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Cuidados étic

na pesquisa soc
entre norma
reflexões críti
cos
Cuidados éticos
cial: na pesquisa social:
as e entre normas e
reflexões críticas
icas
É R I C A Q U I N A G L I A S I LVA
Universidade de Brasília

TAT I A N A L ION Ç O
Universidade de Brasília
Silva, É. Q. | Lionço, Tatiana

CUIDADOS ÉTICOS NA PESQUISA SOCIAL: ENTRE NORMAS


E REFLEXÕES CRÍTICAS
Resumo
Este artigo tem como objetivo refletir sobre o sentido da re-
gulamentação ética da pesquisa envolvendo seres humanos nas
Ciências Humanas e Sociais. Pretendemos, como integrantes de
um comitê de ética voltado para a apreciação de pesquisas nessas
áreas, contribuir para a defesa dessa regulamentação por meio de
uma reflexão crítica, na qual a ética não é entendida como sinô-
nimo de conhecimento técnico. A missão prioritária dos comitês
de ética em pesquisa deve ser proteger os sujeitos participantes
das pesquisas científicas, sendo esse um dispositivo fundamental
para o controle social da ciência. Para além do protocolo de revi-
são ética formalmente exigido, concorrem para a noção de ética
deliberações plurais, das quais a própria sociedade deve participar.
Mais particularmente, em relação às nossas aproximações a su-
jeitos participantes de pesquisas, devemos levar em consideração
uma ética de responsabilidade que implique a reflexão sobre os
desdobramentos de nossa presença e de nossas ações por meio
de pesquisas nas vidas e instituições diante das quais nos propu-
semos incidir.
Palavras-chave: Ética em pesquisa, pesquisa social, ética de res-
ponsabilidade.

ETHICAL CARE IN SOCIAL RESEARCH: BETWEEN NORMS


AND CRITICAL REFLECTIONS
Abstract
This article aims to reflect on the ethical regulation of research
involving human beings in the Human and Social Sciences. As
members of an ethics committee focused on the evaluation of
research in these areas, we intend to contribute to the defense of
this regulation through a critical reflection, in which ethics is not
understood as synonymous of technical knowledge. The priority
mission of research ethics committees should be to protect the
subjects involved in scientific research, which makes this a funda-
mental device for the social control of science. In addition to the
ethical review protocol formally required, plural deliberations, of
which society itself must participate, contribute to the notion of

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Cuidados éticos na pesquisa social

ethics. More particularly, in relation to our approaches to research


subjects, we must take into account an ethics of responsibility
that involves reflection on the unfolding of our presence and our
actions through research in the lives and institutions that we pro-
pose to focus on.
Keywords: Ethics in research, social research, ethics of respon-
sibility.

CUIDADOS ÉTICOS EN LA INVESTIGACIÓN SOCIAL: ENTRE


NORMAS Y REFLEXIONES CRÍTICAS
Resumen
Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre el sentido de
la reglamentación ética de la investigación que incluye seres hu-
manos, en las Ciencias Humanas y Sociales. Pretendemos, como
integrantes de un comité de ética orientado a la apreciación de
investigaciones en esas áreas, contribuir a la defensa de esa regla-
mentación por medio de una reflexión crítica, en la cual la ética no
es entendida como sinónimo de conocimiento técnico. La misión
prioritaria de los comités de ética en investigación debe ser pro-
teger a los sujetos participantes de las investigaciones científicas,
siendo este un dispositivo fundamental para el control social de
la ciencia. Además del protocolo de revisión ética formalmente
exigido, concurren a la noción de ética deliberaciones plurales, de
las cuales la propia sociedad debe participar. Más particularmente,
con relación a nuestras aproximaciones a sujetos participantes de
investigaciones, debemos tener en cuenta una ética de responsabi-
lidad que implique la reflexión sobre los desdoblamientos de nuestra
presencia y de nuestras acciones por medio de investigaciones en las
vidas e instituciones ante las cuales nos propusimos incidir.
Palabras clave: Ética en investigación, investigación social, ética
de responsabilidad.

Érica Quinaglia Silva


equinaglia@yahoo.com.br

Tatiana Lionço
tlionco@gmail.com

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Silva, É. Q. | Lionço, Tatiana

1. INTRODUÇÃO tudos se vincula ao Conselho Nacional


de Saúde (CNS), de modo que os in-
Este artigo tem como objetivo refletir teresses da sociedade civil prevalecem
sobre o sentido da regulamentação éti- em detrimento de interesses corporati-
ca da pesquisa envolvendo seres huma- vos. Ainda que a regulamentação ética
nos nas Ciências Humanas e Sociais. nesses moldes assegure certo contro-
Existem especificidades na pesquisa le social, ao vincular-se a um conse-
social, o que requereu inclusive a pro- lho com ampla representatividade de
posição de regulamentação ética espe- segmentos da sociedade brasileira tal
cífica para atender as particularidades como o CNS, é importante lembrar
do campo, ainda que algumas contro- que nem toda pesquisa em Ciências
vérsias não tenham sido sanadas e os Humanas e Sociais com participação
debates sobre a pertinência ou não da de sujeitos humanos se dá no campo
submissão de projetos de pesquisas a da saúde.
comitês de ética e a adoção dos proce-
dimentos estipulados pelas normativas Em um sentido amplo, a missão priori-
em vigência não encontrem consen- tária dos comitês de ética em pesquisa
so entre pesquisadores. Pretendemos, é proteger os sujeitos participantes das
pesquisas científicas, sendo um dispo-
como integrantes de um comitê de
sitivo fundamental para o controle so-
ética voltado para a apreciação de pes-
cial da ciência. Em outras palavras, po-
quisas nessas áreas, contribuir para a
demos também ecoar as preocupações
defesa da necessária regulamentação
de Boaventura de Sousa Santos (1987)
ética da pesquisa envolvendo seres hu-
ao propor como um novo paradigma
manos, argumentando ao longo deste
emergente o de um “conhecimento
artigo sobre os fundamentos para a
prudente para uma vida decente” (p.
adoção dos procedimentos previstos
37), ou seja, o da produção de conheci-
para a garantia dos direitos de sujeitos
mento científico imbuído da renúncia
participantes de estudos científicos.
à objetificação rumo ao compromisso
Entendemos que a reflexão ética em social do conhecimento, por meio da
pesquisa não se reduz ao exercício do implicação de quem pesquisa na cons-
cumprimento burocrático de protoco- trução de uma sociedade mais justa
los, ainda que condicione o trabalho mediante a produção de sentido sobre
acadêmico a exigências de adequação a realidade. Nessa perspectiva, não ha-
às normativas previstas em resoluções. veria como escapar à reflexão ética em
Com Harayama (2014), afirmamos que pesquisa, e mais especificamente nos
podemos compreender a ética em pes- interessa ponderar sobre a relação com
quisa como uma questão de interesse as pessoas a partir das quais sentidos
prioritário da sociedade civil e não ape- sobre a realidade serão construídos nas
nas da academia. Ciências Humanas e Sociais.
Dessa forma, para garantir o controle Organizamos nossa reflexão, portan-
social sobre a prática científica, no caso to, em três momentos. Primeiramente,
do Brasil a regulamentação ética de es- consideramos as questões da regula-

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mentação da ética em pesquisa tal como até a versão atual, conforme sinalizam
estipulada pelo Sistema CEP/Conep Carriero e Minayo (2013) e como será
para, em seguida, avançar na direção discutido mais detalhadamente a se-
da reflexão sobre os cuidados éticos a guir, o modelo biocêntrico foi reitera-
serem adotados durante a realização da do, denotando a manutenção da hege-
pesquisa em Ciências Humanas e So- monia da epistemologia biomédica na
ciais, para além das exigências formais inteligibilidade sobre o que é ética em
desse sistema. Por fim, apresentamos pesquisa e, ainda, o que é ciência, com-
também considerações éticas a serem prometendo ou dificultando a viabili-
realizadas quando da apresentação dos dade da realização de pesquisas sociais
resultados e da devolução dos dados da por ignorância de suas epistemologias
pesquisa. Esperamos, assim, contribuir e metodologias próprias.
para o fortalecimento de uma cultura Após um embate científico, ético e,
de reflexão ética em pesquisa ao mes- ainda, político, motivado pelas Ciên-
mo tempo que também reconhecemos cias Humanas e Sociais, foi, então, cria-
a necessidade de estabelecer críticas ao da, em 2016, a Resolução nº 510, de 7
sistema de regulamentação vigente. de abril, também do CNS, do MS. Essa
resolução passou a regulamentar as
pesquisas nas áreas supracitadas quan-
2. CUIDADOS ANTERIORES À REA-
to a seus aspectos éticos.
LIZAÇÃO DA PESQUISA
Especificamente a Resolução nº
466/2012 prevê que a revisão ética dos
2.1 As Resoluções 466/2012 e
projetos dessas pesquisas deve ser fei-
510/2016, os termos de apresenta-
ta pelo Sistema CEP/Conep, formado
ção obrigatória exigidos pelo Sistema
pela Comissão Nacional de Ética em
CEP/Conep, as lacunas e os avanços
Pesquisa e pelos Comitês de Ética em
desse sistema de revisão ética
Pesquisa. A Conep está diretamente li-
Existe no Brasil uma resolução nacio- gada ao CNS e é uma instância regula-
nal que regulamenta pesquisas que en- dora dos CEP. Por sua vez, os CEP são
volvem pessoas e/ou grupos de pesso- colegiados interdisciplinares, de caráter
as, direta ou indiretamente, incluindo o consultivo, deliberativo e educativo,
uso de seus dados e/ou materiais bio- aos quais cabe avaliar, em nível local,
lógicos. Trata-se da Resolução nº 466, os aspectos éticos dos referidos proje-
de 12 de dezembro de 2012, do CNS, tos de pesquisas. A Plataforma Brasil
do Ministério da Saúde (MS). é o sistema oficial de lançamento de
Anteriormente a essa resolução, duas pesquisas para análise de seus aspectos
outras tinham sido criadas, a Resolu- éticos.
ção n° 1, de 13 de junho de 1988, e Os documentos que compõem o pro-
a Resolução nº 196, de 10 de outubro tocolo a ser apreciado pelo Sistema
de 1996, ambas igualmente do CNS, CEP/Conep, que incluem, além do
do MS. Em todas essas resoluções, projeto de pesquisa propriamente dito,

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outros, de caráter obrigatório, salvo se médicas.


houver justificativa para não os apre- O Termo de Consentimento Livre e
sentar, são citados a seguir, sem pre- Esclarecido (TCLE) explicita os objeti-
juízo de uma análise crítica a respeito vos e os procedimentos das pesquisas,
da imprescindibilidade deles: Termo com os quais os participantes devem
de Consentimento Livre e Esclarecido; concordar. A Resolução nº 466/2012
Termo de autorização para utilização preconiza, como parte do processo de
de imagem e som de voz para fins de consentimento, a prestação de infor-
pesquisa; Termo de assentimento; Car- mações em linguagem clara e acessível,
ta de encaminhamento; Cronograma; pois este é o documento que visa a uni-
Carta de revisão ética ou outro docu- ficar o compromisso entre pesquisado-
mento equivalente; Folha de rosto; Car-
res e participantes. Nesse documento
ta de aceite institucional; Instrumento
devem ser garantidas a privacidade e a
de Coleta de Dados; Currículo Lattes;
confidencialidade das informações dos
Documento de aprovação emitido por
participantes durante todas as fases
CEP ou equivalente quando de coope-
de uma determinada pesquisa (Brasil
ração estrangeira; e Orçamento.
2012; Quinaglia Silva & Portela 2017).
Discutiremos brevemente esse proto-
O TCLE é o documento que apresenta
colo, a fim de refletir sobre seu sentido,
consensualmente entre pesquisadores
mas também sobre os entraves que ele
a insuficiência da lógica biocêntrica
impõe para o início das pesquisas aca-
na regulamentação ética em pesqui-
dêmicas. Diversos autores têm ques-
sa social. Revisitar a necessidade de
tionado o excesso de burocratização
apresentação desse termo era um dos
do protocolo a ser cumprido e sub-
principais pilares de reivindicação de
metido à Plataforma Brasil (Harayama
uma normativa que atendesse às espe-
2014; Duarte 2015, 2017; Barbosa et al.
cificidades metodológicas, epistemoló-
2014). Esse excesso de burocratização
gicas e éticas das Ciências Humanas e
atingiu de modo desproporcional pes-
Sociais. Nesse sentido, a Resolução nº
quisadores no campo das Ciências Hu-
510/2016, criada como consequência
manas e Sociais, sobretudo pela orga-
dessa reivindicação, como já aponta-
nização do sistema de regulamentação
ética em torno do biocentrismo e pela do, representou um avanço ao consi-
falta de reconhecimento das especifi- derar que a obtenção e o registro do
cidades metodológicas e éticas dessas consentimento de participantes podem
áreas (Duarte 2014). Nesse sentido, é ser tomados em diferentes momentos
importante notar que Luiz Fernando e formatos, não necessariamente por
Dias Duarte (2017) registra a crono- meio de um documento escrito (Brasil
logia dos esforços processuais de pes- 2016).
quisadores para que o Sistema CEP/ Em nossa experiência no Comitê de
Conep passasse a integrar no escopo Ética em Pesquisa em Ciências Huma-
de sua regulamentação ética considera- nas e Sociais (CEP/CHS) da Universi-
ções a partir de perspectivas não bio- dade de Brasília, a tramitação dos pro-

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Cuidados éticos na pesquisa social

cessos de pesquisa revela a necessidade e som será utilizado deverão ser esta-
de desenvolvimento de uma cultura belecidos em acordo entre pesquisado-
ética em pesquisa, pois o cumprimento res e participantes de pesquisas. Como
protocolar dos requisitos da Platafor- a imagem expõe os participantes de
ma Brasil engessa o procedimento de pesquisas e impossibilita a manuten-
submissão de projetos, muitas vezes ção do anonimato, esse documento é
não atendendo ao processo de reflexão considerado extremamente relevante
ética necessário à efetiva garantia dos (Quinaglia Silva & Portela 2017). É
direitos dos participantes. Por exem- importante ressaltar, por outro lado,
plo, não há ocorrências de pesquisado- como será discutido adiante, que a ga-
res que submetem projetos sem anexar rantia da identificação do participante
o TCLE, quando pertinente, embora da pesquisa também pode ser enten-
com frequência esse termo seja en- dida como um direito, afirmado pela
caminhado no formato padrão e sem Resolução nº 510/2016 (Brasil 2016),
atender a necessários cuidados éticos sobretudo quando se refere a trajetó-
adequados a cada desenho de pesquisa rias biográficas e profissionais notórias
apresentado. A garantia de anonimato, que precisam ser reconhecidas, como o
previsto no TCLE, em diversas situa- protagonismo comunitário e político, a
ções é apresentada sem que se consi- autoria de projetos inovadores em di-
dere que há situações de pesquisa em versos setores, a organização da socie-
que não é possível mantê-lo, inclusive dade civil em movimento sociais, etc.
incorrendo em riscos para os partici- No caso de os participantes de pes-
pantes devido a conflitos de interesse quisas serem considerados legalmente
a partir dos conteúdos gerados pela incapazes, além do TCLE, a ser forne-
própria pesquisa. Esse é o caso quando cido pelos seus pais e/ou responsáveis
se realizam estudos qualitativos com legais, é requerido seu assentimento.
poucos participantes que, embora não O Termo de assentimento deve ter
sejam identificados nominalmente, teor adequado à população a que se
atuam em instituições que podem ser destina. Assim como o TCLE, o Ter-
reconhecidas e podem ser facilmente mo de assentimento admite diferentes
identificados por meio dos conteúdos formas de registro e pode ser obtido
relacionados a cargos e funções que em qualquer etapa da pesquisa. Essa
ocupam. Uma reflexão sobre o proces- garantia foi igualmente dada pela Re-
so e o registro do consentimento livre solução nº 510/2016 (Brasil 2016). A
e esclarecido é, portanto, relevante para inclusão do processo de assentimento
minimizar eventuais danos como esse. livre e esclarecido, ainda na Resolução
O Termo de autorização para utilização nº 466/2012 (Brasil 2012), como parte
de imagem e som de voz para fins de dos cuidados éticos a serem tomados
pesquisa registra a autorização de par- em pesquisas foi certamente um avan-
ticipantes de pesquisas para a utilização ço por possibilitar que pessoas consi-
de sua imagem e som de voz. Os fins deradas legalmente incapazes pudes-
para os quais esse registro de imagem sem expressar vontades próprias. Por

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outro lado, embora a necessidade de tais danos, quais serão os benefícios e


ratificação dessa anuência pelos pais e/ como ocorrerá a devolução dos dados.
ou responsáveis legais dessas pessoas A ponderação sobre essas questões
vise a impossibilitar abusos, pode ha- deve estar contida na Carta de revisão
ver um efeito perverso nessa dupla au- ética ou outro documento equivalente
torização, sobre o qual discorrer-se-á a (Brasil 2012; Quinaglia Silva & Portela
seguir (Quinaglia Silva & Portela 2017). 2017).
A Carta de encaminhamento possui A Folha de rosto, disponibilizada pela
dados dos pesquisadores e das insti- própria Plataforma Brasil, identifica
tuições a que estão vinculados. Nesse os pesquisadores responsáveis, as ins-
documento os pesquisadores compro- tituições proponentes e os eventuais
metem-se a não iniciar suas pesquisas patrocinadores, que devem assiná-la e
antes da aprovação ética dos projetos. assumir o compromisso de cumprir a
Por sua vez, o Cronograma deve con- Resolução nº 466/2012, além das re-
templar todas as etapas de execução soluções complementares a ela. Além
das pesquisas. Os CEP não aceitam desse documento, caso a pesquisa en-
projetos de pesquisas cuja coleta de volva outra instituição, é necessária
dados já tenha sido iniciada. Trata-se a apresentação adicional da Carta de
de preceito fundamental para a avalia- aceite institucional, fornecida pela(s)
ção dos aspectos éticos de uma deter- instituição(ões) onde as pesquisas se-
minada pesquisa antes que ela ocorra rão porventura realizadas (Quinaglia
e possa oferecer riscos a seus partici- Silva & Portela 2017).
pantes. Por outro lado, sabe-se que a Outro documento de apresentação
pesquisa social necessita de contatos obrigatória é o Instrumento de coleta
e visitas prévios para poder ser viabi- de dados, em que se explicita como
lizada. Nesse sentido, na Resolução será feita a coleta de dados. Pode ser
n° 510/2016, foram retiradas do pro- um roteiro de entrevistas, questioná-
cesso de avaliação pelo Sistema CEP/ rio ou algo similar, para que os CEP
Conep as etapas preliminares das pes- possam avaliar se os participantes de
quisas (Brasil 2016). Trata-se de mais pesquisas serão submetidos a algum
uma adequação da norma às Ciências risco ou constrangimento. Esse docu-
Humanas e Sociais (Quinaglia Silva & mento é, contudo, amiúde estranho a
Portela 2017). pesquisas que fazem uso de metodolo-
Conforme a Resolução n° 466/2012, gias qualitativas. A etnografia exempli-
os pesquisadores devem também fazer fica uma metodologia que dificilmente
uma reflexão sobre as conjunturas ne- pode ser apresentada nos moldes de
cessárias para a realização de suas pes- um Instrumento de coleta de dados. É
quisas: quem e quantos serão os parti- certo que, se há hipóteses formuladas
cipantes, como serão abordados, quais a partir de teorias antropológicas, elas
são os possíveis riscos implicados necessariamente se desfazem ao longo
aos sujeitos participantes das pesqui- da etnografia. Nesse caso, deve haver
sas e como a equipe prevê minimizar uma tradução das abordagens meto-

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Cuidados éticos na pesquisa social

dológicas das pesquisas nessas áreas, equivalência1. No entanto, são permiti-


para que seja possível uma avaliação de dos o ressarcimento de despesas, como
questões éticas pelos CEP (Quinaglia transporte e alimentação, e a indeniza-
Silva & Portela 2017). ção por eventuais danos (Brasil 2012;
Já a apresentação do Currículo Lattes é Quinaglia Silva & Portela 2017).
considerada como uma espécie de ates- Como já apontado, é possível (e ne-
tado da qualificação dos pesquisadores cessário) questionar a imprescindibili-
para a realização das pesquisas propos- dade desses documentos. Quando se
tas. Se não é condição suficiente, é, ao considera a especificidade das Ciências
menos, tida como necessária para as- Humanas e Sociais, diversos entraves
segurar, minimamente, o compromisso são impostos por meio desse sistema
dos proponentes de pesquisas com os de regulamentação ética, pois diversas
participantes delas. Esse requisito de- epistemologias e abordagens meto-
corre do histórico de abusos já cometi- dológicas pressupõem que o delinea-
dos em experimentos científicos, como mento do campo de estudo se dá no
nos campos de concentração nazistas transcorrer da realização da pesquisa,
durante a Segunda Guerra Mundial. não sendo passível de fechamento em
Por outro lado, é preciso mencionar seu início. A definição prévia de parti-
que a certificação de competências aca- cipantes, dos contextos de observação
dêmicas ou profissionais não garante participante e do Instrumento de cole-
cabalmente a eticidade das pesquisas e, ta de dados, como mencionado, muitas
se seguida à risca, essa exigência impe- vezes não é possível na pesquisa social.
de a realização de debates éticos mais Aceitar, portanto, tais documentos
amplos, dos quais a população possa como parte de um procedimento que
participar (Quinaglia Silva & Portela define a eticidade de pesquisas pode
2017). significar um engessamento dessa no-
As pesquisas com cooperação estran- ção. O Sistema CEP/Conep cria o
geira necessitam, ainda, de parecer próprio sentido de ética que ele avalia
emitido por um CEP ou equivalente (Schuch & Víctora 2015). Afinal, a éti-
no país onde uma ou mais de uma das ca pode ser considerada como sinôni-
etapas dessas pesquisas será realizada. mo do protocolo exigido por esse sis-
A Resolução n° 292/1999 regulamenta tema de revisão ética (Quinaglia Silva
essas pesquisas (Brasil 1992). Nesses & Portela 2017)?
casos, os protocolos devem ser avalia- Guerriero e Minayo (2013) salientam
dos pela Conep, após a aprovação dos que pouco se avançou nas alterações
CEP. das Resoluções 1/1988 e 196/1996, re-
Por fim, no Orçamento, devem ser vogadas pela Resolução n° 466/2012,
incluídos os custos das pesquisas. As no que se refere à inteligibilidade bio-
diretrizes nacionais proíbem o paga- médica como norteadora do protocolo
mento dos participantes, ressalvadas de regulamentação ética em pesquisa
pesquisas clínicas de Fase I ou de bio- com seres humanos. O biocentrismo

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que orientou a formulação daquelas uma série de tipos de pesquisa (de opi-
normativas e denota a generalização da nião pública, censitária, decorrente da
lógica biomédica para as demais áreas prática profissional, etc.); e a substitui-
do conhecimento científico não teria ção de uma noção reificada de “vulne-
sido superado pela revisão da norma rabilidade” por uma ideia de “situação
em vigência, ainda que se tenha sinali- de vulnerabilidade”, o que sinaliza para
zado para concepções de pesquisa mais a necessidade de avançar em duas dire-
“inclusivas” (Carriero & Minayo 2013). ções fundamentais: a consideração das
Como tentativa de superar as lacunas vulnerabilidades no plural e dos ris-
da resolução nacional, a Resolução n° cos de participantes (Brasil 2016; Dias
510/2016 trouxe algumas fortalezas, 2016; Quinaglia Silva & Portela 2017).
como as já referidas concernentes à ob- Não obstante esses e outros avanços,
tenção e ao registro do consentimento não se pode afirmar que o viés biocên-
e do assentimento livre e esclarecido trico tenha sido superado. Para ilustrar,
em diferentes formatos e momentos a instância no âmbito da Conep, tal
da pesquisa e à retirada do processo como prevista, não ganhou contrapar-
de avaliação pelo Sistema CEP/Conep tida real: o CEP/CHS, por exemplo,
das etapas preliminares das pesquisas. primeiro especializado em pesqui-
Além dessas adequações, podem ser sa social criado no Brasil, jamais foi
também citadas a exigência de com- consultado, desde que a Resolução n°
posição equânime entre membros das 510/2016 foi aprovada, há dois anos,
Ciências Humanas e Sociais e das de- para a indicação de membros para
mais áreas nos colegiados do Sistema compor essa instância.
CEP/Conep, seja na própria Conep, Além desse grave retrocesso, que mos-
seja nos CEP; a criação de uma ins- tra a distância entre a norma e sua apli-
tância, no âmbito da Conep, dedicada cação, pelo menos dois outros itens,
à implementação da nova resolução que permaneceram irresolutos, podem
com a participação de membros titu- ser citados. O primeiro deles diz respei-
lares das Ciências Humanas e Sociais to à criação de uma resolução específi-
integrantes da Conep, representan- ca, ainda não elaborada, sobre tipifica-
tes de associações científicas dessas ção e gradação de riscos das pesquisas,
áreas, membros dos CEP igualmente prevista no art. 21 da Resolução nº
voltados para a pesquisa social e usu- 510/2016. Essa definição de níveis de
ários, sendo incluída, como parte das gradação dos riscos das pesquisas (em
incumbências dessa instância, a elabo- mínimo, baixo, moderado ou elevado)
ração de um formulário de registro de teria como consequência a adoção de
protocolos que diferencie as pesquisas tramitação diferenciada de protocolos
em Ciências Humanas e Sociais das de pesquisas a depender do risco que
biomédicas na Plataforma Brasil e as oferecem. Isso significa que a pesquisa
encaminhe com a devida clareza e agi- social, que em geral tem risco mínimo
lidade; a prescindibilidade de registro e ou baixo, tramitaria na Plataforma Bra-
avaliação pelo Sistema CEP/Conep de sil de forma mais célere. O segundo

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Cuidados éticos na pesquisa social

concerne às pesquisas com sociedades ra do TCLE deve ser feita por pesso-
indígenas, que permaneceram conside- as autônomas e maiores de 18 anos.
radas como de risco elevado. Em nome Crianças e adolescentes, entre outras
de uma suposta proteção, esse posicio- pessoas consideradas dependentes e
namento pode acarretar o silenciamen- vulneráveis devem assinar o Termo de
to dessas populações. Possíveis avan- assentimento. No caso de pesquisas
ços podem ser, assim, barrados pela com essa população, além do Termo
dificuldade ou mesmo impedimento de assentimento, há exigência de assi-
de realização dessas pesquisas (Dias natura do TCLE pelos pais e/ou res-
2016; Quinaglia Silva & Portela 2017). ponsáveis legais delas (Brasil 2012).
Todos esses embates, bem como a Camilo Braz (2014) problematiza essa
nova realidade trazida pela Resolução exigência ao abordar a pesquisa de
nº 510/2016 devem ser, doravante, mestrado sobre juventude e sexualida-
abraçados pelos 832 CEP existentes de em Goiânia (GO) de Marcelo Perilo,
no país (http://conselho.saude.gov. de cuja banca fez parte no Programa
br/web_comissoes/conep/aquivos/ de Pós-Graduação em Antropologia
MAPA_CEP.pdf). Social da Universidade Federal de Goi-
Espera-se que o enfrentamento desses ás. O autor mostra como a exigência
desafios fortaleça uma cultura de re- da assinatura do TCLE pelos pais e/
flexão ética sobre a pesquisa científica ou responsáveis legais dos participan-
que supere as críticas à burocratização tes da pesquisa, que eram menores de
decorrente da regulamentação ética idade, poderia gerar risco para eles, ao
rumo à produção de consensos na co- invés de os resguardar, por não com-
munidade científica sobre o propósito partilharem da temática com seus pro-
político da existência dos CEP como genitores. O autor questiona se exigir
instâncias deliberativas de controle so- a assinatura desse termo pelos pais e/
cial sobre a ciência. ou responsáveis legais desses jovens
não implicaria uma exposição deles, o
que seria uma forma de violência. Não
3. PARA ALÉM DE EXIGÊNCIAS se incorreria, portanto, naquilo que a
FORMAIS: OS CUIDADOS DURANTE própria Resolução nº 466/2012 gosta-
A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ria de evitar (Quinaglia Silva & Pereira
2016)?

3.1 Vulnerabilidades no plural A noção de vulnerabilidade não pode,


portanto, ser descolada de circunstân-
Para além das exigências formais, an- cias específicas, sob o risco de a apli-
teriormente apresentadas, outras ques- cação da referida resolução reforçá-la,
tões devem ser levantadas na discussão em vez de combatê-la, como no caso
sobre os cuidados éticos na pesquisa. apresentado (Braz 2014). O mesmo
Uma delas diz respeito à noção de pode ser pensado em outras situações
vulnerabilidade, já apontada. Segundo recorrentes de pesquisas nas Ciências
a Resolução nº 466/2012, a assinatu- Humanas e Sociais: estudos sobre o

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uso de substâncias psicoativas, pesqui- tação ética (Quinaglia Silva & Pereira
sas sobre o aborto ou outros procedi- 2016). Nesse sentido, a Resolução nº
mentos considerados ilegais, investi- 510/2016 substitui a noção reificada
gações que têm conflitos de interesse de “vulnerabilidade” por uma ideia de
por envolver violência contra crianças “situação de vulnerabilidade”, como
e adolescentes praticada por seus pais anteposto (Brasil 2016).
e/ou responsáveis legais, entre outras Ademais, quando é possível obter o
possibilidades (Quinaglia Silva & Perei- consentimento e/ou o assentimento
ra 2016). Solicitar o TCLE nesses casos livre e esclarecido para a realização de
inviabilizaria a própria realização da pesquisas em Ciências Humanas e So-
pesquisa. O mesmo ocorreria em casos
ciais, é importante, finalmente, salien-
de pesquisas sobre vulnerabilidade de
tar que há um processo de negociação
adolescentes à homofobia, lesbofobia
com os interlocutores dessas pesquisas,
e transfobia no ambiente familiar, sen-
que não necessariamente culmina com
do importante notar que até mesmo
uma formalização escrita, podendo ser
se recomenda, por meio da Resolução
a anuência oral, imagética ou, ainda,
do Conselho Nacional de Combate à
adotar formatos outros, para se ade-
Discriminação nº 12, de 16 de janeiro
quar à realidade que se pretende estu-
de 2015 (CNCD 2015), a autonomia de
dar. Como já mencionado, a Resolução
adolescentes no pleito ao nome social
nº 510/2016 inclui, além dos recursos
nas escolas mesmo sem a autorização
de obtenção de aquiescência expostos,
dos responsáveis legais, reconhecendo
o uso de língua de sinais e a recorrên-
que o direito de adolescentes pode en-
cia a testemunhas. Outra ponderação
contrar obstrução nas figuras parentais
apontada por essa resolução diz respei-
e não o contrário. A própria realização
to à obtenção do consentimento e/ou
de uma pesquisa pode desvelar conte-
do assentimento livre e esclarecido em
údos, em diferentes momentos de sua
qualquer fase de execução da pesquisa
execução, que levam a conflitos, sofri-
mentos, rupturas e, portanto, implica (Brasil 2016; Quinaglia Silva & Pereira
riscos. 2016).

Assim, considerar a noção de vulnera- 3.2 Os limites da pesquisa social: de-


bilidade como dado universal, pré-cul- safios éticos
tural ou a-histórico significa ignorar
questões de gênero e sexualidade, raça, Existem, ainda, outros desafios éticos,
classe, entre outras, existentes em con- trazidos pelos limites da pesquisa so-
textos particulares, que são igualmente cial. Debora Diniz e Iara Guerriero
opressoras, mas não estão contempla- (2008) apresentam cinco casos para-
das pela Resolução nº 466/2012 (Braz digmáticos, que serão citados nesta e
2014). Dessa forma, essa resolução nas seções seguintes, para a problema-
pode não somente criar como também tização de questões éticas que perpas-
ignorar vulnerabilidades. Há, portanto, sam os estudos em Ciências Humanas
limitações nesse modelo de regulamen- e Sociais.

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Cuidados éticos na pesquisa social

O primeiro caso é o da pesquisa do so- liares deviam ter sido mensurados (Di-
ciólogo Willian Foot Whyte, conduzida niz & Guerriero 2008; Quinaglia Silva
em um subúrbio de Boston, nos Esta- & Mon 2016).
dos Unidos, no final dos anos 1930. Os Hodiernamente, no Brasil, a multici-
resultados foram publicados em 1943 tada Resolução nº 510/2016, em seu
no livro Sociedade da Esquina. Para co- artigo 9º, V, admite ser direito do par-
nhecer a vida de jovens que se organi- ticipante decidir se sua identidade será
zavam em gangues de rua, Whyte teve divulgada e quais são, dentre as infor-
como informante-chave Doc, pseu- mações que forneceu, as que podem
dônimo de um ítalo-americano que o ser tratadas de forma pública (Brasil
apresentou à comunidade dos imigran- 2016). Como anteposto, essa novida-
tes que ele acabou por pesquisar. Al- de atenta para o fato de que existem
gumas questões suscitaram dessa pes- situações de pesquisa em que é mais
quisa, sobretudo após a publicação de difícil manter o anonimato dos sujeitos
edições posteriores da referida obra. A participantes ou mesmo reconhece que
primeira delas refere-se aos limites afe- em determinadas situações o anonima-
tivos e éticos que devem ser estabeleci- to pode não interessar ao participante,
dos entre pesquisadores e participantes pois poderia invisibilizar determinado
de pesquisas em um trabalho de cam- protagonismo histórico na construção
po. Whyte revelou, por exemplo, ter de processos relevantes de trabalho, de
burlado, como os rapazes da Esquina, luta política, etc. Por outro lado, quan-
as eleições comunitárias, votando mais do se realizam, por exemplo, pesquisas
de uma vez no candidato do seu grupo. em instituições com número reduzido
Naquele contexto, Whyte encarou essa de sujeitos, fica muito difícil que na
infração de conduta como uma forma devolução dos resultados sejam garan-
de reforçar as relações de confiança es- tidos o anonimato e o sigilo sobre os
tabelecidas com a comunidade. No en- conteúdos compartilhados pelos par-
tanto, a ambiguidade do lugar ocupado ticipantes desses estudos. Tais ques-
pelo pesquisador deve ser por ele as- tionamentos nos levam a considerar
sumida: embora imerso numa realida- que uma das atribuições dos CEP na
de nativa, jamais se torna efetivamente promoção de uma cultura de discussão
um nativo. E é daí que provém a rique- ética em pesquisa é provocar junto à
za da observação participante em um comunidade científica reflexões sobre
trabalho de campo (Diniz & Guerriero possíveis conflitos de interesse entre
2008; Quinaglia Silva & Mon 2016). pesquisadores e sujeitos participantes,
Outra questão, ainda atinente à pes- mas também entre diferentes sujeitos
quisa de Whyte, diz respeito ao rompi- participantes que integram determina-
mento do anonimato de Doc, na déca- do campo em que se realiza uma dada
da de 1980, após a morte dele. Como pesquisa.
o livro relatava a atuação de gangues, Finalmente, ainda em relação a Doc,
que envolvia práticas ilegais, potenciais informante-chave da vida social pes-
danos causados a Doc ou a seus fami- quisada por Whyte, é importante fazer

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Silva, É. Q. | Lionço, Tatiana

uma reflexão sobre o status ocupado seus nomes e a reconstituição das ge-
por ele, bem como pelos interlocutores nealogias familiares (Diniz & Guerrie-
das pesquisas em Ciências Humanas e ro 2008; Quinaglia Silva & Mon 2016).
Sociais em geral: são, além de partici- Chagnon não somente fez uso desse
pantes, coautores ou copesquisadores? método questionável. Outra questão
Essa pergunta traz, como pano de fun- emergiu dos enormes ganhos financei-
do, uma reflexão sobre os liames entre ros gerados pelos livros e filmes pro-
reciprocidade estabelecida durante o duzidos por ele, não compartilhados
trabalho de campo e autoridade narra- com os yanomamis. Como já apontado
tiva quando da publicação dos resulta- na pesquisa de Whyte, faz parte da dis-
dos obtidos. Um desdobramento dessa cussão sobre a eticidade de pesquisas a
reflexão, sobre o qual discorrer-se-á a ponderação sobre o compartilhamen-
seguir, diz respeito à participação des- to dos benefícios pós-pesquisa com
ses interlocutores nos benefícios gera- aqueles que dela participaram (Diniz
dos pelas pesquisas (Diniz & Guerrie- & Guerriero 2008; Quinaglia Silva &
ro 2008; Quinaglia Silva & Mon 2016). Mon 2016).
O segundo caso abordado por Diniz
e Guerriero (2008) é o do estudo de 3.3 Estratégias de proteção dos inter-
Napoleon Chagnon, antropólogo, e locutores e do próprio pesquisador
James Neel, geneticista, sobre paren- O terceiro caso apresentado por Diniz
tesco e violência entre os yanomamis e Guerriero (2008) concerne à pes-
no Brasil e na Venezuela, realizado quisa sobre práticas homossexuais em
nos anos 1960. Esse caso aponta para banheiros públicos nos Estados Uni-
outras questões éticas surgidas na pes- dos, desenvolvida pelo sociólogo Laud
quisa etnográfica. O estudo consistia Humphreys. Essa pesquisa é emblemá-
em buscar o fundamento genético da tica porque, para realizá-la, Humphreys
violência mediante a coleta de amos- fez uso de duas estratégias metodoló-
tras de sangue desse povo, que era gicas controversas: a dissimulação e o
considerado violento e isolado, o que disfarce. Em um primeiro momento,
garantia uma homogeneidade genética para registrar as histórias, as práticas,
do grupo. Para o estudo do parentesco os hábitos e as rotinas de homens em
yanomami, Chagnon ignorou valores prática de felação, Humphreys assu-
compartilhados entre eles, segundo os miu o lugar de voyeur, sem se identifi-
quais a revelação do nome pessoal em car, portanto, como pesquisador. Em
público é proibida. Por descreverem um segundo momento, após registrar
marcas, lesões ou estigmas corporais, as placas dos carros desses homens
os nomes próprios são considerados e conseguir, com a ajuda de um poli-
pejorativos e sua explicitação, um in- cial, acessar os endereços deles, Hum-
sulto. A despeito de os nomes serem phreys cadastrou-se como voluntário
um tabu cultural, Chagnon ofereceu no serviço de saúde pública da região
presentes às crianças e aos inimigos e participou de um survey sobre saúde
dos yanomamis para a obtenção de masculina nas casas deles. Com a au-

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Cuidados éticos na pesquisa social

torização do coordenador da pesquisa, feita por essa antropóloga aponta para


incluiu suas perguntas e entrevistou as fronteiras das relações estabelecidas
50 homens dos banheiros públicos e com os interlocutores da pesquisa so-
50 homens que integraram um grupo- cial, bem como mostra os limites de
-controle. Para essa etapa da pesquisa, atuação da própria pesquisadora. Em
além de esperar transcorrer um ano da experiência de campo na Turquia, para
observação nos banheiros, Humphreys detectar as redes de traficantes de ór-
disfarçou-se por uma modificação no gãos, a pesquisadora assumiu a iden-
corte de cabelo e na barba e pela troca tidade de uma pessoa interessada em
de carro. comprar rins, estratégia por si só po-
Essa pesquisa resultou na publicação lêmica por não haver explicitação dos
de Tearoom trade: impersonal sex in public objetivos da pesquisa, divulgação da
spaces em 1970. Após a divulgação do identidade da pesquisadora e consen-
estudo, foi aberto um processo disci- timento dos sujeitos. Para além da si-
plinar contra Humphreys, que foi acu- militude com a pesquisa anteriormente
sado de ter violado a privacidade e a apresentada de Humphreys, Scheper-
intimidade desses homens, cujo con- -Hughes teria colaborado com investi-
sentimento explícito para a participa- gações nos Estados Unidos e no Brasil
ção na pesquisa não tinha sido obtido. sobre o crime de tráfico de órgãos que
Em sua defesa, Humphreys descreveu estudou. Conforme crítica feita por
minuciosamente o planejamento do Luís Roberto Cardoso de Oliveira, a
estudo de forma a resguardar o ano- pesquisa etnográfica de Scheper-Hu-
nimato dos participantes dele. Além ghes, ao revelar os seus interlocutores,
disso, justificou o uso das estratégias acaba por tangenciar uma investigação
antepostas pela motivação política de policial (Scheper-Hughes 2009; Olivei-
romper com a homofobia. Conforme ra 2010).
salientam Diniz e Guerriero (2008), Voltando aos casos apresentados por
embora não devam existir segredos Diniz e Guerriero (2008), merece ser
para a curiosidade científica, resta in- citada, ainda, a pesquisa sobre os movi-
quirir se, para desvelá-los, não deveria mentos sociais de direitos dos animais,
haver cumplicidade de seus detentores feita pelo sociólogo Rik Scarce du-
(Diniz & Guerriero 2008; Quinaglia rante seu doutorado. Esse caso gerou
Silva & Mon 2016). discussão nos Estados Unidos devido
Na mesma esteira de reflexão sobre a à recusa do pesquisador em informar
(falta de) proteção dos interlocutores à Justiça e à polícia, como especialista
das pesquisas em Ciências Humanas e no assunto, o que sabia sobre uma in-
Sociais, é pertinente mencionar o tra- vestida no campus de sua universidade,
balho de Nancy Scheper-Hughes sobre a Washington State University, em que
tráfico de órgãos, embora não conste coiotes, ratos e arminhos haviam sido
da lista dos casos apresentados por Di- soltos. No extremo oposto do traba-
niz e Guerriero (2008). A “etnografia lho de Scheper-Hughes, por se recusar
engajada” ou “Antropologia militante” a testemunhar contra os participantes

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Silva, É. Q. | Lionço, Tatiana

de sua pesquisa, sob o argumento de discussão da ética na pesquisa social,


ter estabelecido com eles um pacto de especificamente no que diz respeito aos
confidencialidade e sigilo, Scarce foi, desafios encontrados quando da de-
então, indiciado como “testemunha re- volução dos dados. Embora a própria
calcitrante” e preso, em 1993, por 159 equipe de profissionais de saúde tenha
dias. Esse acontecimento deu ensejo a convidado Bosk para realizar a pesqui-
um questionamento sobre liberdade de sa, no momento da apresentação dos
pesquisa e o direito de pesquisadores resultados, ela sentiu-se incomodada
à proteção das fontes. No modelo de com os relatos e a interpretação feita
revisão ética estadunidense, há um dis- pelo pesquisador. Esse estudo mostrou
positivo conhecido como “certificado que grande parte dos desafios éticos
de confidencialidade”, que possibilita das pesquisas em Ciências Humanas e
que pesquisas como a elencada possam Sociais emerge da divulgação e restitui-
ser conduzidas, sem impor riscos aos ção dos dados analisados àqueles que
participantes delas. Contudo, Scarce delas participaram, sobretudo porque
não havia solicitado esse certificado nem sempre as expectativas de cum-
antes de realizar o seu estudo. Em plicidade na narrativa etnográfica são
outros países, como o Brasil, em que atendidas (Diniz & Guerriero 2008;
inexiste esse dispositivo, como, então, Quinaglia Silva & Mon 2016).
assegurar a realização de pesquisas que
Por sua vez, em “Autoria, subjetividade
envolvem, por exemplo, práticas ilíci-
e poder: devolução de dados em um
tas? Como proteger os interlocutores
centro de saúde na Guariroba (Ceilân-
dessas pesquisas e os próprios pesqui-
sadores (Diniz & Guerriero 2008; Qui- dia/DF)”, publicado em 2015, Soraya
naglia Silva & Mon 2016)? Fleischer relata a experiência de de-
volução de materiais, dentre os quais
entrevistas, de um projeto de extensão
4. A APRESENTAÇÃO DOS RESUL- desenvolvido em um centro de saúde
TADOS E A DEVOLUÇÃO DOS no Distrito Federal. O estranhamento
DADOS das interlocutoras de Fleischer quanto
ao conteúdo das entrevistas, que apre-
sentavam erros de português, permitiu
4.1 E quando os dados desagradam os
à pesquisadora perceber que a preocu-
interlocutores?
pação da Antropologia com o fidedig-
O último caso citado por Diniz e no nem sempre contempla um cuidado
Guerriero (2008) diz respeito ao es- ético. Ao contrário, as interlocutoras de
tudo do sociólogo Charles Bosk, All Fleischer argumentaram que tal esco-
God’s mistakes: genetic counseling in a pedia- lha reforçaria uma posição subalterna
tric hospital, publicado em 1992, sobre (e uma consequente estigmatização) já
o trabalho médico de aconselhamento ocupada (e sentida) por elas no centro
genético em uma unidade pediátrica de de saúde. A pesquisadora sugere, como
terapia intensiva nos Estados Unidos. encaminhamento de tal experiência,
Ele é também paradigmático para a que os materiais etnográficos possam

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Cuidados éticos na pesquisa social

ser de construção e de propriedade co- embora tais ganhos financeiros não


letivas, considerando que os “nativos” tenham sido compartilhados com os
são igualmente leitores (podendo ser, participantes dela.
ainda, coautores ou copesquisadores, Nesse sentido, Jean Rouch, no âmbito
como já apontado quando da reflexão
da Antropologia Audiovisual, desen-
sobre a pesquisa de Whyte). Afinal, é
volveu uma relação de reciprocidade
essa (re)negociação que permite a efetiva
com seus interlocutores na construção
construção do “dado antropológico”.
de suas narrativas, que ficou conhecida
Esses exemplos mostram que é neces- como “Antropologia compartilhada”.
sário superar a presunção de neutrali- Esse pesquisador destinava 60% do lu-
dade acadêmica e que a devolução dos cro com as vendas de seus filmes aos
resultados antes de sua finalização para participantes deles. Também Debo-
publicação é uma estratégia ética. As ra Diniz e Eliane Brum propuseram,
pessoas que contribuíram para a reali- após o encerramento das filmagens
zação da pesquisa, concedendo entre- de um de seus filmes (haja vista que,
vistas, permitindo-se serem observa- conforme anteposto, a Resolução nº
das em seu cotidiano, etc., não podem 466/2012 proíbe o pagamento a par-
ter o sentido do que são ou realizam ticipantes de pesquisas), a participação
engessado nos termos do recorte da
de seus interlocutores nos benefícios
pesquisa. A interpretação da equipe de
que ele viesse a receber (Diniz 2007).
pesquisa pode, por exemplo, não con-
siderar questões conjunturais, históri- A devolução dos resultados da pesqui-
cas e subjetivas fundamentais que se sa social e o compartilhamento de be-
aproximem do sentido que os próprios nefícios com os interlocutores dela ex-
sujeitos conferem a si mesmos e ao que trapolam os ganhos financeiros e são,
realizam. Respeito às pessoas que par- pois, igualmente questões relevantes
ticipam de pesquisas é reconhecer que que devem pautar uma discussão sobre
são elas que sabem sobre os problemas ética em pesquisa.
de pesquisa que pretendemos respon- Finalmente, na fase da escrita, nos ca-
der e que a produção de conhecimento sos das pesquisas que adotam esse for-
em Ciências Humanas e Sociais se faz mato para a apresentação de seus re-
nesta dinâmica relacional entre quem sultados, é fundamental discutir sobre
propõe a pesquisa e quem aceita par- plágio, “(...) uma apropriação indevida
ticipar dela.
e não autorizada de criação literária”
(Diniz & Terra 2014:24). De acordo
4.2 Conhecimento compartilhado: so- com o artigo 184 do Código Penal,
bre lucro, plágio e autodeterminação constitui crime a violação de direito
Outra questão, já mencionada, diz res- autoral (Brasil 1940). Também a Lei
peito aos benefícios gerados pela pes- nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,
quisa social. Como apontado, a pesqui- altera, atualiza e consolida a legislação
sa de James Neel e Napoleon Chagnon, sobre direitos autorais. Para além da
por exemplo, rendeu milhões a eles, criminalização dessa prática, é funda-

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Silva, É. Q. | Lionço, Tatiana

mental considerar o plágio como uma mesmo nas relações de objetificação


falta ética grave. com sujeitos participantes de pesquisas
O autor acadêmico pode recorrer à ci- que detêm saberes sobre realidades que
tação literal e/ou à paráfrase. No pri- se pretende conhecer, como já aponta-
meiro caso, usam-se aspas para indicar do por Fleischer (2015). É importante
a mudança da voz autoral e citam-se o notar que diversos segmentos sociais
subalternizados, tradicionalmente ob-
nome do autor, o ano de publicação da
jetificados por narrativas científicas,
obra e a página de onde o texto foi ex-
hoje têm ganhado espaço nas universi-
traído. No segundo caso, embora haja
dades e protagonizado uma produção
um ato autoral de leitura e escrita de
de conhecimento sobre eles próprios.
quem analisa outra fonte, o encerra-
É o caso, por exemplo, da pesquisado-
mento do texto deve ser semelhante ao
ra transfeminista Viviane Vergueiro Si-
da citação literal, com uso do nome do
makawa (2015) em sua autoetnografia.
autor e da data de publicação da obra,
sem necessidade de usar aspas e citar Nesse sentido, seria também possível
a página. Sem invocar esses recursos pensar que em diversas pesquisas o co-
textuais para referenciar fontes, pode- nhecimento que se produz seria com-
-se incorrer em plágio, ainda que não partilhado entre quem propôs a pes-
intencional (Diniz & Terra 2014). quisa e quem aceitou participar dela. É
importante refletir em que condições
Embora comum, essa falta de corres- é legítimo ou não dividir a autoria de
pondência entre o texto e a assinatu- conhecimentos que se produzem por
ra dele não somente fere o direito de meio da pesquisa.
atribuição de crédito, como também
macula a confiança na ciência (Diniz & Paralelamente, pessoas transexuais,
Terra 2014). Assim, a adoção de softwa- ainda como exemplo, em parte têm
se recusado a participar de estudos
res caça-plágios e a criação de comis-
de pesquisadores que não são transe-
sões de ética ou comitês de integridade
xuais, por posicionamento político de
científica, entre outras estratégias, têm
negação da manutenção da produção
sido usadas para detectar o plágio em
discursiva sobre elas protagonizada
instituições de ensino e pesquisa.
por sujeitos que não vivem a condição
Por outro lado, embora a fraude, a fal- transexual. Amara Moira (2017) e Leila
sificação de dados e/ou a apropriação Dumaresq (2016), por sua vez, proble-
indevida de obras devam ser etica- matizam a resistência de cientistas não
mente observadas, a definição de au- transexuais em aceitarem o conceito
toria é complexa, como já discutido. científico de cisgeneridade proposto
É, portanto, necessário ponderar se pelas acadêmicas travestis e transexuais
seria também possível desburocratizar para se referirem aos sujeitos sociais
o debate sobre autonomia autoral em não transexuais, devolvendo a nós a
direção à consideração crítica de rela- oportunidade de refletirmos sobre o
ções abusivas que porventura se esta- que é objetificação, o que é protagonis-
belecem nas hierarquias acadêmicas ou mo na autodeterminação de si e quem

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Cuidados éticos na pesquisa social

seriam os sujeitos de conhecimento so- sar a documentação obrigatória a partir


bre a realidade social. do exercício ético de colocarem-se no
lugar do(s) sujeito(s) participante(s) do
estudo. As devolutivas para responsá-
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS veis por projetos de pesquisas emitidas
por meio de pareceres consubstancia-
A pesquisa social apresenta, pois, de-
dos devem pretender, portanto, induzir
safios a modelos dogmáticos de avalia-
as equipes a refletir sobre possíveis ris-
ção ética, como o é o Sistema CEP/
cos e modos de minimizá-los. Isso sig-
Conep brasileiro, que parte de teorias e
nifica desburocratizar a reflexão sobre
metodologias biomédicas. Avanços fo-
tais tópicos requeridos em documentos
ram obtidos com a aprovação recente
específicos, tais como Carta de revisão
da Resolução nº 510/2016. Contudo, ética e TCLE, por exemplo, conside-
lacunas ainda merecem ser sanadas. rando o sofrimento psíquico decor-
Embora a concepção de risco nas pes- rente de roteiros de entrevistas que
quisas em Ciências Humanas e Sociais levem à reflexão sobre abuso sexual,
seja diversa daquela existente nas pes- vulnerabilidade ao assédio decorrente
quisas biomédicas, e exatamente por de devolutiva de resultado de pesquisa
essa razão, deve haver igualmente re- avaliativa sobre percepção da qualidade
flexão sobre questões éticas que per- da gestão, etc. Essa sensibilidade tem
passam essas áreas. Essa reflexão deve sido adotada pelo CEP/CHS.
partir, não de princípios abstratos, mas Muitos desafios se colocam para o tra-
de realidades concretas. Afinal, a ética balho acadêmico. Por ora, o que pode-
não deve ser sinônimo de conheci- mos vislumbrar é que a direção mais
mento técnico. Para além do protocolo prudente é reconhecer que os sujeitos
de revisão ética formalmente exigido, participantes das pesquisas são pesso-
concorrem para a noção de ética de- as dotadas de subjetividade, inseridas
liberações plurais, das quais a própria socialmente, e que nossas aproxima-
sociedade deve participar. ções a tais sujeitos, nos mais diferentes
A discussão de casos ora proposta contextos, devem levar em considera-
enseja, destarte, apontar para alguns ção uma ética de responsabilidade que
desses cuidados éticos que devem ser implique a reflexão sobre os desdobra-
tomados especificamente na pesquisa mentos de nossa presença e de nossas
social para uma (re)apropriação e (re) ações por meio de pesquisas nas vidas
politização da noção de ética em pes- e instituições diante das quais nos pro-
quisa (Fonseca 2010; Schuch & Vícto- pusemos incidir.
ra 2015). Neste sentido, a função dos
CEP deve ser não meramente protoco-
lar, mas sobretudo pedagógica. Como NOTAS
bem observou Harayama (2014) em 1
As pesquisas clínicas de Fase I são es-
sua etnografia realizada em um CEP, os tudos em que se testa a segurança de um
membros do comitê se lançam a anali- novo medicamento mediante o recruta-

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Silva, É. Q. | Lionço, Tatiana

mento de pessoas sadias. As pesquisas de vos-2/resolucao-no-12-cncdc_lgbt-16-de-


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