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Ética na Pesquisa em Administração – Reflexões junto aos Pesquisadores da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte


Autoria: Ana Patrícia Rodrigues Leite, Marli de Fátima Ferraz da Silva Tacconi, Walid Abbas El-Aouar,
Anderson Luiz Rezende Mól, Mauro Lemuel Alexandre

Resumo
A ética como reflexão crítica auxilia nas considerações sobre os fundamentos morais que
orientam as ações de cada pesquisador. O presente artigo tem como objetivo verificar se as
questões éticas têm sido consideradas no processo de pesquisa em Administração. Os
parâmetros éticos, que devem ser considerados e refletidos no processo de pesquisa,
recomendados por Creswell (2007), embasaram o estudo em questão. Trata-se de uma
pesquisa exploratória e descritiva que buscou explorar a relação entre a ética e a pesquisa em
Administração, através de um levantamento aplicado junto a quarenta e seis pesquisadores do
Departamento de Ciências Administrativas (DEPAD) e do Programa de Pós-Graduação em
Administração (PPGA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foram
feitas análises quantitativas, através da distribuição de freqüência, da análise de cluster e da
análise discriminante, a fim de definir o perfil da amostra, classificar grupos com maior ou
menor reflexão sobre ética, com base nas características levantadas e identificar quais as
variáveis que diferenciam esses grupos. Constatou-se que os respondentes consideraram
muito necessária a reflexão ética no processo de pesquisa em Administração, porém a maioria
nunca consultou o Comitê de Ética em Pesquisa da referida universidade durante o processo
de pesquisa. Desse modo, observou-se a importância de estabelecer padrões acerca de
aspectos éticos da pesquisa em Administração, e de tornar esses padrões acessíveis a toda
comunidade acadêmica, desde que sejam definidos através de um processo reflexivo-crítico e
participativo.
1. INTRODUÇÃO

A nova reestruturação das relações globais determinada pelos problemas presentes na


sociedade contemporânea fez ressurgir a questão da justificação filosófica das normas
fundamentais da ação humana. Se há algo que caracteriza de forma incisiva o mundo atual é,
sem dúvida, a desproporção entre a velocidade do progresso científico-tecnológico e o vácuo
ético que se formou a partir da negação dos sistemas tradicionais de valores. (OLIVEIRA et.
al, 2000).
Dentro do processo de elaboração da pesquisa, um ponto importante a ser considerado
é a ética na pesquisa, que visa assegurar que ninguém seja prejudicado ou sofra conseqüências
adversas por causa das atividades de investigação. (COOPER; SCHINDLER, 2003). Como a
pesquisa científica envolve pesquisadores e pesquisados, surgiu o interesse sobre o debate que
envolve a responsabilidade ética do pesquisador em Administração. Nesse sentido, apresenta-
se o seguinte problema da pesquisa: as questões éticas, descritas na literatura acadêmica,
estão sendo consideradas no processo de pesquisa em Administração?
Como objetivo geral da pesquisa, pretendeu-se, com o presente estudo, “verificar se as
questões éticas têm sido consideradas no processo de pesquisa em Administração”. Como
objetivos específicos, buscaram-se: Descrever o perfil dos respondentes; Identificar a
percepção dos respondentes quanto à necessidade de reflexões éticas na pesquisa em
Administração; Verificar, na opinião dos pesquisados, em quais etapas do processo geral da
pesquisa em Administração as questões éticas (recomendadas pela literatura) devem ser
consideradas; Levantar a freqüência com que são feitas consultas às normas éticas no
processo de pesquisa em Administração, por parte dos respondentes; Classificar a amostra em
grupos com maior ou menor reflexão ética; E identificar quais as variáveis que diferenciam
esses grupos. A partir dos objetivos apresentados, e através de um levantamento bibliográfico
1
e documental, apresentam-se, a seguir, os pressupostos teóricos sobre o tema “ética na
pesquisa em Administração”.

2. REFLEXÕES SOBRE ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

2.1 Ética nas universidades


Na tentativa de compreender o tema “ética”, serão expostas algumas definições e
conceitos, alicerçados em abordagens de diversos teóricos. Conceituar ética não é uma tarefa
simples, considerando-se que este campo de estudo é bastante complexo. Parte-se então da
afirmação de Srour (2000), que coloca que a ética estuda as morais históricas, as relações e as
condutas dos agentes sociais. O referido autor discute então o que é a moral, ou seja, um
conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades
adotam. Chaui (2006) complementa afirmando que pode-se dizer que a ética é o estudo dos
valores, e, portanto que a ética é a reflexão sobre a moral.
Defini-se, assim, a ética como ciência ou estudo do comportamento moral, que se
constitui a partir de uma reflexão sobre os fundamentos que norteiam nossas ações, podendo
mostrar-se crítica ao desvelar aspectos distorcidos desses fundamentos ou até mesmo
legitimar determinado conjunto moral.
Na visão de Jobim (2003), a ética sempre foi uma disciplina filosófica, mas há algum
tempo perdeu a característica de um estudo exclusivamente teórico. No mundo moderno é
crucial entender como as premissas éticas podem ser colocadas em prática pelas organizações
no seu dia-a-dia, especialmente em relação aos públicos interessados. Não existem verdades
absolutas ou exatas em matéria de ética. Por isso, a reflexão permanente é necessária
(MOREIRA, 2002). A partir das discussões sobre a ética aborda-se, a seguir, como a ética
está sendo refletida, discutida, e normatizada nas universidades brasileiras e nos centros de
pesquisas.
O assunto da responsabilidade ética do cientista e as reflexões sobre o impacto da
ciência e da tecnologia sobre a vida social e sobre o ser humano não é algo moderno.
Contudo, foram os efeitos catastróficos do progresso da técnica e da ciência após a primeira
guerra mundial e no período entre ela e a segunda guerra mundial que trouxeram à tona a
importância de refletir sobre a responsabilidade do cientista. (SANTOS; SILVA NETO,
2000).
As primeiras normas éticas formais surgiram com o Código de Nuremberg, em 1947,
em resposta às atrocidades da experimentação médica dos nazistas. Foi o primeiro documento
ético internacional contendo preceitos disciplinadores às atividades científicas, e que passou a
requerer dos pesquisadores: o consentimento livre do sujeito na pesquisa, a redução de riscos
e incômodos, a possibilidade de revogação de autorização pelo sujeito, a proporcionalidade
entre riscos e benefícios, a obrigatoriedade de pesquisa prévia em animais etc. Assim, tais
preceitos buscaram resgatar alguns referenciais mínimos para um agir ético marcando,
portanto, o nascimento da primeira norma de ética aplicada. (LINO, 2008; HUTZ, 2008).
Em 1964, foi assinada a Declaração de Helsinque, que propunha a criação e
implantação de Comitês de Ética em Pesquisa, o que foi incluído na quase totalidade dos
Códigos e Normas de Pesquisa em Saúde. Nos anos seguintes, especialmente nas décadas de
1960 e 1970, surgiram e se consolidaram vários códigos e normas legais para pesquisa com
seres humanos nos Estados Unidos, Canadá e Europa (HUTZ, 2008). Inicialmente, a
preocupação ética recaía sobre as práticas de pesquisa de experimentação com seres humanos
e só depois do final dos anos sessenta e durante os anos setenta é que surgem novas
preocupações e contestações da sociedade quanto aos efeitos das pesquisas sobre a
humanidade. (SANTOS; SILVA NETO, 2000).

2
No Brasil, apesar do Código de Ética Médica em vigor, datado de 1988, já tratar da
pesquisa médica nos artigos 122 a 130, a primeira diretriz específica sobre pesquisas em seres
humanos foi a Resolução n° 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão ligado ao
Ministério da Saúde, de 13/6/1988. Essa diretriz imputa ao Ministério da Saúde a
responsabilidade de emissão das normas técnicas para a realização de pesquisas para a saúde e
determina a periodicidade e as características da informação sobre a pesquisa. Seguindo em
linhas gerais as diretrizes internacionais já estabelecidas. (GRECO; MOTA, 1998). Essa
primeira regulamentação brasileira com relação à ética na pesquisa com seres humanos
representou um importante avanço, embora seu alcance aparentemente tenha se limitado a
alguns hospitais, especialmente os ligados às universidades, que estabeleceram comissões de
ética para avaliar projetos de pesquisa. (HUTZ, 2008).
A Resolução n° 1/1988, do CNS, após amplos debates com as comunidades científicas
e a sociedade civil - foi reformulada em 1996, tornando-se a Resolução CNS n° 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde (CNS). São mantidos os mesmos princípios da precedente,
fundamentando-se nos principais documentos internacionais sobre pesquisas envolvendo
seres humanos e na legislação brasileira a respeito. (GRECO; MOTA, 1998). A referida
resolução (n°. 196/86) incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, quatro
referenciais básicos da ética: autonomia (consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-
alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes); não maleficência
(garantia de que danos previsíveis serão evitados); beneficência (ponderação entre riscos e
benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o
máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos) e justiça (relevância social da pesquisa
com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os
sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não
perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária), e visa assegurar os direitos e
deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado
(CNS, 2008).
A partir da Resolução nº 196/96, citada anteriormente, foi criada a Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (CONEP), que é uma comissão do Conselho Nacional de Saúde (CNS),
com constituição designada pela Resolução nº 246/97, com a função de implementar as
normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Tem função
consultiva, deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de
Comitês de Ética em Pesquisa (CEP), organizados nas instituições onde as pesquisas se
realizam, tais como as universidades. A CONEP e os CEPs têm composição multidisciplinar
com participação de pesquisadores, estudiosos de bioética, juristas, profissionais de saúde, das
ciências sociais, humanas e exatas e representantes de usuários (CONEP, 2008).
O CEP é um colegiado interdisciplinar e independente e é responsável pela avaliação e
acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas que envolvam seres humanos.
Desse modo com a Resolução n. 196/96, toda pesquisa que envolva seres humanos tem que
ser submetida à apreciação de um comitê de ética em pesquisa. (CEP/UFRN, 2008). Além de
salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa, o CEP também contribui para
a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento
institucional e no social da comunidade e ainda para a valorização do pesquisador que recebe
o reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada. (CEP/UFRN, 2008).
Com base nos dados do CONEP (2008), observa-se que (até setembro de 2008)
existiam quinhentos e oitenta e seis um (586) CEPs credenciados no país, entre universidades
públicas, organizações privadas, além de entidades ligadas aos governos estaduais e
municipais. As abordagens sobre ética nas universidades brasileiras corroboram a importância
da ética na pesquisa, no sentido de estabelecer questões éticas para a decisão de o que
pesquisar, como pesquisar (conduta ética no processo de pesquisa) e como apresentar e
3
utilizar os resultados da pesquisa, através do debate ético e da identificação dos interesses que
orientam a pesquisa. A seguir serão abordados as questões teóricas direcionadas a ética na
pesquisa, enfocando em profundidade a eticidade na pesquisa em Administração.

2.2 Ética na Pesquisa em Administração


Antes restrita ao espaço dos laboratórios e universidades, a pesquisa vem rompendo as
fronteiras das ciências para se tornar atividade corriqueira e acessível a um número crescente
de atores, em espaços cada vez mais diversificados. Por muito tempo a atividade de pesquisa
foi considerada isenta de considerações de ordem ética. A neutralidade do pesquisador era
exigência inexorável e a confiabilidade dos resultados se depreendia da capacidade de se
descolar de seus valores para se ater exclusivamente ao rigor do método. Assim, da pesquisa se
cobrava tão-somente a observância rigorosa dos métodos e procedimentos, abstraídas as
conseqüências da aplicação de seus resultados. Desde que "científico", o conhecimento gerado
legitimava-se, e o pesquisador poderia ter certeza de servir à causa nobre do progresso da
ciência. (CAMPOS; COSTA, 2008).
Conforme Hutz (2008), até muito recentemente, não havia, no Brasil, uma
preocupação institucional com os aspectos éticos da pesquisa. Creswell (2007) coloca que as
questões éticas devem ser consideradas e refletidas em todo o processo de pesquisa. O autor
discorre, em cada etapa da pesquisa, sobre quais as questões éticas que devem ser observadas
pelos pesquisadores. O quadro teórico 2 apresenta alguns das questões éticas, que embasam o
presente estudo.

Quadro 1: Questões éticas a serem observadas no processo da pesquisa


Etapa da Pesquisa Questões éticas a serem observadas
No problema da pesquisa - Beneficiar ou não prejudicar os participantes
Nos objetivos e nas indagações - Comunicar os objetivos do estudo aos participantes;
da pesquisa - Comunicar quem é o patrocinador ou órgão que apóia a pesquisa
Na coleta de dados - Respeitar os participantes e o local da pesquisa (deixar intacto);
- Não expor participantes e equipe da pesquisa ao risco;
- Não coagir o participante a participar da pesquisa;
- Obter, por escrito, o livre consentimento do participante, bem como
o consentimento do acesso ao local da pesquisa;
- Deixar claro a natureza da pesquisa e o possível impacto da
pesquisa sobre os participantes (gerar entendimento dos riscos
resultantes da pesquisa);
- Respeitar a privacidade do participante;
- Disponibilizar o resultado final da pesquisa (cópia dos resultados)
ao pesquisado e órgão de apoio da pesquisa;
- Ter cuidado na elaboração do instrumento de pesquisa (não usar
perguntas censuráveis ou constrangedoras).
Na interpretação dos dados - Manter o anonimato das pessoas e/ou empresas pesquisadas;
- Armazenar os dados da pesquisa durante tempo determinado e
depois destruir os dados, de forma a evitar a utilização dos mesmos
por terceiros;
- Gerar informações precisas e exatas (exatidão).
Na divulgação e redação da - Não usar linguagem ou palavras preconceituosas;
pesquisa - Evitar supressão, falsificação ou invenção de resultados, para
atender necessidades do pesquisador ou de um público interessado
(evitar práticas fraudulentas na pesquisa);
- Prever as repercussões da condução da pesquisa junto a
determinados públicos;
- Não realizar análises equivocadas por despreparo técnico
profissional (como na utilização de softwares).
Fonte: Adaptado de Creswell, 2007.

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Conforme Churchill e Peter (2005) a relação entre pesquisador e participantes deve ser
mantido dentro de rígidos limites éticos. O ato de planejar uma atividade de pesquisa é
imprescindível para a manutenção da integridade moral. Os pesquisadores devem identificar
os modos como a privacidade poderia ser invadida e evitar que isso aconteça. Portanto, uma
pesquisa responsável é a que se antecipa aos possíveis problemas éticos e não aquela que se
justifica posteriormente a realização da investigação. (CHURCHILL; PETER, 2005).
As pessoas que integram uma organização, uma sociedade, ou uma comunidade
científica possuem formações culturais e científicas diferentes, experiências sociais diversas e
opiniões distintas sobre os fatos da vida. Por isso, os códigos de ética têm a missão de
padronizar e formalizar o entendimento sobre um assunto. (MOREIRA, 2002).
Porém, a ética profissional não pode ser reduzida aos códigos de ética, que na verdade
constituem códigos morais, mas deve ser a busca por uma reflexão crítica sobre a ação do
profissional no seu espaço de trabalho, que deve fundamentar seu bem-estar e o dos outros,
uma vez que o trabalho se dá por uma relação. A ética como reflexão crítica ajuda a analisar
os fundamentos morais que norteiam as ações de cada pesquisador ou profissional. (POLLI;
VARES, 2008). A seguir a metodologia que fundamenta o presente trabalho de pesquisa.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente artigo consistiu em pesquisa exploratória e descritiva. Segundo Cervo e


Bervian (2002), a pesquisa exploratória tem como finalidade familiarizar-se com o fenômeno
ou adquirir uma nova percepção sobre um assunto. É o tipo de pesquisa recomendada quando
existe pouco conhecimento sobre o problema a ser pesquisado.
A pesquisa descritiva, conforme ressalta Mattar (1996), tem o escopo de descrever
características de grupos, desvendar ou conferir a existência de relação entre variáveis e
estimar a proporção de elementos de uma população específica, que tenham determinados
comportamentos ou características.
A análise documental, referente à ética, foi feita junto aos sítios: do Ministério da
Saúde (MS), do Conselho Nacional de Saúde (CNS), da Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP), do Comitê de ética em pesquisa da UFRN, onde foram levantados dados
e informações referentes à legislação atual que regulamenta a ética na pesquisa. Para a
elaboração deste artigo também foi feita pesquisa da literatura sobre a conceituação da ética
na pesquisa, como também foram analisados e interpretados os dados coletados junto à
amostra pesquisada.
A pesquisa utilizou uma abordagem quantitativa, que, segundo Silva e Menezes
(2001), é um estudo que traduz opiniões e informações em números a fim de classificá-las e
analisá-las. O instrumento de coleta dos dados adotado nesta pesquisa foi o questionário.
Segundo Cervo e Bervian (2002), o questionário é um instrumento utilizado para a
obtenção de respostas às questões das quais o próprio informante preenche. O questionário
estruturado foi elaborado com base nas variáveis sobre as questões éticas na pesquisa,
sugeridas por Creswell (2007), conforme apresentado no quadro 2, na página 4.
O universo desta pesquisa foi composto por centro e trinta (130) pesquisadores do
Departamento de Ciências Administrativas (DEPAD) e do Programa de Pós-Graduação em
Administração (PPGA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), entre
quarenta e oito (48) professores em atividade e oitenta e dois (82) alunos matriculados entre
os anos de 2006 a 2008 no PPGA. O campo de aplicação do instrumento de pesquisa tratou-se
do envio de questionário pelo correio eletrônico, para todos os elementos do universo da
presente pesquisa. A partir da coleta dos dados, foi definido o tamanho da amostra, entre os
pesquisadores que devolveram os questionários preenchidos, totalizando quarenta e seis (46)

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participantes, o que corresponde a 35,4 % do universo da pesquisa, sendo dezenove (19)
professores e vinte e sete (27) alunos.
O estudo utilizou-se de análise descritiva dos valores absolutos e dos percentuais, e da
análise de Cluster. A análise de Cluster é um conjunto de técnicas, nas quais são estabelecidos
grupos de pessoas dentro de uma regra de classificação por algum tipo de significado que seja
representativo de alguns grupos (COBRA, 1997). Ainda segundo o autor, este método é
utilizado como uma análise “flexível” de variância, em que grupos de indivíduos podem ser
divididos em subgrupos, de forma a diminuir a variação entre os membros do grupo, e,
portanto, deduzir algumas características desse grupo, que podem ser utilizadas para construir
a teoria acerca do comportamento humano. Para a realização desse estudo, utilizou-se o
software Statistica versão 6.0, no tratamento estatístico dos dados.
O procedimento utilizado foi o não hierárquico de agrupamento K-means. Os métodos
não hierárquicos procuram diretamente uma partição de n objetos, de modo a permitir que os
grupos tenham coesão interna e isolamento entre eles (CORRAR; PAULO; DIAS FILHO,
2007).
A medida utilizada para diferenciar os grupos foi a Distância Mahalanobis. Segundo
Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), essa medida de distância enfoca a magnitude dos valores e
descreve como similares os casos que estão próximos, com a vantagem de desenvolver um
processo de padronização nos dados, bem como somar a variância e co-variância total do
grupo com ajustes das intercorrelações entre variáveis. Hair et al. (2005) descrevem que essa
forma de medir compensa o impacto da multicolinearidade nas variáveis em análises de
agrupamento.
Classificada a amostra em dois grupos no Cluster, realizou-se a análise discriminante.
Esse tipo de técnica é apropriado a qualquer questão de pesquisa com o intuito de entender a
pertinência dos grupos que possam ser avaliados em uma série de variáveis independentes
(HAIR et al., 2005). A escolha dessa técnica deriva da natureza qualitativa dos dados, em
função dos valores de cada variável serem o resultado de uma classificação estabelecida. Para
isso, utilizou-se o software SPSS, versão 16, para identificar as variáveis que melhor
distinguem os grupos do Cluster 1 e 2 da análise anterior. Os resultados encontrados na
pesquisa de campo são apresentados e discutidos a seguir.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Perfil dos Respondentes


Com relação ao perfil dos respondentes, observou-se que o gênero foi bem equilibrado
na amostra, onde 56,5% são do sexo masculino e 43,5% do sexo feminino. A faixa etária de
maior predominância foi a de 21 a 30 anos (43,5%) e a de menor predominância foi a de 51 a
60 anos (10,9%). Isso se relaciona com a amostra que foi formada por um grande número de
estudantes do PPGA.
O grau de escolaridade da amostra foi preponderantemente formado: doutores
(17,3%), doutorandos (15,2%), mestres (6,5%) e mestrandos (60,9%). Entretanto, dos
respondentes, 65,2% possuem formação acadêmica em nível de graduação em Administração.
O tempo de experiência como pesquisador dos respondentes apresentou uma maior
incidência em até dois anos (30,4%) empatado com o período de 2 a 5 anos (30,4%), seguido
de 6 a 10 anos (23,9%). Com uma menor freqüência ficaram os períodos de 11 a 15 anos
(6,5%), de 16 a 20 (4,3%) e acima de 20 anos (4,3%).
A maior parte dos pesquisadores realiza de uma a três pesquisas ao ano (78,3%).
Apenas 17,4% desenvolvem de quatro a seis pesquisas ao ano, e uma minoria (4,3%)
desenvolve de sete a nove pesquisas ao ano, entre pesquisas individuais e orientações de teses

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e dissertações. Entretanto, convém ressaltar que, por razões diversas, nem todas as pesquisas
são publicadas em periódicos científicos.
Com relação à vinculação em base ou grupo de pesquisa, os percentuais foram
relativamente equilibrados com 43,5% dos respondentes tendo algum tipo de vinculação e
56,5% sem vinculação. Apenas 17,4% possuem bolsa de financiamento de pesquisa. Ressalte-
se que há professores do DEPAD que não estão vinculados a nenhuma base de pesquisa, mas
que ensinam e desenvolvem pesquisas na graduação em Administração.

4.2 Reflexões sobre a Ética na Pesquisa em Administração


Identificado o perfil dos respondentes, os resultados a seguir enfocam se as questões
éticas, descritas na literatura acadêmica, são consideradas no processo de pesquisa em
Administração.
De acordo com pesquisa, observa-se que 64,3% dos respondentes perceberam que a
reflexão sobre as questões éticas é muito necessária no processo de pesquisa em
Administração, seguida de 19% que tenderam à freqüência de muito necessária. Os resultados
suscitam a questão de que esses dados podem indicar que as pessoas já têm uma visão da
necessidade de se refletir eticamente nas pesquisas em Administração. Vale salientar que, ter
uma percepção sobre a necessidade de reflexão não significa, necessariamente, que se faça
essa reflexão na prática de pesquisa.
No processo de elaboração da pesquisa, um ponto importante é a ética na pesquisa.
Isso porque, conforme Oliveira et al. (2000), no mundo atual, há uma desproporção entre a
velocidade do progresso científico-tecnológico e um vácuo ético, que se formou a partir da
negação dos sistemas tradicionais de valores. Até muito recentemente, não havia, no Brasil,
uma preocupação institucional com os aspectos éticos da pesquisa. O pesquisador era o único
árbitro da adequação ética de sua pesquisa. (HUTZ, 2008).
Diante disto, foi levantada a percepção dos respondentes, quanto às etapas do processo
de pesquisa em administração em que o pesquisador deve refletir sobre as questões éticas. Os
resultados indicaram que as etapas da pesquisa que foram consideradas, com maior
freqüência, pelos respondentes são as seguintes: a coleta de dados com 82,2%, seguida das
etapas de interpretação dos dados (80%) e divulgação e redação da pesquisa (75,6%),
conforme tabela 1.
Do total dos pesquisados, 37% responderam que se deve refletir sobre as questões
éticas em todas as etapas do processo de pesquisa em Administração, corroborando com o que
Creswell (2007) discorre, ou seja, que em todas as etapas do processo de pesquisa as questões
éticas devem ser observadas pelos pesquisadores em Administração.

Tabela 1: Percepção sobre a reflexão ética nas etapas do processo de pesquisa em


Administração
Etapas do processo de pesquisa Sim
Problema de pesquisa 60%
Interpretação dos dados 80%
Definição dos objetivos gerais e específicos 48,9%
Divulgação e redação da pesquisa 75,6%
Coleta dos dados 82,2%
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Com relação à coleta de dados, os aspectos que os respondentes consideraram mais
importantes nessa etapa foram: a realização de treinamento e a não exposição ao risco da
equipe de pesquisa, conforme exposto na tabela 2.
Esses resultados corroboram com Cooper e Schindler (2003) que descrevem sobre a
obrigação do pesquisador de treinar e supervisionar a equipe de entrevistadores para que
mantenham o comportamento ético, além de garantir a segurança de entrevistadores,
7
examinadores e outros que podem colocar suas vidas em risco na aplicação de instrumentos
de pesquisa em áreas não seguras, incluindo, ainda, a segurança do respondente para que não
possa sofrer nenhum dano físico, desconforto, embaraço, perda de privacidade, ou dor.
A esse respeito, faz-se importante considerar o que afirmam Samara e Barros (2007),
ao se reportarem aos códigos da ICC/ESOMAR - órgão que define códigos de ética
profissional para pesquisas de opinião e mercado – ressaltando que as entrevistas não devem
conter perguntas censuráveis ou constrangedoras, referindo-se, sobretudo, àqueles aspectos
que envolvam questões relacionadas à vida pessoal, bem como que possam comprometer o
emprego do respondente, ainda que, sejam respeitados o sigilo e anonimato pelo pesquisador.
No presente estudo, a utilização de perguntas que possam causar embaraço ou
desconforto aos pesquisados, consideradas constrangedoras ou censuráveis, apresentou um
percentual significativo, onde 25,6% dos respondentes indicaram que o pesquisador não
precisa considerar essa questão eticamente na coleta dos dados.

Tabela 2: Aspectos a serem considerados pelo pesquisador em um processo de coleta


de dados
Número de
Aspectos Sim Não
respondentes
Utilizar perguntas constrangedoras ou censuráveis. 25,6% 74,4% 43
Procurar não expor a equipe de pesquisa ao risco 95,5% 4,5% 44
Realizar treinamento com a equipe de pesquisa 100% 0% 44
Expor o(s) possível (is) impacto(s) da pesquisa aos 81% 19% 42
respondentes
Sempre entregar cópias dos resultados, ou 77,5% 22,5% 40
disponibilizá-las, aos participantes.
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Um dos objetivos da pesquisa foi o levantamento da freqüência com que são feitas
consultas às normas éticas no processo de pesquisa em Administração por parte dos
respondentes. Foram analisadas quatro variáveis: literatura sobre ética em pesquisa; códigos
de ética; fundamentação em crenças e valores próprios, e Comitê de Ética em Pesquisa –
CEP/UFRN.
Com relação à freqüência de consulta à literatura sobre o tema em questão, constatou-
se uma concentração de 83,7% que variam entre “às vezes”, “quase nunca” e “nunca”. Sendo
que, desse total, 30,2% dos respondentes às vezes consultam livros sobre ética, 39,5% quase
nunca consultam e 14% nunca consultam. Em contrapartida, 9,3% dos respondentes
afirmaram que sempre consultam e 7% quase sempre consultam esse tipo de literatura.
Contudo, esse percentual é incipiente e pode sugerir que os pesquisadores em Administração
pouco procuram maior conhecimento sobre ética em pesquisa.
Foi questionado se os respondentes consultam algum código de ética quando elaboram
pesquisas e observou-se que, assim como na variável literatura sobre ética, há uma maior
concentração na freqüência de entre “às vezes”, “quase nunca” e “nunca”, com 86,1%.
A variável que mais se aproximou de uma distribuição normal foi a fundamentação em
crenças e valores próprios. Entre os pesquisados, 27,3% sempre se fundamentam em crenças e
valores próprios na reflexão ética no processo de pesquisa, seguido de 36,4% em “quase
sempre”, 31,8% em “às vezes” e 4,5% “quase nunca”. Esses dados podem indicar que grande
parte dos pesquisados refletem eticamente, durante o processo de pesquisa, com base em
valores próprios. Isso remete à discussão de Srour (2000) quanto à ética da convicção e à ética
da responsabilidade.
A Resolução n°. 196/86 (MS/CNS) se propõe a assegurar os direitos e deveres que
dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. (CNS, 2008).
Nesse sentido, buscou-se levantar a freqüência de consulta dos respondentes ao CEP/UFRN, e

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constatou-se que 65,9% “nunca” consultaram o Comitê de Ética da UFRN, seguido de 26,8%
“quase nunca” consultaram e apenas 7,2% concentram-se nas alternativas de “sempre”,
“quase sempre” ou “às vezes”.
De acordo com os resultados da pesquisa, a freqüência de consulta ao CEP foi baixa
entre os pesquisadores em Administração, o que sugere uma necessidade de ampliar o
conhecimento da existência do CEP e maior conscientização da importância dos CEPs, em
função da área de Administração desenvolver pesquisas que envolvem seres humanos, quer
sejam participantes, pesquisadores ou equipe de pesquisa. Conforme recomendado pela
Unesco, "todos os cientistas devem se comprometer a respeitar elevados padrões éticos e um
código de ética - baseado em normas relevantes espelhadas em instrumentos internacionais de
direitos humanos - estabelecidos por profissionais da ciência". (PESQUISA FAPESP, 2008).

4.3 Análise de Agrupamentos (Cluster)

O objetivo desta análise é dividir a amostra em grupos, classificando-os em um menor


número de grupos mutuamente excludentes, com base nas similaridades internas dos grupos
em relação às questões da ética na pesquisa e, assim, deduzir algumas características dos
pesquisadores que compõem a amostra.
Após a análise descritiva dos dados, realizou-se a análise de Cluster, com as variáveis
que possuíam escala de cinco pontos. Realizada a primeira análise de variância, algumas
variáveis não apresentaram significância, ou seja, não demonstraram diferenças significativas
entre os Clusters, dentro do critério adotado de significância ( α ≤ 0,05 ), conforme está
apresentado na tabela 3.

Tabela 3: Descrição das variáveis e respectivos p-valor, da 1ª análise


Código Variáveis p-valor
VAR3_1 Na elaboração do problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios 0,010571
para as pessoas que estão sendo pesquisadas.
VAR3_2 Na definição do problema de pesquisa não é necessário considerar os 0,234790
possíveis danos que os respondentes poderão sofrer.
VAR3_3 Os objetivos da pesquisa devem ser claramente comunicados aos 0,000003
respondentes.
VAR3_4 Deve-se omitir do respondente a identificação do patrocinador e/ou órgão de 0,198555
apoio à pesquisa.
VAR3_5 O consentimento em participar da pesquisa, de cada um dos respondentes, 0,015468
deve ser obtido por escrito.
VAR3_6 Deve-se sempre manter o anonimato dos respondentes. 0,793087
VAR3_7 O pesquisador deve atender aos seus interesses ao divulgar os resultados da 0,083340
pesquisa.
VAR3_8 É responsabilidade de o pesquisador prever as possíveis repercussões dos 0,104164
resultados de sua pesquisa.
VAR5_1 Freqüência de consulta à literatura sobre ética em pesquisa. 0,000005
VAR5_2 Freqüência de consulta a código(s) de ética. 0,000145
VAR5_3 Freqüência de fundamentação em crenças e valores próprios. 0,202266
VAR5_4 Freqüência de consulta ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN (CEP). 0,085942
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Foram realizadas oito rodadas de análise de variância, em que foram retiradas uma a
uma as variáveis que apresentaram o maior p-valor, não significativo. Após essas análises, as
variáveis que foram utilizadas na análise dos Clusters estão apresentadas na tabela 4.

9
Tabela 4: Descrição das variáveis e respectivos p-valor, da 2ª análise
Código Variáveis p-valor
VAR3_1 Na elaboração do problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios 0,000261
para as pessoas que estão sendo pesquisadas.
VAR3_3 Os objetivos da pesquisa devem ser claramente comunicados aos 0,000009
respondentes.
VAR3_5 O consentimento em participar da pesquisa, de cada um dos respondentes, 0,013659
deve ser obtido por escrito.
VAR5_1 Freqüência de consulta à literatura sobre ética em pesquisa. 0,000003
VAR5_2 Freqüência de consulta a código(s) de ética. 0,000142
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Na tabela 5, apresentam-se todas as variáveis dos Clusters, juntamente com suas


médias e desvios padrões, onde o Cluster 1 foi agrupado com 26 casos e o Cluster 2 foi
agrupado com 20 casos.

Tabela 5: Variáveis, Médias e Desvios Padrão dos Clusters 1 e 2


Estatística descritiva do Cluster 1 Análise descritiva do Cluster 2
Cluster - 26 casos Cluster - 20 casos
“Menor reflexão sobre a ética” “Maior reflexão sobre a ética”
Variável Média Desvio Padrão Variável Média Desvio Padrão
VAR3_1 2,61 1,06 VAR3_1 1,56 0,61
VAR3_3 2,23 1,03 VAR3_3 1,05 0,22
VAR3_5 3,27 091 VAR3_5 2,59 0,82
VAR5_1 4,00 0,66 VAR5_1 2,65 1,04
VAR5_2 4,02 0,76 VAR5_2 2,85 1,13
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Portanto, os dados desta pesquisa foram englobados em dois Clusters. Como pode ser
visualizado na figura 1, onde em relação às escalas de respostas das variáveis 3.1, 3.3 e 3.5, a
maior proximidade na escala ao número 4,5 significa que a média de resposta dos
entrevistados para as questões de pesquisa tendiam a “discordo totalmente” e maior a
proximidade de 0,5 significa “concordo totalmente”. Nas variáveis 5.1 e 5.2, a maior
proximidade na escala ao número 4,5 significa que a média de resposta tendia a “nunca” e
quanto maior a proximidade do número médio 0,5 significa que a média de respostas dos
pesquisados tendiam a “sempre”.

Figura 1 – Diagrama de perfil das médias do Cluster 1 e do Cluster 2.


Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
10
O Cluster 2 possui indivíduos com maior tendência a observar e refletir sobre as
questões éticas no processo da pesquisa em Administração do que o Cluster 1. Em virtude de
uma maior preocupação com a ética na comunicação dos objetivos da pesquisa aos
respondentes, na elaboração do problema de pesquisa (considerar os benefícios para os
pesquisados) e o consentimento dos respondentes em participar da pesquisa.
O Cluster 1 apresentou indivíduos que possuem menor freqüência de consulta às
normas éticas recomendadas na literatura e aos códigos de ética, comparado ao Cluster 2.
Dessa forma, o Cluster 1 foi denominado como: indivíduos com “menor reflexão sobre ética”;
e o Cluster 2 foi definido como: indivíduos com “maior reflexão sobre a ética”.

4.4 Análise Discriminante

Com os grupos predefinidos, procurou-se entender a diferença entre eles, e confirmar


os resultados da análise de Cluster. Para tanto, optou-se pelo uso do método Stepwise, visando
à criação da função discriminante, onde a inserção das variáveis na função ocorre a partir do
poder explicativo que cada uma tenha, conforme descrevem Corrar, Paulo e Dias Filho
(2007).
O conjunto de variáveis independentes foi composto por cinco variáveis que foram
significativas na análise de Cluster. As observações foram codificadas como 1, para as que
faziam parte do Cluster 1, e 2 para as observações do Cluster 2.
O método de inserção das variáveis na função discriminante foi o Wilk’s Lambda. O
padrão de intervalo de confiança desejado foi de 95%. Para a classificação dos casos, utilizou-
se a matriz de co-variância interna dos grupos. Os casos ausentes de resposta foram
substituídos pela média.
A tabela 6 apresenta o teste de igualdade de média dos grupos, que busca identificar
qual (is) a(s) melhor(es) variável(is) discriminadora(s) para os grupos em estudo.

Tabela 6: Teste de igualdade de média dos grupos


Wilk’s Lambda F df1 df2 p-valor
VAR3_1 0,690 16,639 1 37 0,000
VAR3_3 0,601 24,541 1 37 0,000
VAR3_5 0,891 4,531 1 37 0,040
VAR5_1 0,562 28,781 1 37 0,000
VAR5_2 0,644 20,411 1 37 0,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Desse modo, verificou-se que a variável VAR5_1, que representa a freqüência de


consulta à literatura sobre ética em pesquisa, é a que apresenta o melhor poder discriminante
entre os grupos estudados em função do baixo valor da estatística Wilk’s Lambda. Conforme
Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), quanto menor a estatística da variável Lambda de Wilks,
melhor a discriminação dos grupos estudados.
O teste F-ANOVA indicou diferença significativa entre as médias do grupo das cinco
variáveis, confirmando a VAR5_1 e inserindo as demais como possíveis candidatas a boas
discriminadoras, com base em um nível de significância de α ≤ 0,05 .
Na tabela 7 estão apresentadas as matrizes de co-variância e correlação, para verificar
os possíveis casos de multicolinearidade.

11
Tabela 7: Matrizes de co-variância e correlação
VAR3_1 VAR3_3 VAR3_5 VAR5_1 VAR5_2
VAR3_1 0,827 -0,321 0,164 0,020 -0,076
VAR3_3 -0,321 0,576 -0,053 -0,005 -0,034
Co-variância VAR3_5 0,164 -0,053 0,864 0,164 0,148
VAR5_1 0,020 -0,005 0,164 0,695 0,299
VAR5_2 -0,076 -0,034 0,148 0,299 0,901
VAR3_1 1,000 -0,466 0,194 0,026 -0,088
VAR3_3 -0,466 1,000 -0,075 -0,008 -0,047
Correlação VAR3_5 0,194 -0,075 1,000 0,212 0,168
VAR5_1 0,026 -0,008 0,212 1,000 0,378
VAR5_2 -0,088 -0,047 0,168 0,378 1,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Observa-se que nenhuma das combinações entre as variáveis apresentou correlação


superior a 0,05, o que satisfaz a um dos pressupostos da análise discriminante, ou seja,
ausência de multicolinearidade, conforme destacado por Corrar, Paulo e Dias Filho (2007).
No intuito de avaliar se o modelo foi capaz de separar e classificar bem os grupos,
utilizou-se o teste U, Wilk’s Lambda, de acordo com a tabela 8.

Tabela 8: Teste U
Número de Exact F
Passos Lambda df1 df2 df3
Variáveis
Statistic df1 df2 p-valor
1 1 0,562 1 1 37 28,781 1 37,000 0,000
2 2 0,408 2 1 37 26,155 2 36,000 0,000
3 3 0,262 3 1 37 32,784 3 35,000 0,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Nos três passos que o sistema produziu, obtiveram-se as melhores variáveis para a
função discriminante, como podem ser visualizados na tabela 9, que são as variáveis VAR5_1
(freqüência de consulta à literatura sobre ética em pesquisa), VAR3_3 (os objetivos da
pesquisa devem ser claramente comunicados aos respondentes) e VAR3_1 (na elaboração do
problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios para as pessoas que estão sendo
pesquisadas). Tais variáveis foram selecionadas de acordo com os níveis de significância
α ≤ 0,05 .

Tabela 9: Melhores variáveis para a função discriminante


Wilks' Lambda
Passos Entraram Exact F
Statistic df1 df2 df3
Statistic df1 df2 p-valor
1 VAR5_1 0,562 1 1 37,000 28,781 1 37,000 0,000
2 VAR3_3 0,408 2 1 37,000 26,155 2 36,000 0,000
3 VAR3_1 0,262 3 1 37,000 32,784 3 35,000 0,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

12
As variáveis VAR5_2 (freqüência de consulta a código(s) de ética e VAR3_5 (o
consentimento em participar da pesquisa, de cada um dos respondentes, deve ser obtido por
escrito) não foram selecionadas. Para indicar a capacidade explicativa da função
discriminante foram adotadas como medidas de avaliação, os testes de função Eigenvalues e
Wilk’s Lambda, como podem ser verificados nas tabelas 10 e 11.

Tabela 10: Eigenvalues


Correlação
Função Eigenvalue % of Variância % Acumulado
Canônica
1 2,810 100,0 100,0 0,859
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

A tabela 10 apresenta o alto grau de superioridade entre funções. De acordo com


Corrar, Paulo e Dias Filho (2007, p. 264), “o poder explicativo da função, se comparado ao
conceito de R² de uma regressão, é dado pela correlação canônica”. Na presente pesquisa a
correlação canônica foi de 0,859. Ao se elevar esse número ao quadrado, obtém-se 73,79%
como medida de seu poder explicativo, considerado de confiabilidade relevante.

Tabela 11: Wilk’s Lambda


Teste de
Wilk’s Lambda Chi-square df p-valor
Função
1 0,262 47,486 3 0,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Analogamente, o teste de Wilk’s Lambda apresentou um valor de 0,262, indicando a


alta capacidade da função em discriminar os elementos entre os grupos do Cluster 1 e 2
verificados no tópico 4.3. A partir dessas análises, são apresentadas, a seguir, as
considerações finais, bem como seus principais desdobramentos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ética como reflexão crítica auxilia nas considerações sobre os fundamentos morais
que orientam as ações de cada pesquisador, independente da área. A partir desse pressuposto,
o presente artigo buscou verificar se as questões éticas têm sido consideradas no processo de
pesquisa em Administração, pelos pesquisadores do DEPAD e PPGA da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Com relação à opinião dos pesquisados quanto às etapas do processo de pesquisa em
Administração, em que devem ser consideradas as questões éticas, de forma reflexiva, os
resultados indicaram que: coleta de dados, interpretação dos dados e divulgação e redação da
pesquisa foram etapas mais citadas. Contudo, apenas uma pequena parcela dos respondentes
indicou a importância dessa reflexão em “todas” as etapas da pesquisa. Creswell (2007)
recomenda um quadro teórico, apresentado anteriormente, onde as questões éticas devem ser
refletidas em todo o processo da pesquisa. Pode-se verificar, no presente estudo, que são
poucos os pesquisadores em Administração que observam as questões éticas em “todo” o
processo da pesquisa, limitando-se a observarem, com maior ênfase, a coleta e a interpretação
dos dados, como etapas a serem questionadas eticamente.
Desse modo, percebe-se que, apesar da maioria dos pesquisados considerar muito
necessária a reflexão sobre as questões éticas na pesquisa, na prática a maior parte dos
respondentes coloca que não considera as questões éticas em “todas” as etapas do processo de
pesquisa em Administração, podendo indicar desconhecimento desse pressuposto, ou
representar escolhas pessoais dos pesquisadores, em função de sua cultura e visão de mundo,
13
demonstrando que, considerando-se a premissa comumente aceita na comunidade científica
de que a ciência deve ser neutra, onde por muitas vezes o pesquisador não é neutro.
No que se refere à freqüência de consulta às normas éticas no processo de pesquisa,
foram analisadas quatro variáveis. Os resultados apresentam que a literatura sobre o tema, os
códigos de ética e o Comitê de ética em pesquisa - CEP foram pouco ou nunca, consultados.
A quarta variável (fundamentação em crenças e valores próprios) foi a mais citada,
demonstrando que grande parte dos respondentes reflete eticamente, no processo de pesquisa,
com base em valores próprios.
Como forma de aprofundar a análise quantitativa na presente pesquisa, foi feita a
análise de Cluster. De acordo com essa análise, levantaram-se dois grupos com características
distintas, em que se pode constatar que, um grupo pesquisado possui indivíduos com maior
freqüência em observar e refletir sobre as questões éticas no processo da pesquisa em
Administração, bem como possui maior freqüência na consulta às normas éticas
recomendadas na literatura e nos códigos de ética. Em virtude de uma maior preocupação
com a ética na “comunicação dos objetivos da pesquisa aos respondentes”, na “elaboração do
problema de pesquisa (considerar os benefícios para os pesquisados)” e no “consentimento
dos respondentes em participar da pesquisa”. Já o segundo grupo encontrado apresentou
indivíduos que possuem menor freqüência de consulta às normas éticas recomendadas na
literatura e aos códigos de ética, comparado ao outro grupo.
No intuito de identificar e de entender a diferença entre os grupos predefinidos e de
confirmar os resultados da análise de Cluster, realizou-se a análise discriminante. Através das
variáveis significativas encontradas no Cluster, identificaram-se quais as melhores variáveis
discriminadoras para os grupos em estudo, que foram: a freqüência de consulta à literatura
sobre ética em pesquisa; que os objetivos da pesquisa devem ser claramente comunicados aos
respondentes e na elaboração do problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios
para as pessoas que estão sendo pesquisadas.
A análise discriminante, ainda, apontou que a divisão adotada na análise de Cluster foi
capaz de separar e classificar bem os grupos, pela alta capacidade da função em discriminar
os elementos entre os dois grupos do Cluster.
Dessa forma, observa-se, no presente estudo, dois grupos distintos de pesquisadores,
com tendência a maior ou menor reflexão ética no processo de pesquisa em Administração.
Porém, ainda que os respondentes, de um dos grupos identificados, tenham considerado
bastante necessária a reflexão ética no processo de pesquisa em Administração, demonstrando
reconhecer a sua relevância, não necessariamente o fazem. Parece não ser uma prática
corrente nas Ciências Sociais, em especial nas pesquisas em Administração, tal procedimento,
a despeito do que ocorre nas ciências naturais, em função das exigências explícitas dos
comitês de ética, que consideram e avaliam a adequação de questões éticas nessa área de
conhecimento. Tais questões parecem não ter atingido o nível de conscientização necessário,
a fim de que pesquisadores em Administração, que realizam pesquisa social e que, portanto,
lidam com atitudes, comportamentos e percepções de seres humanos, as adotem
freqüentemente como norteadoras, no cotidiano da prática de seus estudos.
Há pouco ou nenhum conhecimento da existência de um Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) na UFRN, por parte dos pesquisadores estudados na área de Administração,
conseqüentemente, pouco conhecimento quanto às recomendações e à importância dos
comitês de ética, que buscam salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa,
contribuir para a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no
desenvolvimento institucional e no social da comunidade, e, ainda para a valorização do
pesquisador que recebe o reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada.
Apesar de todas as resoluções, declarações e literatura relacionadas ao tema da ética
na pesquisa, existe um longo caminho a percorrer para que questões éticas sejam consideradas
14
em todo o processo de pesquisa, em particular pelos pesquisadores em Administração, de
forma a constituir em importante passo para grandes modificações sobre os limites éticos das
ações desses pesquisadores, durante o empreendimento científico.
Convém ressaltar, ainda, a importância de se estabelecer padrões acerca de aspectos
éticos na pesquisa em Administração, e de torná-los acessível a toda comunidade acadêmica.
A adoção de padrões éticos de conduta na pesquisa não deve ser vista como entrave
burocrático, mas como forma de qualificar eticamente as ações dos pesquisadores, e devem
ser definidos através de um processo reflexivo-crítico e participativo. Nesse sentindo,
consideram-se necessárias futuras e aprofundadas pesquisas que discutam e contribuam para o
debate crítico sobre a ética na pesquisa em Administração.

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