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Aula Português

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Concordância nominal
Chamamos de concordância nominal ao tipo de gras especiais de concordância nominal. Nesses casos,
concordância que afeta o substantivo e os termos a devemos notar, inicialmente, se o adjetivo aparece
ele relacionados. Como norma geral, dizemos que os posposto (colocado após) ou anteposto (colocado
artigos, os pronomes, os numerais e os adjetivos con- antes) ao substantivo.
cordam em gênero (masculino ou feminino) e número Se o adjetivo aparecer posposto a dois ou mais
(singular ou plural) com o substantivo a que se referirem substantivos, ele pode concordar com os dois (e aí
no enunciado. Desses, o caso mais importante é o que vale o esquema que estudamos acima) ou apenas com
envolve a concordância do adjetivo com o substantivo. o mais próximo (ou seja, com o último substantivo).
Acompanhe os exemplos:
O “machismo” da (4a) Juliana comprou uma cadeira e uma poltrona esto-
fadas.
concordância nominal (4b) Juliana comprou uma cadeira e uma poltrona esto-
Ao menos em princípio, quando desejamos atribuir fada.
uma qualidade a dois seres de gênero diferente, opera na (5a) Marcela ganhou de Brás Cubas um vestido e uma
língua portuguesa um procedimento que poderíamos blusa exóticos.
chamar de “machista”. Afinal, a combinação do gênero
(5b) Marcela ganhou de Brás Cubas um vestido e uma
masculino com o feminino produz uma qualificação no
blusa exótica.
masculino. Vejamos.
Se os seres são do mesmo gênero, não há qualquer Nos enunciados (4b) e (5b) o adjetivo concorda com
problema: a qualidade (o adjetivo) mantém-se no gêne- o substantivo mais próximo. Nos enunciados (4a) e (5a),
ro dos seres: concorda com os dois substantivos. Note que, em (5a),
esse procedimento levou o adjetivo para o masculino
(1) Meu pai e meu tio são bonitos. plural, já que os substantivos envolvidos pertencem a gê-
(2) Minha mãe e minha tia são bonitas. neros diferentes (vestido é masculino, e blusa é feminino).
Mas, como dissemos, se os gêneros são diferentes, o Interessante observar que, se o adjetivo exprime
“machismo” da linguagem impõe o masculino: uma qualidade que só pertence ao último elemento, en-
(3) Meu pai e minha mãe são bonitos. tão a concordância, muito naturalmente, se dará apenas
com este último.
De modo geral, temos o seguinte esquema:
Por exemplo:
• Masc. + Masc. = Masc. plural (6) Servi-lhes cerveja e carne assada. (A cerveja não
• Fem. + Fem. = Fem. plural poderia estar assada, de modo que o plural seria
• Masc. + Fem. = Masc. plural inconveniente.)
(7) Trajava apenas um chinelo e um chapéu redondo.
Um adjetivo em referência (8) O professor ganhou um livrinho e uma goiaba
bichada.
a mais de um substantivo Agora, se ocorrer o caso oposto, aquele em que o
Se um adjetivo em função de adjunto adnominal adjetivo aparece anteposto a dois ou mais substanti-
qualifica mais de um substantivo, podem operar re- vos, a tradição gramatical culta manda que o adjetivo

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concorde em gênero e número apenas com o substan- normalmente com o substantivo a que se refere, ao pas-
tivo mais próximo, ou seja, com o primeiro substantivo. so que a locução em anexo é invariável (como, aliás, o é
Acompanhe: qualquer locução de valor adverbial). Veja os exemplos:
(9a) Escolheste má hora e local para nosso primeiro (14) A duplicata não estava anexa.
encontro de amor. (15) Seguem anexos os recibos de pagamento das
(9b) Escolheste mau local e hora para nosso primeiro mensalidades.
encontro de amor. (16) Em anexo, enviamos as duplicatas.
(17) Seguem em anexo os recibos de pagamento das
Mais de um adjetivo em mensalidades.
referência a um substantivo 2. Bastante
Analisaremos agora o caso oposto ao que acabamos
de ver. No tópico anterior estudamos a situação em que A palavra bastante pode funcionar como adjetivo ou
um adjetivo se refere a mais de um substantivo. Este como advérbio. Como adjetivo concorda normalmente
tópico será sobre a situação em que um substantivo se com o substantivo a que se refere. Como advérbio,
relaciona a dois ou mais adjetivos. permanece invariável.
A regra gramatical culta nesses casos diz que ou o Uma regra prática é substituir a palavra bastante por
substantivo vai para o plural ou os adjetivos (a partir do muito. Se o termo muito variar para o plural (muitos ou
segundo) devem ser antecedidos de artigo, caso em que muitas), então o termo bastante também deverá ser em-
o substantivo permanece no singular. Acompanhe: pregado no plural, bastantes. Mas se muito permanecer no
singular, então bastante também permanecerá no singular.
(10a) Estudo a língua coreana e a russa.
Observe:
(10b) Estudo as línguas coreana e russa.
(18) É riquíssimo, tem muitas casas alugadas.
A diferença fundamental entre os enunciados é que
no primeiro o adjetivo russa aparece relacionado ao Como escrevemos muitas, no plural, também em-
artigo a (“a língua coreana e a russa”), ao passo que, no pregaremos bastante no plural:
segundo, não há artigo antes desse adjetivo (“as línguas (19) É riquíssimo, tem bastantes casas alugadas.
coreana e russa”). Esse fato determina a colocação da
expressão “a língua” no singular ou no plural. Sabemos que a frase soa “estranha”, uma vez que é
raro o adjetivo bastante vir empregado no plural em
Concordância nominal com português falado ou informal. Mas é essa a construção
considerada culta.
pronomes de tratamento Observe ainda:
Adjetivos em referência a pronomes de tratamento (20) Estamos muito satisfeitos com o desempenho da
devem concordar em gênero com o sexo da pessoa equipe.
designada pelo tratamento. Exemplos:
Empregamos muito, no singular.
(11) Sua Santidade está adoentado. (Lembre-se de que
Portanto:
o tratamento Santidade designa o papa.)
(21) Estamos bastante satisfeitos com o desempenho
(12) Sua Alteza, o príncipe, ficou encantado.
da equipe.
(13) Sua Alteza, a princesa, também ficou encantada.
Mais dois exemplos:
Vocábulos que merecem destaque (22) Tenho, em minha biblioteca particular, bastantes
Por sua grande incidência em exames vestibulares, livros de História da Filosofia.
alguns vocábulos podem ser estudados mais pormeno- (23) Andamos trabalhando bastante ultimamente.
rizadamente. Vamos a eles.
3. Meio
1. Anexo/Em anexo O vocábulo meio funciona ora com valor de adjetivo,
O adjetivo anexo e a expressão em anexo apresentam, ora com valor de advérbio. No primeiro caso, ele concor-
basicamente, o mesmo significado. Gramaticalmente, da normalmente com o substantivo a que se refere, mas
contudo, devemos lembrar que o adjetivo concorda no segundo permanecerá sempre invariável.
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Para aplicarmos corretamente esse princípio, 4. Obrigado


devemos tentar assimilar que uma palavra tem valor
de adjetivo quando se relaciona a um substantivo. Por A fórmula de agradecimento em língua portuguesa é
outro lado, tem valor de advérbio quando se relaciona a uma redução de expressões antigas como Estou obrigado a
um verbo, a um adjetivo ou a outro advérbio. você, com o sentido de Estou-lhe devendo uma obrigação.
Vejamos um primeiro exemplo: Assim, o vocábulo obrigado é, originariamente, um
particípio verbal. Como tal, varia em número e gênero.
(24) Tomei meio copo de cerveja. Por isso, um homem agradece dizendo obrigado, mas
Neste enunciado, meio está relacionado ao substan- uma mulher deve dizer obrigada.
tivo copo. Assim, funciona como adjetivo. É, portanto, Em atenção ao raciocínio exposto, e apesar de pouco
uma palavra variável, que concorda em gênero e número empregado, também se recomenda, em norma culta, o
com o substantivo a que se refere. Se substituirmos copo uso dos plurais obrigados e obrigadas, quando o agra-
por garrafa, teremos: decimento for feito em nome de mais de um homem,
(25) Tomei meia garrafa de cerveja. mais de uma mulher ou em sentido genérico.
Por exemplo:
Algo diferente ocorre no próximo enunciado:
(31) Ao sair, Luís agradeceu em nome de todos os es-
(26) Meu primo é meio louco. tudantes: Estamos verdadeiramente agradecidos
Agora, meio está relacionado ao adjetivo louco. Por- pela acolhida que nos deram; muito obrigados.
tanto, é um advérbio e, como tal, uma palavra invariável.
Então, se substituirmos meu primo por minha prima, 5. Mesmo
haverá alteração do adjetivo, mas não do advérbio:
O vocábulo mesmo apresenta várias acepções nas
(26a) Minha prima é meio louca. quais ele se relaciona a um substantivo, sendo, portanto,
variável em gênero e número. Pode ser sinônimo, por
O mesmo ocorrerá se dissermos minhas primas :
exemplo, de próprio:
(26b) Minhas primas são meio loucas. (32) Ela mesma, só ela, arrumava, espanejava, lustrava
Confira outros exemplos: toda aquela santa população celeste.
Eça de Queirós, O crime do padre Amaro
(27) Havia vários meios limões sobre a pia. (O vocábulo
meio tem valor adjetivo, pois se relaciona ao subs- Ou pode apresentar ideia de igualdade, de repetição:
tantivo limões.) (33) Sexta-feira que vem eu tomarei conta da resposta,
(28) Não suporto quem se expressa por meias palavras. e lhe farei chegar pela mesma via.
(Novamente, com valor de adjetivo, pois está rela- Almeida Garret, Viagens na minha terra

cionado ao substantivo palavras.) Em linguagem mais moderna, pode também adqui-


(29) Era um costume meio antigo. (Agora com valor de rir o valor de até ou inclusive, caso em que é invariável:
advérbio, pois está relacionado ao adjetivo antigo.) (34) No Canadá, mesmo as montanhas das estações de
(30) Ana e Soninha foram meio precipitadas. (Novamen- esqui não demonstram qualquer monotonia.
te com valor de advérbio – relacionado ao adjetivo Folha de S. Paulo, 12/01/95
precipitadas –, daí a ausência de concordância.)

Testes
09.02. (UEL – PR) – Nos debates que durante
Assimilação o torneio, alguns dos jovens pareciam desa-
nimados
09.01. (UEPG – PR) – Acho que a menina ficará
a) houve – meios;
aborrecida quando que em sua
caixa há balas. b) houve – meio;
a) meio – vir – menas; b) meia – vir – menos; c) houveram – meio;
c) meia – ver – menas; d) meia – ver – menos; d) houvem – meio;
e) meio – vir – menos. e) houve – meios.

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09.03. (UEL – PR) – que as c) Dada à – demonstrada – resolveu;
propostas, não dúvidas a respeito das boas d) Dado a – demonstrado – resolveram;
intenções do diretor. e) Dada a – demonstrada – resolveram.
a) Qualquer – fossem – restariam;
b) Quaisquer – fosse – restaria; 09.08. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir, extraído da primeira
c) Quaisquer – fossem – restaria; página de um jornal.
d) Qualquer – fosse – restariam;
INFÂNCIA
e) Quaisquer – fossem – restariam.
Lotados, conselhos sofrem para atender
09.04. (UEL – PR) – Ao esforço e à seriedade ao população
estudo é que os louvores que ele tem recebido Londrina tem hoje apenas três conselhos tu-
ultimamente. telares para atender uma população com mais
a) consagrado – devem ser atribuídos; de 500 mil habitantes. Estrutura aquém da reco-
b) consagrada – deve ser atribuído; mendada pelo Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente, que prevê pelo menos
c) consagrados – devem ser atribuídos; um centro de apoio para cada 100 mil pessoas.
d) consagradas – deve ser atribuído; Com demanda acima da capacidade, os conse-
e) consagrados – deve ser atribuído. lheiros se desdobram para evitar que os proces-
sos, denúncias e investigações se acumulem. “Não
09.05. Assinale a opção em que o emprego do vocábulo temos condições de fazer um trabalho de preven-
MEIO não obedece às regras do português culto. ção”, afirma o conselheiro Amaury Plath.
a) Eles estavam meio confusos, agiram de acordo com os (Jornal de Londrina. 22 maio 2013.)
comandos.
b) O soldado foi punido porque se apresentou meio bêbado Com base na leitura do texto, considere as afirmativas a seguir.
ao general. I. Na manchete, a palavra “lotados” refere-se a conselhos,
c) As moças estavam meias desatentas à explicação do uma especificação do estado em que se encontram.
professor, daí que ele as repreendeu. II. A forma verbal “acumulem”, empregada no modo
d) Não me venha com meias palavras: exijo que você se subjuntivo, pode ser substituída pelo indicativo, sem
expresse com objetividade. comprometer o respeito à norma culta.
e) Era cedo, mas a sala já se encontrava meio escura. III. A preposição “para”, em suas três ocorrências no texto,
inicia orações subordinadas adverbiais finais.
Aperfeiçoamento IV. O trecho “Estrutura aquém da recomendada pelo
Conselho Nacional dos Direitos da Criança...” pode ser
09.06. (ACAFE – SC) – Assinale a alternativa correta quanto substituído por “Estrutura abaixo da recomendada pelo
à concordância verbal e nominal. Conselho Nacional dos Direitos da Criança...”.
a) O governo federal informou que pretende finalizar a Assinale a alternativa correta.
ponte no prazo inicialmente previsto, mas os repasses a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
à empreiteira depende da finalização dos projetos e das b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
conclusões de cada uma das etapas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
b) A obra vai custar 48 milhões de reais, todavia não está d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
incluído no orçamento os custos das desapropriações. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
c) Por mais complexos que sejam os problemas, deve ha-
ver soluções viáveis para solucioná-los, especialmente 09.09.
quando se empregam, com cuidado e sensatez, métodos TEXTO I
adequados.
d) Nos relatórios dos auditores, aludem-se a fatos cujas Sic – Em latim, significa “assim”. Expressão
origens, a julgar pelo que se afirma nos jornais, não foi usada entre colchetes ou parênteses no meio ou
suficientemente esclarecida. no final de uma declaração entre aspas, ou na
transcrição de um documento, para indicar que é
09.07. “ habilidade pelo can- assim mesmo, por estranho ou errado que possa
didato, a comissão de seleção contratá-lo.” ser ou parecer.
a) Dada a – demonstrada – resolveu; (http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_s.htm)
b) Dado à – demonstrada – resolveu;

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TEXTO II Considerando-se as informações apresentadas nos textos, é


correto afirmar que o motivo da inclusão do “sic”, no Texto II,
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é apontar uma falha de
recebeu um grupo de 50 manifestantes, que a) concordância nominal, já que o adjetivo “claro”, deveria estar
foram de ônibus a Brasília reclamar sobre a no feminino para concordar com o substantivo“necessidade”.
demora para receber os recursos do governo b) regência nominal, pois o “a”, antes do substantivo “ne-
federal. (...) Em nota divulgada ontem no site cessidade”, deveria receber acento grave para indicar a
do Ministério da Cultura, Ana de Hollanda ocorrência da crase.
disse que o ministério “reconhece”, valoriza e
tem claro [sic] a necessidade da continuidade” c) pontuação, uma vez que se omitiu a vírgula obrigatória para
do trabalho dos Pontos de Cultura. A nota, no separar as orações coordenadas presentes nesse período.
entanto, não aponta quando o problema deve d) acentuação gráfica, já que o verbo “ter”, presente na
ser resolvido. expressão “tem claro”, deveria receber acento circunflexo.
(Folha de S. Paulo, 23/02/2011) e) coesão textual, pois, nessa construção é obrigatória a
inclusão do conectivo “que” para ligar a oração principal
à oração subordinada.

09.10. (INSPER – SP) – Na edição 2177, de 11/08/2010, a revista Veja publicou a reportagem Falar e escrever bem: rumo
à vitória, com dicas para não “tropeçar” no idioma durante uma entrevista de emprego.

Identifique a alternativa que apresenta uma explicação INADEQUADA para a correção feita.
a) Houve algumas dificuldades: o verbo “haver”, no sentido de “existir” é impessoal e não admite flexão.
b) O chefe bloqueou meu último pagamento: deve-se empregar um sinônimo, pois o verbo “reter” é defectivo.
c) Seguem anexos dois trabalhos: é preciso estar atento à concordância verbal e nominal.
d) Já faz cinco anos: quando indica tempo decorrido, o verbo “fazer” deve permanecer no singular.
e) Se eu dispuser de uma boa equipe: o verbo “dispor” deve seguir a conjugação do verbo “pôr”.

09.11. (UEPG – PR) – Quanto aos aspectos de concordância verbal e nominal, assinale o que for correto.
01) O Fundo das Nações Unidas para a Infância calcula que US$ 25 bilhões a mais por ano seriam suficientes para resolver os
problemas de alimentação adequada de todas as crianças de países subdesenvolvidos.
02) 10,5% das crianças menores de 5 anos do país têm desnutrição crônica. Um terço da população brasileira é malnutrido.
04) 29,3% da população brasileira possui renda mensal inferior a R$ 80,00 (Fundação Getúlio Vargas).
08) Segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas, para erradicar este quadro de miséria, seria necessária a aplicação de
R$1,69 bilhão por mês (2% do PIB), o que significaria uma contribuição mensal de R$10,40 por brasileiro.

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09.12. (UFF – RJ) – Assinale a opção em que ocorre ERRO de concordância nominal:
a) Parecia meio aborrecida a mulher de mestre Amaro.
b) Pagando cem mil-réis, ele estaria quites com o velho.
c) O seleiro sentiu o papel e a nota novos no bolso.
d) Floridos montes e várzeas se sucediam na paisagem.
e) Os partidos de cana mostravam tonalidades verde-esmeralda.

Aprofundamento
O texto seguinte serve de base à resolução das questões de números 09.13 a 09.16.

Quem ri por último ri Millôr


Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e não via, diante da minha incompetência para com
o sexo oposto, a mais remota possibilidade de reverter a situação.
Em algum momento entre a oitava série e o primeiro colegial, todos os meus colegas haviam adotado
roupas diferentes, gírias, trejeitos ao falar e ao gesticular, mas eu continuava igual – era como se houvesse
faltado na aula em que os estilos foram distribuídos e estivesse condenado a viver para sempre numa espécie
de limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom.
O mundo, antes um lugar com regras claras e uma razoável meritocracia, havia perdido o sentido: os bons me-
ninos não ganhavam uma coroa de louros – nem ao menos, vá lá, uma loura coroa –, era preciso acordar às 6h15
para estudar química orgânica e os adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase da vida.
Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: seres de calças bege e pager no cinto, que gastavam
seus dias em papinhos de elevador, sem ambições maiores do que um carro novo, um requeijão com menos
colesterol, o nome na moldura de funcionário do mês e ingressos para o Holiday on Ice no fim de semana.
Em busca de algum consolo, me esforçava para bater o recorde jamaicano de consumo de maconha, mas,
em vez de ter abertas as portas da percepção –ou o que quer que fizesse com que meus amigos se divertissem
e passassem meia hora rachando o bico, sei lá, de um amendoim–, só via ainda mais escancaradas as portas
da minha inadequação. Foi então, meus caros, que eu vi a luz – e a luz veio na forma de um livro; “Trinta
anos de mim mesmo”, do Millôr Fernandes.
A primeira página que eu abri trazia um quadrado em branco, com a seguinte legenda: “Uma gaivota
branca, trepada sobre um iglu branco, em cima de um monte branco. No céu, nuvens brancas esvoaçam e à
direita aparecem duas árvores brancas com as flores brancas da primavera”. Logo adiante estava “O abridor
de latas”, “Pela primeira vez no Brasil um conto inteiramente em câmera lenta” – narrando um piquenique
de tartarugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente, esta quadra: “Essa pressa leviana/ Demonstra o
incompetente/ Por que fazer o mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade pela frente?”.
Lendo aquelas páginas, que reuniam o trabalho jornalístico do Millôr entre 1943 e 1973, compreendi que não
estava sozinho em meu estranhamento: a vida era mesmo absurda, mas a resposta mais lógica para a falta de sentido
não era o desespero, e sim o riso. Percebi, como se não bastasse, que se agregasse alguma graça aos meus resmungos
poderia fazer daquele incômodo uma profissão. Dos 19 anos até hoje, jamais paguei uma conta de luz de outra forma.
Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pessoalmente, não ter podido apertar sua mão e agradecer-lhe
por haver me sussurrado ao ouvido, quando eu mais precisava escutar, a única verdade que há debaixo do
céu: se Deus não existe, então tudo é divertido.
Antonio Prata. Folha de S. Paulo. 04/04/2012.

09.13. (INSPER – SP) – Embora se utilize de um registro linguístico coloquial na passagem “se divertissem e passassem meia
hora rachando o bico”, o cronista estabelece, no termo destacado, a concordância nominal de acordo com as regras gramaticais.
Assinale a alternativa em que o uso da palavra “meia” ou ”meio” NÃO está de acordo com a norma culta da língua.
a) É meio-dia e meia.
b) Eu estou meia cansada.
c) As frutas estão meio caras.
d) Acolheu-me com palavras meio ríspidas.
e) Não me venha com meias palavras.

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09.14. (INSPER – SP) – Para homenagear Millôr Fernandes, fale- e) Os termos “louros” e “loura” têm semelhanças gráficas e so-
cido em março de 2012, Antonio Prata faz um relato pessoal que noras e, apesar de parecerem ser o masculino e o feminino
revela a influência do escritor em sua vida. Levando em conta as da mesma palavra, apresentam significações diferentes.
informações apresentadas no texto, é correto afirmar que o autor
a) considerava-se, quando adolescente, incompreendido Leia o texto que segue para responder às questões de
por se julgar superior aos colegas de escola, cujos inte- números 09.17. e 09.18.
resses eram fúteis.
b) admite que sua experiência com drogas, aos 15 anos, Enquanto um misto de tragédia e pantomi-
foi uma forma de reagir contra a opressão que sofria de ma se desenrola aos nossos olhos atônitos, es-
sua família. crevo esta coluna meio ressabiada: como estará
c) reconhecia a razão pela qual os adultos, a quem ele se o Brasil quando ela for publicada, isto é, em
refere como “seres de calça bege e pager no cinto”, idea- dois dias? Estamos no meio de um vendaval
lizavam a adolescência. desconcertante: numa mistura entre público e
privado como nunca se viu, correntes inima-
d) cria, no título, um trocadilho com o ditado popular para gináveis de dinheiro sem origem ou destino
reforçar a ideia de que o humor representa a cura para os declarados jorram sobre nós levando embora
males da sociedade. confiança, ética e ilusões.
e) conclui que sua busca pela felicidade somente se concre- O drama é que não somos arrastados por
tizou quando resolveu seus conflitos religiosos. “forças ocultas” ou ventos inesperados. Devía-
mos ter sabido. Muitos sabiam e vários partici-
09.15. (INSPER – SP) – Em “condenado a viver para sempre
param – embora apontem o dedo uns para os
numa espécie de limbo social, feito de incertezas, celibato
outros feito meninos de colégio: “Foi ele, foi
e moletom”, o autor recorre a uma construção para produzir ele, eu não fiz nada, eu nem sabia de nada, ele
efeito de humor, explicada adequadamente na alternativa: fez muito pior”. Espetáculo deprimente, que
a) Trata-se da ambiguidade intencional, através da dupla desaloja de seu acomodamento até os mais cré-
possibilidade de interpretação do substantivo “celibato”. dulos.
b) Fazendo uma comparação subentendida entre dois Se mais bem informados, poderíamos ter
elementos que não pertencem à mesma categoria – optado diferentemente em várias eleições – mas
relacionamento interpessoal e religiosidade –, o autor nos entregamos a miragens sedutoras e ideias
recorre a uma metáfora. sem fundamento. Agimos como cidadãos assim
c) O período apresenta como estratégia textual o emprego do como fazemos na vida: omissos por covardia ou
anacoluto para produzir uma ruptura de natureza sintática. fragilidade, por fugir da realidade que assume
d) O autor explora efeitos estéticos a partir da enumeração tantos disfarces. Deixamos de pegar nas mãos
que une palavras de universos diferentes (substantivos as rédeas da nossa condição de indivíduos ou
abstratos seguidos de um concreto), produzindo a quebra de brasileiros, e isso pode não ter volta. Fica ali
do paralelismo semântico. feito um fantasma pérfido: anos depois, salta da
fresta, mostra a língua, faz careta, ri da nossa
e) O jogo de palavras é feito por meio da atenuação de
impotência. Não dá para voltar, nem sempre há
pensamento, para significar mais do que o que se diz e como corrigir o que se fez de errado, ou que
sugeri-lo assim mais intensamente. deixou de ser feito e causou graves mazelas.
09.16. (INSPER – SP) – Na passagem “... os bons meninos não ( Lya Luft, É hora de agir. VEJA, 27 de julho de 2005.)

ganhavam uma coroa de louros – nem ao menos, vá lá, uma


loura coroa...”, o autor faz um jogo de palavras, cujo sentido
está mais bem explicado em: 09.17. (FATEC – SP) – Quanto à organização das ideias no texto,
a) Os adjetivos “louros” e “loura”, no contexto em que foram a) obedece à lógica de um texto de natureza jornalística,
empregados, apresentam os mesmos sentidos, sofrendo que tem o dever de informar sem expressar o ponto de
apenas variação na flexão de gênero e de número. vista do autor ou do jornal.
b) A escolha do substantivo “coroa”, nas duas ocorrências do b) segue o modelo da crônica de costumes, com foco na
texto, deve-se ao fato de que o cronista pretende assinalar percepção irônica da vida em sociedade.
um registro formal da linguagem. c) observa o modelo clássico do texto literário, optando por
c) A locução adjetiva “de louros” e o substantivo “loura” tratar de temas universais em linguagem filosófica.
foram empregados pelo autor com a finalidade de criar d) funda-se na relação entre apreciações de cunho pessoal
uma antítese. e argumentos baseados em fatos.
d) A palavra “coroa” é um substantivo, mas em cada ocorrên- e) centra-se na discussão da vida nacional, adotando o
cia exerce uma diferente função sintática: objeto indireto ponto de vista de observador que se abstém de expor
e adjunto adnominal, respectivamente. avaliações.

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09.18. (FATEC – SP) – Assinale a alternativa em que o trecho do texto, reescrito, apresenta-se de acordo com os princípios de
concordância e colocação pronominal da norma culta.
a) O drama é que “forças ocultas” ou ventos inesperados não o arrasta.
b) Sobre nós jorra dinheiro sem origem ou destino, em correntes que não se imaginam.
c) Escrevo essa coluna mais ressabiada, enquanto nossos olhos atônitos vê se desenrolar um misto de tragédia e pantomima.
d) Se desaloja até os mais crédulos de seu acomodamento, graças a esse espetáculo deprimente.
e) Poderia-se ter optado diferentemente, em várias eleições, se a população toda estivesse mais bem informado.

Discursivos
Os textos transcritos na sequência são referências para as questões de números 09.19 a 09.21.

São Paulo 10 de Novembro, 1924


Meu caro Carlos Drummond
(...) Eu sempre gostei muito de viver, de maneira que nenhuma manifestação da vida me é indife-
rente. Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto da Lapa como uma tocata de Bach e ponho
tanto entusiasmo e carinho no escrever um dístico que vai figurar nas paredes dum bailarico e morrer no
lixo depois como um romance a que darei a impassível eternidade da impressão. Eu acho, Drummond,
5 pensando bem, que o que falta pra certos moços de tendência modernista brasileiros é isso: gostarem de
verdade da vida. Como não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida, cansam-se, ficam tristes ou
então fingem alegria o que ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu não posso compreender
um homem de gabinete e vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem um pouco de gabinete
demais. Meu Deus! se eu estivesse nessas terras admiráveis em que vocês vivem, com que gosto, com que
10 religião eu caminharia sempre pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros amantes da Terra) em
longas caminhadas! Que diabo! estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do estudo do livro e do
gozo do livro, ou antes vem o estudo e gozo da ação corporal. (...) E então parar e puxar conversa com
gente chamada baixa e ignorante! Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com
essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e a erudição livresca. Eles é que conservam o
15 espírito religioso da vida e fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de religião. Eu conto no meu
“Carnaval carioca” um fato a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns negros dançando o samba.
Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os mesmos, mesma habi-
lidade, mesma sensualidade mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo um pouco decorado,
maquinizado, olhando o povo em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não. Dançava com religião.
20 Não olhava pra lado nenhum. Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que tenho pensado muitas
vezes. Aquela negra me ensinou o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não me ensinaram. Ela
me ensinou a felicidade.
ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982, pp. 3-5.

“Inúmeros são os casos de troca de correspondência entre artistas, escritores, músicos, cineastas, tea-
trólogos e homens comuns em nossa tradição literária. Mário de Andrade, por exemplo, foi talvez o maior
de nossos missivistas. Escreveu e recebeu cartas de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,
Tarsila do Amaral, Câmara Cascudo, Pedro Nava, Fernando Sabino, só para citar alguns. O conjunto de
5 sua correspondência não só nos ajuda a conhecer o seu pensamento, seus valores e sua própria vida, como
também entender boa parte da história e da cultura brasileira do século XX.”
DINIZ, Júlio. “Cartas: narrativas do eu e do mundo” In Leituras compartilhadas – cartas. Fascículo especial 2, ano 4. Rio de Janeiro: Leia Brasil / Petrobras, 2004, p.10.

A partir da leitura do trecho da carta de Mário a Drummond e do comentário acima, responda aos seguintes itens:

09.19. (PUCRJ) –
a) Segundo o autor, do fato de certas pessoas não terem gosto verdadeiro pela vida decorrem algumas consequências.
Quais são elas?

8 Semiextensivo
Aula 09

b) Observando a concordância nominal empregada em cada um dos enunciados a seguir, aponte as diferenças de significado
existentes entre eles.
A – moços de tendência modernista brasileiros
B – moços de tendência modernista brasileira

09.20. (PUCRJ) – Mário de Andrade, ao comentar um trecho de seu poema “Carnaval Carioca”, demonstra encanto por uma
moça que, segundo ele, “dançava com religião”. Explique, com suas palavras, o que seria, na visão do autor, “dançar com religião”.

09.21. (PUCRJ) –
a) Na carta a Drummond, Mário de Andrade utiliza uma linguagem mais coloquial, trazendo a impressão, algumas vezes, de
que a interação está ocorrendo na modalidade oral da língua. Transcreva do texto dois exemplos dessa manifestação da
oralidade na escrita.

b) No texto, a subjetividade é marcada pelo emprego de pronomes e verbos em 1ª. pessoa. No entanto, em determinado
trecho, entre as linhas 9 e 14, o autor faz uso repetidamente de um outro recurso de linguagem para expressar sua emoção.
Que recurso é esse?

Português 5A 9
c) Considere o período “Este é um caso em que tenho pensado muitas vezes.” Reescreva-o substituindo o verbo pensar
pelo verbo aludir. Faça as modificações que julgar necessárias.

Gabarito
09.01. e 09.17. d 09. 20. “Dançar com religião”, segundo o autor,
09.02. b 09.18. b é dançar com fé, isto é, de maneira forte,
09.03. e 09.19. a) As consequências que decorrem de intensa, espontânea, prazerosa, feliz.
09.04. c essas pessoas não gostarem verda- 09.21. a) São marcas de linguagem coloquial,
09.05. c deiramente da vida são: cansaço, tris- informal, cotidiana: “pensando bem”,
09.06. c teza e fingimento (quando demons- “dum”, “duma”, “ ...o que milhões,
09.07. a tram alegria). milhões é exagero, muitos...”, “Meu
09.08. b b) No enunciado A, são moços brasi- Deus!”, “Que diabo!”.
09.09. a leiros, moços nascidos no Brasil que b) O recurso que marca a subjetividade
09.10. b se inserem na tendência modernis- nesse trecho é o ponto de exclamação.
09.11. 15 (01, 02, 04, 08) ta, ao passo que no enunciado B a c) Este é um caso a que tenho aludido
09.12. b referência é a moços cuja tendência muitas vezes.
09.13. b é modernista brasileira. Note-se que
09.14. c neste último caso podem não ser
09.15. d brasileiros, mas abraçam a tendência
09.16. e modernista do Brasil.

10 Semiextensivo
Português
Aula 10 5A
Pronomes Pessoais

Na aula inicial do setor de Português B, você estu- Devemos notar também que o pronome “ele” pode
dou as palavras referenciais, fundamentais para operar designar tanto uma pessoa como um animal, um objeto
a coesão entre as palavras e entre as partes de um texto. ou uma ideia. As formas “eu” e “tu” designam necessaria-
A esta altura, no setor de Português A – portanto, na mente pessoas envolvidas no processo de comunicação,
perspectiva da correção gramatical – estudaremos um ao passo que a forma “ele”, por indicar o assunto, não se
tipo de palavra referencial, os pronomes. refere necessariamente a uma pessoa.
Pronome é a classe de palavras cuja função é subs- Esses três pronomes podem flexionar-se no plural.
tituir um nome. Por nome, entenda-se um substantivo Os plurais de “eu”, “tu” e “ele” são, respectivamente, “nós”,
ou um adjetivo. Há vários tipos de pronome. Em geral, “vós” e “eles”.
admitem flexões de gênero, número e pessoa. O pronome “ele” também pode sofrer variação de
gênero, flexionando-se em “ela” ou “elas”.
Os pronomes pessoais
Iniciamos o estudo dos pronomes pelos chamados As pessoas gramaticais
pronomes pessoais. São palavras que designam os A ideia de que certos pronomes designam os ele-
principais elementos da comunicação entre os homens. mentos envolvidos na comunicação humana dá origem
Para compreender esse conceito, devemos atentar ao conceito de pessoas gramaticais. Cada pessoa
para os elementos envolvidos num ato de comunicação. designa um dos elementos da comunicação.
Basicamente, para haver um diálogo, é necessário que O termo “pessoa” vem sendo usado em Gramática du-
haja dois interlocutores, um emissor (que fala ou rante séculos. Não se deixe iludir, porém, por esse vocábulo.
escreve) e um receptor (que ouve ou lê). Além disso, é Como vimos acima, um dos elementos da comunicação
necessário que haja um assunto, algo sobre o que se humana pode não ser uma pessoa. O assunto do diálogo,
fale ou se escreva. indicado pelo pronome “ele”, nem sempre é uma pessoa.
Esquematicamente, temos: Assim, devemos distinguir “pessoa real” de “pessoa
gramatical”. As “pessoas reais” envolvidas num diálogo
Elementos de comunicação humana são o emissor e o receptor. As “pessoas gramaticais” são
Emissor Receptor três – o emissor, o receptor e o assunto – indicadas do
(fala ou escreve) (ouve ou lê) seguinte modo:

Pessoas gramaticais
Assunto
(sobre o que se fala ou se escreve)
a
1 . pessoa designa o emissor
2a. pessoa designa o receptor
A maioria das línguas possui palavras para designar 3a. pessoa designa o assunto
esses elementos. Em português, elas são os pronomes
pessoais. Os mais tradicionais são “eu”, para o emissor; Cada uma dessas pessoas gramaticais pode ser re-
“tu”, para o receptor; e “ele”, para o assunto. Essa lista, presentada por um pronome pessoal. Esses pronomes,
porém, merece observações. como vimos, podem sofrer variação de número (singular
Modernamente, o pronome “tu” vem sendo sistema- e plural). Desse modo, chegamos ao quadro dos princi-
ticamente substituído pelo pronome “você”. A forma “tu” pais pronomes pessoais do português.
ainda é bastante usada em várias regiões do país, mas a
forma “você” apresenta uso mais generalizado.

Português 5A 11
PESSOAS PRONOMES
GRAMATICAIS PESSOAIS Observações:
Note alguns detalhes so-
1a. Eu bre o quadro dos pronomes
SINGULAR 2a. Tu
pessoais:
3a. Ele (a)
1. Algumas formas são re-
1a. Nós petidas. As formas “nós”,
PLURAL 2a. Vós “vós”, “ele, ela, eles, elas”
3a. Eles (as) são as mesmas para o caso
reto e para o caso oblíquo
Tipos de pronome pessoal tônico.
2. Na terceira pessoa (sin-
Os gramáticos classificam os pronomes pessoais em dois tipos básicos: gular e plural), ocorrem
1. Pronomes pessoais do caso reto: exercem a função de sujeito das ora- formas diferentes do caso
ções. oblíquo átono. Se o pro-
2. Pronomes pessoais do caso oblíquo: exercem funções diferentes da nome for objeto direto,
usam-se “o, a, os, as”; se for
função de sujeito.
objeto indireto, usam-se
Os pronomes do caso oblíquo ainda admitem uma subclassificação – “lhe, lhes”.
átonos e tônicos:
3. No caso oblíquo tônico,
aparecem pronomes que
2a. Átonos: funcionam como objetos verbais (tanto objeto direto como já vêm compostos com a
objeto indireto); foneticamente são “átonos”, isto é, não possuem sílaba preposição “com”. São eles:
tônica. “comigo” (com + mim),
“contigo” (com + ti), “co-
2b. Tônicos: aparecem modificados por preposição dentro das frases: po-
nosco” (com + nós), “con-
dem exercer várias funções sintáticas; foneticamente são “tônicos”, isto
vosco” (com + vós) e “con-
é, apresentam a sílaba “forte”.
sigo” (com + si).
O termo “caso” faz referência ao conceito de declinação. “Caso”, em latim,
significa “queda” (é derivado do verbo cair), mesmo sentido de “declinação”
(também derivado de cair). O “caso reto” é assim denominado pela ideia de Variações dos prono-
que a função de sujeito é a mais natural da palavra, sua função mais “correta”.
A denominação “caso oblíquo” surge da ideia de que as outras funções sintá- mes oblíquos
ticas são “distorções” da função de sujeito (oblíquo significa torto, distorcido).
Com isso, chegamos ao quadro dos pronomes pessoais em português: Átonos
Os pronomes oblíquos átonos
PRONOMES PESSOAIS de terceira pessoa estão sujeitos a
Caso oblíquo (não funcionam como certas alterações fonéticas e gráfi-
sujeito) cas, de acordo com a terminação do
verbo que os antecede. Isso pode
Átonos
Caso reto (funcionam como
provocar alterações também na
Tônicos terminação desses verbos.
(funcionam objetos verbais)
Pessoas (relacionados a
como Se a forma verbal terminar em
preposições)
sujeito) Objeto Objeto -R, -S ou -Z, perde essa letra (-R, -S
direto indireto
ou -Z) e os pronomes “o”, “a”, “os” e
mim, comigo “as” são acrescidos de uma letra “l-”
1a. Eu me me
Singu- ti, contigo inicial, transformando-se em “lo”,
2a. Tu te te
lar ele, ela, si, “la”, “los” e “las”, uma forma arcaica.
3a. Ele (a) o, a, se lhe, se
consigo
Assim, observe as frases a
nós, conosco seguir:
1a. Nós nos nos
Plural 2a. Vós vos vos
vós, convosco (1) Vou prestar o vestibular.
eles, elas, si,
3a. Eles (as) os, as, se lhes, se (Vou prestar + o)
consigo
(1a) Vou prestá-lo.
12 Semiextensivo
Aula 10

(2) Copiemos esta página. Se, porém, substituirmos o objeto indireto por um
(Copiemos + a) pronome, então teremos:
(2a) Copiemo-la. (8b) Eu lhe transmiti sua reivindicação.
(3) O ônibus conduz os alunos Ou mais:
(Conduz + os)
(9) A moça mandou ao namorado apenas um e-mail de
(3a) O ônibus condu-los. despedida.
Ainda com relação aos mesmos pronomes
Trocando-se o termo objeto direto por um pronome
“o”, “a”, “os” e “as”; se a forma verbal que os ante-
cede terminar nos fonemas nasais -M, -ÃO ou oblíquo átono, o resultado será:
-ÕE, os pronomes são acrescidos de um “n-” inicial, sem (9a) A moça mandou-o ao namorado.
que nada aconteça com a forma verbal. Observe:
Se, no entanto, o termo objeto indireto for substi-
(4) (Desculpem + a) tuído por um pronome oblíquo átono, o resultado será
(4a) Desculpem-na. outro.
(5) Põe o livro sobre a mesa. (9b) A moça mandou-lhe apenas um e-mail de despe-
(Põe + o) dida.
(5a) Põe-no sobre a mesa.
Ou ainda:
(6) Dão o ingresso.
(10) Diga toda a verdade a seu pai.
(Dão + o)
(6a) Dão-no. O termo objeto direto – “toda a verdade” – será
substituído por um pronome oblíquo átono da seguinte
Com os pronomes oblíquos átonos de primeira e
forma:
segunda pessoas do plural “nos” e “vos”, dá-se algo se-
melhante, mas não exatamente igual. Se a forma verbal (10a) Diga-a a seu pai.
que os antecede terminar em -S, ocorre a perda desse -S
Mas, se o termo a ser substituído for objeto indireto,
sem que nada, contudo, ocorra com os pronomes.
então o pronome a ser adotado será:
Confira os exemplos:
(10b) Diga-lhe toda a verdade.
(7) Nós nos esquecemos do compromisso.
Caso optássemos pela elipse do sujeito, teríamos: É comum que no português oral ocorram formas não
indicadas pela gramática normativa em que se juntam
(Esquecemos + nos do compromisso)
a um verbo transitivo direto pronomes complementos
(7a) Esquecemo-nos do compromisso. objeto indireto.
Por exemplo:
Observações: (11) Passei por aqui, Belinha, somente para lhe ver,
A posição do pronome oblíquo com relação ao somente para lhe cumprimentar.
verbo será estudada em uma de nossas próxi-
Só quero lhe abraçar.
mas aulas: colocação pronominal.
[Frases inadequadas à norma culta]
Note-se que no português oral do Brasil é comum
Pronomes átonos de 3as. pessoas determinada preferência pelo “lhe”, que aos olhos de
alguns falantes parece ser mais elegante. A predileção
objeto direto e objeto indireto pelo “lhe” – o “lheísmo” – dá à construção uma aparente
De acordo com o que foi observado anteriormente, elegância.
os pronomes de terceira pessoa do singular e de terceira Se o que se quer é realmente elegância e obediência
pessoa do plural têm uso diferenciado conforme sua à norma culta, então o ideal seria:
função seja objeto direto ou objeto indireto.
(11a) Passei por aqui, Belinha, somente para vê-la, so-
Observe os exemplos: mente para cumprimentá-la. Só quero abraçá-la.
(8) Eu transmiti sua reivindicação ao diretor. E se essa solução parecer pedante no português oral,
Se substituirmos apenas o objeto direto por um então pode-se optar por forma mais coloquial:
pronome, teremos: (11b) Passei por aqui, Belinha, somente para te ver, so-
(8a) Eu a transmiti ao diretor. mente para te cumprimentar. Só quero te abraçar.

Português 5A 13
Combinações pronominais Pronomes pessoais e
Estudamos no setor de Português B que os verbos
transitivos podem ser complementados por dois
correção gramatical
objetos – um direto (paciente da ação verbal) e um Há vários casos em que o uso coloquial dos prono-
indireto (destinatário da ação verbal). Como já vimos no mes pessoais não obedece às regras do padrão culto.
quadro desta aula, os pronomes oblíquos átonos podem Esses casos são frequentemente explorados nos exames
substituir tanto os objetos diretos como os indiretos. Em vestibulares.
alguns desses casos, os pronomes podem se contrair em Vamos, então, estudá-los detalhadamente.
uma só palavra.
Observe os exemplos: Para “eu” ou para “mim”?
(12) Eu transmiti sua reivindicação ao diretor. Observe o seguinte enunciado:
Se substituirmos apenas o objeto direto por um (17) Este trabalho é para João fazer.
pronome, teremos: Notamos que, nesta sentença, a palavra “João”
(12a) Eu a transmiti ao diretor. exerce a função de sujeito do verbo “fazer”. Na verdade,
Se substituirmos apenas o objeto indireto por um qualquer termo que ocupar essa posição será sujeito do
verbo “fazer”.
pronome, teremos:
Observe:
(12b) Eu lhe transmiti sua reivindicação.
(18) Este trabalho é para minha prima fazer.
Podem-se substituir os dois objetos por pronomes,
que, neste caso, se contraem: (19) Este trabalho é para um especialista fazer.
Nos dois enunciados anteriores, os sujeitos do verbo
(12c) Eu lha transmiti.
“fazer” são, respectivamente, “minha prima” e “um espe-
Observe ainda outras combinações: cialista”.
(13) Ela deu-me um beijo. Desse modo, se quisermos substituir esses termos por
(13b) Ela deu-mo. um pronome pessoal, devemos usar um pronome do caso
(14) Dei-te aquelas maçãs. reto, pois essa é a forma adequada para a função de su-
jeito. Se esse pronome for de primeira pessoa do singular,
(14b) Dei-tas. devemos, portanto, usar a forma “eu”.
Se o objeto indireto for o pronome “lhes”, vale ressal- (20) Este trabalho é para eu fazer.
tar que a desinência “-s” desaparece. Caso em que, fora
de contexto, ficaria impossível distinguir os pronomes Sujeito
“lhe” e “lhes”. Se a frase (1) trouxesse o objeto indireto Assim, é incorreta uma frase como a seguinte:
“aos diretores” em lugar de “ao diretor”, na frase (1b), o (20a) Este trabalho é para mim fazer.
pronome oblíquo seria plural, “lhes” em lugar de “lhe”, (Frase inadequada à norma culta)
mas a frase (1c) permaneceria idêntica. A combinação
Este tipo de sentença também é muito frequente na
continuaria sendo “lha”.
fala coloquial. Mas é inadequada à norma culta, pois uti-
Se o objeto indireto for os pronomes “nos” e “vos”, liza um pronome do caso oblíquo tônico (“mim”) como
a combinação também é possível. Os pronomes serão sujeito do verbo “fazer”.
separados por hífen. Além disso, “nos” e “vos” perdem o Entretanto, em outro tipo de enunciado, muito
“-S” final e os pronomes “o”, “a”, “os” e “as” ganham um “l-” semelhante, a forma adequada é “mim”. Observe:
inicial. Exemplos:
(21) Este trabalho é para mim.
(15) Ele nos deu parabéns. Neste caso, usamos “mim” porque o pronome não
(15a) Ele no-los deu. funciona como sujeito de nenhum verbo (eliminamos o
(16) Deu-vos as frutas. verbo “fazer”). Além disso, ele aparece modificado pela
preposição “para”.
(16a) Deu-vo-las.
Essas combinações são raríssimas e até soam artifi-
ciais no português contemporâneo do Brasil. Conhecê-
Após preposição, use “mim” e “ti”
-las, contudo, é fundamental para a leitura eficaz dos Como vimos na parte teórica, os pronomes modifica-
clássicos brasileiros e de autores portugueses, como dos por preposição devem ir para o caso oblíquo tônico.
veremos em diversos testes desta aula extraídos de Os desvios mais comuns envolvem os pronomes “mim” e
exames vestibulares. “ti”, às vezes trocados por “eu” e “tu”.

14 Semiextensivo
Aula 10

Leia o seguinte enunciado: Uso de "se", “si” e “consigo”


(22) Ele é contra eu.
Em certas frases, os pronomes pessoais funcionam
(Frase inadequada à norma culta)
como reflexivos. Uma sentença possui uma ideia
Esta frase está inadequada à norma culta. A palavra reflexiva quando o sujeito é, simultaneamente, agente
“contra” é uma preposição. Assim, o adequado à norma
e paciente da ação verbal. Nesse caso, o objeto será um
culta seria:
pronome reflexivo.
(22a) Ele é contra mim.
Observe o seguinte enunciado:
(Frase adequada à norma culta)
(26) Desgostoso da vida, o poeta matou-se.
Nessa situação, a inadequação não é tão frequente.
Mas se a frase fosse mais extensa, a inadequação já seria Nessa frase, o agente da ação de “matar” é “o poeta”.
mais comum. Mas note que ele também foi morto, de modo que tam-
(23) Ele é contra todos. É contra minha mãe, minha tia e bém “o poeta” é o paciente da ação. O pronome “se” do
eu. enunciado é, assim, um pronome reflexivo.
(Frase inadequada à norma culta) Os pronomes “si” e “consigo” só devem ser emprega-
Mesmo com a relativa distância entre o pronome e a dos em função reflexiva, como nos enunciados a seguir:
preposição “contra”, o adequado à norma culta ainda é (27) Ela só fala consigo mesma.
usar o caso oblíquo tônico. (28) Minha irmã só pensa em si mesma.
(23a) Ele é contra todos. É contra minha mãe, minha tia O uso desses pronomes em situações nas quais não
e mim. sejam reflexivos constitui desvio de norma culta, como
(Frase adequada à norma culta) na frase a seguir:
O caso mais cobrado nos vestibulares é o que envolve (29) Foi bom encontrá-lo, pois eu queria falar consigo.
o uso de pronomes modificados pela preposição “entre”.
Lembre-se de que o adequado à norma culta é usar o (Frase inadequada à norma culta)
caso oblíquo tônico. Assim, em norma culta se diz “entre A sentença (13) é inadequada à norma culta, pois
mim e ti” e não “entre eu e tu”, como nas frases seguintes: nela o pronome “consigo” não exerce função reflexiva.
(24) Houve certa desavença entre nós, mas nada de Note que o agente da ação de “falar” é diferente de seu
grave. Não restaram mágoas entre ele e mim. paciente. O adequado à norma culta seria:
(25) Não adianta pedires desculpas. Agora existe um (29a) Foi bom encontrá-lo, pois eu queria falar com
obstáculo entre mim e ti. você.

Testes
Assimilação a) lhe – lhe – mal.
b) o – o – mal.
10.01. (FGV – SP) – Assinale a alternativa que completa c) o – lhe – mal.
corretamente as lacunas da frase: d) lhe – o – mau.
“Eu encontrei ontem, mas não reco- e) lhe – o – mal.
nheci porque anos que não via.”
a) lhe, lhe, há, lhe. 10.03. (ITA – SP) – Dadas as sentenças:
b) o, o, haviam, o. 1. Ela comprou um livro para mim ler.
c) lhe, o, haviam, lhe. 2. Nada há entre mim e ti.
d) o, lhe, haviam, o. 3. Alvimar, gostaria de falar consigo.
e) o, o, havia, o. Verificamos que está (estão) correta(s):
10.02. Complete as lacunas da frase a seguir e depois assi- a) apenas a sentença 1.
nale a alternativa correta. b) apenas a sentença 2.
“O aluno não queria bem e por isso tratava ”. c) apenas a sentença 3.
d) apenas a sentença 1 e a 2.

Português 5A 15
Texto para as questões 10.04 e 10.05. b) é uma fotonovela narrativa, de
linguagem informal não padrão,
Um homem do mundo me perguntou: na modalidade oral.
O que você pensa de sexo? c) é uma narrativa de tipo argumen-
tativo, cujo registro é informal, va-
Uma das maravilhas da criação, eu respondi.
riedade padrão e modalidade oral.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
d) é uma tira humorística, com diá-
E esperava que eu dissesse maldição, logos informais, representando a
Só porque antes lhe confiara: o destino do homem é a santidade. modalidade oral.
Adélia Prado e) é uma história em quadrinhos,
descritiva, com registro não padrão
da modalidade escrita.
10.04. (UNIFESP) – Em discurso indireto, os dois primeiros versos assumem a
seguinte forma: 10.08. (PP – PR) – Quanto aos efeitos
a) Um homem do mundo me perguntou o que eu pensaria de sexo? de sentido produzidos pelos recursos
b) Um homem do mundo me perguntou o que você pensava de sexo. visuais e escritos do texto, é correto
c) Um homem do mundo me perguntou o que eu penso de sexo? afirmar que:
d) Um homem do mundo me perguntou o que você pensa de sexo. a) Mafalda está aborrecida, porque
e) Um homem do mundo me perguntou o que eu pensava de sexo. sua mãe não lhe deixou ficar com
o troco da padaria.
10.05. (UNIFESP) – No poema acima, quantas vezes pronomes pessoais são b) o inquilino é o nome que Mafalda
explicitados? dá a sua consciência que não lhe
a) Duas b) Três c) Quatro d) Cinco e) Seis permite ficar com o troco.
c) o inquilino da padaria não deixou
Aperfeiçoamento Mafalda ficar com o troco.
d) a mãe de Mafalda não deixou ficar
10.06. (UNIMEP – SP) – com o troco da padaria.
I. Demos a ele todas as oportunidades. e) Mafalda entregou para a mãe as
II. Fizemos o trabalho como você orientou. balas que comprou com o troco
III. Acharam os livros muito interessantes. da padaria.
Substituindo as palavras destacadas por um pronome oblíquo, temos: 10.09. (UDESC) – Assinale a alterna-
a) I – Demos-lhe; II – Fizemo-lo; III – Acharam-los. tiva em que o pronome oblíquo lhe
b) I – Demos-lhe; II – Fizemos-lo; III – Acharam-os. não encontra correspondência com
c) I – Demos-lhe; II – Fizemo-lo; III – Acharam-nos. o emprego em “Só a solidão lhes era
d) I – Demo-lhe; II – Fizemos-o; III – Acharam-nos. companheira”.
e) I – Demo-lhe; II – Fizemo-lhe; III – Acharam-nos. a) O frio gélido arroxeou-lhe a carne.
b) “O homem, depois de estender-lhe
Analise o texto que segue e responda às questões 10.07 e 10.08. o facão e os petrechos de fumar,
rodeou a pitangueira.”
c) “Na volta, ‘o da barriga’ escoiceou-
-lhe as entranhas.”
d) “...a mobilidade forçada causava-lhe
cãibras nas pernas.”
e) O vento varou-lhe a camisa fina de
algodão.

10.07. (PP – PR) – Em relação às características do texto, é correto afirmar que:


a) é uma crônica, humorística, descritiva, com registro de linguagem escrita formal.

16 Semiextensivo
Aula 10

10.10. (FATEC – SP) – Assinale a alternativa em que a 5. Sem você e eu ninguém fará nada correto.
substituição do(s) termo(s) em maiúsculo(s), na frase I, pelo Assinale a opção correta:
pronome da frase II está correta. a) Todos os períodos estão corretos.
a) I. Deixe A MOÇA decidir com calma. b) Todos os períodos estão incorretos.
II. Deixe ela decidir com calma. c) Apenas o período 3 está incorreto.
b) I. Entende que não há nada entre FULANO e os envolvidos d) Apenas o período 1 está incorreto.
no escândalo dos precatórios.
e) Apenas os períodos 1 e 3 estão incorretos.
II. Entende que não há nada entre eu e os envolvidos no
escândalo dos precatórios.
c) I. Espero, até que façam O CANDIDATO entrar na sala. Aprofundamento
II. Espero, até que façam ele entrar na sala.
d) I. O homem, igual A SI mesmo. O texto a seguir é referência para as questões 10.13 a
10.16.
II. Eu, igual a mim mesmo.
e) I. Poderá escolher outros dois técnicos para assessorar A As cebolas do Egito
DEPUTADA. É famosa, na Bíblia, a passagem, em que o povo
II. Poderá escolher outros dois técnicos para lhe assessorar. judeu, no meio do deserto, cansado de comer o
insosso maná caído do céu, tem saudade das cebo-
Texto para a questão 10.11. las comidas no Egito, no tempo da escravidão. Se-
A discussão sobre gramática na classe está “quente”. gundo a narrativa bíblica, a tentação de manter-se
numa relativa “zona de conforto” parece ser mais
Será que os brasileiros sabem gramática? A professora de forte (ou quase) que o desejo de liberdade.
Português propõe para debate o seguinte texto: Nossa cebola egípcia é o regime militar de 64.
Diante dos descalabros de corrupção que estão
PRA MIM BRINCAR vindo à tona, muitos parecem sentir saudade dos
tempos do autoritarismo. Não votávamos, não
Não há nada mais gostoso do que o mim su- decidíamos os rumos da nação, mas dormíamos
jeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. As tranquilos acreditando que outros velavam pela
cariocas que não sabem gramática falam assim. idoneidade da vida pública.
Todos os brasileiros deviam de querer falar como Bem, nem todos nós dormíamos tranquilos
as cariocas que não sabem gramática. – muito pelo contrário. E, num regime autori-
– As palavras mais feias da língua portuguesa tário, é difícil saber se não existe corrupção ou
são quiçá, alhures e miúde. se ela apenas não se torna conhecida. Para quem
se adequava ao sistema, a vida pública era bem
BANDEIRA, Manuel. “Seleta em prosa e verso”. Org: Emanuel de Moraes. 4.ª ed. mais confortável do que hoje, quando estamos
Rio de Janeiro: José Olympio, 1986. p.19. todos escandalizados com o que acontece, e nos-
sa indignação parece se unir à nossa impotência.
Éramos mais impotentes nos tempos do regime
10.11. (ENEM) – Com a orientação da professora e após o militar, mas naquela época a impotência era tanta
debate sobre o texto de Manuel Bandeira, os alunos chega- que muitos nem sequer a percebiam.
ram à seguinte conclusão: Tenho amigos entre os que têm pedido a vol-
a) Uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi a ta dos militares. A seu favor, tenho de reconhecer
busca da identidade do povo brasileiro e o registro, no que muitos militares transmitem uma sensação de
idoneidade maior que muitos políticos brasileiros.
texto literário, da diversidade das falas brasileiras. Instituições com rígidos códigos de conduta, com
b) Apesar de os modernistas registrarem as falas regionais do um processo formativo bem estabelecido e normas
Brasil, ainda foram preconceituosos em relação às cariocas. claras, costumam ter quadros com comportamento
confiável. Não é à toa que, em sondagens de opinião,
c) A tradição dos valores portugueses foi a pauta temática os bombeiros aparecem sempre entre as instituições
do movimento modernista. consideradas mais confiáveis pela população.
d) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros exaltaram Mas o coração humano padece das mesmas
em seus textos o primitivismo da nação brasileira. tentações em todos os lugares. Escândalos de cor-
e) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares rupção entre policiais podem ser exceções, mas
mostram que não dá para confiar cegamente no
brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa. fato de uma pessoa ter vindo das Forças Armadas
para pensar que não será passível de ser corrom-
10.12. (UFOP – MG) – Verifique o emprego das formas pida. Além disso, esses quadros, com sua forma-
pronominais nos períodos abaixo: ção rígida e focada, tendem a ter mais dificuldade
1. Não há mais ciúmes entre eu e ele. para avaliar situações e encontrar soluções que
fujam do contexto para o qual foram treinados.
2. Perante eu e vós o juiz a declarou culpada. Os desmandos cometidos durante o período de
3. Papai deu o carro para mim dirigir. 64 – e não se pode negar que eles ocorreram –
4. Contra os alunos e eu estava o chefe da coordenadoria. provam isso.

Português 5A 17
10.17. (UFAC) – Observe o seguinte diálogo entre um rigo-
A Bíblia conta que Deus encheu o deserto roso professor de gramática e uma ex-aluna sua:
de codornizes para alimentar os judeus. Mas só
• “Professor, aonde o senhor andava, que eu nunca mais
quando deixaram de cobiçar as cebolas egípcias e
lhe vi?”
se comportaram de modo adequado e construti-
vo ao momento em que se encontravam. Nossas • “Nem a mim nem à gramática” – respondeu-lhe o mes-
codornizes virão – e espero que com a colabora- tre, deixando-a um tanto embaraçada por não haver en-
ção inclusive dos militares –, mas não se ficarmos tendido o porquê da resposta.
saudosos das cebolas egípcias. Com certeza, outra teria sido a resposta do professor, se a
(Borba, Francisco, Gazeta do Povo, 28/03/2015. Disponível em: <http:// pergunta da aluna tivesse sido esta:
www.gazetadopovo.com.br/opiniao/colunistas/francisco-borba/as-cebolas-
-do-egito-b6l11x8p9koh19y2pbedx09hu>. Acesso em 15 set. 2015. a) “Professor, por onde o senhor tem andado, que eu nunca
mais lhe vi?”
b) “Professor, por onde o senhor tem andado, que eu nunca
10.13. (UP – PR) – Na segunda linha do quarto parágrafo, mais o vi?”
o termo “idoneidade” pode ser substituído, sem comprome- c) “Professor, por onde Vossa Senhoria tem andado, que eu
timento do sentido, por: nunca mais vos vi”?
a) “pertencerem ao passado”.
d) “Professor, aonde o senhor tem andado, que eu nunca
b) “honestidade”. mais lhe vi?
c) “rigidez”. e) “Professor, aonde o s0enhor tem andado, que eu nunca
d) “poder”. mais te vi?”
e) “impotência”.
Leia o trecho a seguir e responda às questões 10.18 e 10.19.
10.14. (UP – PR) – Sobre os termos grifados no texto, con-
sidere as seguintes afirmativas: – Sou playboy! – dizia Pardalzinho a todos
1. No terceiro parágrafo, “sistema” refere-se a “corrupção”. que comentavam sua nova indumentária. Tatuou
2. No quarto parágrafo, “os” refere-se a “militares”. no braço um enorme dragão soltando labaredas
amarelas e vermelhas pelo focinho, o cabelo li-
3. No quinto parágrafo, “esses quadros” refere-se a “das
geiramente crespo foi encaracolado por Mosca.
Forças Armadas”. Sentia-se agora definitivamente rico, pois se ves-
4. No quinto parágrafo, “isso” refere-se a “desmandos”. tia como eles. O cocota pediu a Mosca que com-
Assinale a alternativa correta. prasse uma bicicleta Caloi 10 para que pudesse
a) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. ir à praia todas as manhãs. Rico também anda de
b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. bicicleta. Iria frequentar a praia do Pepino assim
que aprendesse o palavreado deles. Na moral, na
c) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
moral, na vida tudo é uma questão de linguagem.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. Alguns bandidos tentaram fazer chacota do seu
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. novo visual. O traficante meteu a mão no revólver
dizendo que não tinha cara de palhaço. Até mes-
10.15. (UP – PR) – De acordo com o texto, identifique as mo Miúdo prendeu o riso quando o viu dentro
afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F): daquela roupa de garotão da Zona Sul.
( ) As pessoas tendem a preferir uma situação conhecida (LINS, P. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p.261.
do que ir em busca de algo novo, ainda que com me-
lhores perspectivas.
( ) Os problemas que enfrentamos no presente nos fazem 10.18. (UFPR) – A partir da leitura desse trecho, considere
esquecer os problemas do passado. as afirmativas a seguir.
( ) O autor é um dos que concorda que só por meio da I. Pardalzinho, apesar de ter dinheiro e roupas de ricos e
atuação dos militares nossa situação vai melhorar. sentir-se como rico, ainda precisava adequar sua lingua-
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de gem ao padrão desejado.
cima para baixo. II. Roupas, dinheiro, tatuagem e cabelo encaracolado eram
a) F – V – F. b) V – F – V. c) V – V – F. suficientes para Pardalzinho sentir-se incluído no “mundo
d) V – V – V. e) F – F – V. dos ricos”.
III. Pardalzinho sentia-se como palhaço, mas não admitia
10.16. (UP – PR) – Na frase “nossa cebola egípcia é o regime que rissem dele.
militar de 64”, temos um exemplo de: IV. Pardalzinho tatuou o dragão soltando labaredas
a) analogia. b) ironia. amarelas e vermelhas pelo focinho e encaracolou os
c) metonímia. d) metáfora. cabelos porque achou que, assim, ficaria parecido
e) paradoxo. com os ricos.

18 Semiextensivo
Aula 10

Assinale a alternativa correta. 10.19. (UFPR) – Assinale a alternativa que apresenta, cor-
a) somente as afirmativas I e II são corretas. retamente, o termo a que o pronome sublinhado se refere.
a) “Sentia-se agora definitivamente rico”: Mosca.
b) somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) “pois se vestia como eles”: Mosca e Miúdo.
c) somente as afirmativas III e IV são corretas. c) “assim que aprendesse o palavreado deles”: bandidos.
d) somente as afirmativas I, II e III são corretas. d) “chacota do seu novo visual”: bandidos.
e) somente as afirmativas II, III e IV são corretas e) “quando o viu dentro daquela roupa de garotão”: traficante.

Discursivos
A questão de número 10.20 diz respeito ao texto transcrito a seguir.

Romance de uma Caveira


(Alvarenga e Ranchinho)

Eram duas caveiras que se amavam Mas um dia chegou de pé junto


E à meia-noite se encontravam Um cadáver, um vudu, um defunto.
Pelo cemitério os dois passeavam E a caveira por ele se apaixonou
E juras de amor então trocavam. E o caveiro antigo abandonou.
Sentados os dois em riba da lousa fria O caveiro tomou uma bebedeira
A caveira apaixonada assim dizia E matou-se de um modo romanesco
Que pelo caveiro de amor morria Por causa dessa ingrata caveira
E ele de amores por ela vivia. Que trocou ele por um defunto fresco.
(...)

10.20. (UFSCAR – SP) – O emprego de pronomes, além de garantir a coesão textual, pois organiza as informações, permite
que se entendam as referências, o que é um auxílio na compreensão do texto.
a) Explique a diferença de uso do pronome “se” em cada um dos versos:
“Eram duas caveiras que se amavam”
“E matou-se de um modo romanesco”

Português 5A 19
b) No verso “Que trocou ele por um defunto fresco”, o referente do pronome é facilmente identificável. Contudo, nota-se que
o emprego do pronome foge à norma-padrão.
Reescreva o verso segundo as convenções da linguagem culta.

Gabarito
10.01. e 10.15. c b) “Que o trocou por um defunto fresco.”
10.02. e 10.16. d Pela norma gramatical padrão, um
10.03. b 10.17. b pronome pessoal reto não pode ser
10.04. e 10.18. b
empregado com a função de objeto
10.05. d direto. Essa função vai caber ao pro-
10.19. e
10.06. c nome oblíquo “O”.
10.07. d 10.20. a) Em “Eram duas caveiras que se ama-
10.08. b vam”, o pronome oblíquo “se” é em-
10.09. b pregado como pronome reflexivo
10.10. d recíproco, ou seja, as caveiras “ama-
10.11. a vam-se uma à outra”. Em “E matou-se
10.12. b de um modo romanesco”, o pronome
10.13. b se é apenas reflexivo, equivalendo a
10.14. a “matou a si mesmo”.

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