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Gabriel Pereira Matos

John Stuart Mill: Sobre a liberdade

John Stuart Mill foi um filosofo e economista britânico nascido na Inglaterra, e é


um dos principais pensadores liberais do século XIX. Também foi defensor do
utilitarismo.

Introdução
Sobre a liberdade obedece, na sua forma e articulação a tradição inglesa e
apresenta um caráter reformista utilitarista. Apesar disso o Stuart Mill maduro tenta se
afastar ao máximo dessa visão utilitarista que preservou em sua juventude, e isso se da
pelo fato dele considerar o utilitarismo um tanto quanto reducionista.

O objeto desse ensaio é defender como indicado para orientar de forma absoluta
as intervenções da sociedade no individual, uma necessidade que é apresentada como
um principio simples, quer para o uso da força física sob forma de penalidades legais,
quer para a coerção moral da opinião pública. Esse principio então consiste em que a
única finalidade justificativa da interferência dos homens, individual e coletiva, na
liberdade de ação do outro, é a autoproteção (proteção de si mesmo e da vida). A partir
desse primeiro Principio, Stuart Mill vem a resultar e formular outros princípios, no
capitulo II iremos ver como ele apresenta a liberdade de pensamento e da discussão; no
capitulo III ele apresenta o individualismo como elementos geradores de um bem-estar;
no capitulo IV ele apresenta os limites da autoridade sobre o individuo, e como
conclusão apresenta maneiras práticas de como defender a liberdade.

Stuart Mill foi profundamente influenciado pela tradição liberal francesa, pois
foi estudioso da obra e amigo de Tocqueville, tendo discutido A democracia na América
em dois importantes ensaios. Ele então apresenta uma carência concreta da percepção
da dinâmica social, apesar disso ele não apresenta as ideais e premissas sociológicas da
tradição francesa.

EM RESUMO: A defesa que Mill faz da liberdade leva às mais amplas


conclusões. As teses de Mill são antes preceitos de higiene para a vida social em
perfeita saúde. A lição então que Mill vem apresentar é a de que há certos estágios da
evolução social, as vezes a autoridade predomina, de certo modo necessário, sobre a
liberdade. São porém estágios transitórios em que uma se mostra que a velha
cristalização está a pique de romper e a autoridade se reforça para impedir, ou numa
segunda situação onde a autoridade se situa frente a uma nova cristalização para não
ocorrer um retrocesso. No primeiro caso então esse afronte se volta para o passado
requerendo um certo tradicionalismo e no segundo caso ela vem a querer auxiliar para
um futuro melhor sendo contra o retrocesso.

Primeiro Capítulo

Introdução ao principio fundamental

1° - O assunto do ensaio de Mill não é aclamada de liberdade do querer, tão


infortunadamente é algo oposto à doutrina mal denominada “da necessidade filosófica”,
e sim da liberdade civil ou social: a natureza e os limites do poder que a sociedade
legitimamente exerce sobre o individuo. Sendo assim ele vem tratar sobre uma noção de
liberdade na modernidade, que nada mais é dos limites que a sociedade pode exercer
sobre o individuo, é nada menos do que a questão prática “do ajustamento apropriado
ente independência individual e o controle social”. Esta questão ele considera relevante
discutir, apesar dos progressos trazidos na gestão coletiva pelo fim do poder pessoal dos
soberanos e o surgimento de uma soberania popular. Com efeito, para Stuart Mill a
distribuição de poder na soberania popular acarreta e geralmente resulta em uma tirania
social da maioria, que assim como a soberania dos soberanos de antigamente vem a ser
altamente opressora. É justamente ai que Mill vem a declarar a existência de um espaço
no qual é permitida a liberdade da consciência, de expressão, de gosto e de associação.
Esses primeiros vem a ser chamados de direitos humanos de primeira geração. E isso
decorre de um tempo onde os homens cessaram de julgar uma necessidade da natureza
que seus governantes fossem um poder independente, esses possuindo interesses
totalmente opostos a população. Só dessa forma então eles poderiam ver que não seriam
objetos de abuso e possuíssem uma desvantagem. Logicamente essa nova aspiração de
governantes que são eletivos e temporários se tornou matéria proeminente dos esforços
dos partidos populares, onde este existisse acabava por limitar o poder dos governantes.
Logo o interesse do povo e a vontade do povo passa a ser interesse da nação, ou vontade
da nação, e portanto, não haveria uma tirania dela sobre si mesma. Mas não é bem
assim, primeiramente em matéria de teorias políticas e filosóficas, como em matéria de
pessoas, o sucesso revela alguns defeitos e fraquezas que o insucesso poderia ter
ocultado à observação. O conceito então que o povo não precisa limitar seu poder sobre
si mesmo parece ser invalido, pois até mesmo acarreta em uma tirania da multidão e
prega um falso self-government, pois o “poder do povo sobre si próprio” não exprime o
verdadeiro estado das coisas e o “povo” que exerce o poder não é sempre o mesmo povo
sobre quem o poder é exercido. Assim sendo a vontade do povo só demonstra uma
vontade da maioria da população.

A tirania do maior número foi, a principio, e ainda é vulgarmente, encarada com


terror, principalmente quando opera por intermédio dos atos da autoridades públicas.
Mas as pessoas refletidas percebem que no caso de ser a própria sociedade o tirano seus
processos de tirania não se restringem aos atos praticáveis pelas mãos de seus próprios
funcionários políticos. A sociedade pode executar e executa os próprios mandatos, e na
maioria das vezes com a tirania da multidão esses mandatos se tornam errôneos. A
tirania do magistrado não basta. Importa ainda o amparo contra a tirania da opnião e dos
sentimentos dominantes.

Mas apesar da impossibilidade de se contestar, em tese, essa proposição, a


questão prática de onde colocar esses limites entre a independência individual e o
controle social, é matéria na qual quase nada está feito. O objeto deste ensaio então se
torna como defender e orientar de forma absoluta as intervenções da sociedade no
individual, um principio muito simples, quer para o caso do uso da força física sob a
forma de penalidades legais, que para o uso da coerção moral da opinião pública. Esse
principia consiste em que a única finalidade justificativa da interferência dos homens,
seja individual ou coletivamente, na liberdade de ação de outrem, é a autoproteção. O
único propósito no qual se deve ser contra é quando o individuo acentua o dano contra
outrem. A única parte da conduta que alguém responde perante a sociedade é a que
concerne aos outros. Na parte que diz respeito unicamente a ele próprio, a sua
independência é, de direito, absoluta. Sobre si mesmo, sobre seu próprio corpo e
espírito, o individuo deve ser soberano.

Segundo Capítulo

Da liberdade do pensamento e discussão

2° - Nesse capítulo Mill evidencia uma liberdade de pensamento e de discussão.


Esta defesa faz ecoar com grande integridade uma das noções básicas da doutrina
liberal: que é nada menos do que a afirmação do pluralismo intelectual que
institucionalmente traduziu-se, através da demarcação entre Estado e não-Estado, na
perda, pelo Estado Liberal, do poder ideológico, através do reconhecimento jurídico-
constitucional dos direitos individuais da liberdade religiosa, de pensamento e de
opinião. Os humanos então em dada sociedade passam de uma transição de súdito para
cidadão quando exercem e fazem uso público da própria razão. Mill na linha da tradição
do liberalismo inglês, assevera preliminarmente a relevância da liberdade de
pensamento e de opnião para as atividades da mente, pois a conduta racional – para ele
tudo o que é respeitável no humano como ser intelectual e moral – pressupõe a
corrigibilidade dos erros. Estes, para serem retificados, exigem a experiência e a
discussão com outros dessa experiência, sobretudo nos mais variados assuntos. Mill
assim vê, assim, na liberdade de pensamento e de discussão, a condição para o contínuo
estímulo da atividade intelectual e do progresso humano, chamando atenção para o
questionamento mesmo de verdades, que acabam por virar dogmas mortos e não
verdades vivas quando não debatidos livremente. Só assim a opinião verdadeira atinge o
patamar de que pode ser afirmada e a opinião falsa atinge o patamar de que pode ser
corrigida. Daí vem um sentido da dialética do dialogo socrático. Mill fica ciente do
sectarismo das opiniões e do que o partidarismo apaixonado das ideias nem sempre
contribui para um conflito de opiniões falsas ou verdadeiras e nem mesmo alcança uma
verdadeira causa e aborda os vários lados de uma mesma questão. Haveria uma
importante real moralidade na discussão pública.
Quando então considerarmos quer a história da opinião, quer a conduta ordinária
da vida humana, ao que se deve atribuir ou não serem uma e outra piores do que são?
Não será, sem dúvida, à força inerente ao entendimento humano. Pois que, em qualquer
matéria não evidente por si, noventa e nove pessoas em cem se revelam totalmente
incapazes de julga-a. E mesmo a capacidade da centésima pessoa é apenas comparativa,
ou seja, haveria uma necessidade de discussões de opiniões para realizar algo solido
para o progresso humano e da sociedade. Há uma necessidade então de uma opnião
racional e uma conduta racional, para que ele seja capaz de identificar os seus enganos
gerados pela experiência, deve se haver uma discussão para interpretar a experiência. E
assim, fazer uma formula entre a razão e a experiência.

Se torna estanho então que os homens admitissem a validade dos argumentos a


favor da livre discussão, mas objetassem que eles são “levados ao extremo” não vendo
que, se as razões não são boas num caso extremo, não são boas em caso algum.
Estranho, ainda, imaginassem que não se arrogam infalibilidade quando arrogam que
deve haver livre discussão sobre todos os assuntos que se prestem a dúvidas, mas não
sobre algum principio ou doutrina especial que seja suficientemente certa, isto é, que
estejam certos de que é certa. Chamar de certa alguma proposição enquanto haja alguém
que, se fosse permitido, a negaria, mas a quem tal não se permite, é presumir que nós, e
os que conosco concordam, somos juízes da certeza, e juízes que dispensam a audiência
da outra parte.

Mill vem citar Marco Aurélio mostrando os casos de perseguição ao pensamento


religioso. A verdade é que Marco Aurélio com seu pensamento neoplatonico acabava
por agir como um cristão mas não permitia essa mesma atitude pela população pela falta
de instrução, enquanto o imperador agia pela razão o povo agia pela fé; coisa que
fundamenta o cristianismo e anula a razão.

Na realidade, porém, o dito de que a verdade sempre triunfa da perseguição é


uma dessas divertidas falsidades que uns repetem após outros, até que se tornem lugares
comuns, as quais, entretanto, toda a experiência refuta.

Terceiro Capitulo

Da individualidade, como um dos elementos do bem-estar

3° - Nesse terceiro capitulo o autor vem evidenciar um dos elementos do bem-


estar que seria a individualidade. Esse principio visa a acrescentar sobre o
desenvolvimento humano que estaria baseado na diversidade. Pois o mesmo declara a
individualidade como um fim e não como um meio, uma vez que ambos afirmam que
aquilo que caracteriza a natureza humana não é a uniformidade, mas sim a singularidade
que cada um possuímos. Pensamento esse que vai contestar com o pensamento
aristotélico de que seriamos aptos para qualquer tipo de atividade, o ser humano então
seria tratado como uma totalidade, assim sendo, desprezando todo particular, todo o
individual e tudo o que é de uma expressão singular, ora, o ser humano então estaria
expresso em sua particularidade, e não em uma aptidão e paixão sobre tudo (um sujeito
naturalizado e apto para qualquer tarefa, fechado em si expressando algo determinado
quando o mesmo é multiplicidade). Esse particular é o que vem a evidenciar as mais
variadas formas de viver, o não seguir um fluxo mas uma individualidade que cultiva
um pensamento próprio do que ele é e do que ele pode a vir a produzir, logo, estaria
pautado em evidenciar caminhos “alternativos” do que é ser humano. Esse capitulo
então, se preocupa com a uniformização da vida, analisados anteriormente por
Tocqueville, acabando por evidenciar um problema crítico das sociedades
contemporâneas de massa. Tanto quanto o pensamento diversificado, quanto a liberdade
de pensamento e expressão, vem a evidenciar uma das características do que é o liberal
democrata. A força da Europa então estaria reservada pelo fator chamado diversidade. A
diversidade enquanto expressando o mesmo conceito de liberdade em Mill, acaba por
evidenciar que é a mesma coisa do que se alcançar um suposta igualdade, mas uma
igualdade que é vista sempre de um mesmo ponto de partida do que seria o humano, o
que o humano. Assim sendo,a individualidade é a coisa mais o seu desenvolvimento, e
que somente o cultivo da individualidade é que produz ou pode produzir seres humanos
bem desenvolvidos, que por sua vez demonstram utilidade para aqueles que não são
desenvolvidos, é necessário então mostrar aos que não aspiram liberdade, e dela não se
aproveitariam, que lhes pode advir proveito inteligível do fato de permitirem a outrem o
uso sem entraves da liberdade.

É visto então que Mill propõe nada menos do que um antipaternalismo, que é
uma doutrina identificadora da doutrina liberal. Esse antipaternalismo se traduz na
deslegitimação da função de interveniência do Estado na vida das pessoas, com
fundamento na avaliação de que todo individuo precisa ser protegido até dos seus
próprios impulsos e inclinações. Assim sendo o pressuposto ético de Mill é de que:
“Sobre si mesmo, sobre o seu próprio corpo e espírito, o individuo é soberano”.

Essa vigorosa convicção antipaternalista permeia os dois últimos capítulos de


Sobre a Liberdade e está na raiz da distinção entre a conduta que não afeta outros e a
conduta que afeta, de maneira nociva, interesses alheios.

Quarto Capítulo

Dos limites da autoridade da sociedade sobre o individuo

4°- Esse quarto capitulo começa com uma pergunta: Qual seria então o justo
limite à soberania do individuo sobre si próprio? Onde começa a autoridade da
sociedade? Quanto da vida humana se deve atribuir à individualidade, quanto à
sociedade?
A individualidade deve pertencer a parte da vida na qual o individuo é o
principal interessado, à sociedade a que à sociedade primacialmente interessa. Embora a
sociedade não se funde num contrato, e embora nenhum proveito se tire da invenção de
um contrato de que se deduzam as obrigações sociais, cada beneficiário da proteção da
sociedade deve uma paga pelo beneficio, e o fato de viver em sociedade torna
indispensável que cada um seja obrigado a observar certa linha de conduta para com o
resto. Essa conduta consiste, primeiro, em não ofender um os interesses de outro, ou
antes certos interesses, que, ou por expressa cláusula legal ou por tacito entendimento,
devem ser considerados direitos; e segundo, em cada um suportar a sua parte (a se fixar
segundo algum principio equitativo) nos labores e sacrifícios em que se incorra na
defesa da sociedade ou dos seus membros contra danos e incômodos. Justifica-se que a
sociedade imponha essas condições a todo o custo àqueles que tentam furtar-se ao seu
cumprimento. Nem isso tudo constitui aquilo que é permitido uma sociedade fazer. Os
atos de um individuo podem ser danosos ao outro, ou faltar com devida consideração ao
bem-estar deste, sem irem ao ponto de violar algum dos seus direitos estabelecidos,
Nessa caso, o ofensor pode ser justamente punido pela opinião, ainda que não pela lei.
Desde que algum setor de conduta de uma pessoa afete de maneira nociva interesses
alheios, a jurisdição da sociedade o alcança, e a questão de a interferência nesse setor
promover, ou não, o bem-estar geral, torna-se aberta a controvérsia. Tal problema
porem não tem lugar quando a conduta de um individuo não afeta interesses de outros
ao seu lado, ou não necessite afetá-los a não ser que esses outros o queiram (todos os
interessados sendo maiores e da ordinária soma de compreensão). Em todos esses casos,
deve haver perfeita liberdade, legal e social, de praticar a ação e suportar as
consequências.

A intervenção da sociedade na liberdade dos indivíduos – como se lê – não pode


ter como base a aversão ou desaprovação de condutas de força de posturas paternalistas,
moralistas ou de reações fundamentalistas, mas deve sempre fundamentar-se na
prevenção de danos a terceiros.

‘ O risco de concentração do poder nas mãos do governo é a de tornar os


indivíduos como instrumentos dóceis.

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