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A educação em Os Maias

Análise do texto “Jantar em Santa Olávia” (excerto do capítulo III)


Resumo

▪ O capítulo III inicia-se com a chegada de Vilaça a Santa Olávia,


onde é recebido com muita alegria. Vê então Carlos da Maia
maior e mais esplendoroso. Vilaça toma conhecimento da rígida
educação de Carlos e logo se opõe a tal. Entretanto todos
jantam, e Carlos faz notar todas as suas capacidades ensinadas
por Brown.
▪ No fim do jantar, durante o café, o assunto de conversa é a
educação de Carlos, defendida  tanto Brown como por Afonso e
à qual o abade Custódio se opõe. Por fim, chegam também as
irmãs Silveira com o Eusebiozinho e a noiva de Carlos.
Resumo (cont.)

▪ Ao longo de todo o episódio é visível o contraste entre a


educação à inglesa de Carlos e a educação tradicional de
Eusebiozinho.
▪ Afonso da Maia considerava que a educação de uma criança
não se deveria iniciar com o estudo do latim, na medida em
que, na sua opinião, não fazia sentido ensinar a uma criança
acontecimentos do passado numa língua morta sem a fazer
compreender primeiro a realidade que a rodeia. Além disso,
também acreditava que a preparação inicial de uma criança
devia visar que esta se desenvolvesse  de forma saudável a
nível físico. 
• O narrador assume uma posição subjetiva mostrando-
se profundamente irónico em relação à educação de
Eusebiozinho, como é possível verificar pelo recurso aos
diminutivos: ("craniozinho", "crescidinho", "perninhas" e
"linguazinha").
• Além disso, o facto de se afirmar que uma das evidências da
educação de Eusebiozinho era "passar horas imóvel numa cadeira,
de perninhas bambas, esfuracando o nariz" e que "passava dias a
traçar números com a linguazinha de fora" cria um efeito de
cómico. 
• Desta forma, podemos concluir que os adjetivos e expressões que
poderiam apontar para uma adesão do narrador a este tipo de
educação (" este notável menino revelara um edificante amor
por alfarrábios", " e depois de crescidinho tinha tal propósito,
o precoce letrado") são usados de forma irónica , com sentido
pejorativo.
Confronto entre a educação tradicional de Eusebiozinho
e a educação à inglesa de Carlos da Maia:

Carlos da Maia – Educação à Inglesa Eusebiozinho – Educação Tradicional


Pedagogo Inglês – Brown Pedagogo Português – Abade Custódio
Contacto com a Natureza Permanecia em casa
“... Correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar “... Passava os dias nas saias da titi...” (pág.82)
soalheiras, como um filho de caseiro...” (pág.61)
Aprendizagem de línguas vivas: Inglês Aprendizagem de línguas mortas: Latim
“... Mostrou-lhe o neto que palrava inglês com o “...a instrução para uma criança não é recitar Tityre,
Brown...”(pág.67) tu patulae recubans...” (pág.67)
Brincadeiras e divertimento Contacto com velhos livros
“Estou cansado, governei quatro cavalos...” (pág.77) “... Admirar as pinturas de um enorme e rico volume,
«Os costumes de todos os povos do Universo»...”
(pág.73)
Carlos da Maia – Educação à Inglesa Eusebiozinho – Educação Tradicional
Pedagogo Inglês – Brown Pedagogo Português – Abade Custódio
Rigor, método e ordem Super proteção
“...tinha sido educado com uma vara de ferro!...”, “...levava ao colo o Eusebiozinho, que parecia um
“...não tinha a criança cinco anos já dormia num fardo escuro, abafado em mantas, com um xale
quarto só, sem lamparina...” (pág.61) amarrado na cabeça...” (pág.80), “...nunca o lavavam
para o não constiparem...” (pág.82)
Valorização da criatividade e juízo crítico Valorização da memorização
“...Que memória! Que memória... É um prodígio!...”
(pág.80)
Submissão da vontade ao dever Suborno da vontade pela chantagem afetiva
“...Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me “...e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os
vou deitar!... Carlos tenha a bondade de marchar já versinhos, dormia essa noite com ela...” (pág.80 )
para a cama!” (pág.77)
Carlos da Maia – Educação à Inglesa Eusebiozinho – Educação Tradicional
Pedagogo Inglês – Brown Pedagogo Português – Abade Custódio
Desprezo da Cartilha e do conhecimento teórico Estudo da Cartilha
“... É saber factos, noções, coisas úteis, coisas “...a decorar versos, páginas inteiras do «Catecismo
práticas...” (pág.67) de Perseverança»...” (pág.82)
“...e pedira-lhe que lhe dissesse o Ato de
Contrição. ... Que nunca em tal ouvira falar...”
(pág.71)

Exercício físico: ginástica ao ar livre Débil na sua saúde e não tinha atividade física
“...a remar, Sr. Vilaça, como um barqueiro! Sem “...Não tem saúde para essas cavaladas...” (pág.7)
contar o trapézio, e as habilidades de palhaço...”
(pág.70)
• Em consequência direta do método educativo recebido, as duas crianças
apresentam características antagónicas.

• Carlos revela-se uma criança autoconfiante (visível na forma altiva como responde
a Vilaça), cheia de vitalidade e que domina perfeitamente o inglês. Pelo contrário,
Eusebiozinho é uma personagem marcada pela falta de energia, pela debilidade
física e pelo gosto por um saber teórico e obsoleto.

• A vitalidade de Carlos decorre de uma educação que promove o exercício físico,


contrastando com a fragilidade de Eusebiozinho, que é uma consequência de a
educação portuguesa apenas valorizar o conhecimento teórico e de ser marcada
pela superproteção. Além disso, a autoconfiança de Carlos e o facto de falar inglês
decorrem de uma método educativo que promove o desenvolvimento da sua
curiosidade natural e a aprendizagem de línguas vivas. Em contrapartida,
Eusebiozinho assume um papel passivo no seu processo educativo, limitando-se a
memorizar informações já ultrapassadas.
https://mariablimunda.blogs.sapo.pt/o-tema-da-educacao-
nos-maias-15871

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