Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(1)-Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro; (2)- Johns Hopkins University
Resumo
1- Introdução
O estudo, que ficou conhecido como “Estudo THRio” (TB e HIV no Rio de Janeiro), fez
parte do “Consórcio para Responder Efetivamente à Epidemia de TB/HIV” (CREATE) 1, foi
desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro
(SMSDC-RJ) e iniciado em setembro de 2005. Trata-se de uma pesquisa operacional que envolveu,
de forma escalonada, vinte e nove unidades da rede de serviços públicos de saúde, localizados no
município do Rio de Janeiro, que prestam assistência aos pacientes HIV. A partir da coleta de dados
e análise de prontuários de pacientes ativos2, a intervenção propriamente dita incluiu a
implementação de uma estratégia de triagem e tratamento de infecção tuberculosa latente em todos
os pacientes HIV+, que estejam incluidos nos critérios definidos nos protocolos nacionais para esta
11
CREATE reune pesquisas em saúde pública com a finalidade de reduzir a Tuberculose em áreas de alta prevalência de
TB e de AIDS e abrange, mais especificamente, tres estudos independentes desenvolvidos no Brasil (THRio), na
Africa do Sul (THIBELA) e no Zambia (ZAMSTAR). Os tres estudos também têm por objetivo influenciar as políticas
globais de prevenção da Tuberculose através de “advocacy” baseada em evidências.
2
Pacientes inscritos nos ambulatórios de tratamento do HIV/AIDS e com registro de pelo menos uma consulta posterior
a setembro de 2003
2
ação.3
A ética não é um atributo imediato, ao contrário, sabemos que as condutas éticas são parte
3
A realização de teste tuberculínico – PPD – em todos os pacientes elegíveis, a exclusão de tuberculose ativa e a oferta
de isoniazida (INH) para todos com PPD maior ou igual a 5mm fizeram parte desta estratégia
3
Acreditamos que a formação de comitês desta natureza, com reuniões regulares, permite
socializar os objetivos e os procedimentos que serão utilizados no desenvolvimento da pesquisa,
disseminar seus resultados parciais e finais, assim como divulgar os achados durante o processo de
execução, incluindo fatos relevantes que alterem o curso normal do estudo, reduzindo o hiato entre
intenção e gesto7.
Nestes termos, um CCA também pode se constituir uma instância para a formação das
comunidades participantes oportunizando a discussão de aspectos correlatos à pesquisa e
envolvendo-as nas atividades de capacitação dos participantes da pesquisa e de elaboração de
material didático específico ou de informação, educação e comunicação (IEC) orientados para a
prevenção de agravos, a promoção da saúde, as boas práticas clínicas e a sustentabilidade dos
resultados.
Por fim observamos que a participação nestes comitês também se constitui uma
oportunidade de aprendizado para os envolvidos, credenciando-os para participar de fóruns
similares e ampliando a capacidade de vocalização dos seus direitos e garantias no campo da
pesquisa envolvendo seres humanos.
4
Quinn, S.C. Protecting Human Subjects: the role of Community Advisory Boards. American Journal of Public Health,
June 2004, vol 94, No 6, 918-922.
5
.Zoysa, I., Elias, C.J., Bentley, M.E. Ethical Challenges in Efficacy Trials of Vaginal Micribicides for HIV Prvention.
American Journal of Public Health, April 1998, vol 88, No 4, 571-575
6
.Morin, S.F., Maiorana, A., Koester, K. A., Sheon, N. M., Richards, T. A. Community Consultation i HIV Prevention
Research: a study of community advisory boards at 6 research sites. JAIDS Journal of Acquired Immune Deficiency
Syndromes, 33:513-520, 2003.
7
.ESTIGARA, Adriana. Consentimento livre e esclarecido na pesquisa envolvendo seres humanos. A distância entre o
"dever ser" e o "ser". Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1144, 19 ago. 2006. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/8803>. Acesso em: 08 mar. 2011..
4
O CCA-THRio tem como base a proposta dos Community Advisory Boards (CAB), criados
nos Estados Unidos com o objetivo de envolver a comunidade no acompanhamento de pesquisas
clínicas, e as experiências brasileiras de implantação dos protocolos de pesquisa ACTG (AIDS
Clinical Trials Group) 8.
1- Estabelecer as bases para a definição dos papéis e responsabilidades dos representantes das
diversas comunidades envolvidas;
2- Facilitar o trabalho dos representantes das comunidades, estimulando a confiança e a
comunicação entre as comunidades envolvidas e as equipes de pesquisa;
3- Definir uma estrutura de funcionamento e redigir regras de funcionamento interno, a fim de
permitir a participação ampla, inclusiva e diversa das comunidades;
8
.Cox, L.E., Rouff, J.R., Svendsen, K. H., Markowitz, M., Abrams, D. I., and Terry Beirn Community Programs for
Clinical Research on AIDS. Community Advisory Boards: Their role in AIDS clinical trials. Health & Social Work, vol
23, No 4, November 1998, 290-296.
5
Uma das diversas sugestões construídas durante as reuniões do CCA e viabilizadas durante a
sua vigência, com o objetivo de compartilhar a experiência do grupo, foi a publicação dos
depoimentos dos seus membros10. Apresentamos, a seguir, alguns destes depoimentos obtidos dos
9
Warburton, D., Gavelin, K., Wilson, R., Noun, A. Effective deliberative public engagement: nine principles. Involve
and National Consumer Council UK, 2008. http://www.involve.org.uk/assets/Publications/Deliberative-public-
engagement-nine-principles.pdf
10
Em 2010, foi publicado um livreto com a experiência do CCA THRio, como um investimento efetivo na difusão de
informações sobre a participação comunitária em pesquisas envolvendo seres humanos para as lideranças comunitárias,
profissionais de saúde, pesquisadores e gestores. Mil exemplares em português serão distribuídos pelas as ONG Pela
6
participantes do CCA THRio no decorrer de cinco anos de existência, a partir de três perguntas
propostas: Por que participo do CCA-THRio? Por que as pessoas devem participar? e, Por que eu
recomendo que participem?
Vidda, Movimento nacional das Cidadãs Posithivas e CEDAPS e também nas unidades de sáude do município do Rio
de Janeiro. Atualmente, está no prelo uma edição bilingue, inglês-português, a fim de contemplar os países africanos
parceiros do CREATE e os países africanos de língua portuguesa.
11
Idem 9.
12
Dickert, N. and Sugarman, J. Ethical Goals of Community Consulation in Research. Peer Reviewed, Health policy
and Ethics, American Journal of Public Health, July 2005, Vol 95, No 7, 1123-1127
7
Aumentar Aumentar os O meu interesse em contribuir na busca de respostas para a clientela da ONG me
os benefícios estimulou, entre outras ações, a participar das reuniões do Comitê Comunitário de
benefícios para os Acompanhamento representando o Grupo Pela Vidda/RJ, a princípio como uma
participantes oportunidade para ampliar os meus conhecimentos sobre o tema TB (membro da
do estudo, a sociedade civil).
população
para a qual a Eu participo porque acredito que quando você está informada as doenças são mais
pesquisa é fáceis de serem compreendidas e, se necessário, enfrentadas (membro da sociedade
concebida, ou civil)
a comunidade
na qual o Eu recomendo a continuidade dos encontros porque é fundamental a troca entre o
estudo é saber popular e o saber acadêmico (membro da sociedade civil)
conduzido
Recomendo que as pessoas da sociedade civil participem do comitê, pois
aprendemos sobre as pesquisas desenvolvidas em nosso município, cobrando sempre
o respeito pelo sigilo das ações, respeitando sempre o paciente que está
contribuindo para a pesquisa. Podemos ver nesta pesquisa que os pacientes que
contribuiram foram respeitados e que a equipe responsável teve bom êxito em suas
ações, pois ouvimos relatos desejosos de que o projeto não se encerrasse (membro
da sociedade civil)
Legitimid Conferir Sendo médico infectologista e gerente de uma Unidade de Saúde onde o THRIO foi
ade legitimidade implantado pude observar, in loco, como as ações do projeto foram importantes
ético-político, agilizando o diagnóstico da tuberculose, ampliando enormemente a cobertura do
dando as PPD e, consequentemente, do número de pacientes que receberam profilaxia com
partes que isoniazida. Por isso, entendo a importância da sustentabilidade destas ações, o que
tenham me motivou a participar de um Comitê de Acompanhamento (profissional de saúde).
interesse ou
participação Participei do CCA THRio porque foi impossível resistir ao convite para integrar este
na grupo de debate, de consulta e de acompanhamento que incluia segmentos distintos
investigação a da sociedade civil, representando os implicados no estudo: profissionais de saúde de
oportunidade serviços onde se realiza o estudo, usuários dos serviços de saúde (representantes de
de expressar ONGs e lideranças comunitárias) e universidade. Era a primeira vez que eu
8
suas opiniões participava de um espaço de debate sobre questões éticas, operacionais e do próprio
e interessadas desenrolar de um estudo, em que se garantia a participação de diferentes olhares (e
acima no vozes) sobre questões de interesse de toda a sociedade mas ainda tão restritas aos
momento em espaços acadêmicos (profissional de saúde).
que as
mudanças As pessoas devem participar para garantir que o ativismo em pesquisa se consolide
podem ser no Brasil, pois no meu entendimento é insuficiente e frágil. O próprio sentido da
feitas no participação num comitê de acompanhamento precisa ser melhor consolidado entre
protocolo de nós. A participação em comites de acompanhamento favorece a construção de
pesquisa resultados de pesquisa mais consolidados e aplicáveis à realidade social, educativa
e cultural dos grupos populacionais para os quais está sendo construida e ainda,
qualifica o ativismo social em temáticas da saúde como TB e HIV. Amplia o
conhecimento sobre medicamentos, procedimentos, protocolos de atendimento e
outros. O que quer dizer que participar de comites de acompanhamento qualifica o
ativismo em pesquisa mas também o ativismo social e o controle das políticas
públicas no que se refere às práticas e à gestão em saúde. O estudo THRio é um
exemplo claro desta correlação. (membro da sociedade civil).
Comparti Consultar as Através da participação nesses espaços é possivel juntar duas partes de um mesmo
lhar comunidades processo, ou seja, movimento social e pesquisadores que às vezes ficam distanciados
responsab pode ter algum por ranços e prejulgamentos de ambos os lados. A possibilidade de discussão, de
ilidade grau de troca de ideias, de experiências e de conhecimento formam um conjunto de fatores
responsabilida que unidos são a matéria prima para a produção de saberes que tem potencial de
de moral para ajudar na redução da morbidade/mortalidade de pessoas soropositivas por conta da
o projeto de tuberculose (membro da sociedade civil).
pesquisa e a
comunidade As pessoas devem participar para compartilhar seus conhecimentos, suas
pode assumir experiencias e construir uma firme e sólida parceria no sentido de alcançar os
algumas objetivos propostos pela pesquisa. A participação de várias pessoas enriquece o
responsabilida debate por conta dos diversos pontos de vista, principalmente no que tange à fala do
des para a paciente que, em última instância, será o beneficiado pelos resultados alcançados.
realização do A participação cria a oportunidade dos vários discursos se encontrarem,
estudo favorecendo melhores e acertadas decisões (membro da sociedade civil).
13
Dickert, N. and Sugarman, J. Ethical Goals of Community Consulation in Research. Peer Reviewed, Health policy
and Ethics, American Journal of Public Health, July 2005, Vol 95, No 7, p. 1125.
9
5- Considerações finais
6- Bibliografia
1. ACTION, Best practices for advocacy: a dozen tactis, tools and strategies. Advocacy to Control
TB Internationally- ACTION. November, 2007
2. Almeida, J. L. T. de. Respeito à autonomia do paciente e consentimento livre e esclarecido: uma
abordagem principialista da relação médico-paciente. [Doutorado] Fundação Oswaldo Cruz,
Escola Nacional de Saúde Pública; 1999.
3. Berlinguer, G.. Bioética cotidiana. Traduzido por Lavínia Bozzo Aguilar Porciúncula. Brasília:
Fundação Universidade de Brasília, 2004.
14
Intensificação da busca de casos de TB, controle da Infecção e tratamento preventivo com Isoniazida. WHO.
Guidelines for intensified tuberculosis case finding and isoniazid preventive therapy for people living with HIV in
resource constrained settings. WHO, 2011.
10
4. Cadernos Adenauer III (2002), n.º 1. Bioética. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer,
maio 2002. SCHRAMM, Fermin Roland. A pesquisa bioética no Brasil entre o antigo e o novo.
5. Cox, L. E., Rouff, K.H., Svendsen, M.M., Abrams, D.I. and Terry Beirn Community Programs
for Clinical Research on AIDS. National Association of Social Workers. Health & Social Work,
Vol 23, No 4, November 1998.
6. Dickert, N. and Sugarman, J. Ethical Goals of Community Consulation in Research. Peer Reviewed, Health policy
and Ethics, American Journal of Public Health, July 2005, Vol 95, No 7, 1123-1127
7. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Conselho
Nacional de Saúde. Resolução n.º 196/96.
8. Diretrizes Éticas Internacionais para a Pesquisa Biomédica em Seres Humanos. Preparadas pelo
Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS), em colaboração com a
Organização Mundial de Saúde (OMS). Traduzida por Maria Stela Gonçalves e Adail Ubirajara
Sobral. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
9. Emanuel, E. J., Wendler, D., Killen, J., Grady, C. What makes clinical research in developing
countries ethical? The benchmarks of ethical research. JID Journal of Infectious Diseases,
2004:189, 930-937.
10. Estigara, A. Consentimento livre e esclarecido na pesquisa envolvendo seres humanos. A
distância entre o "dever ser" e o "ser". Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1144, 19 ago. 2006.
Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/8803>. Acesso em: 08 mar. 2011.
11. Green, L.W. and Mercer, S.L. Can public health researches and agencies reconcile the push
from funding bodies and the pull from communities?. American Journal of Public Health. July
2001, Vol 91, No. 12, 1936-1943
12. Kass, N., Beyrer, C. Human rigths, politics, and reviews of research ethics. The Lancet, Vol 20,
2002, 246-251.
13. Kipper, D. J.; Marques, C. C.; Feijó, A. (orgs.). Ética em Pesquisa: reflexões. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2003.
14. Macaulay, A.C., Commanda, L.E., Freeman, W.L., Gibson, N., McCabe, M.L., Robbins, C.M.,
Twohig, P.L. Participatory research maximizes community and lay involvement. British Medical
Journal, Vol 319, 18 September, 1999, 774-777.
15. McGrath, M.M., Fullilove, R.E., Kaufman, M.R., Wallace, R., Fullilove, M.T. The limits of
collaboration: a qualitative study of community ethical review of environmental health research.
American Journal of Public Health, August 2009, vol 99, No 8, 1510-1514.
16. Morin, S.F., Maiorana, A., Koester, K.A., Sheon, N.M., Richards, T.A. Community consultation
in HIV Prevention Research: A study of community advisory boards at 6 researchs sites. JAIDS
Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes. Vol 33, No 4, August1, 2003, 513-520.
17. Quinn, S.C. Protecting Human Subjects: the role of Community Advisory Boards. American
Journal of Public Health, June 2004, vol 94, No 6, 918-922.
18. UNESCO. Establishing Biotethics Committees. Guide No1. UNESCO, 2005.
19. Warburton, D., Gavelin, K., Wilson, R., Noun, A. Effective deliberative public engagement:
nine principles. Involve and National Consumer Council UK, 2008.
http://www.involve.org.uk/assets/Publications/Deliberative-public-engagement-nine-
principles.pdf
20. WHO. Advocacy, communication and social mobilization (ACSM) for tuberculosis control : a
handbook for country programmes. WHO/HTM/STB, 2007.
21. WHO. Engaging stakeholders for retooling TB control. WHO/STOPTB, 2008
11
22. WHO. Guidelines for intensified tuberculosis case finding and isoniazid preventive therapy for people living with
HIV in resource constrained settings. WHO, 2011.
23. Williams, R.L., Shelley, B.M., Sussman, A.L. The marriage of Community-based participatory
research and Pratice-based research networks: Can it work? – A research involving outpatient
settings network (RIOS Net) Study. The Journal of the American Board of Family Medicine.
July-August 2009, Vol 22, No 4, 428-435.
24. www.hptn.org/.../CommunityProgram/...CabMeeting/DBPforCommunityMay6-
82005ExecutiveSummary3Portuguese.pdf
25. Zoysa, I., Elias, C.J., Bentley, M.E. Ethical Challenges in Efficacy Trials of Vaginal
Microbicides for HIV Prevention. American Journal of Public Health, April 1998, vol 88, No 4,
571-575.