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Resumo
A ética como reflexão crítica auxilia nas considerações sobre os fundamentos morais que
orientam as ações de cada pesquisador. O presente artigo tem como objetivo verificar se as
questões éticas têm sido consideradas no processo de pesquisa em Administração. Os
parâmetros éticos, que devem ser considerados e refletidos no processo de pesquisa,
recomendados por Creswell (2007), embasaram o estudo em questão. Trata-se de uma
pesquisa exploratória e descritiva que buscou explorar a relação entre a ética e a pesquisa em
Administração, através de um levantamento aplicado junto a quarenta e seis pesquisadores do
Departamento de Ciências Administrativas (DEPAD) e do Programa de Pós-Graduação em
Administração (PPGA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foram
feitas análises quantitativas, através da distribuição de freqüência, da análise de cluster e da
análise discriminante, a fim de definir o perfil da amostra, classificar grupos com maior ou
menor reflexão sobre ética, com base nas características levantadas e identificar quais as
variáveis que diferenciam esses grupos. Constatou-se que os respondentes consideraram
muito necessária a reflexão ética no processo de pesquisa em Administração, porém a maioria
nunca consultou o Comitê de Ética em Pesquisa da referida universidade durante o processo
de pesquisa. Desse modo, observou-se a importância de estabelecer padrões acerca de
aspectos éticos da pesquisa em Administração, e de tornar esses padrões acessíveis a toda
comunidade acadêmica, desde que sejam definidos através de um processo reflexivo-crítico e
participativo.
1. INTRODUÇÃO
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No Brasil, apesar do Código de Ética Médica em vigor, datado de 1988, já tratar da
pesquisa médica nos artigos 122 a 130, a primeira diretriz específica sobre pesquisas em seres
humanos foi a Resolução n° 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão ligado ao
Ministério da Saúde, de 13/6/1988. Essa diretriz imputa ao Ministério da Saúde a
responsabilidade de emissão das normas técnicas para a realização de pesquisas para a saúde e
determina a periodicidade e as características da informação sobre a pesquisa. Seguindo em
linhas gerais as diretrizes internacionais já estabelecidas. (GRECO; MOTA, 1998). Essa
primeira regulamentação brasileira com relação à ética na pesquisa com seres humanos
representou um importante avanço, embora seu alcance aparentemente tenha se limitado a
alguns hospitais, especialmente os ligados às universidades, que estabeleceram comissões de
ética para avaliar projetos de pesquisa. (HUTZ, 2008).
A Resolução n° 1/1988, do CNS, após amplos debates com as comunidades científicas
e a sociedade civil - foi reformulada em 1996, tornando-se a Resolução CNS n° 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde (CNS). São mantidos os mesmos princípios da precedente,
fundamentando-se nos principais documentos internacionais sobre pesquisas envolvendo
seres humanos e na legislação brasileira a respeito. (GRECO; MOTA, 1998). A referida
resolução (n°. 196/86) incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, quatro
referenciais básicos da ética: autonomia (consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-
alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes); não maleficência
(garantia de que danos previsíveis serão evitados); beneficência (ponderação entre riscos e
benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o
máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos) e justiça (relevância social da pesquisa
com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os
sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não
perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária), e visa assegurar os direitos e
deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado
(CNS, 2008).
A partir da Resolução nº 196/96, citada anteriormente, foi criada a Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (CONEP), que é uma comissão do Conselho Nacional de Saúde (CNS),
com constituição designada pela Resolução nº 246/97, com a função de implementar as
normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Tem função
consultiva, deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de
Comitês de Ética em Pesquisa (CEP), organizados nas instituições onde as pesquisas se
realizam, tais como as universidades. A CONEP e os CEPs têm composição multidisciplinar
com participação de pesquisadores, estudiosos de bioética, juristas, profissionais de saúde, das
ciências sociais, humanas e exatas e representantes de usuários (CONEP, 2008).
O CEP é um colegiado interdisciplinar e independente e é responsável pela avaliação e
acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas que envolvam seres humanos.
Desse modo com a Resolução n. 196/96, toda pesquisa que envolva seres humanos tem que
ser submetida à apreciação de um comitê de ética em pesquisa. (CEP/UFRN, 2008). Além de
salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa, o CEP também contribui para
a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento
institucional e no social da comunidade e ainda para a valorização do pesquisador que recebe
o reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada. (CEP/UFRN, 2008).
Com base nos dados do CONEP (2008), observa-se que (até setembro de 2008)
existiam quinhentos e oitenta e seis um (586) CEPs credenciados no país, entre universidades
públicas, organizações privadas, além de entidades ligadas aos governos estaduais e
municipais. As abordagens sobre ética nas universidades brasileiras corroboram a importância
da ética na pesquisa, no sentido de estabelecer questões éticas para a decisão de o que
pesquisar, como pesquisar (conduta ética no processo de pesquisa) e como apresentar e
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utilizar os resultados da pesquisa, através do debate ético e da identificação dos interesses que
orientam a pesquisa. A seguir serão abordados as questões teóricas direcionadas a ética na
pesquisa, enfocando em profundidade a eticidade na pesquisa em Administração.
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Conforme Churchill e Peter (2005) a relação entre pesquisador e participantes deve ser
mantido dentro de rígidos limites éticos. O ato de planejar uma atividade de pesquisa é
imprescindível para a manutenção da integridade moral. Os pesquisadores devem identificar
os modos como a privacidade poderia ser invadida e evitar que isso aconteça. Portanto, uma
pesquisa responsável é a que se antecipa aos possíveis problemas éticos e não aquela que se
justifica posteriormente a realização da investigação. (CHURCHILL; PETER, 2005).
As pessoas que integram uma organização, uma sociedade, ou uma comunidade
científica possuem formações culturais e científicas diferentes, experiências sociais diversas e
opiniões distintas sobre os fatos da vida. Por isso, os códigos de ética têm a missão de
padronizar e formalizar o entendimento sobre um assunto. (MOREIRA, 2002).
Porém, a ética profissional não pode ser reduzida aos códigos de ética, que na verdade
constituem códigos morais, mas deve ser a busca por uma reflexão crítica sobre a ação do
profissional no seu espaço de trabalho, que deve fundamentar seu bem-estar e o dos outros,
uma vez que o trabalho se dá por uma relação. A ética como reflexão crítica ajuda a analisar
os fundamentos morais que norteiam as ações de cada pesquisador ou profissional. (POLLI;
VARES, 2008). A seguir a metodologia que fundamenta o presente trabalho de pesquisa.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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participantes, o que corresponde a 35,4 % do universo da pesquisa, sendo dezenove (19)
professores e vinte e sete (27) alunos.
O estudo utilizou-se de análise descritiva dos valores absolutos e dos percentuais, e da
análise de Cluster. A análise de Cluster é um conjunto de técnicas, nas quais são estabelecidos
grupos de pessoas dentro de uma regra de classificação por algum tipo de significado que seja
representativo de alguns grupos (COBRA, 1997). Ainda segundo o autor, este método é
utilizado como uma análise “flexível” de variância, em que grupos de indivíduos podem ser
divididos em subgrupos, de forma a diminuir a variação entre os membros do grupo, e,
portanto, deduzir algumas características desse grupo, que podem ser utilizadas para construir
a teoria acerca do comportamento humano. Para a realização desse estudo, utilizou-se o
software Statistica versão 6.0, no tratamento estatístico dos dados.
O procedimento utilizado foi o não hierárquico de agrupamento K-means. Os métodos
não hierárquicos procuram diretamente uma partição de n objetos, de modo a permitir que os
grupos tenham coesão interna e isolamento entre eles (CORRAR; PAULO; DIAS FILHO,
2007).
A medida utilizada para diferenciar os grupos foi a Distância Mahalanobis. Segundo
Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), essa medida de distância enfoca a magnitude dos valores e
descreve como similares os casos que estão próximos, com a vantagem de desenvolver um
processo de padronização nos dados, bem como somar a variância e co-variância total do
grupo com ajustes das intercorrelações entre variáveis. Hair et al. (2005) descrevem que essa
forma de medir compensa o impacto da multicolinearidade nas variáveis em análises de
agrupamento.
Classificada a amostra em dois grupos no Cluster, realizou-se a análise discriminante.
Esse tipo de técnica é apropriado a qualquer questão de pesquisa com o intuito de entender a
pertinência dos grupos que possam ser avaliados em uma série de variáveis independentes
(HAIR et al., 2005). A escolha dessa técnica deriva da natureza qualitativa dos dados, em
função dos valores de cada variável serem o resultado de uma classificação estabelecida. Para
isso, utilizou-se o software SPSS, versão 16, para identificar as variáveis que melhor
distinguem os grupos do Cluster 1 e 2 da análise anterior. Os resultados encontrados na
pesquisa de campo são apresentados e discutidos a seguir.
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e dissertações. Entretanto, convém ressaltar que, por razões diversas, nem todas as pesquisas
são publicadas em periódicos científicos.
Com relação à vinculação em base ou grupo de pesquisa, os percentuais foram
relativamente equilibrados com 43,5% dos respondentes tendo algum tipo de vinculação e
56,5% sem vinculação. Apenas 17,4% possuem bolsa de financiamento de pesquisa. Ressalte-
se que há professores do DEPAD que não estão vinculados a nenhuma base de pesquisa, mas
que ensinam e desenvolvem pesquisas na graduação em Administração.
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constatou-se que 65,9% “nunca” consultaram o Comitê de Ética da UFRN, seguido de 26,8%
“quase nunca” consultaram e apenas 7,2% concentram-se nas alternativas de “sempre”,
“quase sempre” ou “às vezes”.
De acordo com os resultados da pesquisa, a freqüência de consulta ao CEP foi baixa
entre os pesquisadores em Administração, o que sugere uma necessidade de ampliar o
conhecimento da existência do CEP e maior conscientização da importância dos CEPs, em
função da área de Administração desenvolver pesquisas que envolvem seres humanos, quer
sejam participantes, pesquisadores ou equipe de pesquisa. Conforme recomendado pela
Unesco, "todos os cientistas devem se comprometer a respeitar elevados padrões éticos e um
código de ética - baseado em normas relevantes espelhadas em instrumentos internacionais de
direitos humanos - estabelecidos por profissionais da ciência". (PESQUISA FAPESP, 2008).
Foram realizadas oito rodadas de análise de variância, em que foram retiradas uma a
uma as variáveis que apresentaram o maior p-valor, não significativo. Após essas análises, as
variáveis que foram utilizadas na análise dos Clusters estão apresentadas na tabela 4.
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Tabela 4: Descrição das variáveis e respectivos p-valor, da 2ª análise
Código Variáveis p-valor
VAR3_1 Na elaboração do problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios 0,000261
para as pessoas que estão sendo pesquisadas.
VAR3_3 Os objetivos da pesquisa devem ser claramente comunicados aos 0,000009
respondentes.
VAR3_5 O consentimento em participar da pesquisa, de cada um dos respondentes, 0,013659
deve ser obtido por escrito.
VAR5_1 Freqüência de consulta à literatura sobre ética em pesquisa. 0,000003
VAR5_2 Freqüência de consulta a código(s) de ética. 0,000142
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
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Tabela 7: Matrizes de co-variância e correlação
VAR3_1 VAR3_3 VAR3_5 VAR5_1 VAR5_2
VAR3_1 0,827 -0,321 0,164 0,020 -0,076
VAR3_3 -0,321 0,576 -0,053 -0,005 -0,034
Co-variância VAR3_5 0,164 -0,053 0,864 0,164 0,148
VAR5_1 0,020 -0,005 0,164 0,695 0,299
VAR5_2 -0,076 -0,034 0,148 0,299 0,901
VAR3_1 1,000 -0,466 0,194 0,026 -0,088
VAR3_3 -0,466 1,000 -0,075 -0,008 -0,047
Correlação VAR3_5 0,194 -0,075 1,000 0,212 0,168
VAR5_1 0,026 -0,008 0,212 1,000 0,378
VAR5_2 -0,088 -0,047 0,168 0,378 1,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Tabela 8: Teste U
Número de Exact F
Passos Lambda df1 df2 df3
Variáveis
Statistic df1 df2 p-valor
1 1 0,562 1 1 37 28,781 1 37,000 0,000
2 2 0,408 2 1 37 26,155 2 36,000 0,000
3 3 0,262 3 1 37 32,784 3 35,000 0,000
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Nos três passos que o sistema produziu, obtiveram-se as melhores variáveis para a
função discriminante, como podem ser visualizados na tabela 9, que são as variáveis VAR5_1
(freqüência de consulta à literatura sobre ética em pesquisa), VAR3_3 (os objetivos da
pesquisa devem ser claramente comunicados aos respondentes) e VAR3_1 (na elaboração do
problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios para as pessoas que estão sendo
pesquisadas). Tais variáveis foram selecionadas de acordo com os níveis de significância
α ≤ 0,05 .
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As variáveis VAR5_2 (freqüência de consulta a código(s) de ética e VAR3_5 (o
consentimento em participar da pesquisa, de cada um dos respondentes, deve ser obtido por
escrito) não foram selecionadas. Para indicar a capacidade explicativa da função
discriminante foram adotadas como medidas de avaliação, os testes de função Eigenvalues e
Wilk’s Lambda, como podem ser verificados nas tabelas 10 e 11.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ética como reflexão crítica auxilia nas considerações sobre os fundamentos morais
que orientam as ações de cada pesquisador, independente da área. A partir desse pressuposto,
o presente artigo buscou verificar se as questões éticas têm sido consideradas no processo de
pesquisa em Administração, pelos pesquisadores do DEPAD e PPGA da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Com relação à opinião dos pesquisados quanto às etapas do processo de pesquisa em
Administração, em que devem ser consideradas as questões éticas, de forma reflexiva, os
resultados indicaram que: coleta de dados, interpretação dos dados e divulgação e redação da
pesquisa foram etapas mais citadas. Contudo, apenas uma pequena parcela dos respondentes
indicou a importância dessa reflexão em “todas” as etapas da pesquisa. Creswell (2007)
recomenda um quadro teórico, apresentado anteriormente, onde as questões éticas devem ser
refletidas em todo o processo da pesquisa. Pode-se verificar, no presente estudo, que são
poucos os pesquisadores em Administração que observam as questões éticas em “todo” o
processo da pesquisa, limitando-se a observarem, com maior ênfase, a coleta e a interpretação
dos dados, como etapas a serem questionadas eticamente.
Desse modo, percebe-se que, apesar da maioria dos pesquisados considerar muito
necessária a reflexão sobre as questões éticas na pesquisa, na prática a maior parte dos
respondentes coloca que não considera as questões éticas em “todas” as etapas do processo de
pesquisa em Administração, podendo indicar desconhecimento desse pressuposto, ou
representar escolhas pessoais dos pesquisadores, em função de sua cultura e visão de mundo,
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demonstrando que, considerando-se a premissa comumente aceita na comunidade científica
de que a ciência deve ser neutra, onde por muitas vezes o pesquisador não é neutro.
No que se refere à freqüência de consulta às normas éticas no processo de pesquisa,
foram analisadas quatro variáveis. Os resultados apresentam que a literatura sobre o tema, os
códigos de ética e o Comitê de ética em pesquisa - CEP foram pouco ou nunca, consultados.
A quarta variável (fundamentação em crenças e valores próprios) foi a mais citada,
demonstrando que grande parte dos respondentes reflete eticamente, no processo de pesquisa,
com base em valores próprios.
Como forma de aprofundar a análise quantitativa na presente pesquisa, foi feita a
análise de Cluster. De acordo com essa análise, levantaram-se dois grupos com características
distintas, em que se pode constatar que, um grupo pesquisado possui indivíduos com maior
freqüência em observar e refletir sobre as questões éticas no processo da pesquisa em
Administração, bem como possui maior freqüência na consulta às normas éticas
recomendadas na literatura e nos códigos de ética. Em virtude de uma maior preocupação
com a ética na “comunicação dos objetivos da pesquisa aos respondentes”, na “elaboração do
problema de pesquisa (considerar os benefícios para os pesquisados)” e no “consentimento
dos respondentes em participar da pesquisa”. Já o segundo grupo encontrado apresentou
indivíduos que possuem menor freqüência de consulta às normas éticas recomendadas na
literatura e aos códigos de ética, comparado ao outro grupo.
No intuito de identificar e de entender a diferença entre os grupos predefinidos e de
confirmar os resultados da análise de Cluster, realizou-se a análise discriminante. Através das
variáveis significativas encontradas no Cluster, identificaram-se quais as melhores variáveis
discriminadoras para os grupos em estudo, que foram: a freqüência de consulta à literatura
sobre ética em pesquisa; que os objetivos da pesquisa devem ser claramente comunicados aos
respondentes e na elaboração do problema de pesquisa devem ser considerados os benefícios
para as pessoas que estão sendo pesquisadas.
A análise discriminante, ainda, apontou que a divisão adotada na análise de Cluster foi
capaz de separar e classificar bem os grupos, pela alta capacidade da função em discriminar
os elementos entre os dois grupos do Cluster.
Dessa forma, observa-se, no presente estudo, dois grupos distintos de pesquisadores,
com tendência a maior ou menor reflexão ética no processo de pesquisa em Administração.
Porém, ainda que os respondentes, de um dos grupos identificados, tenham considerado
bastante necessária a reflexão ética no processo de pesquisa em Administração, demonstrando
reconhecer a sua relevância, não necessariamente o fazem. Parece não ser uma prática
corrente nas Ciências Sociais, em especial nas pesquisas em Administração, tal procedimento,
a despeito do que ocorre nas ciências naturais, em função das exigências explícitas dos
comitês de ética, que consideram e avaliam a adequação de questões éticas nessa área de
conhecimento. Tais questões parecem não ter atingido o nível de conscientização necessário,
a fim de que pesquisadores em Administração, que realizam pesquisa social e que, portanto,
lidam com atitudes, comportamentos e percepções de seres humanos, as adotem
freqüentemente como norteadoras, no cotidiano da prática de seus estudos.
Há pouco ou nenhum conhecimento da existência de um Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) na UFRN, por parte dos pesquisadores estudados na área de Administração,
conseqüentemente, pouco conhecimento quanto às recomendações e à importância dos
comitês de ética, que buscam salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa,
contribuir para a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no
desenvolvimento institucional e no social da comunidade, e, ainda para a valorização do
pesquisador que recebe o reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada.
Apesar de todas as resoluções, declarações e literatura relacionadas ao tema da ética
na pesquisa, existe um longo caminho a percorrer para que questões éticas sejam consideradas
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em todo o processo de pesquisa, em particular pelos pesquisadores em Administração, de
forma a constituir em importante passo para grandes modificações sobre os limites éticos das
ações desses pesquisadores, durante o empreendimento científico.
Convém ressaltar, ainda, a importância de se estabelecer padrões acerca de aspectos
éticos na pesquisa em Administração, e de torná-los acessível a toda comunidade acadêmica.
A adoção de padrões éticos de conduta na pesquisa não deve ser vista como entrave
burocrático, mas como forma de qualificar eticamente as ações dos pesquisadores, e devem
ser definidos através de um processo reflexivo-crítico e participativo. Nesse sentindo,
consideram-se necessárias futuras e aprofundadas pesquisas que discutam e contribuam para o
debate crítico sobre a ética na pesquisa em Administração.
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