Você está na página 1de 7

Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2021

Departamento de Evolução Econômica.


Curso: Tópicos em Economia Política
Prof. Leonardo Burlamaqui
Site do curso: https://lburlamaqui.com.br/

Tópicos em Economia Política – Versão preliminar- Draft

1.1- Apresentação e justificativa:

Abordando nossos tempos conturbados:


Buscando novas formas de governança nas Finanças, do Conhecimento e do Emprego.

Emergindo a partir de janeiro/fevereiro de 2020, a pandemia do coronavírus paralisou


grande parte do planeta em semanas. Não só infectou a população como injetou uma enorme
dose de incerteza no sistema global. Nesse sentido, como em muitos outros que veremos a
seguir, é um fenômeno sem precedentes.
Entretanto, a raiz dos problemas que enfrentamos, além da contração econômica
induzida pelo vírus e da destruição da vida humana, é uma crise de governança, uma crise
produzida em grande parte pela disseminação da ideologia neoliberal e por seu pacote
político "fundamentalista de mercado", em grande parte do capitalismo ocidental desde os
anos 1980.
Neste momento, maio de 2021, estamos testemunhando, simultaneamente, uma
crise da saúde, uma crise econômica e um agravamento da polarização social e política, bem
como uma crise da capacidade estatal, da cooperação internacional e da confiança. São
muitas as incógnitas, tanto o que se sabe que não se conhece, quanto o que não se conhece
de fato. Mas um fato é certo: vivemos em tempos conturbados.
Poucos contestariam essa afirmação. Como Schumpeter comentou em 1927, a
respeito das transformações que ocorreram naquela época, a discordância consiste na sua
interpretação. Nesse sentido, a atual crise provocada pela COVID-19 é, além da perda
devastadora de milhões de vidas humanas, uma continuidade das crises de 2008-2009.
Consiste em: a) uma profunda contração econômica aliada ao desemprego, à fome, à
instabilidade financeira e à expansão do endividamento, publico e privado, em quase todos
os países; b) uma degradação ecológica contínua que abrange o aquecimento global

Page 1 of 7
persistente, o agravamento da poluição, a exaustão dos recursos e novas formas de bio-
comodificação que penetram no cerne da sociedade; e c) uma aguda desintegração social,
regiões devastadas, desigualdades crescentes, mortes por desespero, uma profunda crise de
imigração, e a rápida ascensão de uma precariedade do trabalho produzida pela inteligência
artificial (IA) e pela revolução dos robôs.
Esses fenômenos abriram uma enorme janela para movimentos políticos contrários -
Polanyianos - de natureza de esquerda e especialmente de direita. Politicamente, estamos
enfrentando uma mistura muito incomum de um "Rebelión de las masas" (Ortega y Gasset)
com uma "Revolta das Elites" (Lasch). Além disso, este Frankenstein político foi equipado por
grandes plataformas de mídia social e por redes de televisão, com os instrumentos de
propagação que o levam a tornar-se um movimento global de massa.
A primeira constatação é a ausência de um quadro conceitual com o qual se possa
interpretar a crise atual, como referido acima, como um fenômeno multidimensional,
abrangendo não só economia e as finanças, mas também a ecologia, a sociedade e a política.
Trazer de volta o "referencial analítico" de Polanyi, mas integrando-o com outros mais
recentes, nos fornece uma lente para ligar, quase diretamente, a instabilidade financeira
atual à "crise financeira global" de 2007-2009, e ambas com as estruturas de governança
financeira neoliberal que permitiram que isso acontecesse.
Assim, a tarefa que se coloca é investigar quais são os instrumentos de política
publica, as reformas institucionais e as coalizões políticas necessárias para governar
adequadamente as finanças, o conhecimento, e as relações entre tecnologia, trabalho e a
renda, em uma era de criatividade tecnológica e abundância material, e não de escassez, a
fim de libertar a humanidade, para viver "sabiamente e de forma agradável " (Keynes). Isto
pode parecer utópico, mas está longe disso. Nesse sentido, vale lembrar o comentário afiado
de Daniel Bell de que "o Estado-Nação se tornou muito pequeno para os grandes problemas
da vida, e muito grande para os pequenos problemas da vida", o que se traduz na necessidade
não apenas de um maior nível de envolvimento do Estado, mas também de um conjunto
muito diferente de capacidades estatais e incorporação social.
Resumindo, no contexto dos nossos tempos conturbados, o aumento da radicalização
das ideologias políticas e dos partidos, e a crescente influência de novas tecnologias de
difusão de informações pelas mídias sociais e Estados Soberanos – reais e falsas – sobre o
comportamento dos eleitores, juntamente com a disponibilidade de ferramentas baseadas

Page 2 of 7
em big data para medir e "direcionar" a conduta eleitoral (como evidenciado pelo recente
escândalo da Cambridge Analytica e pela intromissão da Rússia na eleição de 2016) é
fundamental mostrar que a governança adequada, em todas as esferas assinaladas, encontra-
se seriamente comprometida.
A proposta do curso é, partindo de molduras analíticas “clássicas” – Schumpeter,
Keynes, Polanyi, Minsky, Bell – e contemporâneas – Khan, Benkler, Kregel, Wray, Piketti,
Zucman, Skidelsky, Susskind ( entre outros) – discutir alguns desses tópicos (listados em
seguida).
As perguntas em questão não são novas. Mas as respostas têm que ser.

1.2- Ementa (preliminar):

Un 1- Inovação, Concorrência e o novo “Feudalismo tecnológico”: a necessidade de


Governança do Conhecimento.

§ Moldura conceitual: Schumpeter, Teece, Khan, Benkler, Teachout.


§ O novo capitalismo corporativo, a ascensão da “Big Tech” e as ameaças a inovação e
a democracia.
§ Governança do conhecimento.

Un 2- Moeda, Inovações financeiras e fragilidade financeira: a necessidade de Governança


financeira.

§ Moldura conceitual: Minsky, Kregel, Wray, Zucman, Piketti


§ Financialização, fragilização financeira: ameaças a estabilidade econômica, ao
crescimento, e a justiça distributiva.
§ Governança financeira.

Un 3- Automação, Inteligência Artificial, a ascensão do “precariato” e as ameaças ao tecido


social: a necessidade de Governança da “destruição criadora”.

§ Moldura conceitual: Polanyi, Keynes, Skidelsky, Susskind, Ford


§ As consequências econômicas e sociais da automação + IA
§ Governança da “destruição criadora”.

Un 4- A crise do COVID, Estado e Capitalismo: o que mudou? O que deve mudar?

***

Page 3 of 7
Bibliografia preliminar

Andersen, E. S.: 2009. Schumpeter's evolutionary economics: a theoretical, historical and


statistical analysis of the engine of capitalism. Anthem Press.
Bessen, J. and M.J. Meurer. 2008. Patent Failure: How Judges, Bureaucrats, and Lawyers Put
Innovators at Risk. Princeton University Press.
Benkler, Y., Faris, R. and Roberts, H., 2018. Network propaganda: Manipulation,
disinformation, and radicalization in American politics. Oxford University Press.
Bessen, J. 2015. Learning by Doing: The Real Connection between Innovation, Wages, and
Wealth. New Heaven, Yale University Press.
Block, Fred and Matthew R. Keller (eds). 2011. State of Innovation: The U.S. Government’s
Role in Technology Development. Boulder, Colorado: Paradigm.
Burlamaqui, L. 2006. “How Should Competition Policies and Intellectual Property Issues
Interact in a Globalised World? A Schumpeterian Perspective.” Working Papers in
Technology Governance and Economic Dynamics no. 6. Available at
http://technologygovernance.eu/files/main//2006042407123939.pdf.
Burlamaqui, L. (2020). Schumpeter, the entrepreneurial state and China. UCL Institute for
Innovation and Public Purpose, Working Paper Series (IIPP WP 2020-15). Available
at: https://www.ucl.ac.uk/bartlett/public-purpose/wp2020-15
Burlamaqui, L. and Torres Filho, E., 2020. The COVID-19 Crisis: A Minskyan Approach to
Mapping and Managing the (Western?) Financial Turmoil. Levy Economics Institute,
Working Papers Series.
Burlamaqui, L., Castro, A. C., & Kattel, R. (Eds.). (2012). Knowledge governance: Reasserting
the public interest. Anthem Press.
Burlamaqui, L., & Kattel, R. Eds. (2019). Schumpeter’s Capitalism, Socialism and Democracy:
A Twenty-First Century Agenda. Routledge.
Case, A. and Deaton, A., 2020. Deaths of Despair and the Future of Capitalism. Princeton
University Press.
Fraser, N., 2014. Can society be commodities all the way down? Post-Polanyian reflections
on capitalist crisis. Economy and Society, 43(4), pp.541-558.
Gabor, D: 2020. “Critical macro-finance: A theoretical lens” in Finance and Society
6(1): 45-55
Gans, J: 2020. Economics in the Age of COVID-19 ,MIT Press .
Heertje, A Ed: 1981. Schumpeter’s Vision – Capitalism Socialism and Democracy After 40 years.
New York, Praeger.
Holmes, C: 2014: “A post-Polanyian political economy for our times” in Economy and Society
Volume 43 Number 4 November 2014: 525–540.
Page 4 of 7
Holmes, C., 2018. Polanyi in times of populism: Vision and contradiction in the history of
economic ideas. Routledge.
Johnson, C. 1982. MITI and the Japanese Miracle: The Growth of Industrial Policy: 1925-1975.
Stanford: Stanford University Press.
Juma, C. 2016. Innovation and its Enemies: Why People Resist New Technologies. Place:
Oxford University Press.
Kattel, R., Drechsler, W. and Karo, E. 2019. Innovation bureaucracies: How agile stability
creates the entrepreneurial state. UCL Institute for Innovation and Public Purpose,
Working Paper Series (IIPP WP 2019-12). Available at:
https://www.ucl.ac.uk/bartlett/public-purpose/wp2019-12

Kelton, S., 2020. The deficit myth: modern monetary theory and the birth of the people's
economy. Hachette UK.
Keynes, J. M. 1930. Economic possibilities for our grandchildren. In Essays in persuasion (pp.
321-332). Palgrave Macmillan, London.
Keynes, J.M. 1936. The General Theory of Employment, Interest and Money. New York:
Harcourt Brace.
Krastev, I., 2013. In Mistrust We Trust: Can Democracy Survive When We Don't Trust Our
Leaders? TED Conferences.
Kregel, J: 2014: Minsky and Macroprudential Regulation. Levy Economics Institute.
Lazonick, W. 1991. Business Organization and the Myth of the Market Economy. Cambridge.
Cambridge University Press.
Lazonick, W. and M. O’Sullivan. 2000. “Maximizing Shareholder Value: A New Ideology for
Corporate Governance.” Economy and Society 29(1), 13-35.
Mahbubani: 2020 Has China Won? The Chinese Challenge to American Diplomacy: Kishore
Mahbubani. PublicAffairs, New York.
Mazzucato, M. 2013. The Entrepreneurial State. London: Anthem Press.
Mazzucato, M. 2017. “Mission-Oriented Innovation Policy: Challenges and Opportunities.”
UCL Institute for Innovation and Public Purpose Working Paper, IPP WP 2017-01.
https://www.ucl.ac.uk/bartlett/public-purpose/publications/2018/jan/mission-
oriented-innovation-policy-challenges-and-opportunities.
Mazzucato, M. 2018. The Value of Everything. Making and Taking in the Global Economy.
London Penguin.
Mazzucato, M. 2021. Mission Economy: A Moonshot Guide to Changing Capitalism. Harper
Business

Page 5 of 7
Micklethwait and Wooldridge:2020 The Wake-Up Call: Why the Pandemic Has Exposed the
Weakness of the West, and How to Fix It. HarperVia
Minsky: 1980: Can “It” Happen Again? Sharpe
Minsky: 1986. a, Stabilizing an Unstable Economy, Yale, N. H.
Minsky: 1986. b, “Money and Crises in Schumpeter and Keynes" in Wagner e Drukker eds.
The Economic Law of Motion of Modern Society. CUP.
Minsky: 1990. " Schumpeter: Finance and Evolution" in Heertje e Perelman. eds. Evolving
Technology and Market Structures. Michigan.
Minsky: 2013. Ending Poverty: Jobs, Not Welfare. Levy Economics Institute, NY.
Mirowski, P., Plehwe, D. and Slobodian, Q. eds., 2020. Nine Lives of Neoliberalism. Verso
Books.
Mokyr, J. 2017. “The Past and the Future of Innovation: Some Lessons from Economic
History.” Research paper, Departments of Economics and History Northwestern
University.
Musacchio, A. and S.G. Lazzarini. 2014. Reinventing State Capitalism. Cambridge. Harvard
University Press.
Nelson, R.R. 1959. “The Simple Economics of Basic Scientific Research.” Journal of Political
Economy 67(3), 297-306.
Parenti: 2011 Tropic of Chaos: Climate Change and the New Geography of Violence. Bold
Type Books
Reinert, E. 2007. How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor. London:
Constable & Robinson.
Rickards, J: 2021The New Great Depression: Winners and Losers in a Post-Pandemic World.
Portfolio
Rosenberg, N: “Schumpeter: Radical Economist” in Shionoya, Y and Perlman, M. eds
Schumpeter in the History of Ideas. Michigan, The University of Michigan Press.
Ruttan, V. 2006. Is War Necessary for Economic Growth? Oxford, Oxford University Press
Schumpeter, J. A.: 1942. Capitalism, Socialism and Democracy. New York, Routledge.
Skidelsky, R : “The Good Life After Work” in Social Europe, May 2019.
Slobodian, Q., 2020. Globalists: The end of empire and the birth of neoliberalism. Harvard
University Press.
Standing, G., 2014. The Precariat-The new dangerous class. Amalgam, 6(6-7), pp.115-119.

Page 6 of 7
Summers, L.H. 2016. “The Age of Secular Stagnation: What It Is and What to Do About It.”
Foreign Affairs 15 February. Available at http://larrysummers.com/2016/02/17/the-
age-of-secular-stagnation/.
Taylor, M.Z. 2016. The Politics of Innovation: Why some Countries are Better than others at
Science and Technology. Oxford. Oxford University Press.
Tcherneva, P.R., 2020. The case for a job guarantee. John Wiley & Sons.
Tooze, A. 2018. Crashed: How a decade of financial crises changed the world. Penguin.
Weiss, L. 2014. America Inc.: Innovation and Enterprise in the National Security State. Ithaca:
Cornell University Press.
Zuckerman, E., 2021. Mistrust. Why Losing Faith in Institutions Provides the Tools to
Transform Them. W. W. Norton & Company

Page 7 of 7

Você também pode gostar