade de Chicago no dia 27 de outubro de


1952, é um filosofo e economista politico nipa estadunidense. Doutor em ciência politica pela
Universidade de Harvard e professor de economia politica internacional na Universidade Johns
Hopkins, em Washington. Fukuyama afirma-se amparando principalmente no pensamento
hegeliano, que a história havia chegado ao seu fim; que a humanidade, no final do século XX,
teria atingido o auge de sua evolução com a superação das contradições existentes e
personificadas na Guerra Fria. Com a queda dos regimes socialistas do hemisfério Norte, restava
apenas uma única ideologia, um único e vitorioso regime, a democracia liberal. Portanto, quando
resta um único regime já não resta mais nada para se contar. Entretanto, surgem as seguintes
questões: qual seria a melhor forma de governação para Fukuyama? Qual é o motivo de haver o
fim da historia? Será que o mundo já atingiu o seu nível de conhecimento, isto é, o apogeu?

Feitas estas considerações, temos a o objectivo da obra que é descrever o sentido do fim da
história e o último homem em Fukuyama e por último analisar a democracia liberal na visão de
Fukuyama. O livro O Fim da História e o Último Homem, do filósofo Francis Fukuyama, teve
origem em um artigo intitulado O Fim da História? publicado três anos antes, em 1989 na
revista The National Interest. O autor sustenta que o liberalismo econômico seria o ápice da
evolução econômica da sociedade contemporânea. Esta viria acompanhada da democracia e da
igualdade de oportunidade. Todos seriam livres e capazes de conquistar os seus objetivos. A
democracia apenas seria possível para os países desenvolvidos economicamente com um
processo de industrialização já consolidado. Os demais países, pobres e “atrasados”, estariam
vulneráveis aos regimes totalitários, ao socialismo, ou ainda, aos regimes democráticos
dependentes dos países desenvolvidos.
Quanto a estrutura o trabalho, apresenta numa primeira fase, a vida e obra de Fukuyama;
de seguida a interpretação da obra, os contradiscursos feitos a ele e por fim as reações que ele
apresenta e que constam na conclusão. Para a realização desse trabalho me recorri ao método
hermenêutico. Tanto que temos a consulta bibliográfica como a técnica predominante.
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1.Vida e obras de Francis Fukuyama

Francis Fukuyama nasceu no dia 27 de Outubro de 1952 em Chicago, é um pensador


Americano, estudou em Yale, na Sabonha e Harvard, estudou literatura comparada, ciência
política com mestre como Allan Bloom, Man, Rolans Barthes e Jacques Derrida (Gallardo, 2007,
p.46).

Doutorou em filosofia e letras, concretamente em ciências políticas a universidade de


Harvard sobre a supervisão do professor Nadav Safran em 1981. Virou celebridade em 1989,
quando o Muro de Berlim caiu e o império soviético começou a desabar (Ibidem). Nesta época,
publicou em um jornal o artigo profetizando a sua tese sobre o fim da história e o ultimo homem.
Posteriormente o artigo virou livro em 1992, dilatando muitas controvérsias que também custou
muitos exames ao Fukuyama (Ibidem). Para além de Fukuyama ser professor de política pública
na universidade de George Mason University em Fairfax, também ocupou vários cargos, como o
de director do inernational transactions program:

e investigador do Rand corporation1 em Washington, faz


parte do departamento Americano desde 1981 à 1982, e foi
membro das delegações das conversões entre Egipto e Israel
sobre a emancipação da palestina, Fukuyama é um cientista
político especializado em assuntos militares do médio
oriente e da política exterior da antiga união soviética
(Fukuyama, 1992, p.27).
Sobre sua vida pessoal, cabe destacar o casamento com Laura Holmgren, que ele
conheceu logo no início de seu trabalho na RAND Corporation. O casal tem três filhos, Júlia,
David e John, e a dedicatória de sua mais conhecida obra, “O Fim da História e o Último
Homem”, é direcionada para dois deles, tendo David nascido ao longo da redação do livro e John
logo após o seu lançamento (Ibidem, p. 36-37).

1.2 Principais obras

 “O fim da história e o último homem” (1992); “Confiança” (1995); “A grande


ruptura” (1999); “As origens da ordem política” (2011); “Liberalismo e seus
Descontentes” (2022”.

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Rand corporation, é uma empresa criada pelas forças dos Estados Unidos com objectivo de dar continuidade a
colaboração entre cientistas universitários e chefes militares.
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1.3 Interpretação da obra: O fim da história e o último homem

O livro O Fim da História e o Último Homem, do filósofo Francis Fukuyama, teve origem
em um artigo intitulado O Fim da História?, publicado três anos antes, em 1989 na revista The
National Interest. Poucas obras que vieram ao público neste mesmo espaço de tempo causaram
tanta celeuma quanto esta. Celebrada por alguns e odiada por outros, o mundo acadêmico não
ficou indiferente a ela. Hoje, com uma leitura atenta da obra e um olhar mais acurado sobre o
contexto, é possível inferir que Fukuyama não foi bem compreendido por muitos e
possivelmente nem lido por outros tantos.
Fukuyama (1992 p.13) afirma que “as anteriores formas de governo eram caracterizadas
por graves imperfeições e irracionalidades, assim como também a falta de legitimidade foi um
factor determinante para o fracasso, que conduziriam ao seu eventual colapso, a democracia
liberal estava comprovadamente livre dessas contradições internas fundamentais. Apoiando-se da
hermenêutica de Hegel feita por Alexandre Kojeve, Fukuyama sustenta a tese de que a
humanidade chegou ao ponto final de seu progresso ideológico com o êxito da democracia
liberal sobre o fascismo e, mais contemporaneamente, sobre o comunismo.

Marx também tomou emprestada do filósofo George Wilhelm Friedrich Hegel e que se
encarregou de distorcê-la, sendo seguido nesta empreitada por seus sucessores. Tanto para Hegel
quanto para Marx,

A evolução das sociedades humanas não era ilimitada, mas terminaria


quando a humanidade alcançasse uma forma de sociedade que pudesse
satisfazer suas aspirações mais profundas e fundamentais. Desse modo, os
dois pensadores previam um fim da história. Para Hegel seria o Estado
Liberal, enquanto que para Marx seria a sociedade comunista (Fukuyama,
1992,p. 14).
O fim da história para Hegel, ocorreria quando a humanidade alcançasse a estabilidade
proporcionada pelo Estado liberal e constitucional, o único capaz de assegurar a igualdade
jurídica e a liberdade, dito de outra forma, o indivíduo, o membro da família, o cidadão
pertencente a qualquer classe social estaria representado na esfera do Estado, pois, este sendo o
espírito objectivo, é o representante dos interesses de toda a sociedade, uma vez que sua
realização é a síntese das contradições existentes na sociedade civil2 (Chaui, 1987, p. 79).
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Em suma é um momento de uma culminação absoluta, em que a razão como liberdade na terra foi consumada nas
instituições de um Estado liberal.
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Hegel, acreditava num direcionamento da história da humanidade no sentido da evolução


e do progresso. Para ele, a história humana era a realização progressiva e absoluta da ideia. Ao
mesmo tempo, pode-se afirmar que Hegel acreditava que haveria um fim da história, não no
sentido de que, com a construção de uma sociedade superior e livre, a história da humanidade
iria terminar, e sim como manifestação da realização plena da ideia absoluta.

Fukuyama, (1992 p. 16), advoga que o desenvolvimento da ciência natural moderna


produziu um efeito uniforme em todas as sociedades que o experimentaram por duas razoes. Em
primeiro lugar, a tecnologia confere vantagens militares decisivas aos países que a possuem e,
dada a continua possibilidade de guerra no sistema internacional de estados, nenhum estado que
preze a sua independência pode ignorar a necessidade de modernização defensiva. Em segundo
lugar, a ciência natural moderna estabelece um horizonte uniforme de possibilidades, de
produção económica.

Aqui o autor, aceita que sim a ciência natural moderna assim como a tecnologia têm
vantagens para a sobrevivência dos indivíduos, mas outrora, a mesma tecnologia prejudica o
próprio homem. Dai que, Fukuyama, (1992, p. 20) afirma que “a capacidade da tecnologia de
melhorar a vida humana depende estritamente de um processo moral paralelo ao do homem. Sem
este processo, o poder da tecnologia será usado para o mal e o homem ficará pior do que antes”.

Segundo Fukuyama (1992, p. 37) , “numa democracia liberal o Estado é, por definição,
fraco: a preservação de uma esfera de direitos individuais significa uma delimitação nítida do
poder do estado”. Os regimes autoritários, pelo contrário, usam o Estado como instrumento de
controle da esfera privada, e utilizam este controle de acordo com os seus interesses, seja para
promover a igualdade social ou para desenvolver a economia do país. Tal ação garantiria a
legitimidade de um regime mesmo que este não tivesse o apoio de toda a população. O autor cita
como exemplo, os governos militares na América Latina e o regime de Sadam Hussein no
Iraque. Durante o século XX, a humanidade conviveu com regimes totalitários. O conceito de
regime totalitário foi criado no final da Segunda Guerra Mundial para distinguir os regimes
tirânicos, na Alemanha nazista e na própria URSS, dos regimes democráticos, nos EUA, na
Inglaterra ou na França”. Para dar consistência filosófica às suas teses, Fukuyama foi buscar
em Hegel os fundamentos para sua teoria do fim da história, através de algumas passagens de seu
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livro, é possível entendermos a importância de Hegel para a construção da ideia do fim da


história e do porquê de tê-lo escolhido como base teórica (Anderson, 1992, p. 67).
A ideia central do livro é a de que o fim da história se apresenta porque a actual
democracia liberal é a forma vitoriosa e final de expressão do poder estatal, pois permite aos
homens a real vivência e correlaciona garantia, eficácia e efectividade de seus direitos humanos-
fundamentais.

Ao longo de toda a obra Fukuyama, afirma que, apesar de as democracias liberais


contemporâneas enfrentarem problemas de facto, estes não são tão graves a fim de conduzirem
necessariamente ao colapso da sociedade como um todo, como aconteceu com o comunismo na
década de 1980 (1992, p. 22).

Para, o desenvolvimento tecnológico e o domínio da natureza pelo homem levam a três


consequências nomeadamente: Vantagens militares para os países que detêm ou criam tais
tecnologias; Acúmulo de riquezas capazes de satisfazerem, ainda que em parte, os desejos
humanos; A homogeneização uniforme de todas as sociedades humanas, independentemente de
suas origens históricas ou das suas heranças culturais. Assim, a citada lógica da ciência natural
moderna é uma interpretação economizada mudança histórica, mudança que, conduz ao
capitalismo, e não ao socialismo, como resultado final (Ibidem, p. 15-16).

O sentido do fim da história para Fukuyama: é o limite da história ideológica, da


universalização da democracia liberal como forma final de governo humano. Trata-se do triunfo
da ideia, da razão universal concretizada no Estado capitalista (p. 17).

Para Fukuyama, a descrição hegeliana não materialista da história, baseada na ideia da luta pelo
reconhecimento humano, é, também, peça chave desta compreensão. As interpretações
económicas da história são incompletas e insatisfatórias, porque o homem não é simplesmente
um animal económico (1992, p. 16). Em especial, estas interpretações não podem explicar o por
que de sermos democratas, isto é, proponentes do princípio da soberania popular e da garantia
dos direitos básicos sob o império da lei.

(Fukuyama, 1992, p. 18), “o desejo de reconhecimento leva inicialmente dois guerreiros


primordiais a apostarem as suas vidas numa batalha de morte para que o outro “reconheça” a sua
humanidade, risca se a vida em prol do reconhecimento”. O thymos seria a parte da alma que
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exige o reconhecimento. Sendo que para Hegel, a história chegava ao fim com as Revoluções
Americana e Francesa, porque a aspiração que impulsionara o processo histórico deu a luta pelo
reconhecimento e que havia sido satisfeita numa sociedade caracterizada pelo reconhecimento
universal e recíproco. A luta pelo reconhecimento oferece nos uma visão da natureza da política
internacional.
Fukuyama, (1992, p. 20), cita Hegel ao afirmar que o desejo de reconhecimento que
esteve na origem da sangrenta batalha pelo prestígio entre dois combatentes individuais conduz,
logicamente ao imperialismo e ao domínio mundial. Um entendimento da importância do desejo
de reconhecimento como motor da história permite nos reinterpretar muitos fenómenos que nos
são aparentemente familiares, como a cultura, a religião, o trabalho, o nacionalismo e a guerra.

O homem difere fundamentalmente dos animais porque, além disso, deseja o desejo dos
outros homens. Especialmente, quer ser reconhecido como ser humano, isto é, como um ser com
certo valor ou dignidade. Exactamente porque o objetivo da luta não é determinado pela biologia,
Hegel o interpreta como o primeiro lampejo da liberdade humana.

Para Fukuyama (1992, p. 70), “o direito de participar do poder político pode ser
considerado como outro direito liberal, na verdade, o mais importante, e é por isto que o
liberalismo tem sido historicamente associado à democracia”. Portanto, é bastante provável que
paises como a China, a Correia do Norte ou, ainda, as teocracias islâmicas, não resistam por
muito tempo. O mundo caminha através da globalização para uma economia liberal. Esta
transformação pode ocorrer de forma pacifica ou por imposição dos países ricos, que precisam
de países pobres liberais, democráticos e globalizados para manter suas economias e seu nível de
desenvolvimento.
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1.4 O significado do termo último homem4

O último homem é a criatura que surge diante do fim da história, Fukuyama afirma, na
parte cinco de seu livro, que apesar dessa constatação, o autor se questiona sobre a condição

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O thymos seria a parte da alma que exige o reconhecimento.
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A expressão O último homem, foi usada pela primeira vez pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
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deste homem final, neste caso encorara no Nietzsche esse termo “último homem” (Pereira, 2014,
p. 11).

Para o efeito autor apresenta duas possíveis respostas, ou melhor, críticas, aos questionamentos
acima formulados, uma fornecida pela direita e outra pela esquerda (Ibidem).

A resposta da esquerda, de viés marxista, é a de que a democracia liberal é, em sua essência,


incompleta e, sobretudo, falaciosa em suas promessas. O capitalismo que a orienta preserva as
desigualdades:

Económicas e sociais, promove a divisão do trabalho, a exploração do


homem pelo homem, ou seja, não é suficiente para imponderar os seres
humanos do reconhecimento necessário e, assim, continua tratando os
iguais como desiguais (Ibidem, p. 12).
Embora as democracias liberais estão sem dúvida ameaçadas por uma série de problemas,
como o desemprego, a poluição, as drogas, o crime e outros, Kukuyama (1992, p. 280) fala que
além destas preocupações imediatas, resta saber se existem outras fontes mais profundas de
insatisfação no interior da democracia liberal, se a vida aí é realmente satisfatória. Se não
descortinarmos tais “contradições”, estaremos em posição de afirmar, com Hegel e Kojeve, que
chegámos ao fim da história. Mas, se as dedectarmos, teremos de afirmar que a história, no
sentido estrito da palavra, irá continuar.
Fukuyama (1992, p. 280) O problema do fim da história resume-se, assim, a uma questão
sobre o futuro do thymos se a democracia liberal satisfaz adequadamente o desejo pelo
reconhecimento, como diz Kojève, ou se esse desejo continuará por se realizar e, portanto, capaz
de vir a manifestar-se de uma forma inteiramente diferente. A nossa anterior tentativa para
construir uma história universal originou dois processos históricos paralelos: um guiado pela
ciência natural moderna e pela lógica do desejo e o outro pela luta pelo reconhecimento.
A construção teórica feita por Fukuyama o leva a tecer inúmeros elogios ao liberalismo. Para
ele, a universalidade do estado liberal resolveria os conflitos de classe e traria melhores
condições económicas para grupos sociais:

Pois seria garantido o reconhecimento a todos os cidadãos.


Qualquer criança nascida nos EUA teria os mesmos direitos em
todos os estados liberais, as leis surgiriam de normas universais
adoptadas em todos os países de economia e democracia liberal,
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proporcionando a todos, independente de classe social ou nível de


instrução, o direito ao exercício pleno da cidadania. Embora haja o
aparecimento de novas classes sociais baseadas no status
económico e educação, a mobilidade entre estas também seria
maior. A ideia de igualdade estaria fortalecida (1992, p. 249).
O sinal mais impressionante, argumenta Fukuyama, da irresistível força dos princípios da
política liberal não é apenas a rapidez e a escala do colapso de tantas ditaduras no mundo inteiro
começando na Europa meridional em meados da década de 70, propagando-se à América Latina
nos anos 80, cruzando o Pacífico, deslocando-se depois para a Europa Oriental e a URSS no final
da década, antes de atingir finalmente a África mas também a ausência de violência que o
marcou de forma inconfundível (Anderson, 1992, p. 96).

Para conceituar democracia, o autor faz uso de uma definição formal: um país é
democrático porque garante ao seu povo o direito de escolher o seu próprio governo através de
eleições periódicas, secretas, multipartidárias, baseadas no sufrágio universal adulto e igual. O
liberalismo em Fukuyama, é, portanto, um regime fundado simultaneamente nas esferas políticas
e económica. Em termos políticos, a base encontra-se na democracia liberal, enquanto que no
âmbito económico o cerne consiste em reconhecimento do direito à liberdade de actividade
económica e troca económica, com base na propriedade privada e nos mercados (Fukuyama,
p.72-74).

Torna-se importante expor a associação feita por Fukuyama entre o liberalismo económico
e a consolidação da democracia na esfera política, já que este é um sistema claramente defendido
por ele: aos países considerados mais desenvolvidos. A íntima relação entre política e economia
faz com que sua visão liberal perpasse ambos os terrenos, tornando-os os quase como que
inseparáveis durante sua análise (Ibidem).

Duas passagens de Fukuyama ilustram esta ideia, o direito de participar do poder político
pode ser considerado como outra lei liberal, na verdade a mais importante, e é por isso que o
liberalismo tem sido historicamente associado à democracia (1992, p. 70). O sucesso económico
de outros países recém-industrializados na Ásia, seguindo o exemplo do Japão, já é uma história
familiar. O que é importante do ponto de vista hegeliano é que o liberalismo político vem
seguindo o liberalismo:
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Económico, mais lentamente do que muitos esperavam, mas com


aparente inevitabilidade. Aqui novamente vemos a vitória da ideia
do estado universal homogêneo (1989, p.14).
A revolução liberal ainda não está realizada em toda a parte. Mas na ausência de
quaisquer competidores, a história parece realmente ter chegado a seu termo. É essa aparência
conclusiva? Passando para a segunda parte: do seu título e abordando agora o principal problema
que ele admitiu ter deixado em aberto no seu ensaio original, Fukuyama sublinha que a
eliminação empírica de alternativas não decide em si mesma se essa ordem satisfaz as exigências
categóricas da humanidade ou seja, as aspirações duradouras que definem a nossa natureza como
espécie (Anderson, 1992, p. 97).

Conforme diz Gomes, a democracia liberal teria superado os totalitarismos de direita e


esquerda, e também quaisquer outras variantes autoritárias, e triunfado como o regime mais
adequado ao progresso e à liberdade humana. As propostas que restam hoje em contraposição à
democracia liberal estão na defensiva, e representariam o conservadorismo e o atraso (1993, p.
2). Para Fukuyama, embora o poder comunista persistisse no mundo, já havia deixado de
reflectir uma ideia dinâmica e atraente. Os que ainda se diziam comunistas estariam envolvidos
numa luta contínua: de retaguarda e preservação. Seria uma posição nada invejável, de defender
uma ordem social e ultrapassada, como os monarquistas que sobreviveram no século XX (p.
138).

Fukuyama retoma a noção de fim da história proclamada por Hegel e Kojève. Mais
especificamente, sua ideia seria que a democracia liberal pode constituir não apenas o fim da
Guerra Fria, ou a passagem:

De um determinado período da história do pós-guerra, mas o fim da


história como tal: isto é, o ponto final da evolução ideológica da
humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como a
forma final de governo humano. Não é um fim da ideologia ou uma
convergência entre capitalismo e socialismo, como já foi previsto
anteriormente, e sim uma vitória descarada do liberalismo económico e
político (1989, p.139).
Fukuyama admite que os avanços dos princípios fundamentais da organização político-
social não têm sido tão extraordinários desde 1806. Diz ele o que estamos testemunhando, na
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actualidade, não é apenas o fim da Guerra Fria ou o término de um período específico da história
do pós-guerra, mas o fim da história enquanto tal: ou seja, o ponto final da evolução ideológica
da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como forma última de
governo humano (Ibidem).

Na última parte do livro, chamada “O Último Homem”, Fukuyama esclarece que algumas
desigualdades e diferenças de dignidades nas democracias liberais são inerradicáveis. Ele
reconhece a importância do Estado de Bem-Estar social (Welfare State) que em muitos países
atuou na regulamentação do comércio, em políticas de redistribuição de renda dos ricos para os
pobres e promoção de programas de seguro social. Essas políticas foram importantes para a
“sociedade de classe média” – termo que ele considera ainda inadequado, uma vez que as
democracias modernas ainda têm uma estrutura mais piramidal do que igualitária. De todo modo,
as sociedades de classe média continuarão a ser não igualitárias sob muitos aspectos, mas isso
será mais em decorrência da desigualdade natural dos talentos, à cultura e divisão do trabalho.
Qualquer esforço, diz ele, para levar a igualdade social além desse ponto irá resultar no mesmo
fracasso do projeto marxista, pois os projetos que seguem essa linha necessariamente lançarão
mão de Estados totalitários.
O fato de a democracia liberal ter levado a menos descontentamento social que outras
formas de poder não significa que, se num futuro o mundo estiver repleto de democracias
liberais, as guerras e conflitos simplesmente irão desaparecer. Os homens, diz Fukuyama,
poderão lutar apenas pelo gosto de lutar, pelo tédio de viver em paz. Ele menciona dois exemplos
para corroborar esse pensamento: os movimentos estudantis em 1968 na França e a Primeira
Guerra Mundial.

Os estudantes que paralisaram a França em 68 viviam numa sociedade próspera e livre, e


eram bem posicionados socialmente. Mas ao mesmo tempo viviam numa sociedade onde os
ideais de luta e sacrifício estavam ausentes e foram às ruas motivados por isso. Algo semelhante
ocorreu quando foi deflagrada a Primeira Guerra. A Europa vivia décadas de paz e prosperidade,
mas muitas pessoas queriam a guerra porque estavam cansadas da vida civil pacífica e da
monotonia dos tempos de paz.
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Fukuyama conclui que nenhum modelo de sociedade pode satisfazer todos os homens em
todos os lugares, incluindo, é claro, a democracia liberal. Mesmo a liberdade e a igualdade geram
insatisfações e em alguns indivíduos o desejo de recomeçar a história. Em Platão o thymos não
era necessariamente bom ou mau, mas deveria ser ensinado a servir ao bem comum. A cidade
deveria ser governada a partir de um equilíbrio entre as três partes da alma: razão, desejo e
“espírito” (thymos). Se admitimos que a moderna democracia liberal é o sistema político que
melhor promove esse equilíbrio, então a ameaça principal a ela pode vir da hipervalorização do
reconhecimento, a megalothymia. Uma consequência do fim da história dominado pelas
democracias liberais seria, segundo Fukuyama, o término das guerras. Segundo o autor, o desejo
de reconhecimento não se manifestaria apenas nos indivíduos, mas também entre as nações5
(Ibidem)
Criticas feitas ao Fukuyama

O sinal mais impressionante, argumenta Fukuyama, da irresistível força dos princípios da


política liberal não é apenas a rapidez e a escala do colapso de tantas ditaduras no mundo inteiro
começando na Europa meridional em meados da década de 70, propagando-se à América Latina
nos anos 80, cruzando o Pacífico, deslocando-se depois para a Europa Oriental e a URSS no final
da década, antes de atingir finalmente a África mas também a ausência de violência que o
marcou de forma inconfundível (Anderson, 1992, p. 96).

O conturbado cenário mundial levanta alguns questionamentos. Até que ponto a


democracia liberal é legitima para todos os povos? O modo de vida americano seria o desejo de
toda o população mundial? A democracia liberal realmente representa os ideais de liberdade e
oportunidade? A prova de que a democracia liberal não é legítima para todos os povos é a
explosão de conflitos étnicos e religiosos ao longo da segunda metade do século XX.
Presenciamos o crescimento da intolerância e de novas polarizações ideológicas. Se antes o “eixo
do mal” era personificado pelo socialismo soviético, agora ele encontra um novo foco, os
terroristas do Oriente Médio. A política externa americana tem encoberto um perfil claramente
expansionista. Os pretextos utilizados para os bombardeios preventivos no Iraque não escondem

5
Posta a tese chegamos ao ponto que, a democracia liberal teve como antíteses e se saiu vitoriosa não somente
contra o socialismo, mas também contra outros regimes totalitários como o fascismo e o nazismo e os autoritarismos
de direita representados pelos regimes militares latino-americanos como os do Brasil e Argentina, africanos como o
da África do Sul, e os asiáticos como o das Filipinas de Ferdinand Marcos
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o real interesse econômico de reformular a geopolítica da região em busca de governos mais


amigáveis aos EUA. Se houvesse preocupações humanitárias legitimas, a nação americana teria
tomado atitudes veementes contra o genocídio étnico promovido por Milosevic na Iugoslávia, ou
também, não faria vista grossa para os ataques contra alvos civis palestinos promovidos pelo
governo de Israel.

Conclusão

Feita a interpretação da obra de Francis Fukuyama “O fim da história e o ultimo homem”,


percebe se que a expressão fim da história é bastante utilizada nos últimos tempos pelos
defensores das teorias económicas neoliberais, (tal é o caso de Fukuyama) que designam a
derrocada da filosofia da história e, o surgimento da multiplicidade dos horizontes de sentido.
Com o desmoronamento das grandes visões filosóficas, políticas e religiosas do mundo bem
como com o declínio ou enfraquecimento do mito do progresso e da emancipação, e das visões
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integradas e coerentes de mundo que explicam todos os aspectos da realidade, surge a


democracia liberal

A resposta que Francis Fukuyama dá é da esquerda, de viés marxista, e é a de que a


democracia liberal é, em sua essência, incompleta e, sobretudo, falaciosa em suas promessas. O
capitalismo que a orienta preserva as desigualdades económicas e sociais, promove a divisão do
trabalho, a exploração do homem pelo homem, ou seja, não é suficiente para empoderar os seres
humanos do reconhecimento necessário e assim, continua tratando os iguais como desiguais.

. Na sociedade moderna exige se um moralismo na distinção entre o melhor e o pior, o


bem e o mal, gerando assim, um Último Homem movido pela saúde e segurança individual, por
essas não ser motivo de desavenças. Não obstante que, a democracia liberal seja acusada pelo
reconhecimento desigual de pessoas iguais, mas isto constitui uma ameaça da própria
democracia liberal por conferir reconhecimento igual a pessoas desiguais. A democracia liberal
aconselha na distribuição económica e no reconhecimento do outro enquanto homem. O modelo
de estado proposto pelo autor apareceria como o fim da História, seria o ápice da evolução
econômica da humanidade.

Referências Bibliográficas

Fukuyama, Francis. (1992). O Fim da História e o Último Homem. Rio de Janeiro: Editora
Rocco.

__________. (1989). O Fim da História. O Interesse Nacional, p.3-18.

Anderson, P. (1992). O fim da história: de Hegel a Fukuyama. trad. de Álvaro Cabral, Rio de
Janeiro, Jorge Zahar.
16

Chauí, M. (1987). O que é ideologia 24. ed. São Paulo: Brasiliense.

Dahl, R. (2001). Sobre a democracia. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Gomes, L. (1993). Fim da história justifica Nova Ordem. Princípios, São Paulo.

Pereira, L. (2014). O Fim Da História E O Último Homem. E-Civitas - Revista Científica do

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