Você está na página 1de 11

170 ENSAIO | ESSAY

Pesquisa social ou pesquisa qualitativa?


Uma dis(des)cu(constru)ss(ç)ão em pauta na
saúde coletiva
Social research or qualitative research? A dis(de)cuss(construct)ion
on the agenda in collective health

Leonardo Carnut1

DOI: 10.1590/0103-1104201912013

RESUMO O objetivo deste texto é analisar, inicialmente, por uma vertente crítica, a produção
da pesquisa social em saúde coletiva tendo como eixo norteador o ‘elo perdido’ entre teoria-e-
-método. Para tanto, optou-se pela modalidade textual de ensaio crítico, inspirada em Adorno e
Meneghetti, que a defendem como forma de ultrapassar o pensamento para além das fronteiras
do método. Toma-se como ponto de partida a frequente confusão entre ‘pesquisa social’ e ‘pes-
quisa qualitativa’ no campo da saúde coletiva como questão disparadora da reflexão. Ao longo
do texto, a reflexão reaviva conceitos, teorias e as técnicas utilizadas na subárea das ‘Ciências
Sociais e Humanas em Saúde’ como forma de discorrer sobre essa (des)conexão. Por fim, são
apresentados limites e possibilidades da pesquisa social na saúde coletiva e o papel das Ciências
Sociais e Humanas em Saúde na problematização do debate.

PALAVRAS-CHAVE Pesquisa qualitativa. Ciências sociais. Saúde pública. Sociologia. Conhecimento.

ABSTRACT The aim of this text is to analyze, initially, in a critical way, the production of social
research in collective health having as its guiding axis the ‘missing link’ between theory and
method. For this purpose, the textual modality of critical essay was chosen, inspired by Adorno and
Meneghetti, who defend this modality as a way of overcoming the thought beyond the boundaries of
the method. The starting point is the frequent confusion between ‘social research’ and ‘qualitative
research’ in the field of collective health as a triggering issue for reflection. Throughout the text,
the reflection revives concepts, theories and techniques used in the subarea of ‘social and human
sciences in health’ as a way of discussing the (dis)connection. Finally, the limits and possibilities
of social research in collective health and the role of social and human sciences in health are
presented in problematizing the debate.

KEYWORDS Qualitative research. Social sciences. Public health. Sociology. Knowledge.

1 Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp) – São
Paulo (SP), Brasil.
leonardo.carnut@gmail.com

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019 meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Pesquisa social ou pesquisa qualitativa? Uma dis(des)cu(constru)ss(ç)ão em pauta na saúde coletiva 171

Introdução coletiva (em especial, da subárea das Ciências


Sociais e Humanas em Saúde – CSHS) nesse
Pesquisar é uma forma de compreender o empreendimento.
mundo em sua multidimensionalidade. A
saúde coletiva, como campo/núcleo de saberes
e práticas que advoga para si a chancela da Pesquisa ‘social’ ou
interdisciplinaridade, apresenta na pesquisa ‘qualitativa’?
social um desafio maior: dialogar entre os di-
ferentes. Tarefa que até hoje os antropólogos Um tema que habita o imaginário social do
penam em realizar. grupo científico4 que se dedica à produção do
Assim, sem querer tecer uma visão ‘ingênua’ conhecimento na área das ciências sociais e
sobre o assunto, mas conduzir a batuta para humanas é a compreensão (particularmente,
orquestrar um pensamento harmônico e res- não unívoca) do que vem a ser ‘pesquisa social’.
peitoso sobre a área, é que, ‘pensamos’ (forma O debate se acalenta quando se inserem outros
de escrita em ‘primeira pessoa do plural’ – sujeitos produtores de ciência, filiados a outra
tradicional nas ciências sociais) que seja pro- ordem de discursar5, como no caso dos pro-
ducente na elaboração de um fio condutor na fissionais de saúde. Doutos em suas matrizes
descrição desse tema. Afinal, como acentua analíticas (de base newtoniano-cartesiana,
Geertz1, entre a profusão de análises, é ne- vitalista-monista, hipotético-dedutiva)6-8,
cessário fazer escolhas. Portanto, uma dessas tendem a importar a lógica de produção de
escolhas será a guia deste estudo. conhecimento de suas áreas para a compre-
À guisa de introdução, este texto tem como ensão do social, o que, tradicionalmente, vem
objetivo analisar, por uma vertente crítica acarretando tensões entre pesquisadores da
(ainda que inicial), a produção da pesquisa saúde coletiva, em especial, aqueles que se
social em saúde, discorrendo sobre tópicos localizam nas CSHS.
que têm como eixo norteador o ‘elo perdido’ Em que pese a interdisciplinaridade cons-
entre teoria-e-método, o qual é hoje o principal tituinte do ‘fazer saúde coletiva’, a prática de
problema da pesquisa social em saúde coletiva. pesquisa necessita de cuidados teórico-epis-
Para tanto, optou-se pela modalidade temológicos importantes caso não se queira
textual de ensaio crítico, pela possibilidade incorrer no ecletismo autofrustrado1. Uma
de a orientação ser dada não pela busca de assertiva clássica é considerar todas e quais-
respostas ou afirmações verdadeiras, mas pelas quer formas de realizar ‘pesquisa qualitativa’
perguntas que possam orientar os sujeitos a (em sua máxima expressão) como ‘pesquisa
reflexões mais profundas2. Assim, o objetivo social’. Essa ‘cantilena’ tem invadido o cenário
deste ensaio é articular ideias, e, nesse sentido, de pesquisa, e muitos se consideram, inclusive,
o rigor metodológico não parece ser a forma pertencentes às ‘ciências sociais ou humanas’
mais producente de se ensaiar o pensamento. apenas por abordarem seus objetos de pesquisa
Portanto, inspirou-se em Adorno3, quando com o uso da metodologia qualitativa.
defende que o ensaio é um momento de escrita Nesses momentos, os clássicos nos ajudam,
que favorece a ultrapassagem de fronteiras como diria Alexander9. Recorrendo a Minayo10,
culturalmente demarcadas. pesquisadora brasileira reconhecida por pro-
Assim, este ensaio está dividido em dez blematizar a construção do conhecimento
seções que, longe de esgotarem o tema, nas CSHS, a ‘pesquisa social’ é dotada de
assinalam caminhos que podem ser trilha- consciência histórica, enquanto a ‘pesquisa
dos em busca de uma discussão mais pro- qualitativa’ pode restringir-se apenas à captura
fícua quanto à produção do conhecimento da(s) subjetividade(s) do fenômeno em tela.
sobre o social e à responsabilidade da saúde Parsons11 já nos esclarecia que a pesquisa social

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


172 Carnut L

pode ser tanto quantitativa como qualitativa. Não O pensamento dos pesquisadores na área da
há problemas quanto ao método per se, o que in- saúde coletiva, por mais que se tenha avançado
teressava para este autor é a forma de aproximar- nesse aspecto, ainda se encontra colonizado
-se dos fenômenos mais coerentemente com a por essa construção do saber herdada das ci-
maneira pela qual o processo explicativo será ências naturais e que, insistentemente, reifica
edificado para responder à pergunta encetada. o social. O fetiche do método, na saúde coletiva
Por isso, pensar nas características da pesqui- (e suas sobrevivências nas CSHS), reitera o
sa social, assim como de quaisquer outras áreas lugar da necessidade de ‘aplicar’ o método em
de pesquisa, é (re)pensar nos referenciais ontoe- detrimento da ‘compreensão da teoria’. Não
pistemológicos que sustentam suas teses funda- afortunadamente, as ‘análises’ (e, apenas nessa
mentais e derivar, dessas premissas, as teorias, ‘operação’ metodológica, caberiam exausti-
os conceitos e, por conseguinte, os métodos a vas observações, que não seriam oportunas
serem aplicados. Por mais que Minayo10 con- neste momento) realizadas pelos que iniciam
tundentemente venha reforçando a tese de que as CSHS apelam para o ‘método’ (fechado,
o ‘objeto’ das ciências sociais é eminentemente bem delineado, protocolar) como forma de
‘qualitativo’, nada impede que o possa ser feito instituir-se como membro desse grupo cien-
por uma abordagem quantitativa, desde que se tífico. No pleito desse estatuto, vale a pecha de
mostre necessária e coerente. Mas, para isso, é considerar (ou, diga-se, ‘equivaler’) a ‘pesquisa
essencial aprofundarmos um pouco mais sobre qualitativa’ como se fosse ‘pesquisa social’.
as características do conhecimento científico Como já descrito por autores mais expe-
que subjazem essa discussão12-15. rientes12-17 e que transitam melhor nessa área
fronteiriça, fazer pesquisa social é considerar,
também, que outros pressupostos de cons-
Breves aspectos sobre o trução do conhecimento científico devam
conhecimento científico ser levados em consideração. Então, não se
trata de ‘um’ ou ‘outro’, e, sim, ‘um’ e ‘outro’.
Lança-se a tese de que é possível compreender Por isso, ter em mente que os cânones acima
a equivalência ‘pesquisa social igual à pesqui- descritos devem obrigatoriamente dialogar
sa qualitativa’ através de algumas questões com: a) a valorização da expressão subjetiva
fundamentais sobre a produção do conheci- e sócio-histórica do fenômeno (ouvir para
mento científico. A tradução da constituição compreender); b) assumir a intrínseca relação
da ciência moderna se baseia nos cânones do de interdependência entre sujeito e objeto;
pensamento racionalista (de origem greco-ro- c) compreender a ausência de neutralidade
mana, ainda estrito à filosofia e ‘reinaugurado’ axiológica na construção do conhecimento
no iluminismo, especialmente com o advento científico; e d) buscar a particularidade das
do método). O desenvolvimento dessa forma expressões fenomênicas e sua capacidade de
de pensar o mundo (e, portanto, a ciência como dotar sentidos e significados à vida do homem
discurso hegemônico) considera o método e sua relação com o mundo.
como ‘fetiche’, assim como todos seus precei-
tos fundamentais, a saber: a) a valorização da
experiência sensível como forma de apreensão O arcabouço teórico e a
do fenômeno (ver para descrever); b) a relação estruturação do trabalho (e
de separação e independência entre sujeito-
-objeto; c) a neutralidade na constituição do
do trabalhador) científico
saber científico; e d) a busca de leis gerais e
imutáveis que regem a natureza e os homens Quando se trata de pesquisa científica, é ine-
nas suas formas de viver. vitável não pensar nos seus procedimentos

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


Pesquisa social ou pesquisa qualitativa? Uma dis(des)cu(constru)ss(ç)ão em pauta na saúde coletiva 173

mais ‘operacionais’. É lugar comum na saúde assola particularmente a produção científica


coletiva importar suas formas de produzir em CSHS. Com repertório teórico e modos de
os materiais, relatórios de pesquisa, teses e produção de conhecimento, em tese, filiados
dissertações à luz do que é realizado no âmbito às ciências sociais e humanas, mas com exi-
das ciências naturais. Contudo, quando se trata gência de publicações características da saúde,
desse lugar híbrido que são as CSHS, é fun- a instrumentalização metodológica reforça
damental ter em mente que não é desejável a insistente tese deste artigo. Assim, a sepa-
desconsiderar como se pensa a abordagem dos ração teoria-método nas CSHS se conforma
fenômenos sob o rótulo das ciências sociais. e torna-se o problema, e, por mais ululante
Alguns autores nos esclarecem essa que possa parecer a afirmação que se escuta
questão18-20. Nas ciências sociais e humanas, nas conversas informais de que não é possível
a noção de totalidade social e seus meandros separar teoria e método, assistimos ao seu
na experiência individual impõem a difícil divórcio cotidianamente.
tarefa de separação do ‘senso comum’ do ‘co- Pensar na produção do conhecimento
nhecimento cientificamente válido’. Dotada científico nas CSHS para além desse elo fun-
de uma ‘intimidade’ com os sujeitos viventes, damental requer uma estética (em termos de
as categorias sociais aparecem como parte ‘criatividade’ metodológica) razoável. Não
do nosso cotidiano sem que se reflita muito obstante, digressões sobre o método na pesqui-
sobre elas. Abstrair a realidade concreta da sa social devem ser sempre pauta de dis(des)
experiência social de um indivíduo, a ponto cu(constru)ss(ç)ão. Nesse sentido, Feyerband21
do exercício da autorreflexão e consideração nos ajuda a compreender como as amarras do
das diversas possibilidades de expressão da método engessam o avanço do conhecimento
vida social, é um esforço que Castro18 batiza e descreve quantas ‘descobertas’ científicas
como uma ‘aventura’. foram feitas quando os seus pesquisadores
Para Mills19, o processo de abstração do ultrapassaram as fronteiras endurecidas do
‘social’ requer mais que uma reflexão autodiri- rigor metodológico.
gida, mas, sim, um processo de construção de
um imaginário. Para o autor, o verdadeiro cien-
tista social é aquele que se debruça na constru- As duas vertentes:
ção de uma ‘imaginação sociológica’ capaz de qualificação e quantificação
compreender o social desde sua totalidade até
os eventos mais microssociais. Nesse sentido, O que está em jogo na discussão da produção do
para além da autorreflexão, é necessário um conhecimento científico sobre o social são os in-
constante artesanato intelectual. teresses que estão escamoteados na compreensão
Todas essas questões são importantes, pois dos fenômenos. Por mais não aparente que isso
o ‘pensar socialmente’ implica diretamente o possa ser no âmbito da quantificação, a questão
método e suas variantes operacionais. Afinal, que subjaz entre as duas é a mesma.
é de se esperar que o pensamento conforme A famosa metáfora da ‘falta regulamentar
o trabalho científico. Por outro lado, o traba- em um jogo de futebol’, descrita por Bauer22,
lho científico, repetitivo, cumulativo e aper- ilustra bem a questão. Quando se faz a ‘falta’
feiçoado, de forma mais intensa, conforma em um jogo de futebol, duas torcidas rivais
o trabalhador da ciência e seu pensamento. vão interpretar o mesmo fenômeno segundo
Nesse ponto, deve-se atentar para a sedução seus interesses. A torcida de um lado defen-
do método. Com o trabalho científico cada derá que a falta foi válida. A do outro, que ela
vez mais extenuante, acelerado e, nesse foi simulada. Então, sob o mesmo fenômeno
sentido, irrefletido, cair na instrumentalidade social, é possível uma escala infindável de in-
do método é uma tendência. Isso é algo que terpretações, e esse caso demonstra como cada

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


174 Carnut L

uma delas é referente a um interesse específico chamados de ‘banheirão’) com fins sexuais, o
na construção do conhecimento. pesquisador se disfarçava de faxineiro e seguia
Contudo, o método em si tem uma contri- os homens que entravam no banheiro, para
buição sui generis para agravar essa condição. observar suas práticas. Não satisfeito com essa
Enquanto os métodos qualitativos se preocupam ‘invasão’, o pesquisador seguia os usuários até
em como ‘qualificar’ e ‘compreender’ os fenô- seus veículos e, de posse do número da placa do
menos em sua existência sócio-historicamente carro, tinha acesso a todos os dados pessoais,
situada, o ‘quantitativo’ contabiliza e orienta seu o que lhe permitiu enviar-lhes e-mails com
olhar aos ‘padrões de repetição’, a fim de identi- questionários para avaliação.
ficar as causas específicas destes. Nessa última Depois desse cenário de pesquisa estar-
tentativa, o ‘quantitativo’ esconde suas ‘opções’ recedor, a discussão não passa incólume, e
nas formas de operacionalizar as variáveis e de in- faz-se necessário compreender até que ponto
terpretar os números em suas tendências centrais as interações, as relações, em suma, ‘o social’
e dispersões. A pesquisa qualitativa, no entanto, é passível de controle ético. Só é possível
assume seus valores e os incorpora na análise. pensar na flexibilização do controle ético,
Essas questões têm rebatimentos evidentes pois, enquanto prática de pesquisa, a busca
na pesquisa na área da saúde coletiva, desde de informações, a aplicação de questionários
as interpretações dos modelos matemáticos, e as entrevistas se assemelham em demasia
testes estatísticos usados na epidemiologia até às interações do cotidiano. Assim, pensar
suas formas de apresentação, que permeiam no controle ético sobre ‘o social’ representa
o ideário da área com a insígnia da ‘pesquisa implicações importantes para métodos tradi-
desprovida de juízo de valor’. O problema tem cionalmente cunhados nas ciências sociais e
residido na determinação do quanto a pesquisa humanas, tais como observação participante,
qualitativa vem assumindo esses mesmos pa- etnografias, tornando bastante questionáveis
râmetros, mimetizando as formas de produzir as medidas de controle, por poderem restringir
ciência da pesquisa quantitativa. a sociabilidade em sua forma anfêmera.

‘Técnicas de coleta’ ou ‘Produções in-


Ética na pesquisa social tersubjetivas da realidade’? ‘Técnicas
de análise de dados’ ou ‘Produções
A ética na pesquisa social também apresen- de interpretações paradigmatica-
ta muitas controvérsias. Muito comumente, mente filiadas’?
durante vários anos, a pesquisa na área das
ciências sociais e humanas não ‘padecia’ das Um efeito abusivo da colonização do modo de
análises dos comitês de ética em pesquisa. ser/pensar das ciências naturais na produção
Contudo, com a Resolução nº 510/2016, a qualitativa da saúde tem sido a tecnificação
apreciação pelo Comitê Nacional de Ética do ato de pesquisa. Considerando-se que as
em Pesquisa (Conep) das pesquisas sociais formas de produção de pesquisa social quanti-
com seres humanos passa a ser obrigatória23. tativa possam (e até devem) seguir esse rumo,
Em que se considere esse feito como um as formas de produzir pesquisa social quali-
avanço, é fundamental problematizá-lo. Flick24 tativa sofrem solipsismos léxico-semânticos
catalogou diversos casos de problemas éticos canhestros de toda ordem. Sob os auspícios
no trabalho com o uso de metodologias quali- da técnica, há uma tendência em considerar
tativas. O caso mais conhecido tratou de uma ‘o social’ como um ‘dado’, pronto para ser ‘des-
pesquisa nos Estados Unidos, que, em pesquisas coberto’ (racionalidade da descoberta), o que
sobre práticas de encontro entre homossexu- denota a ideia cartesiana de que o universo é
ais em lugares públicos (costumeiramente imutável e sua natureza é a estabilidade22,25.

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


Pesquisa social ou pesquisa qualitativa? Uma dis(des)cu(constru)ss(ç)ão em pauta na saúde coletiva 175

O mesmo acontece, infelizmente, com muita a médica) realizadas por Parsons11 inspiram
frequência, com a forma de analisar o fenô- as análises na saúde coletiva. Goffman33 e os
meno. Em que pese a importância da análise seus célebres trabalhos à luz do interacionismo
(em sentido lógico aristotélico, cartesiano de simbólico também são vistos com bastante
pensar a ‘análise’ como forma de ‘decomposi- simpatia pelos pesquisadores, especialmente
ção das partes’), na pesquisa social qualitativa, entre aqueles mais focados na inter-relação do
o que guia é a ‘(des-re)construção social do que os que se preocupam com a distribuição do
fenômeno na realidade’, especialmente por poder (que se deslocam mais à linha francesa,
considerar que o ato de se fazer ciência já cujos principais representantes são Foucault
é, em si mesmo, a construção de um mundo e Bourdieu). A fenomenologia de Schütz34
com léxico e discurso próprios5. Considera- e a Grounded Theory de Glasser e Strauss35
se, então, que o pesquisador social qualita- gozam de alguns simpatizantes.
tivo deva pensar o social como um ‘regime Reduzindo a discussão apenas à sociolo-
de processos’, dinâmicas e contingências que gia, há uma tendência de dois polos: um mais
se concretizam num momento e porventura moderno, de apelo ao individualismo metodo-
nunca mais se manifestam na mesma forma lógico, originário em Von Mises36, cuja pers-
e conteúdo22,26,27. pectiva vem penetrando sistematicamente as
CSHS via subárea de ‘política, planejamento e
Principais teorias sociais e suas con- gestão em saúde’. E outro polo, de tendência a
tribuições para ler ‘o social’ e suas uma sociologia mais pós-moderna, que aposta
principais formas de construção da em autores como Han37, Dubet38, Touraine39 e
pesquisa social Beck40. Na tradição marxista, isso fica a cargo
dos neomarxistas Žižek41 e Mészáros42. Em
É conspícuo que pensar a pesquisa social no análises mais socioantropológicas, há uma
âmbito da saúde coletiva é um desafio não tendência que vem sendo o aporte da antropo-
apenas nas suas divergências ontológicas e logia social e cultural, cujos principais autores
paradigmáticas, mas, também, no uso das residem no pensamento interpretativista e/ou
teorias e das ‘técnicas’ e dos ‘métodos’. Nesse hermenêutico, daí emergindo nomes como
sentido, assim, em uma brevíssima viagem nas Geertz1, Sahlins43, Wacquant44, Hannerz45
teorias sociais que mais são utilizadas nessa e Augé46. Contudo, não se desconsideram as
área, pode-se dizer que há um trânsito desde forças que os clássicos Lévi-Strauss47 e Marcel
as abordagens clássicas, com Marx e Engels e Mauss48 detêm no campo.
a sociologia marxista, inspiradora do campo Frente a uma diversidade teórica tão
da saúde coletiva em seus primeiros momen- extensa, há múltiplas combinações de técnicas
tos de definição sobre a ‘determinação social que beiram ao infinito. Entre o que se consi-
do processo saúde-doença’28. O funcionalis- dera como ‘forma de produção intersubjetiva
mo durkheimiano29 pode ser verificado nas da realidade’, ou seja, as ‘técnicas’, a saúde
análises mais orientadas à matematização, coletiva tem optado por entrevistas qualita-
oriundas da epidemiologia convencional ou tivas, grupos focais, observação participante
que com ela dialogam30. As abordagens pela e etnografias. Quanto ao que se considera
teoria weberiana (método Verstehen) são mais como ‘narrativas sobre o objeto’ (ou seja, as
utilizadas no âmbito das CSHS, em especial, ‘análises’), as mais utilizadas são as análises de
nos estudos relativos à integralidade31. conteúdo (filiadas às diversas escolas), análise
Há uma forte tendência ao uso das teorias de discurso, análises documentais e análises
sociais contemporâneas nos últimos anos. A argumentativas. Em que pese a necessidade de
teoria da estruturação, de Giddens32, e as aná- tantos outros métodos em um campo interdis-
lises das instituições sociais (especialmente, ciplinar, tal qual se denomina a saúde coletiva,

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


176 Carnut L

há um predomínio do uso dessas ‘ferramentas’ qualitativa, principalmente no que tange ao


citadas quando se trata da investigação dos ‘elo perdido’ entre método e teoria.
seus métodos de produção do saber. O interesse dos pesquisadores em saúde
sobre o fato de sua pesquisa ser boa ou sufi-
Outros métodos: os métodos híbri- ciente, das instituições financeiras em saber o
dos? Onde classificá-los? O registro que financiar ou não, a decisão dos editores em
do ‘social’ pelo som, pela imagem e saber o que se deve publicar ou não e a decisão
pelo virtual dos leitores em ter confiança nos trabalhos
produzidos trouxeram ao proscênio a questão
Um avanço significativo tem sido o uso de da qualidade de forma feroz.
outros métodos que iniciam sua chegada no Os estudos mais avançados nessa área vêm
âmbito da saúde coletiva. Alguns, já com mais produzindo esforços ao considerar o processo
tempo, são os chamados métodos ‘híbridos’. de controle de qualidade das análises22 e os
Por serem considerados métodos que com- processos de validação qualitativa54, como
binam análises quantitativas com qualitativas, no caso do Casp (Critical Apprasial Skills
esses métodos se preocupam com outra forma Programme), e buscam orientar a leitura de
de produzir conhecimento que tenta integrar (ou artigos qualitativos e outros métodos que
triangular)10 visões de diversas formas de apreen- tentam minimizar as falácias de interpretação
são. Entre eles, a pesquisa-ação49 e os estudos de de dados históricos e sociais54. No entanto, há
caso50,51 são os mais frequentes. Na última década, diversas controvérsias sobre a possibilidade
a proposição do discurso do sujeito coletivo (que de considerar ‘procedimentos metodológicos’
se ancora na teoria das representações sociais de verificação de qualidade justamente pelos
de Serge Moscovici), elaborada por Lefèvre52, seus padrões estandardizados e que raramente
ganhou vários adeptos. poderiam ser ‘adequados’ a ‘percursos meto-
Não há (ainda) na saúde coletiva a tradição dológicos’ tão diversos.
do uso de métodos que trabalhem com som Diante desse imbróglio, as saídas têm sido o
ou imagens de forma cotidiana, estando tais uso das metassínteses qualitativas como forma
métodos ainda restritos ao uso das ciências de revisar o conhecimento sobre um tema e/ou
sociais e humanas em geral. Contudo, o uso seus processos metodológicos, deixando a cargo
das chamadas ‘netnografias’ ou etnografias dos leitores a arbitragem sobre a relevância ou
virtuais vem adentrando o cenário da saúde não dos resultados sumarizados ou do método
coletiva com alguma expressão. Na tentativa revisado como forma de garantir a isenção de
de considerar o ‘ambiente virtual’ como ‘campo ‘encapsulamento pelo procedimento’24,54.
de interação social’, esse método aparenta ser
uma aposta importante, especialmente para
aqueles que desejam avançar na investigação Pesquisa social em saúde
sobre as ‘novas formas de sociabilidade’53. coletiva: seus limites e
possibilidades
A qualidade da pesquisa
social qualitativa Nessa seara da pesquisa social (com foco, aqui, na
pesquisa qualitativa), há diversos limites e pos-
Diante de todo esse repertório, é comum a sibilidades que a saúde coletiva deve observar/
pergunta: mas qual investigação me traz dados reconhecer caso queira avançar nessa discussão.
mais fecundos? A partir desse questionamento, Entre os limites, tem-se: a hegemonia dos cri-
vem-se discutindo cada vez mais na área a térios oriundos da epidemiologia nos comitês
importância da qualidade da pesquisa social editoriais dos periódicos científicos em saúde

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


Pesquisa social ou pesquisa qualitativa? Uma dis(des)cu(constru)ss(ç)ão em pauta na saúde coletiva 177

coletiva; o formato tradicional de apresentação CSHS na graduação e na pós-graduação e as


de artigos (introdução, método, resultados, dis- práticas de produção do conhecimento de
cussão e conclusão); a discussão do uso das bases forma democrática e coletiva – levando-se em
teóricas e suas articulações como momento da consideração que as pesquisas devem ser ‘com’
análise (dado seu costumeiro distanciamento); a os seres humanos, e não ‘em’ seres humanos
equalização dos Qualis das revistas, evitando dis- – são elementos importantes na construção
crepâncias de qualificação ‘A’ nas ciências sociais do caminho que está por vir55.
e humanas quando o mesmo periódico é classi-
ficado como ‘B e C’ na saúde coletiva; o debate
acerca do produtivismo no campo da saúde co- Considerações finais
letiva; a instituição do regime classificatório da
ciência política; e a necessidade de articulação Em face de todos os elementos aqui trazidos,
com o Fórum Permanente de Pós-graduação em é importante admitir que a saúde coletiva tem
Saúde Coletiva, Editores de Revistas em Saúde se esforçado sobremaneira para conseguir pro-
Coletiva e o Conep, como maneira de difundir duzir um verdadeiro diálogo interdisciplinar
o conhecimento. que favoreça a apreensão do fenômeno saúde
Um grande limite considerado como um de forma múltipla, plural e democrática.
desafio dos próximos anos, ainda que não Considera-se que esse exercício reflexivo
esteja em pauta devido a todos os anterior- tenha conduzido a analisar melhor a produção
mente relatados, refere-se à ‘conexão interpa- da pesquisa social em saúde, criticando suas
radigmática’ na compreensão da saúde como estagnações e apontando seus avanços, por
objeto interdisciplinar. Mesmo considerando vezes, conduzindo um ‘reatar’ necessário, um
análises sobre a saúde por diversos paradigmas encontro do ‘elo perdido’, que, sem dúvida,
distintos, a verdadeira construção do conheci- hoje, é o problema mais evidente da pesquisa
mento interdisciplinar se assenta na conexão social no âmbito da saúde coletiva.
interpretativa entre os paradigmas sobre o Contudo, há de se entender que o desafio
mesmo fenômeno. Quando a saúde coletiva posto é maior. É fazer com que as CSHS sejam
puder alcançar esse estágio de compreensão da visibilizadas como produtoras de conheci-
saúde, ficará mais evidente o quanto o caráter mento inconteste, já que a força da saúde
político das diferentes interpretações expõe a coletiva advém da singularidade desse olhar
saúde como campo de intensa disputa e pos- que compõe a especificidade da saúde pelos
sibilita interpenetrar paradigmas de forma olhos do coletivo.
‘aceitável’, sem ecletismos nem bricolagens, Assim sendo, em tempos austeros, de der-
mas, sim, aceitando a interdisciplinarização rocada democrática e retrocessos sociais, o
de forma absoluta. papel político da pesquisa social está mais
Entre as possibilidades, é fundamental ter em pauta do que nunca. É somente através da
em mente que o aumento do grau de institu- problematização, do refinamento e da busca
cionalização do Qualis livros, as pressões sobre incessante de abarcar a totalidade do social
as instâncias decisórias (Conselho Nacional de que a pesquisa social em saúde coletiva ga-
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – rantirá seu reconhecimento e sua relevância
CNPq) a garantir maior equidade, no sentido na academia e na vida.
de valorizar as revistas em saúde coletiva
nacionais e latino-americanas, as demandas
junto aos periódicos de saúde coletiva, o Colaboradores
aumento do número de revisores nacionais e
latino-americanos com enfoque das CSHS, o Carnut L (0000-0001-6415-6977)* é respon- *Orcid (Open Researcher
apoio à expansão das linhas de pesquisa em sável pela elaboração do manuscrito. s and Contributor ID).

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


178 Carnut L

Referências

1. Geertz C. A interpretação das culturas. São Paulo: letiva. São Paulo: Hucitec/ Rio de Janeiro: Abrasco;
LTC; 1989. 1995. p. 49-67.

2. Meneghetti FK. O que é um ensaio teórico? Rev. Adm. 14. Luz MT. Novas realidades em saúde, novos objetos
Contemp. 2011; 15(2):320-322. em ciências sociais. In: Canesqui AM. Dilemas e de-
safios das ciências sociais na Saúde Coletiva. São Pau-
3. Adorno TW. Notas de literatura. Rio de Janeiro: Edi- lo: Hucitec/ Rio de Janeiro: Abrasco. 1995, p. 79-85.
tora 34; 2003.
15. Cotrim G. Teoria do Conhecimento. In: Cotrim G.
4. Bourdieu P. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Fundamentos de Filosofia: história e grandes temas.
Campinas: Papirus; 1996. 16. ed. São Paulo: Saraiva; 2006. p. 54-61.

5. Foucault M. A ordem do discurso. 3. ed. São Paulo: 16. Oliva A. Teoria do conhecimento. Rio de Janeiro:
Loyola; 1996. Zahar; 2011.

6. Tavares C. A matriz invisível da saúde. In: Tavares C. 17. Durozoi G, Roussel A. Dicionário de filosofia. 5. ed.
Iniciação à visão holística. 3. ed. Rio de Janeiro: Re- Campinas: Papirus; 1993.
cord; 1997. p. 76-92.
18. Castro CM. Memórias de um orientador de tese. In:
7. Portocarrero V. As Ciências da Vida: de Canguilhem Nunes EO. A aventura sociológica. Rio de Janeiro:
a Foucault. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2009. Zahar; 1978. p. 307-326.

8. Duarte LFD. A propósito da novidade dos objetos e 19. Mills W. A imaginação sociológica – do artesanato
realidades nas ciências sociais contemporâneas. In: intelectual. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1982.
Canesqui AM. Dilemas e desafios das ciências sociais
na Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec/Rio de Janei- 20. Oliveira PS. Caminhos de construção da pesquisa em
ro: Abrasco; 1995. p. 69-77. Ciências Humanas. In: Oliveira PS. Metodologia das
ciências humanas. São Paulo: UNESP/Hucitec, 1998.
9. Alexander JC. A importância dos clássicos. In: Gid- p. 17-26.
dens A, Turner J, organizadores. Teoria Social Hoje.
São Paulo: UNESP; 1999. p. 23-89. 21. Feyerband P. Contra o método – esboço de uma teo-
ria anárquica da teoria do conhecimento. Rio de Ja-
10. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e cria- neiro: Francisco Alves; 1977.
tividade. 13. ed. Petrópolis: Vozes; 1999.
22. Bauer MW. Pesquisa qualitativa com texto, imagem
11. Parsons T. Social structure and personality. Glencoe: e som – um manual prático. 8. ed. Petrópolis: Vozes;
Free Press; 1970. 2010.

12. Mondin B. O problema gnosiológico. In: Mondin B. 23. Brasil. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Dis-
Introdução à filosofia: problemas, sistemas, obras, põe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ci-
autores. São Paulo: Paulus; 1980. p. 21-38. ências Humanas e Sociais [internet]. Diário Oficial
da União 24 Maio 1991. [acesso em 2018 jul 11]. Dis-
13. Carvalho MAR. Institucionalização das ciências so- ponível em: http://conselho.saude.gov.br/resoluco-
ciais brasileiras e o campo da saúde. In: Canesqui AM. es/2016/reso510.pdf.
Dilemas e desafios das ciências sociais na Saúde Co-

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


Pesquisa social ou pesquisa qualitativa? Uma dis(des)cu(constru)ss(ç)ão em pauta na saúde coletiva 179

24. Flick U. Ética na pesquisa qualitativa. In: Flick U. In- theory: strategies for qualitative research. New York:
trodução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Transaction; 1967.
Artmed; 2009, p. 50-58.
36. Von Mises L. The last Knight of liberalism. Alabama:
25. Bel J. Projeto de pesquisa: guia para pesquisadores Auburn; 2007.
iniciantes em educação, saúde e ciências sociais. Por-
to Alegre: Artmed, 2009. 37. Han BC. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes;
2015.
26. Sztompka P. A sociologia da mudança social. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1998, p. 463-502. 38. Dubet F. Sociologie de l’expérience. Paris: Seuil; 1994.

27. Tobar F, Yalour MR. Como fazer teses em saúde pú- 39. Touraine A. Pensar de outro modo. Lisboa: Instituto
blica: conselhos e ideias para formular projetos e Piaget; 2007. Coleção Epistemologia e Sociedade
redigir teses e informes de pesquisa. Rio de Janeiro:
Fiocruz; 2001. 172 p. 40. Beck U. Ciência para além da verdade e do esclare-
cimento? Reflexividade e crítica do desenvolvimen-
28. Vasconcelos KEL, Schmaller VPV. Promoção da Saú- to científico. In: Beck U. Sociedade de Risco. Rumo a
de: polissemias conceituais e ideopolíticas. In: Cos- uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34; 2010.
ta MDH, Vasconcelos KEL. Por uma crítica da pro- p. 235-247.
moção da saúde: contradições e potencialidades no
contexto do SUS. São Paulo: Hucitec; 2014. p. 47-110. 41. Žižek S. A visão em paralaxe. São Paulo: Boitempo;
2008.
29. Durkheim E. As regras do método sociológico. In:
Durkheim E. As regras do método sociológico. 13. 42. Mészáros I. A montanha que devemos conquistar.
ed. São Paulo: Nacional; 1987. São Paulo: Boitempo; 2014.

30. Breilh J. Da Epidemiologia Linear à Epidemiologia 43. Sahlins M. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro:
Dialética. In: Breilh J. Epidemiologia crítica: ciência Zahar; 1979.
emancipadora e interculturalidade. Rio de Janeiro:
Fiocruz; 2006. p. 191-218. 44. Wacquant L. As duas faces do gueto. São Paulo: Boi-
tempo; 2008.
31. Pinheiro R, Luz MT. Práticas eficazes X modelos ide-
ais: ação e pensamento na construção da integralida- 45. Hannerz U. Fluxos, Fronteira, Híbridos: Palavras-
de. In: Pinheiro R. Construção da integralidade: co- -chave da antropologia transnacional. Revista Mana.
tidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: 1997; 3(1):7-39.
UERJ/IMS/Abrasco; 2004, p. 7-34.
46. Augé M. Não lugares: introdução a uma antropolo-
32. Giddens A. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; gia da sobremodernidade. Lisboa: 90 Graus; 2005.
2006.
47. Lévi-Strauss C. A Eficácia Simbólica. In: Lévi-Strauss
33. Goffman E. Manicômios, prisões e conventos. 2. ed. C. Antropologia Estrutural. São Paulo: Cosac Naify;
São Paulo: Perspectiva; 1987. 2008.

34. Schütz A. Fenomenologia e relações sociais. Rio de 48. Mauss M. Ensaio sobre a Dádiva. In: Mauss M. So-
Janeiro: Zahar; 1979. ciologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify;
2003.
35. Glasse B, Strass A. The Discovery of the grounded

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019


180 Carnut L

49. Meyer J. Pesquisa-ação. In: Pope C, Mays M. Pesqui- 54. Boyce RWD. Falácias de interpretação de dados his-
sa qualitativa em saúde. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; tóricos e sociais. In: Bauer MW. Pesquisa qualitati-
2009. p. 135-146. va com texto, imagem e som – um manual prático. 8.
ed. Petrópolis: Vozes: 2010. p. 445-469.
50. Kenn J. O estudo de caso. In: Pope C, Mays M. Pes-
quisa qualitativa em saúde. 3. ed. Porto Alegre: Art- 55. Abrasco. Plano diretor da Comissão de Ciências So-
med; 2009. p. 127-134. ciais e Humanas em Saúde. Triênio 2017-2019. [inter-
net]. [acesso em 2018 jul 10]. Disponível em: https://
51. Yin R. Estudo de Caso. Porto Alegre: Artmed; 2009. www.abrasco.org.br/site/comissaodecienciasso-
ciaisehumanasemsaude/wp-content/uploads/si-
52. Lefèvre AMC, Lefèvre F, Cardoso MRL, et al. Assis- tes/5/2018/03/planodiretorCCSHS_trienio20172019.
tência Pública a Saúde no Brasil: estudo de seis an- pdf.
coragens. Saúde e Soc. 2002; 11(2):35-47.

Recebido em 13/07/2018
53. Rabinow P. Artificialidade e iluminismo: da sociobio- Aprovado em 04/12/2018
Conflito de interesses: inexistente
logia à biossociabilidade. In: Rabinow P. Antropolo-
Suporte financeiro: não houve
gia da razão. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1999.
p. 135-157.

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. 120, P. 170-180, JAN-MAR 2019

Você também pode gostar