Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
Este ensaio busca fazer uma revisão teórica das contribuições da Dra. Adyr
Balastreri Rodrigues com vistas a identificar novas perspectivas de análise que
possam subsidiar a abordagem geográfica do turismo no Brasil. Rodrigues (2006)
enfatiza a apropriação do território pelo turismo em suas mais variadas escalas.
Destaca o turismo como um dos elementos fundamentais da globalização, ao
considerar tanto a subordinação da atividade turística aos atores hegemônicos da
economia global, bem como o seu caráter contemporâneo mediado pelo modelo de
acumulação capitalista.
Para a autora, as matrizes conceituais-metodológicas que configuram o
contexto social da modernidade são basilares e fundamentais para o entendimento
do fenômeno do turismo, particularmente a partir do período fordista, sob a
imposição de um “[...] pacto social baseado na redistribuição do excedente material
da produção e na distinção bipolar do espaço-tempo, nomeada como esfera de
trabalho e esfera do ócio. [...]” (RODRIGUES, 2006, p.297-298).
Durante o pós-fordismo, nos países centrais do capitalismo, ocorre uma maior
flexibilidade da produção e dos calendários operativos, contudo a dualidade entre as
esferas do trabalho e do ócio não desaparece por completo. As ambigüidades entre
estas esferas “[...] dificultam as análises que procuram apreender as dinâmicas dos
espaços de lazer, tanto no campo como na cidade, assim como nas novas
territorialidades produzidas pelo turismo” (RODRIGUES, 2006, p.297-298).
Nesta perspectiva, segundo autora, a fase pós-fordista do lazer e do turismo
baliza a dualidade (trabalho-ócio) a partir dos anos 1980, quando há uma maior
flexibilidade da oferta como um novo modelo na ordem de produção que permite à
gestão integrada em um processo contínuo de vários produtos turísticos
intermediários, tornando possível, a partir do manejo da informação, a oferta de
produtos mais flexíveis.
2
1 O Turismo Rural é entendido como qualquer manifestação do turismo no espaço rural, entretanto,
alguns autores questionam a aplicação dessa expressão, estando o “[...] Turismo Rural ligado ao
conteúdo rural, excluindo outras formas de turismo no Espaço Rural como, por exemplo, o
Ecoturismo e o Turismo de Aventura”. (TULIK, 2003, p.11).
5
está diretamente relacionado à exclusão destes aspectos por parte dos moradores
locais. Assim, o turismo só será “bem vindo” se for efetivamente voltado aos
interesses de quem realmente faz parte do cotidiano do território receptor, o que se
considera de fundamental importância para o desenvolvimento local da atividade e
para o benefício das relações sociais como um todo.
Como foi visto, este modelo contempla o segmento “sol e praia”, sob o qual
pode-se encontrar diversos mega-empreendimentos de investimentos externos,
implantados nas últimas duas décadas na Região Nordeste do Brasil, com apoio e
10
Por fim, Rodrigues (2006) sugere linhas de pesquisa que, para além da
sustentação a projetos de turismo com base local, sirvam também como “[...] canal
para socializar o conhecimento neste tema de estudo, a fim de encorajar novos
projetos em âmbito acadêmico, assim como dar subsídios para novas políticas e
ações na prática turística [...]” (ROGRIGUES, 2006, p.313).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das reflexões aqui expostas, com base no trabalho de Rodrigues
(2006), pode-se afirmar que o território é uma categoria geopolítica, produzido por
ações políticas, sociais e econômicas, e articulado por relações de poder. Pode-se
considerar, ainda, o território enquanto lócus de conflitos que necessitam de controle
social e político, ou seja, precisa ser ordenado, planejado e gerido.
A posse, a identidade e as relações de poder transformam o lugar e/ou a
região em território. É assim que os lugares e as regiões são valorizadas,
disputadas, especuladas, apropriadas e utilizadas. É neste contexto que emerge o
território turístico, resultado da prática turística, uma vez que a concretiza e é
transformado por ela, através de um processo dialético de desterritorialização e
reterritorialização, dando lugar à convivência pacífica ou conflitos de territórios
plurais cada vez mais submissos aos discursos tecnocráticos do planejamento e da
gestão territorial (TARLOMBANI, 2008).
A partir desta premissa, vale resgatar a contribuição de Santos (2002) para
melhor entendimento sobre as relações de poder que são permeadas a partir da
técnica. A prática turística é mais uma “virtude” do meio técnico-científico-
informacional – momento histórico em que a construção ou reconstrução do espaço
dar-se-á crescente de ciência, de técnica e de informação, elementos fundamentais
nos processos de remodelação do território e reorganização da sociedade.
Essa união entre técnica e a ciência leva o mercado à sua emergência em
nível global. Os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e
informacionais, já que a intencionalidade de sua produção e localização surge como
informação, sendo esta a energia principal de seu funcionamento. Santos (2002),
não se refere ao turismo em particular, mas, estas premissas são pertinentes á
análise da atividade turística, calcada por técnicas.
14
REFERÊNCIAS
BOISIER, Sergio. Sociedad del conocimiento, conocimiento social y gestión
territorial. In: Revista Interacciones. Campo Grande, 2001, vol. 2. n. 3.
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
______ . O poder simbólico. São Paulo: Difel, 1989.
BUTLER, R.W. The concept of a tourism area cycle of evolution: implications for
management resources. In: Canadian Geographer, 1980, n. 24, p. 5-12.
CANDIOTTO, Luciano Zanetti Pessoa. FARIAS, Ariadne Sílvia de. Lazer e Turismo
no Sudoeste do Paraná: Modalidades e Potencialidades. In: ALVES, Adilson
Francelino... [et al.]. Espaço e território: interpretações e perspectivas do
desenvolvimento. Francisco Beltrão/Pr: UNIOESTE, 2005.
FARIAS, Ariadne Sílvia de. CANDIOTTO, Luciano Zentti Pessoa. Geografia e
Turismo: análise geográfica do turismo. In: Encontro Paranaense de Estudantes de
Geografia. 10. UFPR/Curitiba. Anais... Curitiba, 2005.
FIGUEIREDO SANTOS, J. M. Turismo – mosaico de sonhos. Incursões sociológicas
pela cultura turística. Lsiboa: Colibri, 2002.
HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. In: Encontro de
Geógrafos da América Latina. 10. USP/São Paulo. Anais... São Paulo, 2005.
_____. O mito da desterritorialização. Do “fim dos territórios” à multiterritorialidade.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
MOSCOVICI, Serge. The phenomenon of social representations. In: FARR, R. M.
MOSCOVICI, S. (Org.). Social Representations. Cambridge: University of
Cambridge, 1981.
RODRIGUES, A. B. Turismo e Territorialidades Plurais – Lógicas Excludentes ou
Solidariedade Organizacional. In: DE LEMOS, Amalia Inés Geraiges. ARROYO, Mónica
SILVEIRA, María Laura. (Org.). América Latina: cidade, campo e turismo. 1ª ed. Buenos
Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLACSO; São Paulo: Unviersidade
de São Paulo, 2006, p.297-315.
_____ . Turismo rural no Brasil – ensaio de uma tipologia. In: ALMEIDA, Joaquim Anécio.
RIEDL, Mário. Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. São Paulo: EDUSC, 2000.
_____ . Turismo e Geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 1a edição.
São Paulo. Hucitec. 1996.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
TARLOMBANI DA SILVEIRA, Marcos Aurélio. Política de turismo: oportunidades ao
desenvolvimento local. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (Org.). Turismo rural:
práticas e perspectivas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
_____ 2008: Turismo, Sociedade, Território: Processos, Políticas e Práticas. Textos
da Disciplina do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2008.
TULIK, Olga. Turismo rural. São Paulo: Aleph, 2003.