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O que é Libertárianismo?

Libertárianismo é uma corrente filosófica, econômica e política cuja ideia


central é retirar a interferência do Estado na economia, garantindo a sua
liberdade, e a individual por meio da propriedade privada. Por isso,
também é conhecido como sistema de livre mercado.

O interesse desse sistema econômico é nas ações; não preocupado com


os pensamentos. Interessado apenas nas consequências negativas de
pensamentos. O princípio da Não-Agressão tem de ser estendido ao
governo. Os libertários, portanto, se opõem à — ou tentar limitar ao
máximo a — intromissão dos governos tanto em nível doméstico quanto
internacional, pois os governos são os maiores violadores do Princípio da
Não-Agressão.

Há dois sentidos para a palavra “liberdade”. Um está intrínseco ao


indivíduo autônomo, capaz de realizar decisões, e deter responsabilidade
sobre seus atos, sem interferência externa. O outro diz respeito à
interferência externa para garantir, no sentido de viabilizar, o primeiro ao
indivíduo.
O libertarianismo acredita na regra de ouro, na filosofia do "viva e deixe
viver", que uma pessoa deve ser livre para fazer o que quiser, desde que
sua conduta seja pacífica e ordeira.

Assim sendo, é um sistema econômico, que prega que a função de


um Estado mínimo, forte e eficiente, deve agir exclusivamente para
assegurar os direitos negativos da população, isto é: impedir
a coerção física da população, baseado na ideia de que sua existência
é consequência inevitável da adesão ao princípio de não-agressão. Cuja
responsabilidade é de encorajar um conjunto de direitos naturais e legais
essenciais para a liberdade cultural e econômica.
A econômica, sem licença, permissão, proibição ou interferência do
estado. O governo não deve intervir na economia de nenhuma
forma. Acordos de livre comércio, vouchers educacionais e a privatização
da Previdência Social não são de forma alguma ideias libertárias.

A ideia final de um sistema libertário é que o único governo bom é aquele


que não existe. O segundo melhor governo é aquele que menos governa.
Assim, o governo, em seu melhor estado, é um mal necessário e, no seu
pior estado, é intolerável. A melhor coisa que qualquer governo poderia
fazer seria simplesmente nos deixar em paz. Portanto, o Estado até pode
existir (Estado mínimo), mas como uma entidade de proteção às ideias
libertárias e à propriedade privada.

O libertário defende, entre outras soluções, a secessão individual como


forma de garantir a liberdade dos indivíduos ainda que sob uma estrutura
estatista. Ou, em muitos casos, defende o Estado mínimo como ponte
para catalisar o empreendedorismo e, assim, emancipar o indivíduo até o
ponto em que o Estado não mais seja necessário e venha a,
eventualmente, findar.
Nosso inimigo é o estado que interfere. Nossos inimigos não são a
religião, as corporações, as instituições, as fundações ou as organizações.
Elas só têm hoje o poder de nos fazer mal por causa de sua ligação com o
estado. Retire os subsídios, as medidas protecionistas, e as regulações
que as protegem da concorrência, e elas rapidamente passarão a ser
inócuas. Mais ainda: serão inteiramente subservientes a nós
consumidores.
O libertárianismo advoga uma forma particular de capitalismo, sem
regulação do Estado. Apresenta um projeto de sociedade em que as
relações sociais sejam reguladas pelo livre mercado. É
essencialmente contrário ao controle estatal sob a forma de impostos,
políticas de preços, monopólio de serviços, controle na produção e
circulação de moedas, subsídio a algumas empresas em detrimento de
outras etc.
Imposto é roubo praticado pelo governo. O governo não tem direito a
uma determinada porcentagem da renda de ninguém. O código tributário
não tem de ser simplificado nem reduzido, e não precisa ser mais justo ou
menos intrusivo. As alíquotas de imposto não têm de ser nem diminuídas,
nem igualadas e nem se tornar menos graduais. O imposto de renda não
precisa de mais e maiores deduções, e nem de lacunas, abrigos, créditos
ou isenções. Todo esse sistema pútrido tem de ser abolido.  

As pessoas têm o direito de manter para si tudo o que ganharam e


decidir por si mesmas o que fazer com seu dinheiro: gastá-lo, desperdiçá-
lo, torrá-lo, doá-lo, legá-lo, guardá-lo, investi-lo, queimá-lo, apostá-lo.

E estão entre as funções do Estado apenas a promoção da segurança


física e jurídica, tendo como instituições legitimas da justiça as forças
armadas, o judiciário e a polícia, para proteger os indivíduos contra a
agressão, roubo, fraude e quebra de contrato. Além da criação
de legislação necessária para assegurar o cumprimento destas funções. O
Estado com estas funções deve funcionar apenas como se fosse uma
empresa privada como qualquer outra.

Quais as ideias principais defendidas pelo


libertarianismo?

Existência de propriedade privada

O Libertarianismo defende a proteção da propriedade privada como uma forma de


garantir a segurança individual, ou seja, para que a propriedade de cada indivíduo
não seja violada.

Além disso, para o libertárianismo, o Estado não pode interferir até certo ponto na
propriedade individual, pois dependendo das medidas aplicadas pelo Estado são
capazes de arruinar os patrimônios individuais. A cobrança exorbitante de
impostos seria um exemplo disso.
Comércio livre

O comércio deve ser livre e autorregulado. A própria movimentação do mercado


econômico seria suficiente para garantir o funcionamento do mercado, sem a
adoção de políticas econômicas impostas pelo Estado.

Somente a livre iniciativa é capaz de proporcionar uma sociedade em que os


cidadãos sejam verdadeiramente livres.

O Estado não terá mais a prerrogativa de gerenciar os recursos financeiros para


fornecer serviços aos cidadãos.

Privatização de serviços

Os serviços básicos que normalmente são prestados pelo Estado, devem vir da
iniciativa privada, isto é, devem ser privatizados.

Os principais serviços fornecidos pelo setor privado seriam atendimentos de


educação, saúde, transporte e segurança.

Cooperação da sociedade

O libertárianismo também defende que a cooperação social seja o mecanismo


mais adequado para o oferecimento de alguns serviços. E o Estado somente fará
um programa de incentivo, junto com a iniciativa privada e sua população fazer
essas ações, coma as ongs e as igrejas.

Além disso, existe a ideia de que a troca voluntária entre os indivíduos (como uma
troca de serviços, por exemplo) seja um dos pilares da sustentação das
sociedades.

Qual a diferença entre libertárianismo e


anarquismo?
Para que muitos não confundam Libertárianismo com Anarquismo, mostraremos
as suas diferenças.

As principais diferenças são:

Libertárianismo Anarquismo

Defende a propriedade privada como um


direito individual. É contra a existência da propriedade privada.

Defende a autorregulamentação de um Nega o mercado econômico, considerado uma expressão


mercado econômico. do sistema capitalista.

A prestação de serviços básicos deve vir da O Estado é responsável por garantir educação, saúde,
iniciativa privada. trabalho e segurança.

Defende a troca, força de trabalho por salário. É contra a relação troca de trabalho por salário.

Princípios do libertárianismo
O libertárianismo remonta ao jusnaturalismo, isto é, uma teoria que
afirma que existe um conjunto de direitos naturais com os quais o
homem já nasce, a saber, o direito à vida e à sua manutenção. Ao direito
à vida, o libertarianismo acrescenta o direito à propriedade
privada como sendo um direito natural no qual todos os direitos
individuais estariam contidos e pagos.
Sendo assim, o ser humano tem o direito ao seu próprio
corpo (autopropriedade) e ao recurso sem proprietário anterior em que
produzisse alguma forma de trabalho (apropriação original), o qual
poderia ser trocado voluntária ou comercialmente, bem como doado ou
destinado como herança, em um sistema de títulos construído a partir de
uma sociedade de livre mercado.
A apropriação original se daria por meio do trabalho, ou seja, não
bastaria cercar uma terra, mas trabalhar nela antes de qualquer outra
pessoa para considerá-la uma propriedade sua. As trocas de propriedade
também só seriam consideradas legítimas se feitas voluntariamente, sem
nenhum tipo de coerção.
A base ética do libertárianismo é o princípio da não agressão à vida e à
propriedade de outrem. O Estado que interfere é considerado ilegítimo
em virtude de seu caráter coercivo e soberano que se impõe a todos sob
a forma de leis, impostos e monopólio do uso da violência, sem que os
indivíduos possam separar-se (secessão) ou se negar a cumprir suas
determinações sem sofrer sanções.
Os impostos, bem como toda e qualquer intervenção estatal,
são considerados uma agressão, logo, o Estado em si mesmo
representaria uma violação ao princípio da não agressão, e a livre
iniciativa seria a única possibilidade de plena aplicação desse princípio.
Conforme os libertários, esse tipo de serviços ofertados pelo Estado, tais
como defesa, segurança e justiça, não têm um caráter essencialmente
público, por isso com o tempo vão sendo ofertados também pela
iniciativa privada.
O caminho para uma sociedade livre seria o capitalismo de livre
mercado, no qual as trocas comerciais seriam voluntárias e pacíficas,
em contraste com o capitalismo de Estado, em que há monopólios,
privilégios, cartelização, compadrio, entre outros desvios, que, para os
anarcocapitalistas, são inerentes e restritos a intervenções estatais, ou
seja, não ocorreriam se houvesse somente a livre iniciativa, cuja dinâmica
de oferta e demanda propiciaria uma concorrência equilibrada,
diversificação produtiva, preços e qualidade acessíveis sem a necessidade
de regulação ou ações direcionadas por um comando central.
A ideologia anarcocapitalista é individualista. Admite trocas e
associações voluntárias entre as pessoas, mas parte da premissa da ação
individual e autointeressada. Portanto, em uma sociedade
anarcocapitalista, as trocas econômicas seriam marcadas pela
individualização, privatização e descentralização.
Entre os lemas mais conhecidos, está a ideia de que imposto é roubo e a
defesa da livre circulação de qualquer tipo de moedas, como ouro e prata,
e as criptografadas.

Características do

idealiza um sistema de propriedade privada em que haja


empreendedorismo, lucro, mas sem a existência do Estado, que, para o
libertarianismo, impede o pleno desenvolvimento do mercado.
Nesse modelo de sociedade, as trocas de bens e serviços entre os
indivíduos ocorreriam de forma legítima somente por meio do mercado.
Serviços que são ofertados pelo Estado e considerados de caráter público,
como, segurança, educação e saúde, seriam privatizados e teriam sua
qualidade e preço acessível assegurados pela livre concorrência.
As relações sociais de uma comunidade ampla seriam desenvolvidas pela
perspectiva do individualismo voluntarista, isto é, a soberania da
vontade individual sobrepondo-se a qualquer tipo de interesse coletivo.
Essa ideologia político-econômica propõe a dissolução do Estado e sua
substituição pelo mercado na condução das relações econômicas e
provisão de serviços.

Anarcocapitalismo é de direita?
Na segunda metade do século XX, a Escola Austríaca de Economia
reformulou, sob o protagonismo do economista Ludwig von
Mises, o liberalismo econômico, conformando seus pressupostos à
conjuntura de um capitalismo globalizado e complexificado.
Discípulo de Mises, Rothbard teorizou o anarcocapitalismo, combinando
ideias liberais, ideias jusnaturalistas (considerando o direito à vida, à
propriedade, à não agressão e à soberania do indivíduo como direitos
naturais) e a ideia de extinção do Estado a partir de teóricos anarquistas
individualistas. Essa mistura pode gerar a dúvida: afinal, o
anarcocapitalismo é de qual espectro ideológico se junta elementos de
ideologias diversas?
A resposta é que a base predominante do anarcocapitalismo é o
liberalismo; trata-se, portanto, de uma ideologia de direita. Ele vai
além da ideia de Estado mínimo do neoliberalismo, propondo a
dissolução do Estado e a privatização de todos os serviços, logo está
localizado mais à direita de outras correntes liberais, ocupando
uma posição radical dentro desse arco ideológico.

Anarcocapitalismo utilitarista
O maior representante do anarcocapitalismo de vertente utilitarista é o
economista David Friedman, da Escola de Chicago. Diferentemente de
Rothbard, que ancora sua idealização de uma sociedade anarcocapitalista
no Direito Natural (jusnaturalismo), Friedman ancora sua idealização de
uma sociedade anarcocapitalista no utilitarismo, isto é, nas vantagens
econômicas, em uma perspectiva racional de maximizar os benefícios e
diminuir os custos, portanto norteada pela eficiência econômica, e não
por direitos individuais.
O David
Friedman é o nome mais conhecido da vertente utilitarista do
anarcocapitalismo. [1]
A crítica de Friedman ao Estado assenta-se na justificativa da ineficiência,
e não na moralidade ou imoralidade das intervenções estatais. Para
Friedman, conflitos deveriam ser resolvidos por meio da arbitragem, isto
é, por agências de leis privadas, fora de um Poder Judiciário. Tribunais
privados concorreriam entre si e apresentariam diferentes legislações,
assim, as empresas de segurança contratariam os tribunais conforme a
legislação preferida pelos seus clientes.
Acesse também: Contratualismo – teoria pautada no contrato social
Anarcocapitalismo e libertarianismo
Rothbard, pai do anarcocapitalismo, era considerado um
libertário, embora de formação liberal e influenciado pelo liberalismo de
von Mises, sob as premissas do laissez-faire, isto é, o Estado provendo
somente uma gama restrita de serviços, como defesa e proteção.
A partir de certo ponto, Rothbard concluiu que mesmo esses serviços
poderiam ser ofertados pela iniciativa privada, logo não haveria
necessidade de manter o aparato estatal sob nenhuma justificativa. Essa é
a diferença básica entre liberalismo e libertarianismo.
No liberalismo, ainda que o Estado seja reduzido, permanece com o
monopólio do uso da força. O libertarianismo rejeita esse monopólio e
prega que toda e qualquer atividade seja realizada no âmbito do livre
mercado|1|.
Dentro do anarcocapitalismo, existem diversas correntes de
libertarianismo. Algumas compatíveis entre si, outras não.
A corrente utilitarista e a corrente jusnaturalista, por exemplo, são
divergentes. A primeira não parte de uma ética comum, mas da ideia de
custo-benefício de múltiplas legislações, e a segunda é guiada por um
princípio (não agressão) considerado universal e que não poderia ser
quebrado, ainda que isso fosse considerado útil por um grande número
de pessoas.
Há também os libertarianistas brutalistas, os gradualistas e
os agoristas. Os primeiros pregam uma extinção imediata do Estado; os
segundos, uma extinção gradual, valendo-se, inclusive, de votar em
eleições, apoiar privatizações e de ocupar posições para modificá-lo por
dentro; e os últimos são os que, em alguma medida, boicotam as leis e
impostos, sonegando, participando de transações paralelas etc.

Anarcocapitalismo e anarquismo
O anarcocapitalismo não guarda relação com o anarquismo histórico,
porém seu principal teórico, Rothbard, foi influenciado por alguns
anarquistas estadunidenses do século XIX de vertente individualista, tais
como Benjamin Tucker e Lysander Spooner. Embora possuam em sua
nomenclatura o radical comum, anarcocapitalismo e anarquismo contêm
ideais não só distintos, mas também opostos.
No anarquismo, a liberdade de iniciativa e de associação é permeada
pelo desenvolvimento do indivíduo – em múltiplos aspectos – por meio
da experiência coletiva em agrupamentos voluntários. Não se trata de
uniformidade, mas de uma harmonia na equalização entre direitos iguais
e liberdade individual.
Em uma sociedade anarquista, a abolição do Estado seria substituída por
livre acordo entre iguais por intermédio de associações e federações,
sem que houvesse governantes e governados, patrões e empregados ou
qualquer outro tipo de autoridade legitimada por alguma forma de
coerção.
Além disso, o anarquismo é anticapitalista e é uma ideologia de
esquerda. O anarcocapitalismo, por sua vez, é uma ideologia de direita,
pautada pelo individualismo e pelo livre mercado, identificando nesses
dois pilares a expansão máxima da liberdade. Portanto, o único ponto
convergente entre essas duas ideologias é o antiestatismo. Para saber
mais sobre a teoria política que visava ao fim do Estado e do capitalismo,
leia nosso texto: anarquismo.

O anarcocapitalismo funciona?
O anarcocapitalismo é uma teorização filosófica, política e econômica, a
construção de um modelo, um tipo idealizado de sociedade de matiz
ultraliberal. Não há experiências práticas de anarcocapitalismo.
Embora alguns de seus adeptos evoquem exemplos de sociedades
antigas em que não havia Estado, uma sociedade orientada por esse
ideário não existe e nunca existiu.
Trata-se de uma utopia política que só pode ser avaliada como se
existisse no campo da imaginação. Se imaginássemos como seria uma
sociedade anarcocapitalista, não demoraríamos muito para
encontrar dificuldades metodológicas:
 Seria possível manter a coesão social em uma sociedade que não
tivesse uma lei comum?
 Como as demandas seriam resolvidas em tribunais privados com
legislações distintas se cada parte tivesse diferente orientação
ideológica e diferente condição financeira?
 Em situações de crise, tais como guerras e epidemias, o livre
mercado teria condições de suprir as necessidades que se
apresentassem?
 Se é o Estado a instituição que garante a posse de propriedade e as
liberdades individuais, quem garantiria legalmente a posse de
propriedade e as liberdades?
 O funcionamento da lei de oferta e demanda impediria a formação
de oligopólios?
 Quem tivesse menores rendimentos em uma sociedade
anarcocapitalista ficaria impedido de desfrutar de bens e serviços?
 Em um contexto de segurança privada, como se asseguraria que o
princípio da não agressão seria respeitado em todas as
circunstâncias?
 A associação entre pessoas para pagamento de um serviço comum
(tratamento de praças, limpeza de ruas, etc.) se daria de forma
totalmente voluntária ou impositiva à semelhança dos impostos?
Na prática, seria muito difícil que uma sociedade totalmente
desregulamentada e descentralizada tivesse condições de equalizar os
inúmeros conflitos entre seus membros, o que se tornaria ainda mais
inviável sem uma legislação comum e uma mediação comum em
questões de justiça e segurança, por exemplo.
Além disso, os desníveis de capacidade aquisitiva excluiriam um grupo de
pessoas do acesso aos serviços privados, e o objetivo primordial do
lucro poderia entrar em conflito com a finalidade de alguns serviços
essenciais – justiça e saúde –, por exemplo, e com circunstâncias de
calamidade, como pandemias e catástrofes naturais.
O anarcocapitalismo é uma doutrina política e econômica que prevê a
adoção da ética libertária, as teorias de livre mercado e a ausência
completa da centralização administrativa do Estado e da cobrança de
impostos.

A perspectiva libertária do anarcocapitalismo considera a taxação de


impostos como um roubo injustificável, defendendo um sistema de
tributação zerado, a não ser que a tributação seja amplamente
acordada por todas as partes pagantes, deixando de ser imposto e
tornando-se contribuição.

Os serviços básicos, como educação, saúde e segurança, devem ser


prestados apenas pela iniciativa privada, o que gera a maioria das
críticas ao sistema, considerando que não há modo eficiente para as
classes mais baixas, que acabam dependendo da beneficência dos mais
ricos.

Veja também: Neoliberalismo – visão econômica que visa diminuir ao


máximo a participação estatal na economia

Diferença entre anarcocapitalismo e


libertarianismo

Essencialmente, os dois termos são diferentes. O libertarianismo é uma


postura ética e moral que pressupõe que qualquer violação da
propriedade privada e da liberdade individual é uma violação grave de
direitos. Segundo o libertarianismo, não deve haver regulação pública
da vida, a não ser a regulação das leis de mercado.
A bandeira anarcocapitalista é composta pela cor amarela, que
representa a riqueza do capital, e pela cor preta, que representa o
anarquismo.
Já o anarcocapitalismo é uma doutrina política e econômica que adota
o libertarianismo como princípio ético, aplicando a exclusão do Estado
como modo de aplicar a ética libertária. A regulação do livre mercado é
a livre economia absoluta, e todas as ações devem ser ações voluntárias.
Todo e qualquer acordo e negociação deve ser voluntariamente
acordado pelas partes, e qualquer tipo de administração estatal
centralizada vai contra a ação voluntária do mercado.

Os fundamentos do anarcocapitalismo apontam que o Estado é uma


instituição ilegítima. As forças policiais, que, na teoria tradicional do
Estado, possuem o legítimo uso da força, devem ser privatizadas e de
trabalho fornecido por polícias privadas, que são verdadeiras milícias
organizadas pela livre iniciativa.

Anarcocapitalista é de direita ou de esquerda?


Há um intenso debate entre os próprios libertários e anarcocapitalistas
sobre se esse modelo é de direita ou de esquerda. No entanto, é
necessário esclarecer, para encerrar a dúvida, que, economicamente, o
anarcocapitalismo é de direita.

Os movimentos de esquerda, como o socialismo, o anarquismo e a


social-democracia, são movimentos anticapitalistas (no caso do
socialismo e do anarquismo) e a favor de um Estado de bem-estar social
(como no caso da social-democracia). Todos eles são contra
o liberalismo econômico ou qualquer doutrina econômica liberal.

Uma das representações do anarcocapitalismo, que mostra uma


cascavel, com a legenda “Não pise em mim”.
O anarcocapitalista é a favor do capitalismo e do livre mercado.
Economicamente, está posicionado a favor de um sistema de
manutenção da ordem econômica capitalista, defendendo a liberdade
econômica irrestrita. A diferença entre um anarcocapitalista e um liberal
é que a doutrina liberal necessita do Estado para a manutenção do plano
econômico, enquanto o anarcocapitalismo é contra a imposição de
qualquer força estatal.

Leia também: Regime de governo - modo como um governo estabelece


suas formas de poder

Anarcocapitalismo e anarquismo

O anarquismo é um movimento político socialista que defende


a deposição e exclusão total do Estado e a queda do capitalismo. A
gestão dos recursos deve ser, segundo os anarquistas, feita pela
autogestão democrática, que ocorre por meio de assembleias e grupos
organizados. No anarquismo não há governo, não há Estado e não há
centralização administrativa. Para o anarquismo, não pode haver
hierarquia social, não havendo, portanto, distinção de classes sociais.

O anarcocapitalismo parte de uma razão parecida com a lógica


anarquista em relação ao Estado. Os anarcocapitalistas defendem o fim
do Estado e a ausência de qualquer centralização adminstrativa, no
entanto, eles são a favor do capitalismo. As forças policiais devem existir,
mas são grupos organizados e concorrentes da iniciativa privada, e há a
hierarquia de classes sociais legitimada pela lógica de acúmulo de
capital e da iniciativa privada. Para saber mais sobre o movimento
político que inspirou o anarcocapitalismo, leia: Anarquismo.
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A propriedade privada no anarcocapitalismo

Os anarcocapitalistas defendem a propriedade privada estabelecida de


duas maneiras:
 Autopropriedade: cada indivíduo é proprietário do seu corpo e pode
usufruir dele da maneira que bem entender, desde que não infrinja a
propriedade alheia. Com isso, cada indivíduo é dono de sua própria
sorte, podendo trabalhar livremente, adquirir capital e comprar as
propriedades alheias, desde que por livre consentimento de
comprador e vendedor.

 Propriedade original: um bem natural sem donos (uma terra, por


exemplo) pode ser adquirido por alguém que chegue ao local
primeiro e aproprie-se dele. O proprietário original tem o pleno direito
de apossar-se de um bem que não tenha proprietário, tornando-se ele
mesmo proprietário daquele bem.

Anarcocapitalismo utilitarista

O utilitarismo é uma teoria moral fundamentada, pela primeira vez,


pelos filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Para os
utilitaristas, o princípio da utilidade deve reger as ações morais, sendo
que a ação moral é aquela que gera maior benefício ao maior número de
pessoas e menor prejuízo ao menor número de pessoas. No século XX,
passou-se a associar o utilitarismo às relações econômicas e políticas.

O teórico libertário David Friedman é um defensor do anarcocapitalista


utilitarista. Para ele, o Estado deve ser extinto dando lugar à livre
economia por uma questão utilitária prática: o sistema
anarcocapitalista é mais vantajoso. Isso gera questionamentos, inclusive,
entre os anarcocapitalistas, que, em geral, são contra o Estado por
considerá-lo essencialmente ilegítimo e violento.
Murray Rothbard, um
economista da Escola Austríaca e um dos principais teóricos do
libertarianismo e do anarcocapitalismo.

O anarcocapitalismo funciona?

Essa questão controversa é mantida desde o século XX. Os


anarcocapitalistas defendem a superioridade dessa doutrina econômica
e dizem que as experiências liberais não deram tão certo por tratarem-se
de estruturas com Estado centralizado. No entanto, não existem
grandes exemplos contemporâneos de sistemas anarcocapitalistas
exitosos.
O anarcocapitalismo é criticado pelos anarquistas (anarquistas
socialistas), que são contra o capitalismo, pelos liberais, que são a favor
do Estado, e por algumas vertentes do libertarianismo favoráveis a um
Estado limitado.

Um exemplo de implantação de um sistema anarquista ocorreu


na Somália, entre 1991 e 2006, onde não houve um governo centralizado
que mantivesse o domínio sobre todo o território. Nesse tempo, pôde-se
constatar um crescimento econômico com base em empresas que
funcionaram sem qualquer tipo de regulação estatal.

No entanto, a miséria e a violência cresceram substancialmente.


Alguns defensores do anarcocapitalismo defendem que a Somália não é
um exemplo de país anarcocapitalista, considerando que ela foi
dominada por milícias e facções que cresceram a ponto de dominar e
implantar sistemas de dominação análogos as estatais, e que a violência
teria crescido justamente por essa dominação.

Outros defendem que a ausência de governo e, consequentemente, de


Estado promoveram um anarquismo na Somália. Esse anarquismo,
somado à livre iniciativa de mercado, promoveu a breve formação de um
país anarcocapitalista.

Outro exemplo é o da microrregião de Liberland, um território de sete


quilômetros quadrados situado entre a Croácia e a Sérvia. O território
deveria ser dividido, historicamente, entre croatas e sérvios, porém
nenhuma das duas nações reivindicou efetivamente a posse da terra. Em
2015, a independência da microrregião foi proclamada pelo atual
presidente Vit Jedlička, que estabeleceu as bases de uma nação
anarcocapitalista no local.

É difícil dizer se o anarcocapitalismo realmente funciona, pois é


uma teoria política ainda muito recente. Assim como o anarquismo e o
comunismo, o anarcocapitalismo não foi, de fato e em suas raízes,
implantado em nenhuma grande nação. Muitos consideram o
anarcocapitalismo tão utópico quanto o anarquismo e o comunismo, e,
ao que parece, por um olhar histórico consciente, essa é uma visão bem
realista.

Você provavelmente já ouviu falar sobre anarquismo, e, caso não tenho ouvido,
temos um texto pra te explicar esse conceito. A ideologia anarquista contém
algumas vertentes (como o anarquismo individualista, anarquismo coletivista),
e o anarcocapitalismo é uma delas. Não conhece? Calma que neste texto a gente
te explica.

No que consiste o anarcocapitalismo?


De acordo com o professor e autor alemão, Antony Mueller em Fundamentos Do
Anarco-Capitalismo (2018), esta ideologia é contrário a qualquer controle ou
interferência do Estado na sociedade e defende um sistema de livre comércio. O
objetivo é proteger a soberania de cada indivíduo. O Estado é visto como uma
forma de controle comportamental e executor próprio de violência, o que seria
uma contradição à existência de direitos pessoais, pois além de interferir na área
econômica, também interfere na vida pessoal dos cidadãos.
A ideologia tem como princípio a crença de que todos já nascem com um conjunto
de direitos naturais, que são:
1- direito à vida (auto propriedade);
2- direito de não-agressão – seres humanos devem ser livres de violência
cometida por indivíduos ou pelo próprio estado, além da proibição de imposições
sobre outras pessoas ou o que elas possuem;
3- direito à propriedade privada – só é possível obter uma propriedade através do
trabalho, apenas a demarcação de território não é suficiente, mas sim trabalhar no
território e ocupá-lo antes de qualquer outra pessoa.
O anarcocapitalismo acredita que o Estado é um monopólio que causa
desordem social, além de dívidas fiscais. Essas circunstâncias não dão espaço
para um capitalismo legítimo. Para que isso seja corrigido, os anarcocapitalistas
defendem a substituição da “organização” de estruturas de comando
implementada pelo Estado (baseada em estruturas hierárquicas e burocráticas,
pautadas em metas), por “’ordem” na sociedade (sistema de regras baseadas no
conjunto de direitos naturais do ser humano, sem intervenção política).

Gradualistas e Brutalistas
Os anarcocapitalistas se dividem em “gradualistas” e “brutalistas”.
Gradualistas defendem maior número de privatizações e redução de impostos a
partir da participação na democracia, com o intuito de diminuir o Estado
gradativamente. Como representação desse grupo no Brasil, existe o Partido
Libertários (LIBER).
Já o lado brutalista, defende que não é possível realizar a eliminação do Estado
de forma gradual, mas de uma única vez, pois esse pode aumentar seus poderes
de outras formas e não ser eliminado, esse conceito é baseado nas ideias de
Hans-Herman Hoppe (1949-), filósofo e economista brutalista.

Como o anarcocapitalismo surgiu?


O anarcocapitalismo surgiu dentro do movimento Liberal com influência da Escola
Austríaca (pensamento econômico criada no final do século XIX, contestava a
metodologia científica utilizadas nas teorias da economia clássica) e do
Anarquismo.
Suas ideias primárias surgiram pela primeira vez durante a segunda metade do
século XX, com a reformulação do liberalismo econômico feito pelo economista
austríaco Ludwig von Mises (1881-1973). Mas foi Murray Newton Rothbard (1926-
1995), economista norte-americano e integrante da Escola Austríaca de
Economia,, o responsável por teorizar o anarcocapitalismo.

Como funciona uma sociedade anarcocapitalista?


De acordo com o professor e autor alemão, Antony Mueller, os pilares de uma
sociedade anarcocapitalista são:

A Demarquia
O anarcocapitalismo deseja a eliminação da classe política, assim, defendem a
escolha de representes do povo por acaso, através de um sorteio denominado
Demarquia. Os representantes selecionados formariam a Assembleia Legislativa e
teriam papel representativo e participativo. Essa assembleia é responsável pela
contratação das empresas privadas que cuidariam dos sistemas de saúde,
educação etc.
Os benefícios da Demarquia são:
 nenhum partido político;
 candidatura de pessoas comuns;
 rotatividade – os representantes passariam um curto período no poder e depois
voltariam a suas vidas privadas;
 redução de custo com aparelho político, além da eliminação de qualquer gasto
com campanhas eleitorais.

Organização a partir de instituições privadas


Por ser anti-estatal e antigovernamental, o anarcocapitalismo deseja que
instituições privadas administrem o país sem a cobrança de impostos ou políticas
de preços. Essas instituições seriam responsáveis por serviços e bens que a
sociedade precisa, como o sistema se saúde, sistema de segurança, educação,
sistema judicial, assim como todas as outras funções que hoje são estatais.
As empresas privadas estariam oferecendo seus serviços em um mercado
competitivo, para satisfazer as necessidades e demandas da população. Na teoria
anarcocapitalista, a competição por clientes produz serviços mais baratos e com
qualidade mais elevada do que as administrações estatais. As empresas que se
destacassem passariam de oferecer serviços em municípios, estados, até chegar
ao nível de todo o território nacional.
De acordo com a teoria, em uma ordem anarcocapitalista não haveria impostos,
logo, os salários líquidos aumentariam e os preços de produtos iriam diminuir,
resultando em um aumento geral da riqueza da população. O anarcocapitalismo
afirma que o Estado não permite que o indivíduo crie sua riqueza, então não é
possível ter um capitalismo livre e genuíno com a participação do governo.

Implementação
Não pode ser implementado através da força, pois tem como princípio a não-
agressão. Por isso, para ser legitimado em uma sociedade, só pode acontecer por
ação voluntária dos cidadãos, através da autolibertação do indivíduo e de seus
deveres impostos pelo Estado.

Liberdade individual
A liberdade individual é altamente respeitada. Na ideologia anarcocapitalista, são
válidas apenas leis que estejam em harmonia com a natureza humana, assim, não
é necessário que exista legislações estatais para reforçá-las. A existência de todas
as outras leis que não fazem parte da natureza humana, são tidas como forma de
coerção realizada pelo Estado.
Neste sistema, é defendido uma cooperação de forma horizontal entre os
indivíduos, e não uma coordenação hierárquica de atividades, como existe no
governo atual. Todas as regras sociais não devem infringir o direito da propriedade
pessoal, assim o “direito da maioria” para governar um indivíduo é tido como
ilegítimo. Além disso, com base no princípio de não coerção, defendem a livre
posse de armas.

Qual a diferença entre Anarquismo e Anarcocapitalismo?


O anarquismo se divide em político e filosófico, o político: age por meio de
ativismo, o filosófico: acredita em meios de privatizações e mudança de opinião
pública. O anarcocapitalismo faz parte da vertente filosófica e se opõem somente
ao Estado, e não a grandes instituições privadas.
Diferente do anarquismo político, o anarcocapitalismo se baseia na economia e
não tem como objetivo promover a propriedade comum ou igualdade de renda.
Ele se sustenta a partir da ideia de que: se o capitalismo for livre, as
desigualdades de renda acabarão em algum momento, devido a ao alto progresso
técnico da sociedade.

Exemplos de sociedade anarcocapitalista


O anarcocapitalismo ainda é utópico e não foi colocado em prática em nenhum
país. Mas, como referência existe a sociedade da Inslândia na era medieval (930
a 1264 dC) onde os cidadãos viviam praticamente sem Estado, infrações
cometidas deviam ser pagas em dinheiro para os indivíduos prejudicados. O oeste
americano no século XIX e a Inglaterra anglo-saxônica também podem servir de
referência de uma sociedade próxima do sistema anarcocapitalista.

Argumentos favoráveis
De acordo com o defensor do anarcocapitalismo, Murray Rothbard, esse sistema
proporciona maior desenvolvimento econômico para o país, pois não é
possível que a economia prospere sobre restrições tributárias. Ao privatizar a
administração pública, não haveria impostos e devido a isso, a renda da
população pobre aumentaria e o custo de vida se tornaria mais barato.
Rothbard ainda argumenta que os serviços como educação e saúde seriam de
maior qualidade, devido a competitividade entre as empresas privadas. E sem
governo, o indivíduo seria livre de violações, pois não tem que responder com
suas obrigações impostas pelo Estado, como o alistamento obrigatório, por
exemplo.

Argumentos contrários
Thomas Meyer, cientista político alemão, argumenta que o anarcocapitalismo não
abole o Estado, mas apenas privatiza suas funções. Assim, o indivíduo teria a
falsa sensação de liberdade, porém o contexto de dominação continuaria, só que
através de empresas privadas.
Segundo Harry Binswanger, filósofo americano, o capitalismo requer Estado, o
passo certo é um sistema que limite o governo para que ele seja restringido por
uma Constituição e não completamente abolido, como deseja o
anarcocapitalismo. Outra preocupação apontada é de que o capitalismo mantém
uma estrutura de classes, empresas operando fora do Estado ficam livres para
alterar as condições do trabalhador, o que poder resultar em uma forma de
opressão.

O Anarcocapitalismo é um conjunto de doutrinas éticas,


políticas, filosóficas e econômicas que compreendem uma ordem
social sem Estado. Mas a “anarquia” anarcocapitalista não é
sinônima de caos, haveria uma organização voluntária na
sociedade. Pode ser mais bem compreendido quando chamado
de Ordem Livre ou, Ordem Natural, como o economista,
cientista político, sociólogo e filósofo Hans-Hermann Hoppe
esclarece.
A base ética para os anarcocapitalistas jusnaturalistas é o
Princípio de Não Agressão (PNA), já conhecido por ser usado por
liberais clássicos como John Locke e Ludwig Von Mises. Para os
defensores da Ordem Natural, o Estado é antiético porque
necessariamente precisaria cometer agressão para existir,
como, por exemplo, quando sujeita os cidadãos ao pagamento
de impostos contra sua vontade, ou mesmo de sua submissão
compulsória, que impede a sua separação do Estado, a
secessão. Não importa se o Estado é ou não eficiente no que se
propõe a fazer, ele seria simplesmente ilegítimo. Este tipo de
Anarcocapitalismo foi idealizado inicialmente pelo economista,
historiador e filósofo político Murray N. Rothbard, da Escola
Austríaca de Economia.

Bandeira do anarcocapitalismo: o amarelo representa o capitalismo, e o preto a anarquia.

Há ainda o Anarcocapitalismo Utilitarista, desenvolvido


pelo economista e PhD em Física, David Friedman, da Escola de
Economia de Chicago, não necessita se basear em princípios
éticos, tendo como ponto inicial a ineficácia do Estado e vendo
no livre mercado uma melhor efetividade em fornecer os
serviços hoje estatizados, sejam eles quais forem, e
possibilitando melhor florescimento para a autonomia humana.
Princípios anarcocapitalistas incluem o Capitalismo de Livre
Mercado, modelo econômico que propicia total autonomia para
negociação entre empregadores e funcionários e ainda para
trocas comerciais; a não existência de propriedade intelectual e
a liberdade de expressão ilimitada (o indivíduo poderia propagar
as idéias que bem quisesse em sua plataforma ou na plataforma
voluntariamente cedida por alguém), e a ainda, a
descentralização da Justiça, onde juízes reconhecidos pelo povo
poderiam julgar causas respeitando os direitos naturais do
homem.
Em geral, os anarcocapitalistas costumam se diferenciar entre
“gradualistas” e “brutalistas”. Os gradualistas acreditam em
participação na democracia para reduzir o Estado, por exemplo,
privatização de estatais e corte de impostos, e votar em
candidatos que menos se distanciam das idéias libertárias,
diminuindo o Estado dentro de suas próprias possibilidades
legais, até que ele chegue ao fim. Já os brutalistas não
acreditam que seja possível o fim do Estado gradualmente,
acreditam que o aparato estatal poderia voltar atrás em sua
diminuição, aumentando seus poderes através de outros meios
e nunca chegando ao seu fim, que só poderia ocorrer de uma só
vez.
No Brasil, é comum o uso do termo “libertário” como sinônimo
de “anarcocapitalista”. Mas a origem do termo, do inglês,
“libertarian”, inclui tanto os anarcocapitalistas como os
minarquistas ou liberais, que defendem que o Estado seja
limitado. Obras anarcocapitalistas que podem ser facilmente
encontradas no Brasil e que esclarecem bem seus princípios são
“Democracia, o Deus que falhou” de Hoppe, onde o autor
compara o sistema político da Monarquia, da Democracia e da
Ordem Livre; e “A Anatomia do Estado” de Rothbard, onde o
economista conclui que o Estado é uma instituição violadora de
direitos, que se utiliza de uma falsa preocupação com o cidadão,
devasta a liberdade e a civilização, ameaça a vida e a
propriedade e também o bem-estar social.

Os libertários costumam defender seu credo em duas bases, uma ética e


outra econômica. Esse texto tem a intenção de mostrar como a base
econômica sobre a qual os anarcocapitalistas se sustentam está errada. A
reação natural de grande parte dos libertários diante dos pontos que serão
levantados no texto é se esconder atrás de uma ética deontológica. Mas, ao
lê-lo, os libertários não podem mais dizer honestamente que uma sociedade
libertária gera o melhor arranjo econômico possível.
Ao longo do texto, vou basicamente apontar a existência de falhas de
mercado, e como o governo pode melhorar o bem-estar social ao interferir
no mercado. Vou apontar a existência de cinco grandes blocos de falhas de
mercado: externalidades, problemas de coordenação, monopólios naturais,
escolhas irracionais e informações assimétricas.

1. Externalidades
Uma externalidade existe quando uma terceira parte é afetada durante uma
troca entre dois agentes. Por exemplo, uma empresa produz um produto
qualquer que despeja como subproduto resíduos tóxicos em um rio,
contaminando a água. Os compradores desse produto que moram longe do
rio são apenas beneficiados com esse arranjo, ao passo que as pessoas que
residem ao longo do rio são prejudicadas com tal sistema produtivo, já que
não podem mais utilizar o rio para qualquer atividade produtiva, como a
pesca, pois os peixes morrem todos.
Murray Rothbard, ciente desse tipo de problema, criou uma regra de ordem
prática para resolvê-lo: aquele que se estabelecer primeiro no local tem o
direito à produção da externalidade ou à compensação pela externalidade.
Se a empresa se estabeleceu antes na margem do rio, ela tem o direito de
produzir a poluição que for, já se se estabeleceu depois, ela tem o dever de
pagar pelo prejuízo causado aos ribeirinhos, ou, em última instância, ser
fechada.
Ocorre que essa é uma solução de ordem jurídica que não necessariamente
produz o melhor arranjo econômico. A solução que produz o melhor
resultado no bem-estar social é aquela que iguala os custos marginais
sociais aos custos marginais privados. O arranjo encontrado por Rothbard é,
portanto, ineficiente do ponto de vista econômico.
Pode-se argumentar que pode-se chegar no arranjo eficiente através apenas
de trocas no mercado. Esse é o famoso Teorema de Coase. Ocorre que a
condição que o teorema estabelece para se chegar num arranjo privado
eficiente é a ausência de custos de transação, e isso pode nem sempre
ocorrer na prática. Por isso que o Teorema de Coase se aplica a um conjunto
restrito de situações, como o caso de um fazendeiro vizinho de um apicultor.
Em todas as demais situações, uma terceira parte deve estabelecer regras
que forcem os custos privados a igualarem-se aos custos sociais. Essa
terceira parte se chama Estado e a principal forma utilizada para se chegar
no arranjo economicamente eficiente se chama imposto sobre a produção
marginal.

Enquanto o custo marginal social (MSC) diferir do custo marginal privado (MPC), há perda
de bem-estar social.

oo
O exemplo utilizado é um caso de externalidade negativa, mas existem
também casos de externalidades positivas. Neste caso, os benefícios
marginais sociais diferem dos benefícios marginais privados, e o governo
pode melhorar a situação através de subsídios ou provimento direto do bem
ou serviço. Nosso site já fez um texto muito esclarecedor sobre a existência
de externalidade positiva no campo da pesquisa em ciência e como essa
situação pode ser analisada graficamente.

Outro exemplo de externalidade positiva é o provimento de educação básica.


O provimento de educação na primeira infância está correlacionado com
maior inteligência, maior produtividade, menores índices de criminalidade,
uso de drogas e gravidez na adolescência (fonte). Todos esses efeitos
geram spillovers em toda a sociedade. O benefício marginal social de se
oferecer educação básica é maior que o benefício marginal privado se tal
serviço fosse oferecido pelo mercado. Daí a necessidade da educação
compulsória e universal promovida pelo governo.
Mas a externalidade mais importante de todas no mundo de hoje, de longe, é
a externalidade do aquecimento global. Aquecimento global é uma
externalidade porque os principais afetados pelas atividades que causam tal
fenômeno (as pessoas que ainda não são nem nascidas) não participam das
atividades. A única reação dos libertários diante desse imenso problema é a
sua negação, pois eles sabem que apenas um conjunto de ações
intergovernamentais poderia resolvê-lo. Ao fazer isso, libertários não diferem
em nada dos terraplanistas. A quantidade de evidências a favor das
mudanças climáticas é aterradora. Uma breve olhada na Wikipedia basta
para conhecer tais evidências. São elas:
 O aumento na temperatura da atmosfera sobre terras e mares.
 O aumento no nível de umidade atmosférica, possível graças à capacidade
do ar quente de reter mais vapor de água de do que o ar frio.
 A retração da vasta maioria das geleiras.
 A diminuição da área coberta por neve.
 A retração do gelo oceânico global.
 Migração de muitas espécies animais e vegetais de climas mais quentes em
direção aos pólos, ou a altitudes mais elevadas.
 O aumento da temperatura do mar, com o resultado de elevar-se o seu nível
pela expansão térmica.
 O adiantamento da ocorrência de eventos associados à primavera, como as
cheias de rios e lagos decorrentes de degelo, brotamento de plantas e
migrações de animais.
As mudanças climáticas são definitivamente o calcanhar de Aquiles dos
libertários, por isso a ânsia deles em negá-las veementemente.
Em que áreas a existência de externalidades justifica a intervenção do
governo?
 Regulamentação ambiental: o Estado deve regular a poluição de rios,
mananciais, lagos e mares; a destruição da fauna e da flora; a poluição
atmosférica.
 Combate às mudanças climáticas: O Estado deve se comprometer a frear a
emissão de gases do efeito estufa e subsidiar a substituição de energia
obtida de matriz poluidora por energia obtida de fonte limpa.
 Subsídio e/ou provimento direto de educação básica e universal.
 Subsídio e/ou provimento direto de saúde básica e universal. Ademais, o
Estado deve combater as epidemias e prover vacinação compulsória e
universal.
 Subsídio à pesquisa básica.

2. Problemas de coordenação
Problemas de coordenação são casos em que todos concordam que uma
determinada ação seria a melhor, mas o livre mercado não pode coordená-
los para tomar essa ação.
Para deixar claro o que quero dizer, segue abaixo um trecho traduzido e
levemente adaptado da FAQ Não-Libertária feita por Scott Alexander:
Como um experimento mental, considere a atividade de piscicultura (criação
de peixes) em um lago. Imagine um lago com mil piscicultores. Cada
piscicultor aufere um lucro de R$ 1000/mês. Até aqui tudo bem. Ocorre que
cada fazenda de peixes produz resíduos que poluem a água no lago.
Digamos que cada piscicultor produz poluição suficiente para reduzir a
produtividade no lago em R$ 1/mês.
Mil piscicultores produzem resíduos suficientes para reduzir a produtividade
em R$ 1000/mês, o que significa que nenhum dos piscicultores está
ganhando dinheiro. Então alguém inventa um complexo sistema de filtragem
que remove resíduos, que custa R$ 300/mês para operar. Todos os
piscicultores a instalam voluntariamente, a poluição acaba, e eles agora
estão lucrando R$ 700/mês.
Mas um piscicultor (vamos chamá-lo de Pedro) se cansa de gastar o dinheiro
para operar seu filtro e decide não pagar pelo filtro. Agora a produtividade do
lago está reduzida em R$ 1 para cada piscicultor. Pedro ganha R$ 999 de
lucro e todo mundo ganha R$ 699 de lucro.
Todo mundo vê que Pedro é muito mais lucrativo do que os demais, porque
ele não está gastando com os custos de manutenção do filtro. Eles resolvem
também desconectar seus filtros. Uma vez que quatrocentas pessoas
desconectam seus filtros, Pedro está ganhando US R$ 600/mês — menos do
que seria se ele e todos os outros tivessem mantido seus filtros! E os pobres
usuários de filtros virtuosos estão ganhando apenas R$ 300. Pedro então
tem uma ideia, reúne todos e diz: “Espere! Todos nós precisamos fazer um
pacto voluntário para usar filtros! Caso contrário, a produtividade de todos
diminui.”
Todos concordam com ele, e todos assinam o Pacto dos Filtros, exceto uma
pessoa. Vamos chamá-lo de João. Agora todos estão usando filtros
novamente, exceto João. João ganha R$ 999/mês e todo mundo ganha R$
699/mês. Lentamente, as pessoas começam a pensar que elas também
deveriam estar ganhando muito mais dinheiro, como João, e desconectam
seu filtro por um lucro extra de R$ 300.
A moral da história é que uma pessoa auto-interessada nunca teria qualquer
incentivo para usar o filtro. Uma pessoa auto-interessada tem algum
incentivo para assinar um pacto para fazer com que todos usem o filtro, mas
em muitos casos tem um incentivo mais forte para esperar que todos os
outros assinem tal pacto, exceto ela própria. Isso pode levar a um equilíbrio
indesejável no qual ninguém assinará tal pacto.
A solução mais razoável para esse problema é que um agente ascenda e
imponha como obrigatório o uso do filtro para todo mundo. Esta solução
regulatória leva a uma maior produtividade total para as mil pisciculturas do
que um mercado livre.
A solução libertária clássica para esse problema é tentar encontrar uma
maneira de privatizar o recurso compartilhado (neste caso, o lago). Foi
intencionalmente escolhido a piscicultura para este exemplo porque a
privatização não funciona. Mesmo depois de todo o lago ter sido dividido em
parcelas e vendido a proprietários privados (proprietários de água?), o
problema permanece, pois os resíduos se espalharão de uma parcela para
outra, independentemente dos limites de propriedade.
Retorno aqui de novo. Pois bem, onde ocorre problemas de coordenação no
mundo real? As mudanças climáticas são um exemplo. É de interesse de
cada nação que todas as demais assinem um pacto restringindo a emissão
de gases do efeito estufa, exceto ela própria. Assim, ela obterá o benefício
com poucas mudanças climáticas ao mesmo tempo que obterá o benefício
de poder poluir sem restrição alguma. É por isso que os acordos climáticos
fazem pouco pela desaceleração das mudanças climáticas. Há claramente
um problema de coordenação.
Outra área em que há problemas de coordenação são os bens públicos.
Estes merecem um tópico especial.

2.1. Bens Públicos


Bens públicos são bens que não são nem rivais e nem excludentes. Bens
rivais são bens cujo consumo por parte de um agente diminui as
possibilidades de consumo por parte de outro; bens excludentes são bens
cuja legislação é capaz de torná-los propriedades de um único agente.
Exemplos de bens públicos são a defesa nacional, os bosques, as praças e a
iluminação pública. Todos esses bens são bens cujo usufruto por parte de
uma pessoa não impede que outra pessoa também a utilize, bem como são
bens cuja possibilidade de excluir aqueles que não pagam pela sua
produção ou manutenção é praticamente nula. Bens desse tipo, se providos
tão-somente pelo mercado, são sub-produzidos, pois estão passíveis ao
problema do carona.
O problema do carona caracteriza uma situação em que aqueles que não
pagam pelo fornecimento de um bem utilizam-no mesmo assim, de modo
que a sua produção é sub-ótima. A defesa nacional é o exemplo mais
característico de um bem público. Imagine que exista uma nação cujo
financiamento da defesa nacional seja feito em bases totalmente voluntárias.
Paga quem quer, e o quanto quiser. A ação mais racional do ponto de vista
de uma pessoa é não pagar nada, pois ela sabe que se pagar, o benefício
marginal que ela vai receber com uma melhoria marginal na defesa nacional
é menor que o custo marginal do desembolso. Fazendo isso, ela vai
desfrutar de uma defesa nacional gratuita do seu ponto de vista. Mas se
todos pensarem assim, apenas os mais altruístas, que colocam o bem social
acima do seu bem pessoal, contribuirão para o financiamento da defesa
nacional, gerando um provimento sub-ótimo desse serviço (isto é, um ponto
onde o custo marginal social não se iguala ao benefício marginal social). No
limite, se todas as pessoas agirem pensando apenas em si, não há defesa
nacional alguma. Como resolver essa situação, que é claramente um
problema de coordenação? Novamente, com a implantação de um agente
capaz de coagir todos os demais a pagar a cota necessária para igualar os
custos marginais aos benefícios marginais. Esse agente, no mundo de hoje,
se chama Estado.
Outro bem público importante, porém mais abstrato, é o conhecimento.
Como os libertários gostam bastante de enfatizar, ideias não são escassas,
pois uma vez produzidas elas podem ser utilizadas por qualquer pessoa sem
que isso impeça que outra as utilize. Na taxonomia acima exposta, ideias são
bens não-rivais. A princípio, ideias também são não-excludentes, pois uma
vez criadas, não se pode excluir qualquer pessoa de as utilizar. Assim, ideias
se configuram como um bem público. Portanto, como dita a boa economia, o
conhecimento (as ideias) é provido em um ponto sub-ótimo. Se é verdade
que numa sociedade libertária ausente de propriedade intelectual as ideias
estariam livres para serem utilizadas por qualquer pessoa, por outro lado
elas seriam sob-produzidas, pois ninguém teria incentivo para produzi-las. É
aí que entra o governo com a delimitação de direitos de propriedade,
tornando um bem que a princípio é não-excludente em um bem excludente.
O produtor do conhecimento passa assim a internalizar os benefícios da
produção de conhecimento (conhecimento também gera externalidades
positivas), o que aumenta o provimento de conhecimento na sociedade.
Em que áreas a existência de problemas de coordenação e bens públicos
justifica a intervenção do governo?
 Provimento de defesa nacional, bosques, praças, iluminação pública,
sistemas de controle de água (barragens e represas), estatísticas oficiais.
 Estabelecimento de direitos de propriedade intelectual (copyrights e
patentes).

3. Monopólios Naturais
Um mercado é eficiente no sentido de Pareto se seu preço se igualar ao seu
custo marginal. Monopólios naturais são mercados em que o escopo de
produção não permite com que o custo marginal se iguale ao preço, pois,
nesse ponto, o preço estaria abaixo da curva de custo médio, gerando
prejuízo para a empresa. Geralmente indústrias desse tipo são aquelas em
que os custos fixos são muito altos e os custos marginais são muito baixos.
Como exemplo, podemos citar a distribuição de energia elétrica, o
fornecimento de água, a distribuição de gás natural, sistemas de segurança
pública, serviços de transporte público e o sistema jurídico.
Nos monopólios naturais, o ponto em que a curva de demanda (D) encontra a curva de
custo marginal (MC) fica abaixo da curva de custo médio (ATC), de modo que se a
empresa igualar o preço ao custo marginal, ela terá prejuízos.

Se o monopólio for deixado por conta própria, o preço estabelecido será


Pareto-ineficiente. Se a empresa torná-lo Pareto-eficiente, isto é, igualar o
preço ao custo marginal, ela terá prejuízo e irá abandonar o mercado. O que
fazer então? A solução é ou a regulação ou o fornecimento direto por parte
do governo. No primeiro caso, regula-se o preço no ponto em que a curva de
demanda encontra a curva de custo médio, fazendo com a empresa não
tenha prejuízo e nem lucro econômico (apesar de ainda obter lucro contábil).
No segundo caso, geralmente iguala-se o preço ao custo marginal e cobre-
se o prejuízo resultante com um subsídio.
Novamente, para se alcançar a situação mais eficiente do ponto de vista
econômico, precisa-se da atuação do Estado.
Em que áreas a existência de monopólios naturais justifica a intervenção do
governo?
 Provimento direto ou regulamentação de energia elétrica, água tratada,
esgoto, gás natural, transporte público e serviços postais.
 Provimento de segurança pública e do sistema jurídico.
4. Escolhas Irracionais
A economia neoclássica sempre pressupôs que os agentes são racionais
(isto é: eles maximizam funções de utilidade dadas as restrições a que estão
sujeitos). A “economia libertária”, por assim dizer (a praxeologia, economia
de Mises e Rothbard), pressupõe algo muito parecido: o ser humano age
para sair de um estado de menor satisfação para um estado de maior
satisfação. A partir da década de 80 esses pressupostos foram cada vez
mais questionados por certos psicólogos e economistas. Esses
pesquisadores descobriram a existência do que veio a se chamar vieses
cognitivos, que são padrões de distorção de julgamentos e percepções que
fazem com que o indivíduo não aja racionalmente. O programa de pesquisa
que estuda a relação entre os vieses e o comportamento econômico é
chamado de economia comportamental, e este programa é cada vez mais
influente na academia, tendo já rendido dois prêmios Nobel a pesquisadores
dessa área (Kahneman e Thaler).
Um desses vieses é o viés do status quo, que faz com que o indivíduo prefira
o estado atual das coisas, mesmo se uma alteração de sua situação
proporcionasse um aumento no seu bem-estar. Um exemplo prático desse
viés é a escolha da opção de aposentadoria. Se a opção default é uma
pequena contribuição, tendo como consequência uma pequena
aposentadoria, a maioria dos trabalhadores escolhe essa opção. Por outro
lado, se a opção default é uma contribuição razoável, tendo como
consequência uma aposentadoria também razoável, a maioria dos
trabalhadores também escolhe tal opção.
Esse comportamento por parte dos trabalhadores é um enigma do ponto de
vista neoclássico e do ponto de vista praxeológico. Se os trabalhadores
preferem pequena contribuição/pequena aposentadoria, eles deveriam optar
por essa escolha sendo ela a opção-padrão ou não. Apenas a economia
comportamental dá conta de explicar esse fenômeno: as pessoas escolhem
a opção que gasta a menor quantidade de energia mental, a opção-padrão.
Para um estudo desse tipo de comportamento, veja esse artigo.
O governo pode interferir nesse resultado, colocando a opção-padrão como
aquela que mais gera resultados sociais benéficos (nesse caso, colocando a
opção-padrão como sendo contribuição razoável/aposentadoria razoável,
que gera maior taxa de poupança na economia e, portanto, maior
investimento).
O ponto é: se as decisões das pessoas não são aleatoriamente irracionais,
mas sistematicamente irracionais de maneira previsível, isso levanta a
possibilidade de que as pessoas conscientes dessas irracionalidades
possam fazer melhor do que a pessoa média em campos específicos onde
as irracionalidades são mais comuns, levantando a possibilidade de que a
ação governamental para “guiar” a melhor ação individual possa às vezes
ser justificada.
Em que áreas a existência de escolhas irracionais justifica a intervenção do
governo?
 No sistema previdenciário: as pessoas são sistematicamente míopes e
enviesadas quando se trata de se providenciar para o futuro distante. O
sistema previdenciário compulsório e universal corrige essa falha.

5. Informações Assimétricas
Muitas teorias econômicas começam com a suposição de que todos têm
informações perfeitas sobre tudo. Por exemplo, se os produtos de uma
empresa não são seguros, essas teorias econômicas presumem que os
consumidores sabem que o produto não é seguro e, portanto, comprarão
menos dele. Nenhum economista acredita literalmente que os consumidores
têm informações perfeitas — informação perfeita é apenas uma ferramenta
simplificadora utilizada em modelos econômicos. De fato, Stiglitz e
Grossman provaram que, dados certos pressupostos, mercados com
informação perfeita são impossíveis.
No pensamento não-libertário, as pessoas se preocupam tanto com coisas
como segurança e eficácia do produto, ou a ética de como um produto é
produzido, que o governo precisa garantir que o produto é seguro, eficaz e
foi produzido de forma ética. No pensamento libertário, se as pessoas
realmente se preocupam com a segurança, a eficácia e a ética na produção
do bom, o mercado as garantirá, e se elas não se importam, tudo bem
também.
Mas o que há de errado com a posição libertária? Ocorre que uma das
escolhas irracionais mais consistentes que as pessoas fazem é comprar
produtos sem gastar tanto esforço para coletar informações quanto o tanto
que elas se importam com essas coisas sugeriria. Então, de fato, os não-
libertários têm razão: se não houvesse regulamentação governamental, as
pessoas que se importam com coisas como segurança e eficácia ficariam
constantemente presas a produtos inseguros e ineficazes, e o mercado não
corrigiria essas falhas.
Como exemplo de irracionalidade generalizada, podemos citar o caso da
fosfoetanolamina. Em 2016, o Congresso liberou o tratamento de câncer com
essa substância, sob pressão popular, mesmo com absolutamente nenhuma
evidência apontando a segurança e a eficácia dessa substância no combate
ao câncer. Tudo isso porque um charlatão fez propaganda enganosa. As
vítimas de câncer, entendivelmente, se agarraram a essa esperança. O que
não é entendível é o Congresso passar por cima da Anvisa, dos especialistas
no assunto, e liberar o uso do produto sem nenhuma garantia de segurança
por parte dos técnicos.
E isso ocorre apesar do governo regular a segurança, a eficácia e a ética na
produção do bem. Imagine se não regulasse? Imagine o tanto de bens
produzidos de forma anti-ética não estariam livremente sendo vendidos no
mercado? Imagine o tempo que não iria demorar para as pessoas
perceberem que um produto é ineficaz, tempo este mais do que suficiente
para os acionistas da empresa que o produz lucrarem bastante? Imagine o
tanto de charlatões vendendo produtos milagrosos não estariam lucrando
em cima da esperança das pessoas?
Uma área específica em que a assimetria de informações se faz presente é
no setor bancário. Sem regulação governamental, as pessoas não saberiam
se o banco iria manter seguro o seu dinheiro, permitindo que elas
demandem sua devolução a hora que quiserem. Os bancos têm um incentivo
perverso para emprestar o dinheiro depositado mais do que a prudência
permitiria, pois apenas eles têm a informação do quanto de dinheiro tem
depositado em seus cofres. Os bancos sofrem daquilo que se chama
de moral hazard. O governo pode, então, melhorar a situação, estabelecendo
uma cota mínima de dinheiro a ser mantida no cofre dos bancos, uma
reserva compulsória.
Em que áreas a existência de informações assimétricas justifica a
intervenção do governo?
 Ela justifica as regulamentações de segurança dos produtos, como as
regulamentações dos alimentos e dos remédios.
 Justifica o estabelecimento de regras no mercado bancário, como a
exigência de reservas compulsórias.

Conclusões
Esses são os pontos principais que justificam a existência do Estado do
ponto de vista econômico, que creio serem mais do que necessários para
convencer qualquer um da necessidade da existência do mesmo. Cabe
ressaltar, ainda, que o Estado pode ser justificado em outras bases que não
a econômica, como a base ética: pode ser que seja ético a redistribuição de
renda feita pelo Estado; ou pode ser ético o fornecimento de rua para todos,
permitindo a livre circulação de pessoas.

O que significa ser um anarcocapitalista?


Os libertários que se opõem à anarquia (no sentido literal, i.e., ausência de estado)
estão atacando um espantalho.  A natureza de seus argumentos é normalmente
utilitarista e se resume a "ah, mas a anarquia não funcionaria" ou "nós precisamos
que o estado forneça pelo menos (preencha ao seu critério)".  Mas esses ataques são,
na melhor das hipóteses, confusos; na maioria das vezes, são falsos e hipócritas.  Ser
um anarquista não significa pensar que a anarquia vai "funcionar" (seja lá o que isso
signifique);  também não significa predizer que a anarquia irá ou "poderá" ser
alcançada — afinal, é perfeitamente possível ser um anarquista pessimista.  Ser um
anarquista significa apenas acreditar que a agressão não é justificável, e que o estado
necessariamente faz uso da agressão.  E, portanto, o estado, e a agressão que ele
utiliza, não são justificáveis.  É algo bem simples, realmente.  Trata-se de uma visão
ética — por isso, não é surpresa que confunda os utilitaristas. 

Consequentemente, qualquer um que não seja um anarquista deve argumentar duas


coisas: (a) iniciar agressão é algo justificável e (b) os estados (em particular, os
estados mínimos) não necessariamente empregam a agressão.

A proposição (b) é claramente falsa.  Os estados sempre tributam seus cidadãos, o


que é uma forma clara de agressão.  Os estados sempre proíbem a concorrência de
agências de defesa, garantindo para si o monopólio da segurança — o que também
equivale a uma agressão.  (Para não mencionar as inúmeras leis contra crimes sem
vítimas que eles inevitavelmente, e sem uma única exceção na história, impõem à
população.  Que os minarquistas sigam acreditando que a minarquia é possível é
algo no mínimo intrigante).

Quanto à proposição (a), bem, socialistas e criminosos também crêem que a


agressão é justificável.  Criminosos, socialistas e antianarquistas ainda precisam
mostrar como a agressão — a iniciação de força contra vitimas inocentes — pode
ser justificada.  Porém, nem é preciso tentar; é impossível mostrar isso.  Mas se os
criminosos não se sentem compelidos a justificar a agressão, por que então os
defensores do estado deveriam?

As críticas dos conservadores e dos minarquistas-libertários ao anarquismo,


baseando-se em argumentos como "não vai funcionar" ou "não é prático", são
apenas confusas.  Anarquistas não (necessariamente) predizem que a anarquia será
implementada — eu, por exemplo, não acredito que será.  Mas isso não significa que
o estado seja justificável.

Considere uma analogia:  Conservadores e libertários concordam que crimes


cometidos por indivíduos (assassinato, roubo, estupro) são injustificáveis e não
deveriam ocorrer.  Entretanto, não importa o quão bondosos os homens se tornem,
sempre haverá alguns elementos que recorrerão ao crime.  O crime é algo que
sempre estará conosco.  E, ainda assim, continuamos condenando o crime e
trabalhando para reduzi-lo.

É logicamente possível não haver qualquer tipo de crime? Claro que sim.  Todas as
pessoas poderiam voluntariamente escolher respeitar os direitos das outras.  Assim,
não haveria crime algum.  É fácil imaginar.  Porém, dada a nossa experiência com a
natureza humana e suas interações, é seguro dizer que sempre haverá crimes. 
Contudo, mesmo em face da inevitabilidade de sua recorrência, ainda consideramos
que o crime é algo maligno e injustificável.  Portanto, à minha afirmação de que o
crime é imoral seria estupidez e hipocrisia redarguir dizendo que "trata-se de uma
visão impraticável" ou "mas isso não funcionaria," "uma vez que crimes sempre
existirão".  O fato de que sempre existirão crimes — que nem todos irão
voluntariamente respeitar os direitos alheios — não significa que é algo impraticável
se opor a eles;  também não significa que o crime é justificável.  Não há qualquer
"falha" na proposição de que o crime é errado e imoral.

Da mesma maneira, à minha afirmação de que o estado e suas agressões são


injustificáveis seria hipocrisia redarguir dizendo que "a anarquia não vai funcionar"
ou que ela é "impraticável" ou que "é improvável que ela venha a ocorrer".[1]  A
idéia de que o estado é injustificável é uma posição normativa e ética.  O fato de não
serem muitas as pessoas que estão dispostas a respeitar o direito de seus vizinhos
permitirem que a anarquia surja — ou seja, o fato de haver um grande número de
pessoas que (erroneamente) apoiam a legitimidade do estado, permitindo que ele
exista — não significa que o estado, e suas agressões, sejam justificáveis.[2]

Outras respostas utilitárias como "mas precisamos do estado" não refutam a


afirmação de que o estado emprega agressões e que a agressão é algo injustificável.
Essas respostas significam simplesmente que o defensor do estado não se importa
com a iniciação de força contra vítimas inocentes — isto é, ele compartilha da
mentalidade criminosa/socialista.  O criminoso pensa que as suas necessidades são a
única coisa que importa; ele está disposto a usar de violência para satisfazê-las; ele
não dá a mínima para o certo e o errado.  O defensor do estado crê que a sua opinião
de que "nós" "precisamos" de certas coisas justifica os atos de violência contra
indivíduos inocentes.  A mentalidade é exatamente essa; tão simples quanto parece. 
Quaisquer que sejam seus argumentos, eles não são libertários.  Eles não se opõem à
agressão.  Eles são a favor de qualquer outra coisa — garantir que certas
"necessidades" públicas sejam satisfeitas, não importa o custo —, menos da paz e da
cooperação.  O criminoso, o gângster, o socialista, o estatista-assistencialista, e até
mesmo o minarquista, todos compartilham da mesma visão: estão dispostos a tolerar
a agressão nua e crua, desde que por algum motivo.  Os detalhes variam, mas o
resultado é o mesmo — vidas inocentes são subjugadas para que tal objetivo egoísta
seja alcançado.  Alguns têm estômago para isso; outros — os libertários — são mais
civilizados e preferem a paz à violência dirigida contra inocentes.

Assim como existem criminosos e socialistas entre nós, não é surpresa alguma que
exista um grau de propensão à criminalidade na maioria das pessoas.  Afinal, o
estado depende do consentimento tácito das massas, que erroneamente aceitaram a
noção de que o estado é legítimo.  Mas isso não significa que todos os
empreendimentos criminosos tolerados pelas massas sejam justificáveis.

Aliás, o que mais surpreende é que muitos daqueles que alegam ser a favor da
liberdade não aceitam a inevitável conclusão de suas próprias premissas: que o
governo é ineficiente e opera através de meios agressivos.  Se essas pessoas — os
minarquistas em geral — alegam que o estado não deveria gerenciar a educação
porque os resultados são monstruosos, então por que elas não aplicam o mesmo
raciocínio para as outras funções que o estado cumpre, tais como a segurança, a
defesa, a justiça e os tribunais?  Elas se opõem à educação estatal, ao entretenimento
estatal e a todas as outras atividades estatais, porém quando se trata da polícia, da
justiça e das leis, muitas delas — muitas mesmo — dão seu consentimento e seu
total apoio!

Parece-me que os libertários clássicos (os minarquistas) cometeram um erro


terrível.  Eles selecionaram a mais importante das instituições — a saber, a
proteção dos nossos direitos — e deram-na ao monopolista.  Creio que, se fosse
possível, seria preferível ter um governo que cuidasse de coisas como
entretenimento e banheiros ao invés de um governo que se ocupasse de funções
"ligeiramente" mais importantes, como segurança e justiça.
Em última instância, o estado não pode ser reformado e nem é do interesse do
sistema político fazer tal coisa.  De fato, nada menos do que a abolição de todas as
políticas estatistas — e do estado em si — é aceitável para o libertário radical.  Se o
governo não serve para ser meu zelador ou educador, ele também não serve para ser
minha polícia, meu juiz, meu júri, presidente, promotor ou legislador.

É hora de os libertários tomarem uma posição. Você é a favor da agressão, ou


contra?

Notas

[1] Um adendo: do meu ponto de vista, a possibilidade de atingirmos a minarquia é


tão grande quanto a de atingirmos a anarquia — ou seja, remota.  O que impressiona
é que quase todas as críticas sobre a "impraticabilidade" da anarquia que os
minarquistas lançam são também verdadeiras para a própria minarquia em si. 
Ambas são extremamente improváveis.  Ambas requerem mudanças maciças na
mentalidade de milhões de pessoas.  Ambas se baseiam na suposição de que a
maioria das pessoas simplesmente não dá a mínima para idéias políticas.

[2] Embora a defesa da anarquia não dependa de sua plausibilidade ou


"exequibilidade", assim como a condenação de crimes privados em nada depende de
já ter havido ou não atos criminosos, pode-se dizer que a anarquia é claramente
possível.  Existe anarquia na relação entre nações, por exemplo.  Há também
anarquia dentro da estrutura do governo, como mostrou o seminal e infelizmente
negligenciado artigo de Alfred. G. Cuzán, publicado no Journal of Libertarian
Studies, "Do We Ever Really Get Out of Anarchy?". Cuzán argumenta que até o
próprio governo é em si uma anarquia, internamente — afinal, o presidente não
obriga as outras pessoas do governo a obedecerem suas ordens; elas obedecem
voluntariamente, devido à existência de uma estrutura reconhecidamente
hierárquica.  A anarquia (política) existente dentro de um governo não é uma boa
anarquia, mas demonstra que a anarquia é possível — de fato, demonstra que nunca
deixamos de viver em regime de anarquia.  Por exemplo, como mostra esse
perspicaz artigo, vivemos em "anarquia" com os nossos vizinhos.  Se a maioria das
pessoas não tivesse a natureza de respeitar voluntariamente a maioria dos direitos de
seus vizinhos, a sociedade e a civilização seriam impossíveis.  A maioria das pessoas
é boa o suficiente para permitir que a civilização exista, apesar da ocorrência de
crimes públicos e privados em grau variável.  É concebível pensar que, no futuro, o
grau de bondade possa aumentar — devido à educação ou a uma maior prosperidade
econômica universal, digamos — o suficiente para fazer com que a legitimidade do
estado se evapore.  Mas tal advento é bastante improvável.

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