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Subsídios sobre ética e história oral1

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Documento produzido pelo grupo de trabalho “História oral e ética em pesquisa”, implementado pela
Associação Brasileira de História Oral (ABHO) em sua gestão 2020-2022. Divulgação aprovada em
assembleia geral realizada em 28 de julho de 2022.
Subsídios sobre ética e história oral

(texto a ser discutido pela ABHO)

Sumário

I – História oral e ética em pesquisa

II – Comentários sobre as Resoluções CNS 510/2016, 674/2022 e sobre o PL 7082/2017

III – Sugestões quanto à submissão do projeto de pesquisa ao Comitê de Ética

IV – Questões em aberto

V – Subsídios para um documento da ABHO sobre ética e história oral

1 – Código de Ética da ABA (2012)

2 - Brasil - Carta de princípios éticos – ANPUH Brasil (2015)

3 – Brasil - Resolução CNS 510/2016

4 – Estados Unidos - Oral History Association Statement of Ethics (2018)

5 – Itália - AISO Buone Pratiche per la Storia Orale (2020)

6 – Brasil - Manual de Procedimentos do Repositório de Entrevistas de História Oral


(REPHO/UFRGS) - 2022

VI - Recomendações à ABHO

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I - História oral e ética em pesquisa

A ética como eixo norteador de princípios da maior validade e responsividade na história oral
inscreve na prática acadêmica um corpo de parâmetros e de valores que são social e historicamente
referenciados em seus usos, práticas, experimentações e experiências. Ela não se restringe a
procedimentos institucionais burocráticos de regulação a partir de parâmetros de exterioridade que não
levam em consideração a própria história do desenvolvimento dessa metodologia. A ética na pesquisa
com história oral é mediação para toda investigação preocupada com o registro e interpretação da
memória social consciente de si, não se reduzindo a um corpo formal de regulações.

Reconhecemos que a ética na prática da história oral, para além dos elementos constitutivos de
sua criação e desenvolvimento como uma metodologia no fazer das ciências humanas e sociais, dialoga
com os saberes que a utilizam. Ela é, portanto, mediadora do próprio fazer científico e interage com as
transformações da sociedade e das ciências mencionadas, nunca devendo submeter-se acriticamente a
qualquer corpo de procedimentos propugnado por sujeitos, instituições e organizações alheios aos
meios disciplinares próprios. A ética na história oral ainda tem como parâmetros a construção de saberes
que primam pelo respeito aos direitos humanos, à construção da democracia e da cidadania.

Se compreendemos que a história oral se constitui como uma metodologia aberta e variável às
necessidades plurais de seu emprego, a partir de uma historicidade de processos que se sintonizam às
mudanças da vida social e aos fazeres disciplinares daí mobilizados, por desdobramento somos levados
a compreender que ela não pode se manter defensável sem o escrutínio de um corpo de valores éticos
social e historicamente referenciados. Temos consciência das dificuldades, problemas e situações
desrespeitosas relacionadas às exigências de avaliação dos comitês de ética em pesquisa que se
institucionalizaram nas universidades e centros de pesquisa no Brasil.

Compreendemos que os esforços e resistências coletivos constituídos por associações


científicas e agremiações de saber, entre elas a ABHO, se fizeram materializar de algum modo na
Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016, do Conselho Nacional da Saúde (CNS). Conforme o parágrafo
1º, a Resolução “dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos
procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes
ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida
cotidiana”. Tal documento, ainda que não corresponda plenamente ao corpo de expectativas dos
praticantes de história oral, não deixou de significar algum avanço diante do quadro anterior em que as
pesquisas das ciências humanas e sociais - quando submetidas aos comitês de ética - eram avaliadas
com base na Resolução CNS 466/2012. Essa Resolução, conforme o item 1, incidia sobre todos os
“projetos de pesquisa envolvendo seres humanos”, incorporando “sob a ótica do indivíduo e das
coletividades, referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e

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equidade, dentre outros”. No mesmo trecho, fica registrado que o documento “visa a assegurar os
direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao
Estado”. Na inexistência de regulação própria para as ciências humanas e sociais, os projetos de
pesquisa eram avaliados por essa Resolução, de acordo com uma lógica externa, exclusiva da área de
saúde.

Frente a tal quadro e considerando a participação da ABHO no conturbado processo que levou
à escrita da Resolução 510/2016, é importante que os/as praticantes de história oral leiam
atentamente o documento e se informem a respeito do processo que levou à sua redação. 1
Entendemos que o documento ofereceu algum âmbito protetivo aos praticantes da história oral,
sobretudo por considerar como especificidade de que não se trata de pesquisa em seres humanos, mas
com seres humanos. Na parte II deste texto, registramos as demandas das ciências humanas e sociais
(e da história oral) que foram contempladas na Resolução 510/2016 e, o que consideramos serem os
pontos problemáticos ou em aberto, parte dos quais é retomada na parte IV. Também apresentamos
desdobramentos posteriores à aprovação do documento e que trazem novos desafios para o debate sobre
ética e história oral.

Há muito o que se avançar no corpo referencial de ética na pesquisa de história oral para além
das institucionalidades. O vivaz desenvolvimento da metodologia nas últimas décadas e suas
potencialidades hoje já internacionalmente reconhecidas nos dão algum âmbito de segurança. Por esse
motivo, na parte V deste texto, apresentamos documentos que as associações de história oral dos
Estados Unidos e da Itália redigiram para registrar princípios éticos e boas práticas no uso da
metodologia. Também trazemos documentos aprovados pela ANPUH Brasil e pela ABA na mesma
direção.

Mas como o próprio desenvolvimento da metodologia implica em conhecer e reconhecer novos


desafios a cada instante, certamente temos muito que reflexionar e avançar. Ao mesmo tempo que
compreendemos a existência de mudanças quanto à desenvoltura do método em sua pluralidade de usos
e práticas, também precisamos lidar com os elementos limitadores da institucionalidade da ética em
suas formas burocráticas. O contexto social e político brasileiro que vivemos nos pede um pouco de
atenção e parada para análise. Em face da proliferação absurda da desinformação, desvalorização da

1
DUARTE, Luís Fernando Dias. Práticas de poder, política científica e as ciências humanas e sociais: o caso da
regulação da ética em pesquisa no Brasil. História Oral, v.17, n.2, p.9-29, 2014; DUARTE, Luís Fernando Dias.
Cronologia da luta pela regulação específica para as ciências humanas e sociais da avaliação da ética em pesquisa
no Brasil. Práxis Educativa, v.12, n.1, 2017; RODEGHERO, Carla Simone. História oral e ética: um olhar
comparativo entre Brasil, Canadá e Itália . História, Ciências, Saúde-Manguinhos [online]. 2022, v. 29, n. 2
[Acessado 7 Junho 2022] , pp. 481-500.

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ciência, de interferência política ideológica mediada por intervenções nas instituições de pesquisa e
universidades, um crescente autoritarismo governamental e ameaças reais à democracia e às
instituições, entendemos que é o momento de olharmos para a Resolução 510/2016, como
potencial proteção para a prática da história oral. Em face aos negacionismos e a uma cultura
anticientífica pulsante nos meios sociais e políticos, a aprovação e o reconhecimento de pesquisas com
história oral nos comitês de ética podem fornecer elementos protetivos importantes.

Neste sentido, apresentamos sugestões que visam contribuir com os praticantes da história oral
quanto aos procedimentos necessários à tramitação de projetos de história junto aos comitês científicos
institucionais via Plataforma Brasil (parte III). Cumpre porém observar que temos clareza de que todo
o conjunto de indicações que emitimos encontram realidades locais específicas, muitas vezes tomadas
por posições burocráticas institucionais muito duras em relação ao emprego da história oral e outras por
desinformação. Não é nossa intenção intermediar diretamente as relações entre pesquisadores/as de
história oral e comitês de ética, mas oferecer informações organizadas e comentadas que possam ajudar
os praticantes a avançar em seus trâmites.

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II - Comentários sobre as Resoluções CNS 510/2016, 674/2022 e sobre o PL 7082/2017

A Resolução CNS 510/2016, no artigo 9º, prevê os seguintes direitos aos participantes
da pesquisa (pessoas entrevistadas, no caso da história oral). Clique no título sublinhado para
acessar o documento;

I – ser informado sobre a pesquisa;


II – desistir a qualquer momento de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo;
III – ter sua privacidade respeitada;
IV – ter garantida a confidencialidade das informações pessoais;
V – decidir se sua identidade será divulgada e quais são, entre as informações que
forneceu, as que podem ser tratadas de forma pública;
VI – ser indenizado pelo dano decorrente da pesquisa, nos termos da Lei;
VII – o ressarcimento das despesas diretamente decorrentes de sua participação na
pesquisa.
A Resolução contempla parte das demandas das associações que representam as
Ciências Humanas e Sociais que, em meio a muitas dificuldades, entraves e conflitos,
contribuíram para a redação do documento ao participarem de GT criado pela Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa, Conep:

1 - a bioética não é mencionada como parâmetro para a avaliação da ética na pesquisa;


2 - o anonimato dos/as participantes deixa de ser regra para todas as pesquisas;
3 - torna-se possível a inclusão de novos entrevistados não previstos inicialmente;
4 - o consentimento pode ser registrado verbalmente, ainda que o modelo tenha que ser
apresentado na forma escrita quando da submissão do projeto;

Obs.: nada na Resolução CNS 510/2016 sustenta o pedido de certos comitês de ética de
que os TCLEs sejam entregues assinados quando da submissão do projeto, nem que seja
apresentada a lista com nomes das pessoas a serem entrevistadas.

5 – a avaliação diz respeito apenas aos “procedimentos metodológicos que impliquem


em riscos aos participantes”, e não ao “desenho metodológico em si”, conforme reza o
artigo 25.

6 – a Resolução também trata, no artigo 27, da “pesquisa realizada por alunos de


graduação e de pós-graduação, que seja parte de projeto do orientado já aprovado pelo
sistema CEP/Conep”. Essa pesquisa ”pode ser apresentada como emenda ao projeto

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aprovado, desde que não contenha modificação essencial nos objetivos e na
metodologia do projeto original”. Sugere-se que o uso dessa estratégia para a aprovação
de projetos de orientandos ou para projetos institucionais de coletivos de história oral
seja alvo de cuidadosa reflexão, a fim de que o/a orientador/a ou coordenador/a não
assuma compromissos que estão além do seu alcance.

Entre os pontos problemáticos da Resolução CNS 510/2016, estão:

1 – a exigência de que projetos de TCC envolvendo seres humanos sejam submetidos


ao comitê de ética;

2 – a menção à Resolução CNS 466/2012 (inspirada na bioética e voltada para todas as


áreas do conhecimento) como base para dirimir questões não contempladas. Clique no
título sublinhado para acessar o documento;

3 – os vários temas deixados em aberto, como aquele da gradação dos riscos


relacionados à pesquisa, o compromisso de uma composição paritária dos comitês e da
Conep e o compromisso de adequar a Plataforma Brasil às particularidades dos projetos
regidos pela Resolução CNS 510/2016, o compromisso de formar uma comissão para
redigir uma Resolução sobre gradação de risco.

Obs. – ao invés de uma resolução sobre gradação de risco, a Conep criou um GT para a redação
de um documento que deu origem à Resolução CNS nº 674, de 06 de maio de 2022, a qual,
conforme seu primeiro artigo, "estabelece a tramitação dos protocolos de pesquisa científica
envolvendo seres humanos, no Sistema CEP/Conep, de acordo com a tipificação da pesquisa e
os fatores de modulação”. Clique no título sublinhado para acessar o documento. Para um relato
sobre o processo que deu origem a essa resolução, indicamos a mesa redonda promovida pela
Associação Brasileira de Antropologia, em maio de 2022, sobre o tema “Ética em pesquisa nas
Ciências Humanas e Sociais: o Sistema CEP/CONEP em perspectiva”. A fala de Martinho
Braga Batista e Silva (UERJ), a partir de 01:02:11, trata da escrita da Resolução CNS 674/2022.
Clique no título para ter acesso ao evento.

Paralelamente ao debate relacionado à redação e à aplicação da Resolução 510/2016,


tramita no Congresso Nacional um projeto de lei, o PL 7082/2017, que “Dispõe sobre a
pesquisa com seres humanos e institui o Sistema Nacional de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos”. Para conhecer o conteúdo, clique aqui.

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O Fórum de Associações de Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras,
Linguística e Artes (FCHSSALLA) vem promovendo um forte movimento para provocar
modificações no projeto. Ele é explícito nas suas referências à avaliação das práticas de
pesquisas tomando por base as Ciências Experimentais, mas no Artigo 73 impõe a disposição
de regulamentar as Ciências Humanas, como se pode perceber: “Art. 73. Esta Lei e seu termos
se aplicam às pesquisas com seres humanos em todas as áreas do conhecimento, no que couber,
desde que não exista regulamentação específica em contrário.”

Nesse contexto, o FCHSSALLA e a SBPC emitiram em 22 de abril de 2022 uma “Nota


pela retirada do artigo 73 do PL 7082/2017”, considerando a impropriedade do Projeto de Lei,
especificamente no teor do Artigo 73. Em negociações com o deputado-relator do Projeto,
representantes da FCHSSALLA e SBPC conseguiram o compromisso de mudança do PL 7.082
de 2017, por meio da supressão do artigo 73. Clique no título para conhecer o conteúdo da nota.

A partir dessa situação, o FCHSSALLA criou um Grupo de Trabalho composto por


cerca de 10 (dez) pesquisadores e representantes de Associações correlatas à ABHO, com a
finalidade de construir um documento que tem por objetivo servir de base para a elaboração de
um Projeto de Lei que trate especificamente da questão ética nas pesquisas realizadas nas
Ciências Humanas. O GT está funcionando e o documento encontra-se em fase de produção
para ser submetido ao Fórum e, ainda, a um Seminário que deverá acontecer em Brasília, no
primeiro semestre de 2023, com a finalidade de debater de forma mais ampla o tema da Ética
e sua presença nas práticas de pesquisa nas CH e, mais especialmente, o formato do PL que
deverá se constituir no marco legal sobre a temática.

O Documento em fase preparação pelo GT deverá responder às demandas de segmentos


acadêmicos, políticos e burocráticos acerca de uma posição mais consistente e propositiva a
respeito do teor e do formato dos procedimentos legais a serem aplicados sobre as práticas
investigativas nas Ciências Humanas. Portanto, o documento pretende apresentar elementos
potentes que sustentem a construção de um Projeto de Lei que compreenda as características
de pesquisas realizadas em Ciências Humanas, possibilitando que pesquisadores e
pesquisadoras realizem suas investigações sob guarita formal, distanciando-se de um modelo
alheio às boas práticas em pesquisas com seres humanos. Essa empreitada, se bem-sucedida,
possivelmente deslindará a avaliação dos projetos de pesquisas em Ciências Humanas do atual
modelo de apreciação e gestão presente nas estruturas legais e na Plataforma Brasil, uma vez

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que um possível novo modelo avaliativo exigirá encaminhamentos e sistemas de submissão
apropriados.

Recentemente, a ABHO passou a ser representada no GT Ética do FCHSSALLA.


Sugerimos que a Associação se mantenha vinculada ao FCHSSALLA, considerando que a
atuação desse coletivo persegue a construção de regras que incorporem formalmente nossas
práticas e, igualmente, os padrões éticos indissociáveis nas atividades dos/as praticantes de
história oral.

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III - Sugestões sobre a submissão do projeto de pesquisa a um comitê de ética

Na redação do projeto de pesquisa com História Oral é preciso ter em mente as


instâncias nas quais ele será avaliado e os critérios que serão utilizados para tanto. A submissão
de projeto a um comitê de ética se dá por meio da Plataforma Brasil, a porta de entrada virtual
do sistema de avaliação composto pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep),
vinculada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), e pelos Comitês de Ética (CEPs), que
funcionam nas instituições de pesquisa. A Plataforma Brasil solicita que seja anexado
documento comprovando a aprovação do projeto na instituição a que o/a pesquisador/a está
vinculado/a. Depois de inserido na Plataforma, o projeto é encaminhado à Conep que, então, o
distribui para algum comitê de ética, geralmente o da própria instituição.

A Resolução 510/2016 do Conselho Nacional da Saúde é a norma em vigor para a


avaliação dos projetos de Ciências Humanas e Sociais, as quais englobam a História Oral.
Antes da submissão do projeto na Plataforma Brasil, é recomendado ler cuidadosamente a
Resolução e se informar sobre o funcionamento do comitê de ética da sua instituição,
conversando com a secretaria ou com algum/a de seus/suas componentes, preferencialmente
com representantes das humanidades, no sentido de estar alerta a questões que costumam gerar
pendências. Isso evitará idas e vindas do projeto e perda de tempo.

Como ainda não aconteceu a adaptação da Plataforma Brasil aos projetos das
humanidades, a Carta Circular nº 110-SEI/2017-CONEP/SECNS/MS instruiu sobre o
preenchimento do formulário para submissão de projetos das Ciências Sociais e Humanas e
indica que vários campos podem ser preenchidos com a observação: “não se aplica”. No
preenchimento do formulário e na redação do projeto a ser anexado na Plataforma Brasil,
sugere-se:

1 - que fique explícito que o/a pesquisador/a sabe que a normativa que orienta a
avaliação do seu projeto é a Resolução CNS 510/2016 e que conhece a Carta Circular
110/2017;

2 – que o preenchimento dos campos do formulário na Plataforma Brasil e a redação do


projeto sejam feitos concomitantemente, evitando discrepâncias de informação quanto a
objetivos, metodologia, fontes, etapas da pesquisa etc.

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Obs. - Ainda que o projeto de pesquisa seja mais extenso que o formulário e comporte
discussões teórico-metodológicas que dialogam com o campo disciplinar específico e com a
metodologia da história oral (e que não são objeto de análise do comitê de ética), é
recomendável descrever os objetivos, a metodologia, as etapas da pesquisa do mesmo
modo no projeto e no formulário da Plataforma Brasil. No caso dos anexos solicitados,
como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, usar exatamente o mesmo texto no
projeto e no formulário.

3 – No formulário, na aba 4 – “Detalhamento do Estudo” é obrigatório o


preenchimento dos campos:

Resumo

Introdução

Hipótese – se a pesquisa não trabalha com hipótese, registrar “não se aplica, de acordo
com a Carta Circular nº 110-SEI/2017-CONEP/SECNS/MS”

Objetivo Primário

Metodologia adotada – é recomendável ter cuidado na descrição da metodologia, a


qual deve passar para os/as avaliadores/as o detalhamento dos caminhos a serem
trilhados para executar a proposta de pesquisa. Sobre o público-alvo, explicar quem fará
parte dele, quais as razões para a sua escolha e de que maneira será feito o contato com
tais pessoas. Registrar que o número de pessoas a serem entrevistadas e o perfil do grupo
selecionado podem sofrer mudanças dependendo do andamento da pesquisa e que
novos entrevistados podem ser incluídos se necessário.

Riscos – é preciso refletir sobre que tipo de desconforto ou problema a participação na


pesquisa poderia trazer às pessoas a serem entrevistadas e, também, registrar quais
providências poderão ser tomadas nesses casos.

Benefícios – explicar que benefícios os/as participantes poderão ter ao participar da


pesquisa. Essa é uma oportunidade para refletir se além do/a pesquisador/a os/as
participantes também serão beneficiados pela pesquisa.

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Metodologia de Análise dos Dados – Se a metodologia estiver devidamente explicada
no campo “metodologia adotada”, registrar aqui “não se aplica, de acordo com a Carta
Circular nº 110-SEI/2017-CONEP/SECNS/MS”

Tamanho da Amostra no Brasil – a Carta Circular nº 110-SEI/2017-


CONEP/SECNS/MS orienta a registar “0” (zero) e a explicar qual é o público-alvo e o
número aproximado de participantes no campo “Metodologia adotada”.

Desfecho primário – registar: “não se aplica, de acordo com a Carta Circular nº 110-
SEI/2017-CONEP/SECNS/MS”

4 – No formulário, na aba 5, será solicitado:

Cronograma de execução – definir metas e períodos, cuidando para prever o início


das atividades para depois da aprovação do projeto;

Orçamento financeiro – mesmo sem dispor de financiamento, é possível inserir


potenciais gastos com material de consumo, equipamento, deslocamento etc. Esse é um
campo obrigatório do formulário.

Outras informações, justificativas ou considerações a critério do Pesquisador:


registrar o que considerar relevante e que não foi contemplado nos outros campos

Bibliografia – registrar a mesma que consta no projeto de pesquisa anexado.

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IV - Questões em aberto na Resolução 510/2016 e/ou na prática da história oral

- como agir em relação aos TCCs, que segundo a resolução devem passar pela avaliação
dos comitês de ética? É possível e seguro que os/as orientadores/as submetam projetos
“guarda-chuva” para abrigar esses trabalhos?

– como ficam os projetos construídos de forma colaborativa entre pesquisadores/as e


coletivos que implicam no trabalho de campo antes da aprovação do projeto pelo CEP?

- quando o foco não é o indivíduo, mas uma comunidade, como fica o registro de
consentimento?

- quais os impactos da legislação na história oral – Lei de Acesso à Informação, Lei


Geral de Proteção de Dados, privacidade, direito autoral, direito de imagem?

- como fazer uso responsável de entrevistas antigas, produzidas quando não se tinha a
prática de apresentar termo de consentimento ou carta de cessão?

- quais as questões éticas relacionadas à disponibilização de entrevistas na Internet?


Como responder a demandas de que entrevistas usadas em artigos científicos possam
ser acessadas pelo público?

- como adequar referências bibliográficas de entrevistas às normas da ABNT e ao


compromisso de garantir os créditos de autoria a entrevistados/as e entrevistadores/as,
além de mencionar o projeto de pesquisa no qual foram produzidas?

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V - Subsídios para um documento da ABHO sobre ética e história oral

1 – CÓDIGO DE ÉTICA DO ANTROPÓLOGO E DA ANTROPÓLOGA - Associação


Brasileira de Antropologia2
Criado na Gestão 1986/1988 e alterado na gestão 2011/2012
Constituem direitos dos antropólogos e das antropólogas, enquanto pesquisadores e
pesquisadoras:
1. Direito ao pleno exercício da pesquisa, livre de qualquer tipo de censura no que
diga respeito ao tema, à metodologia e ao objeto da investigação.
2. Direito de acesso às populações e às fontes com as quais o/a pesquisador/a precisa
trabalhar.
3. Direito de preservar informações confidenciais.
4. Direito de autoria do trabalho antropológico, mesmo quando o trabalho constitua
encomenda de organismos públicos ou privados.
5. O direito de autoria implica o direito de publicação e divulgação do resultado de
seu trabalho.
6. Direito de autoria e proteção contra o plágio.
7. Os direitos dos antropólogos devem estar subordinados aos direitos das populações
que são objeto de pesquisa e têm como contrapartida as responsabilidades
inerentes ao exercício da atividade científica.
Constituem direitos das populações que são objeto de pesquisa a serem respeitados pelos
antropólogos e antropólogas:
1. Direito de ser informadas sobre a natureza da pesquisa.
2. Direito de recusar-se a participar de uma pesquisa.
3. Direito de preservação de sua intimidade, de acordo com seus padrões culturais.
4. Garantia de que a colaboração prestada à investigação não seja utilizada com o
intuito de prejudicar o grupo investigado.
5. Direito de acesso aos resultados da investigação.
6. Direito de autoria e co-autoria das populações sobre sua própria produção cultural.
7. Direito de ter seus códigos culturais respeitados e serem informadas, através de
várias formas sobre o significado do consentimento informado em pesquisas
realizadas no campo da saúde.
Constituem responsabilidades dos antropólogos e das antropólogas:
1. Oferecer informações objetivas sobre suas qualificações profissionais e a de seus
colegas sempre que for necessário para o trabalho a ser executado.
2. Na elaboração do trabalho, não omitir informações relevantes, a não ser nos casos
previstos anteriormente.

2
http://www.portal.abant.org.br/codigo-de-etica/ Consulta em 10/06/2022.

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3. Realizar o trabalho dentro dos cânones de objetividade e rigor inerentes à prática
científica.

2 - Brasil - Carta de princípios éticos – ANPUH Brasil (2015)3

Destaque para tópico específico sobre história oral

“No caso do uso da metodologia de história oral, é fundamental que o entrevistado conheça os
objetivos da pesquisa e consinta explicitamente em dela participar, podendo este consentimento
ser expresso de forma escrita ou oral. Cabe ao historiador cumprir fielmente os termos do
consentimento, especialmente no que diz respeito à divulgação ou não da identidade dos
envolvidos e à autorização ou não do uso dos registros produzidos. A garantia do anonimato
reside no compromisso de não só omitir o nome do entrevistado como informações que possam
identificá-lo. Possibilitar que os sujeitos envolvidos na pesquisa tenham acesso ao
conhecimento construído a partir dos seus relatos é um procedimento altamente
recomendável”.

3 – Brasil - Resolução CNS 510/2016

Direitos dos participantes da pesquisa:

I – ser informado sobre a pesquisa;

II – desistir a qualquer momento de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo;

III – ter sua privacidade respeitada;

IV – ter garantida a confidencialidade das informações pessoais;

V – decidir se sua identidade será divulgada e quais são, entre as informações que
forneceu, as que podem ser tratadas de forma pública;

VI – ser indenizado pelo dano decorrente da pesquisa, nos termos da Lei;

VII – o ressarcimento das despesas diretamente decorrentes de sua participação na


pesquisa (CNS, 2016).

4 – Estados Unidos - Oral History Association Statement of Ethics (2018)4

3
https://anpuh.org.br/index.php/2015-01-20-00-01-55/noticias2/noticias-destaque/item/2902-carta-de-principios-
eticos-anpuh-brasil . Cópia literal do documento da ANPUH Brasil.
4
https://www.oralhistory.org/oha-statement-on-ethics/ . Tradução literal, na maioria das vezes, do que consta no
site da OHA.

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A ética se refere aos princípios que devem governar os múltiplos relacionamentos
inerentes à história oral. Todas as pessoas envolvidas no processo devem trabalhar para garantir
que a perspectiva, a dignidade, a privacidade e a segurança dos/as narradores/as sejam
respeitadas.

Quanto à preparação do/a pesquisador/a e à comunicação com as pessoas a serem


entrevistadas, é preciso estar informado/a sobre teoria, metodologia e ética relativas à história
oral e com isso estar atento/a a quatro pontos:

1 - documentar a concordância do/a narrador em participar da entrevista e do projeto


como um todo (consentimento informado);

2 - comunicar os objetivos do projeto, os riscos potenciais, prever as formas de


acessibilidade ao material (garantia de que todas as promessas feitas sejam cumpridas);

3 - dar ao/à entrevistado/a a oportunidade de aprovar a gravação ou a transcrição antes


do uso da entrevista, sempre que possível;

4 - conduzir pesquisa preliminar sobre os tópicos que serão enfocados na entrevista e


se familiarizar com a tecnologia de gravação a ser usada.

Quando da realização da entrevista, refletir seriamente sobre as hierarquias de poder,


vieses implícitos, potenciais áreas de desacordo entre as posições do/a pesquisador/a e do/a
narrador/a. Levar em conta como essas diferenças podem impactar na forma como os/as
narradores/as compartilham suas memórias. Deve-se também atentar para minimizar potenciais
danos para os narradores, comunicar o direito de não responderem a certas perguntas, assim
como descrever honestamente suas próprias afiliações institucionais, profissionais e políticas,
respeitando a confiança implícita no processo da história oral.

No que se refere à guarda e ao acesso, é enfatizado que o narrador tenha a oportunidade


de revisar e aprovar a entrevista. Isso implica o direito de apagar, restringir e ou tarjar porções
da entrevista, adicionar elementos e corrigir erros e, ainda, a opção de manter a entrevista
fechada ao público por determinado período ou de desistir de torná-la pública. É recomendável
documentar metadados relevantes para usos futuros (quem foi entrevistado, quem entrevistou
etc.), respeitar os desejos de privacidade e se informar sobre questões legais relacionadas a

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difamação e a invasão da privacidade e a outros temas que podem colocar em perigo os/as
narradores/as.

As entrevistas devem ser usadas de forma honesta e respeitosa, o que significa produzir
análises que se mantenham fiéis às palavras e aos significados produzidos pelo/a narrador, o
que implica em não citar palavras fora do contexto ou que fujam do sentido originalmente
atribuído. Isso não impede que os/as pesquisadores/as cheguem a conclusões diferentes
daquelas dos/as narradores/as, desde que baseadas em evidências propriamente citadas.

5 – Itália - AISO Buone Pratiche per la Storia Orale (2020)5

Na parte introdutória (princípios gerais), o documento trata da adequada preparação


para praticar história oral, da responsabilidade de instituições e de docentes na formação dos
estudantes quanto às particularidades das fontes orais e das características da metodologia
como uma relação pessoal marcada por respeito recíproco. Chama a atenção para o cuidado
com a qualidade da gravação das vozes, de outros sons e de imagens. O documento está
organizado em três tópicos que tratam das entrevistas (coleta, utilização e conservação) e um
tópico relativo ao trabalho por contrato.

Quanto à coleta:

As entrevistas são apresentadas como resultado de uma escolha consciente e informada.


O consentimento deve ser explícito e registrado de forma escrita ou oral. Devem constar o
nome de entrevistado e entrevistador, data e local, instituição na qual a pesquisa é desenvolvida
e pela qual é financiada, quando for o caso, assim como utilização e difusão que será feita e
local e modalidade de arquivamento.

O entrevistado tem o direito de interromper ou de suspender a gravação da entrevista e


de fazer declarações com o gravador desligado. Também podem conceder a entrevista de forma
anônima ou com pseudônimo ou requerer o anonimato por um tempo determinado. Nesse caso,
o anonimato também é garantido nas fases de arquivamento e conservação. O entrevistado tem
o direito de acessar os dados fornecidos na entrevista, de complementar, de especificar e de

5
[3] https://www.aisoitalia.org/buone-pratiche/ . Tradução literal, na maioria das vezes, do que consta no site da
AISO.

17
modificar os mesmos. O pesquisador deverá registrar essas mudanças sem alterar os dados
originalmente recolhidos.

Quando a entrevista é interrompida e iniciada em outro momento, é preciso registrar os


dados, de modo que o consentimento informado seja válido para todas as partes. Dependendo
do tema da pesquisa, o entrevistado deve ser informado que, em casos excepcionais, sua
entrevista pode ser requisitada por autoridade judiciária,

A entrevista é uma narração dialógica da qual participam entrevistador/a e


entrevistado/a. Ela pertence a quem a produziu. As escolhas relativas à transcrição e à
montagem pertencem ao/à pesquisador/a em última instância, a menos que tenha sido
combinado de outra forma com a pessoa entrevistada. O/a pesquisador/a avalia se é oportuno
submeter a gravação e a transcrição ao/à entrevistado/a.

A qualquer tempo, o/a entrevistado/a tem o direito de revogar o consentimento dado


para a publicação da entrevista, mas o/a pesquisador/a mantém o direito à entrevista original,
podendo usar seus dados sem referir-se à identidade do/a entrevistado/a e a elementos que
possam identificá-lo. É uma boa prática entregar uma cópia da entrevista ao/à entrevistado/a
no formato que parecer mais adequado às circunstâncias. O/a pesquisador/a, quando houver
referências a terceiros na entrevista, adota, antes de publicá-la, todas as medidas cabíveis
visando não prejudicar sua imagem e reputação.

Quanto à conservação:

A fonte oral é o registro em áudio e vídeo, enquanto que a transcrição é uma redução
ou uma aproximação textual. Ela deve ser conservada e tornada acessível aos estudiosos, a
menos que tenha sido combinado de forma diferente. Cabe ao/à pesquisador/a escolher o local
mais adequado ao depósito. É necessário que o/a entrevistador/a assine um documento no qual
constem os dados de identificação da entrevista (salvo nos casos de solicitação de anonimato),
assim como as informações sobre local, data, modalidade da entrevista. Deve registrar também
eventuais limites à consulta e divulgação e a presença de dados pessoais ou elementos que
possam lesar a dignidade de terceiros. A esse documento podem ser anexados índices e
transcrição e outros registros que possam ser úteis para os futuros usuários da entrevista.

No caso das entrevistas gravadas no passado sem o registro do consentimento, elas


podem ser usadas conforme previam as normas daquele período, a menos que haja a

18
oportunidade de adequá-las às normas presentes. Depois de doadas, o dever de respeitar os
limites da utilização e da publicação das entrevistas é repassado à pessoa responsável pela
instituição de guarda.

Quanto ao trabalho por contrato

Quando trabalhando por contrato para entes públicos ou privados, o/a pesquisador/a e
seus colaboradores/as são responsáveis pela integridade da pesquisa e pelo respeito à dignidade
das pessoas entrevistadas. O/a contratante/a deve ser adequadamente informado sobre os
cuidados necessários para gerir a fase de conservação dos produtos resultantes de pesquisa com
história oral.

6 – Ética e História Oral - Manual de Procedimentos do Repositório de Entrevistas de


História Oral (REPHO/UFRGS) - 20226

Os/as praticantes da História Oral no Brasil não contam com um código de ética próprio,
mas o tema dos cuidados e boas práticas tem sido alvo de discussão em eventos e publicações
da área. Na ausência de tal código, a redação deste texto foi feita tendo como base a Carta de
Princípios Éticos aprovada pela Associação Nacional de História (ANPUH BRASIL) em 2015;
a Resolução 510/2016, do Conselho Nacional de Saúde, relativa à avaliação ética de pesquisas
das Ciências Humanas e Sociais; e, ainda, documentos correlatos produzidos nos Estados
Unidos e na Itália.7 Dialogando com esses materiais, serão apresentados tanto direitos das
pessoas entrevistadas quanto direitos e deveres dos/as pesquisadores/as.

As pessoas entrevistadas têm direito de ser informadas sobre os objetivos e métodos


da pesquisa; de decidir se participam ou não da pesquisa, podendo deixar de participar no
momento em que acharem adequado e de decidir se terão sua identidade revelada ou omitida.
Os/as participantes têm direito ao reconhecimento da autoria do seu depoimento e de decidir
se a entrevista poderá ser usada para além do projeto no seio da qual ela foi produzida, o que é

6
https://www.ufrgs.br/repho/wp-content/uploads/2018/08/Manual-do-Repositorio-de-Entrevistas-de-Historia-
Oral-versao-maio-2022.pdf. O texto é de autoria de Carla Simone Rodeghero.
7
ANPUH BRASIL, Carta de Princípios Éticos, 201. Disponível em https://anpuh.org.br/index.php/2015-01-20-
00-01-55/noticias2/noticias-destaque/item/2902-carta-de-principios-eticos-anpuh-brasil. Acesso em 08 de julho
de 2020; BRASIL, Conselho Nacional de Saúde. Resolução 510, de7 de abril de 2016. Disponível em
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf. Acesso em 09 de julho de 2020; Para a declaração
de princípios éticos da Oral History Association (Estados Unidos), atualizada em 2018, ver
https://www.oralhistory.org/oha-statement-on-ethics/ . Acesso em 18/05/2022. Para a segunda versão do
documento Buone Pratiche per la Storia Oral, publicada pela Associazione Italiana di Storia Orale em 2020, ver
https://www.aisoitalia.org/buone-pratiche/ . Acesso em 18/05/2022.

19
indispensável para as etapas de arquivamento e divulgação para futuros usos. Os/as
entrevistados/as também têm direito de decidir se a entrevista poderá ser divulgada na Internet
e se a sua imagem poderá ser usada. Os/as participantes da pesquisa têm, ainda, o direito de
não serem expostos a riscos materiais e emocionais ao participarem do projeto, de conhecer os
resultados da pesquisa e de ter sua experiência de vida e sua pessoa retratadas de forma
respeitosa.

Os/as pesquisadores/as têm o direito de utilizar os depoimentos que colheram para os


fins que foram acordados, identificando os/as colaboradores/as ou apresentando os/as
mesmos/as com o uso de pseudônimo, se assim for solicitado; de utilizar entrevistas feitas por
outros/as pesquisadores/as caso os/as mesmos/as e os/as narradores/as tenham autorizado o uso
por terceiros; de produzir interpretações a partir dos depoimentos que servem como fonte de
pesquisa. Eles/as detêm o direito de autor/a sobre textos e demais produtos elaborados com
base nas entrevistas. Em casos de escrita conjunta, o crédito deve ser atribuído a todas as
pessoas envolvidas. Os/as pesquisadores/as têm, ainda, o direito e dever de decidir quais entre
as informações contidas nas entrevistas poderão ser divulgadas e quais serão omitidas para não
colocar em risco os/as colaboradores/as ou terceiros/as.

Cabe aos/às pesquisadores/as proporcionar às pessoas entrevistadas o esclarecimento


necessário sobre a pesquisa e sobre a metodologia da entrevista; registrar o consentimento do/a
participante quanto ao uso da entrevista e respeitar as limitações que porventura sejam
solicitadas quando ao uso e divulgação do material; informar aos/às colaboradores/as que não
haverá custos para participar da pesquisa e não será feito nenhum pagamento pela participação;
apresentar as pessoas entrevistadas de forma respeitosa; planejar estratégias para que os
resultados da pesquisa sejam compartilhados com as pessoas que foram entrevistadas. É tarefa
do/a pesquisador explicar se a participação implicará em danos emocionais (como ansiedade,
angústia, cansaço), materiais (como despesas de deslocamento) e se dispor a contribuir para a
amenização dos mesmos, mantendo atenção às demandas dos/as participantes, fazendo pausas
na entrevista ou transferindo-a para outro dia e, inclusive, informando que a pessoa pode
desistir a qualquer momento.

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VI - Recomendações à ABHO

Este GT, no limite das suas possibilidades, considerou realizada a tarefa proposta pela
atual direção da ABHO, ao dar conta de:

1 - compilação de informações sobre a avaliação institucional realizada pelo sistema


CEPs/Conep, com destaque para a Resolução CNS 510/2016 e seus desdobramentos
posteriores;

2 - avaliação sobre avanços e problemas relacionados a esta resolução e indicação de


procedimentos quando da submissão de projetos ao sistema, via Plataforma Brasil;

3 - reunião de subsídios sobre ética na pesquisa na antropologia e na história oral, no


último caso a partir de documentos produzidos no Brasil, nos Estados Unidos e na Itália.

Frente ao exposto, sugerimos à ABHO os seguintes encaminhamentos:

1 - Manter representação junto ao FCHSSALLA e ao seu GT Ética, no esforço de


pressionar pela exclusão das nossas pesquisas do âmbito do PL 7082/2017 e na construção de
um documento coletivo sobre ética na pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais, Sociais
Aplicadas, Letras, Linguística e Arte;

2 - Divulgar entre os/as associados os subsídios apresentados para a elaboração de uma


carta de princípios éticos ou de boas práticas em história oral. Com base nas considerações
recolhidas, com a ampliação do atual GT de Ética e com apoio de assessoria jurídica, redigir o
documento de boas práticas da ABHO;

3 - Com base no procedimento mencionado no item anterior, definir modelo de


referência das entrevistas a ser adotado pela revista História Oral e a ser demandado à ABNT;

4 - Divulgar as orientações para submissão de projetos via Plataforma Brasil elaboradas


por este GT.

5 - Encaminhar discussões e orientações quanto à formação e funcionamento de


repositórios institucionais para as entrevistas de história oral.

Porto Alegre, Dourados, Recife, Ponta Grossa, 28 de junho de 2022.

Carla S. Rodeghero, Eudes F. Leite, Pablo F. de A. Porfírio e Robson Laverdi.

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